quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Elvis Presley - Jailhouse Rock (1957)

Se "Love Me Tender" foi um teste e "Loving You" a primeira tentativa de Elvis em se firmar como um astro em Hollywood, "Jailhouse Rock" é a consolidação desse objetivo. Com ótimo roteiro e um papel feito sob encomenda para Elvis, "Jailhouse Rock" foi o grande filme do cantor nos anos 50. A imagem do astro vestido com roupas de presidiário entrou definitivamente na história da cultura pop e se tornou um dos ícones mais conhecidos do cantor em Hollywood. "Jailhouse Rock" foi o primeiro filme de Elvis pela MGM, estúdio conhecido por ter feito os maiores musicais da história do cinema. Com tanto know how o produto final não poderia sair diferente. Inclusive Elvis era visto como uma tábua de salvação para o estúdio, pois além de proporcionar ótimas bilheterias iria inevitavelmente levar o gênero musical para as platéias mais jovens. Em 1957 a era dos grandes musicais de Hollywood já ficara para trás, os grandes nomes do período de ouro desse estilo de filme estavam aposentados ou amargando um injusto ostracismo. O Rock'n'Roll de certa forma representava a linguagem dos jovens da época, que não estavam mais interessados nos passos de Gene Kelly e Fred Astaire.

Os grandes filmes da Metro como "Cantando na Chuva" ou "O Picolino" eram vistos pelos jovens roqueiros como passatempos bobos da juventude de seus pais. Sem conseguir encontrar uma via de comunicação com as novas gerações a MGM procurou se adaptar. E qual era a melhor forma de atrair essa moçada de volta aos cinemas para assistir seus grandes musicais? Ora, usando o maior ídolo dessa juventude: Elvis Presley. Imagine o choque de gerações dentro do set de filmagem. Uma equipe da velha escola tentando compreender e traduzir em película os anseios de uma juventude que eles mal conheciam. Isso se revelou perfeitamente em um fato ocorrido durante as filmagens. O coreógrafo e o diretor Richard Thorpe se encontraram com Elvis no dia em que iriam filmar a famosa cena em que ele cantaria o tema principal. Quando os dançarinos começaram a desenvolver sua coreografia Elvis se viu diante de um número completamente baseado no estilo de Fred Astaire e Gene Kelly, com aqueles passinhos de dança milimetricamente ensaiados. Além de fora de contexto o número era completamente ultrapassado segundo a visão de Elvis. Caso se apresentasse daquele jeito em um filme ele seria ridicularizado por seu público. Elvis viu que teria salvar o dia mais uma vez. Mudar tudo e começar do zero. O cantor esperou pacientemente tudo aquilo terminar e com educação sugeriu a Thorpe que iria, ele mesmo, desenvolver um número junto dos dançarinos. O que Elvis fez naquela tarde entrou para a história do cinema.

Em pouco mais de um dia de ensaios Elvis mostrou a todos como a cena deveria ser feita. Procurou determinar o local onde cada dançarino deveria estar e a forma que deveria se apresentar. Pela primeira em sua vida Elvis estava desenvolvendo um de seus mais notórios talentos, o de dançarino. Embora nunca tenha desenvolvido totalmente esse aspecto de sua personalidade artística, Elvis naquele dia se superou e conseguiu com aquele número entrar para a galeria dos grandes momentos musicais da história da MGM, lado a lado com os mestres do passado. E fez isso sem precisar adotar o estilo de ninguém, apenas confiou em sua intuição e realizou uma das cenas mais lembradas do cinema dos anos 50. O resultado final foi dos mais felizes: o filme foi elogiado pela crítica e o público lotou os cinemas mais uma vez. Fora isso o single "Jailhouse Rock / Treat Me Nice" se transformou em um dos discos mais vendidos da década. A trilha completa foi lançada em um compacto duplo com as seis canções do filme (sem nenhuma bonus song). Enfim, "Jailhouse Rock" é um dos mais vitoriosos projetos da carreira de Elvis, um momento único que captou para a posteridade toda a glória do Rei do Rock no auge de seu sucesso.

JAILHOUSE ROCK (Leiber / Stoller) - "Jailhouse Rock" é um dos maiores clássicos da história do Rock mundial. Poucas músicas conseguiram traduzir e representar toda uma época e uma geração como essa. Perfeitamente executada, com ótimo arranjo a canção é uma das mais conhecidas da carreira de Elvis Presley. Nesse dia Elvis resolveu dispensar a participação dos Jordanaires após ter gravado alguns takes com os vocalistas. Elvis acertou, a canção ganhou em ritmo e fluência. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente visceral, tanto que ele mesmo confidenciou depois ter sido essa uma das mais difíceis de acertar. Reconhecido pelos especialistas como o melhor rock gravado por Elvis em toda a sua carreira, a canção até hoje empolga e não envelheceu nem um minuto. Tão preciso e atual é o seu arranjo que até parece que foi gravada ontem. Música título do terceiro filme estrelado por Elvis que no Brasil recebeu o nome de "O Prisioneiro do Rock", sendo que sua trilha foi lançada em um EP (compacto duplo) em outubro de 1957. Foi ainda lançada como single em setembro de 1957 com "Treat Me Nice" no lado B. O sucesso foi imediato e o single chegou ao primeiro lugar na parada americana. A cena do filme em que Elvis apresenta esta canção é considerado o melhor momento do cantor no cinema. Leiber e Stoller afirmaram posteriormente que sua intenção era "...imitar o som de pedras quebrando" o que de certa forma foi conseguido. Foi gravado em 30 de abril de 1957 nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Assim Elvis ignorou a intenção satírica dos autores (Jerry Leiber e Mike Stoller) e interpretou a canção com fúria. Jailhouse Rock foi o primeiro single da história a ir direto para o topo das paradas no Reino Unido em 1957. Porém a trajetória de sucesso dessa canção imortal continuou. No 70º aniversário de Elvis a música foi mais uma vez relançada em single para comemorar a data. Não deu outra, a música novamente liderou as paradas, 48 anos depois de ter sido gravada! Imortal é isso aí!

TREAT ME NICE (Leiber / Stoller) - Outra canção deliciosa de Leiber e Stoller sendo lançada como lado B de "Jailhouse Rock". Para essa canção Elvis resolveu gravar duas versões: uma no dia 30 de abril durante as gravações do filme e outra no dia 5 de setembro que acabou se tornando a definitiva e oficial. A primeira foi utilizada durante o filme e curiosamente é considerada por muitos como a melhor. Isso se deve principalmente porque o arranjo da primeira versão é bem mais soft e leve do que a da versão original, mais excessivamente produzida. De qualquer forma as duas são ótimas e podem ser conferidas sem nenhum receio. No filme Elvis fez questão de chamar um dos compositores para participar da cena em que ele a apresenta. Lá está Mike Stoller, atrás de Elvis, fazendo figuração como um dos membros da banda do cantor. Aliás é bom frisar que ele também participou das gravações da trilha sonora em estúdio. Outro grande momento da trilha sonora que é reconhecida, de forma merecida aliás, como uma das melhores de Elvis.

YOUNG AND BEAUTIFULL (A. Silver / A. Schroder) - Canção romântica que foi escrita especialmente para Elvis quebrar os corações de suas fãs adolescentes. Primeiro cantor a possuir um vasto conjunto de fãs clubes organizados nos anos 50, Elvis era considerado pelas jovens dos chamados anos dourados como o "namorado ideal", pelos fãs masculinos como um "modelo rebelde a se seguir" e pelas mães dessa moçada como "uma ameaça aos bons costumes". Embora fosse visto durante os anos 50 como um rebelde e delinquente essa imagem seria alterada profundamente em 1958 quando Elvis foi para o exército. A partir desse momento a imagem de Elvis sofreu uma profunda modificação passando a ser considerado um bom moço para até mesmo para as mães. Essa imagem de um Elvis rebelde e transgressor realmente não condizia com a verdade. Talvez por ser polêmico e considerado um sucessor legitimo de James Dean nos anos 50, o cantor era apontado de forma equivocada como o grande incentivador do aumento da delinquência juvenil dos EUA. Um mau elemento, à margem da sociedade. Nada mais longe da verdade. Elvis era apenas um garoto do sul, extremamente ligado em sua família, profundamente religioso e que procurava levar uma vida decente. Obviamente não estava aí para contestar os valores da classe média americana. Era antes de tudo uma pessoa que procurava subir na vida com seu talento.

Claro que papéis como o de Vince Everett do filme "Jailhouse Rock" contribuíram e muito para essa visão, mas tudo não passava de marketing dos estúdios. Elvis se dava bem com todos no set e principalmente com suas estrelas. Para contracenar com Elvis em "Jailhouse Rock" foi contratada a starlet em ascensão Judy Tyler. Logo nasceu uma amizade entre Elvis e ela. Ambos era novatos no cinema e procuravam antes de tudo se consolidar no meio. Mas antes mesmo de se tornar uma estrela de cinema Judy Tyler foi vítima de um destino trágico. Ela morreu logo após as filmagens em um acidente automobilístico. O fato chocou a todos, e em particular Elvis, que lamentou profundamente o passamento de sua colega de trabalho, ainda tão jovem, talentosa e com um futuro tão promissor pela frente. Não tardou muito para que "Jailhouse Rock" entrasse na lista negra de Elvis. Para evitar ficar deprimido Elvis baniu o filme de sua vida e nunca mais o assistiu. Isso inclusive iria acontecer um ano depois com "Loving You". Nesse filme Gladys Presley, mãe do Rei, aparecia em cena batendo palmas em uma das cenas. Depois que sua mãe faleceu Elvis riscou do mapa também seu segundo filme. Não queria recordar Gladys ali ao seu lado, viva e feliz. Freud Explica!

(You're So Square) BABY I DON'T CARE (Leiber / Stoller) - É outra verdadeira pérola da dupla Leiber e Stoller que foram os responsáveis por quase toda a parte musical deste fantástico filme. Um fato curioso ocorreu na sessão de gravação desta música: o baixista Bill Black não conseguiu executar de forma satisfatória a Introdução da música, então Elvis pegou o contrabaixo de Black e tocou a introdução de forma impecável, sendo esta a definitiva e a que aparece no disco. Curiosamente na cena do filme aconteceu uma coisa engraçada: sem se dar conta Scotty Moore acabou comprometendo a continuidade do filme. Nas cenas em que se mostrava Elvis em close, Scotty aparece sem óculos e nas cenas abertas com o cantor focalizado a uma certa distância, Scotty se apresenta com seus óculos pretos! Obviamente as tomadas de perto e de longe foram filmadas em ocasiões diferentes, porém na montagem final em que as duas cenas são unidas surge o erro de continuidade bem nítido. Apesar desse pequeno pecado técnico a cena em si é ótima, com Elvis animado e dançando em seu peculiar estilo.

I WANT TO BE FREE (Leiber / Stoller) - Outra canção composta por Leiber e Stoller. Dessa vez o resultado final fica um pouco abaixo da média. Nada que deponha contra o talento dos autores, mas se formos comparar com o restante da trilha sonora fica claro que o resultado fica abaixo do esperado. Novamente Elvis registrou duas versões na madrugada do dia 30 de abril (aliás, toda a trilha sonora foi praticamente gravada na mesma noite). Uma das versões foi utilizada exclusivamente no filme e a outra, oficial, lançada no EP (compacto duplo). Como sempre o Coronel Parker não deixaria a música ficar restrita à trilha do filme. Obviamente ele iria procurar uma forma de lançá-la novamente para ganhar alguns níqueis extras. E foi assim que "I Want To Be Free" foi relançada no disco "A Date With Elvis". Também no mesmo LP o Coronel ainda encaixaria "Baby I Don't Care" e "Young and Beautifull". Parker mais uma vez dava continuidade ao seu lema de vender a mesma coisa duas vezes!

DON'T LEAVE ME NOW (Schroeder / Weisman) - Novamente?! Essa canção fez parte como "bonus song" da trilha de outro filme de Elvis, "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957). Difícil explicar o porquê desta canção ter sido incluída aqui. Inclusive, esta não é a mesma versão do filme anterior. Particularmente prefiro a versão de "Loving You", apesar da ótima introdução de piano desta. Mas enfim, de qualquer forma ela vem para enriquecer ainda mais a ótima trilha deste filme. Um belo final para um inesquecível trabalho de Elvis Presley.

Elvis Presley: Jailhouse Rock (1957): Elvis Presley (vocal e baixo) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Mike Stoller (piano) / The Jordanaires (vocais) / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Produzido por Steve Sholes / Data de gravação: 30 de abril de 1957, exceto "Treat Me Nice" gravada em 5 de setembro de 1957 / Local de gravação: Radio Recorders, Hollywood / Data de lançamento: setembro de 1957 (single) e outubro de 1957 (Extended Play) / Melhor posição alcançada nas charts: EUA #1 e UK #1 (single) e EUA #1 e UK #18 - (Extended Play).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Elvis Presley - Heartbreak Hotel / I Was The One

O primeiro sucesso nacional de Elvis Presley curiosamente não fez parte de seu primeiro álbum pela RCA Victor. "Heartbreak Hotel" só foi lançado mesmo em single, compacto simples, com a baladona "I Was The One" no lado B. Afinal porque isso aconteceu? Muito simples. A lógica comercial da indústria fonográfica nos anos 50 era bem diferente da de hoje. O carro chefe da popularidade dos artistas era justamente o single - pequeno compacto de vinil com duas canções, uma no lado A e outra no lado B.

Caso a canção conseguisse fazer sucesso nas rádios, a venda desses pequenos discos era garantida, eram baratos, simples e muito acessíveis, sendo vendidos em todos os locais - até em postos de gasolina. "Heartbreak Hotel" foi muito trabalhado pela RCA. Elvis havia custado caro à gravadora e ele tinha que emplacar nas paradas de todo jeito. A música causou perplexidade entre alguns executivos. Era bem estranha, com um ritmo pouco comum, não era um blues, nem um rock autêntico e tampouco era uma balada. O que diabos era "Heartbreak Hotel" então?

A canção foi escrita baseada em uma única frase: "Eu caminho numa rua solitária". Mae Axton havia lido essa frase marcante em um jornal local que noticiava o suicídio de um homem que havia deixado escrito em seu bilhete de despedida apenas isso. Ela então imaginou que no final dessa rua solitária deveria haver um Hotel dos corações partidos. Mais emblemática do que isso impossível. Mae então levou a música para uma convenção de músicos e compositores em Nashville. Ela sabia que Elvis Presley iria estourar nas paradas e isso poderia ser sua grande chance de emplacar um sucesso realmente nacional. Após muita luta conseguiu uma audição com Elvis. Tocou a música para ele numa demo onde o cantor tentava imitar justamente o estilo de Elvis. O cantor adorou o que ouviu e disse que gravaria a música. O resto é história.

Durante muitos anos se especulou porque Elvis estava creditado na música se não a tinha composto de fato. Era comum na década de 50 os cantores dividirem a autoria da música para lançamento em suas vozes no mercado. Era uma forma do intérprete ganhar mais com os direitos autorais. Era praxe na época e Elvis seguiu apenas um costume do mercado fonográfico. Apesar disso sempre que perguntado em entrevistas se tinha realmente composto a música, Elvis logo se colocava a explicar que não era o caso, que ele apenas assinava a composição por uma questão de mercado. "Heartbreak Hotel" trouxe bons resultados para Elvis - caiu no gosto popular e atingiu o primeiro lugar na parada Billboard (a principal dos EUA). Foi a primeira vez que ele alcançou esse pódio em sua carreira. Além disso trouxe ao cantor seu primeiro disco de ouro. Era o começo de um reinado nas paradas de singles que iria durar até mais ou menos 1962 quando seus singles começaram a derrapar nas paradas, mas essa é uma outra história..

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Peace In The Valley (1957)

Quando o compacto duplo Peace In The Valley apareceu nas lojas americanas em abril de 1957 a imprensa torceu o nariz para o lançamento! “Elvis Presley, aquele roqueiro, agora cantando músicas religiosas? Quem ele pensa que está enganando?” Infelizmente não é de hoje que a chamada grande imprensa mostra desconhecimento de causa em relação a Elvis Presley. O jornalista dos grandes meios de comunicação quase sempre é um “generalista”, um sujeito que sabe pouco sobre muita coisa e muita coisa de praticamente nada! Assim também foi com Elvis. Focados apenas no lado roqueiro do jovem Elvis eles desconheciam completamente sua trajetória, suas raízes musicais e seu lado mais espiritual. Ignoravam por exemplo que um dos grandes sonhos de Elvis sempre foi o de participar de um quarteto gospel e de que ele, mesmo quando participava de sessões comuns e regulares, sempre se aquecia cantando o mais puro gospel de sua infância e juventude. Até mesmo no dia a dia Presley gostava de se ver envolvido com a música religiosa. Mesmo famoso não perdia seus programas de rádio preferidos onde a programação geralmente girava em torno desse estilo musical.

Quando voltou aos estúdios para “encher a lata”, ou seja, gravar novas músicas para a RCA Victor, Elvis aos poucos foi gravando canções religiosas. Nada havia sido previamente programado sobre isso mas entre uma música convencional e outra Elvis foi registrando algumas canções gospel. Uma aqui, outra acolá, como quem não queria nada. Ele estava empolgado com a ótima repercussão de sua apresentação de “Peace in The Valley” no programa de Ed Sullivan algumas semanas antes então por que não gravar algumas músicas nesse estilo? Poderia dar certo, quem sabe. O ideal seria a gravação de quatro músicas para compor um compacto duplo e assim Elvis o fez. Obviamente esse tipo de música nada tinha a ver com imagem pública que ele tinha entre o grande público naquela época. Para a massa Elvis Presley era um roqueiro com brilhantina no cabelo que no palco rebolava de forma indecente e escandalosa! Nada, absolutamente nada a ver com um cantor religioso de baladas espirituais.

A verdade era que o homem Elvis Presley tinha pouco a ver com sua imagem pública. Enquanto todos pensavam que ele era um selvagem ao estilo dos personagens de Marlon Brando e James Dean no cinema, Elvis era apenas um rapaz jovem tentando subir na vida para dar uma vida melhor aos seus pais. Calmo, tímido até, não ousava falar palavrões em casa diante de Gladys e nem de Vernon Presley. Caseiro e apegado com sua mãe sempre ligava para ela onde quer que estivesse para dizer que tinha feito boa viagem e estava tudo bem. Enfim, o oposto do demônio delinquente juvenil que imaginavam dele.  De certa forma esse compacto duplo era a realização de um velho sonho de Presley, a de ser um cantor gospel, de levar suas músicas preferidas para sua imensa legião de fãs, sempre nesse processo levando também uma mensagem de espiritualidade e religiosidade a todos os seus admiradores. Uma postura muito digna e adequada, diga-se de passagem. Esse tipo de trabalho sempre enchia Elvis de orgulho pessoal e ele sempre encontraria um jeito dali em diante de encaixar algo nesse estilo em seus shows e discos. Quando chegou nas lojas o resultado foi considerado muito bom. Elvis colocou um pé no mercado gospel,  um dos mais influentes e ricos da sociedade americana, ao mesmo tempo em que sua imagem foi bem melhorada diante dos setores mais conservadores do país. Um saldo final muito positivo. As canções que fizeram parte desse compacto duplo foram essas:

Peace In The Valley (Thomas A. Dorsey) – Escrita em 1939 para a grande cantora Mahalia Jackson. Essa era uma música que tocava fundo na alma de Elvis porque lembrava a ele sua infância na pequena Tupelo no vizinho Estado do Mississippi onde nasceu. Quando a canção estourou nas rádios ele tinha apenas 4 anos de idade, o que ajudou a criar uma lembrança afetiva da música em sua vida. Interessante é que Elvis foi o mais fiel possível ao disco original de Jackson. Até nos mínimos detalhes – como a guitarra solando ao fundo – Elvis tentou reproduzir em seu registro. O acompanhamento vocal é praticamente o mesmo, mostrando que Elvis queria mesmo uma gravação fiel à antiga versão. Uma postura de respeito com a versão original, sem dúvida. A letra, como não poderia deixar de ser, é evocativa a um lugar imaginário onde haveria paz, onde os lobos seriam mansos e os ursos gentis. Uma metáfora do céu e do paraíso prometido aos bons cristãos que levassem uma vida digna e correta. Bem escrita a canção entrou na galeria das mais queridas entre os evangélicos do sul dos Estados Unidos. A versão oficial de Elvis foi gravada no dia 13 de janeiro de 1957 em Hollywood nos estúdios Radio Recorders.

It Is No Secret (Stuart Hamblem) - A versão original foi lançada em 1950 pelo cantor religioso Bill Kenney e o grupo The Ink Spots. A canção foi composta pelo cowboy cantor Stuart Hambleim que era muito popular por seu famoso programa de rádio – que era ouvido também pelo garoto Elvis e sua mãe Gladys nos primeiros dias da família Presley em Memphis. Hambleim se tornou muito conhecido por causa dos temas que escreveu para os grandes nomes do faroeste americano como Gene Autry, Roy Rogers e John Wayne. Anos depois decidiu seguir uma linha mais evangélica, completamente centrada em músicas religiosas e “It Is No Secret” faz parte dessa sua nova fase de vida. A versão de Elvis tem um toque mais moderno se formos comparar com a versão original. Aqui ele quis certamente melhorar um pouco em relação ao disco original. Sua visão da canção ficou pronta no dia 19 de janeiro de 1957, logo após Elvis finalizar a trilha sonora daquele que seria seu novo filme, “Loving You”.

I Believe (Drake / Graham / Shirl / Stillman)  - Extremamente emocional para Elvis, essa música ganha em grandiosidade e emoção, principalmente porque notamos nitidamente como ele se entregava completamente, de corpo e espírito, a esse sentimento religioso. Música Gospel sempre teve um significado muito grande para Elvis, provavelmente foi o primeiro tipo de canção que ele ouviu, nos cultos da assembleia de Deus, do qual fazia parte. Tinha um carinho especial por elas tendo gravado três discos exclusivamente com este gênero musical no decorrer de sua carreira: "His Hand in Mine" em 1960, "How Great Thou Art" em 1967 e "He Touched Me" em 1972. Curiosamente todos os prêmios Grammy da carreira de Elvis Presley lhes foram dados por seus trabalhos religiosos!

Take My Hand Precious Lord (Thomas A Dorsey)  - Outra música composta por Thomas Dorsey, "Take My Hand Precious Lord" foi particularmente complicada de finalizar. Depois de várias tentativas Elvis se deu por satisfeito e após ouvir todos os takes da sessão escolheu a que melhor lhe agradava. Mas intimamente, como confidenciou a Scotty Moore, não ficou muito certo sobre a escolha. Isso demonstra como Elvis trabalhava fixamente e arduamente sobre uma canção até achar a versão definitiva. Estas quatro canções incluídas em "Peace In The Valley" foram a materialização de um dos sonhos de infância de Elvis, pois desde de criança ele almejava ser cantor de músicas religiosas. É certo pelos registros que Elvis certamente deu o melhor de si. Ele ainda não tinha o pleno domínio vocal que iria adquirir ao longo dos anos mas isso em nada prejudicou ou maculou o resultado final, pelo contrário, mostrou que definitivamente ele não era apenas um cantorzinho para consumo jovem, um mero ídolo adolescente. Era na realidade um dos melhores intérpretes surgidos dentro da música americana, algo que provaria nos anos seguintes. Um talento inigualável certamente.

Elvis Presley - Peace In The Valley (1957) - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / Dudley Brooks (piano) / Hoyt Hawkins (órgão) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 12 a 13 de janeiro de 1957 e 19 de janeiro de 1957 / Data de Lançamento: abril de 1957 / Melhor posição nas charts: #39 (EUA) # - (UK).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Discografia Brasileira 1957

1957 foi um ano ridículo para os fãs brasileiros de Elvis Presley. Imagine ser fã do cantor mais famoso do mundo e não ter acesso ao que ele está lançando nos EUA. É justamente isso que aconteceu aqui no Brasil no ano de 1957. A impressão que se passa é de que a filial da RCA em nosso país simplesmente não acreditava em Elvis como potencial de vendas. Só isso justifica o fato de não ter sido lançado nenhum álbum do cantor daquele ano no Brasil.

É óbvio que o Brasil era muito atrasado em tudo (continua sendo), mas é complicado entender porque os álbuns “Loving You”, “Elvis Christmas Album” e a trilha de “Jailhouse Rock” completa não chegou aos fãs da época. O único “lançamento” em álbum daquele ano foi “Elvis” que foi lançado no ano anterior nos EUA. Pelo menos a edição nacional seguiu os passos da americana. Para se ter uma idéia do atraso o “Elvis Christmas Album” só chegou no mercado nacional quatro anos depois, com outra capa.

Na realidade os fãs nacionais consumiram em 1957 o que havia sido lançado um ano antes, em 1956, nos EUA. Ao invés de colocar os últimos lançamentos nas lojas a RCA Brasil lançou vários compactos duplos do primeiro disco americano de Elvis e a trilha sonora em compacto duplo de “Love Me Tender”. Em relação a esses compactos duplos outra peculiaridade é que eles trouxeram uma seleção de músicas diferentes das edições americanas. Fora isso nada de novo. A salvação veio nos singles que foram lançados por aqui com relativa rapidez, seguindo fielmente as edições americanas – menos nas capas pois nem todos seguiram a direção de arte original.

Assim foram lançados cinco compactos, todos em 78 ou 45 RPM. A maior curiosidade nesse pacote foi o single “Don´t Leave Me Now / Baby I Don´t Care”, praticamente único no mundo, sem qualquer semelhança com a discografia norte-americana. Foi a forma encontrada pela RCA daqui de disponibilizar aos fãs o restante da trilha sonora de “Jailhouse Rock” que não foi lançada de forma completa como aconteceu nos EUA  (onde ganhou bela edição com todas as canções do filme no formato EP – Compacto Duplo).  Enfim, a discografia brasileira seguia aos trancos e barrancos, com atrasos, omissões e falhas, muitas falhas. Segue abaixo a relação de todos os itens lançados no Brasil em 1957:

Álbum:
Elvis
(Rip it Up / Love me / When my blue Moon Turns to Gold Again / Paralyzed / So Glad You're Mine / Old Sheep / Ready Teddy / Anyplace is Paradise / Long Tall Sally / First in Line / How do you Think I fell / How's The World Treating You)

Compactos Simples (Singles):
Too Much / Playing for Keeps
All Shook Up / That's When Your Heartaches Begin
Teddy Bear / Loving You
Jailhouse Rock / Treat Me Nice
Don´t Leave Me Now / Baby I Don´t Care

Compactos Duplos (EPs)
Elvis Presley
(Blue Suede Shoes / I Got a Woman / One-Sided Love Affair / I'm Counting On You)
Elvis Presley
(I Got a Woman / Tutti Frutti / One-Sided Love Affair / Trying to Get You)
Elvis
(Rip It Up / Love Me / Long Tall Sally / So Glad You-re Mine)
Love Me Tender
(Love Me Tender / Let Me / Poor Boy / We´re Gonna Move)

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de agosto de 2008

Séries Review: Deixa Ela Entrar / Peaky Blinders

Deixa Ela Entrar 1.01 - Anything for Blood
Pois é, após o sucesso do livro original e a adaptação para o cinema em duas versões, que renderam dois bons filmes, essa história agora vira série pela Paramount Plus. E logo nesse primeiro episódio já deu para perceber que é coisa boa! Sim, a série ja começa muito bem. A premissa básica segue sendo a mesma: um homem mais velho e uma estranha garota se mudam para um novo apartamento. Ela acaba conhecendo um garoto da vizinhança, um menino que não tem amigos, que sofre bullying na escola. A aproximação tem seus perigos porque a garotinha na realidade é uma vampira! Na boa, gostei de praticamente todo o episódio, com destaque para a perseguição nos esgotos da cidade. Felizmente mais uma boa série para acompanhar. Esse primeiro episódio me deixou realmente animado. / Deixa Ela Entrar 1.01 - Anything for Blood (Estados Unidos, 2022) Direção: Seith Mann / Elenco: Demián Bichir, Madison Taylor Baez, Ian Foreman.

Peaky Blinders 3.04
Os irmãos Shelby se reúnem logo no começo do episódio para homenagear o pai que foi encontrado morto. Beberrão e bom de briga, ele forjou a vida de todos eles. Após abaterem um animal na floresta retornam para a cidade com planos para roubar os russos que moram em Londres. Famílias aristocratas arruinadas pela revolução comunista. Eles acreditam que esses russos escondem grandes fortunas em porões em suas casas. Então é apenas uma questão de planejamento bem feito para colocar o dinheiro do roubo no bolso. Mas não vai ser tão fácil. É nesse episódio que Thomas Shelby leva uma tremenda de uma surra, que o deixa realmente muito ferido. Seu plano era assassinar um padre com ligações com o mundo do crime, só que a história vaza antes e ele se dá muito mal. E tudo isso depois de ver a louca amante russa fazendo roleta russsa (claro!) com sua arma. Viver é um perigo diário para essas pessoas da família Shelby! / Peaky Blinders 3.04 (Reino Unido, 2016) Direção: Tim Mielants / Elenco: Cillian Murphy, Paul Anderson, Joe Cole.

Pablo Aluísio. 

A Morte de Ryan O'Neal

Ryan O’Neal morre aos 82 anos
O ator indicado ao Oscar Ryan O'Neal, que ganhou destaque no programa de TV “Peyton Place” e se tornou uma grande estrela da década de 1970 em filmes como “Love Story”, “What's Up, Doc?”, “Paper Moon” e “Barry Lyndon”, morreu na sexta-feira, disse seu filho Patrick no Instagram. Ele tinha 82 anos. O’Neal foi diagnosticado com leucemia crônica em 2001 e com câncer de próstata em 2012.

“Ryan era um homem muito generoso que sempre esteve disponível para ajudar seus entes queridos durante décadas”, escreveu seu filho. “Meu pai tinha 82 anos e viveu uma vida incrível.". A família ainda não informou detalhes sobre o funeral do ator. 

Tatum O’Neal presta homenagem ao pai Ryan O’Neal
A filha de Ryan O´Neal declarou sobre o falecimento do pai: “Sentirei falta dele para sempre” Tatum O’Neal está se manifestou após a notícia da morte de Ryan O’Neal na sexta-feira. A atriz vencedora do Oscar compartilhou uma declaração com a People sobre como ela se sentiu após o falecimento de seu pai. Os dois tiveram um relacionamento difícil desde que trabalharam juntos em Paper Moon, de 1973, pelo qual Tatum ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante com apenas 10 anos de idade.

“Sinto muita tristeza pelo falecimento do meu pai”, disse Tatum à publicação. “Ele significava o mundo para mim. Eu o amava muito e sabia que ele também me amava. Sentirei falta dele para sempre e me sinto muito sortudo por termos terminado tão bem.” 

Lola Dee, cantora popular da década de 1950, morre aos 95 anos
A cantora pop Lola Dee, que gravou para as gravadoras Columbia e Mercury na década de 1950 e fez turnês ao redor do mundo com nomes como Bob Hope, Jimmy Durante e Johnnie Ray, morreu. Ela tinha 95 anos. Dee morreu quinta-feira de causas naturais em uma clínica de enfermagem em Hinsdale, Illinois, anunciou seu publicitário e produtor de CD, Alan Eichler. Depois de assinar um contrato de cinco anos com a Mercury Records, com sede em Chicago, uma empresa recém-formada que tinha Frankie Laine, Vic Damone e Patti Page em seu elenco, a cantora, então conhecida como Lola Ameche, se juntou à Orquestra Al Trace em 1951 “ Pretty Eyed Baby”, que alcançou a 21ª posição nas paradas da Billboard.

Ela e Trace lançaram outro sucesso naquele ano, “Hitsity Hotsity”, e ela gravou mais de duas dúzias de músicas nos três anos seguintes, incluindo versões swingadas de “Dance Me Loose”, “Old Man Mose”, “Down Yonder”, “Take Two to Tango”. A cantora se tornou muito popular nos anos 50, onde era elogiada pela crítica especializada e adorada por seu público. Estava há anos afastada do meio artístico, mas se lembrava com carinho de seus anos de sucesso e fama. 

Pablo Aluísio.