sábado, 4 de maio de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 7

O disco fecha suas cortinas com o clássico "Bridge Over Troubled Water" de Paul Simon. Essa é uma das maiores canções populares já escritas. Gravada originalmente no final dos anos 60 e lançada em janeiro de 1970 no disco de mesmo nome da dupla Simon e Garfunkel a música logo virou símbolo de uma era e colecionou prêmios em sua vitoriosa trajetória: "Gravação do ano", "Álbum do ano", "Melhor canção escrita do ano" e outros. Além da aclamação da crítica o público também não deixou por menos colocando a música por seis semanas seguidas no topo da parada norte americana. Tanto sucesso não poderia passar despercebido por Elvis Presley. Ele amou a música desde a primeira vez que a ouviu e foi um dos primeiros intérpretes a gravar uma versão, apenas seis meses depois que ela foi lançada originalmente pela famosa dupla dos anos 70. Elvis não perderia a chance de fazer sua versão pessoal de uma canção tão significativa. Logo ele, que estava empenhado em renovar seu repertório e produzir material relevante e de importância, bem longe de seu passado recente de trilhas sonoras medíocres. 

Antenado no que estava acontecendo musicalmente ao seu redor, Elvis logo providenciou seu próprio registro da canção. Quando foi informado da data das sessões de gravação em junho daquele mesmo ano ele logo entrou em contato com seu produtor Felton Jarvis e pediu que ele providenciasse logo a liberação da música pois ele já tinha inclusive feito alguns ensaios com sua banda na estrada e estava procurando achar o tom certo para sua versão. Elvis sabia que seu estilo vocal em pouco se aproximava da linha folk universitária de seus autores originais. Ele procurou adaptar a canção ao seu próprio estilo, deixando a simplicidade da versão original de lado e investindo em algo mais grandioso com presença marcante de orquestra (arranjo inexistente dentro da versão original da dupla Simon e Garfunkel). Isso também se justificava porque Elvis pretendia utilizá-la durante seus concertos e não havia como ele, sendo um barítono, fazer uma versão que se aproximasse da ideia simplória de Paul Simon e seu companheiro de dupla. Alguns ajustes teriam que ser feitos e isso traria todas as características que fariam essa canção única dentro da vasta discografia de Elvis. Esse tipo de material era o que ele iria procurar cada vez mais durante os anos 70.

Canções que representassem de alguma forma um novo desafio, um novo pico a alcançar. Certamente os rocks que tanto caracterizaram sua carreira, ao ponto de receber o título de Rei do Rock, não mais significavam um grande desafio a ser superado em 1970. Elvis procurava algo mais, algo que demonstrassem a todos seu grande talento vocal, que deixasse claro para quem ouvisse seus discos ou assistisse seus shows que ele era, acima de qualquer coisa, um grande cantor, nada mais do que isso. Elvis procurava antes de qualquer coisa ser reconhecido por seus colegas profissionais, pela crítica especializada e principalmente por seu público que manteve-se fiel a ele, mesmo na pior fase de sua carreira nos anos 60. 

O saldo final é conhecido de todos: a canção é considerada uma das maiores interpretações de toda a carreira de Elvis Presley! A versão do Rei para o sucesso imortal da dupla "Simon e Garfunkel" emociona até hoje. Como toque final foram acrescentadas palmas para se dar a impressão que ela foi gravada ao vivo, porém esta é a versão de estúdio e não a versão que aparece no filme (e que também é ótima). Só foi lançada da forma como foi gravada muitos anos depois na caixa de CDs "Walk a mile in my Shoes" com nova mixagem e mostrando toda a extensão de sua beleza. "Bridge Over Troubled Water", sem a menor sombra de dúvida, é um dos maiores marcos da carreira de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

O Diário de Um Jornalista Bêbado

Jornalista americano freelancer (Johnny Depp) vai até Porto Rico atrás de um emprego em um decadente jornal local. Lá se torna amigo do empresario Sanderson, que deseja construir um grande império de turismo na Ilha após o governo americano colocar à venda as terras e as praias caribenhas da região. Enquanto a situação não se resolve o tal jornalista bêbado bebe, se mete em confusões e paquera a sra Sanderson (Amber Heart). Tudo muito frouxo e sem graça. O filme é muito chato. Só indico a quem gosta de ver dois marmanjos completamente bêbados durante as quase duas horas de filme (um exagero, já que em essência nada de muito importante acontece). O Johhny Depp está travado, o que é um absurdo para quem está interpretando uma personagem alcoolizado. Há cenas constrangedoras de sua canastrice e ele não conseguiu em momento algum dar algum tipo de carisma ao seu jornalista bêbado. Além disso os momentos de humor se resumem a acompanhar esse jornalista bebum passeando por Porto Rico, assistindo rinhas da galo e dando em cima da mulher do empresário Sanderson. Piadas de bêbados tem duração curta mas o filme se alonga desnecessariamente, tentando criar em vão algum vínculo com o espectador (que se não for outro bêbado vai acabar se cansando do roteiro repetitivo).

O filme foi um mega fracasso de bilheteria. Tomando as dores da produção o ator Johnny Depp partiu para a ofensa dizendo que o público americano não gostou do filme porque é "burro"! Sinceramente, além de não ter trabalhado de forma bem no filme ele ainda tentou enfiar goela abaixo do público um produto que em suma é muito chato e fraco. Deveria reconhecer a bomba e ficar calado. Além disso burro será mesmo quem pagar para ver esse monte de bebuns xaropes. Tem graça ver alguém enchendo a cara e falando uma besteira atrás do outra? Eu não vejo graça nenhuma, aliás bêbados são chatos por natureza e o filme comprova isso. Enfim, o filme é literalmente um porre. Merece ter sido o fracasso que foi.

Diário de um Jornalista Bêbado (The Rum Diary, Estados Unidos, 2011) Direção e roteiro de Bruce Robinson. / Elenco: Johnny Depp, Aaron Eckhart, Giovanni Ribisi / Sinopse: Jornalista americano vai até a Costa Rica atrás de emprego em um pequeno jornal local, se envolvendo em diversas confusões, tudo regado a muita bebida e drogas.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Bebê Rena

Título no Brasil: Bebê Rena
Título Original: Baby Reindeer
Ano de Lançamento: 2024
País: Estados Unidos
Estúdio: Netflix
Direção: Weronika Tofilska, Josephine Bornebusch
Roteiro: Richard Gadd
Elenco: Richard Gadd, Jessica Gunning, Nava Mau

Sinopse:
Barman escocês que tenta fazer sucesso em Londres como comediante acaba encarando o fracasso de suas apresentações nos palcos. Pior do que isso, ele passa a ser perseguido por uma mulher completamente perturbada que ele conheceu no pub onde trabalha. E ela está decidida a transformar sua vida em um completo inferno. 

Comentários:
Essa é a série do momento na Netflix. Primeiro lugar em praticamente todos os países e grande repercussão, inclusive na net. Não se fala em outra coisa, é um grande sucesso. A boa notícia é que realmente temos uma excelente série aqui. Tudo o que se vê na tela realmente aconteceu e o ator que interpreta o protagonista está na verdade interpretando sua própria vida, pois aquilo aconteceu com ele, anos atrás. Todos os personagens, justamente por essa razão, possuem muita alma. Não são meros personagens criados para uma história interessante inventada. O comediante fracassado que sobrevive como barman, sua namorada transexual e a perseguidora gorda e psicótica realmente existem e estão por ai, tendo que lidar com os efeitos do grande sucesso da série. É uma daquelas séries com muitas camadas psicológicas para se desvendar. De certa maneira também é muito perturbadora, uma daquelas histórias que não vamos esquecer e que iremos lembrar por muitos anos ainda. Eu gostei muito e recomendo sem hesitação. Se você é uma das poucas pessoas que ainda não viram "Bebê Rena" corra para a Netflix e confira uma das séries mais viscerais e doentias dos últimos anos. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Massacre em Rosewood

Título no Brasil: Massacre em Rosewood
Título Original: Rosewood
Ano de Lançamento: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: John Singleton
Roteiro: Gregory Poirier
Elenco: Jon Voight, Ving Rhames, Don Cheadle

Sinopse:
O filme recria um fato histórico ocorrido em 1923 em uma cidade do Sul dos Estados Unidos, quando um grupo de supremacistas brancos e racistas decidiram atacar uma comunidade negra, matando crianças, mulheres e idosos, o que chocou grande parte da sociedade americana da sua época. 

Comentários:
Esse é um filme chocante porque mostra o nível de violência e brutalidade que pode chegar um grupo racista, caso não seja combatido pela lei e pelas autoridades constituídas. O diretor black John Singleton, muitos considerado por causa de seu ativismo em prol da luta dos negros nos Estados Unidos, conseguiu realizar um grande filme, muito bem produzido e ao mesmo tempo conscientizador desse problema social que atinge há décadas os estados sulitas norte-americanos, os mesmos que perderam a guerra civil. Parece que os sulistas jamais vão superar aqueles velhos preconceitos gravados em ferro e fogo na bandeira confederada. Sinceramente falando, já deveriam ter superado há muitas décadas. E pensar que ainda hoje a chaga do racismo permanece aberta. Parece ser um problema sem solução. Espero estar errado sobre isso. 

Pablo Aluísio.

Crash: Estranhos Prazeres

Título no Brasil: Crash: Estranhos Prazeres
Título Original: Crash
Ano de Lançamento: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia TriStar Films
Direção: David Cronenberg
Roteiro: J.G. Ballard, David Cronenberg
Elenco: James Spader, Holly Hunter, Rosanna Arquette

Sinopse:
James Ballard (James Spader) é um diretor de programas para televisão que sofre um grave acidente de carro. E depois desse evento ele descobre que existe um estranho grupo de pessoas que sexualizam acidentes desse tipo para revitalizarem suas próprias vidas sexuais adormecidas e em crise. Filme premiado no festival de cinema de Cannes. 

Comentários:
David Cronenberg sempre foi um diretor estranho em busca de temas esquisitos para seus filmes. No caso dessa produção ele dobrou suas apostas. Realmente, o tema central do filme é até complicado de explicar. Como assim existe uma modalidade de atração sexual baseada em acidentes de carro? Que coisa mais bizarra... vou te contar. Pois é justamente disso que se trata. Eu particularmente nunca gostei do filme, não por causa dessa coisa de omnissexuais (seja lá o que isso venha a significar), mas simplesmente porque acho um filme sem nexo, mal editado e que muitas vezes cai no marasmo completo. Claro que quando chegou as cinemas a crítica adorou, tanto que o filme foi celebrado em Cannes. Eu entendo quem pensa assim, mas no meu caso particular não deu certo. Eu realmente nunca gostei desse filme e seu tema singular e exótico. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 30 de abril de 2024

O Preço de um Homem

Título no Brasil: O Preço de um Homem
Título Original: The Naked Spur
Ano de Lançamento: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Anthony Mann
Roteiro: Sam Rolfe, Harold Jack Bloom
Elenco: James Stewart, Janet Leigh, Robert Ryan, Ralph Meeker, Millard Mitchell, Aaron Stevens

Sinopse:
Howard Kemp (James Stewart) é um caçador de recompensas que há muito tempo persegue o assassino Ben Vandergroat (Ryan). Ao longo do caminho, Kemp é forçado a lidar com certos sujeitos, entre eles um velho garimpeiro chamado Jesse Tate e um soldado da União dispensado de forma desonrosa. Quando eles descobrem que Vandergroat tem uma recompensa de US$ 5.000 por sua cabeça, a ganância começa a tomar conta deles. Vandergroat aproveita ao máximo a situação, semeando dúvidas entre os dois homens em todas as oportunidades, finalmente convencendo um deles a ajudá-lo a escapar.

Comentários:
Quando você se deparar com qualquer faroeste contando com essa dupla Stewart e Mann, pode assistir ao filme sem nem pensar duas vezes. No mínimo será mais um grande western, isso se não for um clássico absoluto do gênero cinematográfico. É impressionante como eles só fizeram bons filmes. Nunca houve espaço para a mediocridade no trabalho deles em Hollywood. E esse filme só vem confirmar isso. É um daqueles excelentes filmes do passado, com linda direção de fotografia, captando toda a beleza natural onde foi filmado e contando com um elenco muito bom, onde destaco não apenas James Stewart, aqui em um papel um pouco fora do seu habitual, como também da estrela Janet Leigh. De cabelos loiros curtinhos, muito bronzeada, ela convence demais como uma garota durona do velho oeste. Tão durona que na época em que o filme chegou nos cinemas houve quem acusasse sua personagem de ser uma lésbica, isso apesar dela se relacionar com os personagens masculinos do filme. Mas enfim, gostei demais. Esse é um daqueles filmes que não podem faltar na coleção do cinéfilo que aprecia filmes de faroeste. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Um Corpo que Cai

Título no Brasil: Um Corpo que Cai
Título Original: Vertigo
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Alec Coppel, Samuel A. Taylor
Elenco: James Stewart, Kim Novak, Barbara Bel Geddes, Tom Helmore, Henry Jones, Raymond Bailey

Sinopse:
Com roteiro baseado no romance policial "D'Entre Les Morts", o filme conta um caso envolvendo o investigador aposentado John 'Scottie' Ferguson (James Stewart). Ele é contratado por um amigo para seguir sua esposa pelas ruas de San Francisco. O marido está preocupado com o comportamento dela. Só que Ferguson descobre muito mais do que poderia esperar.

Comentários:
Esse filme é considerado por muitos críticos como o melhor da carreira do mestre do suspense Alfred Hitchcock. É um título de peso, só sustentado realmente por grandes filmes. E "Vertigo" se sai muito bem nessa posição de destaque. O roteiro é genial, mostrando toda a capacidade de Hitchcock em narrar seu enredo, que em alguns momentos parece bem simples, para depois ganhar contornos bem mais complexos. Em termos de linguagem cinematográfica é o melhor trabalho de Alfred Hitchcock, pois o diretor mescla momentos de pura ilusão, sonhos e devaneios, com a realidade concreta. Nesse ponto fascina até mesmo os cinéfilos mais experientes. Olhando sob esse aspecto subjetivo de fato temos aqui uma verdadeira obra-prima da filmografia de Hitchcock, muito provavelmente jamais superada por nenhum outro momento de seus outros filmes. "Um Corpo que Cai" é o auge de Hitchcock, seu mais expressivo filme no cinema. Um grande clássico.

Pablo Aluísio.

domingo, 28 de abril de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 6

Eu não colocaria "Stranger in the Crowd" entre as melhores músicas desse disco, mas ela tem sim seus méritos. Se "Just Pretend" e "Bridge Over Troubled Water" são músicas embasadas nos arranjos de piano, aqui o que se destaca mesmo é o pleno domínio dos arranjos de cordas e de instrumentos percussivos. A mais acústica música do disco não chega ao ponto de ser um dos destaques da trilha, sendo considerada apenas um complemento ao conjunto. Apesar disso, de ser uma mera coadjuvante, não podemos deixar de colocar em destaque seus méritos como a vocalização inspirada de Elvis e o belo solo de guitarra de James Burton, bem diferente do que ele costumava fazer em estúdio. 

Winfield Scott, autor dessa música, compôs várias canções dos filmes de Elvis nos anos 60. Ele esteve muito presente nessa fase e foi dele a descoberta de uma das maiores surpresas em termos de gravações perdidas de Elvis. Quase que por acaso ele acabou descobrindo o tape inédito de "I'm Roustabout", canção que havia sido originalmente composta para ser o tema principal do filme "Roustabout" (O carrossel de emoções, 1964). Assim que soube o que tinha em mãos entrou em contato com Ernst Jorgensen que não perdeu tempo em anunciar para o mundo que pela primeira vez em muitos anos havia sido descoberta uma nova música na voz de Elvis, até então totalmente inédita. A descoberta acabou sendo definida por Joe Di Muro, executivo da RCA / BMG, como a "mais inacreditável da música moderna"!

"The Next Step Is Love" vem logo a seguir. Quando Elvis resolveu retomar o rumo de sua carreira e deixar Hollywood para trás ele procurou encontrar inspiração e renovação em um novo grupo de compositores. Paul Evans, cantor, compositor e famoso produtor certamente se encaixava nesse novo perfil que Elvis tanto procurava. Antes de compor "The Next Step is Love", Evans já era muito conhecido nos EUA por causa de suas músicas românticas, doces e ternas, que fizeram muito sucesso principalmente na primeira metade dos anos 60 como, por exemplo, "Too Make You Feel My Love", "When" e principalmente "Roses are Red (My Love)", seu grande sucesso que chegou ao primeiro lugar nas paradas. Além disso ainda escreveu novas versões para o clássico sacro "Amazing Grace". Compositor de grande talento, foi ainda gravado por Pat Boone, La Vern Baker e Bobby Vinton. Pena que não tenha tido uma parceria de maior duração ao lado de Elvis, pois na visão estreita de Tom Parker ele ainda era considerado um compositor muito "caro"!!! De qualquer maneira a música acabou sendo lançada como Lado B do Single "I've Lost You". No filme Elvis aparece ouvindo e dando sua aprovação final ao resultado da gravação desta canção. É uma bela música sem dúvida, porém perde em comparação com alguns clássicos presentes neste disco. Poderíamos dizer que é um belo complemento ao disco, mas sem jamais ser protagonista dentro da seleção de boas melodias desse trabalho de Elvis. 

A letra da canção exalta principalmente a paixão, os primeiros momentos em que cada um se descobre apaixonado pelo outro. Há uma clara intenção de, em forma poética, tentar capturar esse momento. Até mesmo aspectos bobos ganham relevância, como caminhar descalços pelos campos, rindo debaixo da chuva. Particularmente penso que essa gravação teria ficado bem melhor se tivesse sido feita com a antiga banda de Elvis, principalmente com aquela formação da primeira metade da década de 1960. Essa música tem uma singeleza que combinaria bem com aquele período histórico da carreira do cantor. Além disso se ele tivesse optado por aquela linha vocal mais terna, que tanto caracterizou suas canções naquela época, o resultado teria sido bem bonito. Já em Nashville, com todas aquelas canções para se gravar, onde o tempo era mais do que precioso, houve uma certa pressa em finalizar a faixa. Com isso a melodia não foi tão valorizada. Some-se a isso o fato da TCB Band ser um grupo com características de palco, o que deu a esse registro um certo sabor de música gravada ao vivo. Mas enfim, mesmo sendo feitas essas observações é importante ressaltar a boa qualidade da música como um todo. Nunca chegou a ser um hit ou um standart na discografia de Elvis, porém como coadjuvante nesse ótimo álbum "That´s The Way It Is" está de bom tamanho.

Pablo Aluísio.

sábado, 27 de abril de 2024

The Beatles - With The Beatles - Parte 6

Esse segundo disco dos Beatles foi gravado em uma época que o grupo estava cumprindo uma série de obrigações contratuais. Além dos shows havia um contrato onde os Beatles tocavam na rádio BBC de Londres. Assim, para que tudo coubesse dentro dessa agenda apertada, os Beatles decidiram facilitar as coisas. E isso significava usar algumas músicas covers que eles estavam tocando na BBC em seu novo disco. Afinal essas músicas já estavam ensaiadas e os Beatles devidamente familiarizados com essas faixas, poderiam gravar tudo de forma mais rápida. No estúdio não haveria tanto problema em finalizá-las.

"Devil in Her Heart" era um cover nessa linha. Quem sugeriu a gravação foi Paul McCartney. Esse tipo de música os Beatles utilizavam em suas apresentações, pois tinha aquele jeitão de bolero, ideal para os clubes em que os Beatles se apresentavam em seus primeiros anos de carreira. Era aquele tipo de baladona usada para que todos dançassem de rostinho colado. Bem de acordo com os clubes noturnos por onde eles passavam. Tempos duros, mas também de aprendizado nesse tipo de palco. 

Se a música anterior era romântica e nostálgica, essa "Money" era puro rock ´n´roll, ideal para John Lennon desfilar sua marra de rebelde ao estilo James Dean. Com letra cortante e direta, era aquele tipo de som usado nos shows em inferninhos, quando os Beatles queriam incendiar a apresentação, colocando todos para dançar. Curiosamente "Money" acabou sendo comparada a "Twist and Shout" do primeiro disco. Realmente havia muitas semelhanças. Além de ser um rock pra cima, ainda contava com uma vocalização bem parecida com John Lennon cantando com a voz bem rouca e surrada.

"Not a Second Time" era uma original dos rapazes, com autêntico selo de originalidade da dupla Lennon e McCartney. Houve uma certa discussão dentro do estúdio sobre qual seria o melhor arranjo para a música. Nesse caso George Martin, o produtor das sessões, foi figura importante, dando dicas e contribuindo pessoalmente na seleção de instrumentos, inclusive ajudando em um belo solo no meio da música, algo que a marcou muito. Basta ouvir essas notas, seja tocada em piano ou violão, para reconhecer imediatamente a faixa. O vocal principal ficou com John Lennon, embora a música também fosse ideal para Paul McCartney, caso ele quisesse cantar a música no estúdio.

Panlo Aluísio.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Último Ato

Título no Brasil: Último Ato
Título Original: Manhunt
Ano de Lançamento: 2024
País: Estados Unidos
Estúdio: Apple Studios
Direção: Eva Sørhaug, John Dahl
Roteiro: Monica Beletsky, Tim Brittain
Elenco: Tobias Menzies, Anthony Boyle, Hamish Linklater, Glenn Morshower, Matt Walsh, Damian O'Hare

Sinopse:
O ator John Wilkes Booth decide matar o presidente Abraham Lincoln em um teatro na capital americana. Bem sucedido em seu objetivo homicida, ele consegue fugir a cavalo. Caberá então ao secretário de guerra Edwin Stanton caçar o assassino, em meio a muitas mudanças em Washington e o no meio do luto da morte de um dos mais importantes presidentes da história dos Estados Unidos. 

Comentários:
Essa minissérie foi certamente a melhor coisa que assisti nessas últimas semanas. Excelente em todos os aspectos. Ótimo elenco, roteiro bem desenvolvido, fiel aos fatos históricos, ótima reconstituição de época, direção de arte primorosa e direção afinada. Não há nada melhor para se ver atualmente em termos de streaming. E a história é muito bem focada, mostrando todos os detalhes que cercaram esse crime histórico. A minissérie parte do assassinato do presidente Abraham Lincoln. A partir daí começa uma verdadeira caçada em busca de seu assassino, um ator vaidoso e fora da realidade chamado John Wilkes Booth. Racista e fanático, ele não aceitava a derrota do Sul confederado na Guerra Civil. Ele acreditava que após matar Lincoln ele iria ser recebido em Richmond como um herói da causa confederada. O problema é que após a guerra civil a cidade estava destruída e ocupada pelas tropas da União! E ele, ferido, sem conseguir andar direito, acabou sendo caçado em sua fuga. É realmente de impressionar a facilidade que ele teve de matar o presidente dos Estados Unidos. Não havia nenhum segurança guardando o camarote de Lincoln no teatro onde ele foi morto a tiros. Enfim, essa é apenas uma das inúmeras curiosidades que cercam essa história. Não deixe de assistir, principalmente se você gosta de séries historicamente precisas e bem produzidas. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

True Detective: Night Country

Título no Brasil: True Detective
Título Original: True Detective: Night Country
Ano de Lançamento: 2024
País: Estados Unidos
Estúdio: HBO
Direção: Issa López
Roteiro: Issa López
Elenco: Jodie Foster, Kali Reis, Fiona Shaw, Finn Bennett, Isabella Star LaBlanc, Christopher Eccleston 

Sinopse:
Quarta temporada da série "True Detective". Um grupo de pesquisadores e cientistas que trabalham numa base avançada e isolada no Alaska, próximo do Círculo Polar Ártico, é encontrada morta, no meio da escuridão e do frio congelante. Uma policial tenta desvendar o crime, mas encontra em seu caminho pistas que levam a lugar nenhum. O que teria acontecido com todos aqueles homens da ciência?

Comentários:
Essa nova temporada recebeu uma chuva torrencial de críticas negativas. Eu não as condeno. Realmente prometeu muito mais do que entregou. Veja, até que o desenrolar dos episódios mantém um bom nível de qualidade. A simples presença da Jodie Foster já é um grande atrativo para acompanhar os seis episódios. Quem é cinéfilo e gosta de cinema, gosta da Foster, não tem jeito. E ela está bem, atuando bem. Assim a temporada até que se desenvolve bem, mas há problemas. E o final? Aqui está o maior problema. Durante todo os episódios há insinuações de algo vive ali naquelas terras geladas próximas ao Ártico. Seria uma força da natureza sobrenatural que agora estaria atacando os que entrassem em seus domínios. Tudo bem, isso era interessante, mas apesar de tudo isso o que se encontra no final é um crime, simplesmente um crime, cometido por pessoas de carne e osso. E nem é um crime daqueles que se pode acreditar pois achei tudo muito forçado. É o que se chama de "roteirada". Enfim, esse é o maior problema, a decepção quando se chega no desfecho de tudo. Fica aquela sensação de que muito tempo foi perdido por absolutamente nada. A montanha pariu um rato! 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

O Último Chefão

Título no Brasil: O Último Chefão
Título Original: The Last Don
Ano de Lançamento: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Konigsberg / Sanitsky Company
Direção: Graeme Clifford
Roteiro: Joyce Eliason
Elenco: Danny Aiello, Kirstie Alley, Joe Mantegna, Daryl Hannah, Burt Young, Penelope Ann Miller

Sinopse:
O filme conta a história do mafioso Don Domenico Clericuzio (Danny Aiello). Ele começa seu império do mundo do crime nas ruas mais pobres e violentas de New Jersey e Nova Iorque. Conforme sua quadrilha ganha poder e dinheiro ele decide algo ousado, dominar o crime organizado na costa oeste dos Estados Unidos, criando um braço de seu grupo em Las Vegas e Los Angeles, tentando ganhar dinheiro sujo em Hollywood. 

Comentários:
Esse filme foi adaptado de outro livro escrito pelo consagrado Mario Puzo. Para quem não lembra ele criou a saga de "O Poderoso Chefão". O curioso é que o estúdio comprou os direitos do livro por mais de 2 milhões de dólares e depois, quando todos esperavam por um longa para o cinema, os produtores decidiram fazer um telefilme, para ser exibido na TV. Ninguém entendeu direito essa decisão. De qualquer forma o filme acabou sendo lançado em nosso país no mercado de vídeo, através do selo Playarte. Apesar de ser um telefilme, é uma bonita produção, com excelente trilha sonora. O Puzo quis com seu personagem Don Domenico Clericuzio reunir elementos de vários mafiosos da vida real em apenas um protagonista. Até que ficou interessante, mas é a tal coisa, se formos comparar com "O Poderoso Chefão" a coisa fica complicada. Parece que depois do enorme sucesso do livro anterior, ele tentou repetir o mesmo êxito comercial nas livrarias e no cinema, mas acabou se limitando, se repetindo, copiando a si mesmo, atrás do sucesso fácil. Não ficou tão bom e nem muito menos inspirado. Enfim, temos uma história até OK, mas nada memorável. 

Pablo Aluísio.

Os Amores De Picasso

Título no Brasil: Os Amores De Picasso
Título Original: Surviving Picasso
Ano de Produção: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros.
Direção: James Ivory
Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala
Elenco: Anthony Hopkins, Tom Fisher, Andreas Wisniewski, Julianne Moore

Sinopse:
Cinebiografia de parte da vida do famoso pintor Pablo Picasso, aqui interpretado pelo ator Anthony Hopkins. O enredo se desenrola a partir das lembranças de Francoise Gilot (Natasha McElhone), que foi amante do artista por mais de dez anos. Foi um caso dos mais ousados pois Picasso era 40 anos mais velho do que ela. Mesmo assim se apaixonaram e viveram um inesperado caso de amor. 

Comentários:
Um filme que agradou a poucos. Na época de seu lançamento a família de Pablo Picasso tentou impedir, inclusive legalmente, a chegada da película nas telas. Não conseguiu. Não é para tanto, embora muito humano o artista que vemos passar na tela não é em nenhum momento desrespeitoso com sua biografia, digamos, oficial e chapa branca. Com uso de inúmeros flashbacks ficamos conhecendo detalhes da vida pessoal do pintor, inclusive seu turbulento relacionamento com sua esposa, Olga (Jane Lapotaire). O Picasso de Anthony Hopkins é explosivo, apaixonado, caliente mas também infiel e traidor da confiança daqueles que mais o amam. Uma personalidade complexa que o roteiro apenas em parte consegue captar. No final das contas é um filme mediano que não consegue ficar à altura do gênio que tenta retratar. Anthony Hopkins é um grande ator mas alguns papéis definitivamente não lhe caíram bem. É o caso de Pablo Picasso. Escalar um ator tipicamente britânico para fazer um espanhol é uma temeridade, ainda mais quando literalmente o "pintam" para dar a tonalidade da cor natural do pintor. Depois de uma escalação e maquiagem tão ruins como essas fico pensando em como um ator consegue sobreviver a um papel desses? A única coisa que se salva é a beleza de Julianne Moore que ajuda a passar o tempo do filme de forma menos penosa.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de abril de 2024

A Lei do Bravo

Título no Brasil: A Lei do Bravo
Título Original: White Feather
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Robert D. Webb
Roteiro: Delmer Daves, Leo Townsend
Elenco: Robert Wagner, Jeffrey Hunter, John Lund

Sinopse:
Uma tropa da cavalaria americana viaja até o distante território do Wyoming durante a década de 1870 para pacificar a região, celebrando tratados de paz e cooperação com os principais chefes nativos daquelas terras. Tudo corre relativamente bem até que questões de sucessão entre os índios Cheyennes colocam em perigo a paz e a prosperidade entre os dois povos.

Comentários:
"A Lei do Bravo" anda injustamente esquecido, mas não se engane, se trata de um western realmente acima da média. O título original que pode ser traduzido como "Pena da Paz" já dá uma ideia do que está por vir. O roteiro trabalha na complicada questão indígena que foi durante muitos anos um problema e tanto para o governo americano. Sempre em busca de paz, evitando assim novos conflitos, muitas tropas da cavalaria foram enviadas para regiões distantes, com o objetivo de costurar a paz com os líderes nativos. Isso nem sempre era fácil, seja por causa dos próprios índios, seja por falta de comprometimento do próprio homem branco, que muitas vezes rasgava os pactos assinados, ignorando completamente o que havia sido prometido aos caciques e chefes tribais. No meio de tudo ficava a velha questão do choque de civilizações entre os americanos brancos empenhados em colonizar o velho oeste e os nativos peles vermelhas que tradicionalmente ocupavam suas terras. Em termos de produção nada a criticar, pois tudo surge de forma muito bem realizada e caprichada. Idem para o elenco formado por dois galãs famosos da época, Robert Wagner e Jeffrey Hunter, que funcionam como um belo bônus para o público feminino. Muitos vão sentir talvez a falta de um pouco mais de ação e combates, mas isso é um erro, pois a moral de toda a história contada é apenas uma: apenas a paz pode gerar bons frutos entre povos inimigos.

Pablo Aluísio.

Comanche

Título no Brasil: Comanche
Título Original: Comanche
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: George Sherman
Roteiro: Carl Krueger
Elenco: Dana Andrews, Kent Smith, Nestor Paiva

Sinopse:
Na fronteira mais distante e inóspita do velho oeste do século XIX, um grupo de soldados americanos enviados por Washington precisa costurar um acordo de paz com a nação Comanche para evitar que ocorra um novo banho de sangue entre tropas da cavalaria e guerreiros nativos, que já se encontram com suas tradicionais pinturas de guerra. O acordo, como logo se mostra desde o começo, não será dos mais fáceis de conseguir.

Comentários:
"Comanche" mostra as dificuldades que existiam entre o governo americano, destemido em alargar as fronteiras do país rumo ao oeste selvagem e a natural resistência que nascia contra essa política de tribos nativas, entre elas a dos Comanches, que ficaram conhecidos na história como uma das nações mais guerreiras e bravas daquele período. Como se trata de um típico faroeste dos anos 50, já sabemos de antemão que tudo foi realmente produzido de forma muito romanceada, com claros objetivos de transformar os soldados americanos da cavalaria em heróis e os índios em impiedosos vilões. No meio de um clima de guerra há até espaço para namoricos e romances (até porque se não fosse assim as atrizes não teriam razão nenhuma de participar do filme). É uma visão que no fundo retrata a mentalidade da época. Colocando isso de lado sobra ao espectador muita diversão ao velho estilo bangue-bangue do cinema americano. Há várias cenas tradicionais de combate entre soldados e índios, algo que fará a alegria dos nostálgicos. Como diferencial o diretor George Sherman resolveu ele mesmo e sua equipe atravessar a fronteira filmando tudo no México, perto da cidade de Durango. Isso trouxe algo de novo ao filme em si, pois aquela terra deserta como o inferno, se torna um componente importante na condução do enredo. No saldo final temos um western muito interessante e divertido, acima de tudo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Sayonara

Sayonara
Major da Força Aérea Americana (Marlon Brando) se apaixona por jovem japonesa e tem que enfrentar a dura disciplina militar que explicitamente proíbe tal relacionamento durante a estadia de militares americanos no Japão. Basta ler a sinopse para entender porque o ator Marlon Brando se interessou pelo papel. Sempre envolvido em causas sociais (principalmente as que envolviam preconceito racial) Brando achou que seria bastante interessante tocar em um tema polêmico ao indagar até que ponto o código de ética militar das forças armadas americanas era moralmente aceitável. Que direito tinha de determinar quem poderia ou não se envolver com os soldados e oficiais americanos? Não seria uma invasão da vida pessoal dessas pessoas? 

O fato é que mesmo com a proibição muitos militares acabavam se apaixonando pelas mulheres nativas e sofriam sanções por isso. Brando adorou o roteiro desde a primeira vez que o leu mas recusou fazer o filme até que aceitassem reescrever o trágico final original. Aceitos os seus termos o ator fez as malas e junto da equipe viajou ao distante Japão para as filmagens, que não foram fáceis. O problema é que foram na época errada do ano, uma estação muito chuvosa que atrasou absurdamente o cronograma do filme. Em suas memórias Brando relembrou que havia semanas em que não conseguiam filmar nem ao menos uma tomada sequer. Pressionado e criticado pelo estúdio o diretor Joshua Logan entrou em depressão deixando o filme totalmente à deriva nas ilhas nipônicas. Isso se refletiu no resultado final. O filme tem um corte ruim, com mais de duas horas e meia de duração. Marlon acabou atribuindo isso à falta de controle do diretor Logan que se perdeu dentro do projeto.

Apesar de todos os problemas não considero "Sayonara" um filme ruim, pelo contrário. Ele pode ser levemente disperso e com várias cenas desnecessárias mas nunca se torna banal. Há certos deslizes na produção, é verdade, como a maquiagem nada convincente de Ricardo Montalban (fazendo um personagem japonês ora vejam só!) mas isso é de certo modo apenas pontual. A atriz que faz o par romântico de Brando também nada acrescenta, pois tem o talento dramático muito limitado (de fato não seguiu carreira depois). Outro problema é que inexiste química entre ela e Brando, o que para um filme pretensamente romântico é quase um desastre completo. Enfim, para fãs de Brando o filme é obrigatório, até mesmo para vê-lo em um papel de certa forma diferenciado em sua carreira (bancando o herói romântico) mas fica a observação pois o filme poderia ser bem melhor do que realmente é.

Sayonara (Sayonara, Estados Unidos, 1957) Direção de Joshua Logan / Roteiro: Paul Osborn baseado no romance de James Michener / Elenco: Marlon Brando, Patricia Owens, Red Buttons, Miiko Taka, Ricardo Montalban / Sinopse: Major da Força Aérea Americana (Marlon Brando) se apaixona por jovem japonesa e tem que enfrentar a dura disciplina militar que explicitamente proíbe tal relacionamento durante a estadia de militares americanos no Japão.

Pablo Aluísio.

Raposa do Espaço

Raposa do Espaço
Robert Mitchum era um ator da velha guarda de Hollywood que de velha guarda não tinha nada. Sua biografia pouco comum fugia bem do padrão dos astros da época. O ator interpretava personagens diferenciados que geralmente tinham em comum o fato de serem anti-heróis, pessoas bem à margem do American Way of Life. Para quem nasceu em uma família sem muitos recursos e que via a profissão de ator como uma boa forma de ganhar muito dinheiro sem fazer muito esforço, nada mais natural que levar para as telas o outro lado da sociedade americana dos anos 50. Nesse tipo de papel o ator foi insuperável pois ninguém fazia isso melhor do que ele. Em sua extensa filmografia Mitchum não poupou o público de encontrar nas salas de cinema com alguns dos tipos mais incomuns da tela grande. Havia um perdedor bêbado em algum filme? Mitchum encarava o desafio. O papel era de um sádico psicopata que perseguia as pessoas que o havia colocado na prisão? Mitchum era o ator a se socorrer nessas horas... Mesmo quando tentavam enquadrar o ator em algum papel mais, digamos, tradicional, Mitchum mostrava que as coisas não sairiam assim tão fácil para produtores e diretores. Um exemplo é o filme Raposa do Espaço - uma película produzida com a ajuda das forças armadas americanas, portanto digno de toda a patriotada possível.

O enredo se passa durante a guerra da Coreia. Mitchum faz o papel de um Major que chega no Japão para liderar uma esquadrilha de caças durante esse conflito. Bem, se esse papel fosse dado a um John Wayne o filme seria bem diferente. Porém como Mitchum está lá podemos ter certeza que seu personagem não seria nada convencional ou politicamente correto e realmente não era. Embora interprete um oficial da força aérea americana no filme, Mitchum logo logo trata de dar em cima da esposa de um outro oficial e companheiro de armas. Mais Robert Mitchum do que isso, impossível... Como se não bastasse ainda contracenava com o ator Robert Wagner no comecinho da carreira. Para quem não está ligando o nome à pessoa, Wagner ganhou fama internacional muitos anos depois ao estrelar o famoso programa Casal 20. Também ganhou notoriedade por ter sido casado com Natalie Wood (alguns boatos chegaram inclusive a culpá-lo pela morte dela, afogada depois de uma noite de bebedeira). Contracenando com Mitchum nesse filme ainda temos Richard Egan, ator bem conhecido dos fãs de Elvis Presley pois estrelou ao lado do Rei do Rock seu primeiro filme, Love Me Tender. Para quem foi preso por fumar maconha no auge da fama, por vagabundagem na juventude, até que Mitchum engana direitinho como militar durante o filme. Com seu rosto cinicamente natural, ele nos lembra que até os anti-heróis eram mais interessantes antigamente...

Raposa do Espaço (The Hunters, Estados Unidos, 1958) Direção de Dick Powell / Roteiro de Wendell Mayes e James Salter / Elenco: Robert Mitchum, Robert Wagner, Richard Egan / Sinopse: O enredo se passa durante a guerra da Coréia. Mitchum faz o papel de um Major que chega no Japão para liderar uma esquadrilha de caças durante esse conflito.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de abril de 2024

O Rei Leproso

O Rei Leproso
A história tem alguns personagens que ficaram célebres, seja pela história de suas vidas, seja por algo terrível que os marcavam. É o caso do rei leproso, Balduíno IV. Muitos vão lembrar da imagem desse Rei no filme "Cruzada" onde ele usava uma máscara de metal para esconder as marcas e deformidades da hanseníase. Na antiguidade e na Idade Media essa era uma doença sem cura que levava seus doentes à morte. Pior do que isso, os doentes eram retirados do meio social, para não contaminar outras pessoas e levadas para lugares distantes. Essas regiões eram conhecidas como Vales dos Leprosos. Ninguém ousava ir nesses ambientes. Era o fim do mundo viver ali, abandonado e esperando pela morte que certamente viria. 

Por isso quando o filho do Rei de Jerusalém apareceu com Lepra nas mãos e em parte dos braços foi um verdadeiro terror para seus familiares. Aquele menino era o herdeiro do trono! Como a Monarquia iria continuar com um monarca leproso? Seu pai, o Rei, ficou sem saber o que fazer, mas a Rainha decidiu que iria manter a doença do filho Balduíno em segredo absoluto. Ele passou a viver isolado da corte e não era mais visto brincando com outras crianças da nobreza. 

A vida de Balduíno foi dramática. Seu pai morreu e ele subiu ao trono jovem demais no ano de 1174. Os cristãos estavam cercados em Jerusalém pelas tropas do muçulmano Saladino que sabia que havia no trono um jovem frágil e doente. Ainda assim Balduíno conseguiu por muitos anos deter os avanços de Saladino, evitando que ele viesse a conquistar a conhecida Cidade Santa. Os seguidores do profeta Maomé entretanto estavam certos da vitória, que viria mais cedo ou mais tarde, afinal os cristãos eram minoria naquelas terras. A imensa maioria do povo era muçulmano, em segundo lugar vinha os judeus que também não acreditavam na divindade de Jesus. Apenas os cristãos vindos da Europa, considerados invasores pelo próprio povo de Jerusalém, seguia os ensinamentos daquele que chamavam de Cristo. 

Ainda assim o Rei Leproso conseguiu liderar seus exércitos contra Saladino por quase uma década. Só que a doença avançou rapidamente em seu corpo. Com vinte e poucos anos Balduíno já estava cego de um dos olhos, fruto das deformidades da Lepra. Ele não usava uma máscara de metal como mostrado no filme Cruzada, mas sim um véu que cobria todo o seu rosto. Só que em determinado momento ficou impossível parar o avanço de sua doença. Ele morreu muito jovem, com 24 anos de idade em 1185 e o Reino de Jerusalém ficou à mercê dos muçulmanos. A conquista da cidade era questão de tempo e realmente aconteceu pouco tempo depois de sua morte. De certa forma essa foi uma das histórias mais trágicas envolvendo um monarca cristão na história medieval. 

Balduíno não havia deixado herdeiros por motivos óbvios e a coroa foi para sua irmã. Só que ela não tinha preparo para defender o Reino. E para piorar ela era casada com um homem que a nobreza de modo em geral odiava. Assim tudo terminou em ruínas. Os cristãos foram derrotados, expulsos das terras onde viveu Jesus em um passado remoto e nunca mais reconquistaram a tão cobiçada cidade de Jerusalém. A tomada da cidade, de certa maneira, marcou o fim das cruzadas que tantas mortes e destruição havia causado naquele povo sofrido. 

Pablo Aluísio. 

Louis IX

Louis, o Rei que se Tornou Santo
A capital do Maranhão, São Luís, tem esse nome por causa desse Rei francês que virou santo! Louis IX (Luís IX em nossa língua portuguesa) viveu entre os anos de 1214 a 1270. Era filho do Rei Louis VIII e seu reinado ficou conhecido por ser um período de extrema justiça no Reino francês. Considerado um homem justo e honrado, esse monarca franco, da linhagem que vinha desde Clóvis, fundador de sua dinastia, foi adorado por seu povo, por causa de seu senso de justiça e honestidade.

Também foi um período de extrema turbulência no Reino da França. Na época Luís precisou entrar em guerra contra o Rei inglês Henry III. Ele queria restaurar uma antiga monarquia franca, mas esbarrou nas pretensões territoriais dos ingleses. Internamente fortaleceu os órgãos de julgamento. Em seu tempo o Rei era considerado absolutista, ou seja, tinha todos os poderes em suas mãos. O Rei administrava o Reino (Poder Executivo), criava as leis (Poder Legislativo) e as aplicava nos casos que lhes eram submetidos (Poder Judiciário). Louis IX logo percebeu que ao ter para si o poder de vida ou morte sobre seus súditos tinha acima de tudo que prezar pela justiça nos casos que eram levados até ele. Historiadores afirmam que ele criou a "presunção de inocência", ou seja, todos eram considerados inocentes até que se fosse provado o contrário.

Também procurou se aproximar do povo. Ao invés de reinar como um Rei distante e isolado em seu castelo, Louis IX descia até os povoados, se misturava entre os camponeses e ouvia seus pedidos, suas preces e reivindicações. Essa proximidade com a classe dos plebeus lhe valeu grande prestígio pessoal. Outro aspecto que ficou muito conhecido de sua personalidade era sua profunda religiosidade. Devoto da fé católica, Louis IX procurou moralizar o Reino, combatendo as heresias, a prostituição e os jogos de azar, que levavam os pais de família à ruína. Também procurou se aproximar dos judeus que viviam na França, incentivando eles a se tornarem novos cristãos, aceitando a palavra de Jesus em seus corações.

Durante quatro anos de sua vida se dedicou a organizar a Sétima Cruzada. Foi algo que custou muito ao Rei. Ele ficou gravemente ferido quando estava no norte da África e quase morreu por causa dos rigores dos campos de guerra. Essa primeira cruzada não foi tão bem sucedida como ele esperava, por isso após uma sangrenta luta nas areias do deserto do Egito, ele retornou a Paris. Não demorou muito e uma nova cruzada, a oitava da história, foi organizada. Nessa presenciou a morte de um de seus filhos, João Tristão. Mesmo tendo tomado Cartago seu exército foi atingido por inúmeras doenças do norte africano, como peste negra, escorbuto e disenteria. O rei morreu em 25 de agosto de 1270, muito provavelmente vitimado pela terrível peste negra que iria dizimar grande parte da Europa nos anos seguintes. Muitos anos depois de sua morte foi eleito como o símbolo máximo da monarquia francesa, sendo canonizado pelo Papa Bonifácio III.

Pablo Aluísio. 

sábado, 20 de abril de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 5

"I've Lost You" é uma das boas músicas do disco "That´s The Way It Is". Essa famosa dupla britânica de compositores, Ken Howard e Alain Blaikley, foi uma das mais populares durante os anos 60 e 70, tendo escrito temas para grandes astros da época como The Honeycomb e Peter Frampton. Quando escreveram "I've Lost You" eles jamais pensariam que Elvis gravaria uma versão dessa canção muitos anos depois. Aliás a música chegou nas mãos de Elvis meio por acaso, quando um engenheiro de som a tocou de forma acidental durante as gravações em Nashville. Elvis se interessou e pediu que ele a tocasse novamente. O que aconteceu depois não é nenhuma novidade. A música virou título do primeiro single de Elvis composto com músicas desta trilha. A versão do disco foi gravada ao vivo e a que saiu em compacto é gravada em estúdio. A melhor sem dúvida é a do disco pois conta com a energia da plateia, o que dá um sabor especial à canção. A versão de estúdio foi gravada no dia 4 de Junho de 1970 em Nashville a a versão ao vivo foi gravada em Las Vegas no dia 11 de Agosto. 

Por essa época Elvis havia decidido deixar de lado as canções românticas mais voltadas para o público juvenil, afinal de contas ele próprio já não era mais um adolescente e nem um ídolo jovem. Ele estava amadurecido, assim como seus fãs. Os tempos eram outros. Quando gravou essa música Elvis já tinha seus próprios problemas em seu casamento. Foi justamente nessa segunda temporada de 1970 que surgiram os primeiros conflitos sérios com sua esposa Priscilla. Elvis havia se firmado em Las Vegas e essa cidade, como todos sabemos, é conhecida como a "cidade do pecado" nos Estados Unidos. Elvis proibiu Priscilla e as demais esposas de ficarem em Vegas durante as temporadas. Elas poderiam comparecer apenas nas noites de abertura e de encerramento. Fora isso, durante os concertos, deveriam ir embora. "Nada de esposas em Vegas" - decretou o cantor. Obviamente Priscilla soube depois que Elvis a estava traindo sistematicamente com várias mulheres enquanto realizava seus shows na cidade. O casamento começou a ruir justamente por isso e Elvis certamente foi percebendo que começava a perder sua esposa. O tema assim da letra se ajustava perfeitamente com o que ele estava passando em sua vida privada. Elvis só não sabia ainda que seu rompimento conjugal seria tão devastador e traumatizante como foi. O destino de seu casamento porém já estava traçado.

Algumas baladas cantadas por Elvis Presley em sua carreira foram bem injustiçadas. "Just Pretend" está nessa lista, talvez em primeiro lugar. São gravações belíssimas, mas igualmente ignoradas pelo grande público. Não fizeram o devido sucesso na época de seu lançamento e tampouco foram trabalhadas da forma que mereciam por Elvis. Um dos maiores exemplos vem de "Just Pretend". A canção nunca ganhou maior espaço dentro da carreira do cantor. Gravada durante a Nashville Marathon, em junho de 1970, em uma noite particularmente muito produtiva por parte de Elvis, a bela composição foi desaparecendo com os anos, sendo injustamente esquecida. Como bem sabemos Elvis era um artista extremamente produtivo. Basta apenas darmos uma olhada na grande quantidade de canções que ele gravou em sua longa carreira. Com tanto material novo invadindo o mercado de uma só vez não haveria como evitar que certas injustiças fossem cometidas. Uma delas foi, como escrevi, "Just Pretend". 

Essa música é uma das mais bonitas gravadas por Elvis. Com vocalização sóbria e pleno domínio durante as gravações, Elvis legou para a posteridade uma de suas melhores baladas românticas, daquelas que ainda merecem ser redescobertas. Usada timidamente tanto no filme como na trilha sonora, "Just Pretend" merece novas e atentas audições! Com melodia e letra acima da média, a canção que fala sobre reconciliação e reencontro, encontrou eco nos corações mais sensíveis. Ela guarda várias semelhanças de arranjo com outro momento precioso desse disco, "Bridge Over Troubled Water". Não poderia ser diferente pois ambas foram gravadas quase no mesmo dia e local, uma no dia 05 de junho de 1970 a outra um dia depois no mesmo estúdio, em Nashville. Nessa semana realmente Elvis estava extremamente inspirado para cantar belas e ternas canções de amor acompanhadas de belíssimos arranjos de teclados. O veredito final não poderia ser diferente pois essa é uma balada romântica sensível que foi injustamente subestimada na época, não tendo alcançado a devida repercussão que merecia. De qualquer forma nunca é tarde para se reparar uma injustiça.

Pablo Aluísio.

The Beatles - With The Beatles - Parte 5

Essa canção "All I've Got To Do" fez parte do disco "With The Beatles", o segundo álbum do grupo na Europa. Já nos Estados Unidos ela foi lançada como parte do LP "Meet The Beatles". Como se sabe no começo da carreira dos Beatles havia uma diferença entre a discografia inglesa e americana. Só tempos depois é que tudo foi unificado, sendo os discos lançados na Inglaterra considerados os oficiais. A canção conta com o vocal principal de John Lennon, com aquela voz bem característica que todos os fãs conhecem. O curioso é que Lennon explicaria anos depois que a música tinha sido uma influência do chamado "som da Motown", a gravadora americana especializada em música negra. 

John diria que ele estava tentando trazer um pouco da sonoridade de Smokey Robinson, do grupo The Miracles, para os discos dos Beatles. Penso que embora tenha sido esse o objetivo, essa canção romântica tem identidade própria, que resultou igualmente numa boa gravação por parte do quarteto. É simples, romântica e muito eficiente, funcionando muito bem dentro do repertório do disco. E demonstrava que os Beatles conheciam muito da música norte-americana. Liverpool e seu porto eram pioneiros na chegada dos discos vindos dos Estados Unidos, por isso os jovens da cidade conheciam muito bem todos esses grupos negros que para o resto da Inglaterra eram bem desconhecidos. 

De autoria do compositor Meredith Willson temos "Till There Was You". Ele era conhecido na época de sua auge de sucesso como o "The Music Man" pois era conhecido por escrever grandes sucessos musicais para a Broadway em Nova Iorque e para a indústria do cinema americano na costa oeste. Ele era talentoso e muito solicitado. Acabou se tornando um dos compositores mais ricos da indústria fonográfica americana. Quem trouxe essa bela balada para o disco dos Beatles? Certamente foi Paul McCartney que adorava seu estilo mais Old School. Lembrando que ela ganhou também um belo arranjo nos estúdios Abbey Road, com destaque para o inspirado violão solado por George Harrison e a percussão providenciada por Ringo Starr. Mais uma prova que os Beatles conheciam demais as músicas populares do outro lado do oceano, na terra do Tio Sam. 

De certa maneira "Till There Was You" tem um estilo que nos lembra os antigos boleros caribenhos, que naquela época, não podemos deixar de lembrar, estavam em alta nos Estados Unidos. Havia muitas boates de sucesso que apelavam justamente para esse lado mais hispânico, caliente, algo que se pode ver em qualquer registro cinematográfico daquele período. Basta lembrar de casas noturnas de sucesso por todos os Estados Unidos como a Tropicana. a Copacabana e a Tropical de Nova Iorque. Será que os Beatles estavam de olho nesse tipo de mercado? Afinal eles vinham de Hamburgo onde trocaram em muitos locais parecidos. É de se pensar nessa hipótese.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

O Sinal

Título no Brasil: O Sinal
Título Original: Das Signal
Ano de Lançamento: 2024
País: Alemanha
Estúdio: Netflix
Direção: Sebastian Hilger, Philipp Leinemann
Roteiro: Florian David Fitz, Nadine Gottmann
Elenco: Peri Baumeister, Florian David Fitz, Hadi Khanjanpour

Sinopse:
Uma astronauta, em missão na estação orbital internacional, intercepta sem querer um estranho sinal enviado do espaço profundo, no que parece ser uma tentativa de comunicação vinda de alguma civilização alienígena distante, das profundezas do cosmos. E agora ela tentará sobreviver, resguardando esse segredo mais do que precioso. 

Comentários: 
Começa bem, fica ruim lá pela metade e termina de forma bem inteligente. Eu poderia resumir assim essa minissérie de 4 episódios que está disponível para os assinantes da Netflix. Como era uma produção alemã eu já esperava por algo mais áspero, realista, pé no chão. Por isso nem me preocupei em ver um monte de ETs desfilando pela tela. Isso não iria acontecer e se você curte esse tipo de coisa já saiba de antemão que não vai rolar mesmo. Nenhuma criaturinha verde e cabeçuda vai aparecer. Já para quem aprecia uma coisa mais racional, baseada em ciência, vai acabar tendo um bom final para ver, inclusive com o uso narrativo da boa e velha Voyager. Não é surpresa total porque essa ideia já foi usada em um dos filmes de Jornada nas Estrelas no cinema. Então eu apenas achei OK. E isso é tudo o que posso dizer sem estragar o final. De qualquer forma quase desisti nos episódios do meio, pois a coisa toda fica bem chata mesmo. Só melhora no final de tudo. Pena que depois fica aquele sentimento de solidão cósmica, de que estamos mesmo sozinhos no universo. É a maior solidão que a raça humana poderá sentir em toda a sua existência falha. 

Pablo Aluísio.

The Rookie - Primeira Temporada

Título no Brasil: The Rookie - Primeira Temporada
Título Original: The Rookie
Ano de Lançamento: 2018
País: Estados Unidos
Estúdio: ABC
Direção: Liz Friedlander, Adam Davidson
Roteiro: Alexi Hawley, Fredrick Kotto
Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones

Sinopse:
John Nolan (Nathan Fillion) é um sujeito normal, vivendo em Los Angeles, que decide mudar radicalmente de vida, entrando para a academia de polícia da cidade, mesmo já tendo passado da idade certa para isso. Nessa primeira temporada acompanhamos seus primeiros dias como patrulheiro nas ruas de L.A.

Comentários:
Depois de um tempão terminei de assistir os 20 episódios dessa primeira temporada da série. É feijão com arroz, bem quadradinha mesmo. Série policial das mais convencionais, o que no Brasil é chamado de "enlatado americano". Tudo gira em torno desse policial novato. Outras séries já foram feitas em cima desse tema, como a bem melhor "Rookie Blue", só que aqui o diferencial é que o tal novato tem 45 anos de idade! E fica por aí mesmo. Os demais personagens são meras peças no desenrolar das histórias. Nenhum deles é minimamente desenvolvido. Os episódios são bem independentes entre si, por isso não é necessário seguir episódio por episódio para acompanhar. Como eu disse, é tudo bem convencional e quadradinho. O canal ABC é especialista mesmo nessas séries genéricas. De qualquer forma ainda vale a pena como passatempo descompromissado e ligeiro, para assistir enquanto se come um lanche ao estilo fast-food. Aliás essa série é puro fast-food e nada mais. Não tem grandes pretensões artísticas e nem foi produzida visando nada nesse sentido. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Não Tenho Troco

Título no Brasil: Não Tenho Troco
Título Original: Quick Change
Ano de Lançamento: 1990
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Howard Franklin, Bill Murray
Roteiro: Jay Cronley, Howard Franklin
Elenco: Bill Murray, Geena Davis, Randy Quaid, Jason Roberts

Sinopse:
Três vigaristas, ladrões de bancos, conseguem pegar o dinheiro roubado de uma agência da cidade, mas se enrolam completamente para conseguir fugir da cidade, que parece não ter fim e nem saída para sua tão almejada fuga! E para piorar ainda mais a situação, os policiais estão seguindo as pistas para colocar todos eles atrás das grades! 

Comentários:
Com o sucesso de "Os Caça-Fantasmas" o ator e comediante Bill Murray ganhou cacife suficiente para estrelar seus próprios filmes. Esse foi um deles, lançado bem na onda do grande sucesso comercial do filme anterior. É até uma boa comédia, com bons momentos e chegou a ser um sucesso comercial nas locadoras de vídeo, embora no cinema não tenha ido bem de bilheteria. Um fato curioso aconteceu nas filmagens, quando Murray se recusou a se vestir de palhaço. O estúdio teve que ameaçar um processo milionário contra ele para finalmente vestir o figurino e usar a maquiagem de circo para fazer as cenas. Virou um tipo de piada e depois os próprios produtores resolveram sacanear ele ainda mais, usando sua imagem de palhaço no poster do filme! Nunca mais ele iria reclamar desse tipo de coisa, até porque nunca fez muito sentido. Todos os comediantes e atores que vivem do humor são herdeiros da tradição circense, onde o palhaço sempre foi um dos maiores ícones. Então o Bill Murray tinha mesmo que baixar a bola e parar de fazer palhaçada no set... no bom sentido, claro! 

Pablo Aluísio.

Um Morto Muito Louco

Título no Brasil: Um Morto Muito Louco
Título Original: Weekend at Bernie's
Ano de Lançamento: 1989
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Ted Kotcheff
Roteiro: Robert Klane
Elenco: Andrew McCarthy, Jonathan Silverman, Terry Kiser

Sinopse:
Dois jovens sem noção nenhuma da vida decidem levar o corpo de seu patrão, morto algumas horas antes, em uma bizarra aventura nas praias da Flórida. Eles querem curtir o fim de semana, mesmo que para isso precisem levar o presunto junto! E eles não estão sós, pois passam a ser perseguidos por homens realmente perigosos! 

Comentários:
Esse tem sido o filme mais falado no Brasil nesses últimos dias. E a razão não deixa de ser bizarra pois uma vigarista levou um homem morto até uma agência bancária no Rio para tirar um empréstimo no nome dele! Inacreditável, a sordidez humana realmente não tem limites! Deixando isso de lado e voltando ao filme, bom, o que temos aqui é uma comédia bem sem noção dos anos 1980 (só poderia ter sido produzida naquela década mesmo, vamos convir!). Pois bem, eu nunca achei uma comédia muito engraçada, até porque se trata de um daqueles roteiros que se apoiam em apenas uma piada que se repete o filme inteiro. Isso é bem cansativo. De qualquer forma o humor negro se destaca, pois a situação é bem bizarra realmente. E quem poderia imaginar que um dia isso iria acontecer mesmo no mundo real? Na época eu me lembro de ter ficado admirado e surpreso do ator Andrew McCarthy ter feito esse filme, logo ele, o mais mauricinho de sua geração! Sua carreira estava parando, então ele tinha mesmo que aceitar qualquer coisa. E para surpresa de muitos essa estranha e esquisita comédia acabou virando um "clássico" da Sessão da Tarde em nosso país! Tem coisas que só acontecem no Brasil...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Anna Karenina

Título no Brasil: Anna Karenina
Título Original: Anna Karenina
Ano de Lançamento: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Bernard Rose
Roteiro: Bernard Rose
Elenco: Sophie Marceau, Alfred Molina, Sean Bean, James Fox, Mia Kirshner, Danny Huston

Sinopse:
Na aristocrática e luxuosa sociedade russa dos tempos dos czares, a jovem Anna Karenina (Sophie Marceau) se casa com um homem mais velho e rico e acaba se apaixonando mesmo por um conde de sua idade, o que a coloca em rota de colisão entre seus sentimentos e o comportamento moral que se espera de uma mulher de sua posição. 

Comentários:
Mais uma versão para o cinema para o eterno livro escrito por Liev Tolstói. Esse é, ao meu ver, um estudo literário sobre traição e as pequenas e grandes hipocrisias que existem na chamada classe alta, a elite da aristocracia, que tem dinheiro, status e poder, mas não tem princípios morais fortificados ou algo parecido com isso. Nessa versão eu destacaria a presença e o trabalho da bela atriz francesa Sophie Marceau. Sempre achei ela realmente ótima, além de ser linda, com aqueles olhos de oceano. E ela contou com um elenco de bons atores dando suporte para sua interpretação inspirada. A produção é novamente classe A. Não há como filmar essa história sem ter uma ótima produção por trás. Aliás recriar a sociedade russa de séculos no passado sempre exigiu muito em termos de produção, figurinos, cenários e direção de arte. Então sempre teremos filmes de fina elegância para assistir. Isso, por si só, já faz valer a pena qualquer versão desse romance para cinéfilos de bom gosto. 

Pablo Aluísio.

Mórbido Amor

Título no Brasil: Mórbido Amor
Título Original: Dead Girl
Ano de Lançamento: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: Cinetel Films
Direção: Adam Coleman Howard
Roteiro: Adam Coleman Howard
Elenco: Anne Parillaud, Adam Coleman Howard, Val Kilmer, Famke Janssen, Amanda Plummer, Emily Lloyd
 
Sinopse:
Um ator fracassado decide declara seu amor para uma jovem e bela garota, mas essa o rejeita sem pensar duas vezes. O tempo passa e ele descobre que seu amor platônico faleceu. Tomado por sua estranha obsessão, ele decide roubar o corpo de sua jovem amada e começa a sofrer alucinações, como se ela ainda estivesse viva!

Comentários:
Pela sinopse já dá para perceber que é um filme muito estranho. Tão estranho que sequer conseguiu espaço nos cinemas americanos na época. Só foi lançado em vídeo (tal como aconteceu no Brasil também). É um filme de complicada definição. Horrorizados, alguns poderiam catalogar esse filme no gênero terror, mas não é bem isso. Penso que é mais um drama emocional psicótico, pois o protagonista tem claros problemas de saúde mental. Aliás esse tipo de situação macabra, acredite, não é tão incomum como se pode pensar em um primeiro momento. Há casos registrados, inclusive em nosso país. Enfim, um filme complicado, complexo e bizarro. Tem quem aprecie esse tipo de produção. Não foi bem o meu caso quando o assisti ainda nos anos 90. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Bravura Indômita

O tempo passa, o tempo voa. Já faz 10 anos que esse excelente western chegou aos cinemas. Muitos disseram em seu lançamento que não passava de um remake do clássico filme com John Wayne. O papel de Rooster Cogburn deu ao veterano ator seu único Oscar. Hoje em dia, revisando o filme, já penso um pouco diferente dessa visão simplista. Sim, temos basicamente a mesma história do filme de John Wayne, afinal ambos os filmes beberam da mesma fonte, a novela de western escrita por Charles Portis. Porém resumir tudo numa frase, dizendo que o filme foi apenas um remake, soa simplista demais. O filme é mais do que isso, até porque temos aqui uma dupla de diretores que não costumam assinar filmes banais.

O grande diferencial veio mesmo dos irmãos Coen. Tudo bem, eu até concordo que no caso desse filme eles foram menos, digamos, autorais. Entretanto a marca do cinema desses irmãos, talentosos cineastas, está em cada cena. O filme de John Wayne tinha um viés mais cômico. Os irmãos Coen enxugaram bastante nesse aspecto, optando por um realismo mais presente. Ponto positivo para eles. Além disso temos que elogiar o trabalho do ator Jeff Bridges. Ele poderia apenas fazer uma paródia da atuação de John Wayne, mas optou por não ir por esse caminho errado. O personagem em sua interpretação tem estilo próprio, personalidade própria. O saldo final é mais do que positivo. Esse é um belo filme de western dos tempos modernos. Peça de colecionador.

Bravura Indômita (True Grit, Estados Unidos, 2010) Direção: Ethan Coen, Joel Coen / Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen / Elenco: Jeff Bridges, Matt Damon, Hailee Steinfeld / Sinopse: Uma jovem adolescente contrata os serviços de um veterano homem do velho oeste para localizar os assassinos de seu pai. Filme indicado ao Oscar em 10 categorias.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Maciste: O Gladiador de Esparta

Maciste é um dos heróis mais populares do cinema italiano. Desde a era do cinema mudo ele é comercializado pelos produtores daquele país. Curiosamente são tantos filmes com Maciste que ele deixou até mesmo de ser apenas um herói da era romana para virar estrela de faroestes (onde chegou a enfrentar Zorro) e até caçador de vampiros (onde encontrou Drácula pessoalmente e lhe deu uma tremenda surra!). Também foi usado pelo fascismo, virando soldado em filmes propaganda da II Guerra, onde ele literalmente saia na porrada contra as tropas americanas. Enfim, Maciste e cinema popular italiano são praticamente a mesma coisa. Aqui nessa produção ele volta às origens e vira um gladiador espartano em Roma. Gozando da amizade do Imperador (que não é identificado mas tem pinta de ser o nosso conhecido Nero), Maciste vive de festas e orgias no palácio imperial. Isso muda quando ele se enamora de uma jovem cristã. Em pouco tempo se torna adepto da nova religião e começa a ser perseguido pelas tropas do imperador.

Nem é preciso dizer que historicamente o filme é uma piada. Maciste é um gladiador e escravo mas transita na corte do imperador numa boa. Bate papo com ele e até conta umas piadas. Isso obviamente seria impossível na Roma histórica. Como se trata de um filme popularesco, feito para o povão italiano, há muitas cenas de brigas e lutas. Algumas são absurdas como a que Maciste trava contra um gorila africano (na realidade um cara numa fantasia de macaco nada convincente). Maciste não só lhe dá uma surra como ainda tira onda. Ele também enfrente uma legião inteira de romanos e os coloca para correr. O ator que faz Maciste é o americano (filho de italianos) Mark Forest. Ele é inexpressivo como ator mas bastante forte para o papel (até porque no fundo a Plebe italiana não ia ao cinema ver ele declamar Shakespeare). O roteiro de Maciste é uma piada mas curiosamente sua produção é muito boa. Ótimos figurinos, cenários bem feitos e imagem de qualidade. Nesse aspecto eu me surpreendi! Mas enfim... vale pela curiosidade de conhecer um dos mais queridos personagens populares da italianada. Agora traga a macarronada amore...

Maciste - O Gladiador de Esparta (Maciste, gladiatore di Sparta, Itália, 1964) / Direção de Mario Caiano / Roteiro de Mario Amendola, Mario Amendola / Com Mark Forest, Marilù Tolo e Elisabetta Fanti / Sinopse: O gladiador espartano Maciste goza da amizade e confiança de César. Seu destino porém mudará drasticamente após conhecer os integrantes de uma nova seita religiosa chamada cristãos.

Pablo Aluísio.

Crônicas do Futebol - Bayern Leverkusen

Crônicas do Futebol - Bayern Leverkusen
Depois de onze campeonatos alemães consecutivos vencidos pelo Bayern de Munique tivemos ontem enfim uma novidade. O Bayern Leverkusen quebrou essa hegemonia, se tornando o campeão da liga alemã de futebol (a Bundesliga). O time esse ano jogou com um uniforme que lembrava os cavaleiros templários com uma grande cruz vermelha no peito! Para eles, realmente, levantar essa taça foi mesmo uma verdadeira cruzada! Estão de parabéns pela conquista! 

Eu sempre gostei do campeonato alemão, mas tinha que dar o braço a torcer para os críticos. Parecia que havia apenas um único campeão, ano após ano, e esse era o Bayern de Munique. Esse tipo de situação destrói qualquer competividade esportiva. Assim ver um time diferente quebrando essa soberania é mais do que bem-vindo para o futebol da Alemanha. Essa situação acontece em razão da interferência estatal dentro do campeonato. Na Alemanha o time que se torna campeão recebe uma bolada milionária do governo, então é natural que vencendo a Bundesliga, o Bayern de Munique fosse ficando cada vez mais rico e poderoso com o passar dos anos. Multiplique isso por onze e você entenderá porque só esse time levantou a taça na última década. É um ciclo vicioso e penso que a Federação Alemã de Futebol deveria repensar esse tipo de estrutura viciada que no final da linha destrói um dos pilares do futebol, que é justamente a competividade. 

E no Brasil nesse final de semana também tivemos o início do campeonato brasileiro. E aí já sabemos o que esperar. Eu confesso que nunca gostei de um campeonato que dura quase o ano inteiro e nem de um campeonato de pontos corridos. Eu gostava muito dos jogos decisivos, do mata-mata. Eu sei que pontos corridos é mais justo, mas futebol não é para se levar tão á sério assim. Futebol é acima de tudo diversão e nesse caso se deve priorizar a emoção. Aquele esquema de quartas de final, semifinal e final é imbatível nesse quesito. Campeonato de pontos corridos realmente não tem muita graça e é bem chatinho.

De qualquer forma, foi uma rodada sem maiores surpresas no fim de semana. O Corinthians arrancou um suado zero a zero com o Atlético-MG. Eu sou corintiano, mas reconheço que esse time não vai para lugar nenhum. Vai lutar para não cair. O Vasco por sua vez fez uma bela homenagem ao Roberto Dinamite que iria completar 70 anos de idade se ainda fosse vivo. Bacana. E o Palmeiras, venceu mais uma. É o franco favorito ao título. Tem organização, dinheiro e estrutura, três coisas que a maioria dos times brasileiros não possui. Será que o time verde e branco de São Paulo vai virar o nosso Bayern de Munique? Espero sinceramente que não...

Pablo Aluísio.