quarta-feira, 17 de junho de 2009

Elvis Presley - Coleção de Textos II

Elvis Presley - Concertos em 1956
Em 1956 Elvis trabalhou muito. As pessoas geralmente pensam que a fama vem de forma gratuita e espontânea. Nada mais longe da realidade. No ano em que estourou nacionalmente Elvis realizou longas turnês cruzando os EUA praticamente de ponta a ponta, tocando em lugares diversos, um show por noite, geralmente com pouco tempo de descanso entre as apresentações. Viajando de carro na maioria das vezes – pois odiava viajar de avião – Elvis cruzou grandes distâncias para se apresentar nos mais distantes lugares. Sua agenda ficou lotada e Elvis de forma profissional começou a cumprir seus compromissos. Em janeiro cumpriu uma agenda puxada pelo Texas, Missouri e Louisiana. Em fevereiro a mesma coisa, 21 concertos em 30 dias, um recorde absoluto!

Nos meses seguintes as maratonas continuaram sem descanso. Algumas coisas chamam a atenção nesses dias na estrada. A primeira é que o Coronel Parker cometeu alguns erros que até hoje despertam a curiosidade dos especialistas. Ao invés de levar Elvis logo para os grandes centros urbanos como Nova Iorque ou Los Angeles para uma série de concertos em grande escala, o que seria natural para um artista que estava naquele momento se tornando um ídolo nacional, Parker agendou para Elvis uma interminável série de apresentações por cidades do interior. Esse modus operandi iria se repetir de certa forma até mesmo na década de 70. Isso foi bom ou ruim para Elvis? Em termos financeiros seria bem melhor fazer poucos shows com um público enorme em grandes centros pois a repercussão seria bem maior. Porém em termos de aproximação do ídolo com seu público, mesmo aquele morando em lugares distantes, a estratégia acabou sendo positiva pois por onde Elvis passava nesses lugares jamais era esquecido depois. Assim no auge de seu sucesso ao invés de Elvis estar em Nova Iorque se apresentando para uma grande massa ele estava em Randolph, Missouri, tocando em um colégio de high school.

Por falar em Nova Iorque Elvis esteve na cidade várias vezes durante o ano de 1956 mas foi para lá para se apresentar nos programas de TV ou gravar músicas para a RCA em seu estúdio local. Por que não se apresentou ao vivo por lá também? Só mais tarde, depois de muito assédio por parte de empresários é que o Coronel Parker agendou shows em cidades melhores. Em abril Elvis finalmente saiu de sua zona de conforto, formado pelos Estados do Sul onde se encontrava seu público mais fiel, para ir finalmente para a costa oeste onde havia maiores centros urbanos e um público mais sofisticado. Fez uma apresentação em San Diego. E foi somente em junho que ele finalmente se apresentou ao vivo em Los Angeles para cantar pela primeira vez ao público da cidade no Shrine Auditorium. Na ocasião se apresentou para várias estrelas de Hollywood que foram conferir se ele era mesmo tudo o que diziam no palco. Esse show também foi uma forma encontrada pelo Coronel Parker para entrosar o cantor com a comunidade artística local. Esses concertos porém foram exceções à regra e logo Elvis estava de volta ao sul para continuar com seus shows em lugares como Savannah, Augusta e Richmond. De todas essas apresentações a que mais lhe marcou ocorreu em 4 de julho, dia da independência dos EUA, quando se apresentou em sua querida Memphis, no Russwood Baseball Park. Muitos familiares e amigos queridos vieram assistir ao show e confraternizaram com ele depois nos camarins. Elvis estava felicíssimo em cantar na cidade para um grande público. Além disso a data era uma de suas preferidas, pois sempre a celebrava com muitos fogos e animação com as pessoas mais próximas a ele.

O ano de compromissos foi terminando. Elvis realizou uma turnê muito bem sucedida pela Florida em agosto, culminando com uma importante apresentação numa das mais musicais cidades americanas, New Orleans, na Louisiana. Era um teste de fogo pois praticamente todos em New Orleans são envolvidos de uma forma ou outra com o cenário musical e lá Elvis tinha realmente que fazer uma boa apresentação, mostrar serviço. Seu show agradou, inclusive á população negra local, de uma musicalidade ímpar. O ano de correria terminou oficialmente para Elvis no dia 15 de dezembro quando finalmente se despediu do Louisiana Hayride, em Shreveport.

O saldo final do ano foi muito positivo. Elvis trabalhou demais, viajou como nunca em sua vida, conheceu outros públicos, outros ares e conseguiu consolidar sua fama e sucesso em nível nacional. Tanto esforço e trabalho resultaram em um retorno financeiro excepcional. Em dezembro o Wall Street Journal informou que Elvis tinha se tornado um dos artistas mais bem pagos dos EUA naquele ano com renda bruta total de US$ 22 milhões de dólares. Nada mal para alguém que só tinha 21 anos de idade. Em pouco mais de um ano Elvis Presley havia se tornado o mais novo milionário do país. Nada mais justo para quem ganhou sua fortuna com muito esforço e trabalho duro. O futuro prometia ser de muitas glórias e êxitos porém Elvis em pouco tempo logo teria alguns dissabores. Mas essa é uma outra história...

Elvis Presley - Las Vegas, 1956
Tudo na vida tem seu tempo certo. Se ainda não deu certo é porque ainda não é a hora. Um exemplo claro disso aconteceu com Elvis Presley em Las Vegas no ano de 1956. Hoje o nome Elvis é instantaneamente associado a Vegas por causa de suas temporadas de enorme sucesso na cidade durante a década de 70. O que poucos sabem (ou se lembram) é que Elvis foi para Vegas bem no começo de sua carreira em 1956 e as coisas não saíram tão bem como ele planejava.

Na verdade a temporada de Elvis em Las Vegas, a única que fez na década de 50, foi uma ideia infeliz de Tom Parker que com uma incrível falta de visão jogou o artista errado no lugar errado na época errada. Por que Elvis não deu certo em Las Vegas naquela ocasião? Muito simples de entender.

Nos anos 50 Elvis era um cantor jovem, cantando uma música essencialmente vibrante (chamada Rock ´n`Roll) feita e produzida para a juventude em geral. E o que era Las Vegas em 1956? Basicamente uma cidade-show feita para um público bem mais velho, aposentado, que ia para a cidade gastar suas economias de uma vida nas roletas de Nevada, Estado onde o jogo era legal e liberado. Havia nitidamente uma divergência entre o público que ia aos showrooms dos cassinos de Vegas e o cantor Elvis. A chamada cidade do pecado era o lar de cantores e artistas muito diferentes de Presley. Ele certamente não deveria estar lá, naquele momento.

Elvis na ocasião se apresentou com a orquestra de Freddy Martin e isso definitivamente nada tinha a ver com sua música. O marketing foi equivocado e bobo, vendendo Elvis como um “cantor atômico”! Na primeira noite Elvis subiu ao palco e logo percebeu que tudo seria diferente. O público, formado por casais em bodas de prata, aplaudiu timidamente o cantor e sua banda. Não havia gritos e nem animação na plateia, apenas uma ou outra tosse de algum fumante inveterado. O clima era tão ruim que Elvis não conseguiu se soltar, ficar à vontade. Aparentando nervosismo cometeu alguns erros, tentou contar algumas piadas mas a recepção gelada o deixou desnorteado. No outro dia a crítica sobre a apresentação de Elvis foi ruim. Um crítico escreveu: “Para os adolescentes que gritam em seus shows Elvis Presley pode ser considerado um gênio mas para o público ontem que o assistiu no Hotel Frontier ele foi apenas um furo. O conteúdo lírico de suas músicas é sem sentido e seu grupo musical com apenas 3 componentes é tosco”. A reação foi tão ruim que até o Coronel Parker entendeu que havia cometido um erro ao jogar Elvis na arena daquele público, formado pelo mesmo setor conservador e reacionário que odiava a ginga e o idioma musical do artista.

Elvis havia assinado por um determinado período com o hotel New Frontier mas queria mesmo era dar o fora de Las Vegas o quando antes. O baterista do grupo de Elvis, D.J. Fontana, deu seu veredito: “Não acho que aquele público estava preparado para Elvis. Ele fazia muito sucesso com uma plateia mais jovem mas não com aquele tipo de gente. Nós tentamos trabalhar com a orquestra de Freddy Martin mas não tinha muito a ver com nosso som. Mesmo assim fomos profissionais e tentamos fazer o melhor que podíamos para agradar”. Para tudo não se transformar em um fiasco completo o Coronel Parker resolveu lotar o hotel com um grupo de fãs adolescentes de Elvis para agitar um pouco as coisas. No sábado em que isso aconteceu Elvis finalmente realizou um bom concerto. Mas isso aconteceu apenas naquela ocasião e logo Elvis estava de novo se apresentando para o público “quadrado” de Vegas.

Liberace, um cantor extravagante que se apresentava no hotel Riviera veio dar uma força a Elvis mas ao lado do cantor só conseguiu fazer palhaçadas e macaquices. A temporada havia sido um fiasco e todos se conformaram com isso. Elvis realizou os últimos shows e finalmente se viu livre da verdadeira “arapuca” que havia se transformado Las Vegas para ele. Ironicamente a cidade o receberia de braços abertos em 1969 quando ele voltou para brilhar lá como nunca em sua carreira. Isso porém só aconteceria anos depois. Sobre sua estadia na cidade na década de 50 Elvis foi realista e brincou: “Coloquei o maior ovo da minha carreira em Las Vegas”.

Elvis Presley - Elvis na TV
Muita gente se pergunta como foi possível a Elvis se tornar tão popular em tão pouco tempo. Foram vários os fatores para que em poucos meses o cantor se tornasse tão conhecido mundo afora. Dentro dos EUA Elvis contou com a excelente estrutura de divulgação da RCA Victor. RCA é uma sigla que significa em português Corporação de Rádios da América. Fácil entender então que se tratava de uma rede nacional de rádios interligadas pelo país afora que obviamente promoveria o novo cantor. Assim da noite para o dia Elvis começou a ser ouvido de costa a costa da América, uma vez que a RCA tinha o controle de centenas de rádios espalhadas pelo país.

Outro fator de grande divulgação da música de Elvis foi uma nova invenção que invadia os lares americanos: a Televisão. Embora alguns anos depois o Coronel Parker tenha esnobado a TV e seus programas de auditório, o fato é que nos primeiros anos de Elvis na RCA a TV teve uma função vital para tornar o jovem cantor tão popular quanto se tornou. Logicamente se Elvis não fosse tão talentoso de nada adiantaria todo esse esquema promocional. A questão é que com tantos instrumentos para divulgação aliado ao talento nato do artista não haveria como dar errado. Em pouco mais de um mês Elvis já estava na boca do povo, comentado, debatido e o mais importante conhecido. Afinal ele não apenas se tornava popular por sua música mas também por sua dança e seu estilo de se apresentar, considerado imoral ou selvagem nos moralistas anos 50. Elvis Presley era diferente de tudo, muito além do que se esperava ver na TV daqueles tempos. Um furacão de novidade, excentricidade e explosão sensual.

Nos primeiros meses de 1956 Elvis se apresentou várias vezes na TV americana. Veja a relação de suas aparições na telinha nessa época (com datas e músicas):

JACKIE GLEASON'S STAGE SHOW
Apresentado por Tommy Dorsey e Jimmy Dorsey, CBS TV
a) 28/01/56 - "Heartbreak Hotel" e "Blue Suede Shoes"
b) 04/02/56 - "Tutti Frutti" e "I Was the One"
c) 11/02/56 - "Shake Rattle and Roll", "Flip, Flop and Fly" e "I Got a Woman"
d) 18/02/56 - "Baby, Let's Playhouse" e "Tutti Frutti"
e) 17/03/56 - "Blue Suede Shoes" e "Heartbreak Hotel"
f) 24/03/56 - "Money Honey" e "Heatbreak Hotel"

THE MILTON BERLE SHOW
Apresentado por Milton Berle, NBC TV, Hollywood
a) 3/04/56 - "Heartbreak Hotel", "Money Honey" e "Blue Suede Shoes"
b) 5/06/56 - "Hound Dog" e "I Want you, I need You, I love you"

THE STEVE ALLEN SHOW
Apresentado por Steve Allen, NBC TV, Hollywood
a)1/07/56 - "I Want you, I need you, I love you" e "hound Dog"

TOAST OF TOWN
Apresentado por Ed Sullivan, CBS STUDIOS TV, Hollywood
a) 9/09/56 - "Don't be Cruel", "Love me Tender", "Ready Teddy" e "Hound Dog"
b) 28/10/56 - "Don't be Cruel", "Love me Tender", "Love Me" e "Hound Dog"
c) 06/01/57 - "Don't be Cruel", "Love me Tender", "Heartbreak Hotel", "Hound Dog", "Peace in the valley" e "When my Blue Moon turns to gold again"

Elvis Presley - Primeiros meses em 1956
8 de janeiro - Elvis celebra seu aniversário de 21 anos de idade ao lado de sua mãe Gladys. Ele havia acabado de assinar com a gravadora RCA Victor que tinha grandes planos para o jovem artista. Com o dinheiro do novo contrato Elvis planejava comprar uma nova casa para a família.

10 e 11 de janeiro - Elvis viaja até Nashville para suas primeiras gravações na nova gravadora. Seu produtor passa a ser Steve Sholes. Nessa primeira sessão na RCA Elvis grava as seguintes músicas: I Got a Woman, Heartbreak Hotel, Money Honey, I'm Counting on You e I Was The One.

20 de janeiro - A RCA Victor não perde tempo e lança o primeiro single (compacto simples) de Elvis Presley no mercado. É o primeiro disco do cantor com o selo da nova gravadora. O single vem com as canções Heartbreak Hotel e I Was The One (no lado B) e se torna um grande sucesso de vendas, chegando ao primeiro lugar nas paradas, em especial da Billboard, a mais importante dos Estados Unidos. É o primeiro sucesso nacional de Elvis que assina a composição, embora não a tenha composto de fato. Uma letra estranha, um desabafo de um homem solitário, inspirada em um bilhete de um suicida. Apesar do tema sombrio acabou virando um grande hit. Como parte da promoção da nova canção a RCA escala Elvis para aparecer em programas de TV.

30 e 31 de janeiro - A RCA Victor tem planos de colocar no mercado um álbum (LP) de Elvis Presley, mas não tem músicas suficientes para tanto. Assim Elvis viaja até Nova Iorque para a gravações de novas faixas. Nessa sessão em NYC ele grava as seguintes músicas: Blue Suede Shoes, My Baby Left Me, One-Sided Love Affair, So Glad You're Mine, I'm Gonna Sit Right Down and Cry e Tutti Frutti. Nessa mesma ocasião Elvis participa de programas de TV de grande sucesso de audiência, o que eleva e muito sua popularidade por todo o país.

3 de fevereiro - A RCA quer mais músicas gravadas por Elvis em estúdio. Assim ele participa de mais uma sessão em Nova Iorque onde grava apenas duas músicas: Lawdy Miss Clawdy e Shake Rattle and Roll. Essas duas músicas, ótimas por sinal, deveriam fazer parte do primeiro álbum de Elvis pela RCA que seria lançado no mês seguinte, mas curiosamente foram arquivadas pela gravadora, só chegando no mercado anos depois no disco "For LP Fans Only".

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 16 de junho de 2009

Elvis Presley - Coleção de Textos III

Elvis Presley - Elvis: O Preço da Fama
Elvis Presley sempre teve problemas em relação a dormir bem. Desde a adolescência ele sentia dificuldades em relaxar e ter uma boa noite de sono. Como a família Presley era muito pobre Elvis se virava para dormir na sala da casa, seja no sofá, seja em colchões pelo chão. Não é complicado entender que nessas circunstâncias era realmente difícil descansar. Em vista disso Elvis adquiriu o hábito nada saudável de dormir muito tarde e acordar muito cedo. Quando sua carreira de cantor tomou um bom rumo a coisa toda tendeu a piorar. Na estrada Elvis pouco dormia entre as apresentações. Bill Black, o baixista de seu grupo, o definia como uma “coruja”, uma pessoa que nunca dormia e que preferia passar a noite no carro ouvindo rádio até o dia amanhecer.

Para segurar o pique Elvis acabou conhecendo alguns remédios que lhe ajudavam a sempre estar bem disposto mesmo quando dormia mal (ou não dormia em absoluto). Quem iniciou Elvis nessas pílulas? Não se sabe ao certo. Para alguns os primeiros comprimidos foram receitados por um médico para Elvis em sua adolescência, já para outros Elvis acabou tomando conhecimento de uma grande variedade de soníferos e estimulantes na estrada mesmo, com os músicos que participavam dos mesmos shows em que ele cantava. As chamadas “bolinhas” eram bem populares entre os músicos que as usavam para aguentar a dura rotina de viagens e shows. O fato é que Elvis logo começou a se sentir muito familiarizado com essas drogas e em pouco tempo estava em busca de mais informações, lendo revistas e livros técnicos sobre farmacologia. Tão interessado ficou no assunto que alguns anos depois deu uma pista ao responder a uma pergunta numa entrevista sobre qual seria seu hobby preferido. “Eu gosto de ler livros médicos” – respondeu na lata o cantor.

Por volta de 1956 Elvis começou a sentir novamente seus velhos problemas de saúde em decorrência da correria a que estava sendo submetido. Sempre viajando, cumprindo compromissos, em Los Angeles, Nova Iorque, Nashville, tudo ao mesmo tempo agora Elvis foi sentindo a pressão aumentar a cada dia. Não havia semana livre – quando não estava em estúdio gravando discos, estava na estrada fazendo shows, quando não estava em um canal de TV estava em um set de filmagens. As pessoas esqueciam que Elvis era apenas um jovem de 21 anos de idade que agora assumia responsabilidades enormes, fora a pressão de sempre fazer sucesso nas paradas, de sempre alcançar o topo dos mais vendidos. Diante de tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo Elvis começou a ter sérios problemas para conseguir dormir. Ele sempre sofreu de insônia mas agora com a pressão de sua vida profissional as coisas foram piorando cada vez mais. Elvis não conseguia relaxar quando ia para a cama – seu pensamento ficava a mil, ele pensava nas obrigações do dia seguinte, no que teria que enfrentar, no lançamento de seus novos discos. Alarmada pelo estado de Elvis sua mãe Gladys mandou um de seus primos para acompanhar Presley nas viagens. Gladys temia que seu filho tivesse um ataque de sonambulismo durante as excursões e caísse pela janela de algum quarto de hotel nas cidades pelas quais passava.

Assim não era raro ele passar dias sem dormir, mesmo com as pílulas que tomava. Para aguentar a rotina puxada do dia Elvis começou a tomar estimulantes pela manhã. Claro que ele ainda estava muitos anos distantes da forte dependência que iria desenvolver nos anos seguintes mas isso já era um claro sinal de que algo definitivamente não ia bem. Uma bolinha à noite para tentar dormir bem e outra pela manhã para aguardar a rotina de gravações e shows. O pior acontecia nas noites de concertos. Elvis ficava com a adrenalina a mil e após as apresentações não conseguia relaxar de jeito nenhum. Elétrico era uma boa definição para seu estado após descer do palco. Ficava a noite inteira ligado e na manhã do dia seguinte seguia viagem para outra cidade para fazer um novo show. Isso tudo sem dormir, sem descansar. Uma rotina realmente penosa. Como odiava voar ele cumpria todos os seus compromissos viajando de carro com a banda. Não é preciso muito para entender o quanto isso era desgastante e cansativo. Para aguentar, mais pílulas. A fama e o sucesso começavam certamente a cobrar seu preço. E não era barato.

Elvis Presley - Elvis em Hollywood
Foi em 1º de abril que Elvis Presley conseguiu realizar o sonho de sua vida. O ano era 1956 ele transpôs pela primeira vez os portões de ferro torneado da Paramount para um encontro com o produtor Hal Wallis. Junto com ele ia o inseparável manager, o coronel tom Parker. Ainda garoto, em Tupelo, Elvis já sonhava com as luzes do cinema. Queria ser ator, mais do que qualquer outra coisa. Voltou-se para a musica porque não via perspectivas de realizar o sonho em sua cidade natal.

Mas adorava tanto os filmes que chegou a trabalhar como lanterninha em Tupelo. São relações contidas no vídeo Elvis in Hollywood, The 50's, de Frank Martin, lançada pela BMG-Video. Vale a pena assistir á fita, Elvis, rei do rock, sempre foi espancado pelos críticos. Nunca foi considerado um verdadeiro ator. No Maximo era um cantor que rebolava diante das câmeras – e que foi engordando até perder o pique. Seu primeiro filme estreou em novembro de 1956. em Ama-se com Ternura [Love me Tender], ele desafiou duplamente os códigos de Hollywood, morreu no final e protagonizou um drama de época, desenrolado em plena guerra Civil. Nada mais estranho ao mito do jovem com o qual a teen generation da América queria tanto se identificar.

Elvis não freqüentou cursos de arte dramática. Tinha ídolos, Marlon Brando, James Dean, Humphrey Bogart. Assistiu muitas vezes ao filme que eles interpretavam. Queria captar as sutilezas da técnica de interpretação de cada um. Em Loving You [1957], sua primeira preocupação, ao chegar ao set, foi perguntar ao diretor Hal Kantes se seu personagem teria de sorrir muito. Ao atônito diretor, explicou que Bogart não ria, e por isso era grande. Para Elvis, os jovens curtiam seus shows e sua presença na tela porque a América era muito repressiva nos anos 50.

Os jovens não podiam se soltar em casa e na escola. Soltavam-se com ele, ao som do rock'n'roll. Nunca radicalizou sua rebeldia e até foi impedido pelo coronel Parker de ser o astro que queria. Mas uma vez, pelo menos, chegou perto do seu ideal ao interpretar, sob a direção de Michael Curtiz, um papel que só não foi de James Dean porque o astro de Juventude Transviada morreu. Não por acaso, os críticos consideram Balada Sangrenta [King Creole, 1958] o melhor momentos de Elvis no cinema.
 
"Love Me Tender" fez um belo sucesso de bilheteria. De fato conseguiu o feito de ser um dos 20 filmes mais vistos de 1956, uma posição importante em se tratando de um faroeste B, onde a principal atração era um jovem cantor que ainda não era tão conhecido de todo o público. Os mais velhos, por exemplo, torciam o nariz para Elvis e seus discos, pior, quando o viam dançando na TV ficavam horrorizados. E era justamente o público mais velho na época que curtia esse tipo de produção western.

De uma maneira ou outra duas coisas positivas aconteceram nesse filme. Os produtores entenderam que Elvis tinha jeito para a coisa. Fotografava muito bem nas telas e apesar de não ter experiência como ator não era tão ruim representando como se esperava. Pelo contrário, ele chegou até mesmo a ganhar alguns elogios da crítica da época. Alguns disseram que ele tinha "boa presença de cena". Seja lá o que isso realmente significava não era uma coisa ruim, uma crítica negativa em sua essência.

A RCA Victor compilou as músicas do filme e as lançou em um EP (um compacto duplo). Também colocou no mercado um single com a música "Love Me Tender" como Lado A. Os dois disquinhos venderam muito, levando o nome de Elvis Presley novamente para o topo das paradas, dos mais vendidos. O Coronel Parker não precisou de muito tempo para entender que Elvis assim poderia ser duplamente lucrativo, não apenas nas bilheterias de cinema, mas também nas lojas de discos, pois o filme impulsionava a venda de discos e vice versa. Os lançamentos fonográficos de Elvis também serviam como publicidade para os filmes. Discos vendiam filmes e filmes vendiam discos. Na visão do Coronel Parker era uma combinação comercial perfeita!

Por essa razão a Paramount Pictures anunciou logo após o sucesso de "Ama-me Com Ternura" que Elvis já estava contratado para atuar em seu próximo filme justamente pelo estúdio. A Paramount era na época um dos maiores estúdios de cinema de Hollywood. Entre seus contratados estavam John Wayne, Jerry Lewis, Dean Martin, Alfred Hitchcock, Frank Sinatra, James Stewart, Grace Kelly e tantos outros astros e estrelas da constelação do cinema. E a Paramount estava decidida a começar um novo filão de filmes feitos especialmente para Elvis. Ele seria a mais nova estrela do cinema. As apostas eram altas em relação ao seu futuro em Hollywood. O próprio Elvis sabia disso e apostava numa longa carreira de ator. Sobre isso ele chegou a declarar para uma revista de cinema na época: "Cantores aparecem e desaparecem muito rapidamente, da noite para o dia. Já se você for um bom ator poderá ficar em evidência por muitos anos".

O primeiro filme de Elvis no cinema, o faroeste "Love Me Tender" (Ama-me com Ternura, no Brasil) foi praticamente um teste. Os produtores queriam conferir se Elvis levava jeito para a coisa, se ele se saía bem em uma tela de cinema. Os resultados foram muito bons. Para um western B o filme, impulsionado pelas músicas e pela fama de Presley, se tornou um sucesso de bilheteria.

Para o segundo filme a Paramount Pictures resolveu investir em Elvis sem receios. Agora sua chegada em Hollywood era pra valer. O filme iria se apoiar exclusivamente nele. Se fizesse sucesso todos os méritos seriam de Elvis. O mesmo aconteceria se fosse um fracasso. Poderia enterrar suas pretensões de ter uma carreira em Hollywood.

A RCA Victor aproveitou o bom momento e editou a primeira trilha sonora de Elvis em um álbum completo. No lado A apenas as músicas do filme e no lado B uma série de boas canções que estavam arquivadas na sede da gravadora em Nova Iorque. O sucesso do disco antecipou o sucesso do filme. Elvis procurou estudar as atuações de seus dois maiores ídolos no cinema, James Dean e Marlon Brando. Ao diretor Hal Kanter, Elvis disse que não queria que seu personagem risse muito em cena, nada de sorrisos, isso porque Brando e Dean "sempre interpretavam personagens sérios". Bom, essa não era bem a intenção do estúdio. Eles já tinham em seus quadros os verdadeiros Marlon Brande e James Dean, assim não queriam um terceiro astro na mesma linha. Elvis era de outro tipo. Ele deveria basicamente cantar e encantar suas fãs nos filmes, nada mais. Ele seria um astro romântico ao velho estilo.

Como Elvis ainda era muito inexperiente no quesito atuação o estúdio escalou a veterana Lizabeth Scott para trabalhar ao seu lado. Era uma maneira de Elvis pegar dicas e sugestões na hora de atuar. Os dois eram sempre vistos juntos nas filmagens o que levantou alguns boatos de que estariam tendo um caso. Nada verdadeiro. Ela era bem mais velha do que ele e exercia uma certa autoridade sobre Elvis. Além disso a atriz era lésbica e mantinha sua vida privada bem longe das revistas de fofocas da época. Assim o jovem Elvis estava interessado mesmo em Dolores Hart, a bela atriz que tinha praticamente a sua idade. Não demorou muito e o cantor demonstrou estar apaixonado por ela. Anos depois Dolores largaria tudo, sua vida em Hollywood para se tornar freira numa ordem católica e sua história ao lado de Elvis seria contada no documentário "Deus é o Elvis Maior".

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Coleção de Textos IV

Elvis Presley - Outros Lançamentos
Elvis Presley - Tupelo's Own 
Depois de terminar “Love Me Tender” em Hollywood Elvis caiu na estrada novamente. Foi fazer aquilo que sempre soube de melhor: se apresentar ao vivo. Um desses shows foi realizado em sua cidade natal, a pequenina Tupelo, no Mississipi. A cidade que nunca teve alguém tão famoso quanto Elvis em sua história parou para saudar seu filho mais ilustre. A prefeitura decretou feriado na cidade, as escolas liberaram seus alunos e foi organizada uma grande parada na principal avenida da cidade. Uma festança e tanto! Tudo para celebrar a passagem de Presley por lá. Na década de 50 poucos foram os registros ao vivo de Elvis. A imensa maioria de suas apresentações não foram gravadas e nem registradas em filmes mas em Tupelo tudo foi bem documentado. O show que Elvis realizou foi filmado profissionalmente, capturando com boa qualidade partes de seu concerto. Apesar do bom registro que captou realmente belas cenas ele infelizmente está incompleto. A parada que foi realizada no centro de Tupelo também está lacunosa mas o registro sobreviveu ao tempo e está no DVD. A sorte dos realizadores é que algumas pessoas portando antigas câmeras amadoras acabou registrando parte da festa e dos shows, de ângulos diversos. O DVD Tupelo´s Own traz parte dessas imagens.

Ao assistirmos o concerto de Elvis percebemos algumas coisas interessantes. Em nossa época atual o nível de tecnologia que está presente nos palcos dos grandes astros chega a ser assustadora. Telões gigantes, sistema de sons controlados pelos mais modernos equipamentos de informática, equipamentos de luz que impressionam. E na década de 50 o que havia para ajudar o artista no palco? Basta assistir esse documentário para entender que naquela época o cantor tinha apenas a si mesmo e sua banda para fazer uma boa apresentação. Elvis surge em um palco de madeira, pouco acima do público, que inclusive fica a um braço de distância dele! O som é praticamente constituído de alto falantes rústicos, alguns com fios expostos! Até uma cadeirinha de madeira se visualiza no palco para colocar as caixas acústicas em cima! A RCA para se promover ainda mandava colocar um boneco de Nipper, seu cachorrinho símbolo, ao lado de Elvis! Enfim, a diferença daquela época para a atual é simplesmente abissal. O artista tinha seu talento e o público logo ali na sua frente. Hoje muitos cantores contam inclusive com uso de playback, pois para falar a verdade muitos nem sabem cantar de fato. Com Elvis nada disso existia. Era talento cru, ao alcance de todos, quem não tinha talento simplesmente não havia como seguir em frente. Tupelo´s Own é uma aula sobre isso. Sobre um tempo em que ou você tinha talento de fato ou estava fora do negócio. Para finalizar é bom lembrar ao fã que de quebra ele leva trechos de outros concertos de Elvis no pacote. Algumas dessas apresentações estão representadas por imagens avulsas, de curta duração, mas que certamente servem de bom registro histórico dessa época na carreira de Elvis Presley. Assim considero “Tupelo´s Own” um DVD obrigatório na coleção dos fãs do cantor. Traz momentos raros, organizados na medida do possível. Não deixe de adquirir esse item.

Elvis Presley – Tupelo´s Own (EUA, 2007) Tupelo Welcomes Home Elvis Presley / Tupelo’s Own Elvis Presley / Song Performances: 1. Heartbreak Hotel 2. Long Tall Sally 3. Presentation to the City 4. I Was The One 5. I Want Need Love You & I Got a Woman 6. Don’t Be Cruel 7. Hound Dog / Tupelo Evening Show Clip / Original Fox Movie tone News Reel 1956 / Elvis in Tupelo 1957 / Audio Tracklisting: Total running time 51.13 Afternoon Show: 01 Heartbreak Hotel 02 Long Tall Sally 03 Presentation Key To The City 04 I Was The One 05 I Want You, I Need You , I Love You 06 Announcement 07 I Got a Woman 08 Don't Be Cruel 09 Ready Teddy 10 Love Me Tender 11 Hound Dog Evening Show: 12 Love Me Tender 13 I Was The One 14 I Got a Woman 15 Dialogue 16 Don't Be Cruel 17 Blue Suede Shoes18 18 Dialogue 19 Baby, Let's Play House 20 Hound Dog 21 Dialogue.

Elvis Presley - Flashback 
Vamos tecer alguns breves comentários sobre mais esse CD do selo FTD que tem como foco principal justamente a carreira de Elvis Presley nos anos 1950. Ernst Jorgensen, o produtor responsável pelos títulos Follow That Dream, não se limitou durante todos esses anos a apenas colocar no mercado edições especiais de álbuns clássicos de Elvis, mas também shows ao vivo e coletâneas de takes alternativos, categoria a que pertence esse “Flashback”.

A proposta é muito boa uma vez que dá opção ao fã de Elvis em adquirir um produto com seleção musical mais variada, sem tanto rigor especifico como acontece nas edições de discos oficiais. Aqui temos um CD enfocando os trinta primeiros meses da carreira de Elvis (de janeiro de 1956 até junho de 1958). Para muitos estudiosos da obra de Elvis, esta é a época de ouro da carreira do Rei do Rock. Na seleção, muitas gravações inéditas, todas com excelente qualidade de som. O CD foi lançado no dia 20 de maio de 2004 nos Estados Unidos e chegou em edição de luxo, acompanhada de um livro com mais de 170 páginas, com excelentes fotos de Presley nesse período de sua vida artística.

Na seleção musical eu pincelo alguns bons momentos, entre eles as canções que foram gravadas em Nova Iorque logo nas primeiras sessões de Elvis na RCA. Acompanhar o cantor tentando chegar no tom certo das músicas é sempre um prazer renovado. Particularmente gosto bastante dos takes alternativos das músicas que fizeram parte do disco “Elvis” (1956). Nesse aspecto o destaque vai para os três takes do excelente rock de Little Richard, “Rp It Up”. Melhores do que a versão do cantor original. Outra gravação que merece menção é “Ain't That Loving You Baby”, o maior exemplo de take alternativo que se torna melhor do que a versão oficial, que infelizmente não tem pique nem embalo dessa gravação excelente. A melhor versão dessa canção que já ouvi até hoje foi lançada no álbum “Reconsider Baby” de 1985 (lançado em vinil no Brasil).

Caso parecido ocorre com “Treat Me Nice” cuja melhor versão é aquela que ouvimos no filme, uma vez que a que saiu no single foi produzida além do necessário, tirando parte de seu charme cru. Infelizmente poucos takes alternativos chegaram até nós da maravilhosa “Blueberry Hill”, o que é uma pena, pois é uma releitura fantástica de Elvis para o hit de Fats Domino. Caso você esteja em busca de uma coletânea de takes alternativos da década de 1950 esse CD intitulado “Flashback” sem dúvida se torna  uma excelente opção. Além disso você levará para casa um  material impresso dos anos em que Elvis Presley foi o legitimo e verdadeiro Rei do Rock. Tudo de muito bom gosto.

FTD Elvis Presley Flashback (2004)
1. Heartbreak Hotel - take 5 (1. part), 4 (2. part) / 2. Money Honey - take 10 intro only / 3. I'm Counting On You - takes 1,2, unknown take / 4. I Was The One - take 7 unedited / 5. Lawdy, Miss Clawdy - takes 11,12 / 6. Shake, Rattle And Roll - takes 3,5,6,7 / 7. I Want You, I Need You, I Love You - take 3 / 8.  Rp It Up - takes 10,11,12,16 / 9. Loving You (slow) - takes 2,3 / 10. I Need Your Love Tonight - takes 12,13 / 11. A Big Hunk O Love - take 2 / 12. Ain't That Loving You Baby - take 8 - fast fade on Elvis laughing / 13. A Fool Such As I - takes 4,5 / 14. I Got Stung - takes 4-8 The BINAURAL Outtakes / 15. That's When Your Heartaches B / egin - take 1 / 16. It Is No Secret - take 5 / 17. Blueberry Hill - take 3 / 18. Have I Told You Lately That I Love You - takes 6,7 / 19. Is It So Strange - takes 8,9 / 20. Loving You (main title version) - take 6 / 21. Loving You (main title version) - take 12 / 22. Treat Me Nice (1st version) - takes 1,2,3 / 23. Young And Beautiful - take 6 / 24. I Want To Be Free - take 11 / 25. Don't Leave Me Now - takes 7,8.

Elvis Presley - From Elvis In New York - 1956 
A gravadora que detém os direitos autorais de Elvis Presley muitas vezes dorme mesmo no ponto. Ideias originais, bem boladas, nem sempre são aproveitadas. Assim os lançamentos chamados bootlegs fazem a festa. Um exemplo vem com esse novo CD intitulado "From Elvis In New York - 1956". A ideia é simples, mas bem bolada, ou seja, reunir tudo o que existe em termos de gravações e registros sobre os dias que Elvis passou em Nova Iorque durante os anos 50, bem no comecinho de sua carreira.

Nessa ocasião Elvis havia sido recentemente contratado pela RCA Victor. Assim um dos seus primeiros objetivos foi ir até a grande metrópole americana para uma série de compromissos que entre outras coisas previa novas gravações nos estúdios da gravadora na cidade, aparições na TV e entrevistas nas rádios locais. O CD dessa maneira foi dividido em capítulos (intitulados "The Masters", "Elvis On TV", "Promo Recordings for RCA" e "Interviews At The Warwick Hotel"). É um panorama amplo daqueles dias bem importantes, quando Elvis deixava de ser apenas um artista regional, do interior do sul dos Estados Unidos, para começar a ser conhecido nacionalmente (e depois internacionalmente). O começo de sua trajetória de superstar da música mundial. Os produtores desse "From Elvis In New York - 1956" realçam a importância das entrevistas concedidas por Elvis no Warwick Hotel, material apontado no encarte como completamente inédito até os dias de hoje.

From Elvis In New York - 1956 (2017) 
The Masters
01. Blue Suede Shoes
02. My Baby Left Me
03. One-Sided Love Affair (including count-in)
04. So Glad You're Mine
05. I'm Gonna Sit Right Down And Cry (Over You)
06. Tutti Frutti
07. Lawdy, Miss Clawdy (including count-in)
08. Shake, Rattle And Roll
09. Hound Dog (from the mixing desk)
10. Don't Be Cruel
11. Anyway You Want Me (That's How I Will Be)
12. Shake, Rattle And Roll (edited undubbed master)  
Elvis On TV
13. Shake Rattle and Roll / Flip Flop and Fly
14. I Want You, I Need You, I Love You
15. Hound Dog
16. Don't Be Cruel  
Promo Recordings For RCA
17. Recording of personal introductions for latest RCA Victor albums
18. RCA Radio Victrola Division Spot #1
19. RCA Radio Victrola Division Spot #2  
Interviews At The Warwick Hotel
20. Robert Carlton Brown interviews Elvis
21. 'Hy Gardner Calling' (Hy Gardner interview)

Elvis Presley - Elvis On Television 1956-1960
Muitos autores afirmam que Elvis se tornou popular por causa da TV. Essa afirmação é verdadeira, mas também incompleta. O fato é que Elvis também ajudou a popularizar a TV, isso em uma época em que poucas pessoas possuíam um aparelho de televisão em casa. Mesmo nos Estados Unidos a TV ainda era uma novidade tecnológica quando Elvis pintou pela primeira vez em sua tela, lá nos distantes anos 1950. Pois bem, aqui temos um box duplo trazendo todas as apresentações de Elvis na TV entre os anos de 1956 a 1960, que inclusive foi o período em que o cantor mais realizou apresentações ao vivo, seja no programa de Ed Sullivan (que registrou um recorde histórico de audiência) seja nos programas de Steve Allen e Milton Berle.

Depois que Elvis voltou do exército americano, onde estava servindo na Alemanha, o Coronel Parker decidiu que ele iria ficar fora da TV por muitos anos. Isso porque Parker acreditava que o futuro (e os lucros) estavam em outra tela, a do cinema. Assim não fazia muito sentido Elvis fazer concorrência para si mesmo. Se alguém quisesse ver Elvis cantando em um palco deveria antes comprar um ingresso de bilheteria, no cinema é claro! Assim Elvis ficou anos fora da TV, só voltando no programa especial no canal NBC. Antes disso porém houve o "Welcome Home Elvis!", um programa apresentado por Frank Sinatra que celebrava seu retorno aos Estados Unidos. Não foi musicalmente tão relevante, mas ao menos serviu para juntar os dois maiores cantores de todos os tempos em um breve dueto. Enfim, temos aqui uma boa dica desse lado da carreira de Elvis Presley que nem sempre é muito valorizado. Claro, as masters de gravação não são perfeitas - já que foram copiadas das transmissões de TV - mas diante da importância histórica do material isso fica realmente em segundo plano.

Elvis '56
Em precioso trabalho de resgate e registro histórico os realizadores desse documentário foram atrás das imagens capturadas de Elvis Presley se apresentando em diversos programas de televisão nos Estados Unidos durante o ano de 1956, considerado o primeiro de grande sucesso de sua carreira. 

Houve um tempo em que ter acesso às imagens de Elvis se apresentando na televisão americana durante os anos 50 era algo extremamente complicado e raro de se encontrar. Claro que hoje em dia tudo pode ser visto pelo Youtube, mas naqueles anos 80 não existia nem a Internet. Então foi muito bacana quando esse documentário foi lançado em VHS no Brasil. Era material de relevância ímpar para quem curtia as origens e a história do rock. E nem preciso dizer que para os fãs de Elvis era algo muito precioso de se assistir. O único problema é que a distribuidora nacional não caprichou muito na edição nacional. Eu me recordo que a qualidade das imagens não era boa, mas ainda assim se tornou uma fita relativamente fácil de encontrar nas locadoras brasileiras. E o Elvis que encontramos aqui era o jovem Elvis roqueiro, com cabelos loiros, chocando a América conservadora com sua música que, naqueles tempos, era considerada selvagem, que levava os jovens para a delinquência juvenil. Enfim, essas cenas certamente não deixam de ser um registro histórico importante do que estava acontecendo culturalmente entre os jovens naqueles rebeldes anos 50, os tempos da brilhantina. 

Elvis '56 (Estados Unidos, 1987)
Estúdio: Lightyear Entertainment
Direção: Alan Raymond, Susan Raymond
Roteiro: Alan Raymond, Susan Raymond
Elenco: Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black, DJ Fontana, The Jordanaires, Ed Sullivan, Steve Allen (em arquivos de imagens). 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Elvis Presley - Love Me Tender

Love Me Tender - Sessão de Gravação
Essa foi a primeira trilha sonora da carreira de Elvis. Em Hollywood o estúdio Fox não iria trabalhar com a banda de Elvis, apenas com ele nos vocais. Isso surpreendeu bastante Elvis que pensou que iria contar com Scotty, Bill e seus músicos de apoio habituais. Só que a Fox, um dos maiores estúdios de Hollywood, não concordou com isso. Apenas músicos contratados pela Fox tocavam em trilhas sonoras de seus filmes. Era política da companhia e não haveria espaço para negociações em relação a esse tema. O assunto foi encerrado pelos executivos de Los Angeles. Elvis teve que engolir a decisão deles. 

Todas as canções deste filme foram gravadas nos estúdios da 20th Century Fox. Elvis contou com músicos determinados pela Fox e não com sua banda tradicional. Estes foram os músicos que participaram destas sessões: Elvis Presley (vocal, violão), Vito Mumolo (guitarra), Mike Rubin (baixo), Richard Cornell (bateria), Luther Rountree (banjo), Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon), os trabalhos musicais foram dirigidos por Ken Darby.

Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis é a esposa de Darby. Ele nunca escreveu uma linha sequer das músicas, seja de letra ou melodia. Tudo foi composto e arranjado pelo próprio Darby. Ele não assinou o material porque havia assinado um contrato de exclusividade com outra gravadora e essas faixas seriam lançadas pela RCA Victor. O jeito foi colocar o nome da esposa nos créditos. Uma forma de garantir a renda das músicas, mesmo não assinando nenhuma delas. 

Mal sabia ele que "Love Me Tender" iria se tornar uma das músicas mais famosas do século XX, fazendo com que a conta de sua esposa fosse forrada por muitos dólares todos os meses. E essa foi uma daquelas músicas que jamais deixaram de render direitos autorais, mesmo décadas depois de seu lançamento, mesmo depois da morte de Elvis e de todos os envolvidos em sua gravação. Para falar a verdade até hoje os descendentes do casal ganham dinheiro com ela!

Love Me Tender - Discografia Americana
Vamos imaginar que você, caro leitor, fosse um jovem americano doido por Elvis Presley nos anos 50. Você certamente iria ao cinema assistir Elvis no filme Love Me Tender e depois iria nas lojas de discos para adquiriar as músicas. Obviamente não iria encontrar elas nem no primeiro e nem no segundo disco do cantor. Para você iria haver apenas duas opções de compra, o single 45 RPM com Love Me Tender no lado A ou então o EP (compacto duplo) com as quatro músicas do filme. 

Nada mais, só isso! Claro que ao longo dos anos Love Me Tender, a balada inesquecível, iria fazer parte de várias coletâneas da carreira de Elvis. Seria relançada ao ponto da exaustão, mas naqueles tempos, em 1956, só havia esses dois disquinhos para levar para sua casa. São itens raros nos Estados Unidos, ainda hoje. Um exemplar em bom estado pode alcançar um bom valor entre colecionadores. Estou me referindo às cópias originais e não as de relançamento. Ficando tudo ao gosto do cliente!

Love Me Tender - Discografia Brasileira
Apesar do Brasil ser um tanto atrasado do ponto de vista industrial, as faixas do filme "Ama-me Com Ternura" chegaram aos fãs brasileiros de Elvis na época. Tanto o compacto duplo como o compacto simples chegaram nas lojas brasileiras. E eram exemplares bem fiéis aos americanos, o que nos deixa bem surpresos hoje em dia. 

As músicas do filme ficaram anos, melhor dizendo, décadas, fora de cartaz em nosso país. Tirando Love Me Tender que sempre vinha em quase toda coletânea de Elvis, essas demais canções da trilha ficaram sem chegar ao público por um longo período de tempo em nosso país. 

Nos anos 80 criaram um disco especial, intitulado Cinema 3, que trazia a trilha sonora completa de Love Me Tender. Na era do vinil, já em um tempo bem mais recente, esse álbum foi visto como um verdadeiro presente para os fãs brasileiros. E a capa, a direção de arte, também era muito boa, reproduzindo os cartazes e desenhos originais usados nas promoções dos filmes em seus lançamentos originais nos cinemas americanos. Um produto de muito bom gosto para aquela época!

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis Book - Love Me Tender

Elvis Presley - Love Me Tender (1956)
Toda a trilha sonora do filme "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender, EUA, 1956) foi lançada originalmente em compacto duplo. Todas as faixas foram providenciadas pelos estúdios Fox e depois repassadas para a RCA Victor, a gravadora que tinha contrato de exclusividade com Elvis na época. O interessante é que praticamente todo o material foi composto pelo diretor musical do estúdio Fox, o maestro e arranjador Ken Darby (que não aparecia nos créditos).

Como o filme era um faroeste ao velho estilo, todas as canções tiveram de uma maneira ou outra um sabor Country and Western. Claro, esse tipo de sonoridade não soava estranha a Elvis. Afinal ele vinha de Memphis, cidade próxima a Nashville, considerada a capital da country music nos Estados Unidos. Ele estava mais à vontade do que nunca com as canções, embora soubesse também que aquele tipo de música era no fundo apenas a visão de Hollywood sobre o estilo musical que tanto conhecia. Elvis porém era um cantor profissional e resolveu dar o melhor de si para o material previamente produzido pelos estúdios da Fox.

Praticamente tudo foi gravado em apenas uma sessão de gravação realizada no dia 24 de agosto de 1956. As músicas não foram produzidas por Steve Sholes, o produtor de Elvis na RCA, mas sim por Lionel Newman, outro contratado da Fox. Esse dispensou a banda de Elvis e ele teve que gravar pela primeira vez sem estar ao lado de seus músicos habituais. Scotty Moore, Bill Black e cia, ficaram de fora. Ele não gostou dessa mudança, porém não quis criar problemas. Mais tarde Elvis iria impor sua vontade, determinando que sua banda o acompanhasse nas trilhas sonoras, mesmo em Hollywood.

Outro aspecto digno de nota é que havia uma seleção de poucas músicas. No máximo Elvis teria que gravar apenas cinco canções para o filme. E isso descartava a edição de um LP por parte da RCA Victor. Um álbum teria que ter no mínimo dez canções, o que não era o caso aqui. No filme seguinte de Elvis, intitulado "Loving You", a RCA iria misturar as músicas do filme original com outras canções gravadas por Elvis em estúdio, mas sem ligação com a trilha sonora do filme que daria título ao novo disco. Só que para "Love Me Tender" isso não foi penado a tempo e as músicas chegaram aos fãs no formato de compacto duplo (conhecido como EP, nos Estados Unidos). 

A música mais importante do filme foi justamente daquela que lhe deu título. Claro que estamos falando do clássico "Love Me Tender", até hoje uma das músicas mais conhecidas da carreira de Elvis. No Brasil o filme recebeu o nome de "Ama-me com Ternura". O titulo original do filme era "The Reno Brothers", faroeste sem grande importância, estilo B da Fox, que nunca teria entrado na história se não fosse pela primeira participação de Elvis Presley no cinema. A história se passava durante o final da guerra civil norte-americana e tratava da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. Vance Reno (Richard Egan) voltava do campo de batalha e descobria, estarrecido, que sua antiga namorada Cathy (Debra Paget) estava agora casada com seu irmão mais novo Clint Reno (Elvis). E isso só havia acontecido porque todos estavam convencidos que ele havia morrido no campos de algodão do sul, lutando contra os exércitos da União. Já imaginou a confusão? O roteiro girava em torno desse triângulo amoroso familiar. Elvis, muito novo e com os cabelos ainda bem próximos de sua tonalidade natural, não comprometeu em nenhum momento, mesmo sendo sua estreia como ator. Quando lançado em 1956, "Love Me Tender" se tornou um tremendo sucesso de bilheteria.

Elvis mostrou que era um nome quente não só no mundo musical, como também na tela grande. Muitos fãs inclusive foram em peso na semana anterior ao lançamento oficial do filme apenas para assistir ao trailer que mostrava pequenos trechos de Elvis cantando! O disco acompanhou o sucesso do filme. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. 

A canção "Love Me Tender", por sua vez, foi gravada em agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood e lançada um mês depois em single com "Any Way You Want Me" no lado B, chegando ao primeiro lugar da Billboard na primeira semana. Elvis não contou com sua banda tradicional, os Blue Moon Boys, pois o estúdio não tinha contrato com eles e sim com músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Músicos profissionais do cast fixo da companhia. Mesmo um pouco fora do ambiente que lhe era familiar, Elvis, ao lado de Darby, produziu "Love me Tender" e lhe deu um arranjo bastante simples, porém muito eficiente, sentimental e belo.

Depois de registrar sua participação no estúdio Elvis aproveitou a oportunidade de se apresentar no The Ed Sullivan Show em 9 de setembro para promover a música e o filme. O sucesso foi imediato e Elvis foi assistido por mais de 50 milhões de americanos. 82,6% dos televisores dos EUA estavam sintonizados nele naquela noite. A nação parou para assistir Elvis interpretar "Love Me Tender", um recorde que só foi quebrado depois pelo assassinato do presidente Kennedy e pela apresentação em 1964 dos Beatles no mesmo programa. Tamanha repercussão levou rapidamente o disco a se tornar o primeiro da história a ter 1 milhão de cópias pré-vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Um marco na carreira de Elvis e uma das canções mais identificadas com sua imagem. Um ícone romântico da cultura musical dos Estados Unidos, baseada na velha música "Aura Lee" em inspirada adaptação do maestro Ken Darby.

Um aspecto curioso sobre esse filme é que o personagem que foi interpretado por Elvis, chamado Clint Reno, foi escrito originalmente no roteiro como sendo um adolescente, na faixa entre 16 a 17 anos de idade. E quando Elvis o interpretou ele já era um adulto, com 21 anos! Algumas mudanças pontuais no roteiro foram feitas, durante as filmagens, mas nem tudo foi mudado. Muitas atitudes e sentimentos de Clint Reno continuaram a ser de um jovem adolescente. E isso também se refletia em algumas músicas que tinham mesmo uma sonoridade bem juvenil. Afinal Elvis era o ídolo jovem mais amado da América naquele momento histórico. 

A música "Poor Boy" ia justamente por esse caminho. Embora haja muitos que não gostem da faixa, eu aprecio ela por sua singeleza. Também poderia ser encarada como uma espécie de canção-tema do personagem Clint Reno, afinal o que era ele a não ser um pobre rapaz do campo, pego de surpresa em sua própria adolescência por uma das mais sangrentas guerras da história dos Estados Unidos, a guerra civil. Um conflito que havia destruído sua família, afinal seu irmão mais velho era dado como morto no campo de batalha. 

Para muitos "Poor Boy" era apenas uma música bobinha e sem conteúdo, um country fabricado em Hollywood e sem o selo de qualidade Nashville. Mas tirando toda a diversidade de opiniões, "Poor Boy" é apenas uma canção que cumpre sua função de forma eficiente durante o filme. Dá uma chance a Elvis para mostrar uma boa apresentação e cantar de forma descontraída. 

Essa canção, assim como todas as outras dessa trilha sonora, embora tenham sidos creditadas à autoria da dupla Elvis Presley / Vera Matson, não foram compostas por eles. Elvis praticamente nunca escrevia as músicas que cantava e seu nome foi incluído apenas para que ele participasse nos royalties da canção (Essa aliás era uma atitude bastante comum durante os anos 50). Já Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis era a esposa de Ken Darby, diretor musical da Fox. Por problemas autorais ele resolveu colocar o nome de sua mulher para dividir os créditos da canção, que inclusive foi inteiramente composta por ele dentro do departamento de música do estúdio.

Elvis se decepcionou durante as filmagens desse filme porque ele havia se apaixonado pela atriz Debra Paget e ela acabou dando um fora nele. O fato é que Elvis estava vivendo um sonho de ser um ator de cinema. Para um rapaz pobre que havia sido lanterninha alguns anos atrás e que era apaixonado pela sétima arte, realmente era algo de outro mundo. Já sua parceira no filme era uma pessoa mais pé no chão, realista. Ela sabia que como atriz para subir na carreira ela tinha que se relacionar com os homens certos, os figurões da indústria. Assim Elvis que não era nada disso acabou dançando sozinho. 

De qualquer forma Elvis iria logo encontrar sua namorada ideal para aqueles anos. Era uma loirinha baixinha, mas muito bonita e bem feita de corpo chamada Anita Wood. Elvis a conheceu bem depois do fim das filmagens de Love Me Tender e ficou anos ao seu lado. Anita começou como locutora de rádio em um programa feito para adolescentes de Memphis na estação local. Depois se destacou em outro programa, só que na TV, onde organizava um grande salão de dança com os jovens de sua cidade. Foi ali que Elvis a conheceu e como sempre acontecia, foi amor á primeira vista. 

Todo esse romantismo chegaria em suas novas gravações, se bem que no meio da country music made in Hollywood da trilha sonora do filme também podíamos encontrar esse tipo de sentimento. "Let Me" pode ser citada como exemplo. Das músicas que vieram para coadjuvar "Love Me Tender" no compacto duplo essa é a que melhor se saiu bem. 

Vagamente lembrando "Poor Boy", "Let Me" é divertida, bem executada e dançante. Mas o melhor mesmo é a cena de Elvis no filme, numa performance memorável (mesmo que mal captada pelo diretor do filme, talvez propositadamente!). Um prazer ouvir e ver Elvis cantando essa canção, na flor da idade, com o futuro promissor pela frente. Impossível ficar indiferente ao seu ritmo alegre e de bom astral. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente impagável. A cena do filme é ótima, quando ele a canta em um pequeno palco, durante uma feira de gado. Registro nota 10 de um Elvis Presley que ainda estava apenas começando a ganhar o mundo.

Então chegamos na última musica dessa curta trilha sonora da carreira de Elvis, a primeira de sua discografia. Trata-se da faixa intitulada "We're Gonna Move". Essa canção foi baseada numa marchinha muito popular entre os soldados confederados durante a guerra civil americana. Outra interessante adaptação de Ken Darby. De fato ele foi chamado às pressas e teve que se virar para compor uma trilha sonora em cima da hora. Como não havia muito tempo mesmo para escrever material inédito, ele resolveu adaptar algumas canções folclóricas da época da guerra como "Aura Lee" (Love Me Tender) e essa que era conhecida pelos confederados como "There's a Leak in this Old Building".

Até que se encaixou muito bem na trilha sonora. O ritmo bem marcante trouxe uma boa oportunidade para Elvis mostrar seu rebolado numa cena do filme. Além disso todos associavam Elvis a esse estilo vibrante, de puro movimento, que era o Rock em seus primórdios. Só que o sabor dessa faixa, como de muitas outras da trilha, era de country music. E também por essa razão essa música nunca se tornou um sucesso. Se formos pensar bem apenas "Love Me Tender" virou um hit, um sucesso. As demais canções não saíram do contexto do próprio filme. 

Quando a Fox trouxe Elvis para os sets de filmagens em 1956 houve até um certo debate sobre os rumos que o filme iria seguir a partir de sua entrada. Para o diretor Richard D. Webb o filme deveria seguir o roteiro original, ou seja, nada de músicas e nem destaque especial para Elvis, que no fundo iria apenas interpretar um mero papel coadjuvante. O filme de certa maneira iria servir mesmo como um teste para que o estúdio tomasse conhecimento se Elvis iria ou não funcionar no cinema. 

Mas sua opinião foi atropelada pela repercussão que Elvis estava tendo na mídia da época. Era praticamente impossível ignorar a presença de Presley no filme. Além do mais os fãs não iriam aceitar que o filme não tivessem músicas. Por ordens vindas da direção da Fox tudo mudou. O roteiro, antes melodramático e soturno, foi jogado para o alto e em seu lugar foi acrescentado várias cenas com Elvis cantando e exercendo seu direito óbvio de se destacar no elenco! O resultado então foi essa trilha sonora que apesar de não ser muito conhecida (tirando a música tema, claro!) também tem seu espaço dentro da vasta discografia de trilhas sonoras da carreira do cantor. 

Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 1
Toda a trilha sonora do filme "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender, EUA, 1956) foi lançada originalmente em compacto duplo. Todas as faixas foram providenciadas pelos estúdios Fox e depois repassadas para a RCA Victor, a gravadora que tinha contrato de exclusividade com Elvis na época. O interessante é que praticamente todo o material foi composto pelo diretor musical do estúdio Fox, o maestro e arranjador Ken Darby (que não aparecia nos créditos).

Como o filme era um faroeste ao velho estilo, todas as canções tiveram de uma maneira ou outra um sabor Country and Western. Claro, esse tipo de sonoridade não soava estranha a Elvis. Afinal ele vinha de Memphis, cidade próxima a Nashville, considerada a capital da country music nos Estados Unidos. Ele estava mais à vontade do que nunca com as canções, embora soubesse também que aquele tipo de música era no fundo apenas a visão de Hollywood sobre o estilo musical que tanto conhecia. Elvis porém era um cantor profissional e resolveu dar o melhor de si para o material previamente produzido pelos estúdios da Fox.

Praticamente tudo foi gravado em apenas uma sessão de gravação realizada no dia 24 de agosto de 1956. As músicas não foram produzidas por Steve Sholes, o produtor de Elvis na RCA, mas sim por Lionel Newman, outro contratado da Fox. Esse dispensou a banda de Elvis e ele teve que gravar pela primeira vez sem estar ao lado de seus músicos habituais. Scotty Moore, Bill Black e cia, ficaram de fora. Ele não gostou dessa mudança, porém não quis criar problemas. Mais tarde Elvis iria impor sua vontade, determinando que sua banda o acompanhasse nas trilhas sonoras, mesmo em Hollywood.

Outro aspecto digno de nota é que havia uma seleção de poucas músicas. No máximo Elvis teria que gravar apenas cinco canções para o filme. E isso descartava a edição de um LP por parte da RCA Victor. Um álbum teria que ter no mínimo dez canções, o que não era o caso aqui. No filme seguinte de Elvis, intitulado "Loving You", a RCA iria misturar as músicas do filme original com outras canções gravadas por Elvis em estúdio, mas sem ligação com a trilha sonora do filme que daria título ao novo disco. Só que para "Love Me Tender" isso não foi penado a tempo e as músicas chegaram aos fãs no formato de compacto duplo (conhecido como EP, nos Estados Unidos). 

Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 2
A música mais importante do filme foi justamente daquela que lhe deu título. Claro que estamos falando do clássico "Love Me Tender", até hoje uma das músicas mais conhecidas da carreira de Elvis. No Brasil o filme recebeu o nome de "Ama-me com Ternura". O titulo original do filme era "The Reno Brothers", faroeste sem grande importância, estilo B da Fox, que nunca teria entrado na história se não fosse pela primeira participação de Elvis Presley no cinema. A história se passava durante o final da guerra civil norte-americana e tratava da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. Vance Reno (Richard Egan) voltava do campo de batalha e descobria, estarrecido, que sua antiga namorada Cathy (Debra Paget) estava agora casada com seu irmão mais novo Clint Reno (Elvis). E isso só havia acontecido porque todos estavam convencidos que ele havia morrido no campos de algodão do sul, lutando contra os exércitos da União. Já imaginou a confusão? O roteiro girava em torno desse triângulo amoroso familiar. Elvis, muito novo e com os cabelos ainda bem próximos de sua tonalidade natural, não comprometeu em nenhum momento, mesmo sendo sua estreia como ator. Quando lançado em 1956, "Love Me Tender" se tornou um tremendo sucesso de bilheteria.

Elvis mostrou que era um nome quente não só no mundo musical, como também na tela grande. Muitos fãs inclusive foram em peso na semana anterior ao lançamento oficial do filme apenas para assistir ao trailer que mostrava pequenos trechos de Elvis cantando! O disco acompanhou o sucesso do filme. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. 

A canção "Love Me Tender", por sua vez, foi gravada em agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood e lançada um mês depois em single com "Any Way You Want Me" no lado B, chegando ao primeiro lugar da Billboard na primeira semana. Elvis não contou com sua banda tradicional, os Blue Moon Boys, pois o estúdio não tinha contrato com eles e sim com músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Músicos profissionais do cast fixo da companhia. Mesmo um pouco fora do ambiente que lhe era familiar, Elvis, ao lado de Darby, produziu "Love me Tender" e lhe deu um arranjo bastante simples, porém muito eficiente, sentimental e belo.

Depois de registrar sua participação no estúdio Elvis aproveitou a oportunidade de se apresentar no The Ed Sullivan Show em 9 de setembro para promover a música e o filme. O sucesso foi imediato e Elvis foi assistido por mais de 50 milhões de americanos. 82,6% dos televisores dos EUA estavam sintonizados nele naquela noite. A nação parou para assistir Elvis interpretar "Love Me Tender", um recorde que só foi quebrado depois pelo assassinato do presidente Kennedy e pela apresentação em 1964 dos Beatles no mesmo programa. Tamanha repercussão levou rapidamente o disco a se tornar o primeiro da história a ter 1 milhão de cópias pré-vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Um marco na carreira de Elvis e uma das canções mais identificadas com sua imagem. Um ícone romântico da cultura musical dos Estados Unidos, baseada na velha música "Aura Lee" em inspirada adaptação do maestro Ken Darby.

Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 3
Um aspecto curioso sobre esse filme é que o personagem que foi interpretado por Elvis, chamado Clint Reno, foi escrito originalmente no roteiro como sendo um adolescente, na faixa entre 16 a 17 anos de idade. E quando Elvis o interpretou ele já era um adulto, com 21 anos! Algumas mudanças pontuais no roteiro foram feitas, durante as filmagens, mas nem tudo foi mudado. Muitas atitudes e sentimentos de Clint Reno continuaram a ser de um jovem adolescente. E isso também se refletia em algumas músicas que tinham mesmo uma sonoridade bem juvenil. Afinal Elvis era o ídolo jovem mais amado da América naquele momento histórico. 

A música "Poor Boy" ia justamente por esse caminho. Embora haja muitos que não gostem da faixa, eu aprecio ela por sua singeleza. Também poderia ser enccarada como uma espécie de canção-tema do personagem Clint Reno, afinal o que era ele a não ser um pobre rapaz do campo, pego de surpresa em sua própria adolescência por uma das mais sangrentas guerras da história dos Estados Unidos, a guerra civil. Um conflito que havia destruído sua família, afinal seu irmão mais velho era dado como morto no campo de batalha. 

Para muitos "Poor Boy" era apenas uma música bobinha e sem conteúdo, um country fabricado em Hollywood e sem o selo de qualidade Nashville. Mas tirando toda a diversidade de opiniões, "Poor Boy" é apenas uma canção que cumpre sua função de forma eficiente durante o filme. Dá uma chance a Elvis para mostrar uma boa apresentação e cantar de forma descontraída. 

Essa canção, assim como todas as outras dessa trilha sonora, embora tenham sidos creditadas à autoria da dupla Elvis Presley / Vera Matson, não foram compostas por eles. Elvis praticamente nunca escrevia as músicas que cantava e seu nome foi incluído apenas para que ele participasse nos royalties da canção (Essa aliás era uma atitude bastante comum durante os anos 50). Já Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis era a esposa de Ken Darby, diretor musical da Fox. Por problemas autorais ele resolveu colocar o nome de sua mulher para dividir os créditos da canção, que inclusive foi inteiramente composta por ele dentro do departamento de música do estúdio.

Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 4
Elvis se decepcionou durante as filmagens desse filme porque ele havia se apaixonado pela atriz Debra Paget e ela acabou dando um fora nele. O fato é que Elvis estava vivendo um sonho de ser um ator de cinema. Para um rapaz pobre que havia sido lanterninha alguns anos atrás e que era apaixonado pela sétima arte, realmente era algo de outro mundo. Já sua parceira no filme era uma pessoa mais pé no chão, realista. Ela sabia que como atriz para subir na carreira ela tinha que se relacionar com os homens certos, os figurões da indústria. Assim Elvis que não era nada disso acabou dançando sozinho. 

De qualquer forma Elvis iria logo encontrar sua namorada ideal para aqueles anos. Era uma loirinha baixinha, mas muito bonita e bem feita de corpo chamada Anita Wood. Elvis a conheceu bem depois do fim das filmagens de Love Me Tender e ficou anos ao seu lado. Anita começou como locutora de rádio em um programa feito para adolescentes de Memphis na estação local. Depois se destacou em outro programa, só que na TV, onde organizava um grande salão de dança com os jovens de sua cidade. Foi ali que Elvis a conheceu e como sempre acontecia, foi amor á primeira vista. 

Todo esse romantismo chegaria em suas novas gravações, se bem que no meio da country music made in Hollywood da trilha sonora do filme também podíamos encontrar esse tipo de sentimento. "Let Me" pode ser citada como exemplo. Das músicas que vieram para coadjuvar "Love Me Tender" no compacto duplo essa é a que melhor se saiu bem. 

Vagamente lembrando "Poor Boy", "Let Me" é divertida, bem executada e dançante. Mas o melhor mesmo é a cena de Elvis no filme, numa performance memorável (mesmo que mal captada pelo diretor do filme, talvez propositadamente!). Um prazer ouvir e ver Elvis cantando essa canção, na flor da idade, com o futuro promissor pela frente. Impossível ficar indiferente ao seu ritmo alegre e de bom astral. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente impagável. A cena do filme é ótima, quando ele a canta em um pequeno palco, durante uma feira de gado. Registro nota 10 de um Elvis Presley que ainda estava apenas começando a ganhar o mundo.

Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 5
Então chegamos na última musica dessa curta trilha sonora da carreira de Elvis, a primeira de sua discografia. Trata-se da faixa intitulada "We're Gonna Move". Essa canção foi baseada numa marchinha muito popular entre os soldados confederados durante a guerra civil americana. Outra interessante adaptação de Ken Darby. De fato ele foi chamado às pressas e teve que se virar para compor uma trilha sonora em cima da hora. Como não havia muito tempo mesmo para escrever material inédito, ele resolveu adaptar algumas canções folclóricas da época da guerra como "Aura Lee" (Love Me Tender) e essa que era conhecida pelos confederados como "There's a Leak in this Old Building".

Até que se encaixou muito bem na trilha sonora. O ritmo bem marcante trouxe uma boa oportunidade para Elvis mostrar seu rebolado numa cena do filme. Além disso todos associavam Elvis a esse estilo vibrante, de puro movimento, que era o Rock em seus primórdios. Só que o sabor dessa faixa, como de muitas outras da trilha, era de country music. E também por essa razão essa música nunca se tornou um sucesso. Se formos pensar bem apenas "Love Me Tender" virou um hit, um sucesso. As demais canções não saíram do contexto do próprio filme. 

Quando a Fox trouxe Elvis para os sets de filmagens em 1956 houve até um certo debate sobre os rumos que o filme iria seguir a partir de sua entrada. Para o diretor Richard D. Webb o filme deveria seguir o roteiro original, ou seja, nada de músicas e nem destaque especial para Elvis, que no fundo iria apenas interpretar um mero papel coadjuvante. O filme de certa maneira iria servir mesmo como um teste para que o estúdio tomasse conhecimento se Elvis iria ou não funcionar no cinema. 

Mas sua opinião foi atropelada pela repercussão que Elvis estava tendo na mídia da época. Era praticamente impossível ignorar a presença de Presley no filme. Além do mais os fãs não iriam aceitar que o filme não tivessem músicas. Por ordens vindas da direção da Fox tudo mudou. O roteiro, antes melodramático e soturno, foi jogado para o alto e em seu lugar foi acrescentado várias cenas com Elvis cantando e exercendo seu direito óbvio de se destacar no elenco! O resultado então foi essa trilha sonora que apesar de não ser muito conhecida (tirando a música tema, claro!) também tem seu espaço dentro da vasta discografia de trilhas sonoras da carreira do cantor. 

Elvis Presley - Love Me Tender / Anyway You Want Me Elvis encerrou sua participação com chave de ouro em “Love Me Tender” com o lançamento desse single que rapidamente foi para a primeira posição da Billboard. Era o coroamento de um projeto que havia dado muito certo em todos os setores de mercado, na parada musical e nas bilheterias de cinema. Havia um compacto duplo com a trilha sonora vendendo muito bem, um filme fazendo bonito nas bilheterias e muita repercussão na mídia. O single também virou um êxito pois afinal era bem mais barato e em conta do que o compacto duplo (que custava o dobro, obviamente). Por essa época Elvis estava em todos os lugares, no cinema, na TV, nas revistas, nos jornais. Esse foi um dos momentos de maior popularidade de sua carreira. Não é para menos, poucos meses depois de ter assinado com a RCA Victor, Elvis já havia se tornado um fenômeno popular. Os executivos da gravadora estavam gratificados por seu sucesso. Nenhum outro nome naquele momento trazia mais lucro para a multinacional do que ele. E para surpresa de muitos, Elvis era, naquele momento, com apenas 21 anos de idade, o cantor mais popular do mundo!

O clássico romântico "Love Me Tender" foi usado como música tema de seu primeiro filme em Hollywood. Era um western passado durante a guerra civil norte-americana. Elvis interpretava o jovem irmão de um soldado que havia sido dado como morto em combate. Com isso ele se casava com sua noiva. Só que ao contrário do que todos pensavam ele não estava morto, voltando para casa, encontrando essa situação no mínimo incômoda. A canção foi gravada nos estúdios da Fox. Elvis não foi nessa ocasião acompanhado de sua banda tradicional, mas sim de músicos contratados pela companhia cinematográfica, algo que faria pouca diferença, uma vez que em termos de arranjo ela era bem simples, acústica, praticamente voz e violão. A diferença só seria notada mesmo nas demais canções da trilha sonora, que tinham um sabor bem country and western, para combinar com a temática do filme, um faroeste ao velho estilo. 

Além do hit “Love Me Tender” o lado B trazia uma bem-vinda canção inédita para os fãs, a balada “Anyway You Want Me”. A música apostava no sentimento, com uma letra bem romântica e arranjo melódico. A guitarra chorosa de Scotty Moore acabou virando a marca registrada da canção sendo imitada depois em lançamentos de outros artistas. “Anyway You Want Me” havia sido gravada na mesma sessão de “Hound Dog” e “Don´t Be Cruel” e arquivada para ser lançada em um momento adequado. Nota-se inclusive até mesmo uma certa estafa na voz de Elvis. Também não poderia ser diferente, pois nessa mesma noite ele tinha trabalhado duro para chegar nas versões definitivas de "Don't Be Cruel" e "Hound Dog" (sendo que essa última teve mais de 30 takes gravados!).

Mesmo com pouco fôlego, Elvis registrou essa balada e deu por encerrada a sessão. Depois de ser lançada no single, a canção ainda voltaria ao mercado poucas semanas depois. Não contente, a RCA ainda a lançaria em mais um compacto duplo chamado justamente de “Anyway You Want Me” com várias reprises como "I'm Left You're Right She's Gone", "I Don't Care If The Sun Don't Shine" e "Mystery Train". Era a RCA seguindo o conselho do Coronel Parker de sempre faturar duas ou mais vezes com as mesmas músicas. A velha raposa definitivamente não brincava em serviço e fazia escola por onde passava. No saldo final o single “Love Me Tender” vendeu cinco milhões de cópias,  se tornando o segundo maior sucesso de Elvis naquele ano, ficando atrás apenas de “Hound Dog / Don´t Be Cruel". Nada mal para quem havia surgido no começo do ano apenas como uma promessa! No final das contas 1956 havia se tornado o grande ano de Elvis Presley.

Love Me Tender (Vera Matson - Elvis Presley) / (Elvis Presley Music, BMI) 2:41 - Data de gravação: 24 de agosto de 1956 - Local: 20th Century Fox Stage 1, Hollywood / Elvis Presley (vocal e violão) / Vito Mumolo (guitarra) / Mike Rubin (baixo) / Richard Cornell (bateria) / Luther Rountree (banjo) / Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon) / Rad Robinson (vocal) / Jon Dodson (vocal) / Charles Prescott (vocal) / Arranjado por Ken Darby e Elvis Presley / Produzido por Ken Darby / Anyway You Want Me (A. Schroeder / C. Owens) / (Chappel & Co, Inc, Rachel's Own Music, ASCAP) 2:13 - Data de gravação: 02 de julho de 1956 - Local: RCA Studios, Nova Iorque / Músicos: Elvis Presley (vocal e violão), Scotty Moore (guitarra), Bill Black (baixo), DJ Fontana (bateria), Shorty Long (piano), Gordon Stoker (piano em "Hound Dog"), The Jordanaires (vocais de apoio) / Engenheiro de Som: Ernie Ulrich / Produção: Steve Sholes / Data de lançamento: setembro de 1956/ Melhor posição alcançada nas paradas: EUA #1 e UK #11

Elvis Presley - Love Me Tender - Ama-me Com Ternura 
Elvis entrou em "Love Me Tender" sem nunca ter atuado antes na vida. Nem um curso de arte dramática, nem aulas de teatro, nada. Hollywood queria saber se ele conseguia segurar as pontas, se conseguia pelo menos não decepcionar em cena. O resultado acabou sendo melhor do que esperavam. Elvis foi ajudado pelos atores e atrizes do elenco, além da sempre presença do diretor Robert D. Webb, que estava sempre ao lado do novato, lhe dando instruções, mostrando a marcação da cena, etc. Foi mesmo um aprendizado na prática, sem teoria, sem preparação técnica nenhuma.

E o roteiro até tinha sua carga dramática. Claro, o filme poderia ser enquadrado tranquilamente como um faroeste B da Fox, mas isso era apenas uma visão um pouco limitada de tudo. O enredo era até muito bom. Dois irmãos. Um mais jovem ficava no rancho da família, cuidando das mulheres e do trabalho do dia a dia. O outro ia para o campo de batalha, lutar na guerra civil americana. Depois de alguns meses chegava a notícia de sua morte. O irmão mais jovem então se casava com a noiva do irmão mais velho, agora dado como morto. Só que essa era uma informação falsa. Ele ainda estava vivo. O que fazer quando ele retornasse da guerra? Como se vê é um bom ponto de partida dramático. Elvis interpretava o jovem Reno e  Richard Egan o irmão mais velho que retornava. A noiva era a bela Debra Paget.

O filme foi produzido em preto e branco. Já havia cinema em cores na época, porém esse novo sistema era exclusivo para as grande produções. Para um faroeste de rotina como "Love Me Tender" isso era um luxo desnecessário. Esse e "King Creole" foram os únicos filmes de Elvis lançados em fotografia preto e branco, dos velhos tempos de Hollywood. Confesso que há um certo charme nostálgico envolvido, principalmente para quem aprecia as produções da era clássica do cinema americano. O filme de uma maneira em geral não decepciona. Obviamente ele jamais foi esquecido pelo simples fato de trazer um Elvis Presley jovem e no começo de sua carreira. Porém mesmo que não fosse esse o caso, "Ama-me com Ternura" também teria seus méritos próprios.

Ama-me com Ternura (Love Me Tender, Estados Unidos, 1956) Direção: Robert D. Webb / Roteiro: Robert Buckner, Maurice Geraghty / Elenco: Richard Egan, Debra Paget, Elvis Presley / Sinopse: Por um acaso do destino dois irmãos acabam disputando o amor de uma mesma mulher em uma nação devastada pela guerra civil americana.

Pablo Aluísio. 

 
Elvis Presley - Love Me Tender - Edição FTD 
Verdade seja dita: não havia mesmo muito material para compor esse novo título do selo FTD. Pense bem. O filme "Love Me Tender" contou apenas com quatro músicas: "Love Me Tender", "Let Me", "Poor Boy" e "We're Gonna Move". Elas foram compostas meio às pressas depois que o estúdio resolveu colocar Elvis para cantar nesse western que havia sido escrito inicialmente sem qualquer tipo de número musical. Assim o produtor Ernst Jorgensen tinha a complicada tarefa de compor um CD duplo com esse escasso material disponível. Para tanto ele acabou fazendo o que era previsível: encher linguiça. Analise bem o material que está aqui. Ernst precisou recorrer a gravações que nada tinham a ver com o filme para completar o lançamento. Assim ele, sem critério algum diga-se de passagem, enfiou no CD 2 as canções "Heartbreak Hotel", "Long Tall Sally", "I Was The One", "I Want You, I Need You, I love You", "I Got A Woman", "Don't Be Cruel", "Ready Teddy", "Hound Dog", "Don't Be Cruel", "Blue Suede Shoes" e "Baby Let's Play House". O que essas faixas tem a ver com "Love Me Tender", o filme? Nada! Claro que muitos vão dizer que a inclusão dessas canções gravadas em Tupelo em setembro de 1956 são importantes do ponto de vista histórico e que o concerto foi realizado no calor do lançamento do filme, mas nem isso justifica a inclusão delas em um título dedicado à trilha sonora do filme "Ama-me Com Ternura". Que tivessem sido lançadas em um CD próprio, com temática própria, e não pegando carona em "Love Me Tender" como foi feito por aqui.

Por essa razão é desnecessária a feitura de um CD duplo. Um lançamento simples e mais bem organizado seria muito mais bem-vindo. Além disso seria mais comercialmente viável, com preço mais justo. A FTD aqui quis realmente vender gato por lepre, inventando um CD duplo, sem material para tanto, com o único objetivo de vender um produto mais caro para o colecionador. Bola fora de Ernst Jorgensen. Para não dizer que o CD 2 é um desperdício completo podemos pelo menos elogiar as entrevistas presentes lá com o próprio Elvis, seus pais (Vernon e Gladys) e curiosamente um bate papo rápido realizado com o ator Nick Adams, figura muito presente na vida de Elvis na época, uma aproximação tão constante que chegou ao ponto de criar boatos de que o cantor tinha uma "amizade colorida" com o colega ator de Hollywood. Foi um dos poucos boatos envolvendo homossexualidade e Elvis que teve alguma repercussão a longo prazo. Bobagens à parte não deixe de ser curioso ouvir sua voz ecoando aqui novamente, dando sua opinião sobre Elvis e o seu futuro no cinema (algo que os anos iriam revelar ter sido mesmo uma má ideia por parte do astro e seu empresário Tom Parker). Por falar nele, só faltou mesmo o Coronel dando entrevistas, mas claro que isso ele não faria de graça para ninguém.

FTD Love Me Tender
CD-1 - Masters and outtakes: Love Me Tender / Let Me / Poor Boy / We're Gonna Move / Love Me Tender (end-title) / The Truth About Me / We're Gonna Move (take 4) / We're Gonna Move (take 9)  / Poor Boy (take 3) / Poor Boy [remake S20] (take 1*) / Poor Boy [S31] (VO 6) / Let Me (VO #3*) / Let Me (VO #4*) / Love Me Tender (stereo) / Let Me (stereo) / Poor Boy (stereo) / We're Gonna Move (stereo) / The Truth About Me Interview. / CD-2: Tupelo, Sept 26 1956 / Heartbreak Hotel / Long Tall Sally / Indroductions / I Was The One / I Want You, I Need You, I love You / Elvis talks / I Got A Woman / Don't Be Cruel / Ready Teddy / Love Me Tender / Hound Dog / Interview -Vernon and Gladys Prelsey / Interview -  Nick Adams / Interview - Judy Hopper / Interview - Elvis / Love Me Tender / I Was The One / I Got A Woman / Announcement / Don't Be Cruel / Blue Suede Shoes / Announcement / Baby Let's Play House / Hound Dog.  / * Faixas inéditas.

Pablo Aluísio. Elvis Presley - Elvis e Debra Paget 
Quando Elvis foi para Hollywood ele mal podia acreditar no que estava acontecendo. Não fazia muito tempo que ele trabalhava como lanterninha de cinema e agora, vejam só, ele estava prestes a iniciar um filme! Claro que seu papel era coadjuvante e seu nome só apareceria após os de Richard Egan e Debra Paget. A produção também não era lá essas coisas, era um western B da Fox sem grande orçamento ou repercussão. Para Elvis porém isso não importava, o que importava mesmo era que ele estava começando uma nova fase em sua vida, tão parecida com os seus ídolos da juventude que tudo o deixava maravilhado e feliz. No fundo Love Me Tender nada mais era do que um teste do produtor Hal Wallis para saber se Elvis daria certo nas telas. De fato ele não era ator, nunca havia representado na vida, e havia muitas dúvidas se poderia realmente convencer como ator.

Embora não fosse um profissional da área Elvis se dedicou com afinco. Estudou e leu o roteiro de ponta a ponta e em pouco tempo decorou todas as suas falas. Sua empolgação era tamanha que logo ele acabou também decorando os textos dos demais atores do filme. O script estava na ponta da língua mas obviamente atuar não se resume a apenas decorar suas falas mas também passar verossimilhança em sua atuação. Para ajudar em seu amadorismo e falta de experiência nas filmagens Elvis acabou contando com a ajuda muito preciosa da atriz Debra Paget. Ela era uma jovem intérprete que assim como Elvis também procurava seu lugar ao sol e quem sabe alcançar os picos da glória, almejando um dia ter a fama de uma Elizabeth Taylor. Paget aliás adorava Taylor e considerava sua carreira um espelho a seguir. Tão admiradora era do trabalho da colega que quase sempre pintava seus cabelos numa tonalidade bem escura, preto ao máximo, da mesma cor que Liz. Mas o fato era que a competição em Hollywood era atroz.

Debra já tinha um bom caminho percorrido quando contracenou com Elvis em Love Me Tender. Desde os 15 anos essa jovem de Denver, Colorado, vinha tentando emplacar no mundo da TV e cinema. Embora talentosa nunca conseguiu alcançar o primeiro time de estrelas de Hollywood mas fez bons filmes ao longo da carreira. Na vida pessoal se casou três vezes, inclusive uma com o famoso diretor de filmes de western Budd Boetticher. Ela gostava de homens mais velhos como Budd e Elvis representava o extremo oposto disso pois era jovem, inexperiente e parecia sempre estar deslocado, transparecendo uma agitação e um nervosismo que dava nos nervos de Debra. Mesmo Elvis não fazendo seu tipo Debra acabou se interessando pelo jovem cantor.

Durante muitos anos vários boatos surgiram afirmando que Debra e Elvis tiveram um caso durante as filmagens. Debra aliás foi mais longe e anos depois da morte de Elvis afirmou que ele teria ficado tão apaixonado por ela que a teria pedido em casamento! Verdade ou não? Muitos autores afirmam que tudo não teria passado de um simples e passageiro namorico. A questão era que Elvis era um jovem deslumbrado com a sorte que teve ao ser escalado para fazer filmes de Hollywood e todo o clima, todo o clamor o deixaram impressionado. Além disso a própria atitude e beleza de Debra o deixaram realmente interessado na jovem atriz mas no final das contas Elvis não quis levar adiante o breve romance. Aconselhado por Gladys, sua mãe, ele acabou criando uma mentalidade negativa em relação às garotas com quem trabalhava. Eram independentes e liberais demais para seu gosto pessoal. Na mente de Elvis atrizes eram ideais para pequenas aventuras românticas sem maiores consequências, nada para ser levado à sério.

Com Debra parece ter acontecido justamente isso. Na verdade ela seria a primeira de uma longa lista de envolvimentos de Elvis com suas parceiras de cena, nenhuma delas levadas adiante. Para Elvis a mulher ideal era bem distante de garotas como Debra Paget, independentes e donas de seu nariz. Essas garotas de Hollywood só pensavam em suas carreiras e não em seus namorados e maridos. A mulher deveria ficar do lado esquerdo do homem, perto de seu coração, lhe dando apoio e carinho, não beijando outros atores em filmes. Pois é, era exatamente assim que Elvis pensava e provavelmente foi por isso que ele poucos dias depois colocaria um fim em seu rápido envolvimento com Debra. Pedido de casamento?! Sem dúvida um exagero. Elvis tinha outros planos certamente.

Pablo Aluísio. Elvis Presley - Elvis e Anita Wood Após as coisas esfriarem completamente com Dixie Locke, sua namoradinha de colégio, Elvis ficou alguns meses sem uma “namorada oficial”. Para ele foi muito bom, cada vez mais popular por causa dos shows e apresentações na TV o cantor aproveitou para curtir um pouco de sua fama. Teve flertes com dançarinas, teenagers, tietes e quem mais lhe agradasse e lhe aparecesse pela frente. Ele queria aproveitar sua juventude acima de tudo. As coisas mudariam quando casualmente assistindo ao programa Top 10 Dance Party em um sábado à noite Elvis viu de relance uma das garotas mais bonitas que já tinha visto desde então. Ela era uma das adolescentes que dançavam no programa. Seu nome? Anita Wood.

Quando colocou os olhos em Anita, Elvis quis conhecê-la imediatamente. Para isso designou o gordinho Lamar Fike para descolar o telefone da beldade. Lamar fez um bom trabalho. Conseguiu através de seus contatos o número da garota e sem muitas delongas se apresentou a ela dizendo que Elvis Presley queria lhe encontrar. Atônica e surpresa Anita se desculpou com Lamar e disse que não desmarcaria um encontro que já tinha com outro rapaz para ir ao encontro de Elvis. Imaginem a cara de surpresa de Lamar quando soube disso. Sem pensar duas vezes disparou: “Você está louca?! Nenhuma garota rejeitaria um encontro com Elvis Presley!” Anita não se importou e recusou o encontro. Na realidade ela nem era fã do cantor na época. Esse seu lado durona deixou Elvis ainda mais intrigado em conhecer a espevitada loirinha. Nada atiçava mais seu lado conquistador do que uma garota durona que não lhe dava muita bola. Jovens se atirando aos seus pés não faltavam, mas Elvis queria agora acima de tudo conquistar a jovem dançarina do Top 10 Dance Party.

Elvis não desistiu e colocou o DJ George Klein na tarefa de convencer Anita a lhe encontrar. Lamar Fike também ficou no pé na garota fazendo de cupido pelos dias seguintes. Depois de muita insistência e desencontros finalmente Elvis mandou George e Lamar irem buscar Anita para um encontro reservado com ele. O encontro inicial de Elvis e Anita não poderia ser mais despojado e despretensioso. Elvis a encontrou em seu boteco preferido, um local nos arredores de Memphis que vendia Hambúrgueres e refrigerantes chamado “Crystal Hamburgers”. Apresentações formais foram feitas e depois de um breve bate papo Elvis disparou: “Você gostaria de conhecer minha casa Graceland?” Um convite assim poderia obviamente ser muito ousado para a época, afinal garotas não iam para as casas de rapazes em seu primeiro encontro. Elvis porém foi cuidadoso ao explicar a Anita que vivia com seus pais em Graceland e que eles certamente estariam lá durante a visita. Anita Wood era uma típica garota sulista que prezava muito por sua reputação mas diante das circunstâncias acabou aceitando ir para a casa do cantor famoso.

Anita e Elvis se deram bem imediatamente. Ela tinha tido a mesma educação sulista que ele, gostava das mesmas piadas, tinham gostos parecidos por música e cinema e se entrosaram de uma maneira incrível desde o primeiro encontro. Além disso Anita cultivava uma imagem de moça de família, pura e virgem, que caiu como uma luva no ideal que Gladys imaginava para ser uma boa namorada para Elvis. Anita e Gladys se deram muito bem. Despojada Anita logo no primeiro encontro ajudou a mãe de Elvis com a arrumação da cozinha, ganhando muitos pontos com a futura sogra. Também se deu muito bem com Minnie Mae, a avó de Elvis, que morava com eles desde os tempos de dureza em Tupelo.

Elvis ficou gratificado, tinha a aprovação da família, gostava de Anita, adorava sua presença e em pouco tempo estava completamente apaixonado por ela. Não tardou a Gladys dizer a Elvis que “Anita era uma boa moça para ele”. O começo do namoro com Anita foi tão gratificante para Elvis que ele até parou de correr atrás de outros rabos de saia quando estava na estrada fazendo shows ou gravando discos. Mal chegava em uma nova cidade sempre ligava para as duas pessoas mais importantes para ele na época, Anita e Gladys, para dizer que tinha feito boa viagem e estava tudo bem. O romance em pouco tempo ficou sério e todos ao redor de Elvis acreditavam que mais cedo ou mais tarde ele se casaria com Anita.

Elvis gostava de se referir a Anita como “a minha pequena”. Quando estava em Memphis Anita Wood ficava ao seu lado 24 horas por dia, indo ao cinema, fazendo lanches em seu boteco preferido ou em casa, assistindo filmes e ouvindo música. Anita era presença constante como namorada, companheira e amiga de todas as horas. Depois quando Elvis começou a rodar seus primeiros filmes logo levou Anita com ele para Hollywood. Viviam juntos e continuaram assim por longos seis anos. De fato Anita só deixou Elvis quando esse realmente se decidiu por Priscilla Presley. Quando Elvis conheceu Priscilla na Alemanha ele ficou em uma dúvida incrível sobre qual das duas iria construir uma vida em comum. Embora tenha se apaixonado perdidamente pela adolescente durante seu serviço militar, Elvis não conseguia romper com Anita, tanto que quando voltou aos EUA foi recebido por sua família e Anita no aeroporto.

Depois da volta Anita percebeu que Elvis não era mais o mesmo. Gladys havia falecido alguns meses antes e Presley não conseguia superar essa perda. Para piorar Anita descobriu sobre a existência de Priscilla através de cartas de amor que achou casualmente em Graceland. Além disso o romance de Elvis com Priscilla, a adolescente de 14 anos, foi muito divulgado pela imprensa sendo simplesmente impossível ignorar tal fato. Sem intenções de ser traída por uma adolescente Anita confrontou Elvis durante uma viagem e o clima azedou. Presley ainda tentou amenizar toda a situação afirmando que Priscilla era “apenas uma criança” e o caso “não tinha importância” mas Anita não quis mais saber e colocou um ponto final no longo romance. Ela pensou que Elvis esqueceria sua aventura com Priscilla após retornar aos EUA mas isso efetivamente não aconteceu. Assim ela resolveu colocar um ponto final em seu relacionamento com o cantor. Elvis ficou desolado e com medo de entrar em uma profunda depressão bombardeou Priscilla com telefonemas tentando convencer seus pais a deixa-la vir morar em Graceland, obviamente para ficar no lugar deixado por Anita – Elvis era um homem que detestava ficar sozinho. Anita pegou suas coisas e deixou Graceland definitivamente logo no começo de 1962. Em poucas semanas chegava Priscilla para iniciar um longo caso com Elvis o que culminaria no casamento de ambos cinco anos depois.

O curioso é que Elvis ainda tentou algumas reaproximações com Anita mas foi mal sucedido. Ela estava cansada das traições, das meias verdades e da indefinição de Elvis em relação ao seu romance. O cantor parecia incapaz de partir para o próximo passo natural entre eles que seria logicamente o casamento. Com medo de ficar solteirona ao lado de uma pessoa infiel por natureza, Anita resolveu tocar o barco da sua vida em frente. Conheceu um novo pretendente e se casou com ele alguns anos depois. Só muitos anos depois, quando morava em uma cidadezinha chamada Vicksburg, no Mississippi e que ao ler o jornal matinal Anita soube da morte de Elvis. Ela ficou chocada e triste pelo acontecimento. Apesar de tudo ainda nutria um sentimento de carinho por Elvis.

Ao longo dos anos Anita sempre foi muito discreta sobre os anos que passou ao lado de Elvis Presley, sempre evitando falar sobre o ex namorado famoso mas recentemente abriu algumas exceções, concedendo algumas entrevistas esporádicas. Ela estava decidida quando rompeu com Elvis e nunca mais olhou para trás mas obviamente ficaram as boas lembranças ao lado do antigo namorado. Essas nunca se apagarão.

Pablo Aluísio. Elvis Presley - O Cruzeiro 
Durante as filmagens de Love Me Tender (Ama-me com Ternura no Brasil) Elvis recebeu a presença de Dulce Damasceno de Brito, jornalista correspondente da popular revista "O Cruzeiro". Dulce estava em Hollywood desde 1952 e realizava um jornalismo muito próximo do atual colunismo social. Seus textos sempre focavam no aspecto mais social da indústria americana de cinema.

Por isso ela sempre procurava manter uma aproximação não apenas profissional com seus entrevistados mas também pessoal, de amizade mesmo. Assim se tornou grande amiga e confidente de estrelas da época como a nossa Carmen Miranda, cuja uma de suas últimas entrevistas foi concedida justamente a Dulce.

Também foi essa postura que lhe valeu verdadeiros furos na época de ouro do cinema americano. Avesso a receber jornalistas o ator Marlon Brando abriu uma grande exceção a Dulce, a recebendo em casa para uma entrevista, chegando inclusive ao ponto de deixar seu filho Christian aos seus cuidados pessoais.

Simpática e acessível, pouco à vontade com o jornalismo de fofocas que imperava na capital do cinema Dulce foi formando amigos entre as principais estrelas. Com Elvis manteve uma postura semelhante e encontrou no cantor uma atitude de muita cordialidade, educação (ao melhor estilo sulista) e polidez. Elvis respondeu a tudo com muita simpatia e acessibilidade.

A entrevista girou em torno de amenidades, bem de acordo ao estilo de Dulce. Mal sabia ela que seria a única jornalista brasileira a entrevistar Elvis Presley durante toda sua carreira, um feito e tanto para Dulce e um momento ímpar para os fãs brasileiros do cantor.

Pablo Aluísio.