sábado, 8 de agosto de 2015

Alguém Lá em Cima Gosta de Mim

Título no Brasil: Alguém Lá em Cima Gosta de Mim
Título Original: Oh, God!
Ano de Produção: 1977
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Carl Reiner
Roteiro: Larry Gelbart, Avery Corman
Elenco: George Burns, John Denver, Teri Garr, Donald Pleasence, Ralph Bellamy, William Daniels

Sinopse:
Quando Deus aparece a um gerente assistente de mercearia como um velho de boa índole, o Todo-Poderoso o seleciona como seu mensageiro para o mundo moderno. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor roteiro adaptado (Larry Gelbart).

Comentários:
Filme mais do que simpático, na realidade é uma graça. Com muito bom humor (humor leve e divertido) acompanhamos um velhinho boa praça que na realidade é o própro Deus, descend na Terra para ver o que estaria acontecendo com a humanidade. Até hoje me lembro da cena final quando Deus (na interpretação maravilhosa do ator George Burns) se despede de seu pupilo e diz que vai andar por aí, pela natureza, para ver o que teria acontecido, o que fizeram com sua criação. Claro, uma mensagem ecológica, já naqueles tempos, década de 1970, quando isso nem era tão comum assim no cinema. Eu adorei esse filme e sempre recomendo. Nunca Deus surgiu tão carismático como vemos aqui. Uma maravilha mesmo!

Pablo Aluísio.

Frankenstein, o Monstro das Trevas

Título no Brasil: Frankenstein, o Monstro das Trevas
Título Original: Roger Corman's Frankenstein Unbound
Ano de Produção: 1990
País: Estados Unidos
Estúdio: The Mount Company
Direção: Roger Corman
Roteiro: Brian Aldiss, Roger Corman
Elenco: John Hurt, Raul Julia, Bridget Fonda, Jason Patric, Nick Brimble, Michael Hutchence

Sinopse:
A arma definitiva, que deveria ser segura para a humanidade, produz efeitos colaterais globais, incluindo deslizamentos no tempo e desaparecimentos. E nesse meio surge a lenda do Frankenstein.  E depois disso salve-se quem puder!

Comentários:
Eu me recordo que aluguei esse filme em uma locadora na época, ainda nos tempos das velhas fitas VHS e odiei, odiei o filme. Achei tudo muito ruim, com cenas absurdas como aquela em que o personagem de John Hurt passeia por uma aldeia medieval dentro de um carro moderno. Que porcaria era aquela? E o pior é que as pessoas daqueles tempos viam um carro moderno e achavam tudo muito natural. Completamente nonsense. O Roger Corman sempre foi o rei dos filmes B em Hollywood, filmes que fugiam dos padrões, mas no caso desse filme bem ruim ele certamente exagerou (e muito) na dose! E tem alguma coisa que preste? Tem o poster com os olhos costurados. Foi o que me fez alugar o filme... e quebrar a cara!

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros

O diretor Colin Trevorrow, que nunca tinha dirigido nada de importante antes na carreira, acabou realizando um filme bem genérico que não se importa em copiar descaradamente o formato e a fórmula do primeiro filme, dirigido por Steven Spielberg em 1993 (e lá se vão mais de vinte anos do lançamento original, estamos ficando mesmo velhos!). E qual seria essa fórmula antiga? Simples. Um parque de diversões temático, com dinossauros trazidos de volta à existência com a ajuda da tecnologia genética. Uma espécie de Disneyworld do mundo jurássico. Os bichanos expostos para o público formado basicamente por crianças e adolescentes. Entre eles estão dois irmãos, um pouquinho mais velho do que outro. Eles são sobrinhos de uma das executivas do Jurassic World. Aqui vemos a mão marota de Spielberg. Os dois garotos estão enfrentando o divórcio dos pais e a tiazona que mal tem tempo de dar atenção a eles mais parece uma mulher balzaquiana mal resolvida na vida que procura se afundar no trabalho para compensar a inexistência de um relacionamento sério e duradouro, com seus próprios filhos (Spielberg pelo visto ainda acredita na velha visão da mulher na cozinha, dona de casa, cuidando dos filhos, morando no subúrbio e sendo feliz! - Me poupe Sr. Midas do cinema).

Isso é o de menos, melhor esquecer os personagens "humanos". Jurassic World é um filme de efeitos digitais, efeitos especiais e tecnologia. A criançada não quer saber de garotos fedelhos e nem tiazonas com problemas de relacionamento e vida profissional, a meninada quer ver os dinossauros! Nesse aspecto o filme é até bem interessante, mas apenas no que se refere aos dinos que realmente existiram em uma época remota da existência do nosso planeta. Isso porque os roteiristas não se contentaram com a riqueza natural do mundo pré-histórico e resolveram criar um híbrido genético, uma criatura mais mortal e feroz que um T-Rex, mais esperto que um Velociraptor e mais sagaz que um animal comum, nascido e gerado pela mãe natureza. Assim seguindo a velha máxima em filmes de ficção em que seres humanos se dão muito mal ao mexerem com o mundo natural, as coisas logo viram pelo avesso. A super máquina de matar engana seus tratadores e foge de sua jaula. Em pouco tempo começa a comer todo humano que encontra pela frente e o mais incrível de tudo é que o faz apenas pelo sabor de matar (ou matar de forma esportiva como bem salienta um futuro bife do bichão). Quando começa a matança é melhor você esquecer qualquer tentativa de achar um fiapo de roteiro pela frente. Vira tudo a mesma coisa, a turma corre de um lado para o outro e os dinossauros correm atrás de comida rápida e fácil. O banquete de carne humana está servido! "Jurassic World" não consegue ser um grande filme, mas rendeu horrores nas bilheterias, provando mais uma vez que não adianta procurar muito por inteligência nas filas de cinemas comerciais. Ela está definitivamente extinta na cabeça desse povo todo!

Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World, Estados Unidos, 2015) Direção: Colin Trevorrow / Roteiro: Rick Jaffa, Amanda Silver, baseados na obra de Michael Crichton / Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Ty Simpkins / Sinopse: Mais um filme da franquia cinematográfica de grande sucesso Jurassic Park. Os dinossauros estão de volta e estão vorazes.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Cold Mountain

"Cold Moutain" narra a estória de duas mulheres que, sozinhas, terão que enfrentar o desafio de sobreviver em um dos períodos mais conturbados da história norte-americana. A Guerra Civil levou todos os homens para o campo de batalha. Para trás ficaram apenas as mulheres, crianças e idosos, tentando levar em frente suas propriedades rurais da melhor forma possível. Ada (Nicole Kidman) é uma dessas mulheres. Ao lado de Ruby (Renée Zellweger) ela tenta tocar a fazenda deixada por seu pai. Não é algo fácil ou simples. Como se não bastassem os efeitos danosos da guerra elas ainda tem que lidar com o clima hostil e a falta de uma melhor infra-estrutura na região, o que torna tudo mais complicado. Ada tem esperanças que seu namorado Inman (Jude Law) volte vivo do front mas tudo se torna incerteza e apreensão. Enquanto o país se destroça a pequena vila de Cold Mountain tenta sobreviver ao caos em volta. "Cold Mountain" é um bom filme mas há alguns aspectos importantes a se considerar. Há um certo artificialismo na condução do roteiro. As situações em cena tentam imitar os grandes épicos clássicos do passado mas o resultado pode ser definido como irregular.

O projeto original tencionava ser estrelado por Tom Cruise e Nicole Kidman. Como eles tinham muitos problemas pessoais envolvidos, Cruise desistiu do filme, ficando apenas Nicole que sinceramente acreditava no bom roteiro. Seu objetivo era voltar ao topo, quem sabe até vencer um Oscar, pois seu papel era suficientemente forte e complexo para tal. Curiosamente ela acabou sendo esnobada pela Academia que resolveu premiar Renée Zellweger com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Uma premiação controvertida pois em nenhum momento gostei plenamente de seu trabalho. O fato é que ela definitivamente confundiu um pouco o tipo de produção que participava. Sua personagem, a irascível Ruby, caiu na caricatura. Renée Zellweger surge exagerada em cena, com muitas caras e bocas e um sotaque completamente exagerado, beirando a fanfarronice. Quando ela foi premiada não fiquei menos do que surpreso. Em minha opinião Nicole Kidman está muito melhor. Ela certamente continua com aquela classe que lhe é inerente. Enquanto sua partner exagera para aparecer ela surge com fina delicadeza. Já Jude Law é o tipo de ator que nunca me agradou completamente. No saldo final "Cold Mountain" é sim um bom filme, que diverte mas que ficou no meio do caminho para se tornar uma obra importante. Enfim, entre mortos e feridos "Cold Mountain" apesar de não ser brilhante mantém um certo status. Vale a pena conhecer.

Cold Mountain (Cold Mountain, Estados Unidos, 2003) Direção: Anthony Minghella / Roteiro: Anthony Minghella / Elenco: Nicole Kidman, Renée Zellweger, Jude Law, Natalie Portman, Philip Seymour Hoffman, Giovanni Ribisi, Ray Winstone./ Sinopse: Durante a Guerra Civil duas mulheres tentam sobreviver ao caos reinante. Tentando levar a propriedade de seu pai em frente, a bela e jovem Ada (Nicole Kidman) e sua parceira Ruby (Renée Zellwegger) enfrentarão muitos desafios juntas. Vencedor do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (Renée Zellwegger, contando ainda com indicações para Melhor Ator (Jude Law), Fotografia, Edição, Trilha Sonora e Melhor Canção Original ("Scarlet Tide" por Elvis Costello e "You Will Be My Ain True Love" por Sting);

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Mad Max - Estrada da Fúria

Título no Brasil: Mad Max - Estrada da Fúria
Título Original: Mad Max - Fury Road
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos, Austrália
Estúdio: Village Roadshow Pictures
Direção: George Miller
Roteiro: George Miller, Brendan McCarthy
Elenco: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult, Hugh Keays-Byrne, Riley Keough
  
Sinopse:
Max Rockatansky (Tom Hardy) vaga por um mundo destruído e sem esperanças. Os bens mais valiosos do que restou da humanidade e da civilização são a gasolina para os motores e a água para a sobrevivência em um mundo deserto e hostil. Durante sua jornada ele acaba sendo feito prisioneiro por uma comunidade liderada por Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), um homem conhecido por sua violência e pulso de ferro para com os seus prisioneiros de guerra, que usa como meras bolsas de sangue para seus guerreiros feridos. Tentando escapar de suas garras a jovem combatente Furiosa (Charlize Theron) resolve fugir para o deserto usando uma de suas máquinas de guerra. Com ela segue um grupo de jovens que se transformaram com os anos em verdadeiras escravas sexuais de Joe. Para Max essa pode ser a chance de finalmente recuperar sua liberdade perdida, mesmo que antes disso ele precise sobreviver a uma caçada mortal pelas areias do deserto.

Comentários:
É incrível que mesmo após tantos anos o diretor George Miller tenha sido tão inovador em uma franquia que ele mesmo criou, lá nos distantes anos 1970. Miller poderia ter optado por realizar um reboot preguiçoso, sem maiores inovações, até mesmo porque ele com a trilogia "Mad Max" original já entrou definitivamente na história do cinema. Seu grande mérito foi não ter se acomodado nas glórias passadas, procurando reinventar a todo momento sua maior criação. Esse novo filme é um primor de inovação. O diretor optou por uma linguagem bem mais moderna, histérica, insana e sem controle. Não há momentos para pausas ou descansos na mente do espectador. "Mad Max - Fury Road" é pura pauleira, da primeira à última cena. É literalmente um veículo sem freios cruzando o deserto sem fim. O enredo é simples, como convém a esse tipo de filme de ação, mas isso em nenhum momento surge como um defeito, pelo contrário, em torno de sua história nitidamente simplória Miller acelera e explode a tela com sensacionais cenas de puro impacto narrativo. Optando por um fotografia saturada e excessiva, o diretor acabou criando um mundo pós-apocalíptico como poucas vezes se viu. A questão é que esse tipo de estilo cinematográfico foi praticamente todo criado por Mad Max e após tantos anos de imitações baratas o produto que deu origem a tudo poderia soar banal e repetitivo. Para evitar esse tipo de armadilha Miller procurou inovar e nesse processo acabou sendo realmente brilhante.

Ouso até escrever que esse filme só não é superado pelo original de 1978 e isso por causa de sua importância histórica. Em termos de fluidez e ritmo nenhum outro filme da série se assemelha a nada do que se vê por aqui. Miller transformou acidentes espetaculares em pura obra de arte visual, totalmente alucinada, mas mesmo assim de uma beleza incrível! O elenco também se destaca, a começar por Charlize Theron. Para interpretar a guerreira Furiosa ele teve que ter parte de seu braço apagado digitalmente. Um trabalho visual simplesmente perfeito. Tom Hardy como o novo Max tampouco decepciona. Suas cenas iniciais mostram bem a luta pela sobrevivência nesse mundo em ruínas. O ator, que teve inúmeros problemas relacionados a abuso de drogas no passado, confessou depois em entrevistas que acabou se identificando com o estilo alucinante do filme. É bem por aí mesmo, o novo "Mad Max" chega a ser lisérgico! Caótico é pouco para definir. O resultado de tantas peças chaves bem colocadas no tabuleiro da produção se traduziu em um belo sucesso de público e crítica, a tal ponto que o estúdio já anunciou sua continuação, "Mad Max - The Wasteland" com a mesma equipe técnica e elenco. Se Mad Max continuar tão bom como nesse "Fury Road" novas sequências serão mais do que bem-vindas.

Pablo Aluísio.

Corrente do Mal

Título no Brasil: Corrente do Mal
Título Original: It Follows
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Northern Lights Films
Direção: David Robert Mitchell
Roteiro: David Robert Mitchell
Elenco: Maika Monroe, Keir Gilchrist, Olivia Luccardi
  
Sinopse:
Jay Height (Maika Monroe) é uma garota como qualquer outra de sua idade. Entre a escola e a sua casa ela começa a ter seus primeiros namorados, entre eles um jovem atraente que a leva para o cinema no fim de semana. O que Jay nem desconfia é que o tal bonitão na verdade deseja se livrar de uma maldição terrível que lhe foi passada após praticar sexo casual com uma desconhecida numa boate. Após dopar sua companheira o sinistro jovem, que muito provavelmente tenha até mesmo inventado um nome falso, lhe informa que agora ela está condenada a ver aparições de almas penadas vindo em sua direção! O que ela deve fazer quando isso acontecer? Correr o mais rapidamente que puder para salvar sua vida...

Comentários:
Bom, você certamente já ouviu falar em doenças sexualmente transmissíveis, certo? Claro que sim. O que você obviamente nunca ouviu falar foi em assombrações sexualmente transmissíveis, não é mesmo? Pois então fique sabendo que o roteiro desse filme usa justamente essa estranha ideia para compor seu bizarro enredo. Imagine um grupo de jovens, com os hormônios em ebulição... agora pense no que eles estariam fazendo em suas horas vagas... Ora, transando entre si, é claro! O problema é que junto com o prazer vai também uma maldição, um terrível fardo de ver pessoas mortas em todos os lugares e o pior, vindo em sua direção! O argumento esquisito, criado pelo próprio diretor que também assina o roteiro, não parece muito comum, tanto que já houve até quem quisesse comparar o estilo fora dos padrões desse cineasta praticamente novato com o diretor M. Night Shyamalan, o que convenhamos é um pouco demais da conta. Talvez o ritmo lento, quase contemplativo da narrativa tenha levado alguns a levantar essa esdrúxula comparação!

De qualquer maneira, como pura experiência cinematográfica, esse terror até que tem algumas coisinhas interessantes. Se não chega a ser bom, pelo menos a tentativa de levar adiante uma história tão estranha já é por si só um ponto positivo a favor. Outro fato que me chamou atenção é que o diretor e roteirista Mitchell não parece muito preocupado em explicar nada, a questão é simplesmente colocada em cena, os mortos vão surgindo e acabou. Não se sabe de onde estão vindo, o que querem, como seria possível quebrar esse encanto macabro, nada... assim tudo parece como uma bizarra condenação para esses esses jovens que transaram com quem não deveriam. Um moralismo disfarçado tentando fazer uma estranha analogia com a AIDS? Quem vai saber... acho que nem o próprio diretor saberia responder a esse tipo de pergunta. De uma forma ou outra a moral da história é a de que sempre é bom usar camisinha, vai que numa bobeira você acabe pegando uma maldição dos diabos dessa pela frente...

Pablo Aluísio.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Preto e Branco

Título no Brasil: Preto e Branco
Título Original: Black or White
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Relativity Media
Direção: Mike Binder
Roteiro: Mike Binder
Elenco: Kevin Costner, Octavia Spencer, Gillian Jacobs, Bill Burr, Mpho Koaho
  
Sinopse:
Elliot Anderson (Kevin Costner) é um advogado quase aposentado que precisa lidar com a maior tragédia de sua vida, a morte de sua esposa em um acidente de trânsito. A questão se torna ainda mais delicada porque Elliot agora terá que criar sozinho sua jovem neta, uma menina negra, fruto de um relacionamento complicado de sua filha, também já falecida, com um rapaz desajustado que simplesmente foi embora após seu nascimento. A morte de sua esposa faz com que a avó paterna da garota, Rowena Jeffers (Octavia Spencer), passe a exigir a presença de sua neta em sua casa, já que em sua opinião a menina precisa agora de uma nova figura materna como referência. A idéia não parece ser a ideal para Elliot, o que acaba desencadeando uma tensão racial entre as duas famílias da menina que são de etnias e origens bem diferentes. Filme vencedor do African-American Film Critics Association (AAFCA) na categoria de Melhor Atriz (Octavia Spencer). Também indicado ao Black Reel Awards.

Comentários:
Em pouco menos de seis meses dois filmes estrelados por Kevin Costner, ambos enfocando questões raciais, foram lançados nos cinemas americanos. Em "McFarland dos EUA" (já comentado aqui no blog) tínhamos um treinador americano branco que enfrentava o desafio de treinar uma equipe formada por jovens latinos pobres. Em "Black or White" mais uma vez o mesmo argumento vem à tona, só que ao invés de explorar o problema do latino imigrante das periferias das grandes cidades, temos a tensão racial entre um advogado branco, avô de uma netinha negra e a família dela por parte de pai, que deseja ter a guarda da garotinha, mas sem o seu apoio. Quando isso acontece começam os questionamentos: Seria ele um racista, a tal ponto de negar a convivência da menina com seus parentes negros que moram numa região mais pobre e humilde da cidade? Ou apenas um sujeito devastado pela morte da esposa que não quer mais problemas em sua vida? O roteiro deixa claro desde o começo que o personagem de Costner não é um racista, mas um homem que está decidido a vencer na disputa pela guarda da criança. E quando esse tipo de disputa surge em um tribunal todas as armas parecem válidas, principalmente quando os advogados de sua avó negra (em excelente atuação de Octavia Spencer) decidem jogar sujo. A questão mais importante desse filme, principalmente para o profissional da área jurídica, é demonstrar que a ética precisa se impor ao simples desejo de vencer uma ação judicial.

Não é inventando mentiras ou impondo uma verdadeira chantagem social e emocional sobre o magistrado que se conseguirá realizar a verdadeira justiça. Há limites e esses devem ser respeitados. Qualificar alguém de racista apenas por ele ser um branco que deseja continuar com a guarda da neta negra é, além de uma calúnia infame, também um vitimismo fora de propósito, que ultrapassa qualquer tipo de ética profissional. No mais, gostei bastante da atuação de Kevin Costner. Seu personagem tem problemas com bebidas, é um bom homem, mas que se vê no meio de uma luta bem sórdida para falar a verdade. Octavia Spencer também se destaca mais uma vez. Uma atriz com muita expressividade. Sua personagem também não é a de uma má pessoa, mas apenas uma avó preocupada com o destino da criação de sua neta e que nesse processo acaba fazendo concessões demais aos seus advogados. Além deles há vários personagens secundários bem interessantes, como o jovem professor de matemática (interpretado pelo talentoso Mpho Koaho). Assim no final o que temos aqui é um roteiro articulado, bem honesto, que toca em um tema extremamente delicado. Um bom filme, ideal para uma reflexão posterior bem sincera sobre os rumos que a sociedade anda trilhando ultimamente sobre a questão racial. 

Pablo Aluísio.

Frontera

Título Original: Frontera
Título no Brasil: Ainda Não Definido
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Magnolia Pictures
Direção: Michael Berry
Roteiro: Michael Berry, Louis Moulinet
Elenco: Ed Harris, Eva Longoria, Michael Peña, Amy Madigan
  
Sinopse:
Roy (Ed Harris) é um xerife aposentado que toca sua propriedade rural no Arizona, localizada bem na fronteira entre Estados Unidos e México. O lugar acaba virando rota de imigrantes ilegais mexicanos que atravessam o deserto em busca de uma vida melhor nas cidades americanas. Durante uma cavalgada a esposa de Roy, Olivia (Amy Madigan), encontra dois mexicanos tentando atravessar a fronteira e resolve lhes ajudar, oferecendo água e um cobertor. Para seu azar um grupo de adolescentes, usando os rifles de seu pai, atiram nos mexicanos, mas acaba assustando o cavalo de Olivia, que cai e bate com a cabeça nas pedras de um riacho seco. O trágico acontecimento desencadeia uma série de eventos de consequências imprevisíveis. Filme vencedor do Women Film Critics Circle Awards.

Comentários:
Muito bom esse filme passado no moderno oeste americano. O roteiro explora o drama dos imigrantes ilegais mexicanos que arriscam suas vidas todos os dias em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos. O enredo assim acaba mostrando a vida de dois casais que vivem em lados opostos da fronteira. O casal americano é formado por Roy (Ed Harris) e Olivia (Amy Madigan). Eles possuem uma pequena fazenda na fronteira. É justamente lá que o ex-xerife Roy aproveita sua aposentadoria ao lado da mulher que sempre amou. O casal mexicano é formado por Miguel (Michael Peña) e Paulina (Eva Longoria). Com a esposa grávida e sem trabalho, Miguel resolve fazer a travessia da fronteira em busca de uma vida melhor, passando pelo deserto do Arizona e no meio das terras de Roy. Um trágico acontecimento acaba unido o destino de todos eles. Um dos bons motivos para se assistir a esse filme é a narrativa que mostra em detalhes os problemas sociais que criam esse tipo de imigração e a exploração dos coiotes, criminosos que vivem de extorquir e explorar a miséria alheia, realizando um verdadeiro tráfico de seres humanos naquela região. Quando a esposa de Roy morre após cair do cavalo a polícia americana logo coloca a culpa nos mexicanos, mas Roy, policial experiente e com muitos anos de investigações nas costas, não fica convencido com a conclusão oficial do xerife e resolve ir atrás, ele mesmo, em busca de respostas. Acaba descobrindo que há muito mais por trás dos acontecimentos, como ele inicialmente desconfiava. O elenco é muito bom e dois membros do elenco se destacam. O primeiro é o sempre ótimo Ed Harris. Ele interpreta esse velho xerife de poucas palavras, mas com muita experiência de vida. Tentando manter sempre sua postura de homem durão ele engole sua dor e vai em busca dos verdadeiros fatos que envolveram a morte de sua esposa de longos anos. O outro destaque vem da atriz Eva Longoria que interpreta Paulina, uma mexicana que tenta atravessar a fronteira com ajuda de coiotes e acaba sofrendo todos os tipos de abusos possíveis, inclusive de natureza sexual. Um retrato cruel, mas sincero, de um drama humano que ocorre todos os dias entre esses dois países, tão próximos e tão diferentes entre si.

Pablo Aluísio.