domingo, 24 de janeiro de 2021

O Destino do Poseidon

Título no Brasil: O Destino do Poseidon
Título Original: The Poseidon Adventure
Ano de Produção: 1972
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Ronald Neame
Roteiro: Paul Gallico, Stirling Silliphant
Elenco:  Gene Hackman, Ernest Borgnine, Shelley Winters, Roddy McDowall, Pamela Sue Martin, Red Buttons

Sinopse:
Um grande navio de passageiros, o Poseidon, é levado ao limite por seu novo proprietário. Atingido por um enorme maremoto em alto-mar, o navio acaba virando de cabeça para baixo, com todos os tripulantes e passageiros a bordo. Depois da tragédia o corajoso reverendo Scott (Hackman) passa então a levar um grupo de sobreviventes em uma jornada pelas entranhas do navio na tentativa de achar uma saída para fora da embarcação prestes a afundar.

Comentários:
Sinceramente perdi as contas de quantas vezes eu assisti a esse filme durante os anos 80. Esse marcante exemplar do chamado "cinema-catástrofe" era figurinha fácil na programação da Rede Globo naquela década. E em um tempo em que não existia o filme do Titanic, esse "O Destino do Poseidon" era considerado um dos melhores filmes sobre o afundamento de um grande Transatlântico. E as semelhanças não eram gratuitas. De certa maneira o enorme Poseidon era mesmo o Titanic. A mesma história, só que passada em uma época diferente. Os especialistas em efeitos especiais tiveram um trabalho e tanto para recriar na tela um navio imenso virando de ponta cabeça, enquanto seus sobreviventes tentavam sair vivos daquele enorme desastre. E nem faltava o construtor arrogante dizendo que "Nem Deus poderia afundar o Poseidon!" (mesma frase atribuída ao dono da empresa ao qual pertencia o Titanic da história real). E para finalizar não poderíamos deixar de citar o numeroso elenco de veteranos do cinema. Dentro do script padrão do cinema-catástrofe dos anos 70 isso fazia parte da fórmula. Tinha sido assim com "Aeroporto", "Inferno na Torre" e outros filmes desse nicho. Não deixava de ser divertido ver todos aqueles astros e estrelas do passado, agora bem mais envelhecidos, sendo tragados por mais uma tragédia no cinema. Era sinônimo também de gordas bilheterias. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Canção Original ("The Morning After") e Melhores Efeitos Especiais (L.B. Abbott).

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de janeiro de 2021

O Mundo da Fantasia

Belo musical da Fox com Marilyn Monroe. Temos aqui aquele tipo de produção em que todos os talentos foram reunidos pelo estúdio em apenas um filme. Basta analisar a ficha técnica para entender bem isso. As canções foram escritas por um dos maiores compositores da história da música americana, Irving Berlin. A direção foi entregue a Walter Lang, um verdadeiro artesão da sétima arte. A produção ficou a cargo do célebre Sol C. Siegel, uma pessoa tão importante na história de Hollywood que virou até nome de prêmio e para completar temos Marilyn Monroe dançando, cantando e atuando, tudo de forma simplesmente magistral. É muito interessante quando vejo alguém falando que Marilyn não tinha talento e que o segredo de seu sucesso se resumia unicamente ao fato de ter sido uma bela mulher! Será que uma pessoa que emite uma opinião dessas realmente conhece os filmes da estrela? Acredito que não, já que basta assistir a esse filme para compreender totalmente a extensão do talento da atriz. Ela está, repito, simplesmente fenomenal nesse filme!
 
Marilyn Monroe interpreta Vicky Parker, uma simples chapeleira de uma casa noturna que sonha um dia ser uma estrela da Broadway. Para isso ela não mede esforços. Quando descobre que um famoso produtor está no local onde ela trabalha, pede uma chance ao dono do estabelecimento para apresentar um número, cantando e dançando ao velho estilo. A partir daí as portas vão se abrindo para ela no mundo do Show Business. Claro que o grande atrativo desse musical hoje em dia provém do fato de Marilyn estar no elenco, mas é bom salientar que ela não é o ponto central da trama que gira mesmo em torno de uma família de artistas, os Donahues.

Eles vivem no mundo do Vaudeville e sonham também um dia com as marquises dos grandes espetáculos dos EUA - entenda-se Broadway em Nova Iorque. O filme em si é maravilhoso, lindas canções, coreografias de alto nível e uma direção de arte e musical de encher os olhos. De certa forma a produção tentava resgatar o clima dos grandes musicais das décadas de 30 e 40 que naquele momento já sofriam bastante com uma acentuada queda de bilheteria. De uma forma ou outra, não há como negar o charme e o carisma desse filme. É aquele tipo de musical que deixará você mais leve e feliz no final da exibição.

O Mundo da Fantasia (There's No Business Like Show Business, Estados Unidos, 1954) Direção: Walter Lang / Roteiro: Phoebe Ephron, Henry Ephron / Elenco: Ethel Merman, Marilyn Monroe, Donald O'Connor / Sinopse: Uma família de artistas cresce sob as luzes dos grandes espetáculos musicais nos Estados Unidos, enquanto uma humilde chapeleira de uma casa noturna sonha em um dia se tornar uma grande estrela da Broadway. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro, Melhor Figurino (Charles Le Maire, Travilla e Miles White) e Melhor Música (Alfred Newman e Lionel Newman).

Pablo Aluísio. 

O Bárbaro e a Geisha

O roteiro desse filme é baseado numa história real. O ano é 1856. O primeiro diplomata americano é enviado para o Japão. O país asiático ficou séculos isolado do resto do mundo, com uma grande aversão a estrangeiros em geral. Townsend Harris (John Wayne) assim precisa quebrar muitas barreiras, inclusive culturais. Ele chega numa cidade da costa japonesa acompanhado apenas por um intérprete. Logo nos primeiros dias ele sente toda a hostilidade do governador local. Ele se recusa a reconhecer Harris como agente diplomático e pior do que isso, começa a fazer de tudo para que ele vá embora. As coisas só começam a mudar quando Harris age em favor do povo em um surto de cólera, doença desconhecida pelos japoneses, mas que Harris sabe muito bem como combater - chegando ao ponto de incendiar praticamente toda uma vila para erradicá-la da região.

Esse é um filme muito interessante assinado pelo mestre John Huston. Na época de seu lançamento original alguns fãs de John Wayne não gostaram muito do resultado, afinal o filme de uma maneira em geral não era bem o que Wayne estava acostumado a fazer. É um drama romântico, com ênfase nas primeiras aproximações políticas entre japoneses e americanos. O roteiro trabalhava bem também no relacionamento entre o diplomata americano e uma gueixa japonesa, enviada para servi-lo pelo governador geral.

Outro ponto positivo ao meu ver foi mostrar o primeiro encontro entre o cônsul interpretado por Wayne e o imperador japonês, um jovem de apenas 17 anos de idade! O choque cultural se tornou inevitável. Harris (Wayne) quer que o imperador assine um tratado de mútua cooperação internacional entre os dois países, o que desperta a ira dos poderosos que rejeitam completamente a ideia. Bem fotografado, com ótima produção, esse filme pode até ser um ponto fora da linha do tipo de filme que John Wayne era acostumado a estrelar, porém suas qualidade cinematográficas (e diria até históricas) são inegáveis. Mais um excelente filme de John Huston, um dos grandes diretores da história de Hollywood. Era um gênio da sétima arte.

O Bárbaro e a Geisha (The Barbarian and the Geisha, Estados Unidos, 1958) Direção: John Huston / Roteiro: Charles Grayson, Ellis St. Joseph / Elenco: John Wayne, Eiko Ando, Sam Jaffe, Sô Yamamura / Sinopse: O filme conta a história do diplomata Townsend Harris (John Wayne). No século XIX ele se torna o primeiro agente diplomático dos Estados Unidos a chegar ao Japão. Seu objetivo é instalar um consulado, fazendo com que o imperador japonês assine um tratado de aproximação com o governo de seu país, só que desde o primeiro dia em que chega em solo japonês, Harris começa a ser hostilizado pelo povo e pelas autoridades da região, inclusive pelo governador Tamura (Sô Yamamura) que fará de tudo para ele ir embora.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Museu de Cera

"Museu de Cera" é um clássico do terror. Na trama temos Henry Jarrod (Vincent Price), um artesão talentoso, que transforma bonecos de cera em retratos quase perfeitos de personagens históricos. Maria Antonieta, Joana d'Arc e Abraham Lincoln são algumas da figuras históricas que ele esculpiu em cera para serem exibidas em seu próprio museu. Seu sócio porém tem outros planos. Ele está de olho no dinheiro do seguro. Por essa razão resolve promover um grande incêndio, algo que deixa Jarrod severamente ferido e deformado pelas chamas. Agora, recuperado, ele parte para sua vingança pessoal contra todos que fizeram esse atentado contra sua arte e sua vida. Esse filme é um dos clássicos de terror mais lembrados da carreira de Vincent Price. O enredo gira em torno desse artista muito diferente, um mestre em criar figuras de cera com extrema fidelidade, a tal ponto de levar a todos a pensarem se estão mesmo na presença de uma peça de cera ou de um ser humano real. Após entrar em atrito com seu desonesto sócio, um sujeito que só pensa em queimar todo o museu de cera para receber o seguro, Henry Jarrod (Vincent Price) vê suas pretensões de ser um grande artista queimarem em um inferno em chamas. Deformado pelo fogo e transformado em um ser de aparência repugnante (o que contrasta enormemente com a beleza de sua arte) ele ainda não se sente pronto a abandonar suas ambições artísticas.

Após se vingar daqueles que o destruíram ele resolve voltar. Como é um artesão em recriar rostos e formas humanas cria uma máscara para esconder as deformidades de sua própria face, arranja um novo sócio e abre um novo museu de cera, só que essa vez bem diferente, com uma seção especializada em horrores que refaz todas as cenas dos maiores crimes da história. O que é desconhecido do público é que Henry Jarrod perdeu sua capacidade de criar figuras em cera após ter suas mãos queimadas no incêndio. Assim ele decide usar outra técnica para produzir suas novas "obras de arte" - isso mesmo, corpos humanos de verdade! Essa produção foi alvo de um remake há poucos anos, mas aquele roteiro tinha pouco a ver com essa produção original. Aqui o foco é todo voltado para as ambições de um artista que só pretendia refazer o belo em cera, mas que pelas circunstâncias de sua vida trágica teve que abraçar o grotesco e o horror!

Vincent Price usa uma bem feita máscara, que dá ao seu personagem uma face monstruosa. O ator usa de seu charme e elegância naturais para interpretar o gentil artista que no fundo esconde um terrível segredo. Charles Bronson também está no elenco interpretando Igor, o assistente mudo e com problemas mentais de Jarrod. Completando o elenco ainda temos Carolyn Jones, que se imortalizou como a Morticia Frump Addams da série de grande sucesso na TV americana, "A Família Addams". Tecnicamente o filme é muito bem realizado, com cenários bem construídos. Também foi um dos primeiros filmes da história a usar uma rudimentar tecnologia 3D. Você vai perceber bem isso em algumas cenas que parecem gratuitas, como a do animador com bolinhas de pingue-pongue que as fica atirando propositalmente em direção à tela. A única coisa que não me agradou muito do ponto de vista técnico nesse "House of Wax" foi sua trilha sonora incidental. Com uma linha de flauta irritante em sua melodia ela acabou atrapalhando um pouco justamente nos momentos mais tensos da estória. Mesmo assim, não é algo com se preocupar, pois não chega a ser um problema. No fundo é apenas fruto de uma época. Enfim, de maneira em geral é um terror muito bom, com aquele charme nostálgico que só melhorou com os anos. Não é de se admirar que seja um filme tão cultuado pelos fãs de terror até os dias de hoje!

Museu de Cera (House of Wax, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Warner Bros / Direção: André De Toth / Roteiro: Crane Wilbur, Charles Belden / Elenco: Vincent Price, Carolyn Jones, Charles Bronson, Phyllis Kirk / Sinopse:  Talentoso artista, especializado em fazer bonecos de cera de pessoas famosas da história, acaba ficando deformado por causa de um incêndio causado por seu sócio. Ao sobreviver as chamas decide então promover sua vingança contra todos aqueles que lhe fizeram mal no passado.

Pablo Aluísio.

O Pior Calhambeque do Mundo

Título no Brasil: O Pior Calhambeque do Mundo
Título Original: The Wackiest Ship in the Army
Ano de Produção: 1960
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Richard Murphy
Roteiro: Richard Murphy, Herb Margolis
Elenco: Jack Lemmon, Ricky Nelson, John Lund, Chips Rafferty, Tom Tully, Warren Berlinger

Sinopse:
Durante a II Guerra Mundial a Marinha dos Estados Unidos decide colocar de volta à ativa um velho submarino que já estava indo para a sucata. Sua missão passa a ser executar um plano secreto em pleno mar territorial do Japão.

Comentários:
O filme, devo confessar, é menos engraçado do que deveria ser (ou pelo menos do que me lembrava!). O que é curioso pois me lembro de tê-lo assistido uma vez na Sessão da Tarde durante os anos 70 e minhas lembranças eram de um filme bem mais divertido do que me pareceu nessa nova revisão. Provavelmente seja mais engraçado mesmo para um adolescente do que para uma pessoa mais velha. Agora, se tem algo que continua bem válido, é a carismática presença do ator Jack Lemmon. Esse tinha o tom da simpatia, do bom humor. Ele compensa qualquer falha maior do roteiro apenas com sua presença em cena. E para quem gosta do pop / rock mais inocente dos anos 50 e 60 o filme ainda tem a presença do cantor e ídolo adolescente da época Ricky Nelson. Com Elvis Presley longe, servindo o exército americano na Alemanha, ele chegou a disputar popularidade entre os mais jovens com o próprio Rei do Rock, quem diria... No mais o filme vale por algumas piadas e as boas cenas realizadas em alto mar, só que aqui com submarinos clássicos da II Guerra Mundial, fazendo papel de velhas banheiras do oceano. Os admiradores de história militar certamente não ficarão muito contentes com isso.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A Noite do Iguana

Mais um excelente filme assinado pelo mestre John Huston. O projeto foi inicialmente desenvolvido para ser estrelado por Marlon Brando, mas esse desistiu de assumir o personagem do reverendo perturbado por estar envolvido em muitos problemas pessoais na época. Uma pena pois o filme parecia muito adequado a ele já que o roteiro era baseado em mais uma peça do genial Tennessee Williams. Como se sabe esse grande autor da dramaturgia americana gostava de colocar todos os seus personagens em situações quase banais, mas que seduzia o espectador basicamente pela grande força de seus diálogos inteligentes e instigantes, discutindo as grandes questões universais. A fórmula havia dado tão certo em outros grandes textos de Williams e voltava a funcionar maravilhosamente bem aqui, tudo abrilhantado pelas ótimas atuações de Richard Burton (em grande forma profissional) e Ava Gardner (praticamente uma força da natureza). Dois grandes astros do cinema americano, bem populares, que a despeito da fama aceitaram interpretar esses personagens um tanto marginais no meu ponto de vista. Não era algo fácil de se fazer, ainda mais partindo de atores que tinham que manter uma certa imagem limpa para a sociedade. Atravessar a linha oposta poderia significar muito em termos de bilheteria. Eles porém foram em frente.

A trama se passa em uma pousada decadente localizada em um distante vilarejo. É lá que vai parar o Reverendo Shannon (Richard Burton). Em crise de fé, ele acaba tendo que lidar com as três fortes mulheres que convivem no local. A primeira é Maxine (Ava Gardner). Independente, liberada sexualmente, não consegue transpor esse espírito livre para sua personalidade emocional que muitas vezes se revela sem força. Sue Lyon (a atriz que ficou famosa internacionalmente em “Lolita”) interpreta Charlotte Goodall, uma jovem sexualmente atraente que não se importa muito com as consequências de suas atitudes irresponsáveis. Por fim há Hannah Jelkes (Deborah Kerr), uma artista que deseja viver de sua arte, misturando geralmente sua obra com sua própria vida pessoal. “A Noite do Iguana” não nega sua origem teatral em nenhum momento. A força do filme vem justamente dos diálogos que vão dissecando as pequenas e grandes hipocrisias da sociedade como um todo. Um filme belamente bem escrito que merece ser redescoberto pelos amantes da sétima arte.

A Noite do Iguana (The Night of the Iguana, Estados Unidos, 1964) Direção: John Huston / Roteiro: Anthony Veiller, baseado na peça escrita por Tennessee Williams / Elenco: Richard Burton, Ava Gardner, Deborah Kerr, Sue Lyon, Grayson Hall / Sinopse: Em uma pousada decadente de um balneário isolado quatro personagens se enfrentam entre si, discutindo sobre as pequenas e grandes questões da existência humana. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Figurino. Também indicado nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Atriz Coadjuvante (Grayson Hall).

Pablo Aluísio.

Nas Garras do Ódio

Título no Brasil: Nas Garras do Ódio
Título Original: The Nanny
Ano de Produção: 1965
País: Inglaterra
Estúdio: Hammer Films
Direção: Seth Holt
Roteiro: Jimmy Sangster
Elenco: Bette Davis, Wendy Craig, Jill Bennett, James Villiers, William Dix, Pamela Franklin

Sinopse:
Baseado na novela de suspense escrita por Marryam Modell, o filme conta a história de antipatia que um garotinho nutre pela mulher que foi babá de sua mãe e que continuou a morar com a família, mesmo após muitos anos. O menino é problemático e acusa a babá de ter matado sua irmã.

Comentários:
Um combinação interessante. A Hammer Films, produtora especializada em filmes de terror como Drácula, etc, contratou a atriz  Bette Davis nos anos 1960 para atuar nessa produção de suspense. O roteiro mostra uma família bem disfuncional. A mãe sofre de depressão e não consegue lidar com os problemas do dia a dia. O marido é um sujeito distante que não aguenta passar muito tempo naquela casa e o filho, bem, o filho é o mais problemático de todos. Rebelde, mimado, ofensivo, ele odeia a babá da sua mãe (interpretada por Davis) que continuou morando com ela, mesmo já adulta e casada. O menino afirma que ela matou sua irmã em circunstâncias mal esclarecidas. Assim o roteiro deixa tudo no ar: o garoto seria apenas um moleque mal criado, mentiroso e infernal ou estaria mesmo dizendo a verdade? Bette Davis, já na velhice, como sempre, tem muita dignidade em cena. Com uma maquiagem que lhe deu grossas sobrancelhas ela parece sempre calma, paciente e gentil, mas essa seria sua personalidade verdadeira ou apenas uma máscara para esconder os mais inconfessáveis desejos de cometer crimes? Assista ao filme para descobrir.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A Última Sessão de Cinema

O tema desse filme é a desilusão. Basta conhecer a história que o filme conta para entender a nuance desse roteiro. Entre a 2ª Guerra Mundial e a Guerra da Coreia, dois jovens que vivem em Anarene, uma pequena cidade no Texas, precisam enfrentar os desafios da vida adulta. Eles se parecem fisicamente, mas mentalmente e emocionalmente, vivem em diferentes planos, sendo que enquanto Duane (Jeff Bridges) é agressivo, Sonny (Timothy Bottoms) é bem mais sensível. Boa parte do tempo deles é passado no pequeno cinema da cidade e no salão de sinuca. Enquanto Duane tenta se firmar frequentando festas de embalo, Sonny é iniciado no sexo por Ruth Popper, a frustrada esposa do seu treinador. Porém, independente do que aconteça, a cidade está morrendo silenciosamente e lentamente enquanto a vida deles tomam rumos inesperados.

O roteiro do filme sempre foi bastante elogiado por ter inovado em sua narrativa, que é mais baseada em episódios esporádicos do que numa linha de narração mais tradicional. Os jovens do filme aos poucos vão entendendo que fazem parte de um círculo sem fim, que se repete de geração em geração. O clima de melancolia está em todas as cenas, trazendo uma sensação de tédio e desespero ao espectador. É uma produção que revista hoje em dia soa bem desconfortável, seca, sem qualquer tipo de facilitação para aquele que se atreve a ver a obra.

Até hoje é considerada a obra prima do diretor Peter Bogdanovich - e com toda a razão. É em essência um filme fundamentado em ótimas atuações e diálogos precisos. Nâo é para menos que seus dois Oscars foram pelo trabalho do elenco. Ben Johnson venceu o prêmio de melhor ator coadjuvante e Cloris Leachman de melhor atriz coadjuvante. Além deles, brilha também a intensidade da atuação de Jeff Bridges, ainda bem jovem, mas já demonstrando que tinha muito talento e, é claro, Cybill Shepherd, que está linda, também muito jovem e carismática. Curiosamente ela só se tornaria uma verdadeira estrela com a série "A Gata e o Rato" na TV americana durante os anos 80. Enfim, um verdadeiro clássico cult, muito rico em desenvolver as nuances e complexidades psicológicas de seus personagens. Para ver e entender melhor os rumos do cinema independente americano durante os anos 1970.

A Última Sessão de Cinema (The Last Picture Show, Estados Unidos, 1971) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Peter Bogdanovich / Roteiro: Larry McMurtry, Peter Bogdanovich / Elenco: Timothy Bottoms, Jeff Bridges, Cybill Shepherd, Ben Johnson, Ellen Burstin, Cloris Leachman / Sinopse: O filme conta a história de jovens em uma pequena cidade decadente do interior do Texas. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor ator coadjuvante (Ben Johnson) e melhor atriz coadjuvante (Cloris Leachman).

Pablo Aluísio.