sexta-feira, 24 de junho de 2022

O Homem que Sabia Demais

Assisti a esse filme pela primeira vez há muitos anos. Ele foi lançado, ao lado de vários outros do diretor Alfred Hitchcock em uma coleção do selo CIC vídeo. É um dos mais conhecidos filmes do mestre do suspense, mas é justamente no suspense que esse filme tem suas maiores falhas. Os filmes de Hitchcock geralmente seguiam por uma linha mais forte, mais sombria até. Esse filme é bem mais leve. Inclusive a presença de Doris Day no elenco, com sua imagem doce e até inocente, destoa do tipo básico de produções que Hitchcock dirigia na época. Ela chega a cantar em cena um de seus sucessos, uma música romântica bem de acordo com a inocência daqueles anos. Nada mais fora da rota de um filme de Hitchcock que poderia se imaginar.

A história é até interessante, quando um casal de turistas no Marrocos (Norte da África) se envolve em uma trama de intriga internacional que nem eles sabem direito como surgiu ou quem estaria por trás de tudo. James Stewart segura bem as pontas. Ele foi um ator recorrente em clássicos do diretor, em especial "Um Corpo que Cai" e "Janela Indiscreta", mas aqui, em um roteiro mais convencional e dentro dos padrões moralistas da época, não se destaca tanto. No final das contas as lembranças que ficam desse filme é exatamente da cantoria de Doris Day. O que para um filme que deveria ser de suspense, não é lá grande coisa. Tudo muito pueril para um filme que deveria causar medo e apreensão no espectador.

O Homem que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much, Estados Unidos, 1954) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes / Elenco: James Stewart, Doris Day, Brenda de Banzie / Sinopse: Casal de turistas dos Estados Unidos é atacado em suas férias no Marrocos. E sem nem entender direito as razões, se envolve em uma intriga internacional envolvendo países inimigos, em plena guerra fria.

Pablo Aluísio.

O Favorito dos Bórgias

Todo rodado na Itália, nos mesmos castelos e locais onde aconteceram os fatos da história real, esse "O Favorito dos Borgias" tem uma produção de encher os olhos. Tudo foi minuciosamente reconstituído, as armaduras, o figurino, tudo de muito bom gosto. Até o estilo ornamental do renascimento foi recriado para o filme. A direção de Henry King é segura, pontual, detalhista e não desperdiça nada em um roteiro muito bem escrito, com ótimos e inspirados diálogos. E por falar em bons diálogos o que é necessário para que eles funcionem perfeitamente? Sim, grandes atores. E é justamente no elenco que esse épico se destaca.

Embora Tyrone Power seja apenas mais um galã (que marcou época mas que mesmo assim não passava disso), temos para contrabalançar suas limitações o grande Orson Welles. Incrível, mas Welles interpreta tudo com uma naturalidade, uma genialidade que me deixou admirado. Enquanto outros atores em cena exageram nas caras e bocas (uma certa característica da época), Orson desfila em cena todas as nuances de seu personagem sem o menor esforço. Consegue ser sutil em meio ao exagero dramático de outros em sua atuação. Ele literalmente rouba todas as cenas ao interpretar Cesare Bórgia, o famoso déspota da história. A atriz Wanda Hendrix, a mocinha do filme, embora fosse linda era inexpressiva do ponto de vista dramático. Mas isso é o de menos. No conjunto esse "O Favorito dos Borgias" é bem acima da média, uma grande diversão que em nenhum momento ofende a inteligência do espectador, mostrando já na década de 40 que diversão não precisa ser necessariamente burra ou idiota, pelo contrário, pode ser muito instrutiva e rica.

O Favorito dos Bórgias (Prince of Foxes, Estados Unidos, 1949) Direção de Henry King / Roteiro: Milton Krims / Elenco: Tyrone Power, Orson Welles, Wanda Hendrix, Marina Berti / Sinopse: Andrea Orsini (Tyrone Power) se envolve nas disputas familiares da famosa família Borgia. Em seu caminho tem que encontrar e lidar com o famigerado Cesare Borgia (Orson Welles) que tem grande sede de poder e riqueza.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Tudo por Justiça

O filme conta a história de dois irmãos. O mais velho deles, interpretado pelo ator Christian Bale, é um operário de uma usina decadente em uma daquelas cidades industriais Americanas que estão em pleno declínio. O irmão mais jovem, interpretado pelo ator Casey Affleck, é um rapaz que serviu o exército americano durante a invasão do Iraque. Ao retornar para seu país, ele ficou desempregado e sem maiores perspectivas de um futuro melhor. Para ganhar dinheiro, acabou entrando para o submundo das lutas ilegais. Geralmente se associando a bandidos que manipulavam os resultados das lutas, onde tudo seria forjado. O seu grande erro acontece quando decide participar de uma dessas lutas em uma região montanhosa, onde vivem traficantes e criminosos da pior espécie. Ao entrar nesse meio, ele acaba cometendo o maior erro de sua vida.

Temos aqui um filme muito bom, um drama com toques de crueldade e violência. Basta dar uma olhada na ficha técnica do filme para entender qual é o grande atrativo dessa película. Estou me referindo ao elenco, composto basicamente de feras, só com excelentes atores atuando. Além de Christian Bale e Casey Affleck você tem ainda Forest Whitaker como um policial que tem problemas pessoais com um dos irmãos, mas que precisa de todo modo resolver um crime horrendo que ocorreu nas Montanhas. Willem Dafoe é o pequeno patife, o bandido de pequenos golpes que agencia lutadores para as brigas. Woody Harrelson rouba a cena completamente ao interpretar um vilão asqueroso em um nível odioso. Sua cena no drive-in, que também é a primeira cena do filme, já diz a que veio. Ele está impecável na pele desse caipira das Montanhas que nem pensa duas vezes antes de romper com as normas vigentes. Um escroque da pior laia, raça maldita. Enfim, um filme que me agradou bastante, recomendo.

Tudo por Justiça (Out of the Furnace, Estados Unidos, 2013) Direção: Scott Cooper / Roteiro: Brad Ingelsby, Scott Cooper / Elenco: Christian Bale, Casey Affleck, Woody Harrelson, Willem Dafoe, Forest Whitaker, Zoe Saldana / Sinopse: Após a morte de seu jovem irmão mais jovem,  um homem decide fazer justiça pelas próprias mãos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Michelangelo - Infinito

O termo gênio está banalizado nos dias de hoje. Qualquer um é chamado de gênio. Entretanto houve uma época na história em que chamar alguém de gênio era realmente reconhecer sua genialidade indiscutível. Michelangelo foi realmente um dos grandes gênios da história da humanidade, um gênio da arte. Esse filme traz o lado mais importante desse grande artista, ou seja, suas grandes obras primas. O roteiro tem uma estrutura interessante, feita com dois personagens básicos em cena, contando e analisando as principais obras de Michelangelo. Esses diálogos ditos pelos personagens foram tirados diretamente de documentos históricos. O que é falado pelos atores é uma reprodução do que Michelangelo escreveu em cartas ao longo da vida, assim temos uma fidelidade histórica admirável nesse roteiro.

Interessante salientar que Michelangelo foi contemporâneo de outro grande gênio da história das artes, talvez o maior de todos. Estou me referindo ao maravilhoso Leonardo da Vinci. Eles viveram na mesma época e trabalharam na mesma cidade, inclusive  competindo entre si para ver quem era o melhor. Em meu ponto de vista, ambos estavam no mesmo nível de excelência artística, um nível que poucos chegaram a atingir. Em conclusão, eu gostei muito desse semidocumentário. Um filme inteligente,  com belas imagens que tentam captar a beleza dessas obras de arte, especialmente recomendado para quem deseja apreciar o que de melhor foi feito na história da humanidade em termos artísticos.

Michelangelo - Infinito (Itália, 2017) Direção: Emanuele Imbucci / Roteiro: Emanuele Imbucci / Elenco: Enrico Lo Verso, Ivano Marescotti / Sinopse: Através de imagens belíssimas de suas obras imortais, o filme conta a história do artista renascentista Michelangelo.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley (1956) - Parte 5

Bom, se você gosta de Elvis Presley e Ray Charles e ao mesmo tempo diz que não gosta de "I Got A Woman", sugiro que procure logo um analista. São coisas indissociáveis. Concordo que em certos aspectos essa primeira versão de Elvis é muito singela. Porém ela apresenta aquela sonoridade dos anos 50 - ao sabor Sun Records - que literalmente salva todas as canções desse primeiro álbum do cantor na RCA Victor.

Inclusive já virou lenda a forma como essa canção foi composta. Ray Charles resolveu fazer uma espécie de brincadeira, unindo a linha de melodia típica de uma canção gospel, religiosa, com uma letra profana, das mais profanas possíveis, é bom salientar. Obviamente a canção, lançada em single, virou um grande sucesso popular que Elvis não deixou que lhe escapasse entre as teclas do piano. Claro que The Pelvis tinha essa coisa de revirar pelo avesso qualquer composição de outro artista ao seu próprio estilo, porém em relação ao maravilhoso Ray Charles ele até que foi bem respeitoso. Sim, imprimiu seu estilo pessoal na gravação, mas sempre procurando respeitar o legado do pianista. Uma troca de favores entre dois gênios da música.

Quando o assovio surge nas caixas de som você imediatamente sabe que "I Love You Because" de Leon Payne está começando. Essa baladinha country com uma guitarra chorosa de Scotty Moore sempre solando em lágrimas ao fundo, não chega a ser um destaque dentro do álbum. Porém mostra bem o estilo baladeiro de Elvis em seus anos iniciais. Lembra até mesmo de "My Happiness", a primeira gravação dele na Sun Records - o tal disquinho que gravou para dar de presente para sua mãe Gladys. Naquele primeiro acetato Elvis era apenas um amador tentando chamar a atenção. Porém aqui nessa faixa ele já poderia se considerar um cantor profissional. Inclusive já tinha deixado seu emprego de motorista de caminhão da empresa de energia elétrica de Memphis. Um futuro e tanto iria surgir para aquele jovem rapaz de 19 anos de idade.

 "Just Because" também é bem subestimada. Já houve quem dissesse que era um skiffle bem disposto, porém a verdade é que esse estilo musical nada mais era do que uma variação inglesa para o country (genuíno) dos Estados Unidos. Uma simples releitura sem profundidade. Ingleses branquelos querendo soar como cowboys do sul norte-americano. Definitivamente eles não eram homens de Marlboro! Não colava muito bem. De qualquer forma o estilo mais rapidinho faz dessa uma boa faixa para Elvis e seu trio de caipiras - os Blue Moon Boys. É a tal coisa, se o tal rock ´n´ roll fosse uma coisa passageira Elvis e sua banda poderia muito bem viver tocando e cantando a música rural sulista nas feiras de gado nos arredores de Memphis e região. Valia tudo para sobreviver como artista naqueles tempos pioneiros, meus caros!

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de junho de 2022

Traição Heróica

Título no Brasil: Traição Heróica
Título Original: They Rode West
Ano de Produção: 1954
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Phil Karlson
Roteiro: DeVallon Scott, Frank S. Nugent
Elenco: Robert Francis, Donna Reed, May Wynn

Sinopse:
O médico Dr. Allen Seward (Robert Francis) é designado para trabalhar em um forte do exército americano localizado perto do território Comanche. Ao chegar lá se depara com uma situação aflitiva, vários soldados e nativos da região estão ficando doentes, morrendo sem nenhuma explicação. Os curandeiros atribuem isso a um castigo dos deuses, mas Seward tem outra visão do que poderia estar acontecendo, um surto de malária está se abatendo sobre todos os que vivem naquela região. 

Comentários:
Western muito interessante que ao invés de se concentrar apenas em tiroteios envolvendo cowboys, xerifes, índios e soldados da cavalaria, mostra as dificuldades enfrentadas por um médico em um posto avançado do exército americano na fronteira mais distante do velho oeste. O roteiro explora não apenas sua busca por uma cura mas também as tensões que se criam com seu trabalho. Seus superiores são militares durões que não querem saber de detalhes científicos e os índios do local estão submersos em crendices e superstições das mais variadas. Não tarda para que culpem a presença do homem branco naquele território como causa da morte dos guerreiros. Assim enquanto o Dr. Allen Seward (Francis) tenta procurar por soluções, nativos e cavalaria ficam em pé de guerra por causa das inúmeras mortes que estão ocorrendo. Apesar de ser apenas mais um faroeste B da Columbia dos anos 50 esse aqui se sobressai pelo inteligente roteiro e por trazer um ponto de vista bem peculiar para os filmes da época. Diverte mas também instrui. Pequena jóia rara cinematográfica do período.

Pablo Aluísio.

A Colina dos Homens Maus

Título no Brasil: A Colina dos Homens Maus
Título Original: La Collina Degli Stivali
Ano de Produção: 1969
País: Itália
Estúdio: San Marco
Direção: Giuseppe Colizzi
Roteiro: Giuseppe Colizzi
Elenco: Terence Hill, Woody Strode, Bud Spencer

Sinopse:
Em uma cidade próxima a uma rica região, farta em ouro, um grupo de bandoleiros comandados por Mel Fisher, impõe sua dominação através do terror e assassinato. Seu objetivo é se tornar dono das terras locais para se apropriar completamente da fortuna que está sob o solo daquela terra. Quem não estiver disposto a vender sua propriedade certamente morrerá. Seus planos vão muito bem, até a chegada na cidade de Cat Stevens (Terence Hill) e Arch Hutch Bessy (Bud Spencer), que estão dispostos a parar com aquela situação de injustiça e medo!

Comentários:
Outro bom exemplar da bem sucedida parceria entre Terence Hill e Bud Spencer. No Brasil ficaram extremamente conhecidos por causa dos filmes da série Trinity! O diretor desse filme, o especialista Giuseppe Colizzi, iria inclusive dirigir "Dá-lhe Duro, Trinity!" em 1972. Filmado praticamente todo no deserto de Almería, Andalucía, na Espanha, o filme segue o padrão que já havia dado muito certo antes na carreira do diretor, como em, por exemplo, "Os Quatro da Ave Maria" e "Deus Perdoa... Eu Não!". Embora os filmes de Terence Hill tenham se notabilizado pelo bom humor, esse aqui não é tão na linha mais pastelão como viria a acontecer anos depois. Há um tom bem mais sério, embora é claro, cenas divertidas surjam ao longo do filme. Mas sempre salientando que essa não é a tônica principal da produção. "A Colina dos Homens Maus" inclusive fecha a trilogia formada com os filmes anteriores já citados do diretor, todos tendo como enredo as aventuras do pistoleiro Cat Stevens pelo velho oeste. Terence Hill assim encerrava o ciclo desse seu personagem, que só seria superado mesmo em termos de popularidade por Trinity. Em suma, um faroeste italiano que certamente agradará em cheio aos fãs do Spaguetti Western.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Che: A Guerrilha

Esse é o segundo filme contando a história de Ernesto Che Guevara. O primeiro se chama "Che: O Argentino". "Che: A Guerrilha", como seu próprio nome sugere, mostra o período em que o revolucionário Che Guevara esteve envolvido em uma luta armada na Bolívia. Um aspecto interessante é que o filme assume um tom quase de documentário, com a edição rápida e sequências que lembram realmente o estilo de cineastas documentaristas, ou seja, não parece ser um filme que foi produzido, mas que foi montado com cenas avulsas que lembram mesmo aqueles documentários antigos, dos anos 60, quando cineastas apenas uniam diversas cenas e filmagens diversas para contar um momento histórico importante. O clima é de falta de Esperança nas imagens, o que combina com a história que o filme conta, pois essa guerrilha de Guevara na Bolívia foi muito mal sucedida.

Ele tentou repetir a mesma fórmula que havia sido usada na revolução Cubana, mas fracassou completamente. Um dos pontos centrais nesse fracasso foi a incapacidade de trazer o povo para lutar pela sua causa. O povo humilde que vivia em vilas no interior da Bolívia era formado por pessoas muito simples, que nem sequer entendiam direito os conceitos de revolução, socialismo, comunismo, etc. Era um povo sofrido que não tinha o mesmo nível de consciência política que o povo cubano tinha quando a revolução estourou e tomou conta daquela ilha caribenha. Diante disso Che ficou cercado pelo exército boliviano, que contava inclusive com a ajuda de agentes da CIA, dos Estados Unidos. O resultado foi melancólico, onde ele pagou muito caro por essa revolução que sequer pode ser dita como fracassada, pois na realidade nem chegou a se tornar concreta, ficando apenas no campo dos sonhos e planos dos guerrilheiros.

Che: A Guerrilha (Che: Part Two, Estados Unidos, 2008) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Peter Buchman / Elenco: Benicio Del Toro, Rodrigo Santoro, Demián Bichir / Sinopse: O filme conta a história os momentos finais de vida do guerrilheiro Che, quando ele tentou levantar o povo boliviano em uma revolução comunista naquele país.

Pablo Aluísio.