sexta-feira, 18 de março de 2022

Três Enterros

Título no Brasil: Três Enterros
Título Original: The Three Burials of Melquiades Estrada
Ano de Produção: 2005
País: Estados Unidos
Estúdio: Sony Pictures
Direção: Tommy Lee Jones
Roteiro: Guillermo Arriaga
Elenco: Tommy Lee Jones, January Jones, Melissa Leo, Barry Pepper, Dwight Yoakam, Julio Cesar Cedillo,

Sinopse:
Pete Perkins (Tommy Lee Jones) é o capataz de um rancho localizado na fronteira entre México e Estados Unidos. A região é violenta, infestada de criminosos, imigrantes ilegais e policiais norte-americanos corruptos, os gringos fardados da fronteira. E Perkins precisa lidar com todos eles.

Comentários:
Tommy Lee Jones na direção? Coisa rara de se ver. E o que mais surpreende é que ele se saiu muito bem na nova função. Seu resultado como cineasta é dos melhores. O filme tem boa mistura de cenas de ação, drama e uma certa melancolia que atravessa toda a história, da primeira à última cena. O cenário natural também ganha destaque, com todas aquelas paisagens de deserto hostil, tudo aliado a uma certa brutalidade que move a maioria dos personagens. É um filme, enfim, que me agradou bastante. Pelo visto Tommy Lee Jones também tem talento como cineasta. Pena que ele nunca mais tenha se aventurado nessa área. Em conclusão temos aqui um bom filme, revelando toda a violência que pode nascer em uma região castigada pelo sol e pela rudeza de seus moradores. Não é um lugar onde os fracos possam viver em paz.

Pablo Aluísio.

Segredo de Sangue

Título no Brasil: Segredo de Sangue
Título Original: Hush
Ano de Produção: 1998
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Jonathan Darby
Roteiro: Jonathan Darby, Jane Rusconi
Elenco: Jessica Lange, Gwyneth Paltrow, Johnathon Schaech, Nina Foch, Debi Mazar, Kaiulani Lee

Sinopse:
Após o casamento, um jovem casal se muda para o rancho de criação de cavalos da mãe do marido. Só que ela logo se revela ser uma mulher obsessiva, que deseja controlar todos os passos do casal, o que cria uma grande tensão que vai piorando a cada dia.

Comentários:
A década de 1990 foi o auge de um estilo bem peculiar de gênero cinematográfico, a do thriller de suspense. Esse aqui é um caso bem claro desse tipo de filme. Começa quase como um filme romântico, com cenas de casamento, felicidade, um jovem casal que está começando sua vida. O problema é a sogra. Essa personagem interpretada por Jessica Lange logo se revela ser uma mulher obsessiva, controladora, manipuladora, maníaca... uma mulher má! A jovem esposa que vira seu alvo de fúria é a própria nora, interpretada por uma Gwyneth Paltrow ainda bem jovem. O resultado pode parecer um pouco insano demais para a maioria do público, mas eu pessoalmente achei bem na média dos filmes da época. É um filme especialmente indicado para quem odeia a sogra, aqui representando a grande vilã da história.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 17 de março de 2022

O Novo Mundo

Título no Brasil: O Novo Mundo
Título Original: The New World
Ano de Produção: 2005
País: Estados Unidos
Estúdio: New Line Cinema
Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Colin Farrell, Christopher Plummer, Christian Bale, August Schellenberg, Q'orianka Kilcher, Yorick van Wageningen

Sinopse:
Durante a era dos grandes descobrimentos um grupo de navegadores e colonizadores chega na costa leste de um novo continente descoberto, agora chamado de América. E nesse novo mundo eles descobrem uma nova vida, cheia de perigos, mas também de descobertas incríveis.

Comentários:
Eu gosto de definir Terrence Malick como um cineasta sensorial. Ele nunca está interessado apenas em contar uma história linear em seus filmes. Para o diretor tão ou mais importante do que isso é desvendar a alma humana, tentando trazer para a tela os sentimentos e as sensações de seus personagens. É justamente o que acontece aqui. O filme foi de certa forma vendido com o marketing errado. Muitos que nunca viram um filme de Terrence Malick pensaram que iriam assistir a um filme de aventura, com história passada nos tempos em que os primeiros europeus chegaram no novo continente recém descoberto. Nada disso. Embora realmente a história seja passada nesse período o que temos aqui é mais um filme de Terrence Malick seguindo sua linha tradicional de fazer cinema. No meu caso não poderia haver nada melhor!

Pablo Aluísio.

A Salamandra

Título no Brasil: A Salamandra
Título Original: The Salamander
Ano de Produção: 1981
País: Inglaterra, Itália
Estúdio: Opera Films
Direção: Peter Zinner
Roteiro: Robert Katz, Rod Serling
Elenco: Anthony Quinn, Christopher Lee, Franco Nero, Eli Wallach, Claudia Cardinale, Martin Balsam

Sinopse:
Um policial italiano investiga uma série de assassinatos envolvendo pessoas em posições de destaque. Um desenho de uma salamandra sempre é deixado para trás em cada cena do crime. O policial começa a suspeitar que esses assassinatos estão ligados a um complô fascista para tomar o controle do governo.

Comentários:
Filme bem interessante e com elenco internacional onde astros do cinema vindos da Itália, Inglaterra e Estados Unidos unem forças para fazer a produção funcionar. Talvez o maior problema do filme seja justamente condensar e resumir a trama complexa do livro original de Morris West que deu origem ao roteiro. Um filme apenas não daria conta disso. Seria melhor adotar um formato de série ou minissérie. De qualquer forma o filme mesmo falhando na adaptação da literatura ainda consegue ser um bom programa. Além disso nunca é demais apreciar a beleza da atriz Claudia Cardinale, ainda encantando na tela. Já Anthony Quinn segue com seu tipo habitual, explosivo, impulsivo, pura emoção. Enfim temos aqui um filme de ação e conspirações políticas que merece uma revisão e uma reavaliação nos dias atuais.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 16 de março de 2022

Dexter: New Blood

Dexter está de volta! Eu sabia que retornaria, mesmo de forma compacta como agora, com apenas 10 episódios. Eu assisti toda a série original. As três primeiras temporadas foram excelentes, depois decaiu um pouco, fruto de uma esperada saturação. Mesmo assim manteve uma boa qualidade. O final ficou em aberto, por isso não foi surpresa esse retorno. Era mesmo esperado. Dexter agora vive em uma cidade gelada no Alaska. Nada mais distante da ensolarada Miami onde se passava a série que deu origem a tudo. Nessa nova vida ele mudou seu nome, foi morar em uma cabana no meio da floresta de gelo e até mantém uma certa normalidade em sua vida, com direito a ter uma namorada fixa (uma policial!) e ser querido pelos moradores da pequena cidade.

Só há um problema: Dexter ficou dez anos sem matar! Isso vai contra sua própria natureza. Sendo um serial killer sua vontade de matar está sempre presente. Dexter sente essa necessidade todos os dias. Ele tenta se manter na linha, com o aparecimento de sua irmã em delírios, servindo como uma guia moral. E quando um sujeito riquinho, esnobe e sem caráter (além de um passado criminoso) surge em sua frente, Dexter pensa seriamente em sair desse estado em que se encontra. Afinal ele sempre seguiu um código interno, de só matar criminosos, seres nocivos para a sociedade. No primeiro episódio Dexter é colocado à prova. E como ele próprio diz, é um assassino em evolução. O que será que vai acontecer?

Dexter: New Blood / Episódio Cold Snap (Estados Unidos, 2021) Direção: Marcos Siega / Roteiro: Clyde Phillips / Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones / Sinopse: Dez anos após se esconder, Dexter ressurge vivendo em uma pequena cidade do distante e frio Alaska. Ele mudou de nome e tenta levar uma vida normal, só que a sede de matar volta a rondar sua existência.

Pablo Aluísio. 


Guia de Episódios - Dexter New Blood:

Dexter - New Blood 1.02 - Storm of Fuck
As investigações começam para tentar descobrir o paradeiro da vítima de Dexter. E os policiais escolhem para servir de base de campo... a própria casa do Dexter na montanha! Surreal, não é mesmo? Lembrando que o serial killer agora namora uma tira! E obviamente Dexter vai bagunçar a cena do crime, vai criar pistas para uma falsa narrativa, tudo no sentido de despistar os homens da lei. E tem mais um fator a se preocupar: seu filho que agora parece disposto a morar com o pai. Situação mais do que delicada para um assassino que precisa acima de tudo esconder os rastros de seu próprio crime! / Dexter - New Blood 1.02 - Storm of Fuck (Estados Unidos, 2021) Direção: Marcos Siega / Roteiro: Warren Hsu Leonard, Clyde Phillips / Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones.

Dexter - New Blood 1.03 - Smoke Signals
As coisas pioram para Dexter. As buscas pela sua vítima recomeçam, inclusive com o uso de cães farejadores. Ele precisa despistar os animais. Acaba usando um pedaço de roupa do próprio morto para criar um falso rastro no meio da noite dentro da floresta. E onde ele vai desovar o corpo? Após pensar muito Dexter decide levar os pedaços do homem morto até uma velha mina há muito abandonada, mas acaba dando de cara com um urso faminto lá dentro! E as coisas só complicam. Sua única saída é contar com a ineficiência dos policias locais. Só assim ele vai se safar de mais um crime. / Dexter - New Blood 1.03 - Smoke Signals (Estados Unidos, 2021) Direção: Sanford Bookstaver / Roteiro: David McMillan / Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones.

Dexter - New Blood 1.04 - H Is for Hero
O filho de Dexter carrega o passageiro sombrio do pai. Durante uma confusão na escola ele acaba esfaqueando um colega, um jovem gordinho que vive sendo alvo de bullying por parte dos outros alunos. E a situação só piora. Ele mente, inventa uma versão de que foi ele o esfaqueado e que salvou os outros alunos que iriam sofrer um atentado ao estilo escola de Columbine. Assim o jovem Harrison Morgan é elevado a uma posição de herói da escola, mas isso tudo não passa de uma grande mentira. Dexter descobre tudo e vê que seu filho também é um psicopata assassino. E agora, o que ele vai fazer? Uma situação mais do que complicada! / Dexter - New Blood 1.04 - H Is for Hero (Estados Unidos, 2021) Direção: Sanford Bookstaver / Roteiro: Tony Saltzman / Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones.

Dexter - New Blood 1.05 - Runaway
O filho de Dexter vai para uma festa de jovens e toma uma droga que quase o mata. Ele sofre uma overdose de drogas. Escapa por pouco. Dexter fica furioso. Decide ir atrás do traficante. Ele quer fazer justiça pelas próprias mãos. E como é um serial killer sempre que pinta uma boa oportunidade é hora de matar mais um. Só que Dexter tem perdido a mão depois de vários anos sem prática. Ele arma todo o cenário, traz as ferramentas, mas em seu ritual de morte as coisas acabam dando errado e ele precisa, de última hora, arranjar um plano B. E mal ele sabe que vaza a informação de que ele não é quem diz ser. Que ele usa um nome falso. Isso voltará mais tarde para lhe atormentar. Na outra linha narrativa a policial e aquela blogueira de crimes chegam na cidade de Nova Iorque atrás do jovem desaparecido que supostamente estaria hospedado em um hotel de luxo. Acabam descobrindo que não é ele. Na verdade ele continua desaparecido. / Dexter - New Blood 1.05 - Runaway (Estados Unidos, 2021) Direção: Marcos Siega / Roteiro: Veronica West / Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones.  

Dexter - New Blood 1.06 - Too Many Tuna Sandwiches
Dexter descobre que o velho Kurt tem esqueletos no armário. O sujeito mantém uma cabana escondida na floresta. Ele leva essas jovens perdidas até lá, as tranca em um quarto no porão e depois os mata, fazendo mira na mata. Dexter segue Kurt e a jovem e atrapalha os planos do velho de encarcerar mais uma desavisada da vida. E por falar em Dexter sua namorada policial está furiosa com ele. Ela descobriu que ele usa um nome falso. E ela acaba descobrindo ossos em uma caverna da região, uma mina. De quem seria esses ossos? Da vítima de Dexter ou de alguma vítima de Kurt? Veremos nos próximos episódios. Até lá! / Dexter - New Blood 1.06 - Too Many Tuna Sandwiches (Estados Unidos, 2021) Direção: Marcos Siega / Roteiro: Scott Reynolds / Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones.

Dexter - New Blood 1.07 - Skin of Her Teeth 
Dexter é um personagem muito bom. Nessa temporada especial só produziram 10 episódios, o que acho pouco, já que a história em si daria muito pano para a manga. Tanto isso é verdade que apesar de estar no sétimo episódio desta temporada, ainda haveria muitos desdobramentos interessantes e trazer caso os roteiristas assim determinassem. Nesse episódio Dexter descobre que Kurt já tem ciência de seu passado. Assim ficamos com 2 psicopatas em lados opostos, com uma óbvia tensão cada vez mais crescente entre eles. Kurt aliás se safa das acusações, uma vez que encontraram seu DNA na caverna onde uma ossada humana foi descoberta. Ele alega que o verdadeiro assassino da jovem havia sido seu pai morto muitos anos antes. Dexter também tem problemas dentro de casa, seu filho tem demonstrado em várias ocasiones que carrega o mesmo problema do pai, ou seja, trata se de um jovem psicopata. E a série assim segue cada dia mais interessante, pena que vai acabar daqui 3 episódios. / Dexter - New Blood 1.07 - Skin of Her Teeth  (Estados Unidos, 2021) Direção: Sanford Bookstaver.

Dexter - New Blood 1.08 - Unfair Game
As cartas estão sobre a mesa entre Dexter e Kurt. Eles sabem quem são, não há mais necessidade de se manter uma fachada de boa convivência, tanto que Kurt manda um dos seus capangas dar um fim em Dexter. Ele é pego por trás, desprevenido, na covardia e levado para a Floresta, a intenção é óbvia pois Kurt quer Dexter Morgan morto. Só que o psicopata ainda tem cartas na manga e não vai deixar barato. Ele consegue se soltar e fugir. Tudo se torna um jogo de vida ou morte. Mesmo sendo alvo, como ponto fixo de tiro, consegue sobreviver. Enquanto isso Kurt leva seu filho Harrison para sua cabana de execução isolada. Uma vez lá se mostra muito confiável e amigável, um sujeito muito bacana, até o momento em que enfia uma máscara medonha na cabeça e fala para Harrison correr por sua vida. Bom episódio, pela história que conta bem poderia ser o final da temporada. / Dexter - New Blood 1.08 - Unfair Game (Estados Unidos, 2021) Direção: Sanford Bookstaver / Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones.

Dexter - New Blood 1.09 - The Family Business
Dexter e Kurt vão parar o tudo ou nada. A situação fica tensa quando Kurt faz uma visita inesperada na casa da namorada de Dexter, surgindo como aquele cara amigão, gente boa, mas que você sabe que aquilo é no fundo um desafio. E assim eles acabam se encontrando para um duelo final. Quem se dá bem é Dexter que leva Kurt para sua mesa de execução. Para surpresa de muita gente, ele está ao lado do seu filho Harrison. Nesse momento Dexter já confessou ao filho sobre o seu passado e o seu passageiro Sombrio. Dexter deseja que filho descubra como controlar esse instinto assassino. Assim no final de tudo Kurt ganha uma passagem só de ida para inferno! / Dexter - New Blood 1.09 - The Family Business (Estados Unidos, 2022) Direção: Marcos Siega / Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcot, Julia Jones.

Dexter - New Blood 1.10 - Sins of the Father
Esse é o último episódio da série Dexter. Como termina essa série? Ou pelo menos essa temporada? Bom, antes de mais nada, é interessante saber que Dexter aqui pode ter encontrado o seu fim. Pelo menos assim sugere a cena final, quando o Dexter leva um tiro no peito e cai em cima da neve branca que fica vermelha de seu sangue. Muitos podem pensar que nada foi dito efetivamente sobre sua morte, mas de qualquer forma fica no ar a questão. Um tiro daquele costuma ser fatal. Pode ser que ele realmente tenha morrido, ou então vão inventar algo absurdo para a próxima temporada. Eu espero por tudo. De qualquer forma, o tiro é dado pelo seu próprio filho, Harrison. Ele havia sido preso porque foi encontrado em sua casa que pegou fogo parafusos cirúrgicos. Daquele rapaz, o filho de Kurt que havia desaparecido. Assim, a ex namorada logo percebeu que ele era o verdadeiro responsável por aquele crime. A partir daí, ele tem que se virar para sair da cadeia. E acaba sendo atingido pelo tiro do próprio filho. Um bom episódio final. Será que haverá outra temporada? Só nos resta esperar. / Dexter - New Blood 1.10 - Sins of the Father (Estados Unidos, 2022) Direção: Marcos Siega / Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de março de 2022

Pistoleiros do Entardecer

Sam Peckimpah - um dos maiores diretores da história do cinema - não fez por menos: conseguiu erguer uma obra arrebatadora e psicológica, subvertendo uma ordem cinematográfica quase unânime a respeito das linhas limítrofes que cercam todo o quadrante onde está inserido um filme de faroeste (qualquer que seja ele). O diretor, não só rompeu com alguns paradigmas, como também transfixou no corpo e na alma de cada personagem a flecha negra que dissemina de forma sistêmica algumas "viagens" pela psiquê humana. A exceção de uma fotografia exuberante e que de alguma forma parece escapar por todos os poros da fita, tudo parece funcionar no limite, inclusive a dupla dos quase aposentados e magníficos atores, Joel McCrea e Randolph Scott.

A categoria, juntamente com a empatia desses dois monstros do cinema é um refrigério saudosista para os verdadeiros fãs dos filmes do velho oeste. O excelente Peckimpah une a velha dupla com o objetivo de transportar uma grande soma em dinheiro, mas também os separa: nos olhares, nas mensagens subliminares de desconfiança, e principalmente no silêncio. Steve Judd (McCrea) sabe que Gil (Randolph Scott) está longe de ser um companheiro confiável. Na dura empreitada, ainda acompanha a dupla, Elsa Knudsen, interpretada pela belíssima Mariette Hartley e o aprendiz de ladrão e capanga de Gil, Heck Longtree (Ron Starr). O primeiro nó psicológico vem justamente da bela Elsa - que foge das garras do pai, um religioso fanático e boçal, para ir ao encontro de seu futuro marido, o pilantra Billy Hammond (James Drury). Depois de unir-se ao trio - McCrea, Scott e Starr - Elsa ameaça a já estremecida parceria com os seus problemas e seu desejo juvenil e doentio de um casamento no mínimo estapafúrdio.

Em determinado momento, o filme se parece com um vulcão prestes a entrar em erupção, pelo simples fato de não existir purgatório: ou se está no céu, ou no inferno. A ingênua Elsa descobre que o seu príncipe encantado não é tão encantado assim. O resgate do dinheiro, o casamento bizarro entre Elsa e Billy Hammond, juntamente com a tensão crescente entre o trio e os irmãos Hammond, torna o ar quase irrespirável e o conflito entre os dois grupos inexorável. Essa violência brutal, silenciosa, e que aos poucos vai crescendo e tornando-se insuportável, é a marca inimitável do mestre Peckimpah, o "poeta da violência". Mas o ponto alto do filme traz a chancela indelével do mestre: o casamento de Elsa e Billy realizado dentro de um bordel. Nesta cena, Peckimpah mistura elementos sórdidos, vulgares e profanos servidos à mesa com muita violência, bebidas, gargalhadas, prostitutas, homens sujos, tarados e muita depravação. É o ponto alto e "Rodriguiano" do filme. É o momento em que o grande diretor mostra a sua cara. O terço final do longa tem ganchos épicos com direito a doses cavalares de mixórdia moral e imoral, auto comiseração e o resgate de uma velha parceria que consagrou o gênero. Peckimpah fecha o clássico com chave de ouro, num duelo ao estilo O.K. Corral na lendária cidade de Tombstone. Um filmaço.
Nota 10

Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country, EUA, 1962) / Direção: Sam Peckinpah / Roteiro:N.B. Stone Jr./ Com Randolph Scott, Joel McCrea, Mariette Hartley, Ron Starr e Edgar Buchanan / Sinopse: Steve Judd (Joel McCrea), um ex- xerife é contratado para levar um carregamento em ouro por um território hostil. Para ajudar nessa tarefa ele chama Gil Westrum (Randolph Scott). Westrum porém tem outros planos sobre o ouro.

Telmo Vilela Jr.

Deuses e Generais

Título no Brasil: Deuses e Generais
Título Original: Gods and Generals
Ano de Produção: 2003
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Ronald F. Maxwell
Roteiro: Jeff Shaara, Ronald F. Maxwell
Elenco: Robert Duvall, Jeff Daniels, Stephen Lang

Sinopse:
Em 1863 os Estados Unidos passam por uma séria crise política. De um lado estados do norte, ricos, desenvolvidos e industrializados, anseiam pelo fim da escravidão negra nos estados do sul, rurais, atrasados, com mão de obra escrava e sistema de plantation de culturas de algodão. A diferença de opinião e visão sobre o futuro da nação acabou levando a uma guerra brutal com milhares de mortes para ambos os lados. Vencedor do prêmio MovieGuide Awards na categoria Melhor Ator (Stephen Lang).

Comentários:
A Guerra Civil americana segue como uma das mais sangrentas da história dos Estados Unidos. Esse excelente "Gods and Generals" tenta lançar uma luz sobre o quadro político e social que deu origem ao conflito ao mesmo tempo em que tenta mostrar seus principais personagens como pessoas reais, com sonhos, ambições e desejos. A Guerra Civil acabou transformando muito de seus generais em lendas. Basta lembrar de Robert E. Lee, o lendário general que assumiu o comando das tropas sulistas confederadas, aqui em bela interpretação de Robert Duvall. O interessante é que apesar de tanto tempo - mais de um século - desde o fim do conflito ainda há resquícios de rivalidade dentro dos Estados Unidos. Um fato que comprova isso foi que durante o lançamento do filme houve uma séria controvérsia entre os produtores e setores da sociedade sulista que acusaram o roteiro do filme de ser historicamente inverídico e manipulador dos fatos tal como ocorreram. De uma forma ou outra considero uma bela película, com capricho na reconstituição histórica em termos de figurinos, cenários e ambientações. Talvez por ter que retratar tantos personagens importantes o roteiro acabe de certa forma ficando um pouco disperso mas nada disso atrapalha no resultado final. Seja você confederado ou unionista o fato é que ao final da exibição saberá bem mais sobre os bastidores dessa guerral brutal que levou milhares de americanos à morte.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 21

Esse foi o personagem que mudou a vida e a carreira de Marlon Brando. O ator sabia que ganhar um papel numa peça chamada "Um Bonde Chamado Desejo" de Tennessee Williams em Nova Iorque seria a sorte grande em sua vida profissional. Assim Brando foi uma das centenas de atores que se inscreveram para fazer o teste para o papel. Stanley Kowalski era retratado na peça teatral como uma força da natureza, um bruto, sem sentimentos e com muitos músculos. Tennessee Williams sabia que precisava encontrar o ator certo, caso contrário grande parte do apelo dramático de seu texto se perderia. A escolha de Brando para viver esse homem das cavernas moderno teve um fator de pura sorte, por mais incrível que isso possa parecer.

Tennessee Williams já estava perdendo a paciência quando Brando subiu ao palco. A maioria dos que fizeram teste antes dele acabou não agradando ao escritor. Brando parecia ser mais promissor. Era um jovem musculoso, com jeito de interiorano e sem muita educação. Esses eram os pontos que o autor estava buscando. Marlon fez uma boa audição de sua cena mas não foi isso que o levou a ganhar o papel. Casualmente Williams comentou com seu assistente que estava com um horrível vazamento de água em sua casa. Ele morava com a mãe e estava preocupado pois não conseguia encontrar um bom encanador. Ora, Brando desde que saíra da escola militar passou a exercer vários empregos braçais, onde a técnica de se lidar com canos e entupimentos era uma função e um requisito obrigatório.

Assim Brando se ofereceu para ir na casa de Williams para consertar o vazamento. Tennessee Williams confessaria anos depois que quando viu Brando todo suado e sujo, consertando seus canos quebrados, teve a certeza de ter encontrado o ator ideal para dar vida a Stanley Kowalski. Brando estava em ótima forma física e o autor, que era gay, ficou imediatamente atraído por aquela visão, mas procurou se manter à distância, afinal se envolver com os atores de suas próprias peças teatrais não parecia ser uma boa ideia. Brando também não parecia ser gay e isso era algo que foi essencial em sua escolha, afinal de contas tantos atores afeminados tinham feito o teste que Williams dava graças por encontrar um hétero de verdade no meio daquele monte de atores nova-iorquinos homossexuais.

Brando ganhou não apenas o papel mas também a aclamação da crítica. Ele era de fato um sujeito amoral, brutal e rude em cena, tal como seu personagem exigia. Uma das coisas que Brando aprendeu atuando em uma peça de sucesso em Nova Iorque era que não havia moleza sobre isso, pelo contrário, era um trabalho puxado, que exigia muito de um ator. Nos fins de semana havia matinês e assim Brando tinha que se apresentar por duas vezes no mesmo dia. Não era fácil. Ele que sempre fora um indisciplinado viu que as coisas não seriam tão maravilhosas como pensava. Essa aliás foi uma das razões porque Brando escolheu o cinema ao invés de se consagrar definitivamente nos palcos da Broadway. Um filme não exigia tanto esforço e trabalho. Por essa época ele deu mais uma de suas declarações polêmicas a um jornal especializado no mundo do teatro em Nova Iorque. Sorrindo, ele resumiu a situação: "Apenas atores que se assemelham a prostitutas vão para Hollywood fazer filmes. Os grandes atores, os mestres da arte de representar, ficam em Nova Iorque fazendo peças. Bem, o que posso dizer? Eu sou uma prostituta!"

Pablo Aluísio.