domingo, 19 de janeiro de 2020

Lolita

É interessante notar que mesmo tendo sido diretor por várias décadas, Stanley Kubrick dirigiu poucos filmes. No total foram apenas 16 direções assinadas por ele. Em quatro décadas de trabalho ele de fato dirigiu poucos filmes. Passou longe de ter uma filmografia extensa. Acontece que Kubrick ficava trabalhando nos roteiros por anos e anos. E só depois de muito pensar, finalmente assinava um contrato com os estúdios de cinema. E por ficar muito tempo sem ter novos filmes, cada vez que algo dele chegava aos cinemas chamava bastante atenção dos críticos e cinéfilos. Em 1962 ele chocou a todos quando seu novo filme chegou nos cinemas da Europa e Estados Unidos. Era uma adaptação da controversa e polêmica obra escrita por Vladimir Nabokov. O livro havia sofrido ataques por todos os setores da sociedade. Para os mais conservadores o seu texto trazia uma espécie de apologia à pedofilia, mesmo que de forma muito sutil e camuflada.

Stanley Kubrick tinha uma outra visão sobre tudo. Para ele era apenas um filme romântico, embora o casal protagonista estivesse fora dos padrões esperados pelos conservadores. Certamente a jovem adolescente Lolita (Sue Lyon) e o cinquentão Prof. Humbert Humbert (James Mason) não estavam dentro do que se esperaria de um casal na época. Um homem de sua idade se relacionar com uma ninfeta como Lolita era mesmo um escândalo. O curioso é que a obra de Vladimir Nabokov ainda hoje causa muita controvérsia. Penso inclusive que nos dias atuais o filme (e o livro) despertem ainda mais incômodo, porque afinal o politicamente correto jamais aceitaria um enredo como o que vemos por aqui.

Stanley Kubrick tinha bastante receio de adaptar esse livro para o cinema, não por causa dos padrões morais que ele infringia, mas sim porque em sua opinião seria muito complicado achar uma atriz para interpretar Lolita. Ela tinha que ser uma adolescente com certo ar ainda infantil, mas ao mesmo tempo ter muita malícia. Levar isso para o público não seria fácil. Para sorte de Kubrick ele acabou achando a atriz certa. A loirinha Sue Lyon acabou sendo a escolha perfeita. Ela não apenas era linda, como também era uma ótima atriz! Ela já tinha 18 anos quando fez o filme, mas com traços de menina mais jovem, convencia plenamente como Lolita. James Mason também se arriscou. Mesmo contra a vontade de seu agente ele aceitou fazer o filme. Outro destaque vem da presença do comediante Peter Sellers, aqui em um papel até mesmo bem perturbador. Nada de humor em seu personagem. Enfim, se você gosta do cinema de Stanley Kubrick esse filme se torna indispensável. Caso a história seja um pouco fora dos padrões de sua moralidade pessoal, então basta ignorar o filme como um todo. Caso contrário não deixe de assistir.

Lolita (Lolita, Estados Unidos, Inglaterra, 1962) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, Vladimir Nabokov, baseado na obra de Vladimir Nabokov / Elenco: James Mason, Sue Lyon, Shelley Winters, Peter Sellers / Sinopse: Escritor cinquentão fica perdidamente apaixonado por uma adolescente chamada Lolita. Ele tenta superar de todas as formas a atração que sente pela jovem, mas acaba cedendo aos seus desejos, ainda mais depois de perceber que ela também se mostra interessada em seus avanços. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor roteiro adaptado.

Pablo Aluísio. 

As Chuvas de Ranchipur

Para superar problemas no casamento o rico Lord inglês Albert Esketh (Michael Rennie) e sua elegante esposa Lady Edwina Esketh (Lana Turner) decidem viajar até a distante Índia, província do império britânico, para fazer turismo e comprar cavalos de raça para seu plantel na Inglaterra. Seu destino é a região de Ranchipur. Uma vez lá Lady Edwina acaba se apaixonando por um médico idealista, o Dr. Major Rama Safti (Burton), dando origem a um perigoso triângulo amoroso. Todo o intenso jogo romântico porém é interrompido por um enorme desastre natural que se abate sobre o exótico lugar. Aventuras exóticas em países distantes fizeram muito sucesso na época de ouro do cinema clássico americano. Havia um frescor em conhecer outras culturas sendo bastante para isso apenas a compra de um ingresso de cinema que custava poucos centavos de dólar. Assim houve no começo da década de 1950 um verdadeiro boom de interesse por parte do público diante desse tipo de filme.

E se o estúdio colocasse pitadas de romance com astros e estrelas de sucesso a boa bilheteria certamente seria certa. Todos esses ingredientes podem ser encontrados aqui em "The Rains of Ranchipur". Estrelado por Lana Turner e Richard Burton o roteiro explorava justamente esse nicho de mercado. Romance, aventura, terras exóticas e ação. Hoje em dia o filme é lembrado bastante por causa de seus bem realizados efeitos especiais (que chegaram a concorrer ao Oscar na categoria). De certa maneira é uma antecipação do que viria a se tornar bem popular algumas décadas depois, quando grandes desastres da natureza se tornavam o tema principal dos filmes que passaram a ser conhecidos como "cinema catástrofe". Tudo isso porque no enredo há um grande cataclisma natural. Se esse tipo de situação não lhe interessa é bom saber que a produção desfila um belo figurino em cena, principalmente nos trajes elegantes usados pelo personagem de Richard Burton. Lana Turner também não fica atrás, sempre tão fina e sofisticada. Em suma, uma aventura ao velho estilo, valorizado por um glamour tipicamente Hollywoodiano.

As Chuvas de Ranchipur (The Rains of Ranchipur, Estados Unidos, Inglaterra, 1955) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Jean Negulesco / Roteiro: Louis Bromfield, Merle Miller / Elenco: Lana Turner, Richard Burton, Fred MacMurray, Joan Caulfield / Sinopse: Um elegante e nobre casal inglês decide fazer uma viagem de turismo na exótica Índia, naquele momento uma colônia do poderoso império britânico. O que eles não poderiam prever é que iriam estar no país indiano bem no meio de um grande desastre natural.  Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais (Ray Kellogg e Cliff Shirpser).

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de janeiro de 2020

O Escarlate e o Negro

Esse filme tem como tema uma das maiores controvérsias da história. Até hoje historiadores e teólogos discutem sobre qual teria sido efetivamente a posição da Igreja Católica durante o holocausto. Como se sabe o Papa Pio XII (1876 -1958) teve uma postura considerada por muitos como omissa. Enquanto milhões de judeus eram mortos em campos de concentração da Alemanha Nazista o Papa se recolheu ao silêncio. Já na visão de outros historiadores a posição de Pio XII foi a adequada pois caso tivesse entrado em choque direto com o ditador nazista o próprio Vaticano teria sido invadido ou destruído. Pior do que isso, milhões de católicos teriam sido perseguidos e mortos pelos nazistas em toda a Europa.

Em seu silêncio Pio XII teria ajudado milhares de refugiados, dando-lhes documentos e passaportes para fugir do horror alemão. Infelizmente os documentos históricos da época estão fechados na biblioteca do Vaticano e não serão abertos tão cedo. O tema ainda é muito delicado, tanto que há alguns anos houve uma tentativa de canonização de Pio XII que foi suspensa por causa da forte reação de grupos de sobreviventes do holocausto que até hoje não perdoam a posição do Papa na época. Afinal durante a maior tragédia humanitária da história o papa foi um santo ou um covarde?
   
Em “O Escarlate e o Negro” podemos encontrar algumas respostas. O filme foi baseado em fatos reais. O personagem principal da trama é o monsenhor Hugh O'Flaherty (Gregory Peck). Durante a II Guerra Mundial esse corajoso religioso irlandês se envolveu ativamente na salvação de centenas de procurados do regime nazista. Através de uma extensa rede de colaboradores católicos ele conseguiu salvar da morte muitas famílias de judeus, além de aliados e militares que encontravam em sua igreja um local de refúgio e apoio.

Seus esforços acabaram chamando a atenção do chefe local da Gestado em Roma, o Coronel Kappler (Christopher Plummer), que começou uma série de investigações em torno do religioso. Para Kappler o monsenhor estaria se utilizando de sua imunidade diplomática do Vaticano para ajudar essas pessoas. Estaria o religioso agindo por conta própria ou cumprindo ordens da alta cúpula da Igreja? Esse é um dos grandes mistérios que ronda até hoje a Igreja durante aqueles anos terríveis. De fato ele foi um dos "agentes secretos" do Papa, cuja principal função era ajudar judeus em sua fuga do nazismo. Um excelente filme com um tema histórico dos mais importantes. Assim deixo a dica e a recomendação desse belo filme que trata de um tema mais do que polêmico, com muito talento e delicadeza.

O Escarlate e o Negro (The Scarlet and the Black, Estados Unidos, 1983) Direção: Jerry London / Roteiro: David Butler, baseado no livro de J.P. Gallagher / Elenco: Gregory Peck, Christopher Plummer, John Gielgud / Sinopse: Um Monsenhor começa a ajudar refugiados e perseguidos do regime nazista a escapar do holocausto. Em seu encalço segue um alto oficial da Gestapo que pretende puni-lo por ajudar os inimigos do Estado alemão.

Pablo Aluísio. 


Intriga Internacional

Não é dos filmes mais celebrados do mestre Alfred Hitchcock, porém é um dos melhores em cenas de ação. Também é considerado uma espécie de pioneiro nos filmes envolvendo o mundo da espionagem. Antes de James Bond surgir nas telas, Alfred Hitchcock resolveu explorar esse universo, tão em voga na época da guerra fria. O toque de mestre foi misturar o mundo da espionagem internacional com a vida das pessoas comuns. Imagine todo esse aparato mortal atingindo em cheio a vida de um homem inocente. Na trama temos o protagonista Roger O. Thornhill (Cary Grant), um publicitário falastrão de Manhattan, que acaba sendo confundido com um espião americano. Jogado no meio de um jogo de vida e morte da espionagem internacional que mal consegue compreender, ele tenta se manter vivo. No meio do caos que sua vida se torna, ele acaba se apaixonando pela bonita e misteriosa Eve Kendall (Eva Marie Saint), sem desconfiar contudo que ela também faz parte dessa mortal intriga internacional.

O mestre do suspense Alfred Hitchcock costumava dizer que não estava muito interessado nas estórias que contava, mas sim na forma como as contava. Ele se considerava um "pintor de flores" do mundo cinematográfico. Esse filme "North by Northwest" se encaixava bem nesse ponto de vista. O filme não tem um grande enredo. Na verdade tudo se resume na estória de um homem errado que se encontra no lugar errado, no momento errado, sendo confundido com um assassino internacional, um espião há muito procurado por serviços de inteligência ao redor do mundo. Depois que isso acontece sua vida se torna caótica, onde ele tenta sobreviver de todas as maneiras às várias tentativas de eliminá-lo! O curioso é que, como o roteiro explica depois, o espião verdadeiro com o qual ele é confundido sequer existe, sendo apenas uma invenção da CIA para despistar seus perseguidores.

Além do habitual suspense, Alfred Hitchcock também investiu bastante nas cenas de ação É o seu filme mais movimentado nesse aspecto. Há duas sequências que ficaram bem conhecidas. A primeira acontece quando o personagem de Grant é perseguido por um avião no meio do nada! Essa cena é a mais conhecida do filme até os dias de hoje. Também é a que melhor aproveita o suspense que foi a marca registrada da filmografia do diretor. Outro ponto alto acontece no clímax do filme, em seu final, quando Grant e Marie Saint participam de uma perseguição no alto do monte Rushmore (com os rostos dos presidentes americanos mais memoráveis da história, esculpidos na rocha). A cena é tecnicamente perfeita e demonstra muito bem que os efeitos especiais em Hollywood na época já eram bem avançados.

Quando o filme termina, chegamos em algumas conclusões. É fato que Alfred Hitchcock aqui optou pelo lado mais comercial do cinema americano, deixando seu lado autoral (que sempre foi seu maior legado) um pouco de lado. Fica evidente que ele estava em busca de um sucesso de bilheteria, acima de qualquer outra coisa. Outro aspecto é perceber que Hitchcock já tinha entendido que haveria um boom de filmes de espionagem. A MGM já tinha anunciado que iria trazer James Bond para o cinema e o velho mestre logo entendeu que essa seria uma tendência a dominar o cinema na década que estava para nascer. Algo que efetivamente aconteceu mesmo nos anos 1960. Pelo visto Hitchcock tinha talento não apenas para realizar bons filmes de suspense, como também para antecipar o que iria cair no gosto do público. 

Intriga Internacional (North by Northwest, Estados Unidos, 1959) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: Ernest Lehma / Elenco: Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason, Martin Landau, Jessie Royce Landis, Josephine Hutchinson / Sinopse: Um homem comum, publicitário de Nova Iorque, é confundido com um perigoso e mortal espião internacional. A partir daí ele passa a lutar por sua própria sobrevivência. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Original (Ernest Lehman), Melhor Direção de Arte (William A. Horning, Robert F. Boyle) e Melhor Edição (George Tomasini).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Amargo Triunfo

Filme de guerra estrelado pelo ator Richard Burton. Ele interpreta o capitão inglês Leith (Burton), Especialista em arqueologia, ele é designado para participar numa perigosa missão que deve entrar em uma cidade ocupada pelos nazistas no norte da África, na Líbia. O objetivo é roubar documentos de uma guarnição do exército alemão. As informações poderiam ser vitais para o esforço de guerra. O problema é que esse comando será subordinado ao Major Brand (Curd Jürgens), O capitão tem problemas pessoais com ele. No passado ele teve um caso amoroso com a atual esposa do Major. E ele descobre sobre isso um dia antes da missão. Claro, de uma forma ou outra o oficial vai tentar prejudicar o personagem de Burton. E para piorar eles precisam atravessar um deserto hostil, uma situação nada fácil, nem para militares experientes.

Temos aqui um bom filme. Não é nada espetacular, nem grandioso, mas é uma boa diversão. O ator Richard Burton fez muitos filmes nesse estilo, sendo um dos mais lembrados o clássico "Selvagens Cães de Guerra", onde a fórmula atingiu sua perfeição. Nesse aqui as coisas são um pouco mais modestas. A questão é que o filme foi assinado pelo ótimo diretor Nicholas Ray, o que elevou minhas expectativas antes de assistir. E aí aconteceu o velho problema quando expectativas grandes encontram filmes meramente medianos. Fica um gostinho de decepção no ar.

O roteiro poderia ter explorado melhor a rivalidade entre o Capitão de Burton e o Major, esse com a dor de saber que sua esposa na verdade amava outro homem. Para um filme de guerra também não há grandes cenas de ação. Existe o combate contra os alemães na cidade da Líbia, depois eles fogem para o deserto e aí o filme se concentra mais em uma tensão psicológica entre os homens. Curiosamente - e aqui vai um spoiler - foi um dos poucos filmes em que vi o personagem de Richard Burton morrer. E não em campo de batalha. Ele é picado por um escorpião do deserto. Em um filme com heróis e covardes em cena os roteiristas poderiam ter escrito um final melhor para seu personagem. Porém a intenção foi mesmo colocar em evidência a pouca honradez do Major, o que acabou funcionando na cena final, com os bonecos de pano do exercício militar. Enfim, não é dos melhores filmes da carreira de Richard Burton, mas cumpre bem seu papel no quesito entretenimento.

Amargo Triunfo (Bitter Victory, Estados Unidos, França, 1957) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: René Hardy, Nicholas Ray / Elenco: Richard Burton, Curd Jürgens, Ruth Roman, Christopher Lee / Sinopse: Durante uma expedição no deserto, na II Guerra Mundial, dois oficiais ingleses duelam psicologicamente entre si. A esposa do Major Brand (Curd Jürgens) foi apaixonada pelo Capitão Leith (Burton) no passado, o que cria uma grande tensão entre eles durante a missão. Filme indicado ao Venice Film Festival.

Pablo Aluísio. 

Aguirre, a Cólera dos Deuses

Título no Brasil: Aguirre, a Cólera dos Deuses
Título Original: Aguirre, der Zorn Gottes
Ano de Produção: 1972
País: Alemanha
Estúdio: Werner Herzog Filmproduktion
Direção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog
Elenco: Klaus Kinski, Ruy Guerra, Helena Rojo, Peter Berling, Cecilia Rivera, Daniel Ades

Sinopse:
Em 1561 uma expedição espanhola é enviada para os confins da selva amazônica. O objetivo dos espanhóis é localizar a lendária cidade de El Dorado, com suas ruas, casas e templos revestidos do mais puro ouro. Só que ao invés de encontrar tesouros inigualáveis, os homens de Pizarro só encontram a devastadora realidade da natureza, matando os homens da expedição com doenças, fome e desespero.

Comentários:
Werner Herzog sempre foi um cineasta visceral. Quando ele decidiu contar essa história, que é baseada nos relatos de um padre jesuíta que acompanhou essa expedição pelas profundezas da selva, ele decidiu que iria filmar tudo na própria região onde aconteceram os fatos históricos. Assim ele levou toda a sua equipe técnica e elenco para o lado peruano da selva amazônica. Obviamente as filmagens foram muito complicadas, praticamente um caos, mas quando se assiste ao filme percebe-se que tudo valeu a pena. O filme é muito interessante justamente por capturar a beleza exótica da Amazônia em toda a sua plenitude. Outro ponto de destaque desse filme é a atuação do ator Klaus Kinski. Ele interpreta um militar de baixa patente chamado Aguirre. Quando as coisas começam a dar errado na expedição ele resolve comandar uma rebelião, destituindo o comandante espanhol por nobre bobalhão que obviamente fica sob seu julgo. Enlouquecendo cada vez mais enquanto se aprofunda na selva, Aguirre é corroído pela ganância e pela loucura. Herzob optou por um filme sensorial, que apela mais para as emoções do espectador do que por um roteiro cheio de diálogos e palavras. Isso funcionou muito bem, porque muitas vezes o silêncio entre os personagens funciona como mais um elemento de tensão naquele inferno verde amazônico. Dizem que na selva, durante as filmagens, Klaus Kinski quase enlouqueceu, tal como seu personagem! Não poderia ser mais conveniente a um filme cujo tema trata justamente disso. Sem sombra de dúvidas esse é um dos melhores trabalhos de Werner Herzog e se você gosta do trabalho desse cineasta simplesmente não pode deixar de assistir. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

A Rainha Tirana

Inglaterra, 1580. A rainha Elizabeth I (Bette Davis) governa de forma absoluta em seu reino. Filha de Henrique VIII, ela dá sequência nos reinados da dinastia Tudor. Governante inteligente e sagaz, passa por um momento delicado em sua vida pessoal. Mesmo chegando numa idade mais avançada ela ainda não escolheu um marido para dar continuidade a sua linhagem. Um herdeiro traria estabilidade para os anos que viriam e por essa razão um casamento real logo se torna um importante assunto de Estado. A rainha da França, Catarina de Médici, logo sugere que ela se case com um nobre importante de sua própria corte, mas Elizabeth não parece muito interessada. Ao invés disso começa a ter sentimentos por um soldado plebeu inglês chamado Walter Raleigh (Richard Todd), que mesmo sem qualquer título de nobreza acaba conquistando o coração da rainha absolutista britânica.

Elizabeth I (1533 - 1603) passou para a história como a "Rainha Virgem". Esse nome foi dado por seus próprios súditos pois Elizabeth (Isabel I, no Brasil) não parecia empenhada em se casar para ter filhos. Durante muitos anos os historiadores se perguntaram se ela foi lésbica ou simplesmente era frígida demais para se interessar por assuntos matrimoniais. De qualquer forma sua relutância em se casar e ter filhos acabou marcando sua biografia. Nessa produção da Fox temos uma parte de sua história, justamente em um momento em que ela passou a se interessar por um plebeu, Walter Raleigh. Ele era um veterano de guerra contra a Irlanda e desejava construir uma frota para ir até o novo mundo (a América) para fazer fortuna. Para isso eram necessários navios e apenas a rainha poderia lhe conceder tamanho privilégio. Ao adentrar a corte de Elizabeth, levado por um nobre que havia sido amigo de seu pai no passado, Raleigh começou a entender que a forma mais fácil de chegar em seus sonhos era mesmo conquistar o coração da solitária monarca.

O problema é que Elizabeth I não era uma mulher fácil de lidar. Sujeita a explosões de raiva e ira, que atingia a todos ao seu redor, ela costumava tratar seu pretendentes de forma humilhante. Não era raro dispensar a eles um tratamento digno de um cão de estimação, fazendo questão de criar intrigas e fofocas na corte sobre sua nova aquisição ou como ela costumava dizer seu novo "pet". Raleigh, um homem de convicção e temperamento duro e forte, logo enfrentou Elizabeth sobre isso e muito provavelmente por causa dessa sua personalidade independente a rainha acabou caindo de amores por ele. Um romance que não interessava a outros nobres e que tampouco era bem visto dentro da corte. O filme captura o momento histórico do auge do absolutismo inglês, com a Casa Tudor em seu apogeu de glória e poder.

Essa mesma soberana seria retratada em dois filmes mais recentes muito bons chamados "Elizabeth" e  "Elizabeth: A Era de Ouro" com Cate Blanchett no papel central. Embora sejam produções excelentes, com maravilhosa produção, o fato é que a presença da clássica atriz Bette Davis faz toda a diferença do mundo se formos comparar os filmes. Assim como a histórica figura da realeza inglesa, Davis também tinha uma personalidade marcante. Aqui ela encontrou um papel muito adequado ao seu jeito de ser. Também em termos de reconstituição histórica a sua rainha surge mais de acordo com os figurinos e costumes da época, inclusive com o estranho corte de cabelo que não foi reproduzido nos filmes modernos sobre Elizabeth (provavelmente porque deixaria o público espantado com os estranhos adereços). No geral o que temos aqui em "The Virgin Queen" é uma produção muito digna de todos os aplausos, tanto em sua tentativa de trazer um pouco de história para o público em geral como também pela sua fidelidade histórica dos acontecimentos originais. Um belo clássico do cinema americano que certamente vai agradar aos gostos mais refinados.

A Rainha Tirana (The Virgin Queen, Estados Unidos, 1955)  Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Henry Koster / Roteiro: Harry Brown, Mindret Lord  Elenco: Bette Davis, Richard Todd, Joan Collins / Sinopse: O filme resgata a história da monarca inglesa Elizabeth I, conhecida entre seus súditos como a "Rainha Virgem" e entre seus inimigos como a "Rainha Tirana". Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Figurino (Charles Le Maire e Mary Wills).
 
Pablo Aluísio.

Meu Reino Por um Amor

Grande momento da carreira da atriz Bette Davis e um dos filmes mais lembrados por sua grande atuação. Aqui ela encontrou um papel à altura de sua personalidade única. Ela interpreta a rainha Elizabeth I, que ficou conhecida na história como a "rainha virgem" pois nunca se casou e nem deixou herdeiros. Quando o filme começa ela está pronta para receber um de seus comandantes, o Conde de Essex (Errol Flynn). Ele está triunfante pois venceu uma grande batalha contra a Espanha e sua armada. A rainha porém não está satisfeita pois esperava que a campanha lhe trouxesse muitos tesouros dos navios espanhóis. Ao invés disso tudo foi para o fundo do mar. O interessante é que por baixo do jogo de aparências a rainha ama aquele homem, tem verdadeira paixão por ele. Seu comportamento é até mesmo uma forma de despistar dos outros lordes. Os seus verdadeiros sentimentos ficam escondidos em encontros secretos com seu amado. Em pouco tempo ela volta para seus braços.

O roteiro do filme foi baseado em fatos históricos reais, inclusive não abrindo mão do trágico destino que acabou envolvendo esse romance. Bette Davis está ótima como a monarca inglesa, inclusive usando figurinos e maquiagem bem pesadas, típicos da época. Isso significou que ela precisou até mesmo cortar parte de seu cabelo para fazer jus aos problemas de calvície que atingia a rainha. A Elizabeth I foi uma mulher complexa, cheia de traumas por causa da velhice e da perda da juventude (algo retratado no filme). A estrutura do roteiro desse filme é bem teatral pois foi baseado numa peça. Só que em nenhum momento cansa o espectador. Além disso tem ótimos diálogos que prendem a atenção. Enfim, um filme realmente digno dessa histórica rainha inglesa.

Meu Reino Por um Amor (The Private Lives of Elizabeth and Essex, Estados Unidos, 1939) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Norman Reilly Raine, Eneas MacKenzie / Elenco: Bette Davis, Errol Flynn, Olivia de Havilland, Vincent Price / Sinopse: O filme resgata a história de amor envolvendo a rainha Elizabeth I (Davis) e o Conde de Essex (Flynn) durante o século XVI. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (W. Howard Greene, Sol Polito), Melhor Direção de Arte (Anton Grot), Melhor Som (Nathan Levinson), Melhores Efeitos Especiais (Byron Haskin, Nathan Levinson) e Melhor Música (Erich Wolfgang Korngold).

Pablo Aluísio.