sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Jesse James

Um dos criminosos mais infames do velho oeste, a história do pistoleiro e ladrão Jesse James deu origem a diversos filmes ao longo da história. Um dos mais lembrados é esse clássico da década de 1930. Não há como negar que o roteiro desse filme seja bem romanceado, mas mesmo assim tenta manter um pé na realidade dos fatos históricos. O filme inclusive contou com consultores históricos para recriar a biografia do famoso criminoso de forma mais fiel aos acontecimentos reais. No começo da história ainda há uma tentativa de justificar a entrada de Jesse James no mundo do crime, mas depois, de forma acertada, o texto demonstra a mudança em sua personalidade quando ele se torna realmente um criminoso por vontade própria, ciente de seus atos. Embora haja traços do Jesse James da literatura de entretenimento, dos famosos livros de bolso que ajudaram a popularizar seu nome, o roteiro procura sempre seguir os fatos reais quando possível. A cena final de seu assassinato, embora com erros históricos, é bem realizada.

Um dos melhores motivos para se assistir “Jesse James” é o seu elenco. Tyrone Power está bem como o personagem principal, embora haja limitações em sua caracterização pois ele está de certa forma muito polido em cena (o verdadeiro Jesse James era mais turrão e rude). Melhor se sai Henry Fonda, com trejeitos rústicos do interior, sempre cuspindo fumo e com olhar de caipirão desconfiado. Sua atuação demonstra uma preocupação maior em construir um personagem mais próximo da realidade. Seu Frank James não aparece muito, mas quando surge chama bem a atenção. A atriz Nancy Kelly que faz a esposa de James surpreende em ótimas cenas. São dela inclusive os momentos mais dramáticos como àquele em que resolve ir embora com o filho recém nascido. Por fim, completando o núcleo do elenco principal temos Randolph Scott. Em papel coadjuvante o ator está excepcionalmente bem na pele de um sujeito que caça Jesse James no começo do filme, mas que depois compreende a situação do criminoso e acaba mudando de atitude, ajudando inclusive sua família.

Embota não tenha sido creditado o filme foi produzido pessoalmente pelo chefão da Fox, Darryl F. Zanuck. Isso significa que “Jesse James” contou com o melhor que estava disponível na época no estúdio. De fato a produção é de muito bom gosto, com boa reconstituição de época (inclusive no que diz respeito a pequenos detalhes como figurino). Há ótimas cenas de roubos de trens, bancos e perseguições. Uma sequência que inclusive chama a atenção até hoje é aquela em que Jesse e Frank James pulam com seus cavalos do alto de um despenhadeiro em um rio abaixo. Pela altura e pela coragem dos dublês o resultado final realmente impressiona. A nota triste é que os animais foram sacrificados após soltarem daquela altura o que levou o filme a ser enquadrado em uma lista do American Human Associate por crueldade animal em filmes de Hollywood.

Já em termos de direção, não há mesmo o que reclamar. O diretor Henry King soube ser conciso em “Jesse James” e realizou um trabalho enxuto e eficiente. Evitou glamorizar a vida do criminoso. Como o filme teve um cronograma de filmagens muito austero, o cineasta Henry King contou com a ajuda de outro diretor da Fox, Irving Cummings, que acabou não sendo creditado. Henry King aqui trabalhou novamente ao lado de um de seus atores preferidos, Tyrone Power. Juntos tiveram grandes êxitos de bilheteria em filmes de capa e espada – sendo esse “Jesse James” mais uma bem sucedida parceria entre eles, embora em um estilo completamente diferente. O filme foi a quarta maior bilheteria do ano só ficando atrás apenas de fenômenos como “E o Vento Levou” e “O Mágico de Oz”.

Jesse James (Jesse James, Estados Unidos, 1939) Direção: Henry King / Roteiro: Nunnally Johnson, Gene Fowler, Curtis Kenyon, Hal Long / Elenco: Tyrone Power, Henry Fonda, Nancy Kelly, Randolph Scott, Donald Meek, John Carradine / Sinopse: Cinebiografia do famoso criminoso Jesse James (Tyrone Power) que ao lado de seu irmão Frank James (Henry Fonda) assaltava bancos, trens e diligências no velho oeste.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Fanático

Esse é o mais recente filme do ator John Travolta. Ele interpreta um homem com problemas mentais, possivelmente autismo (o roteiro nunca deixa claro) que ganha a vida pelas ruas sujas de Los Angeles. Fanático por cinema, ele nutre uma grande admiração pelo astro de filmes de ação Hunter Dunbar (Devon Sawa). Quando descobre que ele vai fazer uma sessão de autógrafos numa loja perto de sua casa, ele praticamente enlouquece pela chance de conhecer pessoalmente seu ídolo. E aí vem aquela situação delicada quando o fã conhece seu ídolo e descobre que ele é no fundo um babaca arrogante que não tem respeito por ninguém e nem por nada. Como Moose (Travolta) sofre de um transtorno mental ele perde a noção das coisas e começa a perseguir o ator.

Descobre onde ele mora por por um aplicativo de celular e vai até à sua casa. Se torna um stalker (perseguidor), infernizando a vida do ator que idolatra. E aí as coisas definitivamente começam a sair do controle. O filme ainda não tem título nacional, mas poderia se chamar "O Fã", seria melhor do que "O Fanático", embora ambas as expressões fossem adequados, já que o autista de Travolta pode ser enquadrado tranquilamente nas duas categorias. Ora ele age como um fã normal, como qualquer outro, ora perde a noção das coisas e passa a ser um fanático sem senso de realidade, não respeitando os limites que devem ser impostos principalmente em relação à privacidade de seu grande ídolo das telas.

John Travolta aliás se esforça bastante para interpretar bem seu papel. Ele usa roupas esquisitas, anda de monociclo pelas ruas da cidade e tem um comportamento bem estranho. Para ganhar a vida interpreta um policial inglês na calçada da fama de Hollywood, para ganhar alguns trocados dos turistas. O filme tem um clima melancólico e até sombrio, mas o roteiro não vai até as últimas consequências. Um freio é puxado quando as coisas começam a ficar violentas demais. Outro aspecto interessante é que inicialmente pensei se tratar de uma adaptação de quadrinhos, pois pontuais sequências de desenho animado são vistos entre as cenas. Porém isso não procede. É de fato um roteiro original que acabou me agradando em sua proposta geral.

Fanático (The Fanatic, Estados Unidos, 2019) Direção: Fred Durst / Roteiro: Fred Durst / Elenco: John Travolta, Devon Sawa, Ana Golja, Jacob Grodnik / Sinopse: Moose (Travolta) é um homem com problemas mentais que passa a perseguir o ator Hunter Dunbar (Devon Sawa). Ele é um astro de filmes de ação que reage muito mal à aproximação de seu admirador, criando uma tensão e um clima de violência que pode explodir a qualquer momento.

Pablo Aluísio.

Cowboy do Asfalto

Dar uma visão do cowboy americano da atualidade – essa era a proposta desse “Cowboy do Asfalto”, produção estrelada por John Travolta no auge de sua carreira. No filme acompanhamos as mudanças pelas quais passa Bud Davis (John Travolta), um rapaz do interior que se muda para a cidade grande em busca de novas oportunidades. E lá que seu tio vai lhe dar uma mão na busca de um emprego e um novo lugar para morar. Recém chegado logo começa a trabalhar numa refinaria como operário. Com os trocados que ganha durante a semana no trabalho duro o jovem Bud vai para os bailes de música country no fim de semana.

Em uma dessas noites ele acaba conhecendo Sissy (Debra Winger), uma garota que adora o universo country. Depois de uma paixão avassaladora resolvem dar o grande passo de suas vidas, se casando de forma até prematura. O que parecia ser um belo caminho a trilhar em suas vidas infelizmente logo começa a ruir com os problemas do cotidiano. Falta de grana e meios para se viver melhor. A grande chance de dar a volta por cima acaba vindo em torno de uma competição esportiva de montaria ao touro mecânico, que promete pagar um belo prêmio ao último cowboy que conseguir ficar firme na montaria até o apito final.

“Cowboy do Asfalto” é interessante porque conseguiu captar a vida de dois jovens comuns que apaixonados vivem as incertezas do casamento. Durante a semana eles pegam pesado no batente, geralmente em empregos desgastantes e sem nenhum atrativo, mas extravasam suas frustrações durante o fim de semana quando se vestem como vaqueiros do interior, dançam e se divertem ao som de muita música country, participando de competições do gênero como a montaria no touro mecânico.

John Travolta, bem jovem e cheio de maneirismos, repete de certa forma seu tipo de interpretação que havia desenvolvido em filmes como “Grease” e “Os Embalos de Sábado à Noite”. A única novidade é o universo country ao seu redor. Melhor se sai Debra Winger como a jovem que só quer ser feliz ao lado do amor de sua vida. O filme tem muita música, dança (como era de se esperar de um filme com John Travolta naquela época) e romance. Revendo hoje em dia o filme ganha muito no aspecto nostalgia (principalmente para quem foi jovem nas décadas de 70 e 80) e por isso vale ser revisto. Ah e antes que me esqueça: a trilha sonora de “Cowboy do Asfalto” é um prato cheio para quem gosta de música country, inclusive com a participação de muitos cantores famosos na época. Se você é fã do estilo não deixe de ver.

Cowboy do Asfalto (Urban Cowboy, EUA, 1980) Direção: James Bridges / Roteiro: Aaron Latham, James Bridges / Elenco: John Travolta, Debra Winger, Scott Glenn / Sinopse: O filme narra os problemas e o romance de um casal de jovens que vivem em uma grande cidade americana mas que procuram preservar as suas origens dentro do universo country.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Marcado pela Sarjeta

Esse é um filme baseado em fatos reais. Na história de um dos lutadores mais conhecidos da história do boxe americano. O roteiro é até bem convencional, sendo respeitoso com o protagonista, muito embora não esconda seus problemas pessoais e profissionais. Tudo levado numa ótica mais realista possível.O texto do roteiro foi baseado na autobiografia do lutador de boxe Rocky Graziano, aqui sendo interpretado por Paul Newman, acompanhamos sua trajetória desse boxeador rumo ao sucesso no esporte, seus amores, dramas e finalmente a queda após um momento de auge e excessos em sua carreira. Foi considerado um excelente drama esportivo, uma cinebiografia tocante e talentosa do popular lutador de boxe Rocky Graziano. O papel havia sido escrito para ser estrelado por James Dean, embora ele não tivesse altura e porte físico suficientes para encarnar o famoso boxeador. Com sua morte em um acidente de carro na estrada de Salinas, na Califórnia, a MGM ficou algum tempo em busca de um ator talentoso para encarnar Rocky nas telas. A procura porém não demorou muito, pois um novo astro estava surgindo em Hollywood. E o jovem Paul Newman parecia ser o sucessor natural de James Dean, até porque o caminho de ambos já tinham se cruzado algumas vezes na capital mundial do cinema.

Paul Newman, que também vinha do mesmo Actors Studio de Dean, se revelou ser uma excelente opção. A estrutura do roteiro se revelava perfeita em três atos, mostrando a luta de Rocky em chegar ao topo, seus excessos e sua queda, tanto no esporte como na vida. Os destaques em termos de técnica cinematográfica vão para a bela fotografia e a inspirada direção de arte (não por acaso vencedoras do Oscar). A edição também se destaca, principalmente nas cenas de luta, que imprime uma grande agilidade nas sequências. Além disso Newman conseguiu pela primeira vez no cinema disponibilizar ao público uma excelente atuação. Outro destaque do elenco vem com a presença da atriz Pier Angeli, o grande amor de James Dean, que se destaca em sua personagem. Ela era inegavelmente uma boa atriz, porém morreu muito cedo, precocemente. Depois da morte de James Dean tentou uma nova vida em Hollywood, se casou, mas se tornou uma pessoa infeliz com o passar dos anos. Nessa produção ela teve a melhor atuação de toda a sua carreira. Em suma um belo clássico que merece ser redescoberto sempre que possível.

Marcado pela Sarjeta (Somebody Up There Likes Me, Estados Unidos, 1956) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Robert Wise / Roteiro: Ernest Lehman / Elenco: Paul Newman, Pier Angeli, Everett Sloane / Sinopse: De origem humilde, o lutador de boxe Rocky Graziano (Paul Newman) começa a subir na carreira, se transformando em um campeão dos ringues. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Fotografia em Preto e Branco (Joseph Ruttenberg) e Melhor Direção de Arte (Cedric Gibbons e Malcolm Brown). Indicado ainda a Melhor Edição.

Pablo Aluísio.

O Moço de Filadélfia

Baseado no romance de Richard Powell, o filme "The Young Philadelphians" conta a história de Anthony Judson Lawrence (Paul Newman), um jovem estudante de direito que sonha em se tornar um dia um grande advogado. Seu pai falecido pertencia a uma das famílias mais ricas da Filadélfia, mas sua mãe o criou como um rapaz humilde, trabalhador, que precisa ganhar a vida também em empregos mais modestos, como na construção civil. Ao se apaixonar por Joan Dickinson (Barbara Rush), filha de um bem sucedido advogado da cidade, Tony começa a construir uma nova vida até que o destino novamente muda praticamente tudo da noite para o dia. Um bom romance dramático que nem é tão lembrado nos dias atuais. Uma pena já que é de fato um filme bem acima da média. Embora haja muitos personagens interessantes desfilando na tela o foco se concentra mesmo na história do jovem Tony Lawrence (Newman). Ele foi fruto de um casamento problemático. Sua mãe era uma jovem comum, de classe mais humilde, que acabou se apaixonando por seu pai, o único herdeiro da grande fortuna de sua família, uma das mais ricas da Filadélfia. Quando ele se casa sofre um verdadeiro colapso emocional, o que o leva a abreviar sua vida de forma trágica (o roteiro não deixa essa aspecto completamente claro, mas fica subentendido que seu pai seria na realidade um homossexual enrustido que foi forçado a se casar para manter as aparências perante a sociedade). Após a morte prematura do pai o garoto Tony passa a ser criado apenas por sua mãe que arranja inúmeros empregos para lhe sustentar.

Os anos passam, Tony se torna um rapaz bonito e inteligente e consegue entrar na faculdade de direito, um velho sonho. Uma vez lá ele finalmente começa a ver as portas se abrindo para seu futuro. Quando conhece a bela Joan (Bush) tudo se completa. Ele está começando sua vida profissional, está apaixonado e seguro que terá um lindo futuro pela frente. O problema é que Joan acaba sucumbindo às pressões de seu pai, um advogado rico e bem sucedido, e resolve largar o honesto, porém pobretão Tony, para se casar com um outro sujeito, cheio de posses e também proveniente de uma rica família como a dela. Ela não o ama, mas mesmo assim sobe ao altar para agradar seus familiares. Embora fique arrasado com esse casamento, Tony decide seguir em frente, subindo cada vez mais na profissão de advogado. Sua prova de fogo na profissão finalmente vem quando seu grande amigo Chester A. Gwynn (Robert Vaughn) é acusado de ter cometido um homicídio. O crime parece envolver figurões da cidade e por essa razão Tony começa a sofrer todos os tipos de pressão. Mesmo assim, dono de uma integridade fora do comum, ele resolve seguir em frente para provar a inocência do amigo, tentando o livrar de uma condenação certa de pena de morte.

Embora possa parecer que seja um drama de tribunal apenas, "The Young Philadelphians" é bem mais do que isso pois procura desenvolver muito bem os sonhos, anseios e lutas de seu protagonista. Assim o destaque não vai apenas para o lado jurídico de sua trama, mas também para o aspecto emocional de seu conturbado relacionamento com a mulher que ama. Tudo embalado por ótimos atuações, em especial Robert Vaughn que interpreta um rapaz bem nascido que acaba vendo sua vida ser destruída após perder um braço na guerra da Coreia e ser acusado de ser um assassino frio e calculista. Sua atuação é realmente digna de todos os aplausos pois ele se entregou completamente ao seu personagem angustiado e sem rumo na vida. Um trabalho que só vem para coroar ainda mais esse belo filme assinado pelo diretor Vincent Sherman. Uma produção particularmente indicada para jovens aspirantes à bela profissão de advogado e também para todas as  pessoas românticas que acreditam que o verdadeiro amor consegue sobreviver a tudo. Vale realmente a pena conhecer mais esse momento da rica carreira do mito imortal Paul Newman.

O Moço de Filadélfia (The Young Philadelphians, Estados Unidos, 1959) Estúdio: Warner Bros / Direção: Vincent Sherman / Roteiro: James Gunn / Elenco: Paul Newman, Robert Vaughn, Barbara Rush, Alexis Smith / Sinopse: Jovem americano passa por um momento crucial em sua vida, tendo que enfrentar uma série de dificuldades pessoais. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Robert Vaughn). Também indicado ao prêmio máximo da Academia nas categorias de Melhor Fotografia em preto e branco e Melhor Figurino.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

A Caçada

Ben Chamberlain (Henry Fonda) chega numa pequena cidade localizada no final da estrada de ferro, bem no meio de um deserto inóspito. Ele vai ao vilarejo atrás de notícias do paradeiro de Alma Britten (Madylen Rhue). O problema é que os moradores locais se recusam a dar maiores informações sobre a garota. Depois de muito procurar finalmente Ben a localiza em uma cabana nos arredores da cidadela, mas para seu infortúnio a encontra morta por espancamento. Para piorar ainda mais o que já era ruim logo é acusado pelo Xerife Vince McKay (Michael Parks) de ter assassinado a jovem. Sem saída foge para o deserto e é caçado pelos homens da lei.

"A Caçada" é uma experiência que Henry Fonda fez em 1967. Ator consagrado de cinema aceitou realizar esse telefilme para a Universal. O curioso é que apesar de ser um produto televisivo "Stranger On The Run" não apresenta uma produção modesta, pelo contrário, o filme mostra uma boa reconstituição de época, inclusive com o uso de toda uma cidade cenográfica com direito a trilhos de ferrovia e trens antigos. Certamente não é um telefilme típico da TV americana dos anos 60. É bem melhor.

Henry Fonda surge em um papel diferente dos que estava acostumado a interpretar em filmes de western. Aqui ele não é um ás do gatilho e nem muito menos um pistoleiro profissional. Na realidade seu personagem Ben Chamberlain é apenas um cidadão comum acusado de um crime que não cometeu. Fonda como sempre está muito bem, numa interpretação muito coesa e adequada. Sua parceira em cena, Anne Baxter, também demonstra talento e carisma. O problema em termos de elenco surge na figura do ator Michael Parks que faz o xerife que caça Fonda. Sem muita expressão não consegue ficar à altura de Henry em nenhum momento. No elenco de apoio ainda temos Sal Mineo fazendo um membro do bando do Xerife.

"A Caçada" foi dirigido por Don Siegel, diretor de TV que depois iniciaria uma ótima parceria com Clint Eastwood em alguns dos mais lembrados faroestes da década de 1970. Pelo jeito tomou gosto pela mitologia do western. Então é isso, "A Caçada" é uma produção feita para a TV que está bem acima da média do que se produzia naquela década. É sem dúvida um filme menor dentro da rica filmografia do mito Henry Fonda mas não deixa de ser um bom western que merece ser redescoberto nos dias atuais.

A Caçada (Stranger On The Run, EUA, 1967) Direção: Don Siegel / Roteiro: Dean Riesner, Reginald Rose / Elenco: Henry Fonda, Anne Baxter, Michael Parks, Sal Mineo / Sinopse: Ben Chamberlain (Henry Fonda) é um forasteiro acusado injustamente de ter assassinado uma jovem. Lutando por sua vida foge para o deserto onde passa a ser caçado pelo xerife McKay (Michael Parks) e seu bando de auxiliares.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Limites

Laura (Vera Farmiga) sempre teve um relacionamento ruim e problemático com o pai Jack (Christopher Plummer). Desde a infância e adolescência ela quis ter um pai presente, responsável, que lhe ajudasse na vida. Só que isso nunca aconteceu. Jack sempre foi ausente na sua criação, além de ser um péssimo exemplo para qualquer um. Os anos passam e Jack se tornou idoso, sem ter para onde ir. Claro, nesse momento ele então decide procurar a filha. O problema é que ela também tem uma vida complicada, pois se tornou mãe solteira, precisando lutar para criar sozinha o seu filho. E do choque de gerações nasce a linha narrativa principal desse filme.

Lendo o resumo, a sinopse do filme, pode ficar parecendo que se trata de um drama. Não é isso. Embora trate do desastroso relacionamento entre pai e filha, o roteiro também abre espaço para sutilezas, adotando um tom até leve, aberto também para o humor. Os personagens pegam a estrada e isso abre margem para aquele tipo cinematográfico que conhecemos bem, o road movie.

De uma maneira ou outra o grande motivo para o cinéfilo conferir esse filme é o excelente elenco. Começando pela presença de Christopher Plummer. É incrível, mas o veterano ator aos 89 anos de idade parece viver o melhor momento de sua longa carreira. Ele foi premiado com o Oscar por seu trabalho em "Toda Forma de Amar" e segue firme, trabalhando como nunca, aparecendo em filmes realmente muito bons. É um exemplo de vida. Já Vera Farmiga dá um tempo nos filmes de terror - estilo onde também se tornou produtora de sucesso - para mais uma vez mostrar que é uma atriz realmente talentosa. Sua personagem sob esse ponto de vista não deixa de ser um presente em sua carreira. Então deixo a dica. É um filme ainda pouco conhecido, pouco comentado, mas que vale muito a pena conhecer.

Limites (Boundaries, Estados Unidos, Canadá, 2018) Direção: Shana Feste / Roteiro: Shana Feste / Elenco: Vera Farmiga, Christopher Plummer, Christopher Lloyd, Lewis MacDougall / Sinopse: Idoso e sem ter onde morar, Jack (Plummer) decide ligar para a filha Laura (Farmiga). Eles sempre tiveram uma convivência conturbada, mas agora vão ter que se acostumar juntos, superando as antigas barreiras do passado.

Pablo Aluísio.

Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras

Londres, 1910. Um jornal inglês oferece uma bela premiação para uma corrida aérea entre Londres e Paris. O belo prêmio de milhares de Libras Esterlinas logo atrai a atenção de pilotos de todos os lugares do mundo. A aviação em sua infância ainda era uma atividade aventureira, só praticada por pilotos audazes. O curioso é que nessa época os aviões nem mesmo eram chamados de aviões, mas sim de máquinas voadoras. O filme pretende prestar uma homenagem a esses pioneiros. Ao mesmo tempo em que louva esses homens ainda adota um tom nitidamente cômico e pastelão, numa clara referência aos primeiros filmes mudos de comédia. A trilha sonora vai pelo mesmo caminho. Para quem gosta de aviação o filme é especialmente recomendado pois as réplicas construídas para a produção são extremamente bem feitas (usando inclusive dos projetos originais da década de 1910). Os materiais também foram os mesmos usados pelos pioneiros, trazendo mais veracidade ao que vemos em cena. Na primeira cena inclusive o filme mostra várias imagens reais das primeiras tentativas do homem em voar. Hoje soa engraçado, mas na época todas as experiências eram válidas, até porque a ciência é feita assim, de tentativa e erro. Os efeitos especiais também são muito bem realizados, principalmente pela época e recriam – tudo com grande humor – sequências que mais parecem ser provenientes de desenhos animados (impossível não lembrar do clássico de Hanna-Barbera, “A Corrida Maluca”, tantas vezes exibida em nossas TVs abertas por todos esses anos).

Outro aspecto curioso do roteiro é que cada piloto tem uma nacionalidade diferente. Assim aproveita-se para criar caricaturas de cada povo. Há o americano, o francês, o alemão, o italiano e o inglês. Cada um deles traz em sua caracterização os estereótipos de cada povo. O francês, por exemplo, surge como galanteador e conquistador, não resistindo a um rabo de saia. O alemão é um tipo austero, atrapalhado e completamente disciplinado – a ponto de pilotar seu avião com um manual a tiracolo. O inglês é o símbolo do bom mocismo, educado e gentil. Um verdadeiro Lord. O italiano é um tipo exagerado, emocional, que literalmente “fala com as mãos”! Por fim há o americano que para variar é um cowboy do Arizona. Como se pode perceber é um argumento bem caricatural, feito e produzido para divertir acima de tudo.

Não há nenhuma estrela no filme. Nenhum astro. Ao invés disso a Fox, estúdio que produziu a comédia, resolveu investir mesmo nos aspectos técnicos da realização da película. Assim grande parte do orçamento foi gasto na construção das aeronaves. Decisão acertada pois o roteiro não abre margens mesmo para um só personagem brilhar, tendo todos praticamente o mesmo espaço em cena. Alguns modelos inclusive tiveram que ser destruídos por causa da estória do filme. Ver aquelas preciosidades destroçadas realmente causará aflição nos amantes de modelos clássicos da história da aviação. Em seu lançamento a recepção foi positiva. Os principais críticos da época qualificaram o filme como uma “boa diversão”. Para surpresa de todos a produção ainda conseguiu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro, um feito e tanto para uma comédia tão despretensiosa. Enfim, “Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras” é exatamente isso, uma boa diversão nostálgica com bela produção e fidelidade histórica na reconstrução dos aviões que estão em cena. O humor mais escrachado e exagerado lembrando as antigas comédias do cinema mudo pode causar alguma estranheza no público dos dias atuais mas mesmo assim vale a pena assistir (ou rever) para conhecer o típico humor inglês mais pastelão da década de 1960.

Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras (Those Magnificent Men in Their Flying Machines or How I Flew from London to Paris in 25 hours 11 minutes, Inglaterra - EUA, 1965) Direção: Ken Annakin / Roteiro: Jack Davies, Ken Annakin / Elenco: Stuart Whitman, Sarah Miles, James Fox, Alberto Sordi,  Robert Morley, Gert Fröbe, Jean-Pierre Cassel / Sinopse: Um jornal inglês promove uma corrida aérea entre Londres e Paris. Vários pilotos de diversos países ao redor do mundo se inscrevem em busca do grande prêmio. Muitas aventuras esperam os pioneiros da aviação!

Pablo Aluísio.