quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O Homem Que Fazia Chover

Poucos gostos são tão amargos quanto o da injustiça. Só quem foi injustiçado em sua vida sabe o que sente e o quanto dói passar por isso. O pior é quando a injustiça vem do sistema judiciário que foi criado justamente para evitar isso. "O Homem Que Fazia Chover" é o último grande filme da carreira de Francis Ford Coppola. Hoje em dia o grande mestre está mais empenhado em fazer fortuna com sua vinícola do que em produzir grandes obras primas. Esporadicamente ele lança um ou outro pequeno filme no mercado, muitas vezes indo direto para o mercado de vídeo mas na época em que dirigiu "O Homem Que Fazia Chover" ainda estava em plena forma, num pico de criatividade artística admirável. A trama mostra o primeiro caso da vida de Rudy Baylor (Matt Damon), jovem advogado recém saído da faculdade. Ele é contratado por um casal para defender os interesses de seu pequeno filho que sofre de Leucemia e precisa de dinheiro para se submeter a uma cirurgia de transplante de medula óssea. O problema é que a seguradora que administra o plano de saúde do garoto simplesmente não aceita pagar por esse procedimento. Rudy então terá que lutar como um titã para ganhar a ação e salvar a vida do garoto que está com os dias contados caso não realize a cirurgia. A trama é baseada no livro de John Grisham, autor consagrado de best sellers cujos livros já renderam excelentes filmes. Advogado de profissão ele conhece como poucos as trilhas sinuosas do sistema judiciário americano.

A essência do filme é mostrar a luta de um idealista advogado contra o poder econômico da empresa de seguros que fará de tudo para não pagar as despesas do garotinho doente. É cruel mas é a mais pura verdade - inclusive no Brasil onde esse tipo de situação tem se tornado comum nos tribunais. Eu realmente fico pasmo com a falta de humanidade de certos setores e empresas que se recusam, muitas vezes sem base legal nenhuma, a arcar com procedimentos caros e custosos. O pior é saber que dentro dos atalhos da lei e do poder judiciário existe a possibilidade de algo assim sair impune, sem salvação para os que estão doentes em estado de necessidade. Até que ponto vai a desumanidade dos executivos dessas empresas? Será que conseguem mesmo dormir à noite? Não possuem a menor consciência que seus atos são errados e colocam em risco a vida de muitas pessoas doentes? Eu nunca canso de me surpreender com a falta de caráter desse tipo de gente. Francis Ford Coppola, como sempre, dá show de direção. O filme tem um clima de sordidez fria que gela o sangue. Quem já teve a oportunidade de participar de alguma ação judicial vai se identificar. É um ambiente muitas vezes sórdido onde empresas poderosas defendem seus interesses escusos com pleno apoio dos magistrados - muitos deles corrompidos. E o cidadão onde fica nisso? Fica oprimido, sem chances de ver a justiça sendo feita. Roteiro, atuações e argumentos provam que quando quer Francis Ford Coppola é realmente um gênio na arte de dirigir. Uma produção que faz refletir e pensar sobre os descaminhos que um cidadão pode enfrentar ao tentar alcançar a justiça pelos meios oficiais. 

O Homem Que Fazia Chover (The Rainmaker, Estados Unidos, 1997) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Francis Ford Coppola baseado no livro de John Grisham / Elenco: Matt Damon, Danny DeVito, Claire Danes, Jon Voight, Mary Kay Place, Dean Stockwell, Teresa Wright, Virginia Madsen, Mickey Rourke / Sinopse: Advogado recém formado luta contra uma poderosa seguradora que se recusa a pagar o que deve para que a família de um jovem doente realize um tratamento médico do qual sua vida depende. Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante pela atuação de Jon Voight.

Pablo Aluísio.

A Hora do Lobisomem

Stephen King criou algumas das melhores estórias de terror da literatura americana. Aqui um de seus livros mais populares ganha uma bela versão para o cinema. Inicialmente o filme foi lançado comercialmente no Brasil com o nome de “A Hora do Lobisomem”, numa clara tentativa de pegar carona no grande sucesso “A Hora do Espanto”. Como se passa em quase todos os escritos de King aqui ele resolveu revitalizar o antigo monstro clássico, o Lobisomem. Fruto de uma maldição o homem afetado por essa sinistra síndrome (também conhecida por Licantropia) vira um ser monstruoso, meio homem, meio lobo. A origem da lenda é incerta mas está presente em praticamente todas as culturas o que leva a crer que teve uma origem comum em algum momento da história da humanidade. King não foge da tradição em nenhum momento. A única forma de abater a besta é usando prata – ou para ser mais eficiente, balas de prata. Esse aliás foi o título utilizado algumas vezes quando o filme foi reprisado em nossa TV aberta (“A Hora do Lobisomem” foi bastante exibido pelo canal SBT).  Em minha opinião essa produção segue sendo uma das melhores envolvendo o monstro folclórico. Não chega ao nível de um “Lobisomem Americano em Londres” mas se destaca pela ótima trama que joga o tempo todo com a verdadeira identidade do ser amaldiçoado. Afinal quem seria o monstro? Tenho certeza que quando ele foi revelado muita gente foi pega de surpresa pois o caso é nitidamente daqueles em que o personagem está acima de qualquer suspeita!

O filme era estrelado pelo ídolo juvenil Corey Haim. Na época ele colecionava sucessos e estava no primeiro time de atores jovens de Hollywood. Infelizmente se envolveu com drogas pesadas e caiu em desgraça na carreira, vindo a falecer precocemente e de forma trágica em 2010. Sua estrela foi efêmera mas ele acabou participando de excelentes filmes da década de 80 como “A Inocência do Primeiro Amor” (ao lado do bad boy Charlie Sheen). Ao seu lado outro ator que foi a cara dos anos 80, Gary Busey. “A Hora do Lobisomem” não se destaca nem pela violência e nem pelos efeitos especiais (que hoje em dia soam realmente ultrapassados). O diferencial aqui está, como já afirmei, em uma trama muito bem arquitetada, fruto da genialidade de Stephen King. Produção barata, filmada no interior dos EUA (Carolina do Norte) conseguiu se destacar como um bom momento do cinema de terror daqueles anos. Passou longe de alcançar uma bilheteria tão expressiva como a de “A Hora do Espanto” mas mesmo assim fez diferença entre os filmes daquela época. Hoje merece ser revisto. King em grande forma encontra uma boa adaptação de seu texto para as telas. Não deixe de conferir e tente descobrir quem é o Lobo entre os personagens da estória.

A Hora do Lobisomem (Silver Bullet, Estados Unidos, 1985) Direção: Daniel Attias / Roteiro: Stephen King baseado em seu próprio livro / Elenco: Gary Busey, Everett McGill, Corey Haim, Megan Follows, Terry O'Quinn / Sinopse: Numa pequena cidade do interior dos EUA uma série de mortes e ataques colocam a população local em terror! Marty Coslaw (Corey Haim) é um jovem com problemas de locomoção que pretende descobrir quem é o verdadeiro lobisomem entre os moradores da região.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Amor Sem Fim

É possível esquecer o primeiro amor? Essa é a pergunta central de “Amor Sem Fim”, clássico romântico da década de 80. No filme acompanhamos o namoro de dois jovens adolescentes, Jade (Brooke Shields, linda e na flor da idade) e David (Martin Hewitt). No começo os pais de Jade levam o namoro com uma postura liberal, sem receios. Os problemas começam a surgir quando David e Jade começam a ter uma vida não apenas sentimental mas sexual também. Como os pais de Jade posam de compreensivos e liberais não tarda para que a jovem – de apenas 15 anos – comece a trazer o namorado para dormir em seu quarto. Eles iniciam um tórrido relacionamento sexual o que começa a incomodar a todos. O paizão antes posando de moderno não aguenta e em um acesso de fúria expulsa David de sua casa e o proíbe de ver sua filha. O irmão de Jade, Keith (interpretado por um muito jovem James Spader) também perde a compostura e parte para as vias de fato com seu ex-amigo (ele havia trazido David para dentro da casa da família, algo que se arrependeu amargamente após ele começar a namorar sua jovem irmã). Inconformado com a expulsão David acaba cometendo um ato impensado, colocando fogo na casa da namorada. A partir daí sua vida desce ladeira, ele é condenado e impedido de voltar a ver o amor de sua vida. Mas mesmo após tantos anos não parece disposto a abrir mão dessa paixão adolescente.

Como se pode perceber as tintas são fortes no quesito drama. A intenção realmente era essa – mostrar um amor verdadeiro mas cheio de obstáculos para se concretizar tal como um Romeu e Julieta contemporâneo. Não é à toa que o diretor do filme é Franco Zeffirelli. Acostumado com tramas de amores impossíveis o cineasta demonstra muita familiaridade com o tema. A produção é de bom gosto e respeita o espectador. Mesmo tendo uma das atrizes mais bonitas da época em seu elenco o filme não apela ou parte para vulgaridades. O elenco está todo coeso, apenas o ator que interpreta David, o namorado de Jade, deixa um pouco a desejar. Como curiosidade o futuro astro Tom Cruise faz uma pequena ponta, em um parque aconselhando seu amigo David a dar um susto na namorada, começando um incêndio por pura brincadeira (incêndio esse que foge do controle e destrói a casa da amada). Em essência é uma releitura dos velhos mitos românticos, da paixão impossível e do amor que vence a tudo e a todos. Bem realizado “Amor Sem Fim” sobreviveu muito bem ao tempo. Sua trilha sonora cheia de sucessos da época ainda é bastante evocativa. Um bom romance para corações apaixonados que não aceitam barreiras entre si. 

Amor Sem Fim (Endless Love, Estados Unidos, 1981) Direção: Franco Zeffirelli / Roteiro: Judith Rascoe baseado na novela de Scott Spencer / Elenco: Brooke Shields, Martin Hewitt, Shirley Knight,  Don Murray, James Spader, Tom Cruise / Sinopse: Jovem casal de namorados tem que lutar por vários anos por seu amor que sempre parece encontrar barreiras para se concretizar. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Johnny & June

Johnny Cash (1932 - 2003) foi um artista diferente. Ele surgiu na mesma geração de grandes cantores descobertos por Sam Phillips na pequenina Sun Records em Memphis. Dessa gravadora despontou toda uma geração inovadora e revolucionária na música americana, grandes nomes como Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Carl Perkins, tiveram sua primeira grande oportunidade lá. O que diferenciava Cash de todos esses outros intérpretes era o teor de suas músicas e o acentuado lirismo country que as embalava. Cash tinha um universo muito pessoal, suas canções geralmente retratavam a vida dos que estavam à margem da sociedade, como os presidiários, os pobres e os sofridos. Essa sua preferência pelo lado mais outsider da sociedade americana legou a ele um público muito fiel e devoto. A carreira de Cash também foi muito produtiva pois ele sempre estava gravando discos, fazendo shows, programas de TV e até cinema, era um verdadeiro workaholic em sua profissão. Transpor uma vida tão rica assim para um único filme não seria nada fácil. Por isso os produtores de “Johnny & June” optaram, de forma muito acertada, em focar o roteiro e o filme em cima do conturbado relacionamento de Johnny Cash com June Carter, também uma cantora que fazia parte de uma extensa linha familiar de artistas Country and Western.

O resultado do que se vê na tela é muito bom, beirando o excepcional. Joaquin Phoenix no papel principal conseguiu passar muito da personalidade de Cash. Ele tinha essa sensação de nunca se enquadrar, de nunca se sentir plenamente aceito. Phoenix inegavelmente deu muito brilho ao seu papel de Johnny Cash. Até mesmo pequenos detalhes, como maneirismos do cantor e a forma como ele segurava e tocava seu violão, o ator levou para seu trabalho no filme Já Reese Witherspoon também está muito satisfatória no papel de June Carter, muito embora ainda ache que seu Oscar de Melhor Atriz foi um pouco excessivo. Certamente ela está bem mas não a ponto de receber uma premiação tão importante. Provavelmente tenha sido premiada mais pela relevância de seu nome dentro da indústria do que pela atuação em si. Embora seja uma obra tecnicamente muito bem realizada o filme só desliza um pouco quando mostra Cash enfrentando problemas com drogas. Nesse ponto o filme perde muito de seu charme, se tornando um tanto quanto maniqueísta e forçado. Fora isso nada a reclamar. A trilha está recheada das imortais canções do homem de preto e conta ainda com cenas de shows muito bem realizadas. Após seu lançamento "Johnny & June" foi premiado com o Globo de Ouro de Melhor Filme na categoria Comédia / Musical. Um prêmio, esse sim, bem merecido.

Johnny & June (Walk the Line, Estados Unidos, 2005) Direção: James Mangold / Roteiro: Gill Dennis, James Mangold / Elenco: Joaquin Phoenix, Reese Witherspoon, Ginnifer Goodwin, Robert Patrick, Shelby Lynne, Dan Beene, Larry Bagby, Lucas Till, Ridge Canipe, Hailey Anne Nelson./ Sinopse: Cinebiografia do cantor e compositor Johnny Cash (Joaquim Phoenix) mostrando seu conturbado relacionamento amoroso com June Carter (Reese Witherspoon).

Pablo Aluísio.

Superman III

Terceira aventura da franquia original da década de 70, o filme Superman 3 deixa a desejar, não há como negar. Os filmes anteriores são maravilhosos, verdadeiros clássicos da cultura pop. Infelizmente nessa terceira aventura erraram a mão. Além da produção ter um orçamento muito mais modesto a tônica do filme, centrada em muito humor, desvirtua a proposta original dessa série. Há profusão de cenas cômicas, inclusive a cena inicial que beira o pastelão. Várias pessoas no centro de Metropolis vão sofrendo pequenos acidentes que geram outros maiores causando muita confusão na cidade. Ficaria bem numa comédia muda mas aqui soa deslocado. A presença do comediante Richard Pryor deixa o filme ainda mais engraçadinho. Como se não bastasse há várias modificações no elenco. Lex Luthor não participa da trama e é substituído por Ross Webster (Robert Vaughn), um magnata mal intencionado que deseja construir um super computador para dominar o mundo, manipulando desde o clima até o consumo e demanda do Petróleo mundial. Outra mudança é o afastamento de Lois Lane (Margot Kidder) que viaja de férias logo no começo do filme (só retornando na última cena). Após Clark Kent voltar a Smallville para uma reunião de sua turma colegial ele reencontra sua antiga paixão Lana Lang (Interpretada pela bonita Annette O'Toole). Ela agora está divorciada, com filho pequeno mas continua linda e apaixonante. Clark não demora a cair de amores por ela. Essas seqüências passadas em Smallville salvam o filme do desastre completo. Há um bom desenvolvimento da aproximação deles que acabam revivendo uma paixão colegial há muito adormecida.

Outro ponto positivo do argumento é a luta interior de Superman consigo mesmo. Após entrar em contato com uma pedra de Kriptonita modificada em laboratório ele começa a desenvolver reações inesperadas. Ele se torna cafajeste, dá em cima das mulheres de forma grosseira e deixa de ser uma boa pessoa. Até tomar uns pileques no boteco da esquina o famoso herói toma, ora vejam só! Para superar essa fase ruim ele acaba enfrentando a si mesmo num velho ferro velho. Essa provavelmente é a melhor parte de todo o filme. O duelo é daqueles momentos que salvam a produção. Por fim temos a seqüência final onde Superman enfrenta o que seria um computador invencível. Realmente o argumento soa muito infantil e sem graça hoje em dia. Com nuances que chega a lembrar de Metropolis, o famoso clássico da era do cinema mudo, a cena não consegue ter o impacto que promete. Tentando ser mais antenado com as novas tecnologias que surgiam naqueles anos o filme só consegue soar muito ultrapassado em uma revisão atual. Como foi realizado no começo da década de 80 os computadores acabam virando vilões involuntários. A era do PC estava chegando, havia toda essa dúvida e temor sobre os rumos que a tecnologia iria tomar e assim o roteiro materializa esse medo da forma mais extrema que existe. Aliás a tecnologia que surge em cena é bem curiosa. Velhos computadores baseados em linguagem Basic em um mundo digital inimaginável para os jovens de hoje acostumados com a facilidade do Windons e demais sistemas operacionais. Outra coisa bem curiosa é a pequena animação que a empresa Atari (a rainha dos videogames da época) produziu para o filme. Superman tenta se desviar de mísseis e bombas enquanto vemos aquele visual característico dos games da empresa surgir em cena. Impossível não sentir nostalgia nessa seqüência. Em suma, “Superman 3” é realmente uma película bem abaixo dos anteriores mas não pode ser considerado o pior filme da série original pois esse título certamente pertence a “Superman 4” que falaremos em breve aqui no Blog. Continue acompanhando. Até a próxima.

Superman III (Superman III, Estados Unidos, 1983)  Direção: Richard Lester / Roteiro: David Newman, Leslie Newman / Elenco: Christopher Reeve, Richard Pryor, Margot Kidder,  Jackie Cooper,  Annette O'Toole,  Robert Vaughn / Sinopse: Gus Gorman (Richard Pryor) é um desempregado crônico que após ver seu seguro desemprego cancelado resolve estudar informática. O que parece ser apenas uma solução para seu problema acaba se revelando uma vocação pois Gus se mostra gênio na área. Logo seus serviços são contratados pelo magnata Ross Webster (Robert Vaughn) que pretende usar a genialidade de Gus para seus interesses do mal. Ao mesmo tempo o jornalista Clark Kent (Christopher Reeve) resolve voltar em férias para Smallville onde o baile de encontro de sua antiga turma do colegial será realizada. Lá encontra a antiga paixão dos tempos de colégio, a bela Lana Lang (Annette O'Toole). Mal sabe ele que está prestes a enfrentar um dos maiores desafios de sua vida.

Pablo Aluísio.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Quantum of Solace

Esse foi o segundo filme de James Bond com o ator Daniel Craig. O êxito do primeiro filme demonstrou que o público de uma forma em geral havia aprovado o novo ator na pele do mais famoso agente secreto da história do cinema. Craig surgia com uma caracterização bem mais séria, sem espaços para humor ou até mesmo chanchada (que se tornou marca característica de Roger Moore no papel). Com o fim da guerra fria Bond ficou sem os seus vilões preferidos, os comunistas soviéticos e assim as tramas de seus filmes foram modernizadas para a realidade sociopolítica do mundo atual. Os novos escritores responsáveis por essa revitalização se viram como podem para suprir essa lacuna (os agentes russos continuam imbatíveis como vilões da franquia Bond mas hoje em dia soam ultrapassados, anacrônicos). Talvez por essa razão – a falta de vilões mais consistentes – a trama desse filme tenha sido tão criticada. Outro ponto fraco do filme anterior aqui também é atenuado. No primeiro filme muitos reclamaram da falta do velho charme sedutor do agente e por essa razão os roteiristas aqui capricharam envolvendo Bond não apenas com uma Bond Girl mas com duas! Funcionou? Apenas em termos. A verdade é que Daniel Craig é ótimo em cenas de ação e violência mas quando tem que interpretar o lado mais romântico do personagem não se sai bem. Isso é uma característica muito pessoal desse ator. Talvez por essa razão os seus filmes tenham sido tão movimentados, com impecáveis cenas de ação e perseguições. Muito provavelmente os produtores queiram compensar sua falta de charme com muita correria e pirotecnia.

Na trama James Bond (Daniel Craig) passa por um momento de desilusão amorosa após ser abandonado por uma paixão. Procurando seguir em frente ele acaba descobrindo uma grande organização criminosa especializada em extorsões e chantagens. Para piorar o serviço secreto britânico descobre que há um traidor agindo dentro do sistema. Bond é designado para tentar descobrir de quem se trata. Suas investigações acabam levando o famoso espião ao encalço de Dominic Greene (Mathieu Amalric), um empresário poderoso que pretende ter sob controle os recursos naturais de uma extensa parte do planeta. Suas ligações incluem não apenas políticos locais corruptos como também membros do próprio serviço britânico e CIA, o que leva Bond ao descobrimento de uma extensa e complexa rede criminosa com vários tentáculos nos próprios governos dos principais países ocidentais. Como não poderia de ser o filme tem várias cenas espetaculares mas todos aqueles diálogos sobre controle de águas em terras áridas acaba cansando um pouco. Como é de praxe em filmes da série, Bond também viaja para várias partes do mundo. Aqui ele passa por Afeganistão, Chile, México, Áustria e Itália (locações onde o filme foi realizado). Ao custo de 200 milhões de dólares (orçamento digno dos maiores blockbusters da indústria americana), o filme rendeu ao redor do mundo mais de 500 milhões de dólares – um lucro excepcional. O sucesso absoluto sedimentou o caminho de Daniel Craig na franquia. Se tudo ia bem nas bilheterias o mesmo não se podia dizer nos bastidores pois brigas judiciais pelos direitos autorais nublavam o futuro de Bond no cinema. Felizmente ano passado os problemas foram finalmente resolvidos e celebrados com mais um lançamento com o personagem. Não foi dessa vez que acabaram com 007 que ao que parece terá ainda vida longa nas telas de cinema de todo o mundo.

Quantum of Solace (Idem, Estados Unidos, Inglaterra, 2008) Direção: Marc Forster / Roteiro: Paul Haggis, Neal Purvis, Robert Wade baseados no personagem criado por Ian Fleming / Elenco: Daniel Craig, Olga Kurylenko, Mathieu Amalric, Judi Dench, Giancarlo Giannini, Gemma Arterton, Jeffrey Wright / Sinopse: O agente secreto James Bond tem que superar uma desilusão amorosa ao mesmo tempo em que combate uma complexa organização liderada por um empresário poderoso e corrupto que pretende dominar vastos recursos naturais do planeta para atender seus interesses criminosos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Há um velho estigma dentro do cinema que afirma que a terceira continuação de uma franquia é sempre a pior. Fazendo uma retrospectiva realmente temos muitos exemplos disso. Esse último filme de Batman sob a direção de Christopher Nolan não contradiz essa velha máxima. Realmente é o filme menos brilhante da franquia mas é bom ressalvar que apesar disso ainda consegue ser um filme realmente excepcional. Ainda considero “Batman Begins” o melhor roteiro escrito e “Batman O Cavaleiro das Trevas” como o mais marcante em termos de atuação e direção (basta lembrar do Coringa de Heath Ledger para entender isso). Esse último filme de trilogia se destaca por ser o mais caótico, diria até mesmo anarquista, de todos eles. A figura de Bane surpreende por se revestir de tons revolucionários, pregando o poder para o povo (mesmo que seja mera desculpa para seus atos terroristas). Sua retórica chega a lembrar até mesmo dos líderes populistas e falsos socialistas que proliferam na América Latina atualmente.

A trama é brilhantemente construída. É uma pena que não possa debater aqui todos os detalhes e reviravoltas que surgem em cena pois não daria qualquer tipo de spoiler que estragasse as surpresas do filme mas fica a observação de que, pela primeira vez em muito tempo, Hollywood conseguiu criar um argumento muito sólido que consegue explicar excepcionalmente bem a origem e as motivações de seus personagens. Mesmo com tantos acertos encontramos erros também no timing da película. Embora seja um grande filme temos que reconhecer que há certos momentos que quebram a espinha dorsal da trama. Achei excelente o uso de certos momentos mas também pude perceber nitidamente a presença de cenas desnecessárias que quebraram o ritmo frenético dos acontecimentos. Batman, ou melhor dizendo, Bruce Wayne, surge incrivelmente vulnerável nesse terceiro filme. Quase sempre se recuperando de alguma lesão ou fratura – o que lhe deu uma humanidade muito acentuada, valorizando o lado mais realista do personagem, algo bem típico dos filmes de Christopher Nolan, que sempre procura ficar com os pés no chão. Um exemplo disso vemos também no próprio vilão Bane. Nos quadrinhos e desenhos animados ele é basicamente um brucutu brutal que literalmente “infla” com músculos desproporcionais, virando uma espécie de gigante descomunal. Nolan ignorou tudo isso em favor de um maior realismo (algo que esperava embora no íntimo tenha ficado torcendo para ele virar o monstro que conhecemos dos gibis).

Em termos de elenco nada a acrescentar ou criticar. Certamente a atriz Anne Hathaway como Mulher Gato passa longe do carisma de Michelle Pfeiffer (que continua sendo a melhor personificação do personagem no cinema) mas mesmo assim não compromete no saldo final. Ela na verdade é pouco sensual, mais parecendo uma daquelas modelos sem sal das revistas de moda, mas não faz feio.  Christian Bale continua muito bem como Bruce Wayne / Batman. Ator sem muito carisma conseguiu se sair muito bem na pele do complexo e martirizado milionário. Seu jeito sorumbático caiu como uma luva para o personagem sombrio que vive em eterna crise existencial. O restante do elenco de apoio continua ótimo, todos grandes atores que trazem muito para o resultado final. Já analisar o trabalho do ator Tom Hardy como Bane fica mais complicado. Com uma máscara que lhe tira toda a expressão facial não há como qualificar como bom ou ruim sua performance. Bane é um personagem que não abre muitos espaços para interpretações inspiradas como Coringa ou Pingüim.

Nos quadrinhos ainda é menos expressivo se limitando a ser uma montanha de músculos brutalizada. Aqui pelo menos ainda criaram toda uma estória em torno dele, tentando obviamente lhe passar alguma personalidade. De qualquer maneira as cenas de ação e lutas ficaram muito bem elaboradas e executadas. Impossível não sentir um frio na espinha na hora em que ele dá um golpe quase mortal no herói mascarado, quebrando suas costas. Em suma, reforçando minhas conclusões diria que “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” é certamente o mais fraco da série mas isso não significa em absoluto que seja ruim ou deixe a desejar, pelo contrário. O que acontece é que os filmes anteriores são maravilhosos e esse também é excepcional mas um ponto abaixo dos demais. Parabéns a Christopher Nolan pelo talento, bom gosto e competência na realização dessa extremamente bem sucedida franquia que se encerra aqui. Não sei qual é o futuro do Homem-Morcego nas telas – provavelmente volte em uma nova franquia daqui alguns anos – mas sei de antemão que se igualar ao nível de qualidade dos filmes de Nolan não será nada fácil. De qualquer modo fico realmente feliz em saber que essa trilogia foi fechada com chave de ouro.

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises,  Estados Unidos, 2012) / Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan / Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Morgan Freeman, Michael Caine, Anne Hathaway, JosephGordon-Levitt, Liam Neeson, Tom Hardy, Cilliam Murphy, Marion Cotillard, Juno Temple, Daniel Sunjata, Joey King, Matthew Modine / Sinopse Após os acontecimentos do filme anterior Bruce Wayne (Christian Bale) tenta se recuperar fisicamente dos ferimentos sofridos. Nesse meio tempo surge em Gotham City um terrorista mercenário chamado Bane (Tom Hardy) que deseja sob uma falsa retórica populista destruir a cidade. Apenas Batman pode deter seus planos de destruição.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A Entidade

Ellison Oswalt (Ethan Hawke) é um escritor em crise que em busca da criatividade perdida resolve tomar uma decisão radical. Especialista em livros sobre crimes bárbaros e famosos ele decide se mudar junto com sua família para uma casa onde vários homicídios contra crianças foram cometidos. Lá procura desvendar o terrível crime para assim escrever mais um best-seller. Conforme vai avançando nas investigações ele descobre que a morte das crianças tem ligação com vários outros crimes acontecidos em diversas cidades espalhadas pelos EUA. Ao mesmo tempo começa a notar vários eventos sobrenaturais ocorrendo ao seu redor na sinistra casa. "A Entidade" se propõe a ser muitas coisas ao mesmo tempo: terror de casas mal assombradas, filme de suspense, produção de investigação sobre assassinatos em série para no fim trazer um toque sobrenatural envolvendo um demônio secular. Também brinca metaforicamente com a figura do "bicho papão", tão presente no universo infantil. Atirando para todos os lados o roteiro até consegue enganar bem mas o resultado deixa a desejar. O argumento, por exemplo, lembra demais "O Chamado", aquele famoso filme de terror oriental que depois virou remake de sucesso nos EUA.

O grande problema do filme é que o personagem principal se torna muitas vezes cansativo, histérico. A produção também desperdiça ótimas oportunidades de criar suspense e terror com a família na casa onde os crimes foram cometidos. O uso de um velho equipamento de Super 8 talvez seja uma das boas idéias do filme mas é usado em excesso o que tira o fator surpresa de seu uso. A tal entidade também é bem decepcionante. Inspirada num velho demônio da antiguidade (Bagul, o devorador de almas inocentes) não consegue passar medo por ser estilizado demais, beirando a caricatura. Se fosse melhor trabalhado poderia facilmente virar mais um ícone do gênero como Freddy Krueger ou quem sabe até mesmo um novo Jason de "Sexta-Feira 13". Do jeito que está só vai criar pavor mesmo em criancinhas muito pequenas que ainda acreditam no bicho papão. Enfim, nesse ano de 2012 em que tivemos tantos filmes de terror envolvendo possessões e mundo sobrenatural "A Entidade" não conseguiu se destacar muito por causa justamente dessas suas falhas. O resultado final é certamente abaixo do esperado.

A Entidade (Sinister, Estados Unidos, 2012) Direção: Scott Derrickson / Roteiro: Scott Derrickson, C. Robert Cargill / Elenco: Ethan Hawke, Vincent D’Onofrio, James Ransone, Fred Dalton Thompson, Juliet Rylance / Sinopse: Escritor especializado em livros sobre crimes bárbaros decide se mudar com a família para uma casa onde várias crianças foram mortas de maneira hedionda. No curso de elaboração de seu novo texto descobre que as mortes estão relacionadas com ocultismo e forças demoníacas. Não tarda e perceber que está envolvido com forças sobrenaturais ao seu redor.

Pablo Aluísio.