quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Cesar Romero



Lendo uma antiga revista de cinema acabei me deparando com um texto escrito pela jornalista brasileira Dulce Damasceno de Brito onde ela lamentava o esquecimento do ator Cesar Romero. Dulce viveu por muitos anos em Hollywood em seus anos de ouro e conheceu todos aqueles astros e estrelas tais como Marilyn Monroe e Carmen Miranda. Sobre essa última inclusive ela foi uma grande amiga pessoal. E ambas frequentavam bastante a casa do ator Cesar Romero.


Hoje em dia a principal referência de Romero vem da sua atuação na série Batman nos anos 60. Pois é, quando sua carreira começou a fraquejar ele precisou migrar para a TV. Naquela época interpretar um vilão de histórias em quadrinhos como o Coringa, não era uma coisa muito positiva para um ator. Significava apenas que ele estava completamente decadente, precisando trabalhar, nem que fosse em um programa infanto-juvenil como aquele.


Antes de ser o famoso vilão do universo de Batman o ator trabalhou em incríveis 160 filmes, a maioria deles como coadjuvante, interpretando personagens ao estilo Latin Lover. Um fato curioso é que todos em Hollywood pensavam que Romero era mexicano, porém ele era americano nato, nascido em Nova Iorque, filho de imigrantes cubanos. O fato de ser confundido com um estrangeiro o divertia e ele caçoava indiretamente dos jornalistas americanos, ora dizendo que era espanhol, ora que era colombiano... Enfim, em cada entrevista Cesar Romero contava uma história de vida diferente - e puramente ficcional.


Dulce também revela em seu texto que Cesar Romero era gay e que isso não era necessariamente um segredo dentro da comunidade em Hollywood. No fundo todos sabiam disso. Ele era muito espirituoso e sempre era convidado para grandes festas para animar e entreter os convidados. Era um grande anfitrião. Sobre o fato de nunca ter se casado se divertia com as desculpas do estúdio que afirmavam que ele era apenas um "solteirão convicto". O interessante é que ele dizia que o Coringa, que era sua mais famosa atuação (e que iria lhe dar uma fama eterna), também muito provavelmente era gay. Romero comentou: "Coringa só pode ser gay! Um homem heterossexual jamais usaria roupas tão coloridas, chamativas e fora do normal como ele!". Pelo visto Romero foi divertido até o fim de seus dias...

Pablo Aluísio.

A Ponte do Rio Kwai

Título no Brasil: A Ponte do Rio Kwai
Título Original: The Bridge on the River Kwai
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Horizon Pictures
Direção: David Lean
Roteiro: Carl Foreman, Michael Wilson
Elenco: William Holden, Alec Guinness, Jack Hawkins, Sessue Hayakawa, James Donald

Sinopse:
Com roteiro baseado na novela histórica de Pierre Boulle, o filme "A Ponte do Rio Kwai" conta a história de um grupo de militares ingleses e americanos, feitos prisioneiros pelos japoneses durante a II Guerra Mundial que são forçados a construir uma ponte no Rio Kwai.

Comentários:
Esse é sempre lembrado como um dos maiores filmes de guerra já feitos. E com razão. "A Ponte do Rio Kwai" é um filme maravilhoso que captou muito bem a mentalidade dos ingleses durante a guerra. E são levados a construírem uma ponte estratégia e aceitam o desafio com disciplina, empenho e eficácia, tudo para demonstrar aos japoneses o seu valor como soldados e principalmente como homens de verdade. A música tema assobiada é até hoje facilmente reconhecível, mas o mérito maior vai não apenas ao elenco maravilhoso, mas também ao cineasta David Lean, um mestte da sétima arte. Ele foi sem dúvida um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos. Deixo aqui meus respeitos e meus aplausos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Montgomery Clift - Reflexões de um Ator

As pessoas de Hollywood criaram um certo preconceito contra atores de Nova Iorque. Mal você entra no set de filmagens e os cochichos começam como se estivessem dizendo "Lá vem aquele sabichão que pensa saber tudo sobre atuação". É cansativo. De minha parte procuro apenas fazer o melhor trabalho sem pisar nos calos de ninguém. Não quero ensinar a absolutamente ninguém como atuar melhor. Cada um teve sua própria escola de vida e não serei eu que irei falar como se atua em cada cena. Ser formado no Actor´s Studio joga uma imagem em cima de você. As pessoas pensam coisas erradas de mim. Não sou um sabichão e tampouco quero dizer o que se deve ou não fazer em um filme. Cada um que procure o que é melhor para si mesmo.

A maior diferença que vejo entre atores de Nova Iorque e os daqui da Califórnia é que lá temos uma visão um pouco maior do que seria a arte da atuação. Em Hollywood as coisas funcionam sob uma mentalidade comercial, de indústria mesmo. Em Nova Iorque queremos apenas aprofundar nossas próprias capacidades dramáticas, seja no palco, seja nas telas de cinema. Há uma compreensão diferente do que é ser ator. Eu amo o teatro. Fiz muitas peças importantes em Nova Iorque, porém devo reconhecer que também é muito árduo. Um ator de teatro em Nova Iorque se apresenta duas vezes por dia, mais de dez vezes por semana. É muito estafante. Em Hollywood já fiz também vários filmes e não achei tão puxado. Há mais tempo para você descansar e aproveitar melhor a vida. Também temos aqui os melhores hotéis para se hospedar. Adoro os hotéis de Los Angeles. Se pudesse moraria em um até o fim da minha vida. Você não precisa se preocupar com nada e tudo está à mão. Ser ator em Nova Iorque significa alugar um pequeno apartamento no Brooklyn e torcer para chegar a tempo no horário certo da peça.

Eu trabalho como ator desde os 17 anos. Admito que estou cansado. Mesmo com tantos anos de experiência ainda tenho que lidar com diretores que não confiam muito em mim. O que supostamente eu deveria fazer para mostrar a eles que consigo atuar bem? Quando você é jovem os produtores não colocam fé em você. Quando você é mais velho todos pensam que você já era! É uma profissão dura! Você nunca parece ter a idade certa ou o tipo que os estúdios procuram. Para cada filme que você consegue ser escolhido há vinte testes onde você é descartado. Você entra para a audição e os caras, sentados em suas cadeiras, com enormes charutos na boca, dizem: "Você é muito baixo!" ou "Você é muito alto!". "Está gordo", "Está magro". Ser ator é viver jogando roleta russa. Tudo no final depende da pura sorte. Ser escalado para um filme significa que você terá dinheiro pelos próximos meses. Não ser escalado significa que você terá que contar com a ajuda dos amigos, ou então almoçar na ajuda humanitária da igreja católica da esquina.

Eu sempre mantive minha família longe da minha carreira de ator. Há muita fofoca em Hollywood. Isso é uma das coisas que mais odeio aqui da Califórnia. Todos parecem preocupados com fofocas! É muito primário e bobo para dizer a verdade. Eu não quero, por exemplo, que minha mãe seja entrevistada por essas revistas. O que ela poderia dizer? Que eu fui um lindo bebê? Quem se importa com algo assim? Eu devo ser avaliado pelos meus trabalhos, minhas atuações, não como levo minha vida particular. Quero ter bons filmes para atuar e belos diálogos para declamar, embora isso esteja cada vez mais raro de encontrar. Não tenho grandes amigos entre atores de Hollywood, mas admiro muito duas atrizes em particular. Elizabeth Taylor é uma delas. Ela é a única atriz com quem trabalhei que me deixava verdadeiramente motivado para contracenar. Uma estrela! A outra que merece meus elogios é Marilyn Monroe. É uma pessoa incrível, com grande sensibilidade.

Montgomery Clift.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Marty

Com um roteiro sensacional nas mãos, o diretor americano Delbert Mann (Vidas Separadas), deu vida à "Marty", produção de baixo orçamento e que acabou arrebatando 4 Oscars, entre eles o de melhor filme. Marty conta a história de um açougueiro italiano, simples, honesto e bonachão (Ernest Borgnine) que vive para o trabalho e para sua mãe com quem mora numa simples e ampla casa. Apesar de todas as qualidades morais, Marty é questionado e pressionado por todos, até pela mãe - uma italiana tradicional que luta pelo casamento e pela preservação da família como instituição básica da sociedade - pelo fato de ainda não ter se casado, já que está com (pasme) 34 anos. No fundo, Marty tem vergonha de si mesmo, com baixa de auto-estima, se martiriza por não ter um emprego de mais "status" social, além de ser gordo, tímido, inseguro e feio. Destituído de atributos físicos mais atraentes e marcado por um passado azarado com as mulheres, o açougueiro bondoso e atencioso vai, cada vez mais, recolhendo-se silenciosamente em casa e se isolando do mundo lá fora. Vendo-se pressionado de forma implacável diariamente pela mãe para se casar, Marty passa a frequentar, mesmo contra a vontade, uma espécie de clube de dança onde a paquera frenética domina o ambiente barulhento e enfumaçado.

Acontece que numa determinada noite no tal clube, Marty conhece Clara (Betsy Blair - ex mulher de Gene Kelly), jovem sofrida com a dor de ter sido abandonada pelo namorado que a achava um bagulho. Com sua enorme bondade, Marty ampara a moça em seu sofrimento de abandono e aos poucos vai percebendo que uma força (quase) divina faz com que o casal se conheça, se aproxime e compartilhe os mesmos problemas de timidez, baixa auto-estima e insegurança. Marty agora luta contra o preconceito de todos pelo fato de sua nova namorada ser feia. O longa é uma primazia de fotografia em preto e branco e direção onde o diretor Delbert Mann conduz uma narrativa, focada na solidão de Marty e em elementos quase revolucionários, não lineares e que quebra certos paradigmas. Marty nos coloca diante de valores rígidos da década de 50, onde era quase inadmissível um homem levar uma vida de solteiro mais longeva e feliz, sem a interferência danosa de toda uma sociedade e até da própria família. Convenhamos, uma realidade bem diferente dos dias de hoje, pouco mais de 60 anos depois do filme. Marty abocanhou 4 Oscars: Melhor filme - Melhor diretor (Delbert Mann)  - Melhor ator (Ernest Borgnine)  - Melhor roteiro adaptado.

Marty (Marty, Estados Unidos, 1955) Direção: Delbert Mann / Roteiro: Paddy Chayefsky / Elenco: Ernest Borgnine, Betsy Blair, Esther Minciotti, Karen Steele / Sinopse: O filme narra a vida de Marty Piletti (Ernest Borgnine), um bom homem que acaba sofrendo preconceito por nunca ter se casado, se culpando por causa de sua condição social. Pressionado por todos, ele acaba conhecendo Clara (Betsy Blair) que pode se tornar finalmente o grande amor de sua vida. Filme premiado pelo Globo de Ouro e BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator (Borgnine).

Telmo Vilela Jr.

James Dean


Poucos meses antes de morrer o ator James Dean aceitou a oferta de um fotógrafo freelancer chamado Dennis Stock para participar de vários ensaios o mostrando em momentos mais íntimos de sua vida, inclusive em seu último retorno à cidade onde cresceu, em Fairmont, Indiana. Na ocasião Dean aceitou o convite dos alunos da mesma escola onde havia estudado alguns anos antes para participar do baile de formatura daquele ano. Foi uma noite divertida e relaxante onde Dean até mesmo aproveitou para tocar com a banda. Dançou e se divertiu como há muito tempo não fazia. De volta à fazenda onde foi criado, de propriedade do Tio Marcus, resolveu deixar Stock tirar mais fotos nesse estilo, inclusive de forma bem casual, ainda tomando o café da manhã. Ninguém poderia imaginar na ocasião que dentro de pouco tempo Dean estaria sendo enterrado no cemitério da cidade, o Park Cemetery, após sofrer um acidente fatal numa das rodovias da Califórnia. Ele tinha apenas 24 anos de idade.


segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Perdidos no Espaço / Viagem ao Fundo do Mar


Perdidos no Espaço - O gênero Sci-fi teve uma das épocas mais criativas no cinema justamente durante as décadas de 1950 e 1960. Tanta imaginação não demorou a sair das telas de cinema para invadir a TV. Em 1965 foi ao ar o primeiro episódio de uma das séries mais populares e queridas da história da TV: Lost in Space. O roteiro explorava as aventuras de uma tripulação que perdia o controle de uma expedição espacial após a nave Júpiter 2 apresentar problemas técnicos por causa do peso extra de um penetra na tripulação, o Dr. Smith (em brilhante interpretação do ator Jonathan Harris). Estrelada pelo ator Guy Williams a série durou três temporadas rendendo quase 90 episódios. Seu legado porém marcou para sempre a infância de toda uma geração encantada com a amizade de Will Robinson (Bill Mumy) e o seu Robô, que nos momentos de tensão saia repetindo a frase: "Perigo! Perigo! Perigo!". Mais divertido e nostálgico do que isso, impossível.


Viagem ao Fundo do Mar - Outra série de TV que fez muito sucesso foi "Voyage to the Bottom of the Sea", lançada em 1964. Criada pelo gênio Irwin Allen, a série explorava as aventuras de um submarino chamado Seaview que cruzava os sete mares enfrentando todos os tipos de desafios, desde inimigos militares até monstros das profundezas. A série tinha dois personagens centrais, o Almirante Harriman Nelson (Richard Basehart) e o Capitão Crane (David Hedison) que comandavam a embarcação. Com ótimos efeitos especiais para a época, "Viagem ao Fundo do Mar" durou 4 temporadas, com 110 episódios. Exibido no Brasil na década de 70 a série foi uma das campeãs de audiência em nosso país. Premiada com quatro Emmys, o Oscar da TV americana. Abaixo cena da primeira temporada em cores da série.



O Ladrão Silencioso

Título no Brasil: O Ladrão Silencioso
Título Original: The Thief
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Russell Rouse
Roteiro: Clarence Greene, Russell Rouse
Elenco: Ray Milland, Martin Gabel, Harry Bronson
  
Sinopse e Comentários:
Neste trilller psicológico dirigido pelo nova-iorquino Russell Rouse (Gatilho Relâmpago), o ótimo ator galês, Ray Milland, encarna Allan Fields, um renomado físico nuclear que também trabalha como espião para um país desconhecido, em plena fase de caça às bruxas do macartismo. Com uma verve hitchcockiana e rodado em preto e branco, "O Ladrão Silencioso" (The Thief -1952) discorre em seus 85 minutos, praticamente mudo - o som do filme só existe no barulho das ruas e dos toques irritantes de um telefone que quase leva à loucura o famoso físico-espião. Não existe fala dos atores.

A virada do filme, e também do personagem de Milland, ocorre quando o físico mata um agente do FBI que o perseguia. Palmas para o excelente roteiro da dupla, Clarence Greene e Russell Rouse (que também dirige o suspense). O filme foi um dos primeiros a mencionar os problemas da Guerra Fria e a infiltração e cooperação de alguns americanos com o comunismo. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Música (Herschel Burke Gilbert). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Ator - Drama (Ray Milland), Melhor Roteiro (Clarence Greene, Russell Rouse) e Melhor Fotografia em preto e branco (Sam Leavitt).

Telmo Vilela Jr.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Filmografia Comentada: Marilyn Monroe

Maior Sex Symbol da história do cinema Marilyn Monroe está no mesmo patamar que Elizabeth Taylor ou Elvis Presley, sendo qualquer apresentação desnecessária. Sua imagem é um ícone insuperável. Sua força ainda é sentida em todos os setores da cultura pop, seja em livros, filmes ou discos. Excelente comediante foi subestimada em sua época. O tempo porém lhe fez justiça. Hoje Marilyn é maior do que nunca e não mostra o menor sinal de esquecimento. Abaixo alguns filmes comentados da "Deusa".

Nunca Fui Santa
Revi esse filme ontem. Engraçado, Marilyn Monroe brigou com a Fox, brigou com os produtores, fundou sua própria produtora e disse para a imprensa que não mais faria personagens de loiras burras (as mesmas que a tinham consagrado). Depois disso foi para Nova Iorque e se matriculou no Actors Studio. Obviamente a Fox ficou em pânico com medo de perder sua estrela de maior bilheteria. Assim negociações foram feitas e Marilyn conseguiu maior controle de seus filmes. Disse para a imprensa que não faria mais comédias bobas. O hilário disso tudo é que depois de toda essa confusão Marilyn estrelou justamente esse "Nunca Fui Santa" onde ela interpreta numa comédia... mais uma loira burra! Tenho que dar o braço a torcer e dizer que apesar de "Nunca Fui Santa" ser uma comédia nessa pelo menos Marilyn se esforça muito para dar ao público uma interpretação melhor. Ela faz caras e bocas nas cenas mais "dramáticas". O problema é que seu estilo está em total descompasso com seu parceiro de cena, o ator Don Murray, que parece estar em um filme dos três patetas. Enquanto ele é totalmente caricatural, Marilyn parece estar em um dramalhão de Douglas Sirk. Desnecessário dizer que o resultado final fica mesmo confuso. Apesar disso gostei do filme, pois é o roteiro é bem feito e rápido (pouco mais de 90 minutos), com boas cenas externas e um ato final que lembra um pouco uma peça teatral (quando eles param na tal parada de ônibus que dá nome ao título original). Por fim uma curiosidade: Marilyn parece drogada em várias cenas - mas pelo menos nesse caso o roteiro serve de desculpa (já que ela estaria supostamente com sono por não dormir à noite).

Como Agarrar um Milionário 
Curioso como o tempo muda os costumes (ou não). Essa comédia dos anos 50 traz três garotas bonitas que vão a Nova Iorque com o único objetivo de arranjar um marido rico para se casarem. Chegando lá elas alugam uma luxuosa cobertura (mesmo não tendo nenhum dinheiro) e para sobreviverem enquanto os tais maridos ricos não aparecem vão vendendo os móveis do local para comprar comida. O filme foi feito antes da revolução feminista e as garotas são desesperadas para arranjar logo um milionário. O mais curioso de tudo é que mesmo após a luta das feministas, muitas mulheres hoje em dia agem igualzinho às protagonistas desse filme que está prestes a completar 60 anos de seu lançamento. Parece que o mundo não mudou tanto assim depois de todo esse tempo! Tirando esse viés machista o roteiro escrito por Nunnally Johnson, um dos melhores roteiristas da história de Hollywood, tem um timing de bom humor muito afiado e divertido. Na moralista década de 50 nada poderia ser explicitamente mostrado então tudo era sutilmente sugerido. Até mesmo objetos de cena servem para materializar a ironia de certas situações. O texto é nitidamente uma comédia de costumes, pois ao mesmo tempo expõe e satiriza a condição das garotas no filme. Estrelado por três atrizes o filme hoje é mais procurado por causa da presença de Marilyn Monroe em cena. Sua personagem não é a principal (lugar que cabe à mulher de Humphrey Bogart, Lauren Bacall) mas ela claramente chama todas as atenções para si. Bastante jovem, Marilyn faz um tipo cômico, uma garota bonita que não consegue enxergar um palmo à frente do rosto. No livro "A Deusa" há uma hilária passagem em que Marilyn procura o diretor do filme, Jean Negulesco, para lhe fazer mil perguntas sobre sua personagem, quais seriam suas motivações, seu perfil psicológico, etc. Monroe estava cada vez mais interessada no método do Actors Studio e por isso procurava desenvolver bem seus papéis. Surpreso pelo verdadeiro "interrogatório" Negulesco interrompeu a conversa dizendo: "Querida essa é uma simples comédia apenas e tudo o que você precisa saber de seu personagem é que ela é loira, burra e cega como um morcego!". Monroe obviamente não gostou nada da resposta! Já Bacall faz a mais velha das três, uma desiludida divorciada que quer tirar o pé da lama arranjando logo um maridão rico para resolver seus problemas financeiros. Completa o trio a atriz Betty Gable. Com um penteado pra lá de esquisito em relação aos padrões atuais, ela não acrescenta muito em seu papel de dondoca. Não era uma atriz particularmente engraçada ou carismática. O filme como diversão é muito bom, embora bem menos ousado que muitos dos futuros filmes de Marilyn. Como ponto negativo não tem nenhum número musical com a atriz, embora a trilha sonora seja ótima.

O Príncipe Encantado
Nobre regente (Laurence Olivier) conhece jovem corista (Marilyn Monroe) em um show de variedades e a convida para jantar em sua residência oficial em Londres. O encontro acaba trazendo inúmeras consequências para ambos durante os dias seguintes. Essa sinopse não esconde a verdadeira vocação de "O Príncipe Encantado". É um texto teatral e o filme não nega sua origem. Grande parte das cenas se passa em ambiente fechado e em cena duelam (no bom sentindo) o formalismo profissional de Laurence Olivier e o adorável amadorismo de Marilyn Monroe. Os acontecimentos de bastidores, das filmagens, há anos povoam o imaginário dos cinéfilos. Marilyn, como era de se esperar, causou todo tipo de problemas para Olivier, tantos que essa conturbada filmagem acabou virando um filme próprio que recebeu várias indicações ao Oscar esse ano:: "My Week With Marilyn". As histórias do set são saborosas mas e o filme? Sim, é uma boa comédia, muito bem produzida com lindos figurinos, cenários, muita pompa e luxo. Marilyn Monroe está encantadora. Apesar dos problemas de saúde ela surge em cena linda e aparentando muita saúde (o que me deixou surpreso). No saldo final considerei sua atuação muito superior á de Laurence Olivier, esse está particularmente travado na interpretação do nobre regente dos balcãs. Já Monroe não, está natural, espontânea. Não causa admiração a declaração que Laurence Olivier fez muitos anos depois da realização do filme reconhecendo que Marilyn estava ótima em "O Príncipe Encantado". Concordo plenamente. Aliás se tem algo que prejudica o filme é justamente a mão pesada do diretor Olivier. Ele demonstra claramente não ter o timing perfeito para Marilyn. O filme se alonga além do que seria razoável e tem barrigas (quebras de ritmo que o levam a certos momentos de monotonia). Pra falar a verdade quem salvou a produção foi realmente Marilyn que em muitos momentos simplesmente carrega o filme nas costas. Quem diria que a amadora Monroe daria uma rasteira no grande Laurence Olivier? Pois deu, e foi em "O Príncipe Encantado". O filme é dela no final das contas. Assista e confira!

Os Desajustados 
Esse foi o último filme completo da Marilyn. Ela ainda chegou a iniciar as filmagens de "Something s Got To Give" ao lado de Dean Martin mas o filme não foi concluído. Seus atrasos, faltas e confusões no set fizeram com que a Fox a despedisse no meio da produção. Pouco tempo depois, pressionada, abandonada e depressiva veio a encontrar sua morte em um quarto solitário de sua casa. Assim Os Desajustados se tornou seu último momento no cinema. Eu acho um filme triste, melancólico e depressivo até. Afirmam algumas biografias da estrela que Arthur Miller escreveu o conto que deu origem ao filme inspirado justamente na sua vida com a Marilyn. Os excessos da vida da atriz aparecem na tela, apesar de Marilyn Monroe ainda aparecer linda nas cenas, ela está bem acima do peso e abatida. Muitas vezes a atriz surge em cena com o olhar perdido no horizonte, sem convicção. Fisicamente ela também mostra sinais de desgaste. Numa cena de praia, por exemplo, em que ela aparece de biquíni a atriz exibe uma barriguinha bem saliente. As brigas com o marido no set também foram constantes. Em certa ocasião deixou Arthur Miller abandonado no meio do deserto (onde o filme estava sendo filmado) se recusando a deixá-lo entrar em seu carro. O diretor John Huston teve então que voltar para ir pegá-lo, caso contrário morreria naquele lugar seco e inóspito. Marilyn também continuava com seu medo irracional dos sets de filmagens. Antes de entrar em cena ela ficava nervosa, em pânico. Errava muito suas falas e fazia o resto do elenco perder a paciência com suas atitudes. Seu medo de atuar nunca havia desaparecido mesmo após tantos anos de carreira. Interessante é que apesar de Marilyn não sair das revistas e jornais por causa dos acontecimentos ocorridos nas filmagens o filme não conseguiu fazer sucesso o que é uma surpresa e tanto pelo elenco estelar e pela publicidade extra que recebeu dos tablóides. Muitos atribuem o fracasso ao próprio texto de Arthur Miller que não tinha foco e nem uma boa dramaturgia. Aliás desde que se casou com Marilyn o autor parecia ter perdido o toque para bons textos. Tudo soava sem inspiração, sem talento. "Os Desajustados" também foi a última produção com o mito Clark Gable. Envelhecido e decadente sofreu bastante com os problemas do filme, o levando a um esgotamento físico e mental, vindo a falecer pouco depois. Acusada de ter contribuído para o colapso de Gable, Marilyn sentiu-se culpada e ganhou mais um motivo para sua depressão crônica. De qualquer forma só pelo fato de "Os Desajustados" ter sido o último filme de Monroe e Gable já vale sua existência. Não é tecnicamente um excelente filme mas está na história do cinema pelo que representou na vida de todos esses grandes mitos que fizeram parte de sua realização.

Os Homens Preferem as Loiras
Certa vez Billy Wilder disse que alguns filmes só dariam certos se Marilyn Monroe estivesse neles. Penso que é o caso de "Os Homens Preferem as Loiras", um excelente musical com ótima trilha sonora que diverte, encanta e emociona. Assistir Marilyn Monroe cantando tão bem sua mais famosa canção no cinema "Diamonds Are a Girl´s Best Friend" balança com qualquer cinéfilo que se preze. E como Marilyn estava linda no filme! Ela no auge da beleza e juventude esbanja sex appeal em todas as cenas, sem exceção. Seu jeito de falar sussurrando era extremamente sensual. Sua personagem, a corista e dançarina Lorelai Lee, se parece muito com a que interpretou em "Como Agarrar um Milionário" mas isso realmente não importa. O que fica mesmo é a ótima coreografia, figurinos e roteiro de uma produção que nasceu para ser leve e bem humorada. Outro dia mesmo reclamei da falta de canções de Marilyn em um outro filme. Pois bem, aqui em "Os Homens Preferem as Loiras" temos a oportunidade de assisti-la cantando quatro músicas, todas ótimas é bom dizer. Sempre achei Marilyn Monroe uma cantora subestimada. Eu pessoalmente acho seu timbre vocal lindo (além de ser excepcionalmente sensual). Não consigo entender também pessoas que a criticam afirmando que era apenas um mito sexual e não uma grande atriz! Bobagem, Marilyn Monroe tinha um talento nato para comédias e basta assistir filmes como esse para entender bem esse aspecto de sua carreira. Ela era divertida e não fazia esforço para parecer engraçada em cena (que em suma é o grande segredo dos grandes comediantes). Além disso sua voz sempre me soou relaxante e agradável. Tem que ser muito ranzinza para não gostar de musicais maravilhosos como esse. Mais um ponto positivo na grande carreira do diretor Howard Hawks que sempre foi um dos meus cineastas preferidos. Enfim, não precisa dizer mais nada. Quem ainda não assistiu e não consegue entender a longevidade do mito Marilyn Monroe não perca mais tempo. "Os Homens Preferem as Loiras" está lhe esperando. Assista e se divirta.

Almas Desesperadas
Casal deixa sua pequena filha aos cuidados da sobrinha do ascensorista do hotel onde estão hospedados. O problema é que a nova babá Nell Forbes (Marilyn Monroe) sofre de graves problemas psicológicos e mentais. A aproximação de um outro hóspede (Richard Widmark) na vida de Nell só irá piorar ainda mais a situação que já é extremamente delicada. "Almas Desesperadas" foi o primeiro filme em que Marilyn Monroe realmente estrelou, surgindo como protagonista. Até aquele momento ela se resumia a fazer papéis pequenos, sem grande importância. Tudo muda aqui. Monroe está em praticamente todas as cenas de um roteiro que se passa quase em tempo real, todo em uma só noite, dentro de um quarto de hotel. Muitos biógrafos e críticos afirmam que o papel da babysitter mentalmente perturbada era muito forte para uma Marilyn ainda tão jovem e inexperiente. De fato não deve ter sido nada fácil interpretar um personagem assim com apenas 26 anos mas sinceramente discordo dos que criticam a atuação de Monroe aqui. Achei sua atuação muito digna e correta. Ela em nenhum momento cai no exagero ou na caricatura. Para uma jovem estrela devo dizer que ela se saiu extremamente bem. O filme só funcionaria se Marilyn atuasse de forma satisfatória - e ela fez isso, com muita garra e sensibilidade, tenham certeza."Almas Desesperadas" é em essência um drama com toques de suspense e clima noir. A estrutura narrativa inclusive lembra uma peça de teatro. Os personagens estão concentrados em um ambiente fechado, dentro de uma situação limite. Poderia ter ficado pesado e chato mas não, o filme se desenvolve muito bem em seus curtos 76 minutos. Richard Widmark segue a trilha da boa atuação de Marilyn Monroe e desfila elegância e charme durante as cenas. Aliás seu figurino chama bem a atenção pois revela a moda masculina na primeira metade dos anos 50 com ternos enormes, folgadões, que alguns anos depois viriam a virar moda novamente. Para uma produção B da Fox achei tudo de bom gosto. O hotel onde se passa a estória foi bem recriado e os demais figurinos são bonitos. E por falar em beleza, Marilyn está linda, maravilhosa. Com cabelos mais escuros que o normal os fãs da atriz vão ser brindados com vários closes de seu rosto inesquecível. Mesmo fazendo papel de maluquinha sua sensualidade explode em cada tomada. Não foi à toa que ela se tornou um dos grandes símbolos sexuais do século XX. Embora seu papel não fosse essencialmente sensual ela o tornava assim naturalmente. A Fox inclusive investiu bem nisso a começar pelo poster do filme explorando a sensualidade de Marilyn de forma bem ostensiva e descarada. Em conclusão podemos afirmar que "Almas Desesperadas" não decepciona. É um registro histórico da ascensão de um dos maiores mitos da história do cinema! Só isso já o torna obrigatório.

Torrentes de Paixão
"Torrentes de Paixão" é um thriller de suspense passado nas famosas cataratas do Niagara (situada na fronteira entre EUA e Canadá). Esse é um local bem popular ainda nos dias de hoje para casais em lua de mel. Após realizar "Almas Desesperadas" Marilyn Monroe foi novamente escalada pelos estúdios Fox para um papel bem parecido com o do filme anterior. Bem longe das comédias musicais que fizeram sua fama, Marilyn aqui interpreta novamente uma mulher fatal que não mede esforços para alcançar seus objetivos. Na trama acompanhamos Rose (Marilyn Monroe) e George (Joseph Cotten) um casal que passa férias em Niagara Falls. Ela é uma jovem que não consegue mais impedir seus impulsos sexuais e acaba se envolvendo com um amante local bem debaixo do nariz do marido traído. Ele é um homem com traumas de guerra que não consegue mais satisfazer sua jovem esposa pois retornou do conflito da Coreia completamente impotente, neurótico e irascível. Como não poderia deixar de ser eventos dramáticos vão marcar a passagem deles pelo local. A Rose de Marilyn Monroe como o próprio marido descreve no filme é uma "vagabunda completa". Isso é bem curioso pois diante do desafio de interpretar a jovem esposa infiel, Marilyn Monroe não se fez de rogada e usou e abusou de sua sensualidade latente nas cenas. Aliás é um dos papéis em que a atriz mais se serviu de seu grande sex appeal. Sua exuberância aqui beira a vulgaridade. Numa das sequências mais famosas Marilyn faz aquele que parece ter sido o mais longo rebolado da história do cinema. São quase dois minutos e meio apenas mostrando Monroe caminhando de costas para a câmera. Literalmente um desbunde em plenos anos 50, um dos períodos mais moralistas da história americana. Usando de roupas sensuais e colantes o espetáculo na época foi considerado totalmente indecente. Aliás é bom frisar que Marilyn está linda no filme, inclusive podemos perceber bem sua boa forma em um enorme close up de seu rosto focalizado bem de pertinho. Simplesmente maravilhosa! Com batom exageradamente vermelho e voluptuoso Marilyn esbanja lascívia em cada cena que aparece. De certa forma o diretor Henry Hathaway sabia que tinha em mãos um dos maiores símbolos sexuais de sua era e resolveu mesmo abusar dessa situação. O filme foi realmente pensado nela e feito para ela. Todo o resto se torna secundário. Naquela altura ela já era um mito de popularidade e "Torrentes de Paixão" se aproveita a todo momento disso. Além de Marilyn ainda temos de bônus a bela Jean Peters com toda sua beleza sofisticada e refinada. No final tudo resulta em um belo espetáculo de beleza feminina a desfilar pela tela. Os estetas certamente vão se esbaldar. Assista e entenda como se constrói um sex symbol genuinamente Made in Hollywood.

O Pecado Mora ao Lado
Richard Sherman (Tom Ewell) é um maridão que fica sozinho em seu apartamento após sua esposa e filho irem passar as férias de verão fora de Nova Iorque. Adorando sua provisória liberdade ele começa a soltar a imaginação, imaginando diversas situações inusitadas. A nova vizinha do andar de cima, uma linda e sensual loira (Marilyn Monroe), atiça ainda mais seu imaginário. “O Pecado Mora ao Lado” é um dos filmes mais lembrados de Marilyn Monroe. A cena em que ela deixa sua saia levantada com o vento vindo do metrô abaixo entrou definitivamente no inconsciente coletivo, virando símbolo de toda uma era do cinema americano da década de 50. Para a época a cena era muito ousada e chocou os conservadores. A imagem acabou virando a marca registrada da atriz, inclusive esse vestido sempre é copiado quando se quer fazer alguma referência a Marilyn em filmes, livros e até bonecos que reproduzem esse momento. Recentemente inclusive foi erguida uma estátua gigante da atriz nessa exata sequência. Apesar da importância em sua carreira da “saia ao vento” ela também trouxe vários problemas pessoais para a atriz. Acontece que justamente na noite em que filmaram essa cena o marido de Marilyn na época, o jogador de beisebol aposentado Joe Di Maggio, resolveu aparecer no set sem avisar. Como ele era um italiano casca grossa ficou chocado ao ver sua esposa exibindo as pernas e as calcinhas para um bando de marmanjos no meio da rua. Quando voltaram para casa ele a agrediu fisicamente, o que acabou virando o estopim da separação do casal. Essa seria mais uma crise para o diretor Billy Wilder administrar durante as complicadas filmagens. Marilyn, como sempre, deu muito trabalho ao diretor. Chegava atrasada, esquecia diálogos e tinha acessos de pânico antes de entrar em cena. Uma atitude bem diferente de seu colega de elenco, Tom Ewell, sempre muito profissional. Mesmo assim, como sempre acontecia aliás, quando o resultado chegou nas telas todos viram novamente a estrela da atriz brilhar. Ela está magnífica nesse papel que sequer tem nome, sendo identificada apenas como “The Girl” (a garota). A estrutura do filme não nega sua origem teatral (o roteiro foi escrito em cima da peça "The Seven Year Itch" de George Axerold). Tudo se passa praticamente dentro do apartamento do personagem Sherman. Em 90% do filme temos apenas Tom Ewell em divertidos monólogos ou em dueto ao lado de Marilyn. Basicamente ele imagina diversas situações que podem ou não se materializar na realidade, tudo em cima da chamada “coceira dos sete anos”, quando os maridos caem na rotina de casamentos monótonos e procuram por aventuras com mulheres mais jovens e bonitas. Tudo é desenvolvido com muito humor e ironia, bem ao estilo de Wilder. “O Pecado Mora ao Lado” é um filme divertido, irônico e um marco na carreira do cineasta Billy Wilder, que com apenas uma cena despretensiosa conseguiu construir um verdadeiro ícone cultural da história do cinema americano.

Pablo Aluísio.