sexta-feira, 7 de maio de 2021

O Fio da Suspeita

Jeff Bridges sempre foi um ator subestimado. Ele tem uma vasta galeria de bons filmes em todos esses anos de carreira e muitos deles andam injustamente esquecidos. Um caso é esse bom thriller de suspense que contava no elenco inclusive com a excelente atriz Glenn Close. Até onde posso lembrar foi o único filme que reuniu Bridges e Close e o resultado ficou excelente, muito acima da média da época. A dupla inclusive deveria ter sido lembrada no Oscar daquele ano, porém em mais uma das escolhas sem sentido da academia quem acabou sendo indicado foi Robert Loggia, na categoria de melhor ator coadjuvante. Vai entender o que se passava na mente dos membros da academia.

O roteiro explora um crime acontecido na alta roda, dentro da elite americana. Uma milionária é morta, assassinada. Quem poderia ter cometido tal crime? Ao que parece o marido seria o maior beneficiado. Entretando ele apresenta um forte álibi que pode cair ou não durante as investigações. Glenn Close repete seu papel mais habitual, a da mulher mais velha, fria, no controle da situação. Já o personagem de Jeff Bridges é bem mais construído, transitando o filme inteiro entre o provável criminoso ou o inocente injustamente acusado. Assista ao filme e tome sua decisão.

O Fio da Suspeita (Jagged Edge, Estados Unidos, 1985) Direção: Richard Marquand / Roteiro: Joe Eszterhas / Elenco: Jeff Bridges, Glenn Close, Peter Coyote / Sinopse: A mulher de Jack Forrester (Bridges) é brutalmente assassinada. Ele era uma rica herdeira de um grupo milionário. Logo as suspeitas recaem sobre ele. Para se defender decide então contratar os serviços da advogada Teddy Barnes (Glenn Close), que não tem muita experiência na área criminal, mas que aceita o desafio de tentar livrar seu cliente da prisão.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Noviciado

Gostei bastante desse filme. A história se passa na década de 1950. Cathleen (Margaret Qualley) é a jovem garota, filha de mãe solteira, que tem uma vida familiar caótica. A mãe tem muitos amantes e não tem controle ou estabilidade emocional. Então freiras de uma escola católica da região visitam sua família e oferecem uma bolsa de estudos para a menina. Os anos passam e ela se torna uma ótima aluna. Mais do que isso, ela decide entrar para o convento, para se tornar freira. A mãe não gosta nada da ideia, mas acaba cedendo. Aos 18 anos então Cathleen entra para a ordem religiosa. Afinal a vida familiar, sem valores morais e sem organização nenhuma, contrapõe-se à vida religiosa, toda organizada, com regras e silêncio. Paz é o que a garota espera encontrar nessa nova vida.

Esse filme tem um contexto histórico dos mais interessantes. Ao mesmo tempo em que conta a história da jovem que decide ser freira durante os anos 1950, também mostra as mudanças que a própria Igreja Católica vinha sofrendo durante o concílio Vaticano II. Sob o comando do Papa João XXIII, a Igreja adotou uma série de alterações, que iam desde o fim das missas rezadas em latim, até o novo status de costumes e tradições dentro de ordens religiosas de freiras. E essas mudanças nem sempre foram recebidas de bom grado, pelo contrário. As atitudes de madre superiora que dirige o convento do filme mostra bem isso. Para algumas dessas religiosas as mudanças foram um verdadeiro choque. Enfim, um filme muito bom, esclarecedor até, sobre os bastidores da Igreja Católica em uma época de profundas alterações em seus ritos e clero.

Noviciado (Novitiate, Estados Unidos, 2017) Direção: Maggie Betts / Roteiro: Maggie Betts / Elenco: Margaret Qualley, Melissa Leo, Lisa Stewart, Alyssa Brindley / Sinopse: O filme, baseado em fatos reais, conta a história de uma jovem americana que durante a década de 1950 decide se tornar freira. Era uma época de grandes mudanças dentro da própria Igreja Católica. Filme premiado no Sundance Film Festival.

Pablo Aluísio.

À Espreita do Mal

Nos 40 primeiros minutos de filme você pensa estar assistindo a um filme de horror ao velho estilo, com fenômenos paranormais, portas batendo, aparelhos ligando e desligando sozinhos, sombras assustadoras por corredores escuros e coisas do tipo. Entretanto depois dessa apresentação inicial, mostrando uma família em crise, com mãe traindo o pai e filho problemático, a narrativa dá uma guinada. Descobrimos que há um casal de jovens escondidos dentro da casa. Eles adotaram o estilo de vida "frog", como sapos pulam de casa em casa, se escondendo dos moradores.

Com a crise econômica nos Estados Unidos muitos jovens ficam sem ter onde morar ou se alimentar. Então eles entram nas casas na surdina, assaltam a geladeira, aproveitam da casa enquanto os moradores estão fora, trabalhando e estudando, e durante a noite se escondem no sotão. Depois de um tempo vão para outra casa, vivendo como "frogs". Só que nessa casa as coisas fogem do controle. O roteiro apresenta duas visões, a dos moradores e a dos "frogs". Um complementa o outro. O roteiro é bem escrito e só falha quando tenta trazer tudo explicado nos mínimos detalhes para o espectador, subestimando a inteligência de quem está assistindo ao filme. Não era para tanto.

À Espreita do Mal (I See You, Estados Unidos, 2019) Direção:  Adam Randall / Roteiro: Devon Graye / Elenco: Helen Hunt, Jon Tenney, Owen Teague, Judah Lewis, Libe Barer / Sinospe: Jovem casal de "frogs" entra na casa de um policial e descobrem que a família, em crise e prestes a se separar, esconde algo muito mais sinistro e sombrio do que eles poderiam imaginar.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Instinto Predador

Mais um filme B da carreira de Nicolas Cage; Aqui ele interpreta um caçador americano na selva amazônica brasileira. Ele vai caçar uma onça rara, branca, única no mundo. Sua intenção é capturar o animal para vender em zoológicos nos Estados Unidos. Pois é, além de caçador também é um traficante de animais. Depois de vários problemas ele finalmente consegue embarcar o precioso bicho em um velho cargueiro. A questão é que no mesmo navio um grupo de agentes do FBI vão escoltando um perigoso criminoso que estava na América do Sul. Junte as peças e você sabe muito bem o que vem pela frente.

Claro que o criminoso vai se soltar e tocar o terror dentro do navio. Mais do que isso, vai soltar todos os bichos do caçador. E aí os tripulantes vão tentar sobreviver, não apenas pelo fato de haver um criminoso solto dentro da embarcação, como também animais selvagens, inclusive cobras venenosas. É a tal coisa, poderia ser até um filme pipoca para pura diversão. O problema são os efeitos digitais, todos muito ruins. Ao invés de trazer animais de verdade para o filme os produtores decidiram fazer tudo por computação gráfica, muito mal feita. Aí a coisa toda desanda. A onça não parece uma onça. Parece qualquer coisa, menos uma onça. Até os macacos são digitais. Impressionante como estragaram o filme por isso.

Instinto Predador (Primal, Estados Unidos, 2019) Direção: Nick Powell / Roteiro: Richard Leder / Elenco:  Nicolas Cage, Famke Janssen, Kevin Durand, LaMonica Garrett / Sinopse: Frank Walsh (Nicolas Cage) é um caçador americano que está levando animais raros para venda nos Estados Unidos, quando o navio onde viaja cai nas mãos de um perigoso criminoso internacional. Agora começa uma verdadeira luta pela sobrevivência.

Pablo Aluísio.

Floresta das Esmeraldas

John Boorman sempre foi um ótimo cineasta. Tirando alguns tropeços como "O Exorcista II", sua filmografia é bem regular, com bons filmes. Entre os meus preferidos poderia citar "Inferno no Pacífico!", "Esperança e Glória", "Excalibur" e "Amargo Pesadelo". Esse "The Emerald Forest" foi lançado em uma época em que Hollywood estava apostando em filmes de aventura passados em lugares exóticos como "A Joia do Nilo". Só que esse filme passava muito longe do longa estrelado por Michael Douglas. Não era aventura pela aventura, tinha um toque mais dramático, mais sério. Procurava ser cinema de qualidade, longe do espírito das matinês descompromissadas.

A história, parcialmente inspirada em fatos reais, mostrava o desaparecimento do filho de um engenheiro americano que estava trabalhando na floresta amazônica. O menino foi levado por índios. Depois de seu desaparecimento o pai embarca em uma obsessiva busca por ele, adentrando os lugares mais inóspitos da floresta. E quando finalmente o encontra, quase uma década depois, acaba tendo uma desagradável surpresa. Penso que é um dos bons filmes de Boorman embora se perceba uma certa interferência dos estúdios no filme. Enquanto o diretor queria fazer um drama, os produtores queriam uma aventura na selva. O resultado ficou no meio do caminho entre os dois extremos.

Floresta das Esmeraldas (The Emerald Forest, Inglaterra, 1985) Direção: John Boorman / Roteiro: Rospo Pallenberg / Elenco: Powers Boothe, Meg Foster, Yara Vaneau / Sinopse: Engenheiro americano trabalhando em uma floresta tropical da América do Sul vê seu filho desaparecer. Ele foi levado por nativos selvagens. Pelos próximos dez anos de sua vida fará de tudo para encontrar seu filho desaparecido. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de melhor direção de fotografia (Philippe Rousselot).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 4 de maio de 2021

A Fórmula

Título no Brasil: A Fórmula
Título Original: The Formula
Ano de Produção: 1980
País: Estados Unidos
Estúdio:  Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: John G. Avildsen
Roteiro: Steve Shagan
Elenco: George C. Scott, Marlon Brando, Marthe Keller, John Gielgud, Beatrice Straight, Richard Lynch

Sinopse:
A fórmula de produção de combustível sintético, inventada pelos nazistas no final da Segunda Guerra Mundial, é procurada por alguns homens de negócios que pretendem vendê-la e por outros que desejam destruí-la. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de fotografia (James Crabe).

Comentários:
Em sua autobiografia o ator Marlon Brando explica que só decidiu fazer esse filme por causa do roteiro, que explorava essa questão corporativa do mundo sórdido dos negócios escusos. Ele queria explorar o mal que existia por trás de certas indústrias. E também deixa claro que não fez o filme por dinheiro, recebendo o cachê mínimo do sindicato de atores. Também contribuiu o fato do filme ter George C. Scott no elenco que era amigo pessoal de Brando, seu vizinho em um bairro de Los Angeles. E também um dos melhores atores de sua geração. E não havia apenas ele. Tinha também o shakesperiano John Gielgud, ou seja, três monstros vivos do mundo da arte dramática. Pena que esse foi um caso de filme menor para elenco grandioso. Inegavelmente "A Fórmula" é um filme que não está à altura desse elenco fenomenal e primoroso. A direção também soa um tanto preguiçosa, deixando o filme cair em um certo marasmo.

Pablo Aluísio.

Never Grow Old

O imigrante irlandês Patrick Tate (Emile Hirsch) vive com sua família em um pequeno rancho numa cidadezinha do velho oeste. O lugar é dominado por um pastor evangélico que impõe uma rígida disciplina aos moradores, sendo proibido o consumo de álcool. Não há saloons abertos. Também não há prostituição. Tudo de acordo com a moralidade cristã. Isso muda quando o caçador de recompensas e pistoleiro Dutch Albert (John Cusack) chega no lugar. Ele está atrás de um assassino foragido. Liderando um bando de criminosos, ele decide se apoderar de um dos estabelecimentos comerciais do lugar e abre ali um saloon. Quebra as regras de moralidade sem a menor cerimônia.

Como Dutch é um sujeito violento, com fama de psicopata, ninguém ousa enfrentá-lo. Em pouco tempo retorna a prostituição na cidade, assim como o consumo de bebidas e os jogos de cartas, que quase sempre acabam com um dos jogadores baleado ou morto. O irlandês Tate trabalha também como agente funerário e vai levando sua vida, até que um dos capangas de Dutch decide mexer com sua mulher no rancho. A partir daí vem o confronto pois Tate precisa se posicionar, abrindo uma caixa de Pandora de violência e mortes na cidade.

Gostei bastante desse western. Há um clima sombrio, soturno que permeia o filme do começo ao fim. As cenas são bem escuras, geralmente iluminadas apenas por tochas. Tudo para combinar com a tensão que desce sobre aquela comunidade com a presença pecaminosa do vilão Dutch. O grande destaque do elenco vem com John Cusack. Ele está perfeito como o vilão. Um sujeito com fala mansa, típica de psicopatas, como se estivesse na véspera de cometer algum crime, alguma atrocidade. È um faroeste que me surpreendeu em diversos níveis. Meu veredito não poderia ser outro: É um filmão!

Never Grow Old (Estados Unidos, 2019) Direção: Ivan Kavanagh / Roteiro: Ivan Kavanagh / Elenco: Stars: Emile Hirsch, John Cusack, Déborah François, Molly McCann / Sinopse: Pequena e pacata cidade do velho oeste é abalada com a chegada de um pistoleiro e caçador de recompensas conhecido como Dutch, o Holandês. E ele parece disposto a trazer violência e morte para aquele vilarejo, antes devoto com a moralidade cristã.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

O Som do Silêncio

Imagine perder setenta por cento de sua audição de repente. Em um minuto tudo está bem, em questão de segundos você não consegue mais ouvir praticamente nada. As pessoas falam com você, mas não há como entender. Apenas ruídos e sons abafados. É justamente isso que acontece com o protagonista desse excelente filme "O Som do Silêncio". Ele é baterista em um grupo de rock pesado ao lado da namorada, guitarrista e vocalista. Numa tarde que antecede o show sua audição simplesmente deixa de existir. Assim, do nada, ele fica praticamente surdo.

Os membros da equipe técnica desse filme fizeram um trabalho de som, edição de som e efeitos sonoros dignos de todos os aplausos. O espectador mergulha na surdez junto com o personagem. Os ruídos e sons abafados que ele passa a sentir são os mesmos que são colocados no filme, como se o espectador também tivesse perdido sua audição. O efeito disso é devastador para quem assiste o filme. Você se coloca na pele do personagem, sentindo exatamente o mesmo drama que ele está vivenciando. Algo que realmente perturba e abala.

Dos que estavam concorrendo ao Oscar de melhor filme desse ano esse era o único que me faltava assistir. Fiquei realmente impressionado com seu rigor técnico. A história é obviamente triste, mas mantém uma certa dose de esperança. O jovem baterista que fica surdo encontra uma comunidade de deficientes auditivos para se socializar, aprender a linguagem dos sinais, inclusive ao lado de crianças. Não é algo fácil se recolocar em uma nova realidade, mas ele tenta. Também vende tudo o que tem para bancar uma cirurgia, com a colocação de um implante, para melhorar a percepção sonora do mundo ao redor. Enfim, essa é uma daquelas histórias que fazem refletir e agradecer. Agradecer aquilo que temos e muitas vezes não percebemos. Esse é um filme que realmente não o deixará indiferente.

O Som do Silêncio (Sound of Metal, Estados Unidos, 2019) Direção: Darius Marder / Roteiro: Darius Marder, Abraham Marder / Elenco: Riz Ahmed, Olivia Cooke, Paul Raci, Lauren Ridloff, Mathieu Amalric / Sinopse: O filme conta a história de Ruben (Riz Ahmed), o baterista de um grupo de rock pesado que fica surdo. De repente, perde grande parte de sua audição e precisa de forma desesperada se moldar a uma nova realidade em sua vida. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor som e melhor edição. Também indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor ator (Riz Ahmed), melhor ator coadjuvante (Paul Raci) e melhor roteiro original.

Pablo Aluísio.