sábado, 3 de fevereiro de 2018

1922

Mais um filme da Netflix, só que dessa vez adaptando um conto de terror de Stephen King. Na estória temos um fazendeiro que está muito feliz com sua vidinha rural. Ele se casa com a filha de outro fazendeiro e acaba assim sendo dono de uma bela fazenda de oitenta hectares. Tudo vai indo bem, até que sua esposa se cansa do campo. Ela decide que vai vender sua parte para ir morar em Omaha. Claro que isso também significa o fim do sonho do fazendeiro, já que ele também terá que ir para a cidade grande. E agora o que fazer? Ele então decide tomar uma decisão trágica. Se a mulher está destruindo seus sonhos, então ela deve ser eliminada. Sem pensar muito no que estão fazendo, pai e filho resolvem matar a mãe, jogando seu corpo no poço vazio da propriedade.

Essa estória é uma parábola sobre a ganância e o materialismo absurdo de seu protagonista. O fazendeiro interpretado por Thomas Jane (que está perfeito no papel) não parece cultivar nenhum valor moral. Ele só pensa na fazenda, seu único propósito na vida é ter a fazenda e para isso ele está disposto a passar por cima de todos, até de sua esposa. Um tipo de atitude que o transforma em um monstro insensível e desprovido de compaixão por outras pessoas. Depois que mata a esposa ele vai percebendo que sua vida vai desmoronando. O filho se envolve com o mundo do crime, ele fica sem dinheiro para tocar a propriedade em frente e vultos na escuridão vão surgindo a cada noite. King desenvolve muito bem o lado psicológico de seu personagem, mostrando como ele perde sua alma em troca de uma obsessão sem limites. Por fim algumas observações interessantes. A primeira é a seguinte: não assista ao filme se você não gosta de ratos. Eles são usados por King como elemento narrativo, para demonstrar a ruína da alma de seu personagem principal. Segunda dica é prestar atenção no fim do filme. Ele cria uma ligação direta com outro conto de horror de King, que já foi inclusive adaptado para o cinema no filme "1408", aquele mesmo com John Cusack e Samuel L. Jackson. Então é isso, se gosta dos contos de Stephen King o filme é certamente uma boa opção para sua noite.

1922 (1922, Estados Unidos, 2017) Direção: Zak Hilditch / Roteiro: Zak Hilditch, baseado no conto de terror escrito por Stephen King / Elenco: Thomas Jane, Molly Parker, Dylan Schmid  / Sinopse: Wilfred James (Thomas Jane) é um fazendeiro feliz com a sua vida no campo até que sua esposa decide que quer ir embora morar na cidade grande, na vizinha Omaha. James não quer ir, mas se a mulher for ele perderá metade de sua fazenda. Assim decide tomar uma decisão trágica: a matando de forma covarde no meio da noite, algo que irá desencadear uma série de maldições em sua vida e na de seu filho.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas

Título no Brasil: Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas
Título Original: Professor Marston and the Wonder Women
Ano de Produção: 2017
País: Estados Unidos
Estúdio: Opposite Field Pictures
Direção: Angela Robinson
Roteiro: Angela Robinson
Elenco: Luke Evans, Rebecca Hall, Bella Heathcote, Connie Britton, Monica Giordano, Chris Conroy

Sinopse:
William Moulton Marston (Luke Evans) é um professor de psicologia que acaba se envolvendo com duas mulheres ao mesmo tempo, uma delas a sua própria aluna. Por causa disso acaba sendo demitido. Desempregado e precisando sobreviver ele começa a trabalhar em várias direções, uma delas no estudo do primeiro detector de mentiras. Também decide entrar no ramo dos quadrinhos criando uma nova heroína para os gibis da época. Ela é uma amazona, chamada Diana, que passa a ser conhecida como Mulher-Maravilha. Após ouvir algumas recusas finalmente consegue que sua nova personagem seja publicada por uma editora de Nova Iorque.

Comentários:
Filme que vale muito por causa da curiosidade histórica de se conhecer a história real do criador da Mulher-Maravilha. Realmente eu desconhecia as origens da personagem e de seu autor. O professor Marston por si só já era uma figura bem interessante. Formado em Harvard, ele viu sua carreira afundar na academia por causa dos escândalos envolvendo sua vida pessoal. Ele se relacionou com uma aluna, a levou para casa, teve filhos com ela e isso tudo já sendo um homem casado há vários anos! Imagine o tamanho dos problemas que ele precisou enfrentar, por causa da sociedade moralista da época. Tecnicamente nunca cometeu o crime de bigamia, pois não se casou com essa jovem, porém vivia com duas mulheres em sua casa, com filhos, etc. Sempre que seu segredo pessoal era descoberto o mundo parecia desabar em sua cabeça. Quando foi demitido o jeito foi se virar e daí surgiu a ideia de escrever para histórias em quadrinhos. Acabou criando uma das personagens mais icônicas desse universo, usando para isso elementos e aspectos de sua vida pessoal. Ao assistir ao filme você entenderá de onde veio o laço da verdade, o avião invisível, os braceletes e o figurino da heroína. Sua imagem é mais do que conhecida, o que ninguém sabia era de onde vinha cada elemento. Para quem gosta e curte comics e o mundo dos super-heróis, especialmente da DC, o filme então se torna item obrigatório. Não deixe passar em branco.

Pablo Aluísio.

O Artista do Desastre

Título no Brasil: O Artista do Desastre
Título Original: The Disaster Artist
Ano de Produção: 2017
País: Estados Unidos
Estúdio: New Line Cinema
Direção: James Franco
Roteiro: Scott Neustadter, Michael H. Weber
Elenco: James Franco, Dave Franco, Seth Rogen, Ari Graynor, Jacki Weaver, Paul Scheer

Sinopse:
Tommy Wiseau (James Franco) se considera um grande ator, só que na realidade ele é péssimo. Ao lado de um amigo decide se mudar para Los Angeles, esperando com isso ser contratado por algum estúdio de cinema. Só que isso jamais acontece. Ele fica desempregado e depois de várias reprovações em testes decide ele mesmo roteirizar, atuar, dirigir e produzir seu próprio filme!

Comentários:
Filmes sobre diretores e atores sem nenhum talento que acabam produzindo filmes tão ruins que terminam virando cult já renderam ótimos momentos no cinema americano como o sempre lembrado "Ed Wood" sobre o pior diretor de todos os tempos. Agora temos uma versão nova, só que passada nos anos 90. O alvo da vez é Tommy Wiseau que rodou "The Room", considerado por muitos o pior filme daquela década. O mais engraçado é que ele não se contentou em apenas dirigir seu filme trash, mas também escrever o roteiro (que fazia pouco sentido), atuar (sim, ele era horrível atuando) e também produzir (até hoje ninguém descobriu como ele arranjava dinheiro para bancar seus filmes porcarias). Tommy Wiseau tinha grandes pretensões de ser um artista, queria fazer filmes dramáticos, mas tudo o que conseguiu foi arrancar humor involuntário dos filmes ruins que fez. "O Artista do Desastre" conta a história das filmagens de seu primeiro filme. Não deixa de ser divertido e em alguns momentos bem engraçado, ideal para quem gosta de cinema e da paixão que algumas pessoas desenvolvem por esse universo. O tal de Tommy era tão esquisito, com sua absurda falta de talento e dicção estranha, além do sotaque horrível, que acabou sendo um presente para o ator James Franco. No começo você pensa que ele está exagerando em sua atuação, que ninguém seria tão tosco como aquele seu personagem, só que o próprio Tommy Wiseau aparece no filme e daí você chega na conclusão que sim, James Franco está perfeito em sua caracterização. Ele inclusive está indicado ao Oscar, mas provavelmente não vencerá, isso porque Franco foi citado como um dos assediadores sexuais de Hollywood e isso definitivamente não lhe ajudará na noite de premiação. Uma pena porque seu trabalho é realmente muito bom, diria até digno de um Oscar mesmo!

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Corra!

Há filmes inegavelmente medianos concorrendo ao Oscar de melhor filme nesse ano, porém esse "Corra!" é francamente ruim! As coisas começam a ficar estranhas logo quando o filme começa. Você vê a abertura com a marca da Blumhouse Productions e fica desconfiado porque essa companhia cinematográfica é especializada na produção de filmes B de terror e suspense. Ora, o que um filma da Blumhouse estaria fazendo entre os concorrentes ao principal prêmio da academia? Quando a estória começa você chega a pensar que está enganado, que vem boa coisa por aí. Um casal formado entre uma garota branca e um cara negro decide ir visitar os pais dela. Já começa a tensão porque todos sabemos como funciona a sociedade americana (impossível negar que há muito racismo dentro dela).

Até ai tudo bem, você começa a pensar que está para ver um bom drama discutindo a questão racial, porém esqueça. Não vem pela frente um filme como aqueles clássicos com Sidney Poitier, não vem um bom drama sobre esse tema sempre relevante e polêmico. Nada disso. O filme faz jus à marca da Blumhouse e assim começa mais um daqueles roteiros B, sem pé e nem cabeça, que junta em um mesmo balaio temas que ficariam até legais em um trash, mas não em uma produção que absurdamente foi indicada ao Oscar de melhor filme do ano! O que exatamente estou falando? Sem querer dar spoilers, você encontrará pela frente negros sendo submetidos a uma hipnose para se tornarem zumbis, escravos sexuais ou empregados escravos, de seus algozes brancos. Tudo feito com aquela áurea de argumento vagabundo que estamos acostumados a ver em filmes B ou Z que de vez em quando pipocam nos cinemas de tempos em tempos. No fim de tudo, depois de um banho de sangue ao mais fiel espírito trash dos anos 80, você fica se perguntando o que se passou na cabeça dos membros da Academia para indicarem um filminho desses para o prêmio de melhor do ano? Será que foram hipnotizados e viraram zumbis psíquicos como os personagens bobocas desse filme? Só pode ser isso...

Corra! (Get Out, Estados Unidos, 2017) Direção: Jordan Peele / Roteiro: Jordan Peele / Elenco:  Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford / Sinopse: Rapaz negro que namora garota branca descobre ao visitar os pais dela que há algo de errado acontecendo naquele lugar sinistro! O que se esconderá por trás de todos aqueles falsos sorrisos? Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Daniel Kaluuya), Melhor Direção e Melhor Roteiro Original (Jordan Peele).

Pablo Aluísio.

Victoria & Abdul

Poucas vezes no mundo das artes se teve tanto interesse na figura da Rainha Vitória. Além de uma série popular sendo exibida atualmente na Inglaterra, temos aqui um belo filme mostrando uma história pouco conhecida da amizade da Rainha (já octogenária) com um criado indiano chamado Abdul Karim. Eles se conheceram por mero acaso, quando Abdul foi designado para presentear a Rainha, durante um banquete, com uma moeda tradicional da Índia. A monarca não deu muita bola para o presente, mas ficou impressionada e interessada na figura do indiano. A partir daí se aproximaram e uma inusitada amizade se criou entre eles.

Obviamente que a Rainha da Inglaterra ter uma aproximação assim tão de perto com um indiano, ainda mais muçulmano, criou uma série de atritos com os demais membros da família real. Vitória, no fundo uma mulher solitária, sem amigos, já com oitenta anos, sentia-se muito sozinha e amarga, principalmente pelo fato de que todas as pessoas de quem realmente gostava já tinham morrido naquela fase de sua vida. O filho, chamado por ela de Bertie, futuro Rei Eduardo VII, não passava de um homem fútil que só trazia aborrecimentos para ela. As demais filhas também não lhe traziam mais boas notícias, assim acabou sobrando para ele ter pequenos momentos agradáveis com seu servil Abdul, que era um homem inteligente que estava sempre disposto a contar e ensinar coisas para a Rainha. Ela era a Imperatriz da Índia naquele momento, mas nunca havia ido naquele distante e exótico país, tampouco conhecia sua história e riqueza cultural. Abdul acabou abrindo essas portas de conhecimento para ela.

Além de ser historicamente muito interessante, "Victoria & Abdul" ainda passeia pela vida privada e mais íntima da Rainha, a mostrando em momentos bem humanos. Ela foi a monarca que mais tempo ficou no trono na Inglaterra e deu nome a todo um século, chamado de "Era Vitoriana". Foi o auge do império britânico, com possessões e colônias em todos os lugares do mundo conhecido. Claro que em um filme assim haveria a necessidade de ter uma grande atriz interpretando a Rainha Vitória. E ela está lá, Judi Dench. Essa maravilhosa atriz já havia inclusive interpretado Vitória em "Sua Majestade, Mr. Brown" e agora retorna ao mesmo papel. Envelhecida ainda mais por uma bem feita maquiagem (que está concorrendo ao Oscar nessa categoria), ela realmente impressiona pelo talento e pela sensibilidade mostrada em cada momento do filme. Sua atuação é grandiosa. Em suma, um belo filme, um dos melhores de 2017, que inclusive não foi indicado na principal categoria (o de melhor filme do ano). Mais uma injustiça na longa lista da história do Oscar.

Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha (Victoria & Abdul, Inglaterra, Estados Unidos, 2017) Direção: Stephen Frears / Roteiro: Lee Hall / Elenco: Judi Dench, Ali Fazal, Tim Pigott-Smith, Eddie Izzard / Sinopse: Baseado no livro escrito por Shrabani Basu, o filme conta a história real da amizade da Rainha Victoria com um serviçal indiano, que se tornou uma pessoa bem próxima dela em seus últimos anos de vida. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Judi Dench). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Maquiagem e Cabelo (Daniel Phillips e Loulia Sheppard) e Melhor Figurino (Consolata Boyle).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Museu de Cera

Título no Brasil: Museu de Cera
Título Original: House of Wax
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: André De Toth
Roteiro: Crane Wilbur, Charles Belden
Elenco: Vincent Price, Carolyn Jones, Charles Bronson, Phyllis Kirk
  
Sinopse:
Henry Jarrod (Vincent Price) é um artesão talentoso que transforma bonecos de cera em retratos quase perfeitos de personagens históricos. Maria Antonieta, Joana d'Arc e Abraham Lincoln são algumas da figuras históricas que ele esculpiu em cera para serem exibidas em seu próprio museu. Seu sócio porém tem outros planos. Ele está de olho no dinheiro do seguro. Por essa razão resolve promover um grande incêndio, algo que deixa Jarrod severamente ferido e deformado pelas chamas. Agora, recuperado, ele parte para sua vingança pessoal contra todos que fizeram esse atentado contra sua arte e sua vida. Filme indicado ao prêmio da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films.

Comentários:
É um dos clássicos de terror mais lembrados da carreira de Vincent Price. O enredo gira em torno desse artista muito diferente, um mestre em criar figuras de cera com extrema fidelidade, a tal ponto de levar a todos a pensarem se estão mesmo na presença de uma peça de cera ou de um ser humano real. Após entrar em atrito com seu desonesto sócio, um sujeito que só pensa em queimar todo o museu de cera para receber o seguro, Henry Jarrod (Vincent Price) vê suas pretensões de ser um grande artista queimarem em um inferno em chamas. Deformado pelo fogo e transformado em um ser de aparência repugnante (o que contrasta enormemente com a beleza de sua arte) ele ainda não se sente pronto a abandonar suas ambições artísticas. Após se vingar daqueles que o destruíram ele resolve voltar. Como é um artesão em recriar rostos e formas humanas cria uma máscara para esconder as deformidades de sua própria face, arranja um novo sócio e abre um novo museu de cera, só que essa vez bem diferente, com uma seção especializada em horrores que refaz todas as cenas dos maiores crimes da história. O que é desconhecido do público é que Henry Jarrod perdeu sua capacidade de criar figuras em cera após ter suas mãos queimadas no incêndio. Assim ele decide usar outra técnica para produzir suas novas "obras de arte" - isso mesmo, corpos humanos de verdade! 

Essa produção foi alvo de um remake há poucos anos, mas aquele roteiro tinha pouco a ver com essa produção original. Aqui o foco é todo voltado para as ambições de um artista que só pretendia refazer o belo em cera, mas que pelas circustâncias de sua vida trágica teve que abraçar o grotesco e o horror! Price usa uma bem feita máscara que o dá uma face monstruosa e usa de seu charme e elegância naturais para interpretar o gentil artista que no fundo esconde um terrível segredo. Charles Bronson também está no elenco interpretando Igor, o assistente mudo e com problemas mentais de Jarrod. Completando o elenco ainda temos Carolyn Jones, que se imortalizou como a Morticia Frump Addams da série de grande sucesso na TV americana, "A Família Addams". Tecnicamente o filme é muito bem realizado, com cenários bem construídos. Também foi um dos primeiros filmes da história a usar uma rudimentar tecnologia 3D. Você vai perceber bem isso em algumas cenas que parecem gratuitas, como a do animador com bolinhas de pingue-pongue que as fica atirando propositalmente em direção à tela. A única coisa que não me agradou muito do ponto de vista técnico nesse "House of Wax" foi sua trilha sonora incidental. Com uma linha de flauta irritante em sua melodia ela acabou atrapalhando um pouco justamente nos momentos mais tensos da estória. Mesmo assim, não é algo com se preocupar, pois não chega a ser um problema. No fundo é apenas fruto de uma época. Enfim, de maneira em geral é um terror muito bom, com aquele charme nostálgico que só melhorou com os anos. Não é de se admirar que seja um filme tão cultuado pelos fãs de terror até os dias de hoje! 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A Maldição do Sangue da Pantera

Título no Brasil: A Maldição do Sangue da Pantera
Título Original: The Curse of the Cat People
Ano de Produção: 1944
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Gunther von Fritsch, Robert Wise
Roteiro: DeWitt Bodeen
Elenco: Simone Simon, Kent Smith, Jane Randolph
  
Sinopse:
Amy Reed (Ann Carter) aparenta ser uma garota normal, mas isso não corresponde a realidade dos fatos. Ela tem uma mente mais imaginativa do que as demais meninas de sua idade, a ponto de suas coleguinhas de escola dizerem que ela vive sonhando. Após receber um anel de uma senhora que mora numa grande casa sombria na vizinhança ela começa a ter visões de uma bela dama em seu quintal. Mal sabe ela que Irena (Simone Simon), sua suposta amiga imaginária, é na realidade o fantasma da ex-esposa de seu pai, uma mulher estranha que tinha o poder de se transformar em uma pantera negra.

Comentários:
Que filme surpreendentemente bom! Inicialmente você pensa que vai assistir apenas a uma sequência caça-niqueis de "Sangue de Pantera". Ledo engano. Em certos aspectos essa continuação consegue ser melhor do que o filme original! Falando sinceramente poderia ser um roteiro até mesmo isolado da trama do primeiro filme. O clima mais espiritualista e a proposta diferenciada realmente fazem com que essa produção tenha um estilo bem próprio e singular. O enredo gira praticamente todo em torno de Amy Reed (Ann Carter). Ela é a filha do casal formado por 'Ollie' Reed (Kent Smith) e sua esposa Alice (Jane Randolph). Em "Sangue de Pantera" acompanhamos como se conheceram e se apaixonaram. Apesar de Ollie ser casado com Irena (Simone Simon), sua personalidade difícil e suas crenças fora do comum foram minando aos poucos o conturbado relacionamento. Ela tinha certeza que havia sido amaldiçoada em sua vila na Sérvia e que por isso se transformaria em uma pantera em noites escuras e sombrias. Depois dos trágicos acontecimentos do primeiro filme com a morte de Irena, finalmente Ollie e Alice ficaram livres para se casar. O problema é que Amy, sua filha, não age como uma garotinha normal de sua idade. Ela não tem amigos e cultiva uma imaginação fora do comum, onde realidade e fantasia geralmente se confundem. Quando ela começa a ter visões de Irena no jardim de sua casa as coisa complicam ainda mais. Ela surge em sua forma espiritual, como se fosse sua amiga imaginária. A fronteira que separa fantasia e realidade vai ficando cada vez mais estreita, para desespero de seus pais. 

O roteiro ainda apresenta outros personagens interessantes, como uma veterana atriz de teatro que vive em sua sombria casa ao lado da filha, ao qual não mais reconhece. O clima de sombras e medo atravessa todo o filme, mas tudo é realizado com tanto bom gosto que não podemos ficar menos do que surpresos. Para quem gostou das mulheres que se transformam em panteras fica o aviso que o roteiro agora apresenta outro foco, a ponto inclusive de não haver mais feras em cena. O terror é mais psicológico. Como eu já escrevi, apesar de haver uma pequena ligação com a trama do primeiro filme essa sequência é tão própria e particular que poderia até mesmo ser assistida sem ver o filme anterior. Por fim vale a menção da presença do grande Robert Wise na direção. Um dos mestres em sua especialidade, a presença do talentoso cineasta explica muita coisa, inclusive sua qualidade fora do comum. Esse foi o primeiro trabalho creditado de Wise como diretor e ele resolveu caprichar bastante, tanto no aspecto puramente técnico (há ótima utilização de luz e sombras) como de roteiro (a trama é de fato bem surpreendente). Seu talento que iria despontar no clássico "O Dia em que a Terra Parou" já dá sinais bem claros aqui. É de fato uma pequena obra prima clássica, não se enganem sobre isso. É aquele tipo de filme que se revela muito melhor do que aparenta ser.

Pablo Aluísio.

Sangue de Pantera

Título no Brasil: Sangue de Pantera
Título Original: Cat People
Ano de Produção: 1942
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Jacques Tourneur
Roteiro: DeWitt Bodeen
Elenco: Simone Simon, Tom Conway, Kent Smith, Jane Randolph 
  
Sinopse:
Irena Dubrovna (Simone Simon) aparenta ser uma jovem normal. Em um passeio pelo zoológico de sua cidade acaba conhecendo casualmente Oliver Reed (Kent Smith), um arquiteto que fica bastante interessado nela. Após alguns encontros começam a namorar. O que parecia um relacionamento promissor se torna problemático quando Oliver descobre que sua namorada tem estranhos pensamentos. Um deles a faz acreditar que ela é mais uma vítima de uma maldição secular de sua terra natal, a Sérvia. No século XV mulheres de sua região teriam feito um pacto com Satã, que transformaria jovens em feras, bestas animalescas das sombras. Estaria Irena enlouquecendo ou haveria algum fundo de verdade em suas estranhas crenças?

Comentários:
Se você tem mais de 30 anos de idade certamente conhece o filme "A Marca da Pantera" com Nastassja Kinsk, um filme que fez bastante sucesso em seu lançamento no ano de 1982. Pois bem, poucos sabem disso, mas aquele era apenas um remake desse filme original, "Sangue de Pantera" de 1942. O argumento é basicamente o mesmo. O enredo gira em torno de uma antiga maldição que acabou dando origem a uma linhagem de mulheres que se transformam em panteras quando são traídas ou ofendidas. A personagem Irena Dubrovna ainda não sabe se isso tem alguma veracidade ou se é apenas uma lenda de sua país, a Sérvia. O roteiro procura explorar o suspense que nasce dessa situação. No mais perfeito clima noir o filme se desenvolve muito bem e apresenta soluções excelentes para os momentos mais tensos. Como não havia ainda tecnologia para mostrar uma mulher se transformando em pantera, o cineasta Jacques Tourneur acabou criando cenas de alto impacto. Por exemplo, ao invés de mostrar a transformação em si, de forma explícita, ele apenas a sugere com vestígios, como as pegadas de um sapato feminino no chão que aos poucos vão sendo substituídos por marcas de patas de felinos. Desse tipo de sugestão, que nada mostra, mas deixa claro, é que vemos a inteligência de seus realizadores. Outra cena muito boa acontece numa piscina coberta, quando Alice Moore (Jane Randolph) fica aterrorizada com a iminente presença de uma fera no local. Uma pantera negra prestes a atacar sua presa! Enfim, um belo suspense noir, cheio de sacadas bem boladas e inteligentes, tudo associado a um roteiro muito bem escrito e eficiente. É de fato um pequeno clássico em seu gênero.

Pablo Aluísio.