segunda-feira, 24 de agosto de 2020

The Son - Primeira Temporada

The Son - Primeira Temporada
"The Son" é uma nova série de western do canal AMC. Como era de se esperar é um programa excelente. No primeiro episódio temos duas linhas narrativas, uma no passado e outra no presente. Na juventude Eli McCullough presencia o rancho em que sua família vive ser atacado por índios selvagens. Eles cercam o lugar e começam a forçar a entrada na casa. Dentro dela só está Eli, seu irmão mais jovem, sua irmã e sua mãe. Pessoas indefesas contra um bando de nativos violentos. Esse acontecimento vai moldar a personalidade de Eli pelo resto de sua vida. Muitas décadas depois reencontramos Eli. Ele é um homem poderoso, dono de terras, pai de família. Um sujeito forjado na dureza do Texas. Conhecido como o coronel do sul do estado, eles quer atrair investidores para seus recém construídos poços de perfuração de petróleo, pois acredita que as terras do Texas estão cheias do ouro negro.

O problema é ter que lidar com um grupo de jovens mexicanos que acham os americanos invasores de suas terras (originalmente o Texas pertencia ao México, em um passado distante). Assim promovem sabotagens e podemos até dizer, atos de terrorismo contra os empreendimentos de Eli, que ao velho estilo texano resolve responder com violência, sem lugar para o perdão.

The Son (The Son, Estados Unidos, 2017) Direção: Brian McGreevy, Philipp Meyer, Lee Shipman / Roteiro: Kevin Dowling, Olatunde Osunsanmi, Tom Vaughan / Elenco: Pierce Brosnan, Jacob Lofland, Henry Garrett / Sinopse: A série mostra a vida de Eli McCullough (Brosnan), um homem que tenta sobreviver na aridez e na selvageria do Texas, onde índios e mexicanos tentam de tudo para destruir seus planos e sonhos de ter uma vida melhor.

Episódios Comentados - Primeira Temporada:

The Son 1.01 - First Son of Texas
Já nesse primeiro episódio você sabe que "The Son" é uma excelente série. A produção é impecável e os episódios são extremamente bem produzidos, escritos e atuados. Uma novidade muito bem-vinda é a chegada do ex- James Bond Pierce Brosnan nesse novo mercado, das séries televisivas. Ele tem um personagem forte e marcante em mãos (o Eli) e pode certamente ter agora um dos melhores trabalhos de toda a sua carreira. Com duas linhas temporais, os roteiros exploram a dura vida de um Texas ainda inóspito, cheio de índios e depois recebendo as primeiras inovações de um mundo mais tecnológico que nascia, com carros e indústria petrolífera. Enfim, essa é uma série imperdível para quem gosta de história e western. / The Son 1.01 - First Son of Texas (Estados Unidos, 2017) Direção: Tom Harper / Roteiro: Philipp Meyer / Elenco: Pierce Brosnan, Jacob Lofland, Henry Garrett.

The Son 1.02 - The Plum Tree
Deixando a Inglaterra da era Vitoriana para trás conferi mais um episódio de "The Son". O segundo episódio se chama "The Plum Tree". No anterior um grupo de mexicanos (que sonham com a anexação do sul do Texas ao México) resolveram destruir uma plataforma de petróleo da propriedade do Coronel Eli McCullough (Brosnan). Capturados, agora vão precisar contar tudo no velho estilo de resolver problemas do Texas, com um bastão de beisebol usado para quebrar suas pernas. Ironicamente o filho do Coronel acha tudo aquilo bem indigno, mas acaba tendo que, digamos, sujar as mãos! Uma guerra racial então fica prestes a explodir. / The Son 1.02 - The Plum Tree (Estados Unidos, 2017) Direção: Kevin Dowling / Roteiro: Philipp Meyer / Elenco: Pierce Brosnan, Jacob Lofland, Henry Garrett.

The Son 1.10 - Scalps
Episódio final da primeira temporada. Bom, se você tinha alguma dúvida sobre a natureza e o caráter de Eli McCullough (Pierce Brosnan) depois desse episódio não haverá mais incertezas. Recapitulando, lembrando dos episódios anteriores, vimos que Eli descobriu petróleo, só que não em sua propriedade, mas sim na fazenda vizinha de Pedro Garcia (Carlos Bardem). Achar o ouro negro em suas terras sempre foi o sonho de Eli. Assim ele arma uma armadilha para Pedro. Após o incêndio de um bar na cidade, atribuída a mexicanos, ele lidera um grupo de justiceiros que vai até a sede da fazenda de Garcia. Uma vez lá a chacina se torna completa. Apenas Maria, a filha de Pedro, sai viva. Depois de um intenso tiroteio nada mais fica de pé. Pedro é morto, assim como seus filhos e seus capangas. Uma coisa monstruosa. Subornando um juiz Eli finalmente toma conta da propriedade do mexicano, a comprando por apenas 500 dólares!!! Pois é, a corrupção que pensamos ser coisa apenas do Brasil é de fato algo disseminado em todos os lugares do mundo! Um excelente episódio que fechou com chave de ouro a primeira temporada dessa série que tem sua segunda leva de novos episódios confirmada. O que virá pela frente? Vamos esperar para conferir. / The Son 1.10 - Scalps (Estados Unidos, 2017) Estúdio: AMC / Direção: Tom Vaughan / Roteiro: Philipp Meyer / Elenco: Pierce Brosnan, Jacob Lofland, Henry Garrett, Carlos Bardem, Zahn McClarnon, Jess Weixler

Pablo Aluísio.

domingo, 23 de agosto de 2020

Cinema Clássico

 
Marilyn Monroe

E o Sangue Semeou a Terra

Título no Brasil: E o Sangue Semeou a Terra
Título Original: Bend of the River
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Anthony Mann
Roteiro: Borden Chase
Elenco:  James Stewart, Rock Hudson, Arthur Kennedy,  Jay C. Flippen, Julie Adams, Lori Nelson

Sinopse:
Baseado no romance de western escrito por William Gulick, o filme "E o Sangue Semeou a Terra" conta a história de um grupo de pioneiros que vão para o Oeste selvagem em uma caravana de carroças com a intenção de começar uma nova vida em terras distantes. Para vencer em sua jornada eles terão que lutar contra tribos indígenas hostis e comerciantes de provisões desonestos.

Comentários:
Clássico de faroeste da parceria entre o diretor Anthony Mann e o ator James Stewart. Juntos fizeram alguns dos melhores filmes de western da história do cinema americano. E não era uma parceria isenta de conflitos. Eles brigavam muito no set de filmagem, mas quem ganhava no final de tudo era o espectador, que era presenteado com grandes e inesquecíveis filmes do gênero. O filme tem uma linda fotografia, pois foi todo rodado em locações naturais, em parques nacionais de preservação dos Estados Unidos, com destaque para as cenas rodadas nas montanhas do Oregon e do Rio Columbia, onde várias tomadas foram feitas, usando até mesmo de um antigo barco histórico, o “The Queen River”. No excelente elenco temos dois destaques. O primeiro é o próprio James Stewart, aqui interpretando um personagem mais complexo. Ao contrário dos homens honrados que sempre interpretou no cinema, aqui seu personagem tem um passado nebuloso que ele precisava superar. Proteger a caravana que vai para o oeste vai significar sua redenção pessoal nesse sentido. Já o galã Rock Hudson, em começo de carreira, dá vida a um jogador de cartas, um tipo cheio de lábia, que se destaca na multidão por causa  de seu figurino exótico. Com um roteiro que louva a coragem dos pioneiros que foram para o velho oeste, esse clássico é um daqueles itens para se ter na coleção de filmes. Excelente em todos os aspectos.

Pablo Aluísio.

sábado, 22 de agosto de 2020

O Homem Que Não Vendeu Sua Alma

O rei inglês Henrique VIII (1491 - 1547) foi o símbolo máximo do absolutismo. Sua palavra era lei e não importava a natureza de seus atos pois havia o dogma de que o Rei nunca poderia estar errado em suas decisões. Partindo dessa premissa, ele ainda hoje é lembrado pelos diversos crimes que cometeu ao longo da vida, inclusive contra muitas de suas esposas, que ao menor sinal de atrito com o rei eram levadas para a forca, para a decapitação ou então isoladas na famigerada Torre de Londres, uma masmorra medieval. Um dos atos mais conhecidos de seu reinado foi o rompimento definitivo com a Igreja Católica e o Papa. Henrique VIII era casado com Catarina de Aragão, da casa de Espanha. Era uma mulher virtuosa, católica fervorosa, mas tinha dificuldades em gerar o filho varão que iria herdar o trono inglês. Desesperado com a falta do nascimento de um filho homem, que lhe sucedesse, o rei Henrique VIII resolveu então pedir a anulação de seu matrimônio ao Vaticano, mas encontrou forte oposição do Papa e seu clero que consideravam o casamento feito sob as leis da igreja uma união indissolúvel. Após tentar por longos anos pela anulação, Henrique resolveu então tomar uma decisão radical. Rompeu com o Papa e expulsou a Igreja da Inglaterra, tornando propriedade do reino todas as terras, mosteiros, igrejas e bens que pertenciam à Igreja Católica.

É justamente a história dessa ruptura o tema central de “O Homem Que Não Vendeu Sua Alma”. Assim nasceu a Igreja Anglicana, fundada por Henrique VIII, uma nova religião para os ingleses, fortemente atrelada ao Estado absolutista, tendo o próprio rei como autoridade religiosa suprema. Dentro de sua nova instituição anglicana, Henrique poderia casar e se separar quantas vezes quisesse, sem precisar pedir autorização papal, uma vez que ele era o líder espiritual máximo da nova Igreja que fundara. Como todo monarca absolutista daquele período histórico, não haveria mais barreiras para sua vonade pessoal. O casamento seria nulo, se ele assim desejasse. Ele iria se separar quantas vezes quisesse e também mandaria para a morte todas as esposas que ele assim sentenciasse. Obviamente que nem todos aceitaram livremente essa nova postura real. Em uma época em que qualquer oposição poderia ser entendida como alta traição, um influente membro da corte, Thomas Moore (Paul Scofield), resolveu se opor aos desmandos do monarca. Católico praticante, não aceitou a expulsão da Igreja papista de seu país. Esse termo passaria a ser uma ofensa dentro da corte. Sua postura lhe valeu a alcunha de ser o homem que não teria vendido sua alma nesse momento particularmente complicado da história britânica. Thomas Moore era um intelectual de seu tempo e estava ciente de que um monarca com poderes plenos e sem limites levaria a Inglaterra a um impasse histórico. E suas previsões iriam se tornar verdadeiras, como bem foi provado pela história.

Aqui temos um filme historicamente fiel, com ótimas interpretações e reconstituição histórica precisa que inclusive lhe valeram vários prêmios, dentre eles os principais da Academia. Produção requintada, de luxo, com excelente nível técnico e cultural, “O Homem Que Não Vendeu Sua Alma” é além de uma bela aula de história, um ótimo entretenimento, mostrando sem receios os perigos que rondam o chamado Estado absolutista, onde toda uma nação ficava refém dos meros caprichos de um poder real sem freios ou limites. Afinal, como todos bem sabemos, o poder corrompe e o poder absoluto corrompe de forma absoluta àquele que o exerce.

O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (A Man for All Seasons, Inglaterra, 1966) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Robert Bolt / Elenco: Paul Scofield, Wendy Hiller, Leo McKern, Robert Shaw, Orson Welles, Susannah York, John Hurt, Vanessa Redgrave / Sinopse: Henrique VIII (Robert Shaw) resolve romper com a Igreja Católica após o Papa se negar a anular seu casamento com Catarina de Aragão. Seu ato encontra forte resistência do influente nobre e intelectual Thomas Moore (Paul Scofield). Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme, melhor diretor, melhor ator (Paul Scofield), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia e melhor figurino. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias melhor filme - drama, melhor diretor, melhor ator - drama (Paul Scofield) e melhor roteiro.

Pablo Aluísio. 

Tigres Voadores

Ao longo de sua carreira, o ator John Wayne se notabilizou pelos excelentes filmes de western que estrelou. Isso porém não limitava suas opções dentro do mundo do cinema, tanto que ele passeou por vários gêneros cinematográficos, sempre com muito sucesso. Um exemplo disso é esse “Esquadrilha Mortal” (também conhecido como “Tigres Voadores”). Na véspera da entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial um grupo de pilotos liderados pelo Capitão Jim Gordon (John Wayne) defende o território chinês dos constantes ataques da força aérea do império japonês. Como se sabe Japão e China são inimigos históricos, muito por causa dos inúmeros crimes de guerra cometidos por forças militares nipônicas contra civis chineses completamente indefesos. Aqui o grupo “Tigres Voadores” formado apenas por pilotos americanos, tem como principal missão proteger um hospital para crianças feridas em combates. Além disso promovem várias outras missões como patrulhas noturnas, algo extremamente perigoso em vista da precariedade tecnológica da época. Também promoviam ataques a alvos estratégicos. O filme fez parte do esforço de guerra de Hollywood durante a II Grande Guerra, cujo principal objetivo era manter em alta a moral e o espírito patriota do povo americano no meio do conflito que se espalhava pelo mundo afora.

“Esquadrilha Mortal” foi produzido pela extinta companhia cinematográfica Republic, onde John Wayne realizou vários filmes no começo de sua carreira. Jovem e esbelto, o ator encontrou um ótimo veículo para sua carreira aqui. O filme é muito bem realizado, com doses certas de ação e até mesmo romance. O personagem de Wayne tem um caso amoroso com a enfermeira da base interpretada pela atriz Anna Lee. Nas cenas de batalhas aéreas o filme de utiliza com muito sucesso de várias técnicas, desde imagens reais captadas em combates verdadeiros, até o uso intensivo de maquetes (todas extremamente bem feitas. A cena final inclusive serviu de inspiração para George Lucas décadas depois em “Guerra Nas Estrelas”. Na sequência famosa John Wayne e seu copiloto “Woody” (John Carroll) precisam adentrar o território inimigo voando a baixa atitude entre cânions rochosos. Com o avião cheio de um carregamento de nitroglicerina, um poderoso explosivo, eles precisam chegar ao alvo sem serem abatidos, destruí-lo, para depois retornarem à base. A ideia central foi aproveitada por George Lucas na famosa sequência de ataque da estrela da morte. O elenco de apoio é muito bom com destaque para John Carroll que interpreta o piloto “Woody” Jason, um sujeito boa praça, paquerador, mas também um ás da aviação. Sua cena final ao lado do grande John Wayne é marcante. Assim “Esquadrilha Mortal” se qualifica como um dos melhores filmes de aviação de guerra daquela época. Direção firme (de David Miller), ótimas cenas de batalhas aéreas, bom roteiro e é claro, John Wayne em cena, o que já justifica uma boa sessão de cinema. Não deixe de conhecer. 

Esquadrilha Mortal / Tigres Voadores (Flying Tigers, Estados Unidos, 1942) Direção: David Miller / Roteiro: Kenneth Gamet, Barry Trivers / Elenco: John Wayne, John Carroll, Anna Lee, Paul Kelly, Gordon Jones / Sinopse: Esquadrilha de pilotos americanos na China defende a população civil indefesa dos ataques de bombardeios da força aérea japonesa nas vésperas da entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhores efeitos especiais, música e som.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Tempestade Sobre Washington

Quando esse filme "Tempestade Sobre Washington" chegou aos cinemas americanos, o presidente dos Estados Unidos era John Kennedy, um democrata que caiu nas graças do povo daquela nação. Havia um sentimento de renovação e esperança como há muitos anos não se via dentro da política. Ele era jovem, tinha fama de honesto e era considerado, já naquela época, um grande líder. Claro que muita coisa podre era escondida de seus eleitores. Havia, como sempre houve, um jogo sujo sendo traçado nos bastidores de Washington. O roteiro essa produção ia assim na contramão do que o público da época esperava. Ele mostrava justamente o lado sombrio da política, das negociações e das intenções nada constitucionais. Em plena euforia da era JFK, esse roteiro era como uma ducha de água fria nas pessoas mais entusiasmadas.

"Tempestade Sobre Washington" era um excelente drama que mostrava todo o jogo sujo que acontecia na capital dos Estados Unidos, nos bastidores de sua política. Cartas marcadas, pressões, extorsões, compras de consciências, chantagem, tudo o que rolava por debaixo do tapete para que o presidente americano pudesse nomear como Secretário do Estado um nome que escolheu, o astuto Robert Leffingwell (personagem brilhantemente interpretado pelo grande Henry Fonda). Acontece que no meio da sabatina promovida pelo senado se descobriu que o preferido do presidente tinha um passado obscuro, que o ligava inclusive a um movimento radical de esquerda! Imaginem o tamanho do problema dentro do senado quando se descobre que um supostamente comunista de carteirinha estava prestes a ser nomeado para um dos mais altos cargos do poder executivo! Poucas coisas poderiam ser mais explosivas do que isso dentro da capital dos Estados Unidos.

O elenco é fantástico. Charles Laughton como o Senador Seabright Cooley está particularmente inspirado. Que grande ator! Merecidamente foi premiado com o prêmio de melhor ator da Academia Britânica. Já Henry Fonda no papel de Robert A. Leffingwell é outro destaque. Um personagem muito dúbio, que ora surge como íntegro e honesto para logo depois se revelar mais sinistro do que se esperava. Pena que como o filme gravita em torno de sua nomeação, seu personagem não apareça muito, geralmente ficando na surdina. Mesmo assim quando Fonda surge em cena é aquele show de talento. Ele foi certamente um dos melhores atores da história de Hollywood. Sua interpretação ora surge de forma sutil, feita de nuances, ora com explosão de raiva e fúria. Um modo de ser bem dual, como convinha ao seu personagem. Toda a sua interpretação vai no sentido do público ficar sem saber no que realmente acreditar. Afinal ele é um homem de boas intenções ou um canalha? Por fim nada mais justo do que a Palma de Ouro em Cannes para premiar o grande diretor Otto Preminger, cineasta sério, inteligente, competente, avesso a sentimentalismos e sensacionalismos baratos. Aqui ele adota um tom perturbadoramente frio e calculista. Assim temos uma grande obra, um filme tecnicamente impecável que mostra as vísceras da democracia americana. Se você se interessa pelo sórdido mundo dos conchavos e acordos políticos, não pode perder esse ótimo “Tempestade Sobre Washington”.

Tempestade Sobre Washington (Advise & Consent, Estados Unidos, 1962) Direção: Otto Preminger / Roteiro: Wendell Mayes, baseado no livro de Allen Drury / Elenco: Henry Fonda, Charles Laughton, Franchot Tone, Lew Ayres / Sinopse: O filme mostra a luta de bastidores em Washington para a nomeação de um novo Secretário de Estado. Filme premiado com a Palma de Ouro em Cannes. Também indicado ao BAFTA Awards na categoria de melhor ator (Charles Laughton).

Pablo Aluísio. 

Talvez Seja Melhor Assim

Após sofrer um sério acidente de automóvel o ator Montgomery Clift entrou em um verdadeiro inferno astral. As dores constantes que sofria o fez se tornar dependente de drogas pesadas. Para piorar ainda mais o alcoolismo se agravou e Clift encontrou muitos problemas em seguir em frente na profissão. Após ficar quatro anos sem aparecer no cinema ele resolveu voltar, dessa vez para aquele que seria seu último filme na carreira, uma produção francesa e alemã que captou os últimos momentos desse grande ator no cinema. Os filmes de espionagem estavam na moda por causa do sucesso arrebatador da série James Bond então foi quase natural o aproveitamento de Clift, mesmo em ruínas, para estrelar essa tentativa um tanto mal sucedida de tentar repetir sob uma verniz mais séria o tema da espionagem durante a chamada guerra fria. Ele surge em cena muito magro e abatido, praticamente curvado, obviamente passando um aspecto bem doentio, o que poderá certamente chocar seus fãs, principalmente aqueles mais acostumados com seus primeiros filmes, onde interpretava galãs românticos ou trágicos.

Aqui em seu último papel Montgomery Clift interpreta o professor James Bower, um renomado físico que é recrutado pela CIA para ir até a Europa com o objetivo de ajudar na busca de um cientista russo que se tornou peça vital dentro do jogo de espionagem entre americanos e soviéticos. A trama se passa no auge da chamada guerra fria, bem na fronteira entre as duas Alemanhas, na região que foi apelidada pelo primeiro ministro inglês Winston Churchill de “Cortina de Ferro”. O enredo foi retirado do sucesso editorial “The Spy”, também conhecido como 'L'Espion', escrito pelo autor Paul Thomas. Clift, já com a saúde bastante abalada, passou por dificuldades para terminar o filme.

Muito abatido, sem energia, enfrentou seu último trabalho com muita dignidade mas também com muito sacrifício. Em determinado momento cogitou abandonar as filmagens por não aguentar mais se manter sóbrio, requisito necessário para cumprir o contrato que havia assinado. A crítica por sua vez não gostou muito do resultado. O fato da produção ser europeia, com ritmo devagar e características bem diferenciadas da indústria americana, fizeram com que a produção também fosse ignorada pelo público.  Clift não viveria muito após o lançamento do filme vindo a falecer em julho de 1966 em Nova Iorque. O cinema perdia assim um dos mais talentosos atores de sua história.

Talvez Seja Melhor Assim (L'espion, The Defector, Alemanha, França, 1966) Direção: Raoul Lévy / Roteiro: Robert Guenette, Raoul Lévy / Elenco: Montgomery Clift, Hardy Krüger, Roddy McDowall / Sinopse: Pacato professor de física é envolvido numa complexa rede de espionagem que tenciona levar para o ocidente um renomado cientista russo bem no auge da chamada guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Um Favor Muito Especial

Rock Hudson começou sua carreira na Universal realizando alguns filmes de western e de guerra, mas encontrou seu caminho mesmo ao estrelar vários dramas, em especial os dirigidos por Douglas Sirk, em que interpretava geralmente galãs românticos e idealistas. No final da década de 1950 Rock acabou encontrando outro filão para os seus filmes, a das comédias românticas. Depois do enorme sucesso de “Confidências à Meia Noite”, “Volta Meu Amor” e “Não Me Mande Flores”, todos ao lado da cantora e atriz Doris Day, Rock percebeu que havia ali um público sempre interessado em vê-lo nesse tipo de produção. Assim Rock começou a aparecer em uma sucessão de filmes que seguiam essa mesma fórmula. Aliás quantas vezes um ator pode repetir o mesmo papel em filmes diferentes? Bom, Rock Hudson provou que muitas vezes. Esse "Um Favor Muito Especial" é praticamente um remake de seu maior sucesso, "Confidências à Meia Noite". O argumento é basicamente o mesmo: Playboy mulherengo tenta conquistar uma mulher bem sucedida profissionalmente que não se importa em se casar ou ter filhos. Para isso ele finge ser uma outra pessoa para ganhar sua simpatia e confiança.

Aqui no caso Rock finge ser um paciente pois o seu alvo é uma psicóloga (interpretada pela fraca atriz Leslie Caron). O único diferencial desse para "Pillow Talk" é que aqui o romance conta com o incentivo do pai da senhorita, vivido pelo veterano ator francês Charles Boyer (sem muito o que fazer em cena). O filme não foi bem nas bilheterias, o que era relativamente fácil de se explicar pois no fundo era mais do mesmo, sendo que bem menos engraçado do que os filmes que Rock Hudson fez ao lado de Doris Day. O público provavelmente cansou de ver o mesmo filme - só que com outro título. Em decorrência Rock deixaria a Universal um ano depois do lançamento dessa produção, após seu contrato ter acabado e o estúdio não mostrar mais interesse em tê-lo sob exclusividade. Então é isso, "Um Favor Muito Especial" nada mais é do que um prato requentado só que com muito menos sabor. Não acrescentou nada na ótima filmografia de Rock Hudson.

Um Favor Muito Especial (A Very Special Favor, Estados Unidos, 1965) Direção: Michael Gordon / Roteiro: Stanley Shapiro, Nate Monaster / Elenco: Rock Hudson, Leslie Caron, Charles Boyer / Sinopse: Playboy se finge de paciente para conquistar uma psicóloga que não quer se casar e nem se envolver em um romance mais sério. Tudo realizado para atender a um favor especial do pai da senhorita que não deseja que ela se torne uma solteirona.

Pablo Aluísio.