sábado, 20 de outubro de 2012

O Segredo de Brokeback Mountain

Sem dúvida um dos filmes mais polêmicos dos últimos anos. Na época me lembro claramente que criou-se toda uma polêmica pelo fato de se colocar na tela dois cowboys tendo um relacionamento gay. Como se sabe a figura mítica do cowboy é um dos símbolos máximos da virilidade do homem americano. Será que o chamado homem de Marlboro agora tinha virado a casaca? Bobagem. Infelizmente esse é um daqueles casos em que a polêmica acaba jogando uma fumaça sobre a verdadeira essência do filme, tornando tudo turvo e escuro. O filme não deve ser encarado dessa forma. Na realidade é a estória de duas pessoas que abrem mão de sua verdadeira felicidade por causa das pressões sociais que sofrem em seu meio. Certamente são apaixonados um pelo outro, seguramente gostariam de viver essa paixão em sua plenitude mas não fazem por mera pressão da sociedade. Não seriam aceitos por seus pares, sofreriam todo tipo de discriminação e ao final poderiam até se tornar vítimas de algum crime de homofobia. Dessa forma preferem viver uma mentira. O personagem de Jack (Jake Gyllenhaal ) é o mais perfeito retrato disso. Ele se casa para manter as aparências e segue tendo uma vida cheia de desencontros e infelicidades. Não foi feliz por ficar preocupado pelo que os outros pensariam dele. Deixou de viver sua própria vida para viver uma mentira de acordo com a mentalidade tacanha da sociedade.

A dupla central de atores está excepcionalmente bem. Jake Gyllenhaal, por exemplo, tem a melhor atuação de sua carreira. Já Heath Ledger está novamente excepcional. Seu personagem tenta ser mais honesto com si mesmo do que seu companheiro mas novamente sucumbe ao conservadorismo extremo do lugar onde vive. O diretor Ang Lee comanda o filme sem pressa, sem atropelamentos. As situações surgem em seu devido tempo, tudo para mostrar o relacionamento ora conturbado, ora feliz, dos jovens amantes. Seu sensível trabalho lhe valeu o Oscar de melhor diretor daquele ano, o que foi mais do que merecido. Ledger e  Gyllenhaal também concorreram ao Oscar mas não levaram. A sempre sisuda Academia certamente pensou que ainda não seria o momento para premiar atores de personagens tão controversos como aqueles. No final das contas o filme se tornou sucesso de público e crítica. Também não podemos ignorar o fato de que filmes como esses também ajudam aos grupos GLS em sua luta contra o preconceito. É uma obra que abre caminhos e fortalece o respeito que todos devem ter pelo próximo, independente de sua opção sexual. Assim a grande mensagem do filme é a seguinte: viva a sua vida da melhor forma possível, de acordo com o seu modo de pensar. Nunca deixe de viver apenas porque tem receio do que as outras pessoas vão pensar de você. Seja feliz e ignore todo o resto. 

O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, Estados Unidos, Canadá, 2005) Direção: Ang Lee / Roteiro: Diana Ossana, Larry McMurtry / Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams, Anne Hathaway, Anna Faris / Sinopse: O filme acompanha o longo e turbulento relacionamento entre dois homens em uma das regiões mais conservadoras dos Estados Unidos. Vivendo vidas de fachada ambos acabam se tornando infelizes e incompletos em suas vidas afetivas.

Pablo Aluísio. 

Candy

Acho Candy tão injustamente subestimado. Todos sempre citam o brilhante trabalho de Heath Ledger em Batman mas muitos poucos lembram dessa sua inspirada atuação. Talvez pelo fato do filme ser pequeno, discreto, com jeito de cinema independente, muitos sequer tenham visto a produção. Bom, nunca é tarde para corrigir essa lacuna. Candy tem uma estrutura nada convencional e se baseia na vida de um casal formado por Candy (Abbie Cornish) e Dan (Heath Ledger). Ambos são jovens, promissores, vivendo a melhor fase de suas vidas. São amorosos e realmente se querem bem. O problema é que Dan tem um série problema com o abuso freqüento de drogas, em especial a famigerada cocaína. Cometendo um erro que é mais comum do que se pensa Candy, sua namorada, também resolve experimentar a droga. Não tarda para se viciar completamente. O que antes parecia um conto de fadas, um romance dos sonhos, rapidamente se torna uma roleta russa e um abismo é criado ao redor dos jovens namorados, agora transformados em meras sombras do que um dia foram.

O roteiro é marcante porque mostra as armadilhas que podem surgir na vida de pessoas que tentaram apenas levar uma vida fora dos padrões estabelecidos, levando uma existência mais boêmia, poética e livre das amarras sociais. Nada de errado há nisso. O problema é que saem de uma arapuca para caírem em outra. O usuário de drogas geralmente pensa que está livre, agindo por conta própria. A verdade dos fatos porém é que ele ao consumir drogas acaba se tornando mais prisioneiro do que era antes. Uma falsa sensação de liberdade que leva a pessoa para a mais terrível das prisões, a do vício e da dependência química. O filme joga muito bem com essa realidade que infelizmente atinge milhões de pessoas ao redor do mundo. O roteiro porém procura evitar discursos de moralidade ou falsas lições de moral. Ao invés disso se limite a mostrar o esfacelamento gradual do casal. Quando assisti Candy pela primeira vez o ator Heath Ledger ainda estava vivo e sua atuação, pela primeira vez, me chamou  realmente a atenção. Não deixa de ser tristemente irônico saber que o ator morreria justamente por uso de drogas. Uma ironia do destino que torna Candy ainda mais interessante. Não deixe de assistir e descubra como Ledger foi muito além do Coringa.

Candy (Candy, Estados Unidos, 2006) Direção: Neil Armfield / Roteiro: Neil Armfield / Elenco: Abbie Cornish, Heath Ledger, Geoffrey Rush, Tom Budge, Roberto Meza Mont, Tony Martin, Noni Hazlehurst, Holly Austin, Craig Moraghan./ Sinopse: Jovem casal vive feliz e em clima de harmonia em seu sólido e estável relacionamento. Tudo porém começa a ruir após ambos consumirem drogas de forma descontrolada.

Pablo Aluísio.

Lobisomem: A Besta Entre Nós

Produção da Universal de orçamento bem modesto que foi lançado diretamente no mercado de venda direta ao consumidor nos Estados Unidos. A primeira observação pertinente a se fazer é que o filme, sendo feito pelos estúdios Universal, está longe de apresentar uma produção medíocre. Pelo contrário, dentro de suas possibilidades o filme é até bem realizado nesse aspecto. O padrão de qualidade é mantido. Os monstros digitais, embora não sejam de encher os olhos tecnicamente falando, estão longe de parecerem vergonhosos ou mal feitos. O roteiro procura criar uma identificação entre as antigas produções de terror e o ritmo mais alucinante dos games atuais. É uma mistura meio complicada mas até que o filme não se sai tão mal nesse quesito. O argumento é simples: uma vila no século XIX é atacada por terríveis lobisomens. Sem alternativas o povo local resolve contratar os serviços de um grupo especializado justamente em caçar e matar bestas sobrenaturais como os licantropos que andam tirando o sossego dos moradores. Lida assim a sinopse até lembra um pouco Van Helsing. A direção de arte é até parecida mas há diferenças também. Helsing era muito mais pop, sem qualquer preocupação em ter o mínimo de sutileza. Aqui há pelo menos uma preocupação maior em se desenvolver com mais calma os eventos, criando um clima adequado para o surgimento das criaturas. Claro que tudo se desenvolve em um mesmo ambiente de realismo fantástico mas mesmo assim essa produção é bem mais pé no chão do que o filme do caçador de vampiros.

Há uma tentativa do texto em desenvolver um pouco mais os personagens, embora nada seja muito aprofundado nesse ponto. O garoto, que será peça chave no desfecho do filme, surge em cena mais bem contextualizado do que os demais caçadores. Como sempre há o mistério em se saber quem é exatamente essa nova besta assassina que parece ser bem diferente dos demais lobisomens pois não reage apenas por instinto tendo a capacidade de pensar e raciocinar durante os ataques, escolhendo inclusive a quem irá matar. É uma nova espécie de monstro. A produção usa e abusa do jogo de sombras e luzes, principalmente nas cenas rodadas dentro da floresta. No elenco há muitos desconhecidos com exceção de Stephen Rea, aqui em bom personagem, um médico com métodos pouco convencionais. No saldo final temos aqui um filme que se não chega a ser uma maravilha, tampouco é uma decepção completa, pois em momento algum chega a aborrecer o espectador. Assim Lobisomem: A Besta Entre Nós acaba funcionando como um bom passatempo caso o espectador não seja exigente demais.

Lobisomem: A Besta Entre Nós (Werewolf: The Beast Among Us, Estados Unidos, 2012) Direção: Louis Morneau / Roteiro: Michael Tabb, Catherine Cyran / Elenco: Nia Peeples, Steven Bauer,  Stephen Rea | Sinopse: Lobisomem ataca distante e isolada vila no leste europeu. Para acabar com a ameça os moradores locais contratam um grupo de caçadores especializados em caçar e matar esse tipo de besta assassina.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Miss Potter

Parece que após Bridget Jones a atriz Renée Zellweger tomou gosto em interpretar mulheres britânicas. Aqui ela repete a dose dando vida nas telas para a escritora Beatrix Potter (1866-1943), consagrada autora de livros infantis. Sua obra não é tão conhecida no Brasil quanto lá fora, mas sua história pessoal certamente vai criar identificação com muitas mulheres de nosso país. Miss Potter era, assim como a personagem Bridget Jones, uma mulher que fugia aos padrões da sociedade vitoriana de seu tempo. Era solteirona e mais do isso, não achava que o casamento fosse o segredo da felicidade na vida de uma mulher. Inteligente acreditava que cada mulher deveria ser dona de seu próprio destino, abrindo os caminhos de sua vida por conta própria. Depender, seja financeiramente, seja emocionalmente, de um marido era a última coisa que queria em sua vida. A solução de seus problemas veio na forma de livros infantis que começou a escrever. Como produzia algo de que gostava, o amor e a paixão que colocava em seus escritos acabavam passando para o seu pequeno leitor. O resultado veio no sucesso editorial de sua obra que a transformou numa mulher dona de seu próprio nariz, como aliás acontece na vida de todas as grandes mulheres.
 
Como sua biografia já é por si mesmo muito interessante o filme Miss Potter se transforma em uma grata surpresa. Dirigido pelo cineasta especialista em temas infantis, Chris Noonan (de Babe o Porquinho Atrapalhado), o filme tem um lirismo, um clima mágico que realmente encanta e cativa. Sua grande qualidade é discutir a posição da mulher dentro da sociedade britânica ao mesmo tempo em que resgata o imaginário infantil, com aquele ambiente de sonhos e magia que todos conhecemos tão bem. Renée Zellweger brilha novamente, embora o excesso de tratamentos estéticos a que se submeteu incomode em certos momentos. A magia fica comprometida quando vemos uma mulher do século XIX com aplicações de botox. Mesmo assim é algo que o espectador vai ter que ignorar para apreciar totalmente o filme em si. O elenco de apoio conta com as sempre marcantes presenças de Ewan McGregor e Emily Watson. Enfim,  Miss Potter é tão charmoso e fino que indico especilamente para o público feminino, que sempre apreciou bem mais filmes elaborados e esteticamente bonitos como esse.

Miss Potter (Miss Potter, Estados Unidos, 2008) Direção: Chris Noonan / Roteiro: Richard Maltby Jr. / Elenco: Renée Zellweger, Bill Paterson, Emily Watson, Ewan McGregor, Barbara Flynn./ Sinopse: O filme conta aspectos da vida da autora infantil de grande sucesso, Beatrix Potter (1866-1943). Considerada avançada demais para sua época ela enfrentou o preconceito e barreiras sociais para vencer na sua carreira de escritora.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Brando A Biografia Não-Autorizada

Já que o tema livros sobre grandes mitos do cinema veio à tona resolvi escrever algumas linhas sobre esse "Brando A Biografia Não-Autorizada", um livro que tenho há muitos anos em minha coleção particular. Em relação a Marlon Brando eu sempre recomendo sua autobiografia que é a melhor obra na extensa bibliografia escrita sobre o ator. Isso é bem simples de entender pois traz os pensamentos, a visão de mundo e as idéias do próprio Brando que fala sobre tudo menos de suas ex-mulheres e seus filhos (uma exigência que ele fez aos editores na época em que escreveu o livro). Ainda escreverei melhor sobre ele. Agora vamos focar nessa biografia não-autorizada. Se trata de um livro com aproximadamente 330 páginas que tenta jogar uma luz sobre a carreira e a vida pessoal de Marlon Brando. A primeira observação a se fazer é que o autor Charles Higham não é um escritor muito brilhante. Sua narrativa é muitas vezes chata e sem brilho. Ele se limita a contar aspectos da vida de Marlon Brando em sequência cronológica mas sem muito envolvimento. A escrita é objetiva e sem traços autorais. Particularmente achei seu estilo muito pesado e seco. Outro problema do livro é sua estrutura. O autor gasta dois terços de seu texto para se dedicar apenas aos primeiros anos de vida e carreira de Marlon Brando. Depois de um começo lento ele começa a acelerar para chegar ao fim e tudo acaba saindo no sobressalto. A fase do "Poderoso Chefão" por exemplo, é lacunosa e pequena. Logo um de seus filmes mais importantes não recebe a importância devida. A impressão que tive foi que o projeto inicial seria de um livro com aproximadamente  700 páginas mas que foi de certa forma editado quase a metade por fatores comerciais deixando uma obra final com muitos buracos em sua narrativa.

Outro problema é fruto da edição nacional pouco caprichosa. Os filmes aparecem com seus títulos originais em inglês - sem o nome nacional o que leva o leitor menos conhecedor da filmografia de Brando ficar perdido sem saber exatamente de que obra o texto está se referindo. Faltou também uma lista com todos os filmes de sua filmografia no final do livro. O único ponto positivo que vejo aqui é o lado mais pessoal e familiar do ator que surge sem rodeios e sem panos quentes. O autor expõe as brigas conjugais de Brando com suas ex-esposas, os problemas judiciais e as confusões em que se envolveu ao longo da vida. Como o livro foi escrito em 1990 obviamente os anos finais do ator ficaram de fora. Assim "Brando A Biografia Não-Autorizada" serve como complemento a outras leituras mais preciosas como "Canções Que Minha Mãe Me Ensinou". Se em sua autobiografia Brando se recusou a falar de seus casamentos e filhos esse aqui acaba completando a lacuna. Não é uma obra maravilhosa e nem bem escrita mas vale como referência de fatos que foram poucos explorados em outras obras. Vale a pena ter em sua coleção, apesar de suas falhas.

Brando: A Biografia Não-Autorizada
Autor: Charles Hhgham
Editora: Civilização Brasileira - Nal Penguin Inc
Categoria: Literatura Estrangeira / Biografias e Memórias

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fragments Marilyn Monroe

Quando morreu Marilyn Monroe deixou todos os seus bens tais como roupas, livros e anotações pessoais para seu mentor e amigo no Actor´s Studio, Lee Strasberg. Durante décadas esse rico acervo ficou encaixotado e um tanto esquecido em um depósito de Nova Iorque. Provavelmente Strasberg não tenha compreendido as maravilhas que tinha em mãos. Há alguns anos finalmente parte do material foi levado para especialistas e historiadores. Foi então que descobriram um verdadeiro tesouro. No meio de pilhas de papéis avulsos encontraram muitas anotações de Marilyn. Pedaços de pensamentos, cartas, lembretes cotidianos, devaneios, delírios, sonhos e até agendas pessoais onde a musa escrevia sobre os mais diversos assuntos e temas, coisas que ela entendia ser importante registrar. Um registro ímpar que leva o leitor imediatamente para o mundo mais íntimo da estrela, permitindo que se possa compartilhar com ela muitas de suas impressões sobre as pessoas e o mundo ao seu redor. Assim como em sua vida cotidiana Marilyn se mostra uma pessoa bem bagunçada em seus registros. Não há uma sequência lógica, tudo vai surgindo ao acaso, o que acaba sendo um ponto positivo pois o leitor acaba se deparando com uma surpresa a cada página. Tudo finalmente foi reunido agora no ótimo livro "Fragments"!

O resultado é um livro de 272 páginas que mostra bastante da personalidade da atriz. A coleção de momentos é bem eclética. Há textos engraçados, assombrosos, confissões, medos, tudo junto em um grande mosaico. Em um deles ela diz que se acha homossexual, para  logo a seguir afirmar que tem pavor a lésbicas! Como se pode perceber era contraditória ao extremo, uma criançona mesmo. Cativante. Sua eterna insegurança como atriz e mulher surgem em vários textos como na frase que escreveu em data desconhecida:  "Tenho medo de fazer novos filmes porque talvez não tenha capacidade de fazê-los e as pessoas vão pensar que não sou uma boa atriz, vão rir ou, inclusive, vão pensar que não sei atuar." O curioso é que mesmo famosa e consagrada Marilyn jamais conseguiu se livrar completamente da pequenina Norma Jean que parecia não querer ir embora de sua vida. "Como posso interpretar uma menina tão feliz, juvenil e cheia de esperanças?" ela pergunta em certo momento! Ela se achava o exato oposto disso! Velhos traumas de infância que sempre pareciam lhe perseguir. O veredito pessoal sobre sua vida é de certa forma muito pessimista. Nesse ponto ela se mostra completamente quando escreve com grande sinceridade: "Só! Estou só. Sempre estou, aconteça o que acontecer". Mesmo com tantos amantes, namorados e maridos ela jamais conseguiu superar a terrível sensação de solidão que sempre a acompanhou. Assim em conclusão podemos afirmar sem receio que para os fãs de Marilyn Monroe o livro Fragments é simplesmente obrigatório. Um retrato dos pensamentos mais secretos de um dos maiores nomes da história do cinema americano. Não deixe de ler.

Marilyn Monroe Fragments
Autor: Marilyn Monroe
Editora: Harpercollins Uk
Categoria: Literatura Estrangeira / Biografias e Memórias

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Os Piratas do Rock

A minha impressão é de que um filme com um elenco tão bom poderia ter sido melhor. Do jeito que ficou deixou um pouco a desejar. Eu não tinha conhecimento dessas rádios piratas que transmitiam rock no meio do oceano para fugir das leis inglesas. Para mim foi tudo uma grande surpresa (e olha que procuro ler muito sobre música, principalmente dos anos 60). Depois irei procurar algo sobre o tema para me informar melhor. De qualquer forma o que temos aqui é quase uma fábula. Os personagens são variações de tipos que conhecemos daquela década (o hippie fumado, as garotinhas de mini saia, os intelectuais que odeiam o governo etc). Eu achei que há um excesso de personagens - são muitos e mesmo que o filme dure um pouco mais do que o normal não houve como desenvolver todos eles como deveria.

Do elenco enorme alguns se sobressaem. O Phillip Seymour Hoffman é um grande ator, todo mundo sabe disso mas sinceramente a comédia não é a praia dele. Embora seu personagem seja simpático e tenha a melhor cena do filme (em que eles escalam um dos mastros do barco), nada de muito significativo acontece com ele. Na verdade é só mais um personagem sem o desenvolvimento adequado. Aliás além dos personagens serem pouco desenvolvidos a própria trama do filme é dispersa demais. De bom mesmo apenas ótimos atores no elenco de apoio (o que diabos a Emma Thompson está fazendo aqui numa micro ponta?) E o Kenneth Branagh? Esse pelo menos tem um personagem melhor, divertidamente cartunesco. Enfim, não é uma perda de tempo assistir "Os Piratas do Rock" mas também não se trata de nenhuma maravilha da sétima arte. Na dúvida arrisque, quem sabe você não goste...

Piratas do Rock (The Boat That Rocked, Estados Unidos, 2009) Direção: Richard Curtis / Roteiro: Richard Curtis / Elenco: Philip Seymour Hoffman, Kenneth Branagh, Bill Nighy, January Jones, Gemma Arterton, Emma Thompson, Kenneth Branagh, Nick Frost. / Sinopse: Grupo de DJs nada convencionais transmite programa de Rock de um barco em alto mar.

Pablo Aluísio.

Tetro

Francis Ford Coppola sempre viveu seu trabalho intensamente no mundo do cinema. Via de regra bancava seus próprios filmes nas décadas de 70 e 80, isso lhe trouxe grandes prejuízos financeiros pois nem sempre suas idéias cinematográficas caíam no gosto do grande público. Após vários filmes mal recebidos o diretor resolveu aplicar seu dinheiro em outro tipo de negócio, uma vinícola. Sua incursão no mercado de vinho deu tão certo que o diretor voltou a novamente ser um homem rico e estabilizado. Claro que sua paixão pelo cinema não acabou. Agora ele procura realizar seus filmes com orçamentos mais modestos, em locações mais econômicas. Ele ainda banca suas produções mas agora com os pés no chão. É o caso desse pequeno filme chamado Tetro. Rodado na Argentina, por questões financeiras e incentivo do governo local, Tetro é um novo olhar desse velho cineasta que apesar da idade ainda continua intrigante e provocativo. Como disse em sua entrevista, Coppola agora só dirige projetos em que acredita totalmente. Claro que por se tratar de um grande diretor como esse eu não perderia a chance de ver seu novo trabalho. Tetro é um pouco acima da média dos filmes atuais mas bem abaixo do legado do mestre.

O maior problema de Tetro é seu roteiro truncado demais. A trama em si é simples e começa bem. Em certos momentos a complicada relação entre irmãos me lembrou muito "O Selvagem da Motocicleta" (ainda mais pelo uso da fotografia preto e branco) mas o filme é bem abaixo desse clássico juvenil dos anos 80. O filme não engrena e o desfecho final é muito decepcionante pois a solução encontrada para chocar o espectador lembra o estilo folhetinesco das novelas latinas. Será que o cineasta ficou encantado com a dramaturgia das novelas latino-americanas? É possível.  O elenco está bem porém não há nenhum grande talento em cena. Vincent Gallo não apresenta uma grande interpretação, na maioria das vezes ele se limita a ficar sorumbático em cena, para em outras tentar passar simpatia e paixão. Já Alden Ehrenreich, seu irmão mais novo, também não é muito convincente (eu achei ele parecidíssimo com Leonardo Di Caprio quando era mais jovem, principalmente em certas cenas do filme). O grande ator em cena é Klaus Maria Brandauer mas ele pouco aparece (apenas em flashbacks rápidos que não acrescentam muito). Enfim, Tetro não é bom a ponto de figurar entre os grandes filmes de Coppola. No fundo não passa de um dramalhão, só faltou o Carlos Gardel para cantar um tango no final.

Tetro (Argentina, Estados Unidos, 2009) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Francis Ford Copppla, Maurício Kandun / Elenco:  Vincent Gallo, Alden Ehrenreich, Maribel Verdú,  Silvia Pérez,  Rodrigo De la Serna, Erica Rivas / Sinopse: As lutas, brigas e eventos que ligam dois irmãos na Argentina de ontem e hoje.

Pablo Aluísio.