sábado, 14 de março de 2009

Elvis Presley - The Final Curtain CD 2

O segundo CD da coleção The Final Curtain já é bem mais interessante que o volume 1. Finalmente aparecem os primeiros registros realmente inéditos. O concerto que Elvis realizou na cidade de Orlando, por exemplo, só havia sido lançado antes em bootlegs sem qualidade sonora decente e aqui finalmente temos praticamente a íntegra do que foi encontrado até agora em sonoridade digna (embora longe de ser perfeita). Como o CD 2 traz faixas de concertos diferentes temos várias oscilações de qualidade, com algumas canções gravadas em bom nível técnico (como How Great Thou Art) intercaladas com registros de qualidade medíocre (como Love Me). Nesse aspecto puramente sonoro o CD começa mal, é verdade, principalmente nas primeiras faixas com vários problemas de gravação (alguns bizarros) mas depois ao longo do CD as coisas vão paulatinamente melhorando.

Como já foi dito as doze primeiras canções do CD foram gravadas em Orlando no dia 15 de fevereiro de 1977. Esse concerto é o grande chamariz desse segundo CD pois era dado como inexistente por longos anos. Orlando já era conhecido em qualidade Audience pelos fãs através do bootleg "Going Back In Time" mas do jeito que se apresenta aqui é realmente novidade. Obviamente como se tratava de um Audience (significa que foi gravado no meio da audiência) a qualidade sonora ia do sofrível ao medíocre. Agora temos acesso a um material com melhoria bem considerável. Não é perfeito, há erros de equalização e captação (em algumas ocasiões as caixas chegam próximas a explosão pelo volume desequilibrado) mas não há como negar a importância do aparecimento desse soundboard. Se fosse qualificar diria que as músicas desse show surgem em um nível de bom para mediano (embora tenha sido gravado na mesa de som) sem muito rigor técnico. De qualquer forma convenhamos que já é um avanço e tanto. Em termos de performance Elvis vai de oito a oitenta. Entre as canções apenas "You Gave a Mountain" se destaca mais embora o resto do concerto seja no mínimo curioso.

Depois do show em Orlando há uma salada com canções tiradas de nada mais, nada menos, do que sete shows diferentes. Não gosto desse tipo de seleção pois demonstra pouco rigor e passa a sensação de desleixo, além de ser tudo obviamente incompleto. Do show em Columbia temos, por exemplo, apenas duas faixas (Release Me e Trying To Get You). Nada de muito inspirado embora Elvis procure cantar tudo de forma correta e profissional. Esse show pode ser ouvido na íntegra no bootleg "Release Me" só que em sistema Audience, sem grande qualidade. Aqui as coisas melhoram. As quatro faixas seguintes foram gravadas em Charlote, no dia 20 de fevereiro. Esse show já é bem conhecido pelos fãs e colecionadores de bootlegs. Basta lembrar do CD FTD Unchained Melody. O grande destaque entre essas faixas é justamente Moody Blue (que infelizmente não passa de uma tentativa fracassado por parte de Elvis em apresentar material novo ao público - ele tenta, brinca, ri um pouco e desiste!). Depois dessas canções gravadas em Charlote a única coisa mais relevante é o medley gospel "Bossom Of Abraham / Better You Run" gravado em Alexandria. A faixa já havia sido lançada antes no bootleg "The Event" mas agora está bem melhor, chegando até mesmo a parecer um ensaio já que mal conseguimos ouvir o público. Como o CD citado não é muito conhecido vai ser uma boa surpresa para muitos. Eu sempre aconselho os fãs a adquirirem os bootlegs com as íntegras desse show mas como se apresenta aqui até que pode ser válido, muito embora como eu já disse o material esteja incompleto. Em resumo, o CD 2 não é perfeito mas já traz novidades interessantes (coisa que falta definitivamente no volume 1 da coleção).

Elvis Presley - The Final Curtain CD 2
01. Love Me
02. If You Love Me (Let Me Know)
03. You Gave Me A Mountain
04. O Sole Mio / It's Now Or Never
05. All Shook Up/Teddy Bear/Don't Be Cruel
06. Help Me
07. Big Boss Man
08. My Way
09. Introductions
10. Hurt
11. Hound Dog
12. Can't Help Falling In Love
13. Release Me
14. Trying To Get To You
15. Fairytale
16. My Way
17. Moody Blue
18. How Great Thou Art
19. Blue Christmas
20. My Way
21. That's All Right
22. Bosom Of Abraham/You Better Run
23. And I Love You So
24. Fever
25. Hurt
26. Heartbreak Hotel
27. Blue Suede Shoes.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - The Final Curtain CD 1

A partir de hoje vou fazer uma análise geral da coleção "The Final Curtain" que acaba de sair no mercado. Antes de mais nada é importante informar que se trata de um lançamento não oficial (do selo Boxcar) com tiragem limitada (em torno de 1500 cópias) que despertou grande interesse entre os fãs de Elvis aqui no Brasil e lá fora. Trata-se basicamente de 6 CDs e 6 DVDs com áudio e imagens dos últimos concertos realizados por Elvis Presley no ano de 1977. O primeiro CD da coleção traz basicamente duas apresentações feitas por Elvis nos dias 13 e 14 de fevereiro de 1977 nas cidades de West Palm Beach e St. Petersburg , ambas localizadas no Estado da Flórida.

Quem conhece mais a fundo o mundo dos bootlegs já conhece os shows de títulos como "Coming On Strong" e "Cajun Tornado". Em termos de performance não há muito o que se destacar pois Elvis está apenas ok, fazendo concertos que são acima de tudo profissionais e corretos. Obviamente que em se tratando de um período complicado de sua vida há um certo "freio de mão puxado" por parte do cantor, principalmente em canções que exigem um pouco mais dele como na nota final de "It´s Now Or Never" mas no geral ele nem compromete e nem tampouco surpreende. Há momentos divertidos como em "Blueberry Hill" do concerto em West Palm Beach onde Elvis nos transporta por alguns segundos aos anos 50 novamente ou na letra cheia de brincadeiras de "Can´t Help Falling in Love" desse mesmo concerto mas esses momentos também são apenas pontuais. Embora não leve muito a sério Elvis se diverte o que faz o registro valer a pena. No resto da set list não há maiores surpresas, se destacando apenas uma "Love Letters" tardia, embora não muito comovente.

Embora muitos tenham afirmado que houve um ótima melhora sonora no material ouso dizer que na realidade a melhora de som existe porém de forma mais sensível. O que se nota ao comparar com os títulos anteriores é que houve um trabalho de limpeza em certos momentos dos concertos, problemas esses que vinham desde as fitas originais. O fato porém é que não há como melhorar muito isso pois é um problema que nasceu no momento da gravação. Como não se trata de uma gravação profissional, tudo foi captado na mesa de som do concerto (os chamados soundboards) não havendo todo o cuidado que se tem na gravação de registros oficiais. Esse tipo de situação é simplesmente impossível de contornar, tudo se resumindo em paliativos para tornar a audição mais confortável. Foi exatamente isso que foi feito nesse primeiro CD. Para falar a verdade nunca gostei muito desses registros (especialmente o show em St Petersburg, muito fraco em termos de qualidade sonora) mas como se trata de Elvis em seus momentos finais geralmente aceitamos esse tipo de som abaixo da média. Os dois concertos aliás trazem problemas de equalização e balanceamento além do chamado "efeito metálico" que sempre os caracterizou e de certa forma os rebaixam no aspecto puramente técnico. Enfim, o primeiro CD da coleção não traz maiores novidades e nem nos surpreendem em sua qualidade (pois já a conhecemos).

Elvis Presley - The Final Curtain CD 1
01. Little Sister
02. You Gave Me A Mountain
03. Blue Suede Shoes
04. O Sole Mio/It's Now Or Never
05. My Way
06. All Shook Up/Teddy Bear/Don't Be Cruel
07. And I Love You So
08. Fever
09. Blueberry Hill
10. Hurt
11. Hound Dog
12. Jailhouse Rock
13. Can't Help Falling In Love
14. If You Love Me (Let Me Know)
15. You Gave Me A Mountain
16. O Sole Mio*/It's Now Or Never
17. All Shook Up/Teddy Bear/Don't Be Cruel
18. And I Love You So
19. Fever
20. My Way
21. Blueberry Hill
22. Love Letters
23. Introductions/School Days
24. Hurt
25. Hound Dog
26. Can't Help Falling In Love
27. Closing Vamp

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Elvis Presley - Close Up

Como o tempo passa rápido! Está completando 10 anos de lançamento desse box muito interessante, Close Up. Na ocasião de sua chegada nas lojas eu escrevi em meu site EPHP o seguinte texto: "A BMG Heritage anunciou em 1º de julho o lançamento de "Elvis: Close Up", um conjunto de quatro CDs que inclui amplo material até agora inédito do rei do rock'n'roll. No ano passado a RCA lançou o conjunto de CDs "Elvis Today, Tomorrow, and Forever" e a coleção "ELV1S 30 #1 Hits", num CD único, que já estreou no primeiro lugar da lista Billboard 200 e, desde então, vendeu 2,8 milhões de cópias nos Estados Unidos e no total 9.9 milhões de cópias ao redor do mundo, de acordo com a Nielsen SoundScan. O conjunto "Elvis: Close Up" inclui ao todo 89 faixas. Cada um dos quatro CDs remasterizados cobre um aspecto distinto da carreira de Elvis Presley.

O primeiro disco traz as fitas master em estéreo dos anos 50, sendo o primeiro lançamento desse tipo de "Blueberry Hill", "Loving You", "(There'll Be) Peace in the Valley (For Me)", "Don't Leave Me Now" e outras. O disco 2 traz faixas de quatro dos filmes em que Elvis trabalhou: "Saudades de um Pracinha", "Feitiço Havaiano", "Estrela de Fogo" e "Coração Rebelde". O disco traz 25 faixas nunca antes lançadas. O terceiro CD cobre as sessões que Elvis fez nos anos 60 no Estúdio B da RCA em Nashville. Estão incluídas 21 faixas de várias sessões diferentes, incluindo "Make Me Know It", "U.S. Male", "Surrender", "His Latest Flame", "The Girl of My Best Friend" e "Singing Tree". O último disco traz um concerto inteiro gravado em 18 de abril de 1972 em San Antonio, em gravação até agora inédita. O show teve 23 canções, incluindo "Burning Love", "Proud Mary", "Suspicious Minds", "Never Been to Spain", "Funny How Time Slips Away" e "Polk Salad Annie".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - One Night in Vegas / Too Much Monkey Business

FTD One Night in Vegas
Já tive a oportunidade de escrever um longo e detalhado review desse CD e portanto não irei me alongar em demasia. O que mais posso escrever em relação ao "FTD One Night in Vegas"? Se trata realmente de um título maravilhoso do selo FTD, muito bem organizado e completamente focado em sua proposta histórica. O CD foi gravado ao vivo durante um concerto realizado por Elvis Presley em Las Vegas durante a temporada de agosto de 1970. Essa terceira rodada de shows de Elvis é até hoje considerada uma das melhores de toda a sua carreira. Não havia mais o nervosismo da temporada inicial e nem tampouco a tensão da temporada do começo do ano, quando todos disseram que era precipitado voltar a Vegas em uma época de baixa no fluxo de turistas. Temia-se até um fracasso comercial, que de fato não aconteceu.

Assim Presley se mostra totalmente à vontade no palco, com repertório maduro e bem selecionado. O show do dia 10 de agosto surge na íntegra, o que é fantástico, pois dá uma ideia geral para o fã de Presley saber como era um concerto dele naquela época. Para completar cronologicamente o álbum o produtor Ernst Jorgensen resolveu colocar mais cinco canções gravadas no dia 4. Dessa segunda seleção o destaque vai para a versão ao vivo de "Twenty Days And Twenty Nights", uma linda balada do álbum "That´s The Way It Is" que Elvis raramente cantou em suas apresentações. Do concerto do dia 10 vale ressaltar as ótimas versões de "Words" (de seu primeiro disco ao vivo), "I Just Can't Help Believing" (a bela canção romântica que abriu o lado A da edição original de "That´s The Way It Is") e "Something" dos Beatles, ainda sem encontrar seu arranjo ideal dentro da banda de Elvis. Embora ele tivesse sérias restrições sobre as posições políticas do grupo inglês resolveu não deixar de fora de sua carreira clássicos imortais como esse, "Yesterday" e "Hey Jude", uma das poucas canções do quarteto a serem gravadas por ele em estúdio. Então é isso, esse é um título que definitivamente não pode faltar em sua coleção.

FTD One Night in Vegas - 1: Opening Theme 2: That's All Right 3: Mystery Train/Tiger Man 4: Elvis talks 5: I Can't Stop Loving You 6: Love Me Tender 7: The Next Step Is Love 8: Words 9: I Just Can't Help Believing 10: Something 11: Sweet Caroline 12: You've Lost That Loving Feeling 13: You Don't Have To Say You / Love Me 14: Polk Salad Annie / Intro: band 15: I've Lost You 16: Bridge Over Troubled Water17: Patch It Up 18: Can't Help Falling In Love 19: Words 20: Cattle Call / (Yodel) 21: Twenty Days And Twenty Nights 22: You Don't Have To Say You Love Me 23: Brigde Over Troubled Water (incomplete).

FTD Too Much Monkey Business
Esse é o patinho feio da coleção FTD. Mereceu o título. Muito ruim a ideia de se mexer nas gravações originais de Elvis. Há limites que não se devem ultrapassar sobre isso. De qualquer maneira o repertório pelo menos é de bom nível. O que liga a grande maioria das músicas desse CD é o sabor nitidamente country de praticamente todas as faixas. A country music sempre foi muito subestimada pela crítica em relação à obra do cantor. Elvis, e poucos param para pensar seriamente sobre isso, foi um grande artista country. Presley realmente vestiu mesmo a camisa desse estilo musical durante toda a sua carreira. Ele de certa maneira nasceu dentro dessa sonoridade e jamais a abandonou. Provavelmente se ainda estivesse vivo estaria lançando álbuns desse gênero até hoje!

"Too Much Monkey Business", por exemplo, foi subestimada em sua época de lançamento, mas a ouvindo hoje em dia podemos notar a força de seu sabor caipira. "Clean Up Your Own Backyard" é outra que não ganhou o destaque merecido. Além da boa letra tem uma performance incrível por parte de Elvis, que conseguiu impor uma fina ironia (diria até mesmo sarcasmo) em sua execução. Coisa de gênio realmente. "Just Call Me Lonesome" por outro lado é aquele tipo de som regional para não deixar dúvidas sobre o tipo de ritmo que Elvis estava abraçando na época. São boas músicas, boas faixas. Isso porém não é novidade pois elas já eram conhecidas desde o seu lançamento original. O CD, que se propõe a ser uma releitura do álbum póstumo "Guitar Man", assim me soa levemente descartável, apesar das boas canções presentes no repertório. Há coisas infinitamente melhores dentro do selo FTD.

FTD Too Much Monkey Business - 1: Burning Love 2: I'll Be There 3: Guitar Man 4: After Loving You 5: Too Much Monkey Business 6: Just Call Me Lonesome 7: Loving Arms 8: You Asked Me To 9: Clean Up Your Own Backyard 10: She Thinks I Still Care11: Faded Love 12: I'm Movin' On 13: I'll Hold You In My Heart14: In The Ghetto15: Long Black Limousine16: Only The Strong Survive17: Hey Jude18: Kentucky Rain19: If You Talk In Your Sleep 20: Blue Suede Shoes (Las Vegas, Aug '69).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Elvis Presley - Elvis at Sun

Segundo os diretores da Sony este seria o lançamento definitivo sobre os "anos Sun" da carreira de Presley. Será mesmo? Dois argumentos fortes militam contra esse "marketing". Primeiro ponto: Desde o surgimento do CD até os dias de hoje, os engenheiros de som da BMG RCA não conseguiram captar com perfeição o "Sun Sound" de Sam Phillips. Será que eles conseguem agora? Pessoalmente acho difícil, pois cada vez mais me convenço que o único formato que consegue capturar a essência das músicas na Sun é o vinil mesmo!

Os absurdos cometidos na era do CD foram tantos que até mesmo "eliminaram" o eco da Sun, que não é defeito e sim uma marca registrada do estúdio de Sam Phillips. Vamos torcer para que não ocorra outro absurdo deste tipo com esse novo CD! Segundo ponto: Onde está "Uncle Pen", a mais badalada música perdida de Elvis na Sun Records? Houve muitos boatos sobre sua existência, inclusive falou-se muito sobre seu lançamento nesse CD, o que não ocorreu. Alguns especialistas afirmam que a música realmente existe, mas que a BMG só pretenderia mostrá-la ao público no futuro, em um evento mais importante.

Outro aspecto curioso sobre as gravações de Elvis Presley na Sun Records é o fato do próprio cantor ter dito em entrevistas que "havia muito eco" nas músicas. Será que o próprio Elvis não tinha consciência da importância de seu trabalho na Sun Records? Ao que tudo indica sim, pois penso que Presley via suas faixas na Sun como um ponto importante em sua vida profissional, afinal de contas a Sun foi a primeira a lhe dar uma chance como cantor, mas o resultado técnico em sua visão deixava muito a desejar. E olhando sob um certo ponto de vista isso é algo até bem comum com alguns artistas.

Eles sempre olham para suas primeiras gravações com uma visão muito crítica pois enxergam ali a falta de experiência, o pouco domínio vocal, a falta de um arranjo mais bem elaborado, etc, etc. Mesmo não estando com o gosto pessoal de Elvis é impossível negar a importância histórica de todas as músicas da Sun Records que ele nos legou. É um momento em que realmente as canções deixaram de ser meros country para se tornar algo diferente, que viria a ser conhecido como rock. Sendo assim esse CD não é completo e nem muito menos definitivo mas vale a pena conferir, afinal o gênese do Rock ´n´Roll está aqui.

Elvis Presley - Elvis at Sun (2004)
Harbor Lights 
I Love You Because (alternate take 2)
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
Blue Moon
Tomorrow Night
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
Just Because
Good Rockin' Tonight
I Don't Care If The Sun Don't Shine
Milkcow Blues Boogie
You're A Heartbreaker
I'm Left, You're Right, She's Gone (slow version)
I'm Left, You're Right, She's Gone
Baby, Let's Play House
I Forgot To Remember To Forget
Mystery Train
Trying To Get To You
When It Rains, It Really Pours

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Long, Lonely Highway

Esse CD do selo FTD é bem curioso por vários motivos. Um deles é sua capa. Perceba que é antes de tudo uma homenagem à capa do disco Elvis Golden Records vol. 2, uma das mais lembradas da carreira do cantor. Com fundo branco e várias figuras de Elvis a capa fez escola sendo bastante imitada por outros artistas, inclusive no Brasil. É aquela coisa, nem sempre uma boa ideia precisa ser megalomaníaca ou exagerada para marcar época. A simplicidade do design chama muito atenção até nos dias de hoje. Outro aspecto curioso desse título é a grande quantidade de takes iniciais presentes (takes 1 ou 2, por exemplo). Esse tipo de gravação é relevante pois traz a primeira tentativa de acertar a música dentro dos estúdios. Certa vez escrevi sobre a grande eficiência de Elvis Presley dentro dos estúdios, geralmente gravando um LP inteiro em apenas uma ou duas noites.

Pois bem, esse CD mostra bem isso. Quando a luz acendia dentro da cabine de gravação Elvis já estava praticamente pronto ao lado de seus músicos. Muitos takes inicias são praticamente iguais às masters oficiais que conhecemos. Elvis chegava lá e resolvia como regra geral tudo de forma rápida e o mais importante, com qualidade. Com Elvis Presley certamente não se aplicava o velho lema de que "A Pressa é inimiga da perfeição". "Long Lonely Highway" foca nos anos 60, com gravações que vão desde o começo da década até praticamente seu final. Muitas pessoas que escrevem sobre música ainda insistem em qualificar essa fase de Elvis como um período de menor qualidade musical por parte do cantor, onde ele teria deixado o rock mais visceral de seus primeiros discos por um som mais suave, de romantismo extremo. Bobagem. Elvis apenas seguiu a própria tendência musical que acontecia na música americana no período. Não foi Elvis que suavizou, foi a própria cultura musical do período que seguiu para um lado mais pop. De qualquer forma engana-se quem pensa que essa fase foi destituída de valor. As próprias canções aqui presentes mostram justamente o contrário.

As faixas foram retiradas principalmente das sessões que deram origem aos discos "Elvis is Back" e "Pot Luck With Elvis", além de singles e bonus songs de trilhas para filmes. Muitas delas inclusive saíram diretamente do conhecido projeto "The Lost Album", o LP nunca lançado por Elvis nos anos 60. Eu particularmente gosto muito desse material pois foi uma tentativa muito válida por parte de Elvis e banda em produzir material com maior qualidade que suas costumeiras trilhas pós 1963. Entre os destaques cito a sempre curiosa "Come What May", uma daquelas canções que caíram em um injusto limbo dentro da discografia do cantor, tanto por terem sido mal lançadas e pessimamente divulgadas, o que em absoluto tiram seus méritos em termos de qualidade sonora. Hoje o título está parcialmente ultrapassado até mesmo pelos lançamentos posteriores do selo FTD (que trouxeram muitas dessas sessões quase na íntegra) mas de qualquer forma vale a citação de seu lançamento. É um bom produto para o fã de Elvis Presley ter em casa na sua coleção.

FTD Long, Lonely Highway
01. It's Now or Never (take 1)
02. A Mess Of Blues (take 1)
03. It Feels So Right (take 2)
04. I'm Yours (take 2)
05. Anything That's Part of You (take 2)
06. Just For Old Time Sake (take 1)
07. You'll Be Gone (take 4)
08. I Feel That I've Known You Forever (take 3)
09. Just Tell Her Jim Said Hello (take 5)
10. She's Not You (take 1, WP-4)
11. Devil In Disguise (takes 2, 3)
12. Never Ending (take 1)
13. Finders Keepers, Losers Weepers (take 1)
14. Long Lonely Highway (take 1)
15. Slowly But Surely (take 1)
16. By And By (take 4)
17. Fools Fall In Love (take 4)
18. Come What May (stereo master)
19. Guitar Man (take 10)
20. Singing Tree (take 13)
21. Too Much Monkey Business (take 9)
22. Stay Away (take 2)

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Elvis Presley - Elvis Spring Tours 77

Esse CD do selo FTD vem para desmistificar vários mitos criados em torno de Elvis Presley. O primeiro deles é aquele que afirma que, em 1977, Elvis não conseguia mais apresentar um bom concerto ou se animar em um palco. Não há nenhum sinal de vacilo vocal ou falta de energia nas faixas que são ouvidas aqui, muito pelo contrário, em todas elas Elvis procura dar o melhor de si e demonstrar que ainda podia empolgar uma plateia e disponibilizar para todos um belo show, com muito rock de primeira qualidade, belas baladas românticas e muita animação e energia. Afirmar tudo o que escrevi aqui não significa negar ou tentar ignorar todos seus problemas físicos e emocionais, não é isso, mas sim dar a César o que é de César. Elvis está bem em praticamente todos os registros, se há algum deslize em alguma faixa, eles são pontuais e não prejudicam o conjunto ou a qualidade do material. Em poucas palavras: Elvis ainda continuava um grande artista, com pleno domínio de palco em seus momentos finais.

No aspecto puramente técnico, as canções não apresentam uma qualidade que vá satisfazer os ouvidos mais exigentes. Aqui devemos primar nem tanto pela excelência de som, mas sim pela excelência histórica de se ouvir Elvis nos palcos, no mesmo ano de sua morte. Há problemas de equalização, de mixagem e de balanceamento dos instrumentos e na voz de Elvis, mas isso é normal, até mesmo pela própria subcategoria em que CDs como esses são enquadrados. Ninguém vai exigir de um lançamento desses todos os cuidados que foram utilizados em seus discos oficiais. O foco aqui é outro completamente diferente. Se o ouvinte passar por cima de todos esses problemas, certamente vai chegar a conclusão que ouvir algumas dessas músicas é sempre um prazer renovado. O CD começa com três faixas retiradas de um mesmo show realizado no dia 26 de março de 1977 na cidade de Norman.

A primeira, That's All Right, é providencial. Nada melhor que abrir o CD com a música que começou tudo. Após uma pequena introdução de violão tocada pelo próprio Elvis, o grupo entra à toda e apresenta uma grande versão, totalmente coesa e praticamente perfeita do ponto de vista técnico. Após conversar um pouco com Charlie Hodge e a plateia, Elvis começa Are You Lonesome Tonight? e como quase sempre acontecia nos registros dessa música ao vivo, ele aproveita para brincar um pouco e rir, principalmente na parte falada da música. Parece uma tradição, quando chegava nessa parte da canção era quase certeza Elvis perder o controle e começar a gargalhar. Aqui com a ajuda de Charlie tudo desanda, Elvis novamente ri muito e se diverte, mas depois se recupera e leva a canção até o final. Blue Christmas é a próxima. Esse registro é especialmente interessante porque essa música nem era muito utilizada por Elvis em seus shows. Inclusive pode-se perceber claramente que ela nem mesmo estava programada e Elvis a inclui em cima da hora. Mas isso certamente não era problema para a TCB Band que chega com competência e nos presenteia com uma versão excelente. As duas faixas seguintes foram gravadas no show do dia 27 em Abilene.

São duas músicas dos anos 50. A primeira, Trying To Get To You, foi utilizada a exaustão por Elvis nos palcos durante os anos 70. Essa canção sempre proporcionou boas versões para Elvis, sempre deu a ele a chance de demonstrar seu pleno controle e domínio vocal. Após ouvi-la na íntegra não há outra conclusão a não ser que ela está isenta de maiores máculas e é praticamente perfeita (tirando uma pequena brincadeira feita por ele, que passa muito longe de prejudicá-la). Em cima Elvis entra logo com Lawdy Miss Clawdy, outro grande clássico de seus anos iniciais. Aqui Elvis aparente estar bastante empolgado, improvisando em cima do solo de piano. Talvez o único senão seja a exagerada participação no finalzinho da música por parte do acompanhamento vocal, mas nada que vá prejudicar o resultado final. Fever, que vem logo a seguir, é uma versão excelente. Tudo o que ela poderia ter sido em shows mais importantes como o Aloha e não foi. Elvis, relaxado e brincando, proporciona um belo entrosamento com a banda e responde de imediato a empolgação do público. Outra faixa impecável. Única do show do dia 30 de março, realizado em Alexandria, presente no disco, uma pena.

A nostalgia prossegue com Heartbreak Hotel, seu primeiro grande sucesso internacional. Em seus últimos anos Elvis ganhou fama por não tratar seus velhos hits com a seriedade e o respeito merecidos, principalmente nos palcos. Esse mito tem sua razão de ser, principalmente por causa das mini versões de um minuto de duração de algumas de suas maiores músicas, mas isso nem sempre acontecia, como bem podemos notar nessa versão aqui presente. Elvis a canta corretamente, ainda que em certos trechos tire uma onda, mas a banda apresenta um bom acompanhamento, respeitando o arranjo das primeiras versões ao vivo de 1969. Gravada em Saginaw no show do dia 25 de abril. If You Love Me entra em seguida e vem para demonstrar o material mais recente de sua carreira. Essa versão não é tão boa como a oficial que aparece no disco Moody Blue, mas é na média. De todas as faixas, essa talvez seja a mais prejudicada pelo desnível de equalização existente entre Elvis, a banda e os vocais femininos de apoio. Faltou maior rigor técnico por parte daqueles que estavam gravando a apresentação. Vale pela importância. O Sole Mio / It's Now or Never traz novamente todos os problemas técnicos da faixa anterior, pois ambas foram gravadas no mesmo dia 26 de abril em Kalamazoo. Apesar da boa vontade de Elvis em promover Sherril Nielsen, acho que a introdução poderia ter sido suprimida sem maiores traumas. A Hot Horns certamente também é outro problema nessa faixa, pois o arranjo é excessivo e abusa de efeitos sonoros para passar a imagem de grandiosidade. Tudo ficou altamente excessivo no final das contas.

Little Sister vem logo a seguir. Essa versão foi retirada do show em Ann Arbor no dia 24 de abril. Bem mais extensa que suas irmãs do mesmo período a canção se torna uma boa surpresa e quando mal nos recuperamos de seu final somos arremessados imediatamente para um delicioso medley com as imortais Teddy Bear / Don't Be Cruel, mesma fusão que Elvis vinha utilizando já há tempos, mas que nunca perdia o frescor e a beleza. São canções imortais certamente, daquelas que Elvis nunca iria se livrar mesmo. A parte final do Medley é muito legal, com Elvis animado e novamente se divertindo para valer! Enfim, uma versão sem novidades, mas muito boa. Do mesmo show ainda temos Help Me. Há versões melhores do que esta certamente. Aqui Elvis já aparece um pouco cansado, o que se nota nitidamente no último verso quando ele se segura e se preserva, provavelmente se poupando para o resto da apresentação (a compare com a versão de Memphis de 1974 para ter uma ideia do momento em que Elvis realmente pisa no freio). A versão de Blue Suede Shoes do show do dia 26 de março em Norman que vem a seguir é fantástica. Depois de a negligenciar durante muitos anos, Elvis acata a sugestão que lhe é passada no palco e apresenta uma versão energética e de um pique ímpar. Pena que ela dure muito pouco. Mas isso não é problema pois somos compensados logo após, pois antes que percebamos como ela foi fugaz, outra boa versão entra nas caixas: é mais uma dos 50's, light e mínima, mas outro de seus clássicos de rock, Hound Dog, versão que mal chega a pouco mais de um minuto, mas que diverte principalmente pela bateria e pelos demais efeitos percussivos.

Pensou que a volta aos anos 50 tinha acabado? Que nada! Logo após Jailhouse Rock nos chega numa outra versão que não foge à regra: pouca duração e apenas o básico, o feijão com arroz, porém com um diferencial interessante: a própria empolgação de Elvis. Com ela chega ao final a sucessão de seus sucessos roqueiros dos anos 50, pelo menos por enquanto. Polk Salad Annie dá seus primeiros sinais e logo nos primeiros momentos descobrimos que estamos na presença de uma versão especial. Muito mais movimentada e bem arranjada, a Polk Salad Annie de 1977 nada fica a dever a suas predecessoras do começo da década. Primeira constatação importante: Elvis está a mil! O grupo fecha com ele e capricha no apoio que não lhe falta em nenhum momento da execução de seu grande hit! Até mesmo o naipe de metais se mostra altamente feliz nessa noite. Aliás esse show de Milwaukee é muito interessante, muito recomendado para quem quiser ouvi-lo na íntegra. Infelizmente para esse CD só utilizaram essa versão, o que deixará todos com água na boca certamente. Elvis vai no comando da animação e segura muito bem a vibração ao lado de seus músicos, lá pelo meio ele desliza levemente e perde um pouco de fôlego, para logo se recuperar e encerrar a música com tudo! O final dessa versão é a melhor que já ouvi dessa música! Elvis e a TCB Band colocando pra quebrar mesmo e botando abaixo o ginásio. Apoteose pouca é bobagem! Nota 10!

Já a seguinte, Bridge Over Troubled Water, versão gravada em Duluth no dia 29 de abril de 1977, apresenta problemas. Parece que esqueceram de avisar ao pianista que está é uma canção suave e intimista. Mal começa a canção e ele dispara alucinadamente, fazendo com que Elvis literalmente corra atrás! A canção está totalmente fora de seu ritmo normal, parece que Elvis fica todo o tempo da música tentando se acertar com o resto da banda, tudo ficando muito confuso. A orquestra e a banda de Elvis também não conseguem chegar num denominador comum! Certamente canções ao vivo são mais rápidas que as de estúdio, isso é natural e todo músico sabe disso, mas essa versão de Bridge Over Trouble Water mais parece uma maratona, onde a pressa e o desentrosamento imperam! Em vista de tudo isso não se poderia de jeito nenhum alcançar um resultado satisfatório. Pior faixa do CD. Porém nem tudo está perdido, como bem demonstra uma grata surpresa gravada no mesmo show que vem logo a seguir, Big Boss Man, outra que Elvis não costumava muito apresentar ao vivo. Aqui Elvis e banda nos apresenta uma versão muito agradável, fluída, de fácil assimilação. Músicas como essa dão a nítida impressão que em determinados concertos Elvis poderia também trazer um sopro de renovação em seu muitas vezes cansado repertório. Big Boss Man está acima da média nessa apresentação, tanto em aspectos artísticos como em aspectos técnicos. Gravada no show do dia 29, é uma bela surpresa e uma doce exceção!

Fairytale, faixa do disco Elvis Today, traz um Elvis novamente com o freio de mão puxado. Única canção do show dele em Chicago presente no CD. Particularmente nunca gostei muito dessa apresentação e essa faixa é uma boa amostra do que rolou naquela noite na cidade dos ventos! Embora a cante corretamente, Elvis visivelmente se posiciona e se contém, com pequenas exceções no meio da faixa. No final Elvis não se arrisca e deixa o vocal de apoio assumir o controle. Melhor mesmo poupar a voz para outra ocasião! Mistery Train / Tiger Man gravada no show em Saginaw também demonstra um Elvis mais contido. A versão é muito boa também, mas lhe falta maior pique, aqui quem brilha certamente é o grupo de Elvis, James Burton na guitarra principalmente. Elvis apenas dá o tom para que seus músicos brilhem, tanto individualmente em belos solos (inclusive de bateria) como em conjunto. Última dos velhos tempos presente no CD. Unchained Melody é uma preciosidade absoluta! Aqui temos a versão que Elvis gravou no dia 24 em Ann Arbor. Não há maiores novidades e todos já a conhecem bem, inclusive de outros discos. Momento especial na carreira de Elvis.

Litlle Darlin vem apenas para cumprir tabela e preparar o desfecho final do disco. Essa é a versão do mesmo show da faixa anterior. Também sem maiores novidades. Finalmente de todo esse revival chegamos ao final com chave de ouro: My Way. Essa é a versão do show em Saginaw e está entre as melhores que Elvis gravou. Apesar da versão do Aloha From Hawaii ser considerada a melhor pelos especialistas, principalmente pela sua perfeição técnica, fico com essa! Nessa época Elvis vinha apresentando belas versões dessa canção, vide a do show em Rapid City, por exemplo. Mesmo todas sendo de alto nível, a versão de Saginaw tem um diferencial que a lhe coloca em posição de superioridade perante as demais: Elvis está muito mais envolvido nela, muito mais ligado emocionalmente! Apesar de sempre ter ouvido ela em outros bootlegs, essa é a melhor em termos de qualidade sonora que já ouvi. Com ela Elvis fecha o CD de forma magistral.

Resumo da ópera: o velho mito de que Elvis não conseguia mais comover ou emocionar, que estava tão gordo que mal se segurava em pé, que estava tão dopado que não conseguia mais levar uma apresentação até seu final, deve ser revisto. Tudo está aí, para quem quiser ouvir. O raciocínio é simples: o CD foi gravado em 1977, último ano de vida do cantor, e prova que se houve problemas em sua vida, certamente eles não conseguiram apagar o brilho de Elvis nos palcos da vida! Alguns dessas versões em nada ficam a dever ao material que ele gravou nos anos anteriores. Certamente ele passou por situações aflitivas, de saúde, emocionais, mas ainda era Elvis Presley quando adentrava em um palco, ainda era o Rei do Rock'n'Roll que todos conhecemos. Para constatar isso basta apenas ouvir atentamente! Fazendo isso você certamente vai entender porque uma canção vale mesmo mais do que mil palavras!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Let It Roll

Alguns títulos de Elvis Presley são simpáticos. Veja bem, eles não irão mudar sua vida, não vão causar grandes surpresas em colecionadores de longa data, eles não vão mudar o conceito que você tem de Elvis Presley, nada disso. Eles apenas são bons lançamentos, com bom gosto em seu aspecto visual e na escolha do repertório e vai somar, mesmo que timidamente, em sua coleção apenas como um CD interessante e agradável. Eles são apenas títulos simpáticos. É justamente esse o caso desse CD do selo Madison denominado Let It Roll. Não há entre suas faixas nenhuma grande novidade, apesar do CD ter sido produzido inteiramente com takes alternativos de estúdio de Elvis durante os anos 60 e 70. Quase todos esses registros já tinham sido lançados antes em outros CDs, mas o selo Madison resolveu unir um belíssimo repertório com um grande apuro visual em seu encarte, o que acaba gerando pontos em seu favor. Aliás é bom que se diga que a produção visual e a direção de arte da capa e encartes internos é de alto nível. Interessante como lançamentos como esse, meros bootlegs, podem colocar facilmente à nocaute as produções artísticas dos discos oficiais de Elvis. Já escrevi aqui mais de uma vez sobre a pobreza artística das capas dos discos oficiais de Elvis nos anos 70 e volto a repetir que, quando me deparo com um título tão bem produzido como esse, realmente fico não menos do que surpreso. Quem dera os LPs oficiais de Elvis tivessem tido uma direção de tamanho bom gosto como essa!

"Let It Roll" é um CD que traz versões de estúdio não aproveitadas por Elvis na época. Essas faixas que foram descartadas são denominadas de "takes alternativos", ou seja, bem poderiam ter sido consideradas as oficiais caso assim fossem escolhidas pelos produtores de Elvis na época. Mas não o foram. Muitas delas foram arquivadas e ficaram longos anos longe do público. Talvez se o mito Elvis não tivesse tanta força como tem atualmente elas simplesmente seriam perdidas para sempre. Porém como o nome do cantor é cada vez mais forte e presente, gerando muita curiosidade das novas gerações, pessoas que eram encarregadas do armazenamento desses takes resolveram trazer tudo à tona e lançar todo o material em CDs oficiais e não oficiais. Aqui o período enfocado é o final dos anos 60 e grande parte dos anos 70 (indo mais ou menos até meados dessa década). Considerada por muitos a melhor fase de Elvis Presley em sua carreira, esse período foi aquele em que o artista resolveu realmente crescer como intérprete e artista, deixando os temas juvenis de suas trilhas para trás para se dedicar de corpo e alma a um material bem mais adulto e maduro. Se antes Elvis cantava sobre romances adolescentes agora ele estava realmente interpretando canções que falavam mais diretamente com pessoas de sua real faixa etária, com todos os seus problemas, sem fantasias de pré adolescentes no meio. Realmente não havia mais como Elvis ficar cantando pérolas fantasiosas de aborrescentes com quase quarenta anos de idade! Se continuasse naquele caminho das trilhas infantiloides ele certamente ficaria patético em pouco tempo. Felizmente os anos 70 para Elvis Presley começaram mesmo em 1969 no American Studios como bem demonstram os diversos takes de "Wihout Love" presentes no disco.

Essa canção é geralmente associada como "aquela música que Elvis sempre tentou gravar e nunca conseguiu". Segundo alguns autores desde os tempos da Sun Elvis tentava chegar numa versão que o agradasse sem contudo conseguir. Aqui temos os takes 1,2,3,4 e 5. O take 1 demonstra Elvis sussurrando a faixa baixinho com a banda ensaiando e afinando os instrumentos ao fundo. Finalmente entra o piano e começa o take 1 que dura poucos segundos. O take 2 é bem mais completo porém também não vai muito longe, mesmo Elvis a cantando corretamente. O que estraga esse take é um erro, quase imperceptível, do guitarrista na primeira fase da faixa. Apesar disso Elvis segue em frente, talvez para pegar o gancho certo da faixa ou talvez por não ter notado o pequeno erro do instrumentista de seu grupo musical. Apesar de tudo o que se nota é que, desde os primeiros takes, Elvis está seguro e com pleno controle da situação. A velha tese de que essa música teria se transformado no verdadeiro terror para Elvis nos estúdios durante sua longa carreira cai por terra rapidamente pois ele não demonstra o menor sinal de dificuldades em executá-la. Aliás é bom que se diga que não é certo e nem confirmado com absoluta certeza ser essa a música que Elvis tentou e não conseguiu gravar durante seus primeiros registros na Sun Records.

Promised Land mais uma vez rouba o show, sendo o centro das atenções. Aqui o take não captura o clima das gravações, a faixa começa a mil e demonstra uma grande semelhança com sua versão oficial. Tecnicamente está ótima embora se perceba algumas variações no vocal de Elvis, principalmente por seu riso incontido logo no comecinho da versão. Após o solo de James Burton Elvis perde por poucos segundos o tempo exato da canção mas segue em frente! Não há grandes surpresas, existem mínimas diferenças de bateria (algumas ideias muito boas que infelizmente ficaram de fora da gravação master) e um solo praticamente idêntico ao oficial o que de certa forma coloca por terra a afirmação de Burton de que o solo dessa canção teria sido praticamente improvisado! As duas versões demonstram claramente que não, embora existam certas diferenças e nuances no solo final.

A master My Way, lançada na caixa Walk a Mile in My Shows quebra um pouco o clima do disco! Aqui não há nenhum espaço para improvisos ou brincadeiras, o take é pra valer e embora essa faixa nunca tenha sido lançada na discografia oficial de Elvis pré 77, podemos facilmente reconhecer a perfeição técnica dessa versão. Uma das grandes interpretações da carreira de Elvis, embora não tenha encontrado nenhum espaço em sua carreira oficial. Se My Way é um símbolo de perfeccionismo e profissionalismo por parte do cantor a seguinte, na verdade uma Jam Session, vem de encontro aos anseios daqueles que querem compartilhar um pouco o humor de Elvis dentro dos estúdios. Johnny B.Good não passa de um ensaio descompromissado e Holly Night sequer deveria ter sido creditada pois não passa de uma gozação de Elvis em cima das músicas natalinas que ele era forçado a gravar pelo Coronel Parker e pela RCA. Elvis está até mesmo um pouco alterado além da conta, muito acima e além da animação corrente e costumeira que estamos tão familiarizados ao ouvir nesse tipo de registro. O cantor realmente passa nítida impressão de estar um pouco "alto" demais! De qualquer maneira vale o bom astral.

Patch Up, canção que nunca simpatizei, aparece em seguida e pouco acrescenta. A única nota relevante é saber que a faixa é muito bem executada, sem brincadeiras fora de hora, erros ou equívocos por parte de Elvis e banda. Para quem gosta da canção é uma boa pedida, para quem não curte o melhor mesmo é manter distância. Já Help Me é bem melhor. Embora creditada como "Live Multi Track" a canção fica bem na média, bem na regularidade das versões que Elvis apresentava na época. Essa canção também quebra um pouco o ritmo do CD pois é uma faixa ao vivo, o que destoa muito das outras versões (praticamente todas de estúdio). Sobre ela ainda tecerei algumas observações importantes logo abaixo.

It's Midnight que inclusive abre o CD apresenta duas faixas. A primeira nada mais é do que um mero ensaio, altamente recomendado para aqueles que gostam de ouvir os bastidores das gravações de Elvis em estúdio. Aqui temos os dois principais componentes do grupo de Elvis ensaiando. Em primeiro plano o grupo vocal tenta acertar a nota certa, tudo acompanhando pelo grupo musical que também tenta se achar. Em um segundo momento Elvis vai tentando achar, não só o tom certo da canção como também memorizar alguns trechos da música. Ao lado de J.D.Summer Elvis vai tentando se encontrar na música. Ao fundo muito barulho das vocalistas. Finalmente depois de alguns momentos Elvis interrompe o que estava fazendo e chama a atenção delas para que assim possam começar as gravações. O clima é descontraído, leve, com Elvis sempre de bom humor, o que desmente muitas biografias que sempre o colocam como um ser sorumbático e necrosado durante as sessões do Stax. Basta ouvir um pouquinho do que acontecia dentro dos estúdios para perceber que nada estaria mais longe da verdade! Elvis brinca, se diverte, solta piadinhas, faz brincadeiras. Não há o menor sinal de depressão ou melancolia, muito pelo contrário. Se há um grande mérito desses registros é realmente colocar por terra a imagem de um Elvis Presley desabando de decadente dentro dos estúdios de gravação durante os anos 70.

Bossom of Abraham, praticamente perfeita e completa, vem para fazer entender a todos porque o Gospel é uma das vertentes que deram origem ao Rock'n'Roll. Percebam que a vocalização é praticamente idêntica àquela usada nos primórdios do surgimento do bravo Rock'n'roll. A única notável diferença seria encontrada mesmo apenas no teor das letras, essas bem mais mundanas e seculares do que as de teor religioso. Porém isso não importa e nem desqualifica a teoria de que o novo idioma musical que nascia era realmente uma grande mistura de sons, gêneros e sonoridades que pairavam no ar no velho Delta do Mississippi. Já no passar dos anos ambos os gêneros iriam nitidamente se distanciar. O Rock'n'Roll iria se unificar cada vez mais ao pop, principalmente após a ida de Elvis para o exército e o Gospel, mesmo fiel às suas origens vocais das capelas, iria absorver cada vez mais outros gêneros regionais do Sul como o Country and Western e as baladas sentimentais. O exemplo mais perfeito disso é justamente Help Me. Percebam sua letra. Ao mesmo tempo em que o autor, em primeira pessoa, pede forças ao senhor (Lord, Help me walk another mile, just one more mile;) ele adota uma postura nitidamente melancólica e sentimental das mais conhecidas canções country e regionais do período! Mais eclética impossível. O ritmo pouco lembra os corais vocais dos cultos evangélicos, mas está presente, mesmo que de forma um tanto quanto tímida. Na realidade é outra das músicas de Elvis que não se enquadram em classificações restritas, sendo na realidade uma grande e colorida colcha de retalhos sonora.

Always On My Mind aparece em versões interessantes, bastante peculiares. Geralmente quem é fã há muito tempo de Elvis acaba ficando um pouco exausto de seus grandes sucessos e procura se dedicar mais aos seus momentos menos conhecidos e populares. Essa canção curiosamente já esteve nos dois lados da balança. Em um primeiro momento foi negligenciada a um obscuro lado B nos anos 70 e praticamente não causou qualquer impacto na carreira do cantor. Mas depois que Priscilla Presley a elegeu como tema principal do seriado "Elvis e Eu" a coisa mudou completamente de figura. De lado B a música foi catapultada para o Olimpo onde reinam seus grandes hits, seus maiores sucessos! Não é de se admirar que hoje, depois de ter sido executada exaustivamente, muitos colecionadores torçam o nariz para ela. Mas não vamos tomar esse caminho, a canção é uma das melhores melodias da carreira de Elvis, além de trazer uma letra nitidamente autobiográfica (impossível não fazer a conexão entre o pedido de desculpas implícita em seus versos e o fracasso do casamento entre Elvis e sua esposa). Aqui temos um ótimo momento para uma reavaliação equilibrada dessa linda canção. E por falar em lindas canções, melodias divinas, nada mais chama nossa atenção do que a harmonia de I'm Leavin. Se uma palavra define esse momento sem dúvida o termo correto nesse instante seria "elegância"! De uma sobriedade poucas vezes vista na carreira de Elvis Presley, I'm Leavin sempre vai figurar entre as mais divinas melodias da carreira do cantor. Um dos pontos altos do CD, sem a menor sombra de dúvidas.

Resumindo: o CD é muito válido. Além de colocar canções coadjuvantes do repertório de Elvis em primeiro plano ainda consegue manter, em praticamente todas as faixas, um belo nível técnico no aspecto de sua qualidade sonora. Também é recomendado para os admiradores dos bastidores das gravações de Elvis pois traz bons registros de seu humor durante as mesmas e o mais importante, de forma contextualizada ao repertório em si e sem exageros e arroubos inadequados. O conjunto não traz surpresas mas até que se mostra coeso em seu resultado final. Vale a pena ser adquirido e ouvido. Sua coleção vai agradecer.

Pablo Aluísio.