sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Tempo de Matar

O racismo persiste. Essa ainda é uma ferida aberta dentro da sociedade americana e ao que parece não será curada tão cedo. Um dos melhores filmes mostrando as raízes do racismo dentro até da sociedade e do sistema judicial americano é esse "Tempo de Matar", filme que foi muito falado e gerou grande repercussão em seu lançamento. A trama mostrando um homem negro em busca de justiça para sua filha que foi estuprada aos dez anos por brancos racistas do sul diz muito sobre a própria sociedade americana. Em termos históricos não fazia muito tempo que os brancos americanos tinham praticamente direito de matar qualquer negro que entrasse em seu caminho. Os brancos se consideravam superiores aos negros e esses muitas vezes não contavam com nenhuma corte em seu favor. São conhecidas as histórias de negros enforcados em árvores por organizações racistas brancas, demonstrando que não havia perdão para um afro-americano que infringisse qualquer regra de comportamento estabelecida pelos membros da casta WASP. O ambiente era de fato brutal.

Agora imaginem dentro de um contexto tão adverso como esse o trabalho de um advogado jovem, branco, tendo como cliente um negro, bem no meio de uma das regiões mais violentas e racistas da América protestante! "Tempo de Matar" mostra que dentro do sistema judiciário dos Estados Unidos nem sempre as leis funcionavam do mesmo jeito para brancos e negros. Esse é sem dúvida um filme corajoso, que inclusive sofreu boicotes em seu lançamento. O advogado Jake Tyler Brigance interpretado pelo bom ator Matthew McConaughey simboliza a luta por justiça dentro de um sistema corrompido por dentro. O filme também surge como uma grata surpresa dentro da carreira do irregular diretor Joel Schumacher. Conhecido por seus altos e baixos (alternando sempre filmes interessantes com abacaxis tremendos), aqui Joel Schumacher pelo menos não atrapalha. Ele está muito correto na condução do roteiro, que no fundo fala por si mesmo. Enfim, "Tempo de Matar", um filme importante que mostra que nem tudo é uma maravilha na terra do Tio Sam.

Tempo de Matar (A Time to Kill, Estados Unidos, 1996) Direção: Joel Schumacher / Roteiro: Akiva Goldsman, baseado na obra A Time to Kill de John Grisham / Elenco: Matthew McConaughey, Sandra Bullock, Samuel L. Jackson, Kevin Spacey, Oliver Platt / Sinopse: Jovem advogado branco defende um negro numa corte americana. Filme indicado ao Oscar na categoria melhor ator coadjuvante (Samuel L. Jackson).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Contos Proibidos do Marquês de Sade

Seu nome deu origem ao termo "Sadismo" (Prática sexual que consiste em obter prazer com a dor e o sofrimento de outra pessoa; prazer experimentado com o sofrimento alheio; crueldade extrema) Como se pode perceber o famoso (ou seria infame?) Marquês de Sade entrou para a história. Obviamente ele se tornou um personagem histórico entrando pelas portas dos fundos mas mesmo assim não é de se ignorar sua fama. O filme começa mostrando o outrora vaidoso nobre em seus últimos dias, completamente insano (provavelmente por ter contraído sífilis) e em duelo com um médico da instituição onde está internado. Assim como Casanova, o decadente marquês se notabilizou por tentar difundir na Europa uma nova forma de se praticar e obter prazer com o sexo. Geralmente misturando violência, tortura e sexo, o famigerado Sade acabou colecionando inúmeros inimigos em sua vida. Seus últimos dias foram completamente inglórios.

O maior destaque desse "Contos Proibidos do Marquês de Sade" é o ator australiano Geoffrey Rush. Ele está perfeito no papel, embora como é de se esperar de um personagem morto há tantos anos, não haja fontes seguras sobre como era ou como agia o verdadeiro Sade. Tudo o que Rush teve acesso foram os próprios escritos deixados pelo personagem. A partir deles ele então começou a construir o seu perfil. O trabalho é realmente primoroso e merece todos os elogios. Sua companheira de cena também está muito bem. Kate Winslet interpreta Madeleine 'Maddy' LeClerc e sempre que surge em cena impressiona o espectador. Como se isso fosse pouco o filme ainda apresenta um excelente elenco de apoio com nomes como Joaquin Phoenix e Michael Caine. O filme foi recebido com certas reservas mas atribuo isso ao conteúdo do material, afinal Sade não foi bem visto nem quando era vivo e nem muito menos agora, morto e retratado nessa produção. Mesmo assim esse é um filme que merece ser visto pois de fato é um ótimo retrato desse personagem realmente controverso da história.

Contos Proibidos do Marquês de Sade (Quills, Estados Unidos, 2000) Direção: Philip Kaufman / Roteiro: Doug Wright / Elenco: Geoffrey Rush, Kate Winslet, Joaquin Phoenix / Sinopse: Cinebiografia de Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade (Paris, 2 de junho de 1740 — Saint-Maurice, 2 de dezembro de 1814), nobre europeu que ganhou notoriedade por causa de sua vida escandalosa e de seus livros considerados obscenos para a época em que viveu.

Pablo Aluísio.

Obsessão

Frances McCullen (Chloë Grace Moretz) trabalha como garçonete em Nova Iorque. Certo dia encontra uma bolsa perdida no metrô. Então resolve procurar por sua dona. Acaba levando a bolsa na casa dela. Greta Hideg (Isabelle Huppert) parece ser uma pessoa bem elegante. Fica muito agradecida a Frances por encontrar sua bolsa perdida. Então as duas começam uma amizade. Greta por ser bem mais velha que Frances cria um sentimento maternal em relação a jovem. Só que há algo errado em tudo o que está acontecendo. Greta logo passa a demonstrar um comportamento fora dos padrões, obsessivo e perigoso. E vira uma stalker na vida de Frances.

É um bom filme, embora o roteiro tenha seus clichês. Entretanto se tratando de um diretor como Neil Jordan eu esperava mais, muito mais. Em minha opinião o diretor perdeu a mão na construção do suspense desse thriller. A amizade entre as duas mulheres poderia ter sido melhor desenvolvido. Esse é um caso em que o roteiro se apressou demais. Situações de suspense devem ser desenvolvidas de forma gradual, aos poucos. Não pode passar logo para as situações de violência e crimes. Tem que ir devagar para funcionar. Então, apesar de não considerar esse um filme ruim devo dizer que lhe faltou mais calma. E o mais curioso é que Neil Jordan sempre apresentou todas essas nuances em seus filmes anteriores. Aqui surgiu com uma direção ansiosa e apressada demais.

Obsessão (Greta, Estados Unidos, 2018) Direção: Neil Jordan / Roteiro: Ray Wright / Elenco: Isabelle Huppert, Chloë Grace Moretz, Maika Monroe, Stephen Rea / Sinopse: Depois de entregar uma bolsa perdida para uma mulher mais velha e solitária, uma jovem garçonete de Nova Iorque passa a ser alvo de um jogo perigoso e insano.  

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Marcas da Violência

Eu sempre considerei o diretor David Cronenberg um ótimo cineasta. Ele sempre se saiu muito bem em filmes como "A Mosca", uma ficção de terror. mas ao mesmo tempo mostrou ter ótimo talento para filmes mais violentos, filmes de pura ação. Veja o caso desse "Marcas da Violência". O filme conta uma história interessante. Tom Stall (Viggo Mortensen) parece ser um homem comum. Ele trabalha na pequena lanchonete de uma cidadezinha. Um cara simples que não chama a atenção. Uma noite chega na lanchonete um grupo de criminosos. E eles partem para a violência contra Tom. Esse reage imediatamente e para surpresa de todo mundo manda aqueles bandidos para o inferno. Mas como isso seria possível? Ele demonstrou uma habilidade fora do comum em sua reação. Será que ele é apenas esse pacato que todos pensavam ou ele tem um passado escondendo algo a mais?

Ed Harris interpreta um cara misterioso. Cego de um olho, vestindo um terno preto, ele parece saber bem mais sobre Tom. Será que o nome dele não seria Joey? Pois é, um filme muito bom, extremamente violento, mas ao mesmo tempo com um roteiro muito bem estruturado. E o elenco é excelente também. Além de Harris como o bandido que vem acertar contas, o filme ainda apresenta William Hurt em papel secundário, mas não menos importante. Enfim, filmão, recomendado para quem gosta de filmes de ação com bons roteiros.

Marcas da Violência (A History of Violence, Estados Unidos, 2005) Direção: David Cronenberg / Roteiro: Josh Olson / Elenco: Viggo Mortensen, Ed Harris, William Hurt, Maria Bello / Sinopse: Um homem de boas maneiras torna-se um herói local por meio de um ato de violência, que gera repercussões que abala sua família e o meio social onde vive.

Pablo Aluísio.

Presente de Grego

Essa expressão "Presente de Grego" é bem criativa. Como se sabe os gregos deram um belo cavalo de madeira para os troianos. Eles ficaram felizes pelo presente, coisa boa! Só que dentro do cavalo havia um exército para exterminar todos eles. Então deu para entender o que significa um presente de grego, não é mesmo? Uma grande cilada na verdade. Não, esse filme aqui obviamente não é sobre a guerra de Troia. O que temos é na realidade uma boa comédia, com toques de suave drama, envolvendo a talentosa atriz Diane Keaton. Ela interpreta uma executiva de Nova Iorque que sempre priorizou a carreira profissional ao invés de afundar em um casamento qualquer. Ela sempre teve uma visão bem racional do que queria e aí... de repente... o que acontece? Ela se vê com obrigações de cuidar de um bebezinho de colo! Uma completa saia justa e uma situação que ela definitivamente não estava esperando. Mais do que isso, algo que ela sempre evitou, um futuro que não queria de jeito nenhum.

Aliás uma das coisas que mais atrapalharam a vida profissional da Diane Keaton foi aquele longo e conturbado relacionamento com Woody Allen. A partir do momento que ela se viu livre disso sua carreira começou a despontar, com ótimas películas. Coincidência? Penso que não! O diretor neurótico muitas vezes sabotava a carreira dela. Ela queria fazer um filme, ele dizia que não, que era melhor não aceitar, etc... Parecia sabotá-la no cinema. Com Allen fora de quadro ela finalmente começou a brilhar sozinha. Brilho próprio aliás nunca lhe faltou.

Presente de Grego (Baby Boom, Estados Unidos, 1987) Direção: Charles Shyer / Roteiro: Nancy Meyers, Charles Shyer / Elenco: Diane Keaton, Sam Shepard, Harold Ramis / Sinopse: J.C. Wiatt (Diane Keaton) é uma executiva bem sucedida de Nova Iorque que de repente descobre que uma parente distante lhe deixou um baby para ela cuidar! E agora, como ela vai conciliar seu trabalho com o trabalho de cuidar de uma criança?

Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Antes Só do que Mal Acompanhado

Comédia adorável dos anos 80 que até hoje surpreende pelo calor humano envolvido em seu roteiro. O interessante é que quando o filme começa você fica pensando que vai assistir apenas a mais uma comédia como tantas outras estreladas pelo Steve Martin, aqui tendo como coadjuvante o talentoso John Candy. Mas não, essa é apenas a camada externa envolvida. No fundo se trata de um filme sobre um homem solitário que apenas quer um lugar, digamos, mais caloroso (do ponto de vista emocional) para passar o dia de ação de graças. Aliás, os anos 80 foram excelentes também em relação a filmes desse estilo. Foi uma década rica em filmes sobre adolescentes, juventude e também sobre feriados em geral, reuniões familiares, etc...

Outro aspecto digno de nota vem da boa interpretação do comediante John Candy. Eu me lembro que tive um baita susto quando soube de sua morte, ainda bem jovem (aos 43 anos de idade) em 1994. Partiu tão cedo dessa vida e nem teve a oportunidade devida para explorar todo o seu talento não apenas como comediante, mas também como ator em filmes mais sérios, como dramas. Algo a se lamentar realmente. Ao lado de Steve Martin nessa produção ele conseguiu uma bela química, uma dupla que deu muito certo em cena. E o que falar de John Hughes? Esse foi um dos cineastas mais legais que já passaram por Hollywood. Outro que deixou saudades e também partiu cedo demais.

Antes Só do que Mal Acompanhado (Planes, Trains & Automobiles, Estados Unidos, 1987) Direção: John Hughes / Roteiro: John Hughes / Elenco: Steve Martin, John Candy, Laila Robins / Sinopse: Neal Page (Steve Martin) tenta chegar de todas as formas em sua casa para os feriados, mas nada parece dar certo. Seu voo é cancelado, ele não consegue viajar de trem e tenta até mesmo alugar um carro para chegar a tempo. E acaba conhecendo um vendedor de cortinas para banheiro, um sujeito simpático que vai lhe fazer companhia nessa viagem desastrada.

Pablo Aluísio.

Morte ao Rei

Durante mais de mil anos a monarquia sobrevive na Inglaterra. Historicamente porém houve um breve período em que a nação se tornou uma república. Foi quando o revolucionário Oliver Cromwell venceu as tropas do rei, tomando o poder. Ao lado de um general chamado Thomas Fairfax, ele tencionava encerrar definitivamente a monarquia naquele país. Quando o filme começa o Rei já está derrotado. E a partir daí começam as divergências. Cromwell queria decapitar o monarca. Fairfax, que vinha de uma família da antiga nobreza, resistia a essa ideia. Para ele o Rei deveria ser devidamente julgado, mas não condenado à morte, tudo em nome da tradição.

O filme é muito bem produzido, com boa reconstituição de época. Não há grandes batalhas e nem a guerra entre os revolucionários e a monarquia é mostrada. A dramaticidade nasce mesmo do choque de ideias entre o líder da revolução e seu principal general. Eles tinham visões opostas sobre o que iria determinar o futuro da Inglaterra. Historicamente falando o povo inglês não gostava muito de Cromwell, principalmente depois que ele tomou o poder e se revelou um tirano, matando pessoas sem o devido julgamento legal. Isso talvez explique porque logo após sua morte a monarquia inglesa foi restaurada, estando no trono até os dias de hoje. Aquele que depõe uma monarquia acusando-a de tirana e logo após se torna ele próprio um tirano não merecia mesmo ter o apoio do povo.

Morte ao Rei (To Kill a King, Inglaterra, Alemanha, 2003) Direção: Mike Barker / Roteiro: Jenny Mayhew / Elenco: Tim Roth, Dougray Scott, Rupert Everett, Olivia Williams, / Sinopse: Após derrotar as tropas leais ao Rei Charles I, o revolucionário Oliver Cromwell quer ir além, ele quer a decapitação do monarca, mas encontra resistência vinda de seus próprios aliados na revolução.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

O Segredo do Meu Sucesso

Título no Brasil: O Segredo do Meu Sucesso
Título Original: The Secret of My Success
Ano de Produção: 1987
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Herbert Ross
Roteiro: Jim Cash, Jack Epps Jr.
Elenco: Michael J. Fox, Helen Slater, Richard Jordan, Margaret Whitton, John Pankow, Christopher Murney

Sinopse:
Brantley Foster (Michael J. Fox) é um jovem ambicioso que tenta subir na carreira, no mundo corporativo de Nova Iorque. Para isso ele planeja uma arriscada jogada, que pode inclusive também beneficiar sua vida amorosa.

Comentários:
O grande sucesso comercial no cinema para o ator Michael J. Fox veio através da trilogia "De Volta Para o Futuro". Depois disso ele nunca mais alcançou o mesmo Êxito comercial na venda de ingressos para as salas de cinema. Esse filme aqui foi lançado ainda pegando carona no sucesso de Robert Zemeckis e até que fez uma boa bilheteria, faturando algo em torno de 160 milhões de dólares. Nada mal para Michael J. Fox que era apenas um jovem na época. Ele fazia sucesso também na TV, na série "Caras e Caretas" que inclusive foi exibida na Rede Globo, no fim da tarde em uma programação chamada "Sessão Comédia". Com isso Fox estava mesmo na crista da onda. "O Segredo do Meu Sucesso" é um bom filme, um de seus bons momentos nos anos 80. Tem um roteiro interessante que mantém o interesse. E foi assinado por Herbert Ross que vinha de um grande sucesso, o musical "Footloose - Ritmo Quente" com Kevin Bacon. Enfim, todos os elementos pareciam estar no lugar certo, um filme ideal para os jovens dos anos 80.  Hoje em dia funciona bem como uma mera sessão nostálgica para quem viveu aquela década.

Pablo Aluísio.