segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A Torre de Londres

Título no Brasil: A Torre de Londres
Título Original: Tower of London
Ano de Produção: 1962
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Roger Corman
Roteiro: Leo Gordon
Elenco: Vincent Price, Michael Pate, Joan Freeman
  
Sinopse:
Com o rei Edward IV (Justice Watson) em seu leito de morte, seus dois irmãos são chamados às pressas para o castelo real. Edward quer uma transição pacífica no trono e para isso resolve deixar a sua coroa para seu irmão mais jovem, Clarence (Charles Macaulay), pois ele é considerado um homem sábio que poderá levar em frente a Inglaterra rumo ao seu destino. A escolha deixa estarrecido seu outro irmão, o invejoso e vil Richard de Gloucester (Vincent Price), que quase que imediatamente decide apunhalar Clarence pelas costas para ser coroado o futuro rei. Ao assumir a coroa como Richard III, ele começa a dar sinais de insanidade, vendo velhos fantasmas de pessoas assassinadas por ele, inclusive de seu irmão Clarence. 

Comentários:
Em 1939 o ator Vincent Price atuou na primeira versão de "A Torre de Londres". Ele ainda estava no começo da carreira (esse foi seu quarto filme) e ele interpretava o jovem Duque de Clarence. Nessa primeira versão o insano Richard era interpretado por Basil Rathbone. Outro grande ídolo do terror também estava no elenco, Boris Karloff. Os anos se passaram e Price virou um ídolo do gênero. Nesse remake de 1962 ele foi escalado pelo diretor Roger Corman para atuar como o insano Richard III. A nova versão é bem curiosa, embora você tenha que ter em mente que não encontrará nada aqui remotamente parecido com as outras versões da obra de William Shakespeare que foram realizadas ao longo de todos esses anos. Corman não está interessado em ser fiel ao histórico dramaturgo e nem sua famosa peça. Ao contrário disso tenta aproveitar todos os elementos fantasmagóricos dessa estória para criar um filme bem aterrorizante. A sua opção por filmar em preto e branco foi muito acertada. Filmes de época, com baixo orçamento, sempre acabavam ficando melhor na fotografia preto e branco. Se Corman tivesse escolhido o sistema de cores tudo soaria mais falso. Price adorou sua caracterização do insano Rei Richard III, um homem não apenas fisicamente defeituoso, mas moralmente também. Mentiroso, cruel e assassino ele não mede qualquer esforço para se coroar rei da Inglaterra. Para isso vale tudo, até mesmo matar seu próprio irmão Clarence. Extremamente falso em suas atitudes o rei não encontra qualquer limite ou barreira ética para impor sua vontade, satisfazendo sua ganância pessoal por poder e riquezas. Assim gostei bastante desse remake de "Tower of London". Não é tão criativo e original como o primeiro filme, mas tem seus méritos cinematográficos. Vale a pena assistir.

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Os Bad Boys

Michael Bay nunca pensou em realizar filmes com muito conteúdo. Na verdade de todos os cineastas em atividade hoje em dia ele é o mais sincero em dizer que realiza filmes para pura diversão, chicletes de consumo rápido e fácil. Por isso não adianta procurar pelo em casca de ovo, você jamais encontrará um grande roteiro em obras assinadas por Bay. Nem atuações Shakesperianas, nem dramas profundos, nem... nada! Os filmes de Bay são assim mesmo, produções vazias para o grande público - em especial jovens - que não possuem muita coisa na cabeça. Por essa razão também os filmes de Bay via de regra são extremamente bem sucedidos nas bilheterias. Agora verdade seja dita, para quem dirigiu grandes pastéis de vento ao longo de toda a carreira esse "Os Bad Boys" é pelo menos bem divertido.

Claro que grande parte do charme e da qualidade da fita vem dos atores protagonistas. Will Smith é aquele negócio. Ele veio da TV onde interpretava um jovem negro que ia morar com os tios ricaços de Beverly Hills na série popular "Um Maluco do Pedaço". Como fez muito sucesso logo tentou a carreira no cinema (e novamente de deu bem). Smith nesse papel não foge muito do lugar comum, do tipo habitual que vinha apresentando em seus trabalhos anteriores. Na verdade em muitos aspectos ele funciona apenas como escada para Lawrence, esse o verdadeiro comediante da fita. Some-se a isso (em um roteiro tendente para o lado do humor mais acentuado) um monte de carros voando, inúmeras explosões gratuitas (marca registrada do diretor) e você vai entender direitinho a fórmula de Michael Bay para fazer sucesso. Seus filmes são como aquele fast food da esquina: não alimentam, não trazem nada de substancial, mas pelo menos servem para divertir a garotada. Só não vá engordar muito os meninos só consumindo esse tipo de porcaria.

Os Bad Boys (EUA, 1995) Direção: Michael Bay / Roteiro: Michael Barrie, George Gallo / Elenco: Will Smith, Martin Lawrence, Lisa Boyle / Sinopse: Dois tiras, colegas de trabalho, são designados para proteger uma testemunha importante em um perigoso caso envolvendo traficantes de heroína. Logo percebem que a missão não será nada fácil e nem tampouco tranquila.

Pablo Aluísio.

Arnold Schwarzenegger

Recentemente assisti a uma palestra do ator Arnold Schwarzenegger e achei tudo muito interessante. Bom, quem foi jovem na década de 80 sabe muito bem o impacto que o sobrenome Schwarzenegger causava nas bilheterias. Certamente seu nome era praticamente impronunciável, porém era ao mesmo tempo um chamariz de público como pouco se via naqueles tempos. Talvez apenas Steven Spielberg (o Midas de Hollywood em seu auge criativo e comercial) e Stallone rivalizavam com ele em termos de popularidade.

Pois bem, nessa palestra o ator austríaco relembra que seu sobrenome fora dos padrões, o fato de ser um Mister Universe e o seu péssimo sotaque foram logo apontados como fatores que o fariam fracassar em Hollywood. Todos diziam que ele jamais seria um astro do cinema americano, que era esquisito demais, sem paralelo com qualquer outra história de sucesso na capital do entretenimento mundial. O segredo de seu sucesso, segundo o próprio Arnold, foi ignorar todos eles. Não dar ouvidos a quem o puxava para baixo, quem profetizava seu insucesso. Ao invés disso Schwarzenegger continuou batalhando, brigando por oportunidades e por bons papéis em filmes de sucesso.

Olhando para trás o que definiu Schwarzenegger como grande campeão de bilheteria foi o filme "Conan, O Bárbaro" de 1982. O personagem dos quadrinhos já era conhecido e todos queriam ter a oportunidade de ver nas telas uma super produção com suas aventuras. Para aquele papel o halterofilista se mostrava ideal. Quem o escolheu a dedo foi o famoso produtor Dino de Laurentiis, um sujeito que sabia encontrar o caminho do sucesso cinematográfico. Dirigido por John Milius, o mesmo cineasta de obras como "O Vento e o Leão" e "Amargo Reencontro" o filme mostrava a simbiose perfeita entre a aventura mitológica e o drama trágico do personagem criado por Robert E. Howard. Até hoje a fita é considerada a melhor transposição de Conan para as telas.

Depois veio o estouro de "O Exterminador do Futuro" de James Cameron. Era uma ficção B que tinha um grande fator a seu favor: um roteiro com uma trama muito bem bolada e até mesmo inteligente. "Terminator" selou o destino de Arnold Schwarzenegger para sempre. Como Stallone despontava também como ator de sucesso em filmes de ação ao estilo Rambo, a indústria correu para explorar o novo filão, nascendo daí o cinema brucutu cheio de violência e ação dos anos 80. Nada foi tão marcante naquela época como esse estilo de fazer fitas com muita adrenalina e um toque de absurdo que hoje em dia soa até mesmo charmoso aos que viveram aqueles tempos. Provavelmente se Arnold tivesse ouvido todos aqueles que diziam que ele não conseguiria ele não teria feito parte desse momento. Teria voltado para a Áustria para se concentrar ao mundo do fisiculturismo. Fica então sua lição de vida para todos nós.

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Karate Kid 3 - O Desafio Final

Título no Brasil: Karate Kid 3 - O Desafio Final
Título Original: The Karate Kid, Part III
Ano de Produção: 1989
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: John G. Avildsen
Roteiro: Robert Mark Kamen
Elenco: Ralph Macchio, Pat Morita, Robyn Lively
  
Sinopse:
Ignorando os conselhos de seu instrutor, professor e mestre Sr. Miyagi (Pat Morita) o agora já adulto Daniel LaRusso (Ralph Macchio) decide treinar de forma exaustiva para vencer um campeonato de Karatê de sua cidade. O romance com a linda japonesa que havia conhecido no filme anterior chega ao final e Daniel assim resolve se empenhar para a vitória. Só que ele terá que passar por velhos rivais do passado que não querem deixar passar barato a derrota que sofreram no campeonato anterior. Filme dirigido por John G. Avildsen, o mesmo cineasta que dirigiu os dois primeiros filmes da série.

Comentários:
Ralph Macchio já estava com 27 anos de idade quando realizou essa terceira parte da franquia "Karate Kid". Obviamente já estava ficando velho demais para o papel de Daniel LaRusso. A série na verdade deveria ter se encerrado no segundo filme que ainda era bom, embora mostrasse já um certo sinal de repetição. Aqui os roteiristas resolveram tornar o personagem principal um pouco mais cínico e adulto. A grande diferença também vem pelo fato de Daniel começar a ignorar os conselhos de seu mestre, o Sr. Miyagi (Pat Morita). Segundo o guru as artes marciais deveriam ser usadas como uma filosofia de vida e não apenas como trampolim para vencer competições de luta. Daniel esquece tudo o que aprendeu e parte justamente para conquistar o tal almejado prêmio. O instrutor que havia sido derrotado por Daniel no filme anterior está arruinado financeiramente por causa da desmoralização que sofreu e agora conta com um amigo dos tempos da Guerra do Vietnã - uma amizade que sugere até mesmo toques de homossexualismo, mas tudo de forma bem escondida e amena. Enfim, um filme apenas mediano, repetindo velhos clichês da própria franquia. Rendeu bem menos do que o esperado e por isso a série em pouco tempo seria cancelada pelo estúdio. Também passou pela vergonha de ter sido "agraciado" com várias indicações ao Framboesa de Ouro (que coloca em destaque os piores filmes do ano). Hoje só funciona como diversão nostálgica dos anos 80 e nada mais.

Pablo Aluísio.

Religulous

Título Original: Religulous
Título no Brasil: Sem Título Definido
Ano de Produção: 2008
País: Estados Unidos
Estúdio: Lions Gate Entertainment
Direção: Larry Charles
Roteiro: Larry Charles
Elenco: Bill Maher, Tal Bachman, Jonathan Boulden
  
Sinopse:
Documentário onde o comediante e ator Bill Maher, um ateu convicto, procura demonstrar o lado ridículo das religiões. Ao lado de uma pequena equipe de filmagem ele visita templos e igrejas, mostrando o lado histérico e monetarista dos evangélicos, a estranha história que deu origem à Igreja dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons), as loucuras da Cientologia e as contradições existentes entre a doutrina e a prática do Catolicismo Romano, tudo baseando-se em entrevistas de membros e ex-membros de todas essas vertentes religiosas. Documentário premiado pela Sitges - Catalonian International Film Festival na categoria de Melhor Filme de Não Ficção.

Comentários:
Se você estiver interessado em entender como funciona o modo de pensar de um ateu, uma boa dica é esse documentário americano dirigido pelo humorista de stand up Bill Maher. Católico de formação, ele resolveu deixar de acreditar em Deus após entender que tudo não passaria de uma invenção da mente humana. Para provar seu ponto de vista Bill e sua equipe resolveram percorrer os bastidores das mais populares religiões dos Estados Unidos. A proposta de Maher não é colocar um ponto final nesse polêmico assunto, mas sim mostrar o lado mais ridículo das igrejas americanas. Assim ele procura entrevistar líderes religiosos, seguidores e críticos das chamadas religiões institucionalizadas. Não deixa de ser interessante. Ao lado de um bem sucedido pastor ele se surpreende ao perceber que o tal sujeito defende a riqueza material como símbolo de bênção divina. Chega ao ponto de defender um Jesus histórico rico, cheio de posses e se vestindo com as melhores roupas de sua época. Depois conversa com ex-membros da Igreja Mórmon e expõe a estranha doutrina da religião que afirma que um americano chamado Joseph Smith teria sido visitado pelo próprio Jesus que o teria revelado ter estado na América antes da chegada do colonizador europeu, para pregar para judeus que viviam nas terras do novo continente. 

Depois fica pasmo ao saber que os Mórmons batizam pessoas mortas (como Hitler e Stálin) e que acreditam que Deus seria uma pessoa de 1,89 de altura vivendo em uma galáxia distante. Os cientologistas também não escapam da acidez de Maher, principalmente pelo fato de acreditarem que todos os seres humanos carregam ETs em seus próprios corpos e que são fruto de um Império Intergaláctico que já dura 80 trilhões de anos! O mais curioso é que o ex católico Bill Maher em seu documentário acabou encontrando as pessoas mais sensatas justamente em sua antiga religião. Ele bate um excelente papo com o astrônomo do Vaticano que tenta lhe explicar que religião e ciência podem sim andar juntas. Depois encontra um bem humorado padre na praça de São Pedro (um dos momentos mais divertidos do documentário). Em suma, embora teologicamente bem vazio (já que seu realizador não tem muito conhecimento dos assuntos que trata em seu filme), o documentário não deixa de ser divertido. Só não deixe de perceber que o texto é bem maniqueísta e em certos casos mal intencionado, sempre tentando retratar as pessoas religiosas como incultas ou estúpidas (a entrevista com o senador americano é bem óbvia nesse aspecto). Mesmo assim, tirando esses deslizes, até que não deixa de ser um programa interessante.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Globo de Ouro 2016

Ontem aconteceu a festa de premiação do Globo de Ouro. Muitos gostam de dizer que o Golden Globe é a verdadeira prévia do Oscar ou seu termômetro. Eu prefiro encarar de outro modo, como uma premiação própria, singular, com identidade bem particular. Nesse ano o destaque (pelo menos para nós, brasileiros) foi para a indicação de Wagner Moura por "Narcos". E como sempre acontece houve muita torcida para que ele vencesse, o que só não aconteceu porque no meio do caminho havia Jon Hamm e a maravilhosa série "Mad Men". Quem acompanha o blog sabe que gosto muito dessa série, para mim uma das marcantes dos últimos tempos, então na minha forma de ver não houve nenhuma injustiça. Como a série chegou ao final recentemente era mesmo de se esperar que os membros que votaram resolvessem premiar o conjunto da obra. Foi merecido. "Narcos" e a atuação de Wagner Moura realmente não conseguem chegar perto da qualidade de "Mad Men" que acompanho há anos sem me decepcionar. Cabe a Wagner Moura agora agradecer pela indicação e partir para frente, sem reclamar.

Outro fato que chamou muito a atenção na premiação - a ponto de virar piada na internet - foi a reação do ator Leonardo DiCaprio quando Lady Gaga (por "American horror story: Hotel") foi anunciada como vencedora na categoria de Melhor atriz em minissérie ou filme para a TV. Leo parecia se divertir muito e acabou levando um "chega pra lá" nada sutil da cantora. Nem se fosse proposital, escrita por roteiristas da cerimônia, seria tão divertida a cena. Foi o momento mais comentado da noite. Por falar em DiCaprio ele também levou seu prêmio pelo elogiado "O Regresso", um dos melhores filmes de sua carreira que em breve irei comentar por aqui. Essa produção também levou o prêmio mais importante da noite, o da categoria Melhor Filme Drama. E como se isso não fosse o bastante ainda levantou o prêmio de Melhor Direção. Nada mal. Com isso se torna o favorito ao Oscar. Os outros atores premiados da noite foram Sylvester Stallone (por "Creed", quem diria) e Matt Damon (por "Perdido em Marte", um prêmio um pouco exagerado). No campo da animação "Divertida Mente" foi premiada. Muitos apostavam no filme do Snoopy.

Entre as atrizes foram premiadas Jennifer Lawrence (por "Joy", um filme apenas mediano), Brie Larson (por "O quarto de Jack", desbancando a favorita Cate Blanchett por "Carol") e Taraji P. Henson (pela série "Empire"). Na categoria comédia musical a simpática Rachel Bloom foi premiada por sua atuação em "Crazy ex-girlfriend". Kate Winslet também não foi esquecida e acabou sendo premiada pelo fraco "Steve Jobs". Um prêmio de consolação por um filme que foi muito esperado, mas que passou longe de cumprir as expectativas criadas. Já para os nostálgicos o grande momento da noite veio com o reconhecimento e o prêmio de Ennio Morricone pela trilha sonora do faroeste"Os 8 odiados". Merecido? Mais do que isso. Já o prêmio de Melhor Canção achei bem fraco ( a chatinha "Writing on the wall" de "007 contra Spectre" se tornou vencedora). Por fim, as séries. A estranha "Mr. Robot" caiu nas graças dos membros do Globo de Ouro e levou dois prêmios importantes: Melhor Ator Coadjuvante para Christian Slater e Melhor Série Drama, vencendo fortes concorrentes como "Game of Thrones" e "Narcos". Por essa pouca gente realmente esperava. Bom, se você estava precisando de um empurrão para conhecer a nova série eis ai sua deixa. Outra surpresa e tanto foi a premiação de "Mozart in the jungle", passando por cima da grande favorita "Orange is the New Black" (que tem um imenso fã clube no Brasil) na categoria de Melhor série de comédia ou musical. Pois é, para que tudo não ficasse muito chato não faltaram zebras nessa noite. Foi a cereja do bolo de uma noite divertida e agradável.

Mad Men - Jon Hamm foi novamente premiado no Globo de Ouro por sua atuação na consagrada série "Mad Men". Obviamente que houve quem não gostasse, principalmente para os brasileiros que torceram por Wagner Moura em Narcos. Bobagem. O prêmio de Hamm foi mais do que merecido. Grande parte do sucesso de "Mad Men" aliás se deve a ele, pois suas atuações são realmente na medida certa. Analise Don Draper. Ele passa longe de ser um personagem fácil de interpretar. Na superfície ele passa a imagem de um profissional bem sucedido, quase um gênio da publicidade. Por baixo de toda essa estampa se encontra um homem com muitos problemas emocionais e um passado conturbado. Draper nem é mesmo quem diz ser. Na verdade ele teve uma infância miserável, toda passada em um bordel imundo. Como se isso não fosse o bastante sua própria mãe era uma prostituta. Quem não levaria vários traumas de uma infância dessas?

O tempo passou e Draper deu a volta por cima, ainda mais depois que resolveu assumir a identidade de um colega morto em combate. Renovado, com outro nome, deixando tudo para trás ele acabou na verdade se reinventando. E é justamente dessa dualidade que vem o grande mérito do trabalho de Jon Hamm. Ele se saiu igualmente bem dando vida ao macho alfa bem sucedido que levava todas as mulheres para a cama, como também ao introspectivo, traumatizado e conturbado homem que tinha uma bagagem emocional muito pesada para levar nas costas. Com tudo isso toda crítica feita a Hamm se mostra vazia e sem sentido. Além do mais vamos convir que Wagner Moura não estava realmente bem como Pablo Escobar, principalmente por ostentar um péssimo sotaque, nada convincente. Juntando as falhas do ator brasileiro com o fato da série "Mad Men" ter encerrado suas temporadas (o que justificou um prêmio ao estilo "pelo conjunto da obra") você facilmente entenderá porque nenhum outro ator merecia levar o Globo de Ouro de 2016. Não apenas está de bom tamanho, como também, está mais do que justa sua premiação.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Pegando Fogo

Bom, se você considera cozinhar bem uma verdadeira arte, então vou deixar a dica desse interessante filme chamado "Pegando Fogo" (Lamentavelmente mais um título nacional completamente sem noção). O enredo gira em torno de Adam Jones (Bradley Cooper). No passado ele foi um consagrado chef de cuisine em Paris. Seus pratos eram respeitados e ele era admirado como profissional inovador e criativo. Em seu auge chegou a ser qualificado como um dos melhores da cidade, o que definitivamente não era pouca coisa, uma vez que Paris sempre foi o centro da gastronomia mundial. Infelizmente os anos de glória ficaram para trás após ele mesmo colocar tudo a perder por causa de mulheres, drogas e bebidas. Depois da queda resolveu então voltar para os Estados Unidos. Trabalhando em um boteco de quinta categoria em New Orleans ele decide se redimir de uma vez por todas, novamente jogando tudo para o alto, com a intenção de voltar para a Europa, para recuperar seu prestígio e fama do passado nos melhores restaurantes do continente. Ao invés de retornar a Paris, Jones resolve então ir dessa vez para Londres, onde um antigo colega de profissão agora trabalha como maitre. Será que haverá uma segunda oportunidade para ele no concorrido mercado de finas iguarias da capital inglesa?

Quando esse filme começou me recordei imediatamente de um filme mais antigo com Catherine Zeta-Jones e Aaron Eckhart chamado "Sem Reservas" (No Reservations, EUA, 2007). A temática é bem parecida e mostra o lado mais concorrido desse mundo da alta culinária mundial. Para trazer mais apelo dramático a esse roteiro os escritores criaram uma personalidade muito atormentada para o personagem central interpretado por Bradley Cooper. Ele aliás está muito bem no papel desse temperamental chefe que vira e mexe protagoniza acessos de fúria e raiva em sua cozinha. Basta um pequeno erro no sabor, um excesso de algum condimento para que tudo voe pelos ares. Como se isso não fosse o bastante há ainda explosões de raiva contra seus subordinados o que transforma seu ambiente de trabalho em um verdadeiro caos de tensão incontida. Ele deseja a cobiçada terceira estrela da famosa publicação Michelin, um guia com os melhores restaurantes e chefes de cozinha de todo o mundo e está decidido a ganhar sua redenção na profissão. Ser um profissional três estrelas no guia iria lhe transformar em um dos cozinheiros mais respeitados de todo o planeta. Para isso Jones realmente não está disposto a ser nada menos do que perfeito em suas criações, o que não será nada fácil uma vez que ele tem uma vida conturbada, com um passado complicado de apagar. No saldo final o filme me agradou, não apenas pela boa dramaticidade como também pelas cenas de preparo dos pratos finos. Cada refeição é tratada praticamente como uma obra de arte. Para um gourmet não poderia haver nada melhor do que isso. Não deixe de conferir e Bon Appétit!

Pegando Fogo (Burnt, EUA, 2015) Direção: John Wells / Roteiro: Steven Knight, Michael Kalesniko / Elenco: Bradley Cooper, Emma Thompson, Uma Thurman, Sienna Miller, Matthew Rhys, Daniel Brühl / Sinopse: Após arruinar sua carreira em Paris, um cozinheiro americano chamado Adam Jones (Bradley Cooper) resolve voltar para a Europa, mais especificamente Londres, para um retorno triunfal ao mercado mais concorrido da alta culinária em todo o mundo. Ele deseja ser reconhecido por seu talento, ganhando a tão cobiçada terceira estrela do Guia Michelin de restaurantes. O caminho até a consagração porém não será nada fácil.

Pablo Aluísio. 

Os Oito Odiados

Aqui vão algumas impressões iniciais sobre o novo filme do diretor Quentin Tarantino "The Hateful Eight" que no Brasil recebeu o título de "Os Oito Odiados". Posteriormente irei escrever uma resenha mais na linha tradicional, sendo que nesse texto irei apenas comentar algumas conclusões tiradas no calor do momento (faz pouco mais de uma hora que terminei de assistir ao filme). Algumas coisas os espectadores precisam saber logo de cara. A primeira delas é que Tarantino realizou um filme extremamente longo, fora dos padrões atuais. São quase três horas de projeção, o que provavelmente vai prejudicar o filme em termos comerciais. Afinal de contas que jovem hoje em dia tem paciência para encarar uma sessão tão demorada? Ainda mais com a overdose tecnológica que o fazem conferir o celular a cada minuto? Bom, azar deles. Ainda bem que Tarantino não resolveu fazer concessões comerciais, preferindo realizar o seu filme ao seu modo, mesmo contra a opinião dos produtores (dizem que foi aconselhado até mesmo a lançar o filme em duas partes, o que seria um disparate desproporcional).

A segunda informação importante é que Tarantino resolveu fazer um faroeste à moda antiga. Não é segredo para ninguém que os dias de glória do western há muito se foram. Os fãs do gênero (no qual também me incluo) precisam muitas vezes rever antigos clássicos ou então encarar filmes atuais sem grande produção, com lançamento restrito, ou em outras palavras: filmes B lançados diretamente no mercado de venda direta ao consumidor. É triste, mas é a realidade. Pois é, o velho e bravo faroeste anda tão fora de moda que muitas vezes sequer consegue espaço no circuito comercial dos cinemas. Mais uma vez Tarantino jogou essa questão para o alto e resolveu fazer uma obra honesta, quase uma homenagem aos antigos filmes que assistia quando era apenas um atendente de videolocadora. Há claramente um estilo que nos remete ao Western Spaghetti, porém em menor escala do que vimos no filme anterior, "Django Livre", esse sim um filme assumidamente paródia ao cinema italiano.

Outro aspecto que merece louvores é que Tarantino continuou fiel ao seu próprio estilo, privilegiando muitas vezes o diálogo ao invés da pura ação. Tudo bem que não existe nenhum texto tão brilhante como os que ele escreveu para obras primas do passado, como por exemplo "Pulp Fiction", mas isso não significa que não sejam muito bons, longe, bem longe, da mediocridade que costumeiramente se anda vendo nos filmes atuais. Isso ficou extremamente realçado no primeiro ato do filme quando os personagens estão em uma diligência no meio da nevasca. Dois caçadores de recompensas (Kurt Russell e Samuel L. Jackson) e uma mulher acusada de assassinato. Aqui eu vou abrir um pequeno parêntese para mais uma vez elogiar o fato de que Tarantino novamente desprezou os conselhos dos produtores. Jogando o politicamente correto para o alto o diretor apostou uma linguagem bem ofensiva em relação aos negros (com farto uso da palavra "Nigger" considerada um insulto nos Estados Unidos) e na violência contra a mulher (o que a personagem interpretada por Jennifer Jason Leigh apanha não está no gibi, com socos que lhes quebram todos os dentes frontais, cotoveladas e chutes em todo o corpo!). A reação veio de determinados protestos de grupos feministas e de combate ao racismo contra Tarantino e seu roteiro. O diretor deu de ombros afirmando que as pessoas daquela época agiam assim - e ele está completamente com a razão! Ao invés de ser polido e politicamente correto, Tarantino optou pela veracidade histórica. Ponto para ele!

Lendo o texto você pode pensar que o filme acabou ficando chato e apelativo, afinal é longo, cheio de diálogos ofensivos e com a maior parte da trama se passando dentro de uma estalagem, um tipo de estabelecimento muito comum no velho oeste onde as diligências em viagem reabasteciam. É um equívoco. O filme tem muita violência - é extremamente violento para ser sincero, um verdadeiro banho de sangue - e não apresenta nada de muito brilhante em seu enredo. A história é extremamente simples, tudo em três atos básicos. A viagem de diligência, a chegada na estalagem e um pequeno flashback para mostrar tudo o que teria acontecido antes dos personagens chegarem naquele local. Isso tudo porém quer dizer pouca coisa. Em sua simplicidade Tarantino acabou realizando um filme muito interessante.

Todos do elenco estão excelentes, porém destaco algumas coisas que me chamaram muito a atenção. Tarantino é seguramente um fã de séries pois ele escalou vários atores de seriados americanos. Walton Goggins, por exemplo, é um profissional brilhante. Quem acompanhou "Justified" sabe muito bem disso. Ele roubou a série para si, embora interpretasse um personagem secundário. Demián Bichir, o mexicano, veio do excelente "The Bridge" onde interpreta um detetive do outro lado da fronteira que precisa lidar com policiais americanos de El Paso. Isso demonstra que Tarantino realmente está por dentro do universo televisivo dos principais canais americanos. Agora em termos de elenco quem mais me agradou foi realmente Kurt Russell. Outro dia comentando seu último filme (também um western) escrevi que ele deveria realizar mais filmes do gênero. Então foi duplamente gratificante vê-lo aqui interpretando esse caçador de recompensas durão e nada simpático. 

Assim "The Hateful Eight" é um filme que no final das contas não decepcionará nenhum admirador da obra de Tarantino. O estilo do cineasta está em cada cena, em cada diálogo e em cada detalhe. Ele obviamente não está tão brilhante como em suas principais obras primas de um passado hoje já distante, isso porém em nada atrapalha o resultado final do filme que me deixou extremamente satisfeito. Algumas coisas ele poderia ter mudado um pouco, como escolher uma duração menos longa, mas isso é um detalhe menor. Em minha visão Tarantino ainda conseguiu manter algo muito importante que é a fidelidade ao seu jeito de fazer filmes. Enquanto ele for assim tão genuíno continuará a ser considerado um dos melhores autores da sétima arte dos tempos atuais.

Os oito odiados (The Hateful Eight, Estados Unidos, 2015) Direção: Quentin Tarantino / Roteiro: Quentin Tarantino / Elenco: Kurt Russell, Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh, Tim Roth, Walton Goggins, Demián Bichir, Michael Madsen, Bruce Dern / Sinopse: O caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) tem um objetivo bem claro em sua mente: levar a assassina Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para Red Rock onde será julgada e muito provavelmente enforcada. Ela é procurada viva ou morta e o prêmio por sua captura está estimado em dez mil dólares. Para isso Ruth resolve contratar uma diligência exclusiva, apenas para ele e sua prisioneira. Durante a viagem porém eles encontram no meio do caminho, sob forte nevasca, o veterano de guerra e agora também caçador de recompensas Marquis Warren (Samuel L. Jackson). Como se isso não fosse o bastante mais a frente também esbarram em Chris Mannix (Walton Goggins) que se diz ser o novo xerife de Red Rock. Com todos a bordo eles param em uma estalagem de reabastecimento, mas descobrem que existe algo muito estranho naquele lugar. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Roteiro (Quentin Tarantino), Melhor Atriz Coadjuvante (Jennifer Jason Leigh) e Melhor Trilha Sonora (Ennio Morricone).  

Pablo Aluísio.