sábado, 17 de dezembro de 2011

George Michael - Ladies & Gentlemen

Um CD duplo ideal para quem não tem paciência (ou simplesmente não quer) colecionar toda a discografia de George Michael. Esse é aquele tipo de artista que é muitas vezes prejudicado por aspectos de sua vida pessoal. Muitas pessoas infelizmente o deixaram de ouvir porque ele assumiu sua homossexualidade ou porque vira e mexe ele é explorado por jornais sensacionalistas ingleses que o retratam de forma muitas vezes pouco lisonjeira (para dizer o mínimo). Há tempos que deixei de idolatrar ídolos da música, afinal isso é coisa de adolescente, e por essa razão tenho me concentrado unicamente na música desses artistas.

Em relação a George Michael não importa se ele é gay, promíscuo e se envolve em situações constrangedoras a cada mês. O que vale mesmo a pena levar em conta é se ele produz música de qualidade e só! Até porque não estou atrás de ídolos, mas de boa música. Nesse ponto pode ficar tranquilo, pois como bem prova esse "Ladies & Gentlemen: The Best of George Michael" o astro não perdeu a mão em seu trabalho. George tem uma das melhores vozes do pop, tudo aliado a um refinado e bom gosto musical na seleção das canções que compõem esse trabalho. Em minha opinião George Michael deveria se concentrar cada vez mais em um repertório clássico, de grandes standards, pois ele tem o timbre ideal para isso. Sua vocalização é suave e ao mesmo tempo incrivelmente marcante, próprio para dar corpo a muitas dessas melodias do passado.

No total são 29 faixas, algumas pinceladas dos álbuns originais do cantor, outras remixadas ou remasterizadas para dar uma nova sonoridade e roupagem para as antigas gravações. Uma coisa que me chamou bastante a atenção foi que George Michael procurou não se concentrar apenas em seus grandes hits, mas sim em trazer para o ouvinte registros que ele considera realmente importantes em sua carreira. A seleção musical foi feita pelo próprio George Michael que desde o começo de sua carreira mantém controle quase absoluto sobre sua obra (mostrando que ele é bem esperto do ponto de vista corporativo). Assim ele mistura "Careless Whisper" e "Don't Let the Sun Go Down on Me", dois enormes sucessos radiofônicos, com momentos intimistas como "Desafinado" (sim, um dos maiores clássicos da bossa nova, composta por Antônio Carlos Jobim e seu parceiro Newton Mendonça). Essa gravação é surpreendente por vários motivos. Além de ser cantada em português, o cantor não escorrega no sotaque, apresentando um português (quase) perfeito. Credito isso aos longos períodos que passou no Brasil pois não é segredo para ninguém que um dos grandes amores de sua vida foi um namorado brasileiro que infelizmente morreu de AIDS. Enfim é isso, eis um bom presente de natal para pessoas queridas e próximas, afinal se elas forem pessoas de bom gosto musical certamente curtirão a lembrança.

Pablo Aluísio.

Bing Crosby - White Christmas

Época de natal! De repente você sente aquela vontade de ouvir músicas natalinas. Certo, muitas pessoas (com razão) não aguentam canções de natal por achar o material de maneira em geral muito brega e piegas. De certa forma praticamente noventa por cento é ruim de doer mesmo. Deixemos essa porcariada de lado. Vamos nos focar nos grandes clássicos de natal. Dentre eles talvez nenhuma música supere em importância e relevância a imortal "White Christmas". Essa canção é tão importante do ponto de vista cultural e comercial que é impossível não a ouvir sendo tocada em algum lugar durante esse período de festas. Do ponto de vista puramente musical ela tem um pedigree incrível pois foi escrita pelo genial Irving Berlin. Sua inspiração veio dos natais de sua infância, quando passou momentos inesquecíveis ao lado de seus pais. Aquele sentimento que provou quando era apenas um garoto jamais o abandonou. Curiosamente ele não tinha planos de compor a canção. Ele estava há dias compondo músicas para um editor de Nova Iorque quando parou para tomar um pouco de café. Entre um gole e outro, as notas foram surgindo em sua mente. Era época de natal então foi mesmo um encontro entre uma casualidade e uma época especial que acabou dando origem a uma obra prima.

A partitura acabou caindo nas mãos de Bing Crosby. Era 1942 e o mundo passava pelo trauma da II Guerra Mundial. Crosby queria gravar algo para os militares que estavam longe de casa, em trincheiras congeladas na Europa. Assim que ouviu "White Christmas" decidiu que aquela era a música que tanto procurava. No estúdio Crosby colocou o coração na ponta do microfone e criou um registro único e inesquecível. Ao seu lado músicos talentosos fizeram também sua parte. O acompanhamento vocal ficou com as delicadas garotas do Ken Darby Singers. E na parte instrumental brilhou o talento de todos os grandes músicos da John Scott Trotter and His Orchestra. Crosby acreditou que estava prestando uma singela homenagem aos soldados que estavam lutando na guerra e não tinha a menor ideia do que iria acontecer. O single com duas canções no lado B ("Let's Start the New Year Right" e "God Rest Ye Merry Gentlemen") pintou nas lojas americanas no natal do mesmo ano e foi um fenômeno de vendas. Pela primeira vez na história da indústria fonográfica dos Estados Unidos um disco conseguia vender mais de cinco milhões de cópias. Depois com as reedições a canção foi batendo recordes e mais recordes de vendagens, todos os anos, e hoje estima-se que no total "White Christmas" vendeu mais de cem milhões de cópias ao redor do mundo (sim, você não leu errado, cem milhões!!!). Uma linda música que merece servir de trilha sonora para a noite de natal de cada lar formado por pessoas de bom gosto musical.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

The Doors - As Portas da Percepção

O lendário líder do grupo The Doors sempre estará envolto em mistérios. O rock sempre teve, em minha opinião, um lado negro, um aspecto enigmático, que nos causa a sensação de que há algo muito maior do que nós imaginamos. Essa é a impressão que tenho sobre o grupo de rock The Doors. Eu nunca os assisti ao vivo. Meu contato com a banda sempre veio através de seus discos e filmes. Em relação às composições posso dizer que são realmente geniais, um verdadeiro monumento musical. Se Jim Morrison fosse um automóvel ele certamente seria um Lamborghini clássico, daqueles bem raros e caros. Jim tinha um jeito único de compor e se apresentar. Era algo interessante, seu charme era também perigoso, tal como uma serpente que você sabe ser bela, mas que também pode lhe matar.

O ícone líder dos Doors só entrou no Rock and Roll Hall of Fame em 1993, talvez por ser perigoso demais. Ele era aquele tipo de cantor carismático que ofuscava todos os demais membros do grupo, tal como se fosse um Elvis Presley ou um Mick Jagger do rock psicodélico em fins dos anos 1960. É o tipo de artista que não lhe deixa com vergonha de admitir que é um verdadeiro ícone do rock em toda a sua essência. O legado de Jim Morrison não se resume porém aos seus discos ou gravações. Sua influência no comportamento e no modo de agir dos roqueiros foi profundo e visceral. Seus shows eram, conforme ele gostava de dizer, uma festa de amigos, de preferência sem convite nenhum, onde os tipos mais indigestos se encontravam para testar os limites da liberdade hedonista de seu tempo. Dentro da simbologia de Morrison existia justamente essa mensagem: a de que o excesso levaria aos portões da sabedoria. E Jim, provou com sua vida que acreditava plenamente nisso. Ele cometeu todos os excessos que você possa imaginar. Ganhou sabedoria? Seus escritos provam que sim, porém ele ganhou também uma passagem para o outro lado, como gostava de dizer e sondar.

Uma das coisas mais significativas da obra dos Doors é que eles nunca subestimaram seu público. Os Doors sabiam que como banda de rock iriam ter muitos jovens em sua platéia, mas isso não os furtavam de rechear suas letras de filosofia e teologia. Como eram universitários eles tinham uma bagagem intelectual acima da média e resolveram jogar tudo em suas letras (que também podem ser lidas tal como se fossem poemas, já que Jim também se considerava um poeta). Por isso o som dos Doors jamais vai deixar de tocar, nem que as portas da percepção um dia venham a ser fechadas.

The Doors ‎- Live In Miami 1969 - Todos que conhecem a história dos Doors sabem que Jim Morrison literalmente surtou em Miami. Ele estava bêbado e drogado quando seu grupo começou o show na cidade. Depois de algumas músicas tocadas sem o cantor - que era "ressuscitado" pelos promotores do evento nos bastidores - Jim adentrou ao palco com um enorme chapéu de cowboy, uma garrafa de whisky na mão e uma cabra! Coisa mais bizarra não poderia haver em um concerto de rock! E se você pensou que as loucuras pararam por aí, bom, não pararam! Jim começou a insultar o público, depois ameaçou tirar as calças até o chefe de polícia de Miami decidir que tudo aquilo tinha ido longe demais. Os policiais subiram ao palco e Jim foi preso ali mesmo, na frente de todo mundo! Esse caos completo foi registrado por poucas câmeras Super 8 e alguns fãs que gravaram tudo em seus equipamentos antigos (não se esqueça que estamos falando de 1969). Os registros amadores de toda essa confusão podem ser ouvidos aqui nesse CD. Não pense que ouvirá algo bom do ponto de vista musical. Na verdade o CD traz mesmo é o caos daquele desastroso concerto dos Doors. As poucas músicas tocadas corretamente o foram pelos demais membros da banda pois a partir do momento que Jim subiu ao palco a coisa toda saiu do controle. Caos é uma palavra amena demais para definir o que realmente aconteceu naquela noite em Miami.

The Doors ‎- Live In Miami 1969 
1 Back Door Man    
2 Five To One    
3 Touch Me    
4 Love Me Two Times    
5 When The Music's Over    
6 Wake Up    
7 Light My Fire

The Doors - Live At The Isle Of Wight Festival 1970 - Para quem gosta dos Doors está chegando nas lojas um DVD bem interessante. Trata-se de " Live At The Isle Of Wight Festival 1970" trazendo o concerto que o grupo fez no festival da ilha de Wight. Eu particularmente nunca gostei muito desse show. Jim Morrison, cheio de problemas pessoais, não parecia muito animado no concerto. Pendurado no microfone, como se fosse uma muleta, ele parecia nitidamente apenas cumprir uma obrigação. Não havia a mesma fúria de antes, dos tempos áureos do grupo. Aqui Jim parece mais preocupado em não causar problemas do que qualquer outra coisa. Ele estava sendo processado por causa de uma apresentação explosiva na Flórida, onde havia sido acusado de baixar as calças, mostrando seu pênis. Na Ilha de Wight ele se comportou, talvez em excesso. A boa notícia é que acabou cantando bem. Por isso gosto de dizer que esse show é melhor sendo ouvido do que assistido. Como CD ele funciona muito bem. Para assistir cai na monotonia várias vezes. A iluminação do palco também não ajuda, Imitando luzes de cabarets parisienses, tudo parece escuro demais, complicado de ver. Na penumbra o antigo Rei Lagarto virou um mero animal de estimação com coleira e tudo. Quem diria...

The Doors - Live At The Isle Of Wight Festival 1970
1. Roadhouse Blues / 2. Introductions / 3. Back Door Man / 4. Break On Through (To The Other Side) / 5. When The Music's Over / 6. Ship Of Fools / 7. Light My Fire / 8. The End / Across The Sea / Away In India / Crossroad Blues / Wake Up / Extras: 'This Is The End' - 17 minutos de entrevistas realizadas pelo diretor original do filme, MurrayLerner, vencedor do Oscar, com Krieger, Densmore e gerente original da Doors Bill Siddons.

Pablo Aluísio.

John Lennon - Os primeiros discos dos Beatles

Esse primeiro álbum dos Beatles foi gravado em poucas horas. Na época a EMI deu uma chance ao grupo, mas esse teria que se virar rapidamente, em poucas horas de estúdio, para finalizar os trabalhos. Nesse aspecto os anos em que eles davam duro em Hamburgo, na Alemanha. Se apresentando todos os dias, em shows longos, eles criaram a prática necessária para tocar bem, em poucos takes.

O resultado ficou muito bom, diríamos até mesmo histórico. O próprio John Lennon, que sempre havia sido um crítico mordaz dos primeiros discos dos Beatles até mesmo fez um mea culpa nos anos 70, quando morava em Nova Iorque. Ele reconheceu que "Please, Please Me" era bom, embora poderia ser melhor em sua opinião, caso eles tivessem mais experiência.

Ouvindo o disco nos dias de hoje podemos perceber que a opinião de Lennon era até bem válida, por causa do avanço que os Beatles iriam desenvolver nos anos seguintes. Comparada com os discos da segunda fase do grupo, de fato "Please, Please Me" parecia bem simples, até primitivo. Afinal não se conseguiria gravar um álbum com mais consistência numa época em que eles eram apenas quatro jovens, ainda deslumbrados pela oportunidade que estavam tendo em gravar um disco de estúdio. Era algo que nem eles acreditavam que um dia iria acontecer.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

John Lennon - Imagine (1971)

John Lennon - Imagine
Algumas músicas definem toda a carreira de um artista. De certa forma é justamente isso que acontece com "Imagine", a música símbolo de John Lennon. De estrutura bem elaborada, a letra transmite com bastante êxito um resumo (diria até mesmo didático) do pensamento do ex beatle. Obviamente a mensagem do cantor e compositor pode soar simplista demais frente aos problemas da sociedade, porém temos que levar em conta que se trata da filosofia de um poeta, que não era (e para falar nem devia) tentar solucionar os conflitos da humanidade de forma analítica e pormenorizada. De forma sutil Lennon investe contra os Estados (e sua inerente necessidade de lutar pelas fronteiras nacionais), a religião (e seus eternos conflitos ideológicos e dogmáticos) e propõe uma espécie de sociedade livre de preconceitos e divisões. Escapismo poético vazio? Pode até ser, mas até que funciona bem, até mesmo nos dias atuais. Interessante notar que o arranjo funciona muito bem pois a canção foi gravada tal como composta (basicamente voz e piano - com o uso de bateria acrescida posteriormente, além de uma singela e discreta orquestração ao fundo que foi muito bem colocada não tirando a atenção do ouvinte da simplicidade da canção e arranjo). Sem dúvida um bom trabalho do produtor Phil Spector (curiosamente Yoko Ono também foi creditada como "produtora" do LP).

Embora "Imagine" tenha entrado para a cultura popular de forma definitiva o resto do disco não parece ter alcançado o mesmo alcance. "Imagine" é aquele tipo de álbum com uma faixa de trabalho extremamente superiora ao resto do conjunto. Um ícone pop seguido por coadjuvantes sem grande brilho próprio. Analisando friamente o resto do disco chegamos facilmente na conclusão que apenas "Jealous Guy" conseguiu se sobressair nas paradas e ser conhecida do grande público (embora hoje em bem menor escala). O resto das músicas não conseguiu abrir seu próprio espaço caindo em um (até injusto) esquecimento musical. O incrível é que o LP ficou muitos anos em catálogo (até mesmo no Brasil) mas isso definitivamente não ajudou na popularização das demais canções. Só a título de comparação podemos citar "Plastic Ono Band", um álbum bem menos popular, que conseguiu no mínimo destacar 3 faixas fortes (Mother, God e Working Class Hero) enquanto "Imagine", em seu conjunto, só conseguiu mesmo se sobressair em duas delas.

Dentre as faixas remanescentes podemos destacar algumas boas canções e outras nem tanto. Entre as ruins temos "I Don´t Wanna Be a Soldier" cuja letra tem sua importância mas que é infelizmente embalada por uma melodia enjoativa e derivativa que não leva à canção a lugar nenhum. Lennon aqui entra em um redemoinho melódico, se perdendo completamente dentro dele, não conseguindo sair mais. Por isso essa é certamente uma das músicas menos inspiradas do ex beatle em sua carreira solo. As baladas são bem melhores. "Oh My Love" é sinceramente bem conduzida e tem uma melodia linda, tudo resultando em um belo momento do disco. Um pouco menos relevante está "How?" que em certos momentos parece entrar numa encruzilhada melódica, embora felizmente tenha sido salva por causa de seu bom refrão. Yoko Ono também ganha sua música de homenagem, o countryzinho "Oh Yoko", simples mas agradável em sua pegada despretensiosa de contagiante felicidade. Nesse conjunto de coadjuvantes o grande erro de Lennon realmente é a faixa "How do You Sleep?", uma música feita exclusivamente para provocar e ofender seu ex colega de banda, Paul McCartney. Além de feia (e mal produzida) a música destoa completamente do tema proposto da faixa título, pois ao mesmo tempo em que prega a paz em "Imagine" Lennon solta farpas em relação ao ex parceiro nessa letra cheia de ressentimentos. Como conciliar tamanha contradição? Bom, entender isso é como tentar entender a personalidade de Lennon, algo nem sempre fácil de decifrar.

Imagine (John Lennon) - Certa vez Paul McCartney disse que John Lennon era um gênio, mas não um santo. Ele tinha toda a razão do mundo. John Lennon sabia como poucos escrever e compor grandes músicas, realmente maravilhosas, mas passava longe de ser uma alma pura, santificada. Em muitos momentos ele poderia soar completamente hipócrita. Veja o caso de "Imagine" considerada por muitos como a sua grande música na carreira após o fim dos Beatles. Em frases muito bem escritas John propõe um mundo sem fronteiras, sem propriedades e até mesmo sem religiões. Em determinado trecho John canta a frase "Imagine não existir posses, sem necessidade de ganância, Imagine todas as pessoas compartilhando...". Ok, nada de errado, tudo muito bonito a não ser pelo fato de que Lennon era proprietário de fazendas enormes nos Estados Unidos com centenas de milhares de cabeças de gado, onde o acesso de pessoas estranhas era completamente proibido. E o que dizer de seus vários apartamentos de luxo na parte mais cara de Nova Iorque? Não há nenhum sinal de que ele um dia os tenha compartilhado com ninguém, a não ser Yoko Ono e seu filho. "Imagine não existir nenhuma religião", afirma a letra em outro trecho. Ora, John foi fiel seguidor do Hinduísmo, depois se aproximou bastante do Budismo a ponto de se auto declarar Zen Budista em uma de suas últimas entrevistas. Suas frases contra o cristianismo também lhe trouxe muitos problemas, demonstrando que o próprio John Lennon tinha alguns problemas com as religiões dos outros. Assim soa mais do que uma hipocrisia em falar algo nesse sentido e ao mesmo tempo usar do sentimento religioso das demais pessoas para atacá-las de alguma maneira. Além de contraditório é certamente uma grande hipocrisia. Mesmo assim a canção "Imagine" ainda é um belo momento de sua carreira. Embora em muitos aspectos ele fosse realmente um grande hipócrita o fato é que John continuava muito talentoso para compor letras e melodias maravilhosas. Como disse Paul ele poderia não ser um santo (e não era mesmo), mas pelo menos continuava a ser um gênio musical.

Crippled Inside (John Lennon) - "Crippled Inside" (literalmente "Aleijado por Dentro") cria uma imagem sobre a auto percepção de se estar emocionalmente abalado, doente da alma. Claro que nos dias atuais o uso da palavra "Crippled" (aleijado) iria despertar muitos protestos, por causa do mundo politicamente correto em que vivemos. Porém na época em que a música chegou no mercado isso não foi colocado em debate. Eu gosto bastante desses versos. São simples, diretos, possuem uma mensagem fácil de captar, até mesmo por quem não tem uma visão muito abstrata da vida sentimental. Basicamente Lennon afirma que não importa as diversas máscaras exteriores que você tente usar para esconder o que está sentindo por dentro, pois elas nunca vão funcionar. Não adiantaria assim colocar sua melhor roupa, usar seus melhores sapatos, arrumar seu cabelo, estampar o mais falso sorriso, nada disso iria importar no final das contas. Nada iria esconder o fato de que você estaria aleijado por dentro, em seu interior. John costumava dizer que não era um poeta com formação intelectual, pois não tinha estudado para isso. No fundo ele era apenas um artista popular que expressava da melhor forma possível aquilo que pensava e sentia. Essa canção, com sua mensagem sendo bem direta, é um exemplo perfeito do que ele quis dizer. John tinha realmente razão sobre isso.

Jealous Guy (John Lennon) - "Jealous Guy" chegou a ser lançada em single e de certo modo conseguiu uma boa resposta por parte de público e crítica. É interessante notar que Lennon, nessa fase solo de sua carreira, começou a escrever obsessivamente sobre si mesmo, seu mundo e seus relacionamentos. Obviamente ele estava perdidamente apaixonado pela artista plástica Yoko Ono e de certa forma ela acabou se tornando o tema principal de praticamente todas as suas composições. Musicalmente, em termos de arranjo, as músicas de Lennon em sua carreira solo eram econômicas. Nada dos arranjos bem elaborados da época dos Beatles. Afinal nem George Martin e nem Paul McCartney estavam ao seu lado para enriquecer melodicamente as gravações. Era um som mais cru. Assim o interessante é mesmo prestar atenção nas letras, todas, como disse, autorais. "Jealous Guy" é um grande pedido de desculpas para Yoko. Eles tiveram uma briga, John foi acusado de ser um cara ciumento e assim ele, reconhecendo seu erro, escreveu essa letra. A mensagem é bem direta, sem rodeios

It's So Hard (John Lennon) - Por fim a última canção do álbum composta por John foi a confessional "It's So Hard". Essa música trazia outra declaração bem pessoal do cantor, mostrando suas dificuldades de seguir em frente. Na época John tinha muitos problemas, o governo americano queria deportá-lo, a imprensa o ridicularizava, ele tinha conflitos com Yoko Ono e a Apple, a empresa dos Beatles, que deveria ser um sopro de vitalidade no mundo empresarial, tinha se tornado uma fonte de dores de cabeça, com muitos processos na justiça, desvios de dinheiro, histórias mal contadas e brigas pelo controle acionário. Tudo acabou sendo resumido na primeira estrofe da letra quando John escreveu: "Você tem que viver. Você tem que amar. Você tem que ser alguém. Você tem que se superar. Mas é tão difícil, é realmente difícil. Às vezes eu sinto vontade de desistir."

Don't Wanna Be A Soldier Mama I Don't Wanna Die (John Lennon) - Para não ficar tão feio para John, mais à frente no álbum ele encaixou a canção " I Don't Wanna Be A Soldier Mama, I Don't Wanna Die" cuja letra era clara e direta, como convinha a John na época. A música intitulada "Eu não quero ser um soldado, mãe, eu não quero morrer" era obviamente uma mensagem contra a Guerra do Vietnã que na época estava no auge, com milhares de militares americanos sendo enviados para as florestas asiáticas para morrerem em uma guerra que nem eles mesmos entendiam direito. O curioso é que inicialmente bem recebida pela crítica americana logo começaram as represálias contra John. O governo de Richard Nixon considerou a música uma clara ofensa aos valores patrióticos da nação. John, por ser inglês e não ter ainda o green card (que lhe daria a nacionalidade norte-americana) logo virou alvo de um processo de deportação. Era considerado uma persona non grata pelo governo Nixon. Parte da imprensa americana também se virou contra ele, chegando ao ponto de eleger Lennon "O Palhaço do Ano". Como tinha o espírito de brigar por aquilo que acreditava logo Lennon comprou a briga, dando origem a uma luta que durou anos para ter o direito de viver e morar nos Estados Unidos.

Give me Some Truth (John Lennon) - Já em "Give me Some Truth" John pedia um pouco de verdade. Não era novidade para ninguém que John estava farto das mentiras dos políticos, da imprensa, dos ricos e poderosos. Assim ele compôs essa canção pedindo, na verdade clamando, por um pouco de verdade no mundo. O estilo era novamente bem direto, sem meias palavras. Chamando os políticos de suínos, Lennon destroçava o poder de manipulação da verdade dentro da sociedade. Essa é uma das letras mais polêmicas de John em "Imagine", Nos versos finais ele não apenas pede pela verdade, mas também por dinheiro para comprar drogas e uma corda! (uma óbvia referência ao suicídio). Não é a toa que Kurt Cobain do Nirvana considerava essa letra uma das melhores de Lennon em sua discografia solo. Essa porém não foi a opinião da crítica inglesa da época de lançamento do disco. Para muitos Lennon havia ido longe demais... Mal sabiam eles o que estaria por vir nos anos seguintes...

Oh My Love (John Lennon) - Como era de praxe também não faltou outra exaltação a Yoko Ono em "Oh My Love". É curioso que havia uma dualidade bem escondida ao público em relação ao relacionamento entre John e Yoko. Para o público, em canções como essa, John passava a imagem de estar vivendo o maior amor romântico do século. Não era verdade. O caso amoroso entre ele e Yoko tinha muitos problemas. Tantos que poucos meses depois da gravação de canções como essa, Yoko simplesmente deixou John. Foi dar um tempo. Não aguentava mais o estilo de vida dele, sua personalidade irascível e seus comportamentos doentios (como o abuso de drogas como a famigerada heroína).

How Do You Sleep? (John Lennon) - John Lennon era um sujeito bem contraditório. No mesmo álbum em que ele lançou o clássico da paz "Imagine" ele resolveu incluir uma canção que de pacífica não tinha nada. "How Do You Sleep?" havia sido composta para afrontar e agredir seu ex-companheiro dos Beatles, Paul McCartney. Ambos estavam se processando, o clima não era bom, John e Paul trocavam farpas pela imprensa e assim Lennon resolveu destroçar o antigo colega em uma canção que tinha apenas um objetivo: falar mal de Paul. "How Do You Sleep?" é apenas isso. Uma longa e agressiva indireta (ou melhor dizendo, direta mesmo) mensagem contra Paul McCartney. E o lado que John resolveu atacar foi o profissional. Entre outras coisas Lennon colocou em sua letra que a única coisa boa que Paul havia feito em sua carreira musical havia sido a canção "Yesterday". Obviamente um absurdo e uma mentira, mas John não quis saber, partiu para o ataque, deixando sua mensagem de "Imagine" no vácuo! Afinal como alguém poderia pregar tanto pacifismo em uma faixa para depois destruir seu próprio amigo e companheiro de banda? No mínimo uma contradição.

How? (John Lennon) - Finalizando a análise do álbum "Imagine" de John Lennon vamos tecer alguns comentários sobre as demais canções do disco. Como se sabe Lennon quis com esse lançamento voltar a ser um artista comercialmente bem sucedido. Seus primeiros LPs venderam mal e a crítica também não gostou muito. Assim John queria provar para a indústria fonográfica que ele ainda podia ser um artista de sucesso. Mesmo tentando voltar ao topo John também não abriu mão de continuar sendo bem autoral e sincero nas letras. Em "How?" ele aproveitou para desfilar uma série de questionamento existenciais que tinha em sua mente. A letra abre justamente com uma indagação sobre os próprios rumos de sua vida. De forma aberta John perguntava: "Como eu posso seguir em frente quando não sei que caminho escolher?"

Oh Yoko! (John Lennon) - O álbum "Imagine" segue em frente com a faixa "Oh Yoko!". Bom, desnecessário comentar muito. O título é auto explicativo. É mais uma música feita em homenagem à diva suprema de Lennon, Yoko Ono. Esse romance não foi dos mais tranquilos. A imprensa britânica não gostava de Yoko que para eles era apenas mais uma japonesa esquisita e bizarra. Lennon, que era bom de briga, também comprou um atrito com jornalistas ingleses, defendendo Yoko sempre que possível. E assim foi também em seus álbuns. Uma das críticas que jornais ingleses tinham feito em relação a John é que ele se mostrava muito submisso e dependente de Yoko após se apaixonar por ela. Assim John fez uma letra que era ao mesmo tempo uma afirmação sobre isso e uma auto paródia. Nela John surge sempre chamando Yoko, não importando o que estivesse fazendo: no banho, fazendo a barba, no meio de uma nuvem, ele sempre chamaria por Yoko! Pois é...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

John Lennon e a Heroína

John Lennon e a Heroína - Um fato interessante revelado no livro "A Batalha pela Alma dos Beatles" do autor Peter Doggett, mostra ao leitor como John Lennon estava debilitado física e emocionalmente depois de anos de abuso da terrível droga chamada Heroína. Desde a fase final do grupo John já não conseguia mais compor ou cantar com a mesma qualidade, simplesmente porque passava por longos períodos de abuso de drogas.

É interessante que de todos os membros dos Beatles ele foi aquele que caiu mais fundo nas drogas. Seu estado era tão precário que em determinado momento sua esposa Yoko Ono resolveu fretar um avião para levá-lo até as ilhas Virgens onde John teria que passar por um tratamento de recuperação. O problema é que ele não queria largar as drogas e como todos sabemos uma rehab desse tipo só traz bons resultados quando se conta com a vontade de se libertar do próprio viciado.

John porém se sentia muito bem abusando de várias drogas ao mesmo tempo. Além da sempre presente heroína ele ainda usava maconha, cocaína e LSD em doses fartas. Era como se diz no meio um verdadeiro junkie! Sua dependência era tamanha que nem quando ia até a Apple - a empresa que controlava os negócios dos Beatles - ele conseguia ficar sem se drogar. Inevitavelmente John pedia por comprimidos contra dor de cabeça e laxantes, pois estava sempre passando mal, vomitando, por causa das drogas. Em certo momento durante uma reunião com homens de negócios ele declarou, sem vergonha alguma: "Esperem, preciso de cocaína para levar essa reunião em frente. Vou até o banheiro e já volto".

Essa pasmaceira artística se refletiu em sua carreira solo. Em termos absolutos, de vendas de discos, John foi o menos bem sucedido dos Beatles. Seus primeiros discos venderam mal, pois o público não aguentava muito a presença completamente opressora e invasiva de Yoko Ono nesses primeiros trabalhos. John em determinado momento decidiu que seria um artista de vanguarda, mas isso definitivamente não vendia bem. Quando George Harrison conseguiu transformar seu primeiro disco solo em um dos mais vendidos dos anos 70, John reagiu com fúria, dizendo que o ex-colega de banda não tinha nem dez por cento de seu talento. Pois é, além de abusar muito das drogas John não conseguia também controlar seu lado mais mesquinho.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Promised Land Outtakes

Elvis Presley - Promised Land Outtakes
O lançamento das sessões de gravação do álbum "Promised Land" trouxe curiosidades interessantes e divertidas para os fãs de Elvis. Algumas faixas como o ensaio de "Love Song Of The Year" mostram como Elvis estava se divertindo nos estúdios. Essa canção em particular tem uma das melodias mais melancólicas de toda a discografia do cantor, mas quem disse que ele em algum momento a leva à sério nesse registro? Elvis brinca o tempo todo, tirando onda com a letra, com seu grupo vocal de apoio, com a banda, com tudo. Esse foi um ensaio bem descompromissado, que Elvis aproveitou para brincar, rir e se divertir ao máximo.

O mesmo acontece com a faixa seguinte "Thinking About You" onde Elvis começa os vocais imitando a voz do coelho Pernalonga. Não demora muito e tudo desbanca para a pura zoeira, principalmente quando Elvis muda o estilo da música, virando um blues bem sem noção! Na verdade Elvis apenas passa a letra, e o grau de insanidade vai às alturas quando ele começa a cantar do nada um refrão de uma canção de natal! Estranho, mas divertido, no final das contas. Depois todos tentam entrar no espírito certo da música, tentando levar à sério dessa vez. Começa assim o take 3, praticamente perfeito. Essa versão inclusive tem uma suavidade e uma levada muito boa, poderia até vir a se tornar a versão oficial se Elvis não cometesse pequenos deslizes pelo meio do caminho.

Eu sempre gostei muito do country old school "Your Love's Been A Long Time Coming". Nesse CD temos a oportunidade de ouvir várias versões. Algumas começam muito bem, mas acabam dando errado por coisas que acontecem no estúdio. O take 2 começa de forma perfeita, mas alguém deixa cair algo bem no meio da gravação, fazendo com que Elvis interrompa sua interpretação! O take 3 é bem melhor. Nesse podemos ouvir como mais nitidez a segunda voz de apoio do vocalista de Elvis, algo que não acontece com a versão oficial do álbum original. Elvis estava pesadão na época, mas isso em nada atrapalhava sua performance que considero acima da média. Esse take só se estraga no finalzinho quando Elvis resolve brincar novamente, colocando tudo a perder!

O take 2 de "Promised Land" presente nesse CD é excelente, inclusive com uma ótima introdução de bateria que ficou fora da versão oficial. O pique é um pouco menos intenso em relação à master, Elvis parece ainda estar se familiarizando com a letra de Chuck Berry, algo normal de acontecer. Ele inclusive chega a se perder um pouco pelo meio do caminho, mas nada muito fora do normal. James Burton, como sempre arrasa nesse registro. Excelente guitarrista. "Mr Songman" é de uma beleza incrível. Alguém toca órgão no começo da gravação - Elvis fica em silêncio, só ouvindo. Depois pergunta de forma divertida "Ei cara, onde você está indo?". Depois troca algumas piadas com as vocalistas. Esse registro é ótimo porque mostra parte dos bastidores das sessões, com Elvis sempre muito bem humorado. A vocalização surge praticamente perfeita. Essa canção tem uma melodia maravilhosa. Pura beleza em forma de notas musicais.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Estranho Casamento de John e Yoko

Recentemente tive acessos a alguns livros biográficos que revelam os detalhes do estranho casamento entre John e Yoko. Existia um casamento de fachada, para ser exibido ao público e outro bem estranho, privado, segundo esses autores. Tomando como depoimento os relatos de pessoas próximas ao casal como empregados, amigos e até mesmo a astróloga e numeróloga preferida de Yoko podemos tecer um retrato desse casamento fora do comum.

Havia um problema com drogas por parte de John Lennon. Ele havia se viciado em heroína, uma droga realmente devastadora. Seu abuso levou Lennon a um estado lastimável, onde ele não conseguia mais produzir, nem compor nada. A relação entre o casal era tensa dentro de sua esfera privada. Segundo Peter Doggett, autor do livro "A Batalha pela Alma dos Beatles", Yoko Ono não gostava de sexo, pois em sua visão feminista achava que essa era uma invasão ao seu corpo, uma atitude praticamente desrespeitosa. Isso levava John à loucura, procurando por prostitutas de luxo ou então tentando seduzir outras mulheres na presença de Yoko, para provocar ciúmes nela, para quem sabe assim conseguir levá-la para a cama. Quase nunca dava certo!

Outro fato perturbador é que Lennon tinha uma dependência absurda de Yoko. Dependência em nível psicológico até. Quando sua esposa assumia todo o controle o ex-Beatle ficava completamente isolado, sem ver ninguém de fora. Para Doggett isso era reflexo do fato de que Lennon sempre vivera com mulheres de personalidades fortes, como sua tia Mimi, assim ele se sentia melhor com uma mulher que o dominasse em todos os aspectos de sua vida. Era algo muito próximo a uma submissão total. Por essa razão também John passou anos sem ver seu filho Julian. Só o fez quando Yoko deu a devida autorização.

Não seria por outra explicação que quando se separou de Yoko Ono na primeira metade dos anos 70 (período que John se referia como "O fim de semana perdido") ele voltou a se relacionar novamente com os velhos amigos, se tornou sociável, chegou inclusive a cogitar seriamente uma volta com os demais parceiros, ressuscitando os Beatles. Porém quando Yoko o chamou de volta ele voltou a se desligar de tudo - não quis mais saber de discos, shows ou aproximações com seus ex companheiros de banda. A vida voltava para o isolamento completo, para a reclusão total, sob ordens estritas de Yoko Ono.

Pablo Aluísio.