terça-feira, 10 de março de 2009

Elvis Presley - Southern Nights

Em 1975 Elvis Presley completou quarenta anos de idade. Apesar de ser algo normal e natural para qualquer ser humano, Elvis encarou a nova idade como uma grande tragédia em sua vida. Nos dias de hoje fica até mesmo difícil entender como alguém ficaria tão abalado apenas pelo fato de superar a barreira dos quarenta, mas para Elvis esse fato só significava uma coisa: ele estava ficando velho! Velho demais para sobreviver como artista! Não importava o fato de existirem muitos ídolos numa faixa etária maior do que essa, como o próprio Frank Sinatra, nem importava a famosa frase de que "a vida começa aos quarenta", isso não tinha importância para ele. Para Elvis Presley completar 40 anos era traumatizante, o simples fato de romper a linha dos 40 já era demais para ele! Como ele se veria agora?

Como um dos maiores símbolos jovens da história da cultura pop iria agora encarar essa maturidade inegável? Pelo jeito, nada bem. Elvis encarou a chegada de seu 40º aniversário da pior maneira possível. Trancou-se em casa, ficou deprimido e abatido, se recusou a atender telefonemas no dia 8 de janeiro e evitou a todo custo aparecer em público. Além disso se convenceu que estava com o rosto envelhecido demais, implicando totalmente com as características bolsas de envelhecimento abaixo de seus olhos (coisa que logo procurou corrigir fazendo uma cirurgia plástica em poucos meses). Nesse dia Elvis não parou de se lastimar com seus amigos mais próximos e de se olhar no espelho, "Imagine, 40 anos! Estou acabado! Não sou mais um garoto!" ficava repetindo insistentemente o cantor pelos corredores de Graceland. Em sua cabeça isso significa que seus fãs iriam deixá-lo pois ninguém seria mais admirador de um velho astro idoso! Elvis ficou tão abalado que não conseguia mais pensar em nada, estava sempre perguntando aos seus amigos: "Será que os fãs ainda vão gostar de mim quando eu estiver velho?!". Para Red West desabafou: "Red, estou acabado! Não consigo mais me imaginar como um ídolo de ninguém. Estou próximo do fim!".

Red West relembrou anos depois: "Depois de um tempo aquele dramalhão de Elvis começou a encher o saco! Quando mais falávamos para ele não se preocupar, mais ele se lastimava! Definitivamente foi uma chatice sem tamanho ficar ao lado dele em seu 40º aniversário!" Apesar de todos deixarem claro que essa preocupação não tinha sentido, Elvis não se convencia do contrário. Quando se defrontava com esse tipo de situação Elvis se isolava, trancava-se em casa e se recusava a ver pessoas estranhas ao seu círculo íntimo. E foi o que fez. No dia de 8 de janeiro, enquanto os fãs de todo o mundo lhe mandavam cartões e mensagens de congratulações, Elvis se fechava mais ainda, em total reclusão. Ele havia se convencido que completar 40 anos era uma verdadeira desgraça na sua vida pessoal e ponto final, ninguém nesse mundo iria convencê-lo do contrário. Quem não queria nem saber dessa bobagem toda era o Coronel Parker. De seu escritório ele já tinha planejado todos os shows de Elvis em sua próxima turnê. Quarentão ou não, Tom Parker não queria nem saber, Elvis teria que sair de Graceland para uma série de apresentações. O fato era que nem Elvis poderia viver trancado em casa, se corroendo por ter feito 40 anos, para Parker ele logo teria que colocar o pé na estrada novamente para cumprir seus contratos. Ultimamente Elvis vinha cada vez mais se queixando das longas viagens, do desconforto de viver de cidade em cidade, de ter que se apresentar em um ou dois shows diários. Elvis sentia-se esgotado após tantos anos de concertos.

Ele chegou inclusive, em muitas ocasiões, a deixar claro que aquele tipo de vida já não lhe trazia mais grande prazer e que já pensava em um futuro próximo ir diminuindo o ritmo de trabalho. Em vista dessas reclamações e do fato dele estar deprimido por ter feito 40 anos, o Coronel Parker acabou cedendo um pouco e seguindo o conselho de Joe Esposito resolveu agendar uma série de shows no Sul mesmo, pois além das cidades serem relativamente próximas de Memphis, Elvis não teria que se esforçar demais pois aquele também era o reduto mais fiel de seus fãs. Diante dessas pessoas Elvis seria sempre bem recebido, seja qual fosse sua atual condição de saúde ou de estado de espírito. Elvis estaria em casa, ou pelo menos perto de casa, ali no quintal de Memphis. E foi justamente nessa primeira turnê como quarentão que esse CD foi gravado. Embora Elvis estivesse passando por um momento ruim (pelo menos na sua forma de ver), o cantor procurou apresentar belos concertos e ampliou consideravelmente o leque de opções de seu repertório, atendendo inclusive aos reclamos de críticos e músicos que lamentavam cada vez mais a falta de uma maior renovação nas canções apresentadas ao vivo. Realmente, desde a ótima temporada de agosto de 1970, onde muita coisa nova foi acrescentada aos concertos, pouca coisa mudara em mais de 4 anos de shows ininterruptos. Já era hora mesmo de promover algumas mudanças, mesmo que fossem tímidas. De qualquer maneira, toda e qualquer nova música adicionada aos concertos já era um sopro de ar fresco em suas rotineiras apresentações. E assim, depois de cumprir uma temporada em Las Vegas, Elvis caiu na estrada para realizar mais uma turnê de primavera. Apesar de tudo, dos 40 anos, das lamúrias, das choradeiras, das lengalengas do cantor e da extensa agenda de compromissos, essas apresentações até que ocorreram numa calma muito bem-vinda para o quarentão Elvis Presley. O CD traz canções gravadas nas cidades de Atlanta, Huntsville, Mobile, Houston, Jackson, Memphis, Lake Charles e Macon.

O conceito de Southern Nights (em português, "noites sulistas") nasceu da necessidade por parte de Ernst Jorgensen em lançar todos os bons momentos de Elvis durante esses concertos realizados na primeira metade de 1975. O próprio Ernst justificou o lançamento de mais esse título inédito afirmando em entrevista: "Nosso objetivo no selo FTD é realmente lançar soundboards que cubram efetivamente todo o período de shows realizados por Elvis entre 1969 e 1977. Nossa intenção é que todas as temporadas em Las Vegas e todas as principais excursões venham a ser representadas nesse selo com pelo menos um título. Em alguns casos realmente basta o lançamento de apenas um CD que traga registros desses períodos. Existem temporadas e excursões realizadas por Elvis em que ele pouco inovou em seu repertório básico, sem grandes novidades. Porém existem também períodos ricos em novas canções, versões fabulosas ou pequenos grandes momentos de Elvis que merecem ser lançados! Quando lançamos Dixieland Rocks percebemos que estávamos na presença de um momento muito fértil e próspero da carreira de Elvis e sentimos a necessidade de voltar à essa fase para realmente não deixar nada de importante para trás. Essas excursões, realizadas na primavera de 1975, nos chamam atenção por sua rica diversidade. Para se ter uma idéia o repertório básico utilizado por Elvis nesses concertos consistia em mais de 40 músicas! Mesmo tendo lançado "Dixieland Rocks" com o que consideramos o melhor, sentimos que muita coisa de ótima qualidade ficou realmente de fora. Daí nasceu a idéia de lançarmos Southern Nights."

Seguindo essa linha de raciocínio, Ernst resolveu fazer uma verdadeira nova "coletânea" das duas primeiras excursões de Elvis em 1975. Retirando faixas de um ou outro concerto, Ernst foi completando o trabalho iniciado com "Dixieland Rocks" do mesmo selo FTD. Embora seja uma interessante ideia de resgate, esse tipo de lançamento também traz certos problemas como a diversidade de qualidade sonora e técnica entre as versões, que embora unidas aqui, foram gravadas em momentos e ocasiões diferentes. Isso se torna bem mais nítido quando ouvimos a montanha russa da seleção musical de "Southern Nights". Em um mesmo CD ouvimos registros com alto nível sonoro, outros apenas razoáveis e finalmente aqueles bem abaixo da crítica. De qualquer forma não há ainda como lançar todos esses shows diferentes na íntegra. Além de ser comercialmente inviável os lançamentos se tornariam excessivamente repetidos, pois apesar de toda a diversidade de repertório nessa primavera de 1975, os concertos de maneira geral pouco se diferenciavam entre si. A ideia de uma coletânea de temporadas e excursões realmente parece ser o único caminho viável para um selo como o FTD. No vácuo desse tipo de lançamento é que se constrói todo o mundo paralelo dos Bootlegs, com vasto material lançado todos os anos, trazendo aí sim, muitas vezes, os concertos na íntegra. Mas essa é uma outra história que ainda iremos tratar em futuros artigos. Vamos nos concentrar agora no CD Southern Nights, ótimo lançamento do selo FTD.

O CD começa com quatro versões retiradas das apresentações que Elvis realizou em Atlanta entre o final de abril e começo de maio de 1975. Do show do dia 30 de abril Ernst resolveu aproveitar That's All Right, It's Now Or Never e Help Me. Já do concerto realizado no dia 2 de maio foi acrescentada a canção Steamroller Blues. Se Nashville pode ser considerada a capital cultural do sul dos EUA, Atlanta, na Georgia, é a verdadeira potência econômica da região. Sua importância é tamanha para a economia daqueles Estados que ela é considerada a verdadeira força motriz do Sul. Não poderia ser diferente, pois essa cidade abriga a sede de algumas das maiores multinacionais do mundo, como por exemplo, a própria Coca-Cola. Tal polo comercial e financeiro nunca poderia ser ignorado pelo Coronel Tom Parker, até porque ele sempre considerava os shows de Elvis nessa cidade os mais importantes nessas turnês pelo Sul. A repercussão dos concertos em Atlanta seria sentida em todos os demais shows. Um concerto ruim em Atlanta significava um certo risco para o resto da turnê, pois um erro de Elvis nos palcos dessa cidade seria comentado e conhecido em todos os lugares e cidades sulistas. Por outro lado boas apresentações por parte de Elvis aqui sempre iriam gerar a repercussão oposta, ou seja, muita publicidade positiva nas cidades que ele visitaria depois. Se havia uma cidade vital nessas turnês de Elvis por todos esses Estados do sul, essa cidade se chamava Atlanta. O que Elvis faria ou deixaria de fazer em seus concertos em Atlanta iriam repercutir em todos os rincões do velho Sul norte-americano. Infelizmente, apesar de toda essa importância, Ernst Jorgensen não procurou destacar muito esses concertos. Ao invés de trazer mais faixas gravadas em Atlanta ele preferiu prestigiar as apresentações de Elvis em Huntsville nesse CD. De qualquer forma, mesmo com poucas versões presentes podemos ao menos ter uma idéia mais precisa de como Elvis estava nesses shows.

Os primeiros acordes de That's All Right são ouvidos e logo podemos perceber que, se levarmos essa versão como paradigma da apresentação, podemos facilmente chegar à conclusão de que Elvis estava bem nesses shows, principalmente porque esse CD nos traz sua voz com bastante nitidez e clareza. O arranjo é tradicional e sem surpresas. Já It's Now Or Never traz algumas novidades. A primeira coisa que notamos com facilidade é a mudança de sua velocidade normal e de sua linha melódica, fazendo com que ela fique bem mais lenta e terna. Um de seus maiores hits, "It's Now Or Never" seria cada vez mais presente em seu repertório nos anos finais, inclusive contando com os solos do vocalista Sherril Nielsen. E por falar nele, Help Me do disco "Promised Land", vem logo a seguir. Aqui temos um dueto entre Elvis e Nielsen. A combinação é interessante, pois sendo um barítono, Elvis se encaixa perfeitamente num "duelo" de vozes com seu colega de palco. Porém, se ficarmos atentos, vamos chegar facilmente à conclusão de que os melhores momentos da canção são justamente aqueles em que Elvis aparece sozinho ao microfone. Sua voz se sobressai com maior destaque e podemos nitidamente perceber que sua sensibilidade está realmente à flor da pele! De qualquer maneira não podemos deixar de reconhecer que essa é, sem dúvida, uma versão de alto nível. Infelizmente a parte "Atlanta" do CD conta com pouquíssimos registros nesse CD. Steamroller Blues, canção gravada dois dias depois, vem para encerrar a participação de Elvis na cidade da Georgia. Essa faixa é extremamente bem executada, com Elvis e banda totalmente entrosados. Segue muito de perto da versão do disco "Aloha From Hawaii", exceto com alguns solos mais destacados de piano e baixo. Mesmo assim não é algo que fuja muito do que já estamos acostumados a ouvir nas outras versões desse blues.

Depois de encerrar as quatro músicas gravadas em Atlanta o CD apresenta, de forma dispersa, vários momentos diversos de apresentações diferentes. Infelizmente Ernst as embaralhou completamente e para seguir uma certa lógica vou ignorar a ordem das canções do CD para organizá-las de acordo com o local e a data em que foram gravadas. Pura questão de organização. Vamos agora analisar as canções que foram gravadas em Macon no mesmo Estado da Georgia. Tenho certeza que você agora se lembrou do famoso verso de introdução de "I washed my hands in muddy water" que diz: "I was born in Macon, Georgia / They kept my daddy over in Macon jail...". Lembrou? Pois bem, continuemos, vamos seguir em frente com a análise. A versão Promised Land desse CD vem para confirmar um fato que se repete em vários outros shows de Elvis Presley nos anos 70. Embora essa canção de Chuck Berry tenha se traduzido em um dos maiores momentos da carreira de Elvis em estúdio naquela década, com uma versão fantástica e impecável, notamos que, com raríssimas exceções, as versões ao vivo desse rock sofrem de praticamente o mesmo mal: a falta de pique, garra e envolvimento por parte de Elvis ao cantá-la! Aqui o cantor se arrasta, não consegue entrar em sincronia com a banda e coloca seu vocal no controle remoto. Uma pena. A forma como foi gravada também não ajuda em nada, pois os teclados estão em primeiro plano, sendo que eles apenas são partes periféricas da canção e não deveriam ser expostos de forma tão destacada, superando e abafando até mesmo o resto da banda. Esse erro técnico no momento da gravação é facilmente explicado pois esse é um registro semiprofissional, sem os cuidados necessários e balanceamento correto entre os vocais e demais instrumentos.

Em decorrência disso notamos outro grande problema ao ouvir a versão: a orquestra simplesmente desapareceu na mixagem final! Para quem não gosta dos arranjos de metais isso pode até soar como um aspecto positivo, mas a descaracteriza como ela foi realmente pensada pelos arranjadores que estavam envolvidos na carreira de Elvis na época. Como nota favorável temos apenas a presença bem marcante dos solos de guitarra, que ao contrário dos metais, não desaparecem e cumprem excelente papel. Infelizmente James Burton também não está muito empolgado e sua participação soa burocrática. Não o culpo, se Elvis não se envolve em nenhum trecho da canção, por que ele se empenharia? Essa versão foi gravada no show realizado em Macon, Georgia, no dia 24 de abril. A outra canção presente nesse CD do mesmo show, Big Boss Man, parece confirmar que Elvis estava realmente pouco empolgado, embora nessa segunda canção ele esteja bem mais ligado na canção. O problema de faixas como Big Boss Man e Promised Land era que Elvis simplesmente não levava mais a sério esse tipo de música. Geralmente elas eram usadas apenas para evitar que o show caísse na monotonia. Uma forma de despertar e balançar o público para evitar que a apresentação ficasse muito parada. Acredito que se Elvis apenas fosse cantar o que lhe agradava nessa fase de sua vida ele certamente iria interpretar uma balada atrás da outra durante os shows, coisa que afinal de contas acabou fazendo em sua carreira dentro dos estúdios no final de sua vida. E por falar em baladas românticas, melancólicas e tristes, a retenção do show em Macon acontece justamente com It's Midnight. Aqui Elvis parece confirmar a tese de que ele realmente não estava mais preocupado em fazer boas versões de seus rocks mais conhecidos mas até que se empenhava, e muito, em disponibilizar belas versões de suas baladas românticas. Mesmo fora de seu ritmo normal, mesmo estando acelerada, "It's Midnight" mostra um Elvis finalmente envolvido na interpretação. Ao contrário das canções anteriores do mesmo show em Macon, aqui Elvis se mostra presente e não apenas cumprindo tabela. Embora seja outro erro técnico de gravação, a marcante presença da vocalização feminina, outra vez em primeiro plano, valoriza o belo vocal de Kathy Westmoreland. Belíssima voz e maravilhoso complemento a essa bela canção da fase final de Elvis.

Grande parte desse CD foi gravado em uma cidade de porte médio do sul, chamada Huntsville, localizada no norte do Alabama e bem na fronteira do Estado com o vizinho Tennessee, em cinco diferentes concertos realizados por Elvis nessa turnê. Essas apresentações nos dão uma idéia do ritmo acelerado e da estafante rotina de shows a que Elvis era submetido. Em apenas três dias ele subiu ao palco cinco vezes, sendo o primeiro show feito no dia 30, e mais quatro apresentações nos dois dias seguintes, sendo realizados dois concertos por dia, com Elvis se apresentando às duas e meia da tarde e depois subindo novamente ao palco para mais um show noturno às oito e trinta da noite. Todas essas apresentações foram realizados no mesmo local, o Von Braun Civic Center com capacidade para oito mil pessoas (o nome do ginásio se explica, pois a cidade sempre teve um passado muito ligado ao projeto espacial dos EUA). Aqui também temos uma ideia de como funcionava a mentalidade circense do empresário de Elvis, Tom Parker. Quando chegavam em uma cidade como essa, Tom Parker e seu assistente pessoal ficavam de olho, acompanhando o ritmo das vendas de ingressos. Se o show fosse esgotado e ainda houvesse público suficiente para uma nova apresentação o Coronel Parker não perdia tempo! Ora, se ainda havia público interessado em ver Elvis ao vivo não havia tempo (e dinheiro) a perder, o Coronel sempre arranjava um jeito. Ele logo providenciava uma maneira de não deixar a oportunidade de lucrar ainda mais passar por suas mãos. O plano inicial era de Elvis realizar apenas três shows noturnos na cidade. Porém como a procura de ingressos foi muito grande, o Coronel logo marcou mais duas apresentações no turno da tarde! Isso causava um sério problema para Elvis, porque assim ele praticamente ficava sem dormir, pois era justamente nesse horário vespertino que ele costumava dormir e descansar entre as apresentações. Mas para Tom Parker isso não tinha nenhuma importância, ele rapidamente marcava os shows e colocava suas velhas táticas de promoção em ação. Sua forma de vender os shows de Elvis não tinha mudado nada em mais de vinte anos ao lado do cantor.

O mais incrível é saber que a velha tática de promoção de Parker ainda se revelava eficaz nessas ocasiões. Basta ver o sucesso de público desses shows. Nada mudava e o empresário de Elvis sempre repetia a mesma estratégia, cidade após cidade. O Coronel alugava horários nas rádios locais para tocar exclusivamente músicas de Elvis, espalhava posters e até mesmo balões pela cidade, e anunciava seu show até mesmo em carros com alto falantes pela cidade e arredores. Se houvesse um circo na cidade o Coronel não perdia tempo e logo contratava uns malabaristas para promover o show de Elvis nas principais vias da cidade. Era uma loucura que sempre funcionava. O importante mesmo era faturar em cima do interesse de uma apresentação de um grande astro como Elvis Presley numa cidade como Huntsville, que muitas vezes ficava fora do circuito de concertos de grandes artistas da época. Talvez essa fosse realmente uma coisa correta que o Coronel fazia, levar Elvis para lugares que muitas vezes eram ignorados por outros astros. Levar o artista aonde o povo está! De qualquer forma esse tipo de atitude empresarial de Tom Parker se revelou acertada, pelo menos nessa ocasião. Vamos agora analisar as canções desses shows. O primeiro concerto em Huntsville foi realizado na noite do dia 30 de maio, mas infelizmente nada dessa apresentação inicial foi aproveitada no CD. Em compensação o segundo concerto foi muito bem explorada por Ernst Jorgensen. Desse show, realizado na tarde do dia posterior, foram retirados as seguintes músicas: Trouble, T-R-O-U-B-L-E, Hawaiian Wedding Song, Blue Suede Shoes e For The Good Times. Na primeira faixa desse show vespertino que ouvimos aqui, Elvis começa fazendo uma introdução da canção T-R-O-U-B-L-E: "We have a new record out, ladys and gentlemen, that has been out 2 or 3 weeks now, that’s called, T.R.O.U.B.L.E." mas logo muda de caminho e começa uma pequena versão de Trouble, velho sucesso de seu filme King Creole. Essa micro versão dura menos do que um minuto e nem deveria ter sido creditada na lista das músicas do CD.

Elvis logo a encerra de forma repentina (muito provavelmente por não se lembrar mais de sua letra) e começa finalmente a apresentar T-R-O-U-B-L-E, carro chefe de seu último disco, "Elvis Today". Embora comece bem a canção, lá pelo meio da canção surge um problema muito freqüente para Elvis em concertos dos anos finais de sua carreira, o esquecimento ou confusão nas letras. Aqui Elvis se enrola, ri, fica um pouco confuso mas resolve seguir adiante, aos trancos e barrancos! De qualquer forma, depois desse pequeno deslize (e outros erros que surgem no decorrer da faixa), Elvis se recupera bem e leva a canção de forma correta até o final, que também é bem interessante e foge um pouco da master oficial que conhecemos de estúdio. É uma versão apenas razoável e demonstra que apesar de sofrer às vezes com o esquecimento das letras, Elvis poderia se recuperar facilmente e disponibilizar material com certa qualidade quando se esforçava para isso. Pelo menos aqui ele está muito melhor do que na versão de Promised Land que já ouvimos (outro carro chefe presente nesse CD). A agradável Hawaiian Wedding Song surge logo a seguir e aqui Elvis apresenta uma bela versão, correta e sem máculas. Ele se desculpa com a plateia, que pede Blue Hawaii, e sai pela tangente apresentando essa canção do mesmo filme e com uma letra bem mais fácil para ele se recordar. Infelizmente ela é seguida de mais uma versão medíocre de Blue Suede Shoes dos anos 70. Novamente temos uma versão que dura pouco mais de um minuto, com Elvis não a levando a sério em nenhum momento e que, como já escrevi antes, só servia mesmo para acordar a plateia e chamar a atenção de todos que aquele que estava ali no palco era o mesmo Rei do Rock que virou a cultura mundial de ponta cabeça durante os anos 50. A canção é isso, um mero (e bem burocrático) memorando!

O melhor momento desse primeiro show em Huntsville vem com For The Good Times. Essa versão, além de ser bem rara, ainda traz um belo momento de Elvis, com vocalização sóbria e equilibrada e com um entrosamento quase perfeito com seu grupo. Sua semelhança e fidelidade de execução realmente é espantosa, pois está bem próxima da versão oficial. Elvis está sutil, concentrado e empenhando em fazer uma bela versão. O resultado não poderia ser outro: o melhor registro do CD até esse momento. Embora esse show da tarde seja bem na média, com poucos momentos realmente interessantes e que saiam do comum, ele ainda é considerado o melhor feito por Elvis naqueles três dias estacionado em Huntsville. Depois do primeiro contato com o público Elvis foi perdendo gradualmente o interesse nos shows seguintes, tanto que apenas duas canções do show noturno foram aproveitadas nesse CD. A primeira é I Can't Stop Loving You. Embora alguns tenham tratado essa versão com adjetivos exagerados como "maravilhosa" e "poderosa", temos que cair na real e chegar a conclusão que ela está bem na média de todas as outras versões que Elvis produziu dessa música. Aliás ela já estava totalmente saturada por essa época, tanto que Elvis a descartaria rapidamente a partir desse momento, talvez por não aguentar mais cantá-la em outras e repetidas vezes! Razoável, bem executada, tecnicamente boa, porém banal e rotineira.

Isso definitivamente não é o que acontece com I'm Leavin'. Que música maravilhosa, fantástica e bela! Essa canção é tão bonita que ainda me lembro da primeira vez que a ouvi, lá nos distantes anos 80! Definitivamente um das mais belas harmonias já cantadas por Elvis Presley. O registro dessa versão ao vivo é precioso por inúmeros motivos. O primeiro deles é o fato de Elvis quase nunca a apresentar em seus shows! Uma canção tão fantástica deveria ter sido mais explorada por Elvis em seus concertos ao vivo, mas nunca ganhou um papel de maior destaque ou se firmou em seu repertório de forma definitiva. Só podemos lamentar esse fato. Outro fator que torna essa versão especial é sua qualidade técnica. Podemos ouvir com certa nitidez todos os instrumentos, a orquestra, a banda TCB (com destaque especial para a bateria) e o vocal de apoio. Não é uma maravilha, até porque se trata de um soundboard, porém estamos bem próximos de uma qualidade técnica de alto nível sonoro. Por fim, o último fator que a torna especial é a própria interpretação de Elvis durante sua apresentação. Bem distante de sua postura de desinteresse e tédio que o acometia quando cantava seus antigos rocks, aqui Elvis se entrega totalmente ao lirismo ímpar da música. O resultado final é brilhante e a faixa é a melhor, sem nenhuma sombra de dúvidas, de todo o CD. Embora o restante do material de Huntsville não traga mais nada de novo e nem remotamente tão interessante como "I'm Leavin'", podemos ainda destacar algumas versões interessantes.

Release Me gravada na tarde do dia 1º de junho é uma delas. Embora não fosse nenhuma novidade, ainda era uma estranha no ninho no repertório de Elvis nesse ano de 1975. Aqui Elvis desacelera a velocidade normal da canção, o que a prejudica, pois seu ritmo correto, que foi utilizado na versão master do disco "On Stage", é muito mais satisfatório. A sensação que Elvis passa aqui é de estar com pouca vontade de levar em frente e terminar a música. Vale como registro. A outra canção retirada desse mesmo show da tarde é o clássico Heartbreak Hotel. Aqui Elvis repete o velho erro que quase sempre o acometia quando apresentava seus velhos sucessos dos anos 50. Ele se mostra pouco interessado, pouco envolvido, quase como se estivesse segurando o riso e na parte da execução se limita a murmurar preguiçosamente a letra. Elvis deveria ter mudado um pouco esse tipo de postura, não só em respeito ao seu público, como também ao seu passado, pois se não fossem todos esses clássicos ele certamente não estaria ali fazendo mais um show com lotação esgotada. De qualquer maneira o ponto positivo desse penúltimo show de Elvis em Huntsville é que ele apresenta uma boa sonoridade. Tecnicamente perfeita não é, nenhum CD ao vivo do selo FTD é perfeito no aspecto puramente de qualidade sonora, mas podemos perceber que pelo menos esse concerto em particular foi suficientemente bem registrado. Por fim chegamos nas três últimas canções retiradas das apresentações realizadas por Elvis nessa cidade, a saber: Polk Salad Annie, I'll Remember You e Little Darlin'.

Antes de iniciar Polk Salad Annie Elvis começa a canção Burning Love, porém a interrompe logo nos primeiros versos. A situação fica um pouco embaraçosa, principalmente depois que ele tenta se lembrar da letra e não consegue. Então sua vocalista começa a lhe passar a letra do primeiro verso, Elvis se enche um pouco daquela coisa toda e parte logo para Polk Salad Annie. Aqui podemos perceber que Elvis, depois de cinco shows seguidos, já estava um pouco de saco cheio. Ele nem insiste em tentar terminar (ou melhor dizendo começar) Burning Love, ele simplesmente a descarta! Aliás verdade seja dita, Burning Love nunca foi parte de sua lista de músicas preferidas, tanto que ele foi praticamente levado a gravá-la em estúdio e depois que ela se tornou um grande hit ele se viu na obrigação de apresentá-la nos concertos, mas quase sempre sem muito envolvimento e emoção. A versão de Polk Salad Annie desse último concerto em Huntsville é muito boa e interessante. Percebe-se claramente que Elvis se empenha em cantar direito, até mesmo para acabar com a má impressão deixada pelo fiasco de "Burning Love". Como as versões dessa época Elvis não apresentam a introdução falada e parte logo para a segunda parte da canção. Enfim, mais uma versão de "Polk Salad Annie" para a sua coleção das milhares de outras. O destaque maior fica mesmo com a participação da banda TCB e principalmente pelos solos do baixista Jerry Scheff (que chegou a tocar com os Doors em seu último disco, "L.A. Woman").

I'll Remember You, conhecida canção de seu show Aloha From Hawaii (como ele mesmo deixa claro no começo da execução) aparece de psraquedas no show. Essa música nem sempre foi muito utilizada por Elvis, porém as versões Off Aloha que conhecemos sempre mantiveram um nível satisfatório, tanto nos aspectos puramente técnicos como também de interpretação por parte de Elvis, sem dúvida era uma melodia que muito lhe agradava, tanto que sempre procurava apresentar belas versões para seu público. A última canção retirada dos shows em Huntsville é Little Darlin'. Essa canção era nova no repertório de Elvis e foi incluída por ser um símbolo dos anos dourados. Aqui Elvis certamente se posicionava como um artista nostálgico e o alvo era certo quando apresentava músicas como essa: seus antigos fãs dos anos 50. O mais interessante de quase todas as versões dessa canção é que Elvis quase nunca a levava muito à sério, sempre rindo ou tentando conter o riso, além disso ele sempre aproveitava a deixa para tirar uma onda em cima do arranjo "bons tempos" da famosa baladinha. Depois disso Ernst resolveu acrescentar as despedidas finais de Elvis para o público em Huntsville. O cantor agradece e é muito celebrado pelo público. Infelizmente um dos grandes pecados desse CD é justamente a desorganização em que as faixas foram colocadas, misturando canções gravadas em shows e apresentações diferentes! Deveria ter sido respeitado a ordem cronológica dos concertos, porém Ernst escolheu o caminho mais fácil de juntar tudo num só balaio para causar a falsa impressão de se estar ouvindo um show completo e não uma coletânea de momentos diversos de turnês específicas. De qualquer forma essa canção encerra a parte Huntsville do CD. São ao total doze canções retiradas desses quatro shows (lembrando que o CD não traz nenhuma faixa da estreia de Elvis nessa cidade).

Para quem quiser conhecer um pouco melhor esses concertos aconselho adquirir o Bootleg Huntsville'75 USA. Depois de explorar bem os shows realizados em Atlanta, Macon e principalmente Huntsville (que formam o esqueleto básico desse CD), Ernst Jorgensen resolveu completar o CD pincelando pequenos momentos de outras apresentações. De seu show em Mobile, por exemplo, Ernst resgatou uma versão de Bridge Over Troubled Water. Embora muito distante das versões da segunda temporada de 1970, consideradas as melhores de toda sua carreira, essa faixa é certamente razoavelmente bem executada e traz um Elvis inspirado em certos momentos. A velocidade da canção está bem fora de seu ritmo normal e apresenta oscilações rítmicas que soam, às vezes, desconfortáveis. Além disso ela não é tão bem gravada como tantas outras que conhecemos. Por outro lado Elvis parece estar envolvido, apesar de se segurar em alguns momentos para não forçar a voz. Apesar de todos esses pequenos problemas a versão ainda consegue se manter em um nível um pouco acima da média.

Do concerto realizado em Memphis no dia 10 de junho de 1975, Ernst resgata uma boa versão de Fairytale. Qualquer canção que fugisse do velho repertório cansado de Elvis por essa época era muito bem-vinda. Essa canção foi incluída para promover o último disco de Elvis, "Elvis Today" ("Elvis today, yesterday...however...tomorrow..." como brinca o cantor antes de começar a faixa). Aqui também notamos a guinada de direção que Elvis, de certo modo, promoveu em sua carreira de estúdio. Saem os rocks (tão presentes nos anos 50), as músicas pops (tão presentes nas trilhas sonoras) e entra as baladas e o country! Obviamente que em uma turnê no sul dos EUA Elvis tinha que caprichar nesse ritmo tipicamente regional, fato confirmado com Jambalaya gravada na pequena Lake Charles no dia 2 de maio! Aliás a inclusão de Jambalaya era muito oportuna, visto que ele estava na Louisiana, Estado vital na história de Hank Williams, cantor e mito do gênero gountry, morto precocemente. Pena que a versão dure pouco mais de trinta segundos!

A última versão pincelada de outros shows para completar o CD é Help Me Make it Throught The Night. Ela vem apenas para confirmar o que escrevi antes, da preferência visível demonstrada por Elvis pelas baladas countrys. A música tinha sido lançada três anos antes no disco "Elvis Now" e nunca conseguiu se firmar com maior frequência dentro do repertório de Elvis. A versão em estúdio deixa um pouco a desejar e essa versão ao vivo também. Apesar de ser bem raro para o fã médio ter essa música gravada nos palcos, percebemos nitidamente que ela é apenas razoável, sem grandes destaques. Elvis, apesar de rir um pouco no começo da execução, procura ser profissional no resto da faixa e a canta de forma correta. O fato é que podemos perceber que essa canção não funcionava muito bem ao vivo, pois era de levada mais intimista e calma, pouco apropriada para grandes concertos. De uma forma ou outra ela seria descartada pouco depois.

Conclusão final: Aconselho esse título especialmente para os fãs dos anos 70. Depois do Aloha From Hawaii Elvis entrou em uma etapa de sua carreira artística caracterizada por uma rotina, muitas vezes cansativa e tediosa, de shows ao vivo. Nenhuma dessas temporadas em Las Vegas ou turnês pelos EUA representavam mais qualquer tipo de desafio para Elvis Presley, porém mesmo estando de certo modo preso dentro dessa situação de muitos shows e pouca renovação musical, ele ainda se empenhava em fazer boas apresentações e concertos, como esses que ouvimos aqui. Obviamente todos esses registros foram selecionados a dedo por Ernst Jorgensen, certamente eles nos trazem apenas o que de melhor Elvis apresentou para seu público, mas isso já é suficiente para termos uma ideia de sua vida artística no período. Para quem quiser se aprofundar nessas apresentações o melhor caminho a seguir mesmo é o dos lançamentos não oficiais, os conhecidos Bootlegs, tanto soundboards (gravados diretamente da mesa de som usada nos concertos) como audiences (gravados pelos próprios fãs que assistiram ao show, diretamente da plateia), porém como já escrevi aqui antes, essa é uma outra história... Até a próxima, prezado leitor.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - A Minnesota Moment

Quando o selo FTD anunciou que lançaria mais um CD gravado ao vivo por Elvis em 1976 muitos fãs reclamaram. Bom, eu sou do tempo em que os fãs reclamavam quando não era lançado nada de novo e não quando se lançava material em demasia, mas enfim, os tempos são outros. O argumento dos insatisfeitos com o lançamento desse A Minnesota Moment era de que já havia sido lançado CDs demais desse ano, que nem pode ser considerado um dos mais brilhantes da carreira de Elvis. Em certo sentido eles tem razão. Embora haja um certo "excesso" de soundboards de 76 o fato é que em muitos deles ouvimos um Elvis Presley passando por dificuldades em realizar bons concertos, com problemas de voz e saúde e mostrando cansaço nos concertos. A Minnesota Moment é infelizmente um título que confirma essa regra.

Elvis está visivelmente fora de ritmo, cansado, demonstrando pouco interesse e empolgação. Sua voz também não brilha como em tantos outros bons momentos que conhecemos. Ao ouvir esse concerto de Minneapolis percebemos como Elvis precisava urgentemente de uma pausa na vida da estrada. Em alguns trechos das canções a voz dele simplesmente se omite, passando trechos inteiros em branco. Nas canções dos anos 50, que sempre necessitam de um pique a mais, Elvis escorrega e deixa praticamente todo o trabalho duro para a banda e seus vocalistas de apoio. Ele soa tão incrivelmente exausto e desinteressado que nem brinca com o público entre as músicas. A versão de Early Morning Rain, por exemplo, é simplesmente ridícula. Posso dizer que esse é um dos registros mais fracos de Elvis no palco que conheço. Péssimo.

Em termos de qualidade sonora também se nota vários problemas. O Soundboard não foi bem gravado, o grupo está abafado e muitos instrumentos estão simplesmente inaudíveis. O ponto positivo é que de certa forma assim a voz de Elvis se destaca mas como já escrevi antes, como esse show é nem um pouco brilhante, quase nada resta para se elogiar. As canções gravadas em Dayton são bem melhores, Elvis pelo menos demonstra interesse, o que já é uma grande coisa. Não são tecnicamente boas mas se compararmos com a preguiçosa performance em Minneapolis as faixas são bem superiores. Talvez seja o momento do selo FTD procurar outros caminhos, explorar novos aspectos da carreira de Elvis e dar um tempo em gravações medianas ou fracas como essa. O ano de 1976 realmente deve ser deixado um pouco de lado principalmente após o lançamento desse e do anterior, também extremamente decepcionante, América. Vamos aguardar por bons lançamentos daqui para frente então.

Elvis Presley - FTD A Minnesota Moment 
01. Also Sprach Zarathustra
02. See See Rider
03. I Got A Woman/Amen
04. Love Me
05. If You Love Me
06. You Gave Me A Mountain
07. Jailhouse Rock
08. All Shook Up
09. Teddy Bear/Don't Be Cruel
10. And I Love You So
11. Fever
12. Steamroller Blues
13. Introductions/Early Mornin' Rain
14. What'd I Say/Johnny B. Goode
15. Love Letters
16. School Days (Dayton, Oct. 26)
17. Hurt (Dayton, Oct. 26)
18. Hound Dog
19. One Night
20. It's Now Or Never
21. Mystery Train/Tiger Man
22. Funny How Time Slips Away
23. Can't Help Falling In Love
24. Fairytale (Sioux Falls, Oct. 18)
25. America (Sioux Falls, Oct. 18)
26. Hawaiian Wedding Song (Dayton, Oct. 26)
27. Blue Christmas (Dayton, Oct. 26)
28. That's All Right (Dayton, Oct. 26)

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Elvis Presley - Unchained Melody

Elvis Presley estava tão deteriorado em 1977 como lemos em algumas biografias? Essa é uma pergunta chave e começo meu texto justamente com ela. Hoje os registros de Elvis nesse fatídico ano estão à disposição de todos. Praticamente cada show do cantor está devidamente documentado em áudio, seja em gravações realizadas por seus próprios fãs, seja por espertos engenheiros de som que não deixaram passar a oportunidade de registrar os concertos do cantor, além é claro de todas as gravações ao vivo feitas pela própria RCA Victor na época. Ao ouvir todo esse grande acervo musical, que teve a grandeza de plastificar para a eternidade o trabalho desenvolvido por Elvis em seus anos finais, chego a conclusão que, no que diz respeito a aspectos puramente profissionais, existe muito exagero nas descrições de um Elvis mal se contendo em pé, praticamente se arrastando pelos palcos pelo qual passou em seu ano final. Não é bem por aí. Embora realmente existam concertos em que Elvis aparenta estar cansado ou até mesmo fora de ritmo, temos que reconhecer que, em grande parte do tempo ele se mostrava tão profissional quanto possível e procurava dar sempre o melhor de si, mesmo sob condições adversas de saúde. Muitos não levam em conta, por exemplo, a inacreditável maratona de apresentações a que ele submeteu, sendo claro que qualquer pessoa sentiria ou deixaria transparecer durante os shows certo cansaço e por que não exaustão! Então é isso, simplificações sempre devem ser evitadas. Diante das condições que sofria posso até mesmo afirmar que Elvis estava muito bem. Claro, havia toda a série de problemas que tão bem conhecemos, mas pense um pouco: Quantos profissionais conseguiriam manter sua capacidade de trabalho com tantos problemas de saúde e pessoais como os que Elvis vinha enfrentando? Certamente muito poucos. Por essa razão eu convido todos a ouvir com atenção esses últimos registros. Que tal tirarmos nossas próprias conclusões? Convite aceito, vamos ao CD, mais um belo lançamento do selo FTD.

O ano de 1977 começou para Elvis com compromissos em estúdio. Felton Jarvis planejava levar Elvis de volta à Nashville para novas gravações. O grupo foi reunido, o estúdio ficou pronto para as sessões mas Elvis nunca apareceu. Isso desapontou muito seu produtor pois ele estava convencido que gravar em Graceland era sempre uma má ideia. Além de não ser adequado e não contar com as condições técnicas necessárias o fato de se gravar canções em casa soava amador demais em sua visão. Gravar em Graceland era tão precário que bem no meio da música a gravação poderia ser arruinada pelo toque do telefone ou pelos latidos do cachorro como bem podemos ouvir no FTD "The Jungle Room Sessions". Felton Jarvis tinha plena razão, levar Elvis ao estúdio de Nashville era não só necessário como imperativo antes de se lançar um novo álbum. Para Jarvis as gravações de Graceland tinham de ser mescladas com gravações realmente profissionais feitas nos estúdios adequados daquela cidade. Porém, infelizmente, o tão sonhado álbum "profissional" idealizado por Felton Jarvis ficou apenas no projeto. Apesar de ter concordado com a RCA em ir gravar na cidade de Nashville logo após seu aniversário e ter garantido a Felton que estaria no estúdio para gravar novas canções, Elvis simplesmente não apareceu para cumprir suas promessas. Provavelmente Elvis não apareceu por estar realmente exausto. Em 1976 ele cumpriu uma maratona de shows impressionante. Apesar de realizar uma temporada apenas mediana em Las Vegas no final daquele ano o cantor não entrou férias durante as festas de fim de ano. Novamente se apresentou durante o réveillon e praticamente passou o dia de ano novo dentro de seu avião cruzando os céus dos EUA. Isso vem para reforçar ainda mais o que escrevi antes: o excesso de compromissos, um atrás do outro, debilitaria qualquer artista, tenha ele ou não problemas de saúde como os que Elvis vinha enfrentando em 1977. De qualquer forma as sessões foram canceladas por tempo indeterminado e Elvis saiu em turnê.

A grande maioria das canções desse CD foi gravada justamente em Charlotte na Carolina do Norte durante essa sua primeira turnê em 1977. Essa é uma típica cidade do interior dos EUA, sendo considerada naqueles anos de médio porte. Elvis assim pelo menos estaria um pouco fora da rota das pequeninas cidadezinhas no qual colocou seus sapatos de camurça azul durante os anos 70. Isso por si só já era um avanço. Aliás essa turnê, a primeira que Elvis realizou em 1977, foi bastante interessante. Apesar de ter sido um curto compromisso Elvis fez boas apresentações. Nessa cidade Elvis fez dois concertos, os últimos da turnê, com uma plateia estimada em 12.000 pessoas. Esse dado por si só já é bastante curioso. Isso porque essa foi uma turnê de altos e baixos em termos de bilheteria. Em Columbia, só para termos uma idéia, Elvis levou mais de 20 mil pessoas ao seu show. Em compensação em West Palm Beach Elvis levou apenas 5 mil pessoas ao seu concerto, sem dúvida um número nada razoável para Elvis fora de Las Vegas! [1]. Claro que temos inclusive de levar em consideração a estrutura física dos próprios locais onde os shows foram realizados, mas de qualquer forma não deixa de ser uma montanha russa em termos de vendas de ingressos. Numa noite Elvis levantava uma ótima bilheteria para já no dia seguinte receber uma plateia bem mais modesta. De qualquer forma seus dois últimos shows em Charlotte foram bem recompensadores nesse aspecto. Pois foi aqui que a maioria das canções desse CD foram gravadas há mais de trinta anos. As demais músicas que foram inseridas por Ernst, por sua vez, já era bem conhecidas dos fãs e colecionadores. O show em Charlotte do dia 21 de fevereiro, por exemplo, já tinha sido lançado antes no conhecido bootleg "Moody Blue & Other Great Perfomances".

Outro CD, "Cajun Tornado" do selo Madison, também já tinha trazido à tona algumas canções dessa mesma apresentação [2]. Enfim, podemos perceber claramente que essa "coletânea" de gravações ao vivo do selo FTD nem é assim uma grande novidade, mesmo trazendo grande parte do show do dia anterior nessa mesma cidade. A falta de novidades também fica bem nítida ao compararmos os dois concertos. As duas apresentações são extremamente semelhantes e carecem de grande diferença. Apesar de tudo isso, não podemos deixar de levar em consideração que lançamentos ao vivo com Elvis Presley nunca são em demasia, ainda mais para quem é fã de longa data. Devo confessar que sempre gostei muito dos CDs gravados em shows realizados por Elvis no ano de 1977. Deles, Spring Tours do selo FTD ainda é o melhor na minha opinião. Melhor até do que a trilha sonora do especial Elvis in Concert [3]. Por essa razão é um grande prazer tecer diversos comentários sobre mais um lançamento do selo FTD enfocando o trabalho de Elvis nos palcos durante seu último ano de vida. A primeira constatação é que, assim como sua vida pessoal, o concerto é uma montanha russa com altos e baixos e vamos percebendo isso com clareza durante toda a audição. Logo na primeira canção já temos uma pequena ideia do que estar por vir. O CD infelizmente começa com Love Me. Por que infelizmente? Simples. Essa é uma das mais fracas versões de Love Me que já ouvi. Elvis parece estar sem fôlego, cansado, desinteressado. Em certos momentos o cantor parece mesmo com preguiça de cantar os versos (realmente alguns passam em branco mesmo, com Elvis perdendo a deixa para sua parte!). O grupo vocal se esforça, tenta cobrir os buracos, mas não há como disfarçar. Ao ouvir essa primeira música ficamos com a impressão que o resto do concerto vai ser um desastre. Afinal se Elvis está tão mal assim no comecinho do show imagine o resto! Ainda bem que o concerto de Charlotte, onde as primeiras quatorze faixas desse CD foram gravadas, ainda tem muito a oferecer.

As coisas começam a melhorar exatamente na faixa a seguir. Fairytale é um country agradável, simples porém bastante interessante para Elvis, principalmente quando ele saía em turnê por pequenas cidades do Sul. Claro que em nenhuma hipótese seu público iria esquecer que estava diante de um grande pioneiro do Rock, porém quanto mais concessões fossem feitas para os sulistas, melhor. Esse aliás é um ponto pouco entendido por pessoas que escrevem sobre os anos finais de Elvis. Muito já foi escrito sobre o fato do cantor ter virado as costas para o ritmo que o consagrou mundialmente. É uma simplificação. Temos que ter em mente o contexto histórico de um intérprete sulista cantando para um público também sulista. Como ignorar Nashville e toda sua tradição country ainda mais quando a cidade foi tão marcante para Elvis em estúdio? Simplesmente impossível. Todos que afirmam que Elvis virou um cantor chato e country no fundo apenas desconhecem toda sua carreira. É fato que Elvis cantou canções da terra em todos os períodos de seu estrelado, até mesmo na sua fase mais rocker. De fato, a próxima canção apresentada por Elvis, You Gave Me A Mountain, de certa forma serviria muito mais de munição para os críticos do cantor. Afinal, onde já se viu um artista denominado "Rei do Rock" apresentar tamanho dramalhão? A canção, para muitos, é considerada extremamente dissonante do legado artístico do astro. Outra simplificação boba. Certamente ela realmente possui uma estrutura rítmica que evoca grandiosidade excessiva de arranjo (principalmente metais) para se impor e causar impacto! Clichê? Pode ser, porém seu grande mérito é sem dúvida o fato de proporcionar belíssimas oportunidades para que Elvis soltasse o vozeirão! "Mountain" é uma música barroca, vamos dizer assim. É excessiva, descabelada, despudorada, porém nunca irrelevante. Aqui temos uma bela versão do cantor, não há dúvidas. Bem executada com Elvis apresentando uma seriedade cada vez menos presente em seus últimos momentos.

E para os eternos "órfãos" dos anos 50, Jailhouse Rock vem logo a seguir. Interessante que "Jailhouse" acabou sendo muito presente no último ano de vida de Elvis. Certamente essas versões apresentadas por Elvis pouco, ou nada, tinham da mitológica gravação dos anos 50. Aliás Elvis demonstrava duas coisas quando apresentava Jailhouse Rock em seus últimos concertos. Primeiro que o pique e a forma original de interpretá-la tinham realmente ficado para sempre em um passado distante, para ser mais exato em 1957. Essa canção, que sempre foi considerada um dos maiores registros de Elvis em estúdio durante os mais gloriosos anos de sua carreira, acabou virando, infelizmente, apenas uma pálida lembrança nos palcos durante os anos 70. A segunda constatação a que chegamos é que esse novo arranjo, típico da última década da carreira de Elvis, de certa forma estragava seu ritmo e arranjo originais a deixando desfigurada. E por falar em estragar antigos clássicos, nada era mais equivocado do que a introdução inicial de Sherril Nielsen em O Sole Mio / It's Now Or Never. Interessante é o fato de saber que Elvis adorava a vocalização de seu cantor de apoio. Aliás o Voice, grupo exclusivamente vocal formado por músicos que estavam desempregados naquela época foi pensado, formado e arranjado inteiramente por Elvis. Então se alguém é culpado aqui é o próprio Rei do Rock. No tocante a interpretação de Elvis temos que constatar que ele aqui está mais desinteressado e entediado do que o habitual. Perceba como Elvis pouco se importa em disponibilizar uma boa interpretação, muito pelo contrário. Elvis perde a deixa várias vezes, resmunga alguns versos e solta risadinhas durante toda a execução, não se sabendo se ele está rindo de alguma piada ou da própria música em si. Esse tipo de comportamento, inofensivo de uma forma geral, acabava dando farta munição para seus críticos. Não era outro o argumento daqueles que atacavam Elvis em seus últimos anos ou que o chamavam de "uma paródia de si mesmo"! Para esses articulistas a atitude de Elvis em não levar alguns de seus antigos grandes sucessos como "It's Now Or Never" a sério, só servia mesmo para confirmar a tão falada "decadência" do cantor. Não chegaremos a tanto.

Na verdade Elvis, muitas vezes, nem mesmo se levava a sério. Era mais um aspecto de sua personalidade, tanto nos estúdios como no palco. Definitivamente era mais uma postura do que um sintoma de que algo estava seriamente errado com ele. De qualquer forma temos que reconhecer que essa é realmente uma versão muito fraca, tanto do ponto de vista do grupo Voice como de Elvis, sendo que o arranjo também nada acrescenta, haja vista o já tão reconhecido exagero por parte dos metais, o que levou um jornalista da época a perguntar de forma irônica em seu artigo se "as cornetas no show de Elvis estavam lá apenas para estourar nossos tímpanos ou exerciam alguma outra função?" Apesar da ironia não deixa de ser uma pequena verdade. Little Sister demonstra um Elvis à vontade no palco. Brincando e interagindo com a plateia ele até que disponibiliza uma boa versão da canção, praticamente completa e bem executada. Apesar de brincar muito antes de começar a cantar Elvis até que se segura e a canta bem. Aliás fazendo uma rápida comparação com duas outras versões bem conhecidas dos fãs chegamos facilmente a conclusão que essa realmente é uma das melhores. No álbum Elvis in Concert, por exemplo, temos uma versão gravada em Omaha no show do dia 19 bem mais inferior, pesada (no sentido de ser arrastada), sem fluidez e que dura pouco tempo. Aqui nem o som consegue soar melhor.[4] A outra versão bem conhecida é a do FTD Spring Tours 77. Embora seja melhor do que a do disco In Concert, essa versão peca por ter pouco pique, pouca garra. Enfim, a Little Sister desse álbum se mantém bem acima da média. Teddy Bear / Don't Be Cruel vem logo após para confirmar a saturação de seus antigos clássicos executados durante os anos 70. Embora as melodias fossem imortais e mantivessem o velho brilho o cantor nem sempre se esforçava. Elvis parece disperso, distraído, pouquíssimo envolvido. Em certos trechos novamente notamos toda sua má vontade: excesso de risinhos, trechos passando em branco, vocalistas de apoio tentando dar conta do recado e Elvis totalmente desinteressado. Nem os acordes mais do que clássicos de "Don't Be Cruel" conseguem animar o cantor. Como um fã incondicional dos anos 50 realmente fico muito chateado com o suposto desprezo que Elvis dispensava para todas essas canções que um dia mudaram o mundo e o transformaram no mito que ele foi.

Sinceramente acredito que se Elvis não estava mais no velho espírito roqueiro que as dispensasse de uma vez e se concentrasse mais em canções como My Way, que vem logo a seguir. Aqui temos uma bela versão, corretamente interpretada. De todas as canções essa talvez fosse a mais sintomática do que Elvis vinha passando em sua vida pessoal. O recado estava dado, Elvis certamente se identificou com o teor e conteúdo da letra, trazendo em sua interpretação certamente uma forte dose de verdade sobre o que pensava, sonhava e sentia o antigo ídolo de uma geração, agora prestes a enfrentar seu destino de uma vez por todas. Depois de seu final apoteótico caímos na faixa denominada Moody Blue (intro only). Sinceramente não entendo certas atitudes de Ernst, por exemplo. Já que o concerto não está completo por que afinal de contas apresentar um trecho como esse, que nada acrescenta e só depõe contra Elvis e seu estado? Aqui temos o cantor perdido, sem saber a letra de sua nova canção, levemente constrangido, insinuando uma piadinha atrás da outra para disfarçar o fato de não conseguir executar uma canção como Moody Blue. Enfim, totalmente desnecessária. Quer um conselho? passe adiante, direto para a faixa seguinte. Agindo assim não estarás perdendo absolutamente nada. How Great Thou Art e Hurt, as duas canções que vem logo a seguir, nos chama a atenção para um vício muito comum em certos intérpretes. É aquilo que denomino "Overact", um estrangeirismo que significa interpretar com extremo exagero, com a única finalidade de se causar impacto em quem ouve a música. Um leigo diria que seria o ato de um cantor "gritar" para impressionar a plateia ao invés de "cantar" com sentimento verdadeiro. Isso é muito comum hoje em dia, principalmente na nova geração de cantoras que estão por aí. É um vício muito comum, que só "impressiona os impressionáveis" como diria um grande amigo que tenho. Pois Elvis também peca em certos registros que ouvimos. De suas canções essas duas eram as que mais sofriam desse tipo de problema. Principalmente no final da vida percebemos que Elvis muitas vezes exagerava, estourando as caixas de som. Aqui até que temos uma certa moderação por parte do cantor, coisa que certamente não acontece quando ouvimos certos bootlegs em que Elvis realmente perde o tom certo.

Hurt está contida e bela, com Elvis dispensando risinhos na parte falada (o que já é um ponto positivo) e levando a canção até um final razoável com direito a um pequeno bis do verso final (com leve "overact", é bom frisar). Já How Great Thou Art sofre nesse aspecto um pouco mais. Até hoje não consegui achar uma versão melhor do que a que está no álbum oficial gravado ao vivo em Memphis em 1974. Algumas outras versões são ruins, outras exageradas, sendo que o tom certo, exato e líquido, foi realmente encontrado naquele disco (não me causa surpresa o prêmio Grammy por interpretação tão inspirada). Já essa versão que está presente nesse CD fica na média, nem medíocre e nem muito menos brilhante. Posso até mesmo afirmar que apesar do "grito" dado por Elvis na evocação divina ele claramente se poupa e se posiciona na defensiva, poupando a voz. Estaria a plateia bem mais apática do que costume aqui nessa apresentação? Complicado chegar a uma conclusão pois bem sabemos que o melhor tipo de CD para se saber com exatidão como estava o estado mercurial de um público são justamente aqueles gravados no meio do público (os já citados "audiences"). A próxima música apresentada, Hound Dog, é medíocre. Ponto final. Poderia exclamar ou desenvolver o tema, porém como avaliar uma interpretação tão preguiçosa e sem envolvimento como essa? O único mérito parte de seu grupo, visivelmente encobrindo as falhas de Elvis em sua descuidada performance. Felizmente Elvis se reabilita com Unchained Melody logo em seguida. Como sempre uma bela versão, mesmo que Elvis a interrompa de forma desnecessária. De qualquer forma ele recomeça sua famosa virtuose ao piano! Virtuose?! Será mesmo?! Temos que levar essa expressão em seus devidos termos. É certo que Elvis não era um grande instrumentista. Tocava violão e guitarra apenas razoavelmente, chegou a estudar baixo elétrico durante os anos sessenta e ao piano conseguia tirar algumas notas.

Não era um músico que dominava a técnica em graus elevados, era um instrumentista apenas amador para dizer a verdade. Em "Unchained" temos uma boa amostra de Elvis ao piano. Notas simples, com trechos repetitivos, nada muito espantoso. Se há um grande mérito nessas versões dessa canção ele se resume ao fato de Elvis realmente tentar apresentar algo de novo, algo inovador (mesmo que a música em si não fosse inovadora, haja vista ter sido lançada anos antes!). Certamente me refiro mais ao fato de Elvis quebrar um pouco a estrutura de seus concertos pois só o fato de se sentar para tocar piano já era uma grande novidade para quem acompanhava suas performances. Can't Help Falling In Love vem, como sempre, para encerrar a parte do CD que traz o concerto de Elvis Presley em Charlotte. Essa que talvez tenha sido uma das poucas reminiscências dos trágicos anos em Hollywood aparece em uma versão que pode ser qualificada de mediana para medíocre. Apesar de muitos alegarem problemas técnicos a verdade parece ser simplesmente o fato de ouvirmos um Elvis exausto e totalmente sem fôlego para sequer acompanhar seu grupo. A maior parte da canção traz um Elvis sufocado e ausente, sendo que dessa vez temos nitidamente um cantor fora de ritmo, enquadramento e sintonia. O grupo vocal tenta tapar os buracos, mas não há como encobrir o sol com uma peneira. Elvis parece que desperta no meio da música para novamente desaparecer depois. Um dos mais fracos momentos do artista que já ouvi em minha vida. Um triste epílogo para esse show, que quero frisar não é ruim, mas sim rotineiro. Fica na média do que Elvis vinha apresentando naquela turnê.

(Bonus Tracks - Other Shows on the Tour): Depois das versões do show em Charlotte chegamos finalmente nas versões pinceladas por Ernst para completar o CD. Aqui ele resgata canções de Elvis em outros concertos, todas já lançadas anteriormente em diversos bootlegs. Sem grandes novidades essa "salada" fica como um tira gosto para que o freguês corra atrás do restante do material em sua íntegra, pois como todos sabemos a "ocasião faz o colecionador". Também cumpre o papel de "oficializar" o que já estava por aí há anos nas mãos dos colecionadores conceituados. Para os marinheiros de primeira viagem certamente são pequenas pérolas perdidas que vão despertar grande emoção. Veja o caso de Moody Blue. Não é todo dia que o fã comum tem oportunidade de ouvir uma versão ao vivo dessa música. Gravada também em Charlotte, mas no show do dia 21 de fevereiro, ela já tinha sido lançada antes no CD "Moody Blue & Other Great Perfomances". Aqui, como se trata de uma nova música, Elvis pede desculpas e utiliza da letra no palco para não errar. Bom, não pega bem, mas como o que nos interessa mesmo é ouvir a gravação em si, isso realmente não tem a menor importância. Elvis se empenha e apresenta uma boa versão, sem grandes erros (exceto uma pequena falha na terça parte final da música!). Mas, mesmo errando com a letra em mãos (como pode acontecer uma coisa dessas?) Elvis consegue levar bem até seu final. É uma novidade dentro do cansado repertório e por isso leva todos os méritos, independente de falhas de execução e letra. Enfim desconsideremos tudo, mesmo que ela seja tocada um pouco fora de sua velocidade normal, isso também não importa, pois o que vale aqui é ouvir Moody Blue ao vivo e só. Blueberry Hill e Love Letters foram gravadas no mesmo concerto realizado em St. Petersburg (uma cidadezinha nos EUA e não a famosa cidade russa). A curiosidade sobre a primeira é o fato de Elvis tocar algumas notas ao piano de sua introdução. Detalhe: já tínhamos ouvido algo nesse estilo no CD "Electrifying" do selo Bilko em 1997 [5].

A segunda canção, Love Letters, foi umas das raras músicas gravadas duas vezes por Elvis em estúdio durante sua carreira. Definitivamente a primeira versão, dos anos 60, ainda é a melhor na minha visão. Mesmo que não tenha tanta fluidez, a melodia e a interpretação de Elvis nesse primeiro registro nunca foi superada depois. A versão dos anos 70, apesar de ter dado título a um disco de inéditas de Elvis, não consegue trazer maiores inovações ao da primeira versão. É apenas uma releitura tardia (e para muitos inútil) de uma música que já tinha encontrado a versão definitiva na voz de Presley. Nesse registro ao vivo Elvis promove estranhas entonações, que apesar de curiosas, não contribuem para enriquecê-la de qualquer forma. Não resta dúvidas que podemos encontrar outros registros de palco bem melhores do que esse. Nessa altura todos sabemos do apreço de Elvis por canções religiosas. Where No One Stands Alone aparece aqui em rara versão ao vivo apenas para confirmar esse fato. A canção surgiu na discografia de Elvis no disco How Great Thou Art em 1967. Esse trabalho sacro foi extremamente importante para Elvis por causa do contexto histórico em que foi lançado. Naquele ano Elvis vinha de um longo declínio artístico, em baixa, com todos os críticos questionando sua verdadeira relevância musical. Os filmes e suas trilhas sonoras tinham, sem dúvida, aberto uma fenda no prestígio de Elvis como artista. How Great Thou Art foi um oásis de qualidade em um período de deserto criativo dos projetos que Elvis vinha apresentando ao seu público. Com ele Elvis ganharia o Grammy, prêmio pelo qual já havia sido indicado muitas vezes, sem obter vitórias, porém. A canção "Where No One Stands Alone", na verdade uma releitura da original de Mosie Lister, de certa forma não se destacou tanto assim dentro do conjunto desse trabalho, porém parece que fincou raízes profundas no espírito religioso de Elvis. Algumas peculiaridades chamam nossa atenção na versão de 1967. A primeira é a qualidade dos arranjos, com destaque para uma bonita dobradinha "piano e órgão".

Além disso Elvis exibe um belo vocal, extremamente concentrado e entrosado com os vocalistas de apoio. Dez anos depois Elvis a relembrou, meio que por acaso, durante sua apresentação na cidade de Montgomery, nesse mesmo mês de fevereiro de 1977. Elvis avisa que "nunca apresentou essa música no palco antes em sua vida". Após falar algumas palavras sobre as canções gospel e apresentar os vocalistas J.D. Sunmer e Nielsen do Voice, Elvis inicia sua versão ao vivo. Infelizmente não temos aqui uma versão tecnicamente isenta de falhas. O registro apresenta a marca dos tempos. No quesito puramente de talento Elvis se supera. Percebemos nitidamente como Elvis está envolvido, a cantando de forma envolvente e carismática, mesmo que demonstrando, em certos trechos, uma pequena, mas perceptível, perda de fôlego. Infelizmente essa versão ao vivo não tem também a preciosa qualidade de arranjo do disco original de 1967, como por exemplo a ausência do órgão típico desse tipo de canção, sendo substituído apenas pelo piano. Mas isso não lhe tira seus inegáveis méritos musicais. Acredito inclusive que o CD deveria levar como título o nome dessa canção e não Unchained Melody, que era bem mais comum nos concertos durante essa fase. Aqui temos sem dúvida o melhor momento do CD, não só pela boa e bela interpretação de Presley como também pela raridade envolvida em se ouvir o cantor a apresentando em seu ano final. Release Me e Trying To Get To You foram gravadas em Columbia no dia 18 de fevereiro de 1977. Após mais um piadinha Elvis dá a deixa para o grupo, que meio desencontrado é certo, dá início a uma versão lenta demais e para falar a verdade muito preguiçosa e desanimada. Dessa vez a culpa talvez nem seja do cantor mas sim de seu grupo de apoio que está letárgico. Tente ouvi-la e depois compará-la com a versão do "On Stage - February 1970". A diferença é abissal, algo como comparar um arranjo cheio de energia e vitalidade com um momento de sonolência lírica. Bem abaixo da média, apesar de Elvis não errar a letra e não soltar nenhuma brincadeira em sua execução. Já Trying To Get To You está na média. Nem muito inspirada e nem muito menos medíocre. Apesar de ser uma canção dos anos 50 Elvis pelo menos demonstrava certo respeito quando a cantava ao vivo, coisa que quase nunca acontecia com seus rocks clássicos, por exemplo.

Depois delas retornamos novamente ao concerto de Charlotte realizado no dia 21 para encerrar o CD com duas canções retiradas dessa mesma apresentação. A primeira delas, Reconsider Baby, nos chega em uma versão que já é bem conhecida, certamente. Considero esse blues, quando bem tocado e cantado, à prova de falhas. Aqui por exemplo temos um dos pontos altos desse CD. Se em Release Me temos um desempenho medíocre da banda de Elvis aqui temos um show do guitarrista James Burton que nos proporciona um excelente solo de seu instrumento, substituindo à altura o sax de Boots Randolph da versão original. Se tenho uma crítica a lhe fazer é o fato da música ter uma duração pequena, porém isso não importa no saldo final, pois a performance de Elvis fica aqui bem próximo de seus melhores momentos nos palcos durante 77. Após um blues visceral como Reconsider somos levados para o lado mais sacro da veia musical de Elvis Presley. Se em Where No One Stands Alone Elvis está visivelmente envolvido e concentrado, em Why Me Lord, a terceira versão gospel do CD, Elvis está mais disposto a brincar com J.D. Sunmer do que a cantar de forma extremamente profissional. As brincadeiras em Why Me Lord já vinham de longa data. Quase sempre Elvis aproveitava para se divertir um pouco. Aqui, apesar de se conter um pouco mais, Elvis a interrompe apenas para começar com suas conhecidas brincadeirinhas, fazendo uma vozinha fina, muito engraçada. J.D. não se contém e começa a rir. Quando pensamos que a versão está perdida Elvis a reconduz para um final precioso - o que só vem a demonstrar que mesmo nos momentos em que exibia seu ótimo bom humor Elvis podia passar sentimentos reais de fervor religioso. Até porque sua fé nunca foi motivo de controvérsia entre os autores.

Conclusão: Estamos na presença de mais uma coletânea de canções ao vivo. Assim como ocorreu em outros títulos (como por exemplo, Southern Nights) Ernst segue o mesmo esquema básico: grande parte de um show em particular, acrescidas de canções interessantes retiradas de outros concertos. O mais curioso é notar que, por simples raciocínio lógico, chegamos facilmente à conclusão de que temos material bastante farto desse período, até porque foram necessários pelo menos outros quatro soundboards para completá-lo. Assim cai por terra as afirmações que tudo o que havia de inédito sobre Elvis já foi lançado ou está prestes a chegar ao fim. Quem já ouviu obscuras versões de registros inéditos sabe do que estou falando. Mesmo que em sua estrutura Ersnt esteja chegando a um modelo básico notamos que novidades serão pinceladas gradualmente. De certa forma Unchained Melody segue o roteiro de outros lançamentos como já citei. Assim como Huntsville foi o tronco básico pelo qual foi erguido "Southern Nights" aqui temos a mesma função sendo exercida pelo concerto de Elvis em Charlotte no dia 20 de fevereiro de 1977. É um bom lançamento, indispensável para quem aprecia os anos 70 e o trabalho desenvolvido por Elvis nos palcos durante essa fase de sua carreira. Quanto mais registros tivermos acesso maior será nossa percepção do que realmente estava ocorrendo com o cantor, tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal - até porque em se tratando de Elvis Presley estas duas vias convergiam sempre para o mesmo lugar. Agindo assim, sem a necessidade de sermos levados pelas opiniões de terceiros, como biógrafos e autores, formaremos nossas próprias convicções, o que sem dúvida é o fator mais relevante nesse tipo de experiência.

Notas:
[1] Esse show de Elvis pode ser ouvido no ótimo bootleg "Coming On Strong".
[2] O CD "Cajun Tornado" trazia Reconsider Baby, Moody Blue, Release Me e Can't Help Falling In Love, todas gravadas no dia 21 em Charlotte.
[3] Gravado respectivamente em Rapid City e Omaha para a CBS.
[4] Recomendo os bootlegs "Candid Elvis on Camera" e "Softly As I Leave You" com os shows na íntegra de Omaha.
[5] CD que traz vários ensaios e partes de shows de Elvis realizados em 1970.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Moody Blue & Other Great Performances

Hoje me peguei ouvindo esse Bootleg de Elvis Presley, um título de que gosto bastante. Aliás eu sempre fui particularmente interessado nas turnês que Elvis realizou em 1977. Durante muitos anos ouvimos falar dos últimos shows de Presley, de que ele estaria caindo pelo palco, dando ataques e coisas do tipo. Tudo bobagem. Claro que ele não era mais o garotão de 1956 mas sim um homem de 42 anos, então seria mais do que óbvio que havia diferenças de performances entre seus primeiros anos e agora. De qualquer modo ouvindo o cantor em registros como esse não há como negar que dentro de suas condições físicas e emocionais Elvis ainda era capaz de produzir e trabalhar com qualidade e respeito aos seus fãs. 

Eu certamente já ouvi centenas e centenas de registros como esse e sempre admiro a capacidade de Elvis em trabalhar sem trégua, atravessando os EUA de costa a costa para se apresentar nas mais distantes cidades (uma pena que não tenha saído do país para visitar outros povos mundo afora, pois certamente seria um sucesso sem precedentes, até porque estamos falando de Elvis Presley um dos maiores ícones da música mundial). Pois bem, aqui está Elvis se apresentando nas cidades de Charlotte e Montgomery em fevereiro de 1977. Ouvir essas faixas é fascinante pois podemos até mesmo visualizar o grande cantor trabalhando com a dignidade que lhe era peculiar. E como disse há muitas preciosidades aqui. Das faixas eu destaco logo uma divertida versão de “Are You Lonesome Tonight?” onde Elvis mais uma vez erra a letra e dialoga de forma muito engraçada com uma mulher na plateia que tenta lhe ensinar os versos certos da canção. Aqui temos uma prova do bom humor do astro que não perdia a chance de fazer uma piada.

Em seus concertos Elvis usava um repertório básico que estava sempre à mão mas em algumas circunstâncias ele procurava inovar trazendo canções novas para os shows.. É justamente isso que ocorre aqui quando Elvis resolve apresentar sua nova música, “Moody Blue”, recentemente gravada em estúdio (na verdade em Graceland), que inclusive daria nome ao seu último disco. Como a canção era muito recente em seu repertório Elvis logo trata de pedir desculpas ao público, avisando de antemão que vai ler a letra da música. “Moody Blue” como todos os fãs sabem era uma verdadeira raridade ao vivo e esse registro – em boa qualidade sonora – é uma preciosidade que não pode faltar em nenhuma coleção de fãs de Elvis. Inicialmente meio perdido, tentando se encontrar na melodia, Presley logo encontra o caminho certo e disponibiliza uma bela interpretação (não perfeita, não impecável, mas uma delicia para seus fãs). Outra raridade é o blues “Reconsider Baby” que aqui surge com ótimo arranjo, lembrando bastante a versão do disco "Elvis Is Back!" de 1960. James Burton inova em pequenos trechos em seu solo de guitarra mas isso em momento algum chega a descaracterizar esse blues que sempre foi um dos mais relevantes da discografia do cantor. 

Outra preciosidade é "Where No One Stands Alone", gospel muito raro em concertos ao vivo. É de conhecimento geral que Elvis amava gospel, provavelmente mais do que qualquer outro estilo musical, e isso se revelava completamente em suas inspiradas interpretações. Esse era o tipo de música em que Elvis não abria espaços para performances medianas, fazendo de tudo para dar o melhor de si no palco. Cada sílaba, cada frase era entoada com o coração. Simplesmente emocionante. "Unchained Melody" com Elvis no piano também é de arrepiar. Nessa canção o cantor sempre conseguia atingir notas que até hoje impressionam os analistas. Mas afinal esse era o Elvis Presley destruído que tanto se canta em prosa e verso por aí? Ah os leigos e suas impressões apressadas e equivocadas... Enfim, esse era Elvis Presley cantando sua fé em seus momentos finais ao lado de seu amado e querido público. Nada a ver com um artista desmaiando no palco como tanto se fala por aí aos quatro ventos. O que ouço aqui é um artista plenamente consciente de sua importância e seu talento, se apresentando muito bem em respeito a todos os admiradores de sua música que foram aos seus shows. Simplesmente essencial. 

Moody Blue & Other Great Performances (1995)
Are You Lonesome Tonight?
Reconsider Baby
Love Me
Moody Blue
You Gave Me a Mountain
Jailhouse Rock
O Solo Mio / It's Now Or Never
Little Sister
Teddy Bear / Don't Be Cruel
My Way
Release Me
Hurt
Why Me Lord
Polk Salad Annie
Where No One Stands Alone
Unchained Melody
Can't Help Falling in Love
Elvis Telephone Conversation

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de março de 2009

Elvis Presley - Elv1s 30 #1 Hits (2002)

"Velharias, mas de ouro!", foi assim que John Lennon uma vez se referiu a algumas antigas canções dos Beatles. Sem dúvida essa frase se encaixa perfeitamente para definir essas músicas deste CD especial. Depois de anos ouvindo tudo sobre Elvis como takes alternativos, shows, bootlegs, versões inéditas, voltar para ouvir essas canções foi antes de tudo um momento de nostalgia. Todo fã de Elvis deve ter começado a gostar do cantor ouvindo justamente essas faixas, as mais conhecidas, as oficiais. E também as de maior sucesso. O público brasileiro vai sentir a ausência de músicas que fizeram enorme sucesso no Brasil e que não estão aqui, como "Kiss me Quick" ou "Sylvia". Mas acontece que esse CD traz apenas as mais tocadas nos EUA e Inglaterra. Um artista como Elvis, de fama internacional, não poderia e jamais poderá ser resumido em um único CD. Cada país tem suas faixas preferidas, cada povo elegeu músicas diferentes para amar e isso, é óbvio, aconteceu com o mais internacional de todos os cantores, Elvis Presley. Provavelmente o fã médio de Elvis no Brasil (digo o mais comum, não o mais ligado ao Rei, nem muito menos o expert) não conheça, nem nunca tenha ouvido "Cryng in The Chapel" ou "In the Guetto". Mas, sentiu a falta daquela ou de outra que não está aqui entre as trinta. Mas isso é inevitável. De qualquer forma, poderíamos imaginar mais uns dez CDs de Elvis apenas com seus momentos imperdíveis, pois o legado de Elvis Presley é imenso, nunca será resumido em uma caixa de CDs, ainda mais em apenas um título. Ouvir novamente Elvis, trazido de novo à tona pela tecnologia só vem confirmar uma coisa: Elvis é ótimo, seja em um vinil cheio de chiados, em um 78 RPM de cera ou em um CD tinindo de novo. A Arte de Elvis é que é relevante, em qualquer tempo e de qualquer forma. Mas chega de papo, vamos dissecar agora para você o CD "Elvis number one Hits" ou "As velharias douradas de um Rei":

Heartbreak Hotel (Axton / Durden / Presley) — O primeiro grande sucesso de Elvis em nível nacional foi lançado em Janeiro de 1956 com "I was the one" no lado B alcançando o primeiro lugar na parada americana e européia. A música foi escrita especialmente para ele e se tornou uma de suas marcas registradas. Foi gravada em 10 de janeiro de 1956 no estúdios da RCA em Nashville. Foi gravada na primeira sessão de Elvis na RCA. Para tentar reproduzir o som das gravações da Sun Records, o engenheiro Bob Ferris construiu uma câmara no prédio do novo estúdio, buscando eco de telhas e vidro. Inacreditáveis as guitarras acústica e elétrica de Chet Atkins e Scotty Moore na gravação. A companhia de discos a considerou "um desastre", imprópria para tocar no rádio. Cinco semanas depois, tornava-se seu primeiro hit número 1 Como ficou: A gravação ficou muito mais "limpa". Alguns fãs mais antigos afirmaram que o "eco da Sun", marca registrada das primeiras músicas de Elvis, também foi eliminado, de forma equivocada. Mas, de qualquer forma a canção ganhou mais nitidez, sem sombra de dúvida. (Nota 8,5)

Don't be Cruel (Presley / Blackwell) - Lançado em um single juntamente com "Hound Dog". Elvis em diversas entrevistas nos anos cinqüenta afirmou ser esta a sua música preferida. Seu produtor na Sun Records, Sam Philips, declarou: "...Não gostei de Heartbreak Hotel, mas quando ouvi Don't be Cruel eu pensei comigo mesmo: Agora eles descobriram o que fazer com o talento de Elvis". Foi lançada em julho de 1956 atingindo o primeiro lugar rapidamente. Foi durante a apresentação desta música que Elvis foi censurado no Ed Sullivan Show pois os produtores do programa resolveram só o mostrar da cintura para cima! Sem dúvida este ato simbolizou todo o moralismo da sociedade americana dos anos 50. "Don't be Cruel" foi gravada em 2 de julho de 1956 em Nova Iorque. Finalmente o single Hound Dog / Don´t Be Cruel foi lançado em 13 de julho de 1956 e ganhou ouro quase na mesma semana Como ficou: A nova mixagem não acrescentou muito, pois a gravação original sempre foi muito boa, felizmente eles não mexeram no equilíbrio Elvis x banda. (Nota 9,0)

Hound Dog (Jerry Leiber / Mike Stoller) — Sem dúvida uma das mais conhecidas músicas de Elvis. Originalmente foi lançada por Willie "Big Mama" Thornton em 1953. A Versão de Elvis surgiu como lado B do single "Don't Be Cruel" alcançando o primeiro lugar nas paradas em julho de 1956. Foi uma das mais difíceis de gravar levando Elvis e seu grupo a produzir mais de trinta takes!. Finalmente Elvis se deu por satisfeito escolhendo uma das versões como definitiva. Elvis a apresentou no programa de Milton Berle na TV americana numa das melhores performances de sua vida. Foi gravada em 2 de julho de 1956 nos estúdios da RCA em Nova Iorque. Anos depois Stoller se manifestou: "Hound Dog foi feita para ser cantada por uma mulher...mas a versão de Elvis ficou tão legal que ninguém se tocou sobre isso. Elvis conhecia a versão original de Big Mama Thornton, mas só optou por cantá-la após ouvir a versão de Freddie and The Bellboys em Las Vegas, em maio de 56. Antes de gravar a canção, Elvis já a havia cantado duas vezes na TV. Quando chegou a hora de gravá-la, precisaram executá-la 31 vezes para obter a versão perfeita" Como ficou: O mesmo comentário feito a "Don't be Cruel" se aplica aqui, até mesmo porque ambas as canções foram gravadas nas mesmas sessões. A Master original foi respeitada, enfim. (Nota 9,0)

Love Me Tender (Presley / Matson) - Música título de seu primeiro longa Metragem que no Brasil recebeu o nome de "Ama-me Com Ternura". O titulo original do filme era "The Reno Brothers" mas com a ascensão do Rei resolveu-se mudar o titulo para aproveitar o sucesso do cantor. A estória se passa durante o final da guerra civil norte americana e trata da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. "Love Me Tender" foi gravada em Agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood. Ele não contou com sua banda tradicional e sim músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Elvis produziu Love me Tender durante sua primeira sessão de gravações na Costa Oeste, em agosto de 1956. Ele apresentou a canção no The Ed Sullivan Show, em 9 de setembro. Provavelmente, este foi o primeiro disco da história a ter 1 milhão de cópias pré vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Como ficou: Para falar a verdade esperava muito mais de "Love Me Tender" neste CD. Eles não conseguiram deixar a música 100% límpida. Um incômodo chiado permanece, o mesmo de todas as outras versões anteriores. A música é clássica, acima de todas esses percalços, mas sua média cai por causa das expectativas não realizadas. (Nota 7,0)

Too Much (Rosenberg / Weinman) - Música título de um single lançado em janeiro de 1957 com "Playing for Keeps" alcançando o primeiro lugar nas paradas americanas. O disco foi lançado num momento em que Elvis estava sendo muito visado pela mídia norte americana por causa das polêmicas apresentações dele no Ed Sullivan Show e nos programas de Milton Berle e Steve Allen. Foi gravada em 2 de setembro de 1956 juntamente com as músicas que fizeram parte do segundo disco do cantor "Elvis". Como ficou: Melhora sensível, mas sem surpreender. Felizmente novamente não colocaram a voz de Elvis na frente de sua banda, o que é muito errado com essas remixagens. Elvis queria que sua voz fosse envolvida pelo conjunto e não que fosse destacada. Pelo respeito leva uma boa nota. (Nota 9,0)

All Shook Up (Elvis Presley / Blackwell) — Esta canção alcançou tamanho sucesso quando lançada que se tornou parte do vocabulário da juventude norte americana da época. Elvis alcança uma das mais brilhantes interpretações de sua vida resultando num dos singles mais vendidos de sua carreira. A canção chegou a Elvis através de Steve Sholes, seu produtor na RCA Victor. O single alcançou o primeiro lugar da parada da revista Billboard em março de 1957 tendo sido gravada em 12 de janeiro do mesmo ano nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Esta canção foi gravada primeiramente como I´m All Shook Up por David Hill, na Aladdin Records. Elvis gravou fazendo percussão na parte de trás do violão. O single ficou durante nove semanas no topo das paradas dos EUA, seu maior tempo consecutivo como número 1. Também foi seu primeiro número 1 na Inglaterra. Como ficou: A melhora aqui é bem sentida, pois a gravação de All Shook Up sempre foi problemática, com muito "abafamento". É sem dúvida a melhor mixagem dessa canção, a equalização foi mantida e os chiados retirados. A melhor do disco, nos faz redescobrir toda a beleza da música. (Nota 10)

Teddy Bear (Mann / Lowe) - No auge do sucesso de Elvis correu um boato que ele adorava ursinhos de pelúcia, apesar de não ser verdade o boato ganhou força e de um momento para o outro o cantor se viu num mar de bichinhos dados pelos seus fãs. Para aproveitar esta história foi composto este grande sucesso que alcançou o primeiro lugar da parada de singles da Revista Billboard com "Loving You" no lado B. Este compacto simples foi lançado em junho de 1957. "Teddy Bear", por sua vez, foi gravada nos estúdios Radio Recorders em 24 de janeiro de 1957. O "Teddy" do ursinho é uma homenagem ao presidente americano Theodore Roosevelt. Ainda é uma das mais queridas músicas de Elvis principalmente pelas mulheres. É a representante no CD da trilha do filme "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957). Como ficou: A master sempre foi muito bem gravada, por isso nem toda a tecnologia do mundo iria melhorá-la. Não se melhora o que por si já é perfeita. No mais é outro bom momento desse CD. (Nota 9,0)

Jailhouse Rock (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Música título do terceiro filme estrelado por Elvis que no Brasil recebeu o nome de "O Prisioneiro do Rock", sendo que sua trilha foi lançada em um Compacto Duplo em outubro de 1957. Foi ainda lançada como single em setembro de 1957 com "Treat Me Nice" no lado B. O Sucesso foi imediato e o single chegou ao primeiro lugar na parada americana. A cena do filme em que Elvis apresenta esta canção é considerado o melhor momento do cantor no cinema. Leiber e Stoller afirmaram posteriormente que sua intenção era "...imitar o som de pedras quebrando" o que de certa forma foi conseguido. Foi gravado em 30 de abril de 1957 nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Assim Elvis ignorou a intenção satírica dos autores (Jerry Leiber e Mike Stoller) e interpretou a canção com fúria. Jailhouse Rock foi o primeiro single da história a ir direto para o topo das paradas no Reino Unido. Como ficou: Ficou bem melhor com essa nova "roupagem". As melhoras foram sensíveis e em muitos casos imperceptíveis, mas que no conjunto se revela superior às anteriores. (Nota 9,0)

Don't (J.Leiber/M.Stoller) - Esta é especial! Uma das melhores baladas românticas de todos os tempos escrita pelos maravilhosos Leiber e Stoller. Elvis sem dúvida se superou nestas sessões pois ao lado de seus músicos gravou os maiores sucessos da época. "Don't" foi gravada em 6 de Setembro de 1957 nas mesmas sessões que deram origem ao disco "Elvis Christmas Album". Foi lançada como título de um single em Janeiro de 1958 atingindo rapidamente o primeiro lugar nas paradas. É desta forma considerada uma das grandes baladas de Elvis, com temática adolescente. Como ficou: Outra canção que sempre trouxe problemas, principalmente por ser muito mal equalizada. Mas aqui eles melhoraram todas as nuances e corrigiram seus defeitos. Novamente a tecnologia veio para melhorar outra obra prima. Destaque que vale o preço do CD. (Nota 10)

Hard Headed Woman (Claude DeMetrius) - Esta foi lançada em single junto com "Dont Ask me Why" em Junho de 1958 atingindo o segundo lugar na parada da revista Billboard e o primeiro na Inglaterra. Trata-se de um Rock'n'Roll rápido com um acompanhamento de metais que se sobressaem no conjunto. Foi gravada no dia 15 de janeiro de 1958. Aqui está um caso raro no mundo da música, um exemplo perfeito de "Jazz-Rock". Como ficou: Como faz parte de "King Creole" (Balada sangrenta, 1958) o número de instrumentos é bem maior que o normal. Mas a remixagem foi bastante correta. Nem mexeu e muito menos a estragou. Ficou básica e na média o que em se tratando de algumas outras versões aqui é um mérito respeitável. (Nota 8,5)

One Night (Bartholomew/King) - A Versão original desta canção foi lançada por Smiley Lewis em 1956 pelo selo Imperial. A Versão de Elvis se tornou um grande sucesso. Ele a utilizou também dez anos depois no memorável NBC Special em 1968 (Comeback Special). A letra mais uma vez foi considerada ofensiva o que fez a produção mudá-la de forma a torná-la mais aceitável. A versão com a letra completa foi lançada muitos anos depois como "One Night a Sin". "One Night" chegou ao quarto lugar nas paradas em Outubro de 1957 nos EUA e ao topo na terra dos Beatles. Para aplacar a sanha dos censores, essa música teve um verso mudado. Em vez de "One night of sin is what I´m not praying for" (Uma noite de pecado é para o que não estou pagando), ele cantou "One night with you is what I´m now praying for" (Uma noite com você é pelo que estou rezando agora). Ainda assim, foi considerada escandalosa. Como ficou: Não era bem o que eu esperava, esperava bem mais na verdade. Mas ficou ok. Nada demais e no geral seguiu as diretrizes básicas da master. (Nota 8,5)

A Fool Such As I (B.Trader) - Lançada originalmente em 1952 por Hank Snow pela RCA. Balada romântica excepcional que marcou toda uma época! A vocalização dos Jordanaires se faz presente de forma maravilhosa pois ecoa em harmonia com a voz do Rei. Elvis chegou a concorrer a um Grammy de "Melhor canção do ano" por esta música. Ela foi gravada no dia 10 de junho de 1958 contando com as preciosas colaborações de Chet Atkins na guitarra (Ele iria se tornar o produtor de Elvis nos anos sessenta), Floyd Cramer no piano e Buddy Harmon nos bongôs. Como ficou: Houve uma mudança significativa aqui, e não para melhor. Para falar a verdade a nova mixagem pode ser classificada como "desastrosa". A primeira versão foi produzida pelo próprio Elvis, com clara intenção de instrumentos e voz bem misturados, sem predominar nenhum deles sobre os demais. E o que fizeram? colocaram a voz de Elvis em destaque, os instrumentos, principalmente a guitarra de Scotty Moore sobressair sobre o resto da banda e o acompanhamento vocal dos Jordanaires praticamente sumiu, o que na versão original era destaque aqui simplesmente ficou inaudível. Exemplo de como não se mexer em algo que não se domina. (nota 2,0)

A Big Hunk O'Love (Schroder/Wyche) - Primeiro lugar em Junho de 1959. Esta acabou se tornando parte do repertório fixo do cantor nos anos setenta, porém como sempre a sua versão "anos 50" é bem superior a seu arranjo "70s", ouça a versão no LP "Aloha From Hawaii" de 1973. Elvis Presley a gravou em 10 de junho de 1958 em Nashville. Gravada durante o engajamento de Elvis na campanha militar, na Alemanha, quando estava de passagem por Nashville de licença. Como ficou: Não entendo. Porque detonaram "A Fool Such As I" e fizeram tudo certo aqui? As gravações foram das mesmas sessões e no entanto aqui foi respeitado a versão "clássica" e na anterior simplesmente destruíram o equilíbrio vocal x banda. Vai merecer boa nota por ter mantido o devido respeito. (nota 9,0)

Stuck On You (Schroder/McFarland) - Canção título do primeiro single lançado por Elvis após seu retorno aos Estados Unidos em 1960. Elvis a apresentou no especial de TV "welcome Elvis" apresentado por Frank Sinatra, mais conhecido como "the voice". Na ocasião Presley fez um dueto com Mr.Sinatra no medley "Witchcraft / Love Me Tender". Interessante salientar que nos anos 50 Sinatra afirmara "O Rock'n'Roll é um ritmo cantado e escutado por cretinos". Bem, Sinatra nunca foi conhecido por sua eloqüência mesmo, mas pelo talento dele a gente perdoa. Na volta a Nashville, em 1960, ele gravou essa canção num estilo diferente, mas que, em apenas alguns dias vendeu 1,4 milhão de discos. Como ficou: Esse é um caso em que a nova mixagem melhorou e muito a versão master original. Ficou muito mais presente a parte instrumental, assim como o acompanhamento vocal dos Jordadnaires. Excelente. (Nota 10)

It's Now Or Never (Schroder/Gold) - Versão em língua inglesa para a conhecida canção napolitana "O Sole Mio" (que fez parte da trilha da novela "Terra Nostra"). "O Sole Mio" foi gravada por inúmeros artistas ao longo da história, sendo que em 1899 ela ganhou o festival Napolitano Piedigrota, considerado um dos mais importantes da Europa. A Primeira versão em língua inglesa foi gravada por Tony Martin em 1949 com o título de "There's no Tomorrow". Em 1960 Elvis Presley gravou sua versão que se tornou um de seus maiores sucessos alcançando o primeiro lugar em Agosto de 1960. Gravada pouco mais de uma semana após Stuck on You, vendeu 10 milhões de discos do single mundo afora. É um dos maiores sucessos do cantor. Como ficou: It's Now or Never sempre foi uma gravação muito boa. Como regra geral as melhoras daqui em diante são altamente relevantes, até porque desse ponto em diante as masters originais foram produzidas nos anos 60, com melhor qualidade técnica. (Nota 10)

Are You Lonesome Tonight? (Turk/Handman) - Outra versão de Presley para uma música do início do século XX. "Are you Lonesome Tonight ?" foi grande sucesso na era do cinema mudo com o cantor Al Jolson (Que iria estrelar o primeiro filme falado da história "O Cantor de Jazz") em 1926. Em 1959 surgiria outra versão com Jaye P. Morgan pela própria RCA. Finalmente a versão de Presley foi gravada no dia 4 de Abril de 1960 e lançada em Novembro do mesmo ano se tornando mais uma música de "the pelvis" a atingir o Primeiro lugar entre os mais vendidos. Bela balada gravada originalmente por Vaughn DeLeath, em 1927, cuja versão definitiva e mais famosa acabou sendo mesmo a de Elvis. Como ficou: A voz de Elvis realmente recebeu um tratamento altamente digno. As mais significativas mudanças são percebidas na parte falada, onde realmente se nota a grande qualidade técnica realizada pela RCA BMG. (Nota 10)

Wooden Heart (adapt:Kaempfert/Wise/Weisman) - A melhor música de todo o disco "G.I.Blues". É baseada na canção folclórica Alemã "Muss I Denn". A cena que Elvis a apresenta no filme (com as marionetes) é a melhor parte de toda a película. A canção foi lançada em compacto na Alemanha e no restante da Europa alcançando um tremendo sucesso. O Single norte-americano com "Wooden Heart" só foi lançado no final de 1964, ou seja, quatro anos depois!!! É digno de nota a ótima adaptação do maestro alemão Bert Kaempfert e o acordeonista Jimmie Haskiell. Ela foi gravada no dia 27 de Abril nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Como ficou: Que Pena! O que fizeram com Wooden Heart? A versão do CD da trilha de "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960) é bem melhor, sem nenhuma mixagem nova. Aqui se nota, com tristeza, a má qualidade desta versão, abaixo de qualquer expectativa, esperava mais, bem mais. Em uma palavra: decepção. (Nota 2,0)

Surrender (Pomus/Schuman) - Outra versão de uma canção italiana vencedora do Festival Napolitano de Piedigrotta no ano de 1909. "Torna a Sorriento", seu título original, foi gravada pelo cantor Mario Lanza em 1951 pela RCA. Presley era grande Fã de Lanza o que justifica a gravação desta música. Assim como aconteceu com "It's Now or Never" esta canção se tornou líder das paradas quando foi lançada em Fevereiro de 1962. Elvis aqui esbanja seu poderio vocal numa interpretação que deixaria o velho Lanza orgulhoso. Assim como It´s now or never, foi reescrita de uma canção italiana para um grande sucesso, Torna a Sorrento, que até Dean Martin havia gravado. Como ficou: "Surrender" está linda, acima de qualquer crítica. Altamente bem equilibrada, principalmente na parte final onde Elvis Lanza nos brinda com seu poderio vocal. (Nota 10)

(Marie's the Name) His Latest Flame (Pomus/Schuman) - Priscilla Presley relata em seu livro "Elvis & Eu" (Elvis and Me, Ed. Rocco, 1985) que pensou seriamente que Elvis estava envolvido com uma garota chamada "Marie" quando esta canção foi lançada. Isto reflete bem o pensamento juvenil da garota de 14 anos que se apaixonou por Presley em 1958 e que iria se casar com ele em 1967. Priscilla, que era filha de um oficial da Força Aérea, conheceu Elvis quando ele servia o exército Americano na Alemanha. Foi uma paixão avassaladora entre ambos, tanto que Elvis nunca iria se recuperar de seu divórcio em 1973 quando Priscilla o abandonou. Foi o lado A de um single com Little Sister e as rádios dos EUA tiveram problemas em promover as duas canções, que competiam entre si e acabaram alcançando apenas as 4ª e 5ª posições, respectivamente, nas paradas americanas. Mas alcançou o topo no Reino Unido. Como ficou: Outra que sempre foi muito bem gravada. É o típico caso em que tudo o que os engenheiros da gravadora deveriam fazer é nada fazer. "Se mexer piora". (Nota 10)

Can't Help Falling In Love (Peretti/Creatore/Weiss) -- Canção baseada em "Plaisir d'Ámor" do compositor francês de origem alemã Jean Paul Martini. A versão de Presley foi muito feliz pois foi muito bem adaptada. O maior sucesso do filme. Quando foi lançada em Single em Novembro de 1961 alcançou um enorme sucesso de vendas. Nos anos setenta ela seria utilizada como desfecho de todos os seus shows. Nos anos 90 o grupo UB40 faria uma nova versão de grande sucesso. Parte da trilha sonora do filme Blue Hawaii. O álbum ficou durante incríveis 20 semanas no nº 1 e vendeu mais de 2 milhões de exemplares. Como ficou: Linda, dispensa maiores comentários, muito superior a qualquer outra versão. Essa é a versão oficial da trilha de "Blue Hawaii" (Feitiço Havaiano, 1961) em minha opinião sempre foi insuperável, principalmente por seu arranjo primoroso. (Nota 10)

Good Luck Charm (Schroder/Gold) - Esta canção foi a última de Elvis até "Suspicious Minds" a alcançar o primeiro lugar entre os singles mais vendidos da parada americana. Isto reflete de certa forma a dificuldade no qual Elvis iria passar até 1969 quando ele voltaria de novo ao topo. Entre as causas desta "maré baixa" enfrentada por Elvis estavam a má qualidade de suas trilhas de filmes aliados à crescente concorrência da invasão britânica (Beatles e Rolling Stones). Gravado em Nashville, este pop típico dos 60 foi finalizado em apenas quatro tentativas. A última tornou-se um single, com Anything That´s Part of You no lado B Como ficou: Exemplo de boa mudança. A guitarra de Scotty Moore, antes bastante ofuscada, aqui se faz mais presente. Os vocais idem. Em suma, mudança para melhor. (Nota 8,0)

She's Not You (Pomus/Stoller/Leiber) - Uma rara parceria entre Leiber & Stoller e o compositor Pomus. O Resultado infelizmente não fez jus ao talento das partes envolvidas. Esta é uma canção de Presley que envelheceu o que de certa forma não aconteceu com a maioria das canções de Elvis. Ela foi lançada em Agosto de 1962 com "Just tell Her Jim Said Hello" no lado B. Como ficou: Interessante. Essa música sempre foi considerada mal gravada. Mas agora ganha sua chance de ter uma versão melhor. E é o que acontece, renasceu de anos de descuido. Agora está bastante modificada e melhorada. (Nota 8,0)

Return To Sender (Blackwell / Scotty) - O grande sucesso do filme "Girls, Girls, Girls" (Garotas e mais garotas, 1962). Foi lançado como lado principal de um single de grande sucesso. Chegou ao segundo lugar nas paradas americanas e ao topo nas britânicas. Aqui Elvis homenageia o estilo do cantor de soul Jackie Wilson. Inclusive na cena em que ele canta esta música ele faz questão de usar os mesmos movimentos de Wilson. Um fato curioso e engraçado: Uma vez em Las Vegas um sujeito jogou um sapato no palco, Elvis que não perdia uma piada, pegou o sapato e jogou de volta cantando "Return to Sender" (de volta ao remetente). A plateia foi ao delírio. Em tempo: a música é de autoria do guitarrista Scotty Moore. Como ficou: Dançante, essa é a prova de falhas. A voz de Elvis ficou um pouco destacada demais, mas não chega a comprometer o resultado final. (Nota 8,5)

(You're The) Devil In The Disguise (Giant / Baum / Kaye) - Sempre foi considerada meio bobinha e tal, foi gravada em uma sessão em 1963, como uma forma do cantor se afastar um pouco das trilhas sonoras. Apesar de tudo fez sucesso, chegando ao terceiro lugar nos Estados Unidos e ao primeiro na Inglaterra. Fez parte do disco "Elvis Gold Records vol.4". Foi usada este ano para o filme "Lilo & Stitch" e se adaptou muito bem aos planos da Disney. Um fato curioso sobre essa música: depois de 11 de setembro, um grupo de rádios dos EUA resolveu retirar certas canções de suas programações por serem ofensivas ao momento que o país enfrentava, por mais incrível que possa parecer essa estava na lista pela simples razão de ter "devil" em seu título! absurdo total. Como Ficou: Já havia sido restaurada antes e por isso não houve mudanças significativas, praticamente ficando na mesma. (Nota 8,0)

Crying In The Chapel (Artie Glenn) - Escrita por Artie Glenn em 1953 com apenas 16 anos de idade. Chegou ao primeiro lugar nas paradas R&B com o obscuro grupo Sonny Till and the Orioles. Em 1953 esta música explodiu nas paradas nas vozes de Rex Allen e June Valli. A versão de Elvis foi gravada em 1960. Se tornou um single de enorme sucesso em 1965. O sucesso foi tamanho que o single com "I believe in the man in the Sky" (canção do disco "His Hand In Mine") no lado B chegou ao primeiro lugar na parada britânica. Devido a toda esta repercussão a canção foi incluída no disco para ajudar em sua promoção. Como ficou: Ficou bom demais. Quem conhece a canção através do "His Hand In Mine" não sabe o que está perdendo. A voz de Elvis está excelente, dá para ouvir os mínimos detalhes. 10 com louvor! (Nota 10)

In The Guetto (Mac Davis) - Em meio ao furacão que foi os anos sessenta Elvis lançaria esta música que trazia um conteúdo político em sua letra. A Guerra do Vietnã, a revolução sexual e a luta dos negros contra o preconceito racial (luta pelos direitos civis) eram alguns dos fatos que estavam na ordem do dia. Elvis Presley não poderia ficar à margem de tudo isso. Em uma entrevista coletiva o repórter perguntou a Elvis: "Está tentando mudar sua imagem com temas tipo "In The Guetto"? Elvis respondeu: "Não. 'Guetto' é uma grande música e simplesmente não poderia dispensá-la após tê-la escutado". "In The Guetto" foi lançada em abril de 69 como single alcançando o terceiro lugar das paradas dos EEUU e topo no Reino Unido. Sem dúvida a mais política das canções de Elvis, escrita por Mac Davis. Como ficou: Melhorou muito, principalmente em sua introdução. O dedilhado do violão está mais presente e vivo, assim como o coro feminino. Destaque também para o arranjo de orquestra. (Nota 10)

Suspicious Minds (Mark James) - O grande sucesso de Elvis no final dos anos sessenta. O single "Suspicious Minds" ocupou a primeira posição no hit parade mundial quando foi lançado. A canção em si é muito bem arranjada e faz parte das maravilhosas sessões de Elvis em Memphis no American Studios. Elvis aqui conta com ótimo material composto por Mark James, que iria se tornar um de seus principais compositores nos anos 70 ao lado de Dennis Linde, Tony Joe White, Joe South, Jerry Reed e Mac Davis. Em 2001, depois de mais de 30 anos, esta canção voltou às charts da Inglaterra. Reconhecida como a mais bela balada de Elvis. O single estreou na 77ª posição e subiu 40 lugares em apenas uma semana. Depois de oito semanas, tornou-se o primeiro nº 1 de Elvis nos EUA, reconciliando-o com o sucesso. Como ficou: Essa, como todas as outras do CD é a versão oficial que saiu em single. "Suspicious Minds" é acima de qualquer juízo de valor que se possa fazer, é um desses momentos ímpares. Nada restou para melhorar, ela está aqui como foi concebida: simplesmente intocável e perfeita. (Nota 10)

The Wonder of You (Baker Knight) - Sucesso do cantor Ray Peterson em 1959. A versão de Elvis Presley foi título de um single lançado em Abril de 1970 junto com "Mama Like the Roses" (esta gravada em Memphis em 1969). O single chegou ao nono lugar nos EUA e primeiro na Inglaterra, resultando em mais um disco de ouro na carreira do cantor. Bela canção que representa muito bem o tipo de trabalho que Elvis Presley fazia em sua volta ao palcos no final dos anos 60 e começo dos anos 70. Foi muito utilizada em seus primeiros shows, mas depois foi deixada de lado pelo próprio Elvis, principalmente a partir de 1972. Como ficou: Essa é a versão do single, pouco conhecida no Brasil, onde todos tem mais afinidade com a versão do disco "On Stage". Prefiro também a versão do disco, mas aqui tudo está bem correto. (Nota 8,5)

Burning Love (Dennis Linde) - Um dos grandes sucessos de Elvis em sua carreira. Foi lançado inicialmente como single em agosto de 1972, com "It's a matter of Time" no lado B e se tornou o seu compacto simples mais vendidos dos anos 70. Tamanho o sucesso, que o coronel Parker, inventou o disco "Burning Love and Hits from his movies", que lançado em outubro de 72 se tornou também um êxito. Elvis, por sua vez, mandou confeccionar uma roupa especial, toda vermelha, chamada "Burning Love" que ele usou pela primeira vez na cidade de El Paso. O cantor estava na fossa, tinha acabado de se separar em março de 1972. Portanto, ele não queria gravar essa música alegre. Era o único a não acreditar no sucesso desse rock elétrico. Acabou virando o maior sucesso de Elvis nos anos 70. Como ficou: Ficou ótima, a mixagem deu uma geral e o resultado foi muito bom. A única diferença a se notar talvez seja em relação ao coro vocal, aqui mais discreto que nas outras versões. No mais é uma delícia queimar em seu embalo. (Nota 10)

Way Down (Martine) - Essa música fez parte do último disco de Elvis Presley, intitulado "Moody Blue". Gravada na "Sala das Selvas" em Graceland, quando Elvis já não tinha mais saco para ir para Nashville. Grande sucesso de Elvis que quando foi lançado como single em Julho de 1977 chegou ao primeiro lugar nas paradas britânicas. Conta com ótimo arranjo e maravilhoso acompanhamento do cantor J.D.Summer. Foi gravada no dia 29 de outubro de 1976 em Graceland. Como ficou: Rockabilly temporão, essa música foi gravada nos anos 70, em uma época já bastante avançada em termos técnicos, por isso nada a acrescentar, continua a mesma. Melhoraram um pouco no vozeirão de J.D. Summer. Divertida, acima de tudo. E pensar que ela foi gravada em Graceland... (Nota 8,0)

A Little Less Conversation (Mac Davis / Strange) - Uma canção obscura dentro da discografia de Elvis, fez parte do filme "Live a Little, Love a Little" (Viva um pouquinho, Ame um pouquinho, 1968) no final dos anos 60. No Brasil ela só foi lançada uma única vez, e mesmo assim em 1971 no também cavernoso disco "Almost in Love". Isso mudou radicalmente quando o DJXL resolveu fazer um remix em cima da música. Bingo! Com o apoio da Nike que a colocou em um de seus comerciais durante a Copa do Mundo 2002, a música se tornou um tremendo sucesso chegando ao primeiro lugar em inúmeros países. Foi a canção que comandou a verdadeira "Elvismania" que tomou conta do planeta em 2002. Como ficou: Um caso típico de "Frankestein Musical" no bom sentido. As alterações foram positivas, a canção apesar de não ter feito sucesso nenhum quando ela foi lançada em 1968, é muito boa. A essência básica foi mantida, ou seja, muita alegria e embalo. Mas, chega de papo, um pouco menos de conversa e um pouco mais de ação, por favor! Tá esperando o quê? Vai logo comprar o Elvis Number one Hits. Obs: As Notas dadas se referem às mudanças introduzidas pela nova tecnologia e não às canções em si.

Pablo Aluísio.