sábado, 7 de março de 2009

Elvis Presley - Caixa Vermelha

No final da década de 80 chegou nas lojas brasileiras uma caixa com 5 LPs intitulada simplesmente "Elvis Presley" (para alguns ela ficou conhecida apenas como "A caixa vermelha de Elvis"). Essa coleção era 100% brasileira e sua idéia partiu do presidente do fã clube SPEPS, Marcelo Costa. O box vinha ao mercado com o objetivo de suprir uma lacuna existente no Brasil na época. Embora em 1982 a RCA aqui em nosso país tenha relançado vários LPs de Elvis na série Pure Gold (com foco em discos dos anos 50 e trilhas sonoras) o fato era que muitos desses discos não ficaram em catálogo por muito tempo, sumindo rapidamente das lojas. Assim em 1989 havia uma escassez enorme de títulos de Elvis Presley à disposição do consumidor brasileiro. De fato não chegava nem a dez o número de títulos do cantor em nosso mercado e geralmente eram sempre os mesmos (Disco de Ouro, Elvis 10 anos de Saudades da Som Livre, Elvis in Concert, Moody Blue e alguns poucos outros que eram encontrados esporadicamente em lojas especializadas ou grandes magazines).

É bom lembrar que nessa época ainda não havia a Internet e o CD ainda era uma tecnologia disponível para poucos. Para falar a verdade a "caixa vermelha" foi o último suspiro do bom e velho vinil no Brasil. O formato já estava com os dias contados mas mesmo assim ainda respirava. A seleção musical era certeira e feita para agradar ao fã médio de Elvis Presley no Brasil. Dividido em cinco temas (anos 50, anos 60, anos 70, Inéditas no Brasil e Grandes Sucessos no Brasil) o caprichado trabalho acabou marcando época em nosso país. A direção de arte era bonita, com encarte interno explicativo sobre a importância de cada faixa com texto do próprio Marcelo Costa e o produto era muito bem acabado. Obviamente o preço era salgado o que fez muito fã juntar por alguns meses para adquirir esse pequeno sonho de consumo.

Para os fãs de longa data a caixa tinha pelo menos um grande atrativo, o LP 4 denominado "Inéditas no Brasil". Embora nem todas fossem inéditas mesmo, como por exemplo "High Heel Sneakers " que já havia sido lançada por aqui no álbum "Reconsider Baby" em 1985 o fato era que a intenção de agradar ao fã mais conceituado era muito bem-vinda. Aqui é bom abrir um parêntese para elogiar a atitude da BMG / RCA Brasil. Cientes de que ninguém conhece mais a história do ídolo do que seus próprios fãs a gravadora indicou um admirador do quilate de Marcelo para selecionar várias faixas que permaneciam fora de alcance do fã de Elvis no Brasil. Hoje em dia com a distância de um click de algumas dessas músicas fica até complicado para o jovem entender a importância dessas canções serem lançadas para o mercado nacional. Imaginar que músicas como "A Mess of Blues", lançada no começo dos anos 60, ainda permanecia inédita em nosso país era algo realmente espantoso. Na era do vinil não havia outra alternativa. E aí podemos perceber o grande legado de pessoas como o Marcelo que trouxeram esse tipo de material para o fã comum.

Porém contra o avanço da tecnologia não há defesa. O mundo avançou muito na virada da década de 80 para a 90. O CD se popularizou, ganhou o espaço do antigo disco de vinil e em pouco tempo a caixa vermelha se tornaria obsoleta. O vinil morreria e a Internet romperia com esse tipo de limitação, pois o fã de Elvis teria acesso a qualquer canção na hora que quisesse, sem rodeios. De qualquer forma deve-se reconhecer a importância desse box, único no mundo, dentro da discografia brasileira de Elvis Presley. Em tempos mais românticos ter uma coleção dessas em casa era seguramente uma grande aquisição do saudoso astro. No tempo da máquina de escrever e do disco de vinil "Elvis Presley" realmente reinou em nossas prateleiras. Bons tempos.

Elvis Presley (1989) - DISCO 01 ANOS 50 - That's All Right / Good Rockin' Tonight / Heart Break Hotel / Money Honey / Blue Sued Shoes / Tutti Frutti / Hound Dog / Don't Be Cruel (To A Hearth That's True) / Love Me / Readdy Teddy / (Let Me Be Yoyr) Teddy Bear / All Shook Up / (You're So Square) Baby, I Don't Care / Lawdy Miss Clawdy / I Got Stung / Loving You / King Creole / Hard Hearded Woman / A Big Hunk Of Love - DISCO 02 - ANOS 60 - Stuck On You / Can't Help Falling In Love / Return To Sender / Little Sister / C1mon Everybody / Guitar Man / Too Much Monkey Business / Big Boss Man / Almost In Love / U. S. Male / Edge Of Reality / Rubberneckin' / Memories / If I Can Dream / In The Ghetto DISCO 03 - ANOS 70 - Polk Salad Annie / The Wonder Of You / Let It Be Me (Je T'appartiens) / I've Lost You / Patch It Up / The Impossible Dream (The Quyest) / Raised On Rock / Always On My Mind / Promised Land / Trouble / Hurt / Way Down / Moody Blue - DISCO 04 - INÉDITAS NO BRASIL - Ain't That Loving You Baby / A Mess Of Blues / Fools Fall In Love / High Heel Sneakers / All I Needed Was The Rain / Wonderful WQorld / Let's Be Friends / Kentucky Rain / It's Only Love / Snowbird / The First Time Ever I Saw Your Face / Life / Vosom Of Abraham / Good Time Charlie's Got The Blues - DISCO 05 - GRANDES SUCESSOS NO BRASIL Love Me Tender / Jailhouse Rock / Are You Lonesome Tonight? / No More / It's Now Or Never / Kiss Me Quick / Suspicious Mind / Sweet Caroline / Bridge Over Troubled Water / Sylvia / Burning Love / My Boy / My Way.


Pablo Aluísio

Elvis Presley - The Great Performances (1990)

De tempos em tempos a imagem de Elvis Presley passa por manobras de marketing visando sua modernização e revitalização, tudo com o objetivo de torná-la mais adequada para as novas gerações. Uma dessas "modernizações" aconteceu no começo dos anos 1990. O projeto foi denominado "Elvis - The Great Performances" e incluía um álbum (com linda direção de arte), uma coleção de vídeos lançados em VHS e clips utilizando de todas as modernas linguagens típicas da MTV. Os vídeos eram bem corretos. Eram dois volumes (o terceiro só foi lançado posteriormente) e trazia imagens raras de Elvis na TV durante os anos 50. O conteúdo desses dois especiais (com narração de George Klein) mostrava bem a disposição da EPE (empresa que controlava a imagem de Elvis) em aproveitar ao máximo o visual e estilo do cantor em seus anos iniciais em detrimento das outras fases de Elvis (a saber, anos 60 e 70).

Assim somos apresentados ao Elvis que virou a cultura popular ao avesso: jovem, rebolativo e revolucionário. Dos anos 60 o documentário apenas aproveita um pequeno trecho de Elvis cantando "Return to Sender". Um tanto quanto constrangido o texto informava que Elvis havia feito filmes nitidamente fracos naquela década mas que quando possível ele tentava trazer uma sonoridade melhor, aproveitando o estilo de seus ídolos da juventude, como Jackie Wilson, por exemplo. Depois disso o documentário dava um salto enorme pulando do NBC para algumas cenas esparsas do On Tour finalmente mostrando em clip Elvis ao piano executando "Unchained Melody". Certamente o material não era muito exaustivo no que se relacionava à biografia e carreira de Elvis Presley, mas em tempos de vacas magras era muito bem vindo, principalmente pela oportunidade de ter em casa cenas tão preciosas como Elvis dançando "Hound Dog" ou sendo censurado em sua performance de "Don´t Be Cruel"

Se a parte visual do material ficava um pouco a desejar o disco com a trilha sonora do documentário era bem melhor. A começar pela primeira canção, a tão falada (e tão pouco conhecida na época) "My Happiness". Foi através desse vinil inclusive que tive a oportunidade de ouvir pela primeira vez aquele que era considerado o primeiro registro da voz de Elvis em disco. A lenda todos conhecem: Elvis queria dar de presente para sua mãe um disquinho de presente por seu aniversário. A realidade claro não era bem essa. Elvis queria mesmo ser descoberto, a data de gravação do disco não coincide com o aniversário de Gladys Presley e afinal de contas o desapontamento por parte de Elvis ao não encontrar Sam Phillips durante a gravação do acetato demonstrava bem qual era sua real intenção. De qualquer forma não importa a veracidade da história mas sim que depois de longos anos desaparecida finalmente "My Happiness" chegava ao mercado americano em escala comercial. Hoje em dia obviamente esse título já não tem tanta relevância pois os futuros lançamentos foram paulatinamente superando sua importância mas de qualquer forma vale o registro de seu surgimento na discografia de Elvis Presley.

Elvis Presley - The Great Performances (1990)
1. My Happiness
2. That's All Right
3. Shake, Rattle & Roll/Flip, Flop & Fly
4. Heartbreak Hotel
5. Blue Suede Shoes
6. Ready Teddy
7. Don't Be Cruel
8. Teddy Bear
9. Got A Lot Of Livin' To Do
10. Jailhouse Rock
11. Treat Me Nice
12. King Creole
13. Trouble
14. Fame And Fortune
15. Return To Sender
16. Always On My Mind
17. American Trilogy
18. If I Can Dream
19. Unchained Melody
20. Memories

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Elvis Presley - Elvis 50th Anniversary (1985)

Outro álbum curioso lançado em 1985 foi esse "Elvis 50th Anniversary" que tem nome de disco gringo mas é brasileiríssimo. O disco na verdade nasceu da bem-vinda colaboração entre a representante da gravadora BMG em nosso país e fãs brasileiros do cantor. O disco teve a seleção musical e notas escritos por José Roberto Verta e a colaboração muito especial de Marcelo Costa. Para quem não sabe ou não conheceu o Marcelo foi um dos fãs mais ativos de Elvis no Brasil, sempre divulgando a obra do cantor em livros, revistas e na TV. Recentemente falecido ele foi durante muitos anos a pessoa que comandou um prestigiado fã clube brasileiro o SPEPS (São Paulo Elvis Presley Society) que além de prezar pelo bom nome de Elvis no Brasil também promovia eventos de caridade.

O disco em si não traz grandes novidades, basicamente é outra coletânea para iniciados muito embora tenha uma seleção musical bem mais rica que outras da mesma época. No lado A o álbum vinha com cinco grandes sucessos de Elvis e duas surpresas para os fãs. A primeira era um take raro e inédito em nosso país de "Blue Moon of Kentucky". Essa versão era curiosa pois trazia gravada a própria voz de Sam Phillips tentando corrigir e animar os "Blue Moon Boys" em estúdio. Na nota explicativa da contracapa do disco era informado aos consumidores que o take trazia "um tratamento mais lento do que a versão original lançada pela RCA". A segunda boa surpresa era outra versão inédita em nosso país, uma versão ao vivo em Las Vegas em que Elvis perdia o controle e ria se parar, dando gostosas gargalhadas. A nota do disco erra ao localizar a gravação no ano de 1970, pois sabemos que ela foi gravada em 1969 tendo inclusive o show completo sendo lançado pelo selo FTD no título "All Shook Up". É um pequeno deslize de informação mas plenamente justificado pelo fato do disco ter sido lançado há mais de 25 anos quando esse tipo de informação não era comum.

O lado B também seguia basicamente o mesmo estilo do lado A. Vários sucessos abrindo e no final duas canções inéditas em nosso país. Uma delas era "Separate Ways". Por que "versão inédita"? Porque a canção nunca havia sido lançada no Brasil até aquela data, issso havia acontecido porque o single original de 1972 (com "Always On My Mind") também havia passado batido em nosso país. Por essa razão a nota explicativa no álbum fazia questão de informar que ali estava uma autêntica canção "muito rara no Brasil". Em uma era pré-internet realmente só os colecionadores mais deslocados tinham conseguido comprar o compacto simples americano. Por fim o disco fechava com uma versão caseira de Suppose, Essa versão eu devo dizer que realmente era bem rara, uma verdadeira novidade até mesmo para os fãs mais conceituados. Para falar a verdade essa "Suppose" domiciliar (foi gravada em Graceland) segue bem inacessível até os dias de hoje pois saiu em pouquissimos títulos, mesmo americanos. Enfim, o álbum brasileiro que comemorou em nosso país os 50 anos de aniversário de Elvis Presley foi bem digno, bem interessante. Ele ficou pouco tempo em catálogo e não foi reeditado em versão digital (disc laser) mas mesmo assim celebrou dignamente essa data em nosso país, não a deixando passar em branco nas lojas de discos.

Elvis Presley - Elvis 50th Anniversary (1985)
1. Blue Suede Shoes
2. Love Me Tender
3. Jailhouse Rock
4. King Creole
5. Tutti Frutti
6. (You're So Square) Baby I Don't Care
7. Blue Moon Of Kentucky
8. Are You Lonesome Tonight
9. Bridge Over Troubled Water
10. Suspicious Minds
11. Burning Love
12. My Way
13. Sweet Caroline
14. Sylvia
15. Seperate Ways
16. Suppose

Pablo Aluísio.

Elvis Presley -The Best Of Elvis - Good Rockin´ Tonight

Mais um álbum exclusivo da discografia brasileira. Foi um LP importante para Elvis no Brasil pois na época havia poucos títulos em catálogo por aqui (Elvis Disco de Ouro e Elvis in Concert eram um dos poucos títulos que se encontravam facilmente nas lojas). Também teve sua seleção musical feita em colaboração com fãs clubes nacionais (em especial o SPEPS) e uma boa campanha de marketing vinculada no canal SBT. Em termos de direção de arte se trata realmente de um produto bem acabado e caprichado - capa bonita, dupla, com belas fotos de Elvis em seu interior e cuidado técnico mais detalhado do que de costume.

Pessoalmente o disco em si nunca chamou muito a minha atenção. Nessa época eu já tinha tido acesso a praticamente toda a discografia oficial americana de Elvis e por isso lançamentos como esse não me causavam maior interesse. Obviamente na época do mercado de vinis ter um disco assim à disposição dos consumidores era bem importante, tanto que acabou levando as músicas de Elvis para muitos admiradores novos. Com certeza alguns deles levaram à frente seu gosto pela música do cantor, indo, por exemplo, atrás de outros títulos nacionais. "The Best of Elvis", como o próprio nome sugere, procurava trazer o que havia de melhor na carreira do astro em todas as suas fases. Pelo menos isso era o que sugeria sua denominação aos consumidores. Olhando a lista das canções porém percebemos que os idealizadores do álbum não foram tão previsiveis como era de supor. Há sim vários medalhões da carreira de Presley, tais como "Love Me Tender", "Jailhouse Rock", "Always On My Mind" etc mas no meio delas também vamos encontrar várlos "Lados B", canções pouco conhecidos e nem um pouco manjadas por aqui. Nessa categoria estaria "Down in The Alley", "Never Ending" e outras músicas dos anos 60 e 70 que nunca sequer tinham sido lançadas no Brasil como "I´m Leaving".

Esse LP seria bem sucedido comercialmente, tanto que daria origem a outros da mesma série e ganharia também sua versão digital, em laser disc. De certa forma veio para ocupar o espaço do velho e cansado "Elvis Disco de Ouro" nas prateleiras das lojas de discos pelo Brasil afora. Obviamente não teve um reinado de tanta duração quanto o anterior, até mesmo porque com a chegada da internet a própria indústria musical sofreria forte abalo e a obra de Elvis em sua íntegra ficaria à disposição do internauta sem a necessidade de passar por títulos como esse, que em pouco tempo ficariam completamente obsoletos com o novo modelo. De qualquer forma fica como curiosidade de um tempo onde fãs e a indústria se uniram para tentar renovar o catálogo musical de Elvis Presley em nosso país.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Elvis Presley - Reconsider Baby (1985)

Depois que Elvis Presley morreu a gravadora que detinha seus direitos ficou meio à deriva, sem saber direito o que fazer com o catálogo que tinha em mãos. O maior exemplo disso são as muitas coletâneas de sucesso que chegaram ao mercado, sendo que 99% delas não tinham nada a oferecer em termos de material inédito ou de qualidade. Eram basicamente formadas por reprises dos grandes sucessos de Elvis, muitas delas sem nenhuma novidade. Eu que vivenciei esse período fui chegando na equivocada conclusão que não havia mais nada em arquivo que fosse relevante e muito provavelmente não tinha sobrado material inédito do cantor. Nem é preciso dizer o quanto isso me entristecia e me aborrecia. O fato porém é que a partir de meados dos anos 80 uma suave brisa de mudanças na discografia de Elvis foi chegando. Um exemplo é esse "Reconsider Baby" disco que comprei na época de seu lançamento, ainda em vinil (foi aliás esse título um dos primeiros a chegar em laser disc naquele mesmo ano no Brasil, uma novidade absoluta no nosso mercado).

Ao lado do material reprise de sempre, "Reconsider Baby" trazia algumas novidades bem interessantes aos admiradores, a começar pela inspirada direção de arte. É fato que muitos discos da velha guarda de Elvis não tinham um cuidado maior em termos de capa e arte final. Pois bem, esse Reconsider Baby não tinha apenas uma capa bonita e com feeling blueseiro (a tônica do disco em si) mas também uma contracapa rica em textos, fotos e informações, o que já deixava o fã comum com água na boca. Em termos de fotos duas imagens bem raras (na época) de Elvis em seus shows pelo vizinho Canadá nos anos 50. Mas não ficava por aí. Ao lado de cada canção um belo trabalho de pesquisa especificando data de gravação, versões originais (e seus cantores devidamente creditados), posição nas charts e os discos de Elvis nas quais as canções foram originalmente lançadas no mercado. Para o fã atual de Elvis isso pode até mesmo soar como banal mas não nos anos 80 onde todo tipo de informação técnica sobre Elvis era algo bem raro de se encontrar, principalmente nos próprios discos do cantor. Para completar o que por si já era muito bom O LP ainda trazia um ótimo texto do autor Peter Guralnick fazendo um estudo da influência do Blues na carreira de Elvis Presley. Simplesmente fantástico!

Reconsider Baby é um disco conceitual. Os idealizadores de seu lançamento resolveram juntar o que havia de mais relevante no gênero blues dentro da carreira de Elvis para compor uma coletânia diferente, bem organizada e coesa. Obviamente ausências são sentidas na seleção musical mas isso não tira o mérito do disco em si. A grande novidade para o fã de Elvis era a inclusão de versões inéditas no LP, algo muito bem vindo e que mostrava naquele momento que material inédito existia e o mais importante, de boa qualidade sonora! Havia no total quatro preciosidades no álbum. A primeira era a tão falada versão envenenada de "One Night" (creditada no disco com seu título original embora saibamos que depois seria rebatizada como "One Night a Sin"). A letra que havia sido mudada para não causar controvérsias aqui aparece em sua versão inicial (e sem censura); "Stranger In My Own Home Town" também surgia em uma versão bem mais crua do que a mais conhecida (e oficial). A intenção era óbvia: mostrar o lado mais visceral da vocalização de Elvis nesses blues arrasadores.

A versão que define o disco porém é "Ain't That Loving You Baby" gravada nas últimas sessões de Elvis antes de seguir rumo à Alemanha para cumprir seu serviço militar. Ao ouvir esse take pela primeira vez fiquei completamente surpreso e isso por várias razões mas a principal era tentar entender como uma versão tão excelente como essa foi simplesmente arquivada por anos e anos e nunca aproveitada pela RCA Victor! Muitas vezes superior à versão do single a música tinha pique e arranjo suficientes para arrasar nas paradas dos anos 50. Incrível como algo assim foi simplesmente desperdiçado pelo pessoal da RCA na época! Além disso a versão apresentada pela primeira vez aqui demonstrava aos fãs nos anos 80 que Elvis havia deixado verdadeiros tesouros arquivados dentro de sua gravadora. Era uma notícia maravilhosa certamente. Por fim, e não menos importante, o álbum trazia também uma versão completa e caprichada do clássico natalino de Blues: "Merry Christmas Baby"!

Além das inéditas é bom frisar que naquela época muitas das músicas presentes no disco não eram fáceis de achar por aí, como por exemplo Down in The Alley e Hi Heel Sneakers que havia anos estava fora de catálogo aqui e nos EUA! Não devemos esquecer que estamos falando de 25 anos atrás, onde não havia internet e nem a facilidade de se conhecer a obra de Elvis que temos hoje! Por isso ao comprar o disco simplesmente o gastei de tanto ouvir por aquela época! Depois tive que comprar novamente em CD mas algumas mudanças não me agradaram na versão digital (como por exemplo a própria capa que foi desfigurada ao colocarem o nome do disco em destaque nada estético). Mas isso é uma outra história. Ouvir Elvis arrasando no Blues marcou muito naqueles distantes anos 80. Como diria Howlin Wolf quando perguntado se Elvis era realmente um bom cantor de Blues: "É claro que é, nunca ouviu as músicas do rapaz?" Pois é, ouça "Reconsider ao estilo Blues" e tire suas próprias conclusões.

Elvis Presley - Reconsider Baby (1985)
Reconsider Baby
Tomorrow Night
So Glad You're Mine
One Night
When It Rains, It Really Pours
My Baby Left Me
Ain't That Loving You Baby
I Feel So Bad
Down in the Alley
Hi-Heel Sneakers
Stranger In My Own Home Town
Merry Christmas Baby:

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis By Request (Specially For Brazil)

Existem situações que nos deixam admirados. Nos anos 70 a discografia nacional de Elvis Presley se transformou após a morte do cantor em algo realmente disperso, sem organização, sem foco. Hoje ao termos acesso a tantas gravações raras e inéditas fico pensando porque não utilizaram esse material ainda naquela década. Certamente venderia muito uma vez que a morte de Elvis ainda era muito recente e o interesse na obra do cantor cada vez mais crescente. Ao invés disso porém discos e discos foram lançados sem muitos critérios e o pior, sem muito conhecimento por parte daqueles que trabalhavam na representante da RCA em nosso país. Felizmente alguém teve a feliz ideia de ouvir os fãs, os que acompanhavam a discografia de Elvis há muitos anos. Essa união entre fãs e a filial da RCA no Brasil rendeu bons frutos como já tive oportunidade de escrever aqui no blog.

Esse Elvis By Request (Specially For Brazil) apesar do nome em inglês é outro disco 100% nacional. A seleção das faixas foi escolhida diretamente por fãs que enviaram suas sugestões à RCA através de uma promoção da gravadora que foi realizada na época. O resultado das músicas escolhidas de certa forma surpreende pois algumas das músicas nunca foram populares por aqui como por exemplo "Sentimental Me" ou "Tell Me Why". Conversando com fãs da velha guarda alguns me confidenciaram que essas faixas foram incluídas porque eram extremamente raras de se encontrar no mercado (nem preciso lembrar que em 1979 ou você tinha o vinil em mãos ou não tinha nada, uma vez que o mercado pirata de LPs era extremamente raro e os discos originais há muito estavam fora de catálogo em nosso país),

Outro aspecto digno de nota é a presença significante de músicas dos anos 60, muitas de trilhas sonoras. Isso é até fácil de explicar de certo modo. Elvis foi um dos campeões de reprises na Sessão da Tarde. Praticamente toda semana um filme seu dos anos 60 era exibido e assim o cantor foi ficando cada vez mais conhecido pela população brasileira em geral justamente por esse tipo de repertório. Não me admira que canções títulos de filmes seus como "Viva Las Vegas" ou "Girls, Girls, Girls" entrassem na seleção final. Além disso hits com claro sabor latino também marcavam presença como "No More" e "It´s Now or Never". Para completar a sempre lembrada "Sylvia" também entrou na edição uma vez que a canção era extremamente popular por aqui.

Além das canções raras ou complicadas de se achar havia ainda as que simplesmente nunca havia sido lançadas antes. Nesse quesito se sobressai "America", que só havia sido lançada em single nos EUA na esteira de lançamento do álbum "Elvis in Concert". Não resta dúvidas que muitos fãs compraram o disco na época apenas para ter acesso a essa faixa, que pela primeira vez chegava ao mercado brasileiro. Para finalizar é importante informar que todas as demais canções são oficiais, sem nenhum traço da incrível avalanche de material inédito que chegaria ao mercado depois dos anos 1990. Por essa razão hoje em dia o interesse em discos como esse é apenas histórico, o que não deixa de ser bem interessante uma vez que ele traz o retrato de uma época no mercado brasileiro em que cada pequeno trecho inédito de Elvis Presley já era motivo suficiente para a elaboração de todo um disco a ser colocado á venda. O LP chegou nas lojas em julho de 1979 e vendeu excepcionalmente bem nos meses seguintes, principalmente em agosto quando se celebrou os dois anos da morte do cantor. Seu êxito de vendas fez com que novos volumes dessa franquia Elvis By Request fossem lançados nos anos seguintes mas essa é uma outra história.

Elvis By Request (Specially For Brazil)
Viva Las Vegas
It´s Now Or Never
No More
Sylvia
Sentimental Me
What a Wonderfull Life
Tell Me Why
Girls Girls Girls
Come What May
It Hurts Me
I Need You So
America
The Wonder of You
Memphis, Tennessee

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Elvis Presley - The Elvis Medley (1982)

Curioso mesmo é esse LP intitulado "The Elvis Medley". Lançado em 1982 e produzido por David Briggs o disco foi a primeira tentativa de modernizar o som de Elvis para as novas gerações. Como sabemos de tempos em tempos a RCA lança no mercado vários remixes do cantor, inclusive "A Little Less Conversation" que foi um enorme sucesso em seu lançamento. Aqui não podemos falar em remix, na realidade é apenas um medley bem elaborado, bem feito e caprichado, claro levando-se em conta a limitação da tecnologia da época. Eu tive o privilégio de acompanhar o sucesso do disco no Brasil em seu lançamento. Naquela ocasião estava morando no Rio de Janeiro e fiquei não menos do que surpreso com o elevado número de vezes que o Medley era tocado nas rádios FM de então. Não importava o local ou a hora, em plena praia de domingo podíamos ouvir Elvis Presley tocando nos carros, nas barracas à beira mar, nos carros de som. Algo muito gratificante para um fã desse artista.

O Medley era composto apenas de faixas fortes, mega sucessos do passado glorioso de Elvis: Jailhouse Rock / Teddy Bear / Hound Dog / Don´t Be Cruel / Burning Love e Suspicious Minds. O produtor Briggs não quis arriscar e resolver investir no certo e seguro. O mais interessante é que mesmo juntando faixas de períodos diferentes da carreira de Presley tudo transpareceu muito bem encaixado, como se realmente fossem da mesma fase de sua trajetória. Como seria impossível lançar um álbum apenas com esse Medley os produtores resolveram, para completar o disco, colocar mais hits, só que dessa vez em suas versões oficiais, tal como foram gravadas. Chamo inclusive a atenção para a inclusão de "Always On My Mind". Como sabemos a música não teve qualquer repercussão ou sucesso enquanto Elvis estava vivo. De fato foi relevada para um mero lado B do single "Separate Ways" em 1972. Presley nunca sequer a cantou ao vivo durante toda a sua carreira. Música obscura e deixada de lado que após a morte do cantor se tornou um megasucesso, sendo tocada insistentemente em rádios e programas, principalmente durante as décadas seguintes. Sobre sua inclusão em "The Elvis Medley" Briggs comentou: "Era uma grande gravação mas nunca havia se dado atenção a ela. Resolvi incluir no disco como uma forma das pessoas prestarem atenção nela". Acertou em cheio nas suas pretensões.

Outro aspecto a se considerar sobre o disco "The Elvis Medley": além da tentativa de tornar o som de Elvis em algo moderno o disco investiu muito bem no acabamento do produto. Capa de extremo bom gosto, com direção de arte trabalhada, era um LP de presença, ótimo para exibir nas lojas de disco em destaque. Houve inclusive intenso trabalho na promoção do LP, que não ficou restrito apenas às execuções do disco durante os programas mais populares nas rádios mas também através de promoções e sorteios, inclusive com viagens à Memphis - pois Priscilla naquele momento tomando as rédeas do nome Elvis dava cabo ao seu projeto mais ambicioso: a abertura de Graceland para visitação pública, algo que se mantém até os dias atuais. Em suma, "The Elvis Medley" é de certa forma um sinal dos novos tempos que viriam em relação ao nome do cantor, uma forma de tornar o produto Elvis mais atraente, jovem, atual. Um empreendimento que vamos ser sinceros deu muito certo, com certeza.

The Elvis Medley (1982)
The Elvis Medley
Jailhouse Rock
(Let Me Be Your) Teddy Bear
Hound Dog
Don't Be Cruel
Burning Love
Suspicious Minds
Always On My Mind
Heartbreak Hotel
Hard Headed Woman

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Our Memories Of Elvis (1979)

Lançado em fevereiro de 1979 esse disco (na realidade uma pequena série de dois LPs) é bem curioso, a começar pela capa. Nela vemos Tom Parker e Vernon Presley em frente à Graceland, a mansão de Elvis. É o único disco do cantor em que ele mesmo não está na capa e sim seu empresário, na época muito preocupado com a exploração em torno do nome de seu falecido cliente. Nesse ano inclusive ele havia contratado uma empresa de licenciamento exclusivamente para vender a imagem de Elvis em produtos e preservar a integridade de seus direitos autorais (e cujo maior beneficiário era justamente ele, Tom Parker, é claro!). Era uma clara tentativa de evitar ao máximo a exploração não autorizada do cantor.

O design desse projeto é pobre e acima de tudo bem apelativo. Ao lado de um selo de lembranças de "mais um ano sem Elvis" surge todo o oportunismo da velha raposa holandesa. Na realidade a maior exploração em torno da morte do cantor não veio de outros mas do próprio Parker que não se fez de rogado ao bolar um nome sentimentaloide ao LP e usar o próprio pai de Elvis para faturar mais uma grana. Incrível o nível a que chegou o sujeito. A contracapa do vinil ainda era pior: sem medo de parecer desleixada a RCA simplesmente repetiu a contracapa do recém lançado disco "Elvis in Concert". Além de ser constrangedor a falta de primor técnico revelou ainda mais a falta de capricho por parte da gravadora em torno do nome do cantor. Além do sentimentalismo barato "Our Memories of Elvis" mostrava bem como a gravadora RCA estava perdida na época. Sem uma pesquisa correta, a gravadora nem ao menos sabia o que tinha em mãos em relação a Elvis. Tudo o que conseguiram realizar foi um projeto apelativo e de sentimentalismo barato como esse, sem nenhuma preocupação em realmente vasculhar os arquivos da gravadora em busca de algo inédito (e como sabemos hoje havia muito material pegando pó nos extensos setores de conservação sonora da empresa).

Entre as faixas quase nenhuma novidade relevante, a não ser o fato das músicas (as mesmas versões oficiais dos últimos discos de Elvis) virem sem o chamado Overtub (a instrumentalização colocada após a música ter sido gravada em estúdio). A pergunta é: e isso faz alguma diferença? Em termos de novidade, nenhuma. Claro que hoje em dia existem fãs que não gostam muito dos arranjos de Felton Jarvis e preferem as versões mais "cruas", sendo o mais próxima possível do que Elvis gravou em estúdio, mas isso na realidade faz pouca ou quase nenhuma diferença. No meio de todo esse material requentado a única diferença substancial era a versão completa de "Don´t Think Twice It´s All Right" do volume 2 da coleção. Como havia sido editada ao máximo no LP original de 1973 o lançamento do take completo era muito bem-vindo. De resto o Coronel Parker ainda inventou dois singles* que foram lançados ao mercado mas não conseguiram nenhuma repercussão. Pelo menos dessa vez não caíram na Lábia do velho trambiqueiro.

Our Memories of Elvis vol 1
Are You Sincere
It's Midnight
My Boy
Girl Of Mine
Take Good Care Of Her
I'll Never Fall In Love Again
Your Love's Been A Long Time Coming
Spanish Eyes
Never Again
She Thinks I Still Care
Solitaire

Our Memories Of Elvis vol 2
I Got A Feelin' In My Body
Green Green Grass Of Home
For The Heart
She Wears My Ring
I Can Help
Way Down
There's A Honky Tonk Angel
Find Out What's Happening
Thinking About You
Don't Think Twice It's All Right (Complete Unedited Version)

* Singles lançados: "Are You Sincere / Solitaire" em março de 1979 e "I Got A Feelin' In My Body / There's A Honky Tonk Angel" em julho do mesmo ano.

Pablo Aluísio.