sábado, 23 de abril de 2005

Elvis Presley - Memories / Charro

O primeiro single de 1969 na realidade trazia canções do ano anterior. O Lado A vinha com "Memories" do NBC TV Special. É curioso que apesar da importância histórica desse programa de TV, que levantou a carreira de Elvis, havia poucas canções inéditas em seu repertório. Na realidade apenas "If I Can Dream" e "Memories" eram novidade para os ouvidos dos fãs de Elvis. Todo o resto era um grande revival de sua época de ouro, muitas dos anos 1950, quando Elvis realmente revolucionou o mundo da música. Pois bem, segundo a RCA Victor o single vinha atendendo a pedidos dos fãs do cantor. Assim a gravadora resolveu apostar na faixa, mesmo que na época errada - na realidade o single com a música deveria ter sido lançada na mesma semana de exibição do especial na NBC e não  meses depois como acabou acontecendo. O fato é que quando "Memories / Charro" chegou às lojas americanas, já era fevereiro de 1969, o natal já havia passado, as lojas estavam vazias e o impacto da exibição do programa também já tinha sido exaurido. Um típico caso de erro no timing certo no lançamento do compacto. Deixando esses aspectos comerciais de lado é interessante louvar a boa gravação e a bela melodia da canção. Muitos disseram que sua letra era de certa maneira constrangedoramente nostálgica, tentando pegar um gancho com o passado de Elvis para sensibilizar seus antigos fãs dos anos 1950 que o havia abandonado. Bobagem, essa é uma visão meramente simplista da composição em si.

Já o Lado B vinha para promover o faroeste "Charro". Estrelado por um Elvis barbudo e com visual diferente a película era uma tentativa de trazer novos ares para a estagnada e saturada filmografia de Presley em Hollywood. Infelizmente o filme não trouxe nada de muito marcante para Elvis nesse sentido. Era apenas uma cópia da cópia. Explico. O chamado Western Spaguetti nada mais era do que uma cópia italiana dos filmes americanos de faroeste. "Charro" é uma produção estranha porque era um filme americano que tentava imitar os filmes italianos, ou seja, tentava copiar uma cópia! Bem irracional não é mesmo? O filme em si deixa muito a desejar, não tem boa produção - mais parecendo um telefilme da época - e roteiro mal escrito. Elvis até se esforça, mas nunca deixamos de lado a sensação de que estamos na realidade vendo Elvis vestido de Charro. Em nenhum momento ele consegue desaparecer dentro de seu personagem. Na época o estúdio vendeu o filme como uma nova forma de apresentar Elvis nos cinemas, mas a verdade é que tudo se tornou apenas mais um fracasso de bilheteria em sua carreira. Se o filme deixa muito a desejar o mesmo já não se pode falar da música. Na primeira vez que a ouvi não gostei muito, sinceramente falando. Hoje em dia já tenho uma impressão melhor. Certamente passa longe de ser um tema com a qualidade de um Ennio Morricone, porém passa longe de ser um desastre ou uma vergonha alheia. Tem lá seus méritos. De uma forma ou outra, seja porque foi lançado em uma época errada, seja porque não teve uma boa divulgação, o fato é que o single em si não foi um campeão de vendas, alcançando apenas a trigésima quinta posição entre os mais vendidos. Bem abaixo do single anterior com "If I Can Dream" que fez bonito nas paradas. O lançamento temporão e fora de época pelo menos serviu para a RCA Victor ficar mais atenta na questão temporal, no tempo certo de colocar certas músicas de Elvis no mercado.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 22 de abril de 2005

Elvis Presley - Guitar Man / Hi-Heel Sneakers

Mais um exemplo do salto qualificativo que estava acontecendo gradualmente na discografia de Elvis Presley. É curioso perceber que enquanto os álbuns afundavam, tanto do ponto de vista artístico como comercial, os singles ousavam e ganhavam muito em termos de qualidade em si. Isso de certa forma demonstrava duas coisas: Primeiro, o medo que a RCA Victor tinha em lançar canções convencionais e fora dos padrões das trilhas sonoras. Segundo, que as próprias trilhas sonoras já não estavam com nada, uma fórmula que já deixava claro que não tinha mais futuro para Elvis. "Guitar Man" foi gravado nas ótimas sessões de setembro de 1967 no RCA Studio B, em Nashville, Tennessee. O produtor foi Felton Jarvis, acompanhado do engenheiro de som Jim Malloy. Foi justamente a canção que abriu os trabalhos naquela noite. Elvis tinha plena conviccão que as canções dos filmes deixavam muito a desejar e por essa razão estava com vontade de gravar material mais relevante. Acertou em cheio! Um dos destaques da gravação é seu arranjo, bem mais trabalhado e caprichado do que o que vinha sendo gravado para filmes em geral. Com uma levada country, porém com pitadas também do bom e velho rock, a canção certamente é uma das melhores gravadas por Elvis nesse período de sua carreira. Foram necessárias doze tentativas para enfim se chegar na versão master. De uma forma ou outra ela teria grande destaque posteriormente, durante o NBC TV Special, virando até mesmo tema principal do programa. Curiosamente nos anos 80 a música passaria por uma remodelagem sonora completa, com o aproveitamento apenas do vocal de Elvis, sendo substituída toda a parte de acompanhamento. Ficou diferente, menos country e de certa forma bem interessante, embora obviamente prefira a versão original.

"Hi-Heel Sneakers", por sua vez, é um blues visceral, também muito bem arranjado, contando com ótimas partes instrumentais. Foi gravada na mesma sessão de "Guitar Man", porém no dia seguinte, já na segunda-feira. A versão original foi gravada por Tommy Tucker no selo Checker em 1964. Acabou sendo seu grande sucesso indo parar no topo da parada Cash Box. Na Billboard também se destacou chegando na ótima décima primeira posição da Billboard Hot 100. É certamente uma das músicas mais regravadas da história, ganhando versões nas vozes dos Beatles, Rolling Stones, Sting, Led Zeppelin, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, Everly Brothers, Chuck Berry, Stevie Wonder e tantos outros. Estima-se que tenha mil versões gravadas, dentro e fora dos Estados Unidos. A de Elvis pode ser considerada, sem exageros, como uma das melhores. Voltando à sua discografia muitos anos depois, fazendo parte inclusive de uma excelente coletânea só de blues lançada nos anos 80 chamada "Reconsider Baby", um dos últimos LPs lançados de Elvis no Brasil já que o vinil estava em pleno processo de abandono por parte da indústria fonográfica. Por ter chegado nas lojas nesse momento histórico de transição foi também um dos primeiros CDs de Elvis a chegar no mercado brasileiro. Pela primeira vez o consumidor tinha o direito de escolher entre o vinil e o CD nas prateleiras dos grande magazines. Para quem tinha acompanhado a escassez de títulos em catálogo do cantor já era um avanço e tanto. Para quem estiver realmente interessado na música eu recomendo ainda os seguintes títulos: "Silver Box" e "Rare Elvis". Infelizmente poucos takes dessa música chegaram até nós. Ao que tudo indica Felton Jarvis acabou inutilizando as fitas que traziam as primeiras tentativas de Elvis em emplacar a canção dentro do estúdio. Uma pena.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Stay Away Joe

Embora o filme fosse irrelevante, Elvis teve que mais uma fazer entrar em estúdio para gravar sua trilha sonora. O cantor já não tinha mais disposição para viajar até a costa oeste e por isso a RCA Victor aceitou sua sugestão de gravar as músicas do filme ali por perto de Memphis mesmo, em Nashville. Jeff Alexander foi indicado para ser o produtor das músicas. Ele já vinha trabalhando com regularidade ao lado de Presley, principalmente na gravação de músicas para filmes de Hollywood. Al Pachucki foi o engenheiro de som dos trabalhos. Assim na noite do dia 1 de outubro de 1967 Elvis chegou ao estúdio B da RCA em Nashville, Tennessee. Na pauta havia dez canções, mas Elvis não estava nada disposto a gravar tudo. Ele ouviu as demos e eliminou cinquenta por cento delas. Não gostou muito da canção título, "Stay Away, Joe", mas essa não poderia ser deixada de fora. As sessões se iniciaram com a versão que seria usada no filme. Curiosamente foram necessários mais takes do que o habitual porque Elvis não conseguia se concentrar na canção, que era mesmo muito fraca, com melodia piegas e letra boba. As coisas melhoram um pouco com "All I Needed Was the Rain" por causa de seu balanço de blues negro. Mesmo assim não chegava a ser uma obra prima. Pior veio depois quando Elvis teve que colocar sua voz na medíocre "Dominick". O roteiro previa que Elvis a cantaria para um bovino! (sim, é verdade, por mais incrível que isso possa parecer!).

Depois da gravação desse lixo a sessão foi encerrada. Elvis pensou que estava livre desse material de baixa qualidade, mas foi surpreendido pelo aviso da RCA de que ele deveria voltar ao estúdio para gravar mais versões e se possível melhorar as que já tinham sido gravadas. Assim Elvis retornou em janeiro de 1968 para mais uma sessão com esse mortificante material. Para sua surpresa não conseguiu terminar numa noite, como estava planejado, tendo que ficar três dias em Nashville tentando consertar a trilha sonora. Uma nova faixa chamada "Stay Away" foi providenciada e como havia muito tempo livre Elvis acabou gravando mais três músicas que não faziam parte da trilha. Entre elas alguns clássicos de sua carreira como "Too Much Monkey Business" de Chuck Berry, que apesar de ter sido muito bem gravada seria negligenciada de forma vergonhosa pela RCA Victor no mercado e "U.S. Male" que teria melhor destino. Essa segunda sessão contou com outro produtor, Felton Jarvis, que estava disposto a melhorar a qualidade dos discos de Elvis. Isso explica em parte a excelente gravação de "Goin' Home", sem dúvida uma das melhores faixas gravadas por Elvis nessa fase de sua carreira.

Sessão de gravação da trilha sonora Stay Away Joe
Data de gravação: 01 de outubro de 1967 - 15 a 17 de janeiro de 1968
Local de gravação: RCA Studio B, Nashville, Tennessee
Produção: Jeff Alexander, Felton Jarvis
Engenheiros de som: Al Pachucki e Bill Vandevort 
Músicos: Elvis Presley (vocais), Scotty Moore (guitarra), Jerry Reed (guitarra e violão), Chip Young (guitarra), Bob Moore (baixo),  Murrey "Buddy" Harman (bateria), D.J. Fontana (bateria), Floyd Cramer (piano), Charlie McCoy (harmonica), Peter Drake (steel guitar) e The Jordanaires (vocais).

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 21 de abril de 2005

Long Legged Girl / That's Someone You Never Forget

Bom, a alegria dos fãs de Elvis infelizmente não iria durar muito em 1967. É certo que nesse ano ele gravou um grande disco, "How Great Thou Art" que lhe trouxe pela primeira vez em anos muitas críticas positivas. O problema é que lá atrás Elvis havia assinado contratos de longa duração com as principais companhias cinematográficas de Hollywood e precisava cumpri-los. Como já estava muito claro nem sempre a qualidade pontuava os filmes e as trilhas sonoras desses projetos e assim o fã tinha que se contentar em ver Elvis envolvido em uma sucessão de abacaxis. Em abril de 1967 pintou nas lojas seu novo single, "Long Legged Girl / That's Someone You Never Forget". A primeira canção do lado A era de fato inédita, já o lado B trazia uma reprise antiga do álbum "Pot Luck With Elvis". Isso por si só já tirava a metade da vontade de comprar o single para o colecionador de longa data. Sobrava assim apenas a curiosidade de ouvir mais uma faixa inédita de Elvis que vinha para promover um novo filme de título esquisito "Double Trouble" (algo como "Problemas em dobro"). Ao colocar o disquinho para tocar o ouvinte logo chegava na conclusão que o título era mais do que adequado pois Elvis tinha mesmo muitos problemas em sua carreira musical, em dobro! A música era extremamente fraca, um "roquinho", vamos colocar dessa forma. Não, não se tratava de um rock digno de alguém que era chamado de Rei do Rock e passava muito longe de seus antigos clássicos imortais no gênero.

Era mais uma daquelas musiquinhas com letra adolescente que não diziam absolutamente nada. Elvis demonstrou toda a sua má vontade na gravação. Ele estava visivelmente mal, desinteressado, chegando ao ponto de conter o riso em razão da mediocridade dos arranjos, da letra e da melodia. Elvis era, gosto de sempre relembrar isso, um cantor com muita cultura musical, adquirida desde seus tempos de infância, lá em Memphis. Ouvindo apenas as rádios mais importantes, ele sabia muito bem o que tinha valor como música e o que era lixo cultural. Não era um idiota. Sob qualquer ponto de vista "Long Legged Girl" era mesmo lixo. O problema de trilhas sonoras era que o pacote chegava até Elvis fechado, completo. Ele sequer tinha direito de opinar sobre a qualidade das faixas. Por questões contratuais seu trabalho se resumia em ir até o estúdio e cantar as músicas, por piores que fossem! Um horror! E como se tudo isso não fosse ruim o bastante o fato é que a gravação em si da música deixou muito a desejar. A faixa foi gravada na correria em junho de 1966 no Radio Recorders em Hollywood. Foi a última canção gravada da trilha naquela noite, já na alta madrugada, quando nem os músicos e nem o produtor Jeff Alexander estavam mais dispostos em realizar um trabalho melhor. Todo mundo estava cansado e de saco cheio. Elvis levou apenas seis takes para chegar ao seu take definitivo, enfim, correria, falta de qualidade e desinteresse formavam em conjunto os ingredientes certeiros para compor mais um decepcionante novo single para Elvis em uma das piores fases de sua carreira.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Big Boss Man / You Don't Know Me

A prova que a carreira musical de Elvis estava dividida em duas fatias bem claras. Na primeira, relacionada aos álbuns, o cantor se via preso nas trilhas sonoras dos filmes Made in Hollywood. Em relação a esses discos não havia muita saída. O pacote já chegava completo e fechado nas mãos de Elvis. Tudo o que lhe sobrava era colocar sua voz nas canções determinadas pelos estúdios de cinema e por sua gravadora, a RCA Victor. Em relação aos singles havia maior margem de liberdade, principalmente a partir de 1966, quando a RCA foi se conscientizando que as músicas de filmes estavam destruindo as possibilidades comerciais de Elvis Presley em se destacar. Assim os próprios executivos incentivavam Elvis a escolher o material que desejasse nessas sessões. Na verdade o próprio Elvis estava farto! Ele queria gravar material de qualidade, adulto, que não tivesse mais aquela pegada adolescente que ainda persistia em seus álbuns de filmes. Ele queria cantar canções relevantes, que falassem de sentimentos das pessoas de sua idade. Ficar cantando sobre praia, surfe e mariscos estava se tornando insuportável. Assim a RCA programou uma sessão em setembro de 1967 em que Elvis teria plena liberdade para escolher o material que queria gravar. Nem preciso dizer que a sessão se revelou maravilhosa em todos os aspectos. Presley sabia que muito provavelmente algumas daquelas gravações seriam desperdiçadas como bonus songs em trilhas sonoras, mas também tinha esperanças que outras pudessem chegar ao mercado para vencer por seus próprios méritos.

"Big Boss Man" foi a segunda música gravada nessas sessões, logo após outro clássico, "Guitar Man". Elvis estava determinado e procurar por novas sonoridades, outros tipos de letras mais interessantes, que fugissem um pouco do romance adolescente que imperava em suas canções para filmes. Também é importante destacar que nessa noite do dia 10 de setembro Elvis emplacou apenas duas gravações, demonstrando que tudo foi realmente gravado com capricho, calma, para acertar em cima de um arranjo muito bem elaborado e de qualidade. Já o lado B do single, "You Don't Know Me" foi gravada no dia seguinte. Elvis amava essa canção. Era uma de suas preferidas e ele vinha aborrecido há tempos porque não tinha gostado da versão que havia gravado para o filme "Clambake". Ele queria chegar em um take mais decente, em suas próprias palavras. Fã de Eddy Arnold não queria deixar uma versão de segunda categoria com seu nome na capa. Quem dirigiu os trabalhos nessas sessões foi Felton Jarvis, um produtor que se deu muito bem com Elvis dentro dos estúdios, a tal ponto que não mais se largaram após essas sessões iniciais. Felton tinha uma incrível capacidade de entender o que Elvis queria quando estava gravando. Além disso lhe proporcionava uma liberdade e um clima ameno e agradável para que ele liberasse seu talento sem pressões ou atritos. Era o produtor que ele tanto procurava após todos aqueles anos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de abril de 2005

Elvis Presley - FTD Easy Come, Easy Go

O lançamento desse título realmente me deixou surpreso. O material de "Easy Come, Easy Go" é tão inexpressivo dentro da carreira de Elvis Presley que pensei que jamais seria explorado pelo selo FTD. Bom, talvez para não deixar buracos o produtor Ernst Jorgensen resolveu então incluir essa trilha na coleção. Infelizmente como já foi escrito aqui no blog todo o projeto relacionado a "Easy Come, Easy Go" foi um fracasso de público e crítica. O filme foi mal nas bilheterias e o compacto duplo com a trilha lançada nos Estados Unidos foi quase que completamente ignorado nas lojas de discos. No Brasil foi bem pior porque a filial brasileira da RCA sequer teve interesse em lançar as canções em nosso país e elas, como não poderia deixar de ser, ficaram anos inéditas por aqui. Na época a RCA esclareceu que se o EP tinha fracassado dentro do mercado americano não havia qualquer razão para chegar nas lojas do Brasil pois o prejuízo comercial seria certeiro. Some-se a isso a enxurrada de críticas negativas lá fora em seu lançamento e você entenderá porque a RCA em nosso país desistiu dos discos de Elvis por volta de 1965. Eles não vendiam mais e como Elvis foi sendo deixado de lado o primeiro reflexo disso foi o não lançamento de seus últimos títulos americanos no Brasil. Só muitos anos depois foi que Marcelo Costa do fã clube SPEPS as incluiu em um disco 100% brasileiro chamado "Elvis by Request volume 2" no distante ano de 1981. As músicas de "Easy Come, Easy Go" ocuparam todo o lado B do antigo vinil. Foi uma forma dele, que foi grande fã de Elvis Presley no Brasil, em lançar em nosso mercado a inédita trilha sonora. Uma atitude que certamente merece todos os reconhecimentos e elogios.

Pois bem, tirando tudo isso de lado e ouvindo novamente as canções temos que admitir que esse material realmente não tem salvação. É ruim, bobinho, inofensivo e muito fora do contexto. Talvez essas musiquinhas ficassem bem em um astro juvenil ao estilo Fabian, mas Elvis Presley? Lamento dizer, mas realmente o conjunto da obra é muito medíocre. Como já tive a oportunidade de escrever antes por essa época havia um descompasso entre a produção musical de Elvis e os fãs que ainda persistiam em acompanhar sua carreira decadente. Elvis e seus produtores pareciam empenhados em apresentar material adolescente, bobo mesmo, para pessoas que já tinham passado de seus 30 anos de idade. O próprio Elvis já estava com 32 anos quando gravou essa trilha sonora boboca. Talvez o Coronel pensasse que os fãs de Elvis ficariam na adolescência para sempre, como um grupo coletivo de fãs de Peter Pan, mas a realidade do mundo natural é outra. O que era divertido aos 16 anos logo se torna idiota quando se fica mais velho. Elvis na verdade estava cantando para ninguém, já que os verdadeiros adolescentes tinham outros ídolos e seus fãs antigos dos anos 50 estavam casados, com filhos e muitas contas a pagar. Não iriam perder tempo ouvindo Elvis cantando bobagens como "Yoga Is As Yoga Does". O resultado de tudo isso não foi complicado de prever mesmo, desencadeando tudo em um enorme fracasso comercial.

FTD Easy Come, Easy Go
Easy Come, Easy Go
The Love Machine
Yoga Is As Yoga Does
You Gotta Stop
Sing You Children
I'll Take Love
She's A Machine
The Love Machine (Takes 1, 2, 3)
Sing You Children (Take 1)
 She's A Machine (Takes 5, 6, 7)
Easy Come, Easy Go (Take 10)
The Love Machine (Takes 4, 5, 11)
I'll Take Love (Takes 1, 2 A)
She's A Machine (Take 10)
Sing You Children (Takes 18, 19)
Yoga Is As Yoga Does (Takes 5, 6)
The Love Machine (Takes 13, 14)
She's A Machine (Take 13)
I'll Take Love (Take 2 B)
You Gotta Stop (instrumental take 1)
Leave My Woman Alone (instrumental take 5)

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Indescribable Blue / Folls Fall in Love

O ano de 1967 na carreira de Elvis Presley começou muito bem com o lançamento logo em janeiro daquele ano do single "Indescribable Blue / Folls Fall in Love". "Indescribable Blue" vinha com um arranjo realmente diferenciado, muito bem produzido, com belos solos de violão espanhol choroso ao fundo, tudo enriquecido com um bonito coro feminino (algo que soava naqueles anos como uma grande novidade nas gravações de Elvis). Era uma canção bem diferenciada dentro da discografia de Presley certamente. A letra evocava a saudade de um amor perdido, com o autor se sentindo "Indescritivelmente triste" com sua situação pessoal. Infelizmente a música, apesar de todos os seus inegáveis méritos em termos de qualidade, arranjo e letra, acabou sendo ignorada pelo público, fazendo com que o single não conseguisse se destacar nas paradas. Era um reflexo negativo da baixa qualidade de suas trilhas sonoras para o cinema. O público não conseguia mais distinguir o que era bom do ruim e acabava ignorando todos os lançamentos de Elvis por essa época, o que era mesmo uma grande pena!

O lado B por sua vez vinha com a alegre e divertida "Folls Fall in Love" que apesar de pregar em sua letra que "apenas os tolos se apaixonam" tinha um arranjo para cima, com Elvis visivelmente empolgado com a melodia e a letra. Obviamente não podia se comparar com a bela "Indescribable Blue" do lado A, mas certamente era salva por sua energia positiva e pelo (novamente) bem produzido arranjo, embora esse seja bem mais tradicional do que o ouvinte havia constatado no lado principal do single. Aqui se sobressaem belos solos de sax e guitarras, tudo resultando em um inspirado momento de Elvis nos estúdios. Embora fosse um cover de Presley para um velho hit R&B dos Drifters, a canção também marcava, mesmo que indiretamente, um reencontro de Elvis com a maravilhosa dupla Leiber & Stoller, que tantos sucessos tinham escrito para ele em seus melhores anos na RCA Victor. Certamente não é nenhuma obra prima, mas consegue manter o bom padrão dentro do compacto, que era de fato muito acima da média das trilhas. No geral ainda não era a mudança tão aguardada pelos fãs nos rumos da carreira do cantor, mas já soava como algo novo, diferente. Elvis só iria mudar tudo mesmo em 1968, pois em 67 os fãs ainda teriam que lidar com muitas tolices e bobagens em sua discografia. Os tempos ruins porém estavam prestes a acabar.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de abril de 2005

Elvis Presley - Milky White Way / Swing Down Sweet Chariot

Outro single lançado em 1966 foi esse compacto gospel com duas músicas extraídas do disco "His Hand in Mine". Certamente são boas canções, diria até mesmo ótimas, gravadas em um momento na carreira de Elvis, em 1960, onde tudo parecia correr muito bem, ou seja, o extremo oposto do que Presley vinha passando seis anos depois. O curioso é que por essa época o cantor começava a afundar de cabeça em suas leituras espirituais, deixando sua carreira completamente de lado. A postura de Elvis nesses tempos era pragmática: a gravadora marcava a sessão de gravação, ele ia até lá e gravava o que lhe era pedido. Simples assim, nem mais, nem menos do que isso. Se as músicas eram boas ou ruins não cabia a Elvis opinar (pelo menos em sua estreita visão do que estava acontecendo ao seu redor). Assim Elvis fazia o que a RCA lhe ordenava, recebia seu pagamento e voltava para suas leituras esotéricas. Afinal de contas ele tinha um padrão de vida excelente, não se preocuparia tanto em escolher as músicas, suas pílulas estavam sempre à mão e Priscilla o apoiava, não importando o que fizesse.

Embora procurasse sempre por um avanço espiritual o fato era que aos poucos Elvis foi novamente caindo na real. Ele havia adotado uma postura de passividade em relação ao material de seus discos desde que voltara para Hollywood, mas devagar foi percebendo que os álbuns não conseguiam mais fazer sucesso e nem se destacar nas paradas. Os Beatles estavam dominando, havia uma nova revolução no rock e ele estava por fora de tudo isso. Leitor das publicações de música Elvis havia se acostumado a ver suas trilhas sonoras sempre entre as dez mais vendidas e quando isso não mais aconteceu começou a se aborrecer de verdade. Ele sabia que as canções não prestavam, tinha plena consciência disso e começou a implodir quando viu seu nome associado a tanta coisa medíocre. Quando também tomou consciência do relançamento da RCA Victor de antigas músicas religiosas como essas, teve a (finalmente) excelente ideia de gravar um álbum novo apenas com música gospel. Afinal de contas se havia dado tão certo com "His Hand in Mine" por que não repetir a dose? Uma coisa era certa, seria um material bem mais relevante do que seu últimos discos, com todas aquelas canções Made in Hollywood sem valor artístico algum.

Pablo Aluísio.