terça-feira, 19 de abril de 2005

Elvis Presley - FTD Spinout

Meu maior interesse nesse título do selo FTD era realmente ouvir as versões gravadas em estúdio na sua maneira mais crua e sem retoques. Em minha forma de ver a "maquiagem" sonora que foi usada na trilha sonora acabou estragando o resultado final. Além disso nunca perdi a opinião de que a trilha soava mal gravada mesmo nas origens. Para não ser injusto deixei sempre a porta da dúvida aberta. Teria sido mera imperícia de banda e Elvis ou era tudo resultado da péssima edição realizada na mesa de som do engenheiro da gravação da RCA? Infelizmente não há material suficientemente farto na seleção musical para se chegar numa conclusão definitiva. O produtor Ernst Jorgensen aqui trouxe apenas cinco gravações realmente inéditas dentro do mercado. O CD é composto pelas versões originais da trilha sonora (incluindo as bonus songs), seis takes alternativos que já eram conhecidos dos fãs (pois foram lançados antes nos discos "Collectors Gold", no CD "Out In Hollywood" e no box "Today, Tomorrow And Forever") e apenas poucas versões de fato inéditas das canções "Smorgasbord", "Beach Shack", "Never Say Yes", "All That I Am" e "Stop, Look And Listen" (totalizando apenas seis faixas).

Assim ao ouvir todo o CD não consegui mudar minha opinião. A trilha de "Spinout" parece mesmo ter sido gravada às pressas, sem capricho, sem cuidado. Até a voz de Elvis parece sem vida, apressada em acabar logo com aquilo. Os músicos que sempre se mostraram tão virtuosos em trabalhos anteriores de Presley também parecem convencidos que não há muito o que fazer com aquele fraco material e assim se colocaram em um terrível modo de controle remoto, executando suas notas musicais sem muito empenho ou garra. Soam tão talentosos e primorosos quanto um burocrata, um funcionário público brasileiro qualquer, batendo seu carimbo em documentos de pura burocracia. Elvis não está melhor. Embora em algumas faixas a velha chama ainda pareça acessa a maior parte do tempo Elvis parece estar passando a mensagem subliminar para seus músicos de que "vamos acabar logo com tudo para irmos para casa o mais rapidamente possível". Uma pena, a que ponto havia chegado a carreira daquele que havia sido o maior nome da música mundial.

FTD Spinout
1: Stop, Look And Listen
2: Adam And Evil
3: All That I Am
4: Never Say Yes
5: Am I Ready
6: Beach Shack
7: Spinout
8: Smorgasbord
9: I'll Be Back
10: Tomorrow Is A Long Time
11: Down In The Alley
12: I'll Remember You
13: Stop, Look And Listen (takes 1, 2, 3)
14: Am I Ready (take 1)
15: Never Say Yes (takes 1, 2)
16: Spinout (takes 1, 2)
17: All That I Am (takes 1, 2)
18: Adam And Evil (takes 1, 14, 16)
19: Smorgasbord (take 1)
20: Beach Shack (takes 1, 2, 3)
21: Never Say Yes (takes 4, 5)
22: All That I Am (take 4)
23: Stop, Look And Listen (take 6)
24: Smorgasbord (take 5)

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de abril de 2005

Elvis Presley - Spinout / All That I Am

Embora o single "Love Letters / Come What May" tenha deixado os fãs de Elvis cheios de esperanças o fato era que o cantor ainda estava preso aos inúmeros contratos que assinou no começo dos anos 60 e isso significava que pelo menos em curto prazo ele não deixaria os filmes em Hollywood. Assim não tardou a pintar nas lojas de discos o single "Spinout / All That I Am". Mais músicas de filmes. Mais um trilha sonora que estava por vir. Era algo que não estava nas expectativas de ninguém. Os fãs queriam basicamente que Elvis voltasse a gravar álbuns convencionais, realizar shows e deixar os filmes ruins feitos na costa oeste de lado. Afinal de contas depois de coisas como "Paradise Hawaiian Style" a paciência estava chegando ao fim. O curioso é que o Coronel Parker nesse mesmo tempo estava atarefado criando uma campanha para celebrar os "Dez Anos de Elvis Presley em Hollywood", sem entender que nos fãs clubes todo mundo já estava farto de trilhas sonoras e filmes ruins. Em outras palavras, Coronel estava preparando um aniversário que ninguém queria celebrar.

As duas canções já traziam uma ideia do que seria encontrado na trilha sonora. "Spinout" do Lado A seria a canção título do novo filme. Uma gravação com uma sonoridade um pouco diferente, valorizando os efeitos de percussão. A letra era novamente muito boba e não havia nenhum potencial para transformar aquela música em um hit nas paradas. Além disso ela não tinha uma boa qualidade técnica de gravação, com os vocais de Elvis muito à frente de sua banda, o que dava a impressão que tudo havia sido gravado separadamente. Na realidade era uma velha manobra de Tom Parker que tinha chegado na conclusão que os discos de Elvis estavam mal sonorizados, com os vocais de Elvis sendo abafados por seu grupo. Presley não pensava dessa forma, mas Parker passou por cima de sua opinião e resolveu mexer nas gravações por conta própria. Telefonou para a RCA e disse que os engenheiros de som fizessem a mudança. No lado B do single foi encaixada a música "All That I Am", que já soava um pouco melhor, com bonito arranjo, fruto do bom trabalho do novo produtor, Felton Jarvis. Os fãs logo notaram que havia algo de novo ali. A decisão de melhorar as gravações partiu do diretor musical George Stoll da MGM, que havia ouvido a última trilha sonora de Elvis e não gostou do que escutou. Assim ele indicou Jarvis para que esse em Nashville desse um bom "banho de loja" nas músicas para que não parecessem tão fracas. Com o tempo o próprio Jarvis iria se tornar o produtor de Elvis em estúdio. Infelizmente mesmo com as mudanças o single foi um tremendo fracasso comercial, não conseguindo se destacar nas vendas, encalhando vergonhosamente nas prateleiras das lojas nas semanas seguintes.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Love Letters / Come What May

No meio de tantas trilhas sonoras e filmes ruins a carreira de Elvis começou a renascer discretamente no lançamento de singles, alguns desprezados pela própria RCA que não os divulgava adequadamente. Aqui surgia novamente o Elvis Presley puramente cantor, sem as amarras de Hollywood. Para os fãs o primeiro sinal de que algo bom ainda poderia surgir da carreira de Elvis pintou nas lojas em junho de 1966. Foi nesse mês que a RCA Victor lançou o single "Love Letters / Come What May", considerado por muitos o melhor single de Elvis naquele ano, pois contava com as duas ótimas músicas gravadas em maio de 1966. Olhando para trás fica complicado mesmo entender a falta de visão das pessoas que controlavam a carreira de Elvis. Ora, se as trilhas sonoras eram ruins e os filmes verdadeiras palhaçadas, por que insistir em algo que não estava dando certo? Por outro lado quando Elvis entrava em estúdio apenas como cantor, gravando material de qualidade, tudo acabava dando certo. Por que esse lado bom de sua carreira continuava a ser ignorado?

Em maio de 1966 Elvis entrou em estúdio e fez uma bela sessão. Seis canções convencionais e inéditas foram gravadas nessa ocasião, algumas demonstrando que o talento de Elvis ainda continuava intacto e que tudo o que ele precisava mesmo naquele momento era de material com um mínimo de qualidade. "Down In The Alley", "Tomorrow Is A Long Time" (a famosa canção de Bob Bylan), Love Letters (a versão original e não a regravação que deu origem a um disco de Elvis nos anos 70), "Beyond The Reef", "Come What May" e "Fools Fall in Love" mostravam que Elvis estava vivo e respirando, mesmo que com dificuldades. Essas seis canções, se tivessem sido lançadas em um disco normal, teriam amenizado e muito a crise musical e artística da carreira de Elvis. Mas infelizmente os executivos da RCA não souberam aproveitar. O single "Love Letters / Come What May", não contou com o mínimo de publicidade mas mesmo assim alcançou uma razoável posição entre os mais vendidos nos EUA (19º lugar) e um ótimo sexto lugar na Inglaterra! Aos poucos Elvis Presley estava finalmente renascendo das cinzas.

Pablo Aluísio. 

domingo, 17 de abril de 2005

Elvis Presley - FTD Paradise Hawaiian Style

"Feitiço Havaiano" foi um dos maiores sucessos da carreira de Elvis nos cinemas durante os anos 1960. O coronel Parker sempre achou esse filme de Elvis o "produto perfeito". Então uma seqüência (ou quase isso) seria inevitável. Assim nasceu "No Paraíso do Havaí", a tentativa de repetir todo aquele sucesso, ou seja, o coronel Parker colocou Elvis para imitar ele mesmo! A trilha, assim como o filme, é pouco animadora. Tem poucos bons momentos como "Sand Castles" (linda) e muitos péssimos como "A Dog's Life" e "House of Sand". Como o próprio material é fraco e desprovido de maior interesse a única coisa que levará o fã de Elvis a adquirir o CD é sua busca por ter uma coleção completa, já que, vamos ser bem sinceros, tudo poderia ser jogado no lixo sem maiores culpas! O interessante é que o próprio selo FTD tinha consciência que vender esse material não seria nada fácil, assim acabou lançado o CD dentro de um pequeno pacote com duas outras trilhas sonoras do mesmo período. Quem sabe dessa forma o colecionador não se animaria a comprar todos os três títulos, quem sabe...

Os takes alternativos porém trazem um pouco de interesse, pois mostra Elvis no estúdio, tendo que lidar com toda aquela porcariada, para transformar o que já era muito ruim em algo ao menos audível. E isso, meus amigos, não era algo fácil de conseguir. É nítido o desânimo de Elvis em ter que gravar essas faixas, pois além de serem havaianas eram de um má qualidade enorme. Fico imaginando o que se passava na mente dele em momentos como esse. Isso porque Elvis sempre foi o primeiro crítico de seu trabalho. Ele tinha muita cultura musical, desenvolvida desde os tempos de infância em Memphis, quando ouvia o que havia de melhor em termos de música pelo rádio. Imagine você uma pessoa como essa sendo obrigada a gravar todo esse lixo Hollywoodiano, sabendo que sua credibilidade como artista seria abalada quando esse disco chegasse no mercado. Definitivamente não foi algo fácil para uma pessoa como ele, que sabia que tudo, no final das contas, era destituído de valor cultural.

FTD Paradise, Hawaiian Style
Paradise, Hwaiian Style
Queenie Wahine's Papaya
Scratch My Back
Drums Of The Islands
Datin'
A Dog's Life
House Of Sand
Stop Where You Are
This Is My Heaven
Sand Castles
This Is My Heaven (take 4)
A Dog's Life (takes 4,5,6)
Datin' (takes 6,7,8,11,12)
This Is My Heaven (take 7)
Drums Of The Islands (takes 4,5)
Queenie Wahine's Papaya (take 5)
Stop Where You Are (take 1)
House Of Sand (take 3 plus intro)
Paradise, Hawaiian Style (takes 4,1)
Scratch My Back (take 1)
A Dog's Life (take 8)
Sand Castles (take 1)
Datin' (takes 1-4)

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - FTD Frankie and Johnny

Assim encerrando os comentários sobre o filme "Frankie and Johnny" vamos tecer breves comentários sobre o CD do selo FTD dessa trilha sonora. Originalmente foi lançado em 2004 (lá se vão dez anos, como o tempo passa rápido!!!) e talvez por essa razão não seja dos mais simples de encontrar hoje em dia (embora no mundo da internet tudo seja possível). Por essa época a FTD estava bem concentrada nas trilhas sonoras dos anos 60. Além de "Frankie and Johnny" o selo havia lançado "Fun In Acapulco", "Girl Happy", "Harum Scarum" e "Vivas Las Vegas". Todos com encartes de bom gosto, excelente direção de arte, livretos, fotos raras e revitalização sonora. Uma beleza. Outro ponto positivo é que o título vinha com muitas gravações inéditas. Credito isso ao fato de que após seu lançamento nos anos 60 ninguém mais se interessou muito por essa trilha que ficou meio de lado, esquecida. Como não havia nenhum grande sucesso e também como não tinha sido um sucesso de vendas em seu lançamento as canções foram aos poucos sendo esquecidas. Pois bem, o colecionador teve assim em mãos a trilha sonora original e mais 13 faixas completamente inéditas que pela primeira vez chegavam aos fãs. Só isso já valeria a adição do CD na coleção, mesmo que você não simpatizasse muito com a sonoridade de metais ao estilo New Orleans.

Embora recheada de coisas inéditas o CD também apresentava algumas reprises conhecidas. Os fãs já tinha tido acesso ao take 1 de "Frankie and Johnny" no CD FTD "Out In Hollywood" e ao take 10 de "Please Don't Stop Loving Me" no box "Today, Tomorrow And Forever". Para quem viveu a época houve ainda o resgate da versão do acetato de "Frankie And Johnny" que trazia a versão do filme, levemente diferente da do álbum. Fora isso tudo inédito. Pelo relativo sucesso que fez a canção "Please Don't Stop Loving Me" ganhou certo destaque com várias versões. Acho isso até justificável. Agora, complicado mesmo é entender porque deram tanta atenção para a péssima "Petunia, The Gardeners Daughter". Ouvir essa canção uma vez já é ruim, imagine várias vezes!!! Pena que não haja takes alternativos do medley "Down By The Riverside / When The Saints Go Marching In" e nem de "Beginner's Luck". Infelizmente são coisas do destino já que muito material gravado por Elvis em estúdio acabou sendo mesmo jogado fora, seja por engano, seja porque a RCA jogava mesmo na lata de lixo takes de sessões que não mais lhe interessavam comercialmente. Tudo bem, de uma forma ou outra o que sobrou já vale bastante a pena. Resgata uma trilha que o tempo esqueceu. Só isso já justifica completamente o lançamento desses registros fonográficos.

FTD Frankie and Johnny
1. Frankie And Johnny
2. Come Along
3. Petunia, The Gardeners Daughter
4. Chesay
5. What Every Woman Lives For
6. Look Out, Broadway
7. Beginner's Luck
8. Down By The Riverside / When The Saints Go Marching In
9. Shout It Out
10. Hard Luck
11. Please Don't Stop Loving Me
12. Everybody Come Aboard
13. Frankie And Johnny (take 1)
14. Please Don't Stop Loving Me (take 10)
15. Everybody Come Aboard (takes 1, 2)
16. Chesay (take 1)
17. Petunia, The Gardeners Daughter (take 2)
18. Look Out, Broadway (takes 3, 4, 5)
19. Please Don't Stop Loving Me (takes 1, 2, 3)
20. Shout It Out (takes 1, 2, 3)
21. Everybody Come Aboard (takes 9, 10)
22. Chesay (takes 3, 6)
23. Look Out, Broadway (takes 6, 7, 8)
24. Petunia, The Gardeners Daughter (take 5)
25. Please Don't Stop Loving Me (take 7)
26. Frankie And Johnny (takes 3, 4)
27. Frankie And Johnny (Versão do filme - acetato)

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de abril de 2005

Elvis Presley - Frankie and Johnny / Please Don't Stop Loving Me

Nos bastidores da RCA Victor houve uma certa polêmica se haveria o lançamento de algum single extraído da trilha sonora do filme "Frankie and Johnny". Na verdade se temia por um prejuízo financeiro. Afinal os últimos filmes de Elvis não tiveram singles lançados e os que chegaram no mercado ficaram pegando poeira nas prateleiras. Os péssimos números de vendas desanimavam os executivos da RCA. Era mesmo pouco provável que alguém se aventurasse a colocar no mercado algum single com o cantor. Por outro lado a RCA não tinha certeza se o resto do material iria fazer sucesso pois os arranjos de época certamente não tinham força para competir com os grupos de rock da moda. Era algo meio ao estilo Dixieland, jazz e outras sonoridades que dificilmente iriam fazer bonito nas paradas de sucesso. Os hippies não iriam se ligar naquela caretice de cornetas antigas! Talvez no sul, lá pelas bandas de New Orleans, o público se animasse a adquirir o álbum, mas em regiões mais desenvolvidas como Nova Iorque e Los Angeles isso provavelmente não iria se tornar um sucesso de vendas. Era algo até previsível. Assim na via das dúvidas, procurando faturar um pouquinho mais com essas gravações, a RCA lançou, sem divulgação nenhuma, diga-se de passagem, o single com "Frankie and Johnny / Please Don't Stop Loving Me".

As primeiras resenhas dos críticos não foram lá muito animadoras mas pelo menos não debocharam da qualidade do disco. Havia ali um produto que era nitidamente bem trabalhado, com arranjos de metais em uma clara tentativa de melhor a qualidade das gravações de Elvis que chegavam ao mercado. É claro que não iriam disputar cabeça a cabeça as primeiras posições com os grupos psicodélicos que começavam a surgir vindos da ensolarada Califórnia, mas pelo menos tinham um certo pedigree. Passava longe de ser um material de dar vergonha. Curiosamente um articulista de Londres chegou a dizer que as músicas não era puro sangue, de raça, mas pelo menos não eram pangarés como os que Elvis estava acostumado a colocar no mercado nos últimos anos. O álbum com a trilha sonora de "Frankie and Johnny" de fato vendeu bem pouco, mas esse single conseguiu chegar num bom número de cópias vendidas, chegando ao ponto de ganhar um disco de ouro, algo que vinha rareando cada vez mais na carreira de Elvis Presley. Agora o terrível mesmo é saber que Elvis só voltaria a ser premiado com um disco de ouro novamente por um single com "If I Can dream / Edge of Reality" no final de 1968, ou seja, ele ficaria amargando por longo tempo um jejum de boas vendas, colecionando vendas medíocres nos meses que viriam. A má qualidade do material gravado para as trilhas de filmes de Hollywood iria cobrar um preço bem caro - a do fracasso comercial em série de seus discos.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - FTD Tickle Me

Eu sinceramente cheguei a pensar que "Tickle Me" jamais seria explorado pelo selo FTD. Afinal de contas é uma trilha falsa, feita de remendos, uma colcha de retalhos sonora. Acrescente-se a isso o fato de que muitas das músicas já tinham sido utilizadas em outros títulos da própria coleção Follow That Dream. Diante disso para que lançar algo a mais sobre esse filme? Bom, isso era o que a maioria dos fãs pensavam mas eis que de repente Ernst Jorgensen vem a anuncia esse lançamento. O curioso é que não contente vai mais além e joga na seleção musical do CD um monte de músicas que não tinham nada a ver com o filme. Salada geral! Assim do ponto de vista puramente técnico esse é de fato um dos mais fracos já lançados do selo. Até a direção de arte e o encarte interno achei desprovidos de maior interesse. Em uma coleção onde tudo parece ser de tão bom gosto esse título certamente fica abaixo da média nos principais quesitos de avaliação. É aquele tipo de CD que você só vai querer comprar se for muito preciosista, aquele tipo de colecionador que não admite nenhum buraco na coleção. Fora isso - me referindo agora às pessoas "normais" (sic) - não adianta mesmo adquirir.

Além da falta de critério o CD também não traz maiores novidades em relação aos takes alternativos. Basta pesquisar um pouquinho para ver que grande parte do material já tinha sido lançada antes em CDs como "Long Lonely Highway", "Such A Night, Essential Elvis Vol. 6" e "Fame And Fortune". De inédito mesmo não há praticamente nada, a não ser que você ache que ouvir gravações masters dos LPs de vinil seja uma grande novidade! Para não dizer que não há nenhum material inédito entre as faixas gostaria de dizer que nunca tinha ouvido "Allied Artists' Radio Trailer", um material promocional usado nas rádios americanas para promover o filme nas cidades onde ele estava em cartaz. O Ernst encontrou esse raro material por acaso e resolveu incluir no CD. Tudo bem, é curioso e tudo mais, porém não compensa a compra de tudo apenas para ouvir esses poucos minutos de um material até interessante, mas nada indispensável. No fritar dos ovos "FTD Tickle Me" é tão desnecessário quanto o próprio filme e a fake trilha sonora lançada na época. Pode dispensar sem maiores problemas. 

Elvis Presley - FTD Tickle Me
1. I Feel That I've Known You Forever
2. Slowly But Surely
3. Night Rider
4. Put The Blame On Me
5. Dirty, Dirty Feeling
6. It Feels So Right
7. (Such An) Easy Question
8. Long Lonely Highway
9. I'm Yours
10. Something Blue
11. Make Me Know It
12. Just For Old Time Sake
13. Gonna Get Back Home Somehow
14. There's Always Me
15. Allied Artists' Radio Trailer (versão 1)
16. Slowly But Surely (take 1)
17. It Feels So Right (take 2)
18. I'm Yours (LP master)
19. Long Lonely Highway (LP master)
20. I Feel That I've Known You Forever (take 3)
21. Night Rider (take 5)
22. Dirty, Dirty Feeling (take 1)
23. Put The Blame On Me (takes 1, 2)
24. (Such An) Easy Question (takes 1, 2)
25. Allied Artists' Radio Trailer (versão 2)

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de abril de 2005

Elvis Presley - Tickle Me

Do ponto de vista do produto é algo bem medíocre transformar uma coletânea de músicas aleatórias em uma trilha sonora, ainda mais em se tratando de Elvis Presley nos anos 1960 quando a única coisa relevante em sua carreira parecia se resumir nas canções inéditas de seus filmes, por piores que fossem. A pilantragem que parecia comandar as carreira do astro por essa época porém parecia não ter limites. Assim ao invés de gastar na gravação de uma nova trilha para o filme B (ou seria Z?) "Tickle Me" resolveu-se simplesmente aproveitar velhas gravações que já tinham sido lançadas muitos anos antes. Para Parker isso era uma maravilha pois nenhum tostão seria gasto e sua filosofia de "vender duas vezes a mesma coisa" voltava com tudo na carreira do cambaleado Elvis Presley.

Foram atitudes como essa que foram minando Elvis ao longo dos anos 60. Ele deixou de ser um artista relevante, um cantor respeitado, um produtor de sucessos, para virar um boneco na mão de pessoas que queriam lucrar muito com sua fama. O fãs? Um mero detalhe para gente como Tom Parker. O Coronel costumava dizer que "qualquer coisa que tenha o nome Elvis vende", ou seja, indiretamente chamou todos os fãs do cantor de bobocas pois afinal de contas eles comprariam qualquer coisa, mesmo que fossem figurinhas repetidas. Para Parker o fã de Elvis era um presente, uma pessoa que se poderia tapear por anos a fio.

Assim chegou ao mercado esse EP. Supostamente trazia a "nova" trilha sonora do novo filme de Elvis Presley. A trilha porém de nova não tinha nada, era uma colcha de retalhos barata e o filme... bom, todo já sabe, "Tickle Me" era aquele tipo de produção que não iria trazer nada para a carreira dele, nem do ponto de vista da indústria fonográfica e nem muito menos em relação ao cinema em si. Por falar em Hollywood o pior para Elvis aconteceu justamente por esses tempos. Os produtores dos estúdios entenderam que o nicho "filmes trash" era uma boa opção para comercializar os filmes do cantor. Afinal de contas se até o empresário dele dizia que qualquer coisa com Elvis vendia, para que iriam se esforçar em produzir algo bom? A ideia era colocar Presley para cantar uma meia dúzia de canções, em roteiros bobocas, atrizes de segunda categoria e orçamentos mínimos. Coisas como figurinos, cenários, etc, poderiam ser aproveitados de outros filmes. Quem iria ligar?

O filme inclusive foi programado para fazer sessão dupla com outros filmes trashs da época, produções obtusas com monstros de borracha e cidades de papelão sendo destruídas. Que pena, imaginar que Elvis havia sido comparado nos anos 50 com James Dean e agora amargar um destino desses...

Não adianta muito comentar sobre cada canção em si pois eram pratos requentados. Algumas são excelentes músicas, pinceladas de álbuns clássicos como "Something For Everybody" e "Elvis is Back!" e até bonus songs de outras trilhas sonoras cujos direitos autorais eram baratinhos e que Parker resolveu enfiar aqui. Um descalabro com os admiradores de Presley. As cenas em que Elvis as apresentou no filme também passavam longe de serem relevantes. Novamente o astro aparecia com cara de entediado, sem muita empolgação, de vez em quando dando seu sorrisinho torto para disfarçar o clima de constrangimento geral. Ele nem mais se importava em fingir melhor que estava tocando seu violão e quando o fazia a coisa era desastrosa - muitas vezes o violão surgia em cena com som de guitarra elétrica!!! E lá ia o ex- Rei do Rock fugindo de sujeitos mal encarados usando máscaras de lobisomens, dessas que você encontra em qualquer parque de diversões por alguns trocados.

Agora interessante chamar a atenção para o fato de que esse compacto duplo foi um tremendo fracasso de vendas. Não vendeu nada. Na Inglaterra nem chegou a ser classificado, tamanho o fracasso comercial. Nos Estados Unidos só conseguiu chegar no máximo ao lugar de número 70 na classificação geral dos mais vendidos. Até discos com piadas sujas vendiam mais do que isso. Bandas de garagem com canções escrachadas conseguiam vender mais do que Elvis por essa época, provando que Parker estava bem equivocado ao dizer que os fãs de Elvis eram idiotas e compravam qualquer coisa - não compravam, isso é o que esses números provam! Ser fã de Elvis por essa época deve ter sido horrível... ter que engolir tanta mediocridade em nome de uma paixão, não é coisa para os fracos, definitivamente.

Tickle Me (1965)
I Feel That I've Know You Forever
Slowly But Surely
Night Rider
Put Blame On Me
Dirty, Dirty Feeling
 
Elvis Presley - Tickle Me (1965) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires, Millie Kirkham (backing vocals) / Boots Randolph (sax) / Scotty Moore, Hank Garland, Harold Bradley, Grady Martin, Jerry Kennedy (guitarras) / Floyd Cramer (piano) / Bob Moore (baixo) / D. J. Fontana, Buddy Harman (bateria) / Data de Lançamento: junho de 1965.

Pablo Aluísio.