segunda-feira, 7 de março de 2005

Elvis Presley - Million Dollar Quartet

É curioso como certos acontecimentos ao acaso acabam ganhando grande significado histórico. No dia 4 de dezembro de 1956 Elvis Presley resolveu dar uma voltinha por Memphis pois estava com agenda livre de fim de ano. Após um pequeno lanche em seu boteco preferido ele foi fazer uma pequena visita na Sun Records, o antigo estúdio de gravação no qual foi revelado. Quando Elvis estava de férias em Memphis era comum ele realizar pequenos passeios nostálgicos visitando lugares que tinham sido importantes em sua vida. Visitas na sua escola, passeios por lugares de sua juventude eram costumeiros. Geralmente acompanhado, Elvis gostava de mostrar ao convidado aspectos de seu passado que ele prezava. Nesse dia em particular Elvis resolveu ir na Sun bater um papo com Sam Phillips e a secretária Marion Keisker além dos velhos companheiros de estúdio. Chegando lá ele acabou encontrando vários músicos que estavam no batente naquele dia, almejando quem sabe gravar um novo sucesso nas paradas.

Nesse dia em particular Elvis esbarrou em Carl Perkins, Jerry Lee Lewis e Johnny Cash. Por um acaso do destino Sam Phillips se viu frente a frente com todos os grandes nomes da história da Sun Records de uma só vez, ao mesmo tempo. O clima era de amizade. Elvis conhecia todos eles, os tratava como colegas de trabalho, alguns eram velhos amigos de estrada como Johnny Cash ao qual Elvis gostava de contar piadas sujas para ambos rirem bastante. Carl Perkins também era um velho conhecido. Elvis inclusive tinha levado sua “Blue Suede Shoes” para a RCA em suas primeiras sessões o que tinha sido muito bom para Perkins pois a gravação tinha lhe rendido uma excelente grana extra. O único que Elvis não tinha muita intimidade era o The Killer Jerry Lee Lewis, que tinha chegado na Sun após ele sair de lá. Lewis estava acima de tudo fascinado em compartilhar aqueles preciosos momentos com Elvis. Com todos rindo e contando histórias divertidas Elvis resolveu dar uma canja acompanhada de seus colegas músicos. Sentou-se ao piano, olhou para Jerry Lewis e brincou: “Acho que sou a pessoa errada para estar aqui”. Lewis sorriu e respondeu: “Fique à vontade Elvis”.

Sam Phillips que não era bobo nem nada logo deu a ordem para seu engenheiro de som gravar tudo, não perder nenhum detalhe. Claro que Sam não tinha mais direitos sobre gravações realizadas por Elvis e jamais poderia lançar aquilo comercialmente pois o passe de Elvis pertencia à gigante RCA mas mesmo assim não iria deixar passar aquele registro em branco. Elvis muito à vontade, rindo e brincando, comandou a seleção musical – muito gospel acima de tudo, o que não era novidade nenhuma pois essa era uma preferência pessoal do cantor.

Quem ouve o Million Dollar Quartet geralmente estranha o resultado. Muitas músicas pela metade, conversas paralelas e até mesmo uma má qualidade de som. Tudo isso é normal, nenhum deles inclusive sabia que algo estava sendo gravado, informalidade completa acima de tudo. Elvis geralmente começava uma canção para logo depois pular para outra, tudo no meio de um clima completamente descontraído. De fato foi a única vez que tantos talentos dividiram um mesmo estúdio em todas as suas carreiras.

Em breve cada um deles iria sair da Sun Records para trilhar caminhos próprios. Carl Perkins sofreria um acidente que colocaria em risco toda sua vida artística. Debilitado não conseguiu levar em frente seu projeto musical. Para muitos Carl Perkins deveria ter trilhado os picos da glória ao invés de Elvis. Essa é uma visão simplificada. Embora talentoso ele jamais teve o carisma de Elvis ou seu talento nato para grandes apresentações. Outro que em breve veria sua carreira afundar seria Jerry Lee Lewis. Ao se casar com sua prima de 14 anos (que não tinha apenas idade de criança mas aparência também), Lewis foi crucificado pela imprensa inglesa quando fazia uma turnê por lá. As coisas pioraram quando retornou aos EUA, banido das emissoras, com contrato rescindido e suas músicas afundando nas paradas Lewis viu sua carreira sumir literalmente da noite para o dia. Em 1976, completamente embriagado, tentou entrar armado em Graceland, a mansão de Elvis, e foi preso pela polícia.

De fato o único do quarteto que conseguiu ter uma carreira sólida e firme, além de Elvis, foi Johnny Cash. Embora seja louvado também como um dos pioneiros do Rock a verdade pura e simples é que Cash era em essência um artista country (e dos bons). Cantando sobre os que vivem à margem da sociedade, como os pobres e presidiários, Cash construiu uma excelente carreira com discos extremamente relevantes.

Ao longo dos anos as gravações desse dia acabaram aparecendo no mercado de forma clandestina. Na era do vinil alguns discos piratas foram lançados - mudavam as capas mas o conteúdo era o mesmo. Tudo leva a crer que o material foi vazado por Sam Phillips para alguns colecionadores e esses promoveram lançamentos piratas. Depois com o fim do vinil houve um trabalho melhor em cima dos registros com sensível melhora de som. Os problemas envolvendo direitos autorais continuaram pois era bem complicado e caro lançar um CD envolvendo todos esses nomes cujos direitos pertencem a empresas diferentes, até mesmo nos dias atuais. Em suma, o chamado “Million Dollar Quartet” não passou de um grande acaso do destino. Nasceu espontaneamente e deixou registrado o encontro de todos esses grandes nomes da música americana. Nada mal para uma tarde de folga de Elvis em que ele só queria mesmo passar o tempo e jogar conversa fora com antigos colegas na Sun.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - O Primeiro Disco no Brasil

Foi em 1956 que pela primeira vez um disco de Elvis Presley foi lançado no Brasil. Era um 78 RPM, com “Heartbreak Hotel / I Was The One” (praticamente idêntico ao Americano). Elvis se tornou conhecido no Brasil porque as reações à sua música e dança nos EUA chamaram a atenção da imprensa brasileira. A RCA Brasil não tardou a colocar seu compacto simples no mercado. Não se sabia ainda ao certo como o público de nosso país iria reagir ao cantor. Aqui predominava os grandes cantores de bolero e samba canção como Orlando Silva e Nelson Gonçalves. A música brasileira era muito forte e era complicado trazer um cantor americano de rock para as paradas.

As pessoas de maneira em geral desconheciam o novo ritmo que já dominava nos EUA. As vendas de Heartbreak Hotel em nosso país não foram excepcionais mas foram boas e a RCA resolveu lançar mais compactos. No total foram seis em 1956. “Hound Dog / Don´t Be Cruel” não poderia faltar em vista do enorme sucesso do single americano. Já o compacto com “Love Me Tender” veio com os lados trocados, “Love Me Tender” surgiu em nosso mercado como Lado B de “Anyway You Want Me” numa clara demonstração que os responsáveis pelos lançamentos de Elvis no Brasil desconheciam completamente o artista em questão. Só numa segunda prensagem corrigiram o erro. Como a RCA americana havia lançado vários singles com músicas do primeiro álbum de Elvis a filial brasileira seguiu seus passos colocando no mercado “Blue Moon / Just Because”, “Tutti Frutti / I Got a Woman” e “Blue Suede Shoes / Trying To Get To You”. Não é de se estranhar que Tutti Frutti tenha se tornado tão popular por aqui. Idem “Blue Suede Shoes”.

Foi também em 1956 também que chegou em nossas lojas o primeiro álbum de Elvis no Brasil. Intitulado simplesmente “Elvis Presley” esse disco acabou se tornando conhecido por seu número de catálogo (BKL 60). É um disco muito confuso com seleção musical caótica misturando faixas da Sun Records com canções do primeiro álbum americano de Elvis e músicas mais recentes como “Don´t Be Cruel”. Para piorar colocaram como capa a mesma que havia sido utilizada em um compacto duplo americano. O Brasil era muito atrasado em termos de informações e marketing naquela época e tudo foi feito meio que ao acaso, sem muito conhecimento de causa ao estilo “vamos ver se dá certo”. A verdade pura e simples é que os empregados da RCA no Brasil não sabiam direito quem era Elvis ou o que ele representava. Com o direito de lançar seus discos no Brasil eles apenas pincelaram faixas ao acaso e compilaram o álbum sem muito critério ou organização.

As coisas só melhorariam depois no segundo álbum quando sabiamente resolveram seguir o LP oficial norte-americano. Além da desorganização o fã brasileiro de Elvis da década de 50 ainda teve que aturar atrasos absurdos nos lançamentos. “Elvis” o segundo álbum, por exemplo, só chegou em nossas lojas um ano depois, em 1957. As novidades vindas dos EUA chegavam aqui com muito atraso, de meses de diferença. Curiosamente nas cidades portuárias onde havia maior fluxo de americanos os discos importados chegavam aqui bem antes. No Rio de Janeiro muitos jovens adquiriam seus discos de Elvis diretamente de marinheiros e comerciantes americanos. Em Salvador o consulado americano também era uma opção para se ter acesso a material importado, de boa qualidade e inédito no Brasil. Foi assim que um jovem chamado Raul Seixas tomou conhecimento da música de Elvis Presley muito antes dos brasileiros em geral. Discos originais americanos eram raridades em nosso país, além de serem caríssimos. Mesmo assim para os admiradores valia certamente o sacrifício. Voltaremos a falar na discografia brasileira de Elvis Presley nas próximas semanas. Esse foi apenas o começo. Muita água iria rolar ainda por baixo dessa ponte.

Pablo Aluísio. 

domingo, 6 de março de 2005

Elvis Presley - Elvis e June Juanico

June Juanico conheceu Elvis Presley no verão de 1955 em Biloxi, Mississippi. Na época Elvis ainda não era o cantor mundialmente conhecido que viria a se tornar. De fato era apenas um cantorzinho country que se apresentava antes das grandes estrelas da noite. Após seu show Elvis gostava de circular no meio do público, para conhecer garotas e assistir aos grandes astros que viriam após ele. Foi assim que acabou conhecendo June. Após algumas trocas de olhares ela resolveu tomar a iniciativa de se aproximar, Elvis então a segurou pelo braço e disse: "Olá, onde você está indo?". Juanico relembra: "As garotas achavam Elvis lindo mas eu não o conhecia. Quando começamos a conversar a primeira coisa que eu quis saber foi qual era o seu nome verdadeiro. Eu achava que Elvis era seu nome artístico. Elvis ficou surpreso com minha pergunta e disse: 'Esse é o meu nome verdadeiro, eu me chamo Elvis Aaron Presley!'. Achei estranho pois nunca tinha ouvido falar de alguém chamado Elvis".

Elvis então a levou para passear pela feira (era uma exposição rural de gado em Biloxi) e os dois pareceram se entrosar muito bem juntos. Um fato chamou muito a atenção de Elvis segundo June. "Elvis ficou surpreso porque eu disse que meus pais eram divorciados! Ele nunca tinha conhecido uma garota de pais divorciados. Ele me disse que achava aquilo horrível pois quando se casasse com alguém queria que fosse para sempre, como tinha que ser!". Nesse primeiro encontro June tinha 17 anos e Elvis 20 mas ele não se preocupou muito com isso e a convidou para ir até Memphis onde morava. June aceitou e poucas semanas depois foi visitar Elvis na sua cidade. Conheceu seus pais, Gladys e Vernon, e se deu bem com eles. June recorda bem do clima familiar da família Presley: "Gladys era uma mulher de personalidade muito forte. Ela gostou de mim porque a ajudei nos afazeres domésticos. Mostrei que sabia cozinhar, lavar e cuidar da casa. Gladys me disse que eu era uma boa moça e que Elvis precisava de alguém que cuidasse dele". Com a bênção de Gladys o namoro seguiu em frente. Como era Elvis como namorado? "Elvis era muito atencioso e respeitoso. Eu era virgem e ele parecia disposto a respeitar minha condição. Jamais me levou a fazer nada que eu não quisesse".

O namoro entre Elvis e June seguiu sem maiores problemas até surgir duas pessoas na vida do cantor que atrapalharia seus planos ao lado do namorado. A primeira era o empresário de Elvis, o Coronel Parker. June relembra: "O Coronel Parker queria que Elvis se relacionasse com mulheres famosas, atrizes e dançarinas, para que assim saísse nos jornais e revistas. Eu era uma jovem comum, anônima. Sempre que Elvis ia para a estrada cumprir seus shows o Coronel arranjava para que ele se encontrasse com alguma starlet e fosse parar nas colunas sociais". Outro que acabou abalando o namoro entre June e Elvis foi o ator Nick Adams. "Nick Adams se tornou amigo de Elvis e muitas vezes agia como uma pessoa inconveniente. Se metia em seus assuntos particulares e vivia se auto convidando para ir jantar e passar o fim de semana na casa de Elvis! Eu não gostava daquilo. Depois começou a incentivar Elvis a se encontrar com a estrela de cinema Natalie Wood. O que eu poderia fazer a respeito? Nada!" concluiu June Juanico.

Conforme Elvis foi se tornando mais famoso os encontros entre eles foram ficando cada vez mais raros. Elvis sempre estava na estrada fazendo shows ou filmes. Gradualmente o romance foi se esvaziando até June entender que tudo havia acabado. June só voltaria a ver novamente seu ex-namorado na década de 60 em um cinema de Memphis. Elvis estava acompanhado de sua nova namorada, Priscilla, uma adolescente que ele havia conhecido na Alemanha quando estava servindo o exército. O encontro foi inesperado mas Elvis se portou bem, sendo educado e gentil com ela. Quando soube em 1977 que Elvis havia morrido por causa do consumo de drogas ela ficou perplexa e surpresa. "Nunca tinha visto Elvis tomar qualquer tipo de droga em todo o tempo que fui sua namorada! Não sei como isso pode ter acontecido".

Vinte anos depois da morte de Elvis ela então decidiu contar seu romance com o cantor no livro "Elvis in the Twilight of Memory". O livro foi definido por alguns como um "diário de classe de uma jovem no High School" (o equivalente ao nosso ensino médio). Embora tenha criado certa repercussão alguns especialistas em Elvis como Peter Guralnick acabaram elogiando a obra. No final das contas é mais um registro de alguém que viveu ao lado de Elvis logo no começo de sua carreira e presenciou eventos e fatos que ficaram registrados na memória. O texto tem vários clichês românticos mas serve como fonte de consulta e registro histórico, tendo sua importância, certamente. No lançamento do livro ela falou sobre Elvis concluindo: "Eu tive uma vida maravilhosa, dois filhos e netos. Amei meu marido mas nunca deixei de amar Elvis também. Nunca fui capaz de deixar de amar ele".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - A Harley-Davidson de Elvis

Tendo uma origem muito humilde, Elvis assim que começou a ganhar algum dinheiro como cantor, começou a realizar alguns antigos sonhos de consumo. Embora fosse louco por carros, Cadillacs em especial, ele tinha também verdadeira adoração por motos. Como era um jovem de bom gosto assim que lhe caiu em mãos seu primeiro grande pagamento da Sun Records Elvis foi até um loja de Memphis especializada, de propriedade de Tommy Taylor, para comprar sua primeira moto, uma Harley-Davidson, é claro.

Já naquela época a marca era um dos símbolos do país. Possante, barulhenta e com força, a Harley era o sonho de todo jovem aspirante a se tornar um clone de Marlon Brando em seu papel no filme “O Selvagem”.A primeira Harley-Davidson de Elvis foi um modelo Harley 165. Ele fez um financiamento e a adquiriu em suaves prestações de US$ 47 dólares mensais. Essa era considerada uma moto de viagem, que tinha grande autonomia, podendo se deslocar por grandes distâncias sem grande consumo de combustível. Certamente Elvis ao comprá-la pensava em utilizar a moto para suas turnês, pelo menos quando se deslocava a cidades próximas a Memphis. A ideia não era do agrado de Gladys, sua mãe, que definitivamente odiava motocicletas pois tinha medo de que seu filho viesse a se acidentar. De qualquer modo Elvis ficou por longo período com a Harley 165. Muitas vezes gostava de viajar com ela ao lado do carro de sua banda, já que Elvis adorava a experiência de ir de cidade em cidade pilotando sua possante Harley-Davidson. Assim ele poderia facilmente se imaginar na pele de seus ídolos James Dean e Marlon Brando. Imagine você numa cidade do interior dos EUA na década de 50 vendo Elvis Presley montado em uma Harley para fazer um show em sua cidade natal. Nada mal não é mesmo?

Depois dessa moto que Elvis particularmente tinha grande carinho por ser a primeira e a mais rodada, ele resolveu comprar uma nova motocicleta para comemorar o sucesso consolidado de seus discos, shows e filmes. Essa era uma muito mais moderna, uma Harley-Davidson modelo FLH ano 1957, em tamanho Jumbo, alimentada por um potente motor. A FLH era considerada uma sensação na época.

Forte e espaçosa poderia levar um acompanhante com todo o conforto pois seu banco traseiro era estufado e muito confortável. Era a moto preferida de Elvis para passear com suas namoradas. Ao acelerar a máquina fazia um barulho peculiar que era impossível ignorar. Elvis novamente teve problemas com ela, porque sua mãe Gadys a achava muito barulhenta e fumacenta. Essa é a moto que aparece na capa de um dos LPs de Elvis na década de 80, Elvis Rocker. Um ícone de sua carreira na década de 50.

Outra moto que foi uma de suas favoritas foi uma Harley-Davidson modelo Ironhead OHV Sportster 1957. Com silhueta aerodinâmica essa era uma moto de velocidade acima de tudo. O modelo era usado nas corridas que gostava de promover com amigos. Foi com ela que Elvis acabou batendo seus recordes de velocidade.

Ao longo da vida Elvis nunca deixaria de comprar muitas motos. Mal saía um modelo novo que lhe interessasse e ele logo se apressava para comprar. Também gostava de modelos exóticos, com duas rodas traseiras. Outra característica de seu gosto pessoal era a preferência por modelos robustos, ostensivos. Por essa razão não gostava das marcas japonesas como a Honda pois as achava compactas demais. Curiosamente em um de seus filmes, "Carrossel de Emoções", Elvis teve que andar em marcas fabricadas no Japão (Made in Japan).

Andar de moto para ele era sempre um prazer renovado. O cantor nunca deixou o hábito de andar de motocicleta. Mesmo na década de 70, quando já estava quarentão, Elvis não dispensava um passeio pelas redondezas de Graceland. Não era raro ele surpreender os fãs ao sair da mansão pilotando um novo modelo. Era acima de tudo uma paixão antiga que jamais o abandonou.Também nos anos 70 Elvis conseguiu desfrutar de uma certa tranquilidade nesses passeios. Nos anos 50 e 60 ele sempre era perseguido por fãs, admiradores, curiosos e paparazzis quando resolvia fazer seus passeios. Já nos anos 70 lhe deixavam mais em paz. Os próprios moradores de Memphis já não o importunavam mais quando andava pelas ruas da cidade. Sabiam respeitar sua privacidade. Deixá-lo em paz. Elvis adorava quando isso acontecia. Ser um superstar todos os dias, sempre, era algo cansativo. Algumas vezes ele queria ser apenas uma pessoa comum, andando com suas motos. Assim Elvis conseguia, mesmo em raros momentos, desfrutar um pouco de suas máquinas possantes.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 4 de março de 2005

Elvis Presley - Elvis e Bill Haley

Quando se trata de citar nomes essenciais para o surgimento do rock nos Estados Unidos, dois ícones surgem logo na mente. O primeiro é Elvis Presley, considerado o Rei do Rock. O segundo é Bill Haley, o primeiro artista a romper definitivamente as paradas de sucessos musicais com seu grande sucesso "Rock Around The Clock". Elvis e Haley tinham coisas em comum. Ambos nasceram dentro do universo da country music. Ambos também tinham origens sulistas. E Elvis chegou a gravar alguns sucessos de Bill Haley.

“Shake Rattle and Roll” foi o primeiro grande sucesso de Bill Haley a ser gravado por Elvis. O curioso é que enquanto Elvis era a personificação do superstar jovem, bonito e jovial, Haley tinha uma imagem completamente diferente. Ele era gordinho, cara de lua, homossexual dentro do armário, com cara e jeito de “tiozão”. A verdade é que Bill Haley era um roqueiro improvável para a época, mas mesmo assim conseguiu seu espaço. Quando estourou com seu primeiro rock nas paradas Haley já tinha muitos anos de estrada e provou que ter experiência no meio de todos aqueles artistas jovens, na faixa de 20 e poucos anos, tinha sua importância

Ele era um batalhador na profissão musical, já tinha formado várias bandas de bailinhos, gravado alguns singles country mas nunca havia conseguido projeção nenhuma na carreira. Até que em 1953 formou mais uma banda chamada “Bill Haley and The Comets” (usando um trocadilho infame e divertido). Com essa nova formação Haley resolveu mudar os rumos de sua música. Deixou o country de lado e resolveu investir numa nova linguagem musical que nascia naquele momento: O Rock n Roll.

A sorte de Haley mudou definitivamente quando a música “Rock Around The Clock” foi incluída na trilha sonora de “Sementes da Violência”. A canção explodiu nas paradas se tornando um dos maiores sucessos da primeira geração do Rock. Depois desse enorme hit Bill Haley começou a colecionar novos sucessos nas paradas. A venda de milhões de discos transformou Haley em um homem rico que a partir daí apenas administrou sua fama e seu sucesso pelos anos seguintes, participando de apresentações fora dos EUA (como sua bem sucedida turnê na Inglaterra) ou de especiais nostálgicos nas décadas que viriam. Virou símbolo de uma era da música americana. Milionário, comprou uma enorme mansão no Texas, onde passou seus últimos dias, cercado de grande respeito só dado aos grandes pioneiros do surgimento do Rock´n´Roll. Bill Haley morreu tranquilamente em seu rancho texano em Harlingen no ano de1981.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 3 de março de 2005

Elvis Presley - Elvis e Anita Wood

Após as coisas esfriarem completamente com Dixie Locke, sua namoradinha de colégio, Elvis ficou alguns meses sem uma “namorada oficial”. Para ele foi muito bom, cada vez mais popular por causa dos shows e apresentações na TV o cantor aproveitou para curtir um pouco de sua fama. Teve flertes com dançarinas, teenagers, tietes e quem mais lhe agradasse e lhe aparecesse pela frente. Ele queria aproveitar sua juventude acima de tudo. As coisas mudariam quando casualmente assistindo ao programa Top 10 Dance Party em um sábado à noite Elvis viu de relance uma das garotas mais bonitas que já tinha visto desde então. Ela era uma das adolescentes que dançavam no programa. Seu nome? Anita Wood.

Quando colocou os olhos em Anita, Elvis quis conhecê-la imediatamente. Para isso designou o gordinho Lamar Fike para descolar o telefone da beldade. Lamar fez um bom trabalho. Conseguiu através de seus contatos o número da garota e sem muitas delongas se apresentou a ela dizendo que Elvis Presley queria lhe encontrar. Atônica e surpresa Anita se desculpou com Lamar e disse que não desmarcaria um encontro que já tinha com outro rapaz para ir ao encontro de Elvis. Imaginem a cara de surpresa de Lamar quando soube disso. Sem pensar duas vezes disparou: “Você está louca?! Nenhuma garota rejeitaria um encontro com Elvis Presley!” Anita não se importou e recusou o encontro. Na realidade ela nem era fã do cantor na época. Esse seu lado durona deixou Elvis ainda mais intrigado em conhecer a espevitada loirinha. Nada atiçava mais seu lado conquistador do que uma garota durona que não lhe dava muita bola. Jovens se atirando aos seus pés não faltavam, mas Elvis queria agora acima de tudo conquistar a jovem dançarina do Top 10 Dance Party.

Elvis não desistiu e colocou o DJ George Klein na tarefa de convencer Anita a lhe encontrar. Lamar Fike também ficou no pé na garota fazendo de cupido pelos dias seguintes. Depois de muita insistência e desencontros finalmente Elvis mandou George e Lamar irem buscar Anita para um encontro reservado com ele. O encontro inicial de Elvis e Anita não poderia ser mais despojado e despretensioso. Elvis a encontrou em seu boteco preferido, um local nos arredores de Memphis que vendia Hambúrgueres e refrigerantes chamado “Crystal Hamburgers”. Apresentações formais foram feitas e depois de um breve bate papo Elvis disparou: “Você gostaria de conhecer minha casa Graceland?” Um convite assim poderia obviamente ser muito ousado para a época, afinal garotas não iam para as casas de rapazes em seu primeiro encontro. Elvis porém foi cuidadoso ao explicar a Anita que vivia com seus pais em Graceland e que eles certamente estariam lá durante a visita. Anita Wood era uma típica garota sulista que prezava muito por sua reputação mas diante das circunstâncias acabou aceitando ir para a casa do cantor famoso.

Anita e Elvis se deram bem imediatamente. Ela tinha tido a mesma educação sulista que ele, gostava das mesmas piadas, tinham gostos parecidos por música e cinema e se entrosaram de uma maneira incrível desde o primeiro encontro. Além disso Anita cultivava uma imagem de moça de família, pura e virgem, que caiu como uma luva no ideal que Gladys imaginava para ser uma boa namorada para Elvis. Anita e Gladys se deram muito bem. Despojada Anita logo no primeiro encontro ajudou a mãe de Elvis com a arrumação da cozinha, ganhando muitos pontos com a futura sogra. Também se deu muito bem com Minnie Mae, a avó de Elvis, que morava com eles desde os tempos de dureza em Tupelo.

Elvis ficou gratificado, tinha a aprovação da família, gostava de Anita, adorava sua presença e em pouco tempo estava completamente apaixonado por ela. Não tardou a Gladys dizer a Elvis que “Anita era uma boa moça para ele”. O começo do namoro com Anita foi tão gratificante para Elvis que ele até parou de correr atrás de outros rabos de saia quando estava na estrada fazendo shows ou gravando discos. Mal chegava em uma nova cidade sempre ligava para as duas pessoas mais importantes para ele na época, Anita e Gladys, para dizer que tinha feito boa viagem e estava tudo bem. O romance em pouco tempo ficou sério e todos ao redor de Elvis acreditavam que mais cedo ou mais tarde ele se casaria com Anita.

Elvis gostava de se referir a Anita como “a minha pequena”. Quando estava em Memphis Anita Wood ficava ao seu lado 24 horas por dia, indo ao cinema, fazendo lanches em seu boteco preferido ou em casa, assistindo filmes e ouvindo música. Anita era presença constante como namorada, companheira e amiga de todas as horas. Depois quando Elvis começou a rodar seus primeiros filmes logo levou Anita com ele para Hollywood. Viviam juntos e continuaram assim por longos seis anos. De fato Anita só deixou Elvis quando esse realmente se decidiu por Priscilla Presley. Quando Elvis conheceu Priscilla na Alemanha ele ficou em uma dúvida incrível sobre qual das duas iria construir uma vida em comum. Embora tenha se apaixonado perdidamente pela adolescente durante seu serviço militar, Elvis não conseguia romper com Anita, tanto que quando voltou aos EUA foi recebido por sua família e Anita no aeroporto.

Depois da volta Anita percebeu que Elvis não era mais o mesmo. Gladys havia falecido alguns meses antes e Presley não conseguia superar essa perda. Para piorar Anita descobriu sobre a existência de Priscilla através de cartas de amor que achou casualmente em Graceland. Além disso o romance de Elvis com Priscilla, a adolescente de 14 anos, foi muito divulgado pela imprensa sendo simplesmente impossível ignorar tal fato. Sem intenções de ser traída por uma adolescente Anita confrontou Elvis durante uma viagem e o clima azedou. Presley ainda tentou amenizar toda a situação afirmando que Priscilla era “apenas uma criança” e o caso “não tinha importância” mas Anita não quis mais saber e colocou um ponto final no longo romance. Ela pensou que Elvis esqueceria sua aventura com Priscilla após retornar aos EUA mas isso efetivamente não aconteceu. Assim ela resolveu colocar um ponto final em seu relacionamento com o cantor. Elvis ficou desolado e com medo de entrar em uma profunda depressão bombardeou Priscilla com telefonemas tentando convencer seus pais a deixa-la vir morar em Graceland, obviamente para ficar no lugar deixado por Anita – Elvis era um homem que detestava ficar sozinho. Anita pegou suas coisas e deixou Graceland definitivamente logo no começo de 1962. Em poucas semanas chegava Priscilla para iniciar um longo caso com Elvis o que culminaria no casamento de ambos cinco anos depois.

O curioso é que Elvis ainda tentou algumas reaproximações com Anita mas foi mal sucedido. Ela estava cansada das traições, das meias verdades e da indefinição de Elvis em relação ao seu romance. O cantor parecia incapaz de partir para o próximo passo natural entre eles que seria logicamente o casamento. Com medo de ficar solteirona ao lado de uma pessoa infiel por natureza, Anita resolveu tocar o barco da sua vida em frente. Conheceu um novo pretendente e se casou com ele alguns anos depois. Só muitos anos depois, quando morava em uma cidadezinha chamada Vicksburg, no Mississippi e que ao ler o jornal matinal Anita soube da morte de Elvis. Ela ficou chocada e triste pelo acontecimento. Apesar de tudo ainda nutria um sentimento de carinho por Elvis.

Ao longo dos anos Anita sempre foi muito discreta sobre os anos que passou ao lado de Elvis Presley, sempre evitando falar sobre o ex namorado famoso mas recentemente abriu algumas exceções, concedendo algumas entrevistas esporádicas. Ela estava decidida quando rompeu com Elvis e nunca mais olhou para trás mas obviamente ficaram as boas lembranças ao lado do antigo namorado. Essas nunca se apagarão.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis e Otis Blackwell

Alguns dos maiores sucessos de Elvis Presley nos anos 50 foram compostos por Otis Blackwell. Ele foi um cantor, pianista e compositor negro nascido no Brooklin na cidade de Nova Iorque em 1931. Para se ter uma ideia de sua importância na carreira de Elvis basta citar que ele escreveu praticamente sozinho as canções "Don't be Cruel", "All Shook Up", "Fever" (com o pseudônimo de John Davenport), "One Broken Heart for Sale" e "Return to Sender", entre outros hits.

Blackwell desde jovem era fã de ídolos da música country como Tex Ritter, adorava também R&B e cantores como Chuck Willis. Em 1952 resolveu se inscrever como calouro em um programa de show de talentos no Apollo Theater. Para surpresa de todos e do próprio Otis, venceu o concurso. Mas o mais importante deste evento foi conhecer pessoalmente o compositor Doc Pomus, que o incentivou a escrever suas próprias canções. O próprio Pomus iria escrever também vários sucessos para Elvis durante os anos 60. Era um compositor profissional e disse a Otis que ele deveria seguir pelo mesmo caminho.

Assim em 1953 a sua primeira música foi gravada: "Daddy Rollin' Stone". No Natal de 1955, em sérias dificuldades financeiras, Otis vendeu um lote de 6 músicas, por apenas 150 dólares, para uma editora musical. Eventualmente as músicas foram parar nas mãos de Steve Sholes, o produtor de Elvis, que mostrou as canções para o cantor. Ele adorou "Don't be Cruel" e "All Shook Up" e resolveu gravá-las. Resultado: milhões de discos foram vendidos e de uma hora para outra o nome de Otis Blackwell se tornou mundialmente famoso.

Ele então começou a compor para outros artistas como Jerry Lee Lewis (Breathless e Great Balls Of Fire) e Dee Clark (Hey Little Girl e Just Keep It). Consagrado como compositor (chegou a compor mais de 1000 canções), Blackwell resolveu retomar sua carreira como cantor em 1976. Começou a trabalhar também com artistas como Stevie Wonder. Seus maiores sucessos como interprete foram os discos "These Are My Songs" e "Singin' The Blues". Em 1977 após a morte de Elvis, Blackwell o homenageou com a canção "The No. 1 King Of Rock'n'Roll". Em 1994 vários artistas se reuniram para homenagear o legado de Otis Blackwell no album "Brace Yourself!". Depois do sucesso resolveu se mudar definitivamente para Nashville, a capital americana do Country & Western. Viveu até seus últimos dias na cidade que adorava e onde veio a falecer em maio de 2002.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 2 de março de 2005

Elvis Presley - Elvis na TV

Muita gente se pergunta como foi possível a Elvis se tornar tão popular em tão pouco tempo. Foram vários os fatores para que em poucos meses o cantor se tornasse tão conhecido mundo afora. Dentro dos EUA Elvis contou com a excelente estrutura de divulgação da RCA Victor. RCA é uma sigla que significa em português Corporação de Rádios da América. Fácil entender então que se tratava de uma rede nacional de rádios interligadas pelo país afora que obviamente promoveria o novo cantor. Assim da noite para o dia Elvis começou a ser ouvido de costa a costa da América, uma vez que a RCA tinha o controle de centenas de rádios espalhadas pelo país.

Outro fator de grande divulgação da música de Elvis foi uma nova invenção que invadia os lares americanos: a Televisão. Embora alguns anos depois o Coronel Parker tenha esnobado a TV e seus programas de auditório, o fato é que nos primeiros anos de Elvis na RCA a TV teve uma função vital para tornar o jovem cantor tão popular quanto se tornou. Logicamente se Elvis não fosse tão talentoso de nada adiantaria todo esse esquema promocional. A questão é que com tantos instrumentos para divulgação aliado ao talento nato do artista não haveria como dar errado. Em pouco mais de um mês Elvis já estava na boca do povo, comentado, debatido e o mais importante conhecido. Afinal ele não apenas se tornava popular por sua música mas também por sua dança e seu estilo de se apresentar, considerado imoral ou selvagem nos moralistas anos 50. Elvis Presley era diferente de tudo, muito além do que se esperava ver na TV daqueles tempos. Um furacão de novidade, excentricidade e explosão sensual.

Nos primeiros meses de 1956 Elvis se apresentou várias vezes na TV americana. Veja a relação de suas aparições na telinha nessa época (com datas e músicas):

JACKIE GLEASON'S STAGE SHOW
Apresentado por Tommy Dorsey e Jimmy Dorsey, CBS TV
a) 28/01/56 - "Heartbreak Hotel" e "Blue Suede Shoes"
b) 04/02/56 - "Tutti Frutti" e "I Was the One"
c) 11/02/56 - "Shake Rattle and Roll", "Flip, Flop and Fly" e "I Got a Woman"
d) 18/02/56 - "Baby, Let's Playhouse" e "Tutti Frutti"
e) 17/03/56 - "Blue Suede Shoes" e "Heartbreak Hotel"
f) 24/03/56 - "Money Honey" e "Heatbreak Hotel"

THE MILTON BERLE SHOW
Apresentado por Milton Berle, NBC TV, Hollywood
a) 3/04/56 - "Heartbreak Hotel", "Money Honey" e "Blue Suede Shoes"
b) 5/06/56 - "Hound Dog" e "I Want you, I need You, I love you"

THE STEVE ALLEN SHOW
Apresentado por Steve Allen, NBC TV, Hollywood
a)1/07/56 - "I Want you, I need you, I love you" e "hound Dog"

TOAST OF TOWN
Apresentado por Ed Sullivan, CBS STUDIOS TV, Hollywood
a) 9/09/56 - "Don't be Cruel", "Love me Tender", "Ready Teddy" e "Hound Dog"
b) 28/10/56 - "Don't be Cruel", "Love me Tender", "Love Me" e "Hound Dog"
c) 06/01/57 - "Don't be Cruel", "Love me Tender", "Heartbreak Hotel", "Hound Dog", "Peace in the valley" e "When my Blue Moon turns to gold again"

Pablo Aluísio.