quarta-feira, 2 de março de 2005

Elvis Presley - Elvis e a Stripper

Elvis e Tempest Storm! Quem? Isso mesmo uma veterana dançarina de striptease de Las Vegas afirmou inúmeras vezes que teve um longo relacionamento com o cantor Elvis Presley. Isso aconteceu nos anos 50, quando ambos eram jovens, bonitos e tentando uma carreira de artista na cidade do entretenimento número um dos Estados Unidos. Verdade ou pura tentativa de ganhar alguns minutos de fama com Elvis?

Tempest disse que conheceu Elvis quando ele se apresentou na cidade pela primeira vez. Não que Elvis frequentasse cabarés noturnos da cidade onde jovens garotas tiravam a roupa por dinheiro. Na verdade Tempest o conheceu na beira de uma piscina de Las Vegas. Era o final da tarde, Elvis estava ali tomando uma Coca-Cola e ficou impressionado pelas curvas da garota. Sem saber que Tempest era uma stripper eles começaram um breve flerte que em pouco tempo havia se transformado em romance ardente.

"Elvis e eu tivemos um caso em Las Vegas, mas o empresário dele, o Coronel Parker, soube de tudo. Ele tinha pavor de escândalos sexuais envolvendo Elvis e por isso colocou abaixo nosso namoro!" - Acusou a stripper. De qualquer forma, segundo ela, o casal continuou se encontrando regularmente até o final do ano seguinte, mas dessa vez Elvis procurava se esconder, para que o Coronel e a imprensa não descobrissem nada. "Elvis me encontrava em pequenos motéis de estrada, aqui em Las Vegas e também em Los Angeles. Uma vez a gente se encontrou em San Francisco também".

Depois de um tempo Elvis foi embora, servir o exército americano na Alemanha e o romance secreto chegou ao fim. "Nunca mais o vi de novo!" - Lamenta Tempest. "Eu quase fui a um show dele em 1969, no International, mas deixei para lá". Segundo a veterana strpper não havia mais interesse em reviver um passado que há muito tinha ficado para trás. "Ficaram as recordações dos encontros que tive com ele. Isso já está bom, é uma recordação. Eu nunca exigi nada dele e ele também sempre foi um perfeito cavalheiro comigo. Que bom que eu tive a oportunidade de conhecer o Elvis aos 21 anos de idade. Foi mágico!" - finalizou Tempest Storm.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 1 de março de 2005

Elvis Presley - Elvis em Hollywood

Foi em 1º de abril que Elvis Presley conseguiu realizar o sonho de sua vida. O ano era 1956 ele transpôs pela primeira vez os portões de ferro torneado da Paramount para um encontro com o produtor Hal Wallis. Junto com ele ia o inseparável manager, o coronel tom Parker. Ainda garoto, em Tupelo, Elvis já sonhava com as luzes do cinema. Queria ser ator, mais do que qualquer outra coisa. Voltou-se para a musica porque não via perspectivas de realizar o sonho em sua cidade natal.

Mas adorava tanto os filmes que chegou a trabalhar como lanterninha em Tupelo. São relações contidas no vídeo Elvis in Hollywood, The 50's, de Frank Martin, lançada pela BMG-Video. Vale a pena assistir á fita, Elvis, rei do rock, sempre foi espancado pelos críticos. Nunca foi considerado um verdadeiro ator. No Maximo era um cantor que rebolava diante das câmeras – e que foi engordando até perder o pique. Seu primeiro filme estreou em novembro de 1956. em Ama-se com Ternura [Love me Tender], ele desafiou duplamente os códigos de Hollywood, morreu no final e protagonizou um drama de época, desenrolado em plena guerra Civil. Nada mais estranho ao mito do jovem com o qual a teen generation da América queria tanto se identificar.

Elvis não freqüentou cursos de arte dramática. Tinha ídolos, Marlon Brando, James Dean, Humphrey Bogart. Assistiu muitas vezes ao filme que eles interpretavam. Queria captar as sutilezas da técnica de interpretação de cada um. Em Loving You [1957], sua primeira preocupação, ao chegar ao set, foi perguntar ao diretor Hal Kantes se seu personagem teria de sorrir muito. Ao atônito diretor, explicou que Bogart não ria, e por isso era grande. Para Elvis, os jovens curtiam seus shows e sua presença na tela porque a América era muito repressiva nos anos 50.

Os jovens não podiam se soltar em casa e na escola. Soltavam-se com ele, ao som do rock'n'roll. Nunca radicalizou sua rebeldia e até foi impedido pelo coronel Parker de ser o astro que queria. Mas uma vez, pelo menos, chegou perto do seu ideal ao interpretar, sob a direção de Michael Curtiz, um papel que só não foi de James Dean porque o astro de Juventude Transviada morreu. Não por acaso, os críticos consideram Balada Sangrenta [King Creole, 1958] o melhor momentos de Elvis no cinema.
 
"Love Me Tender" fez um belo sucesso de bilheteria. De fato conseguiu o feito de ser um dos 20 filmes mais vistos de 1956, uma posição importante em se tratando de um faroeste B, onde a principal atração era um jovem cantor que ainda não era tão conhecido de todo o público. Os mais velhos, por exemplo, torciam o nariz para Elvis e seus discos, pior, quando o viam dançando na TV ficavam horrorizados. E era justamente o público mais velho na época que curtia esse tipo de produção western.

De uma maneira ou outra duas coisas positivas aconteceram nesse filme. Os produtores entenderam que Elvis tinha jeito para a coisa. Fotografava muito bem nas telas e apesar de não ter experiência como ator não era tão ruim representando como se esperava. Pelo contrário, ele chegou até mesmo a ganhar alguns elogios da crítica da época. Alguns disseram que ele tinha "boa presença de cena". Seja lá o que isso realmente significava não era uma coisa ruim, uma crítica negativa em sua essência.

A RCA Victor compilou as músicas do filme e as lançou em um EP (um compacto duplo). Também colocou no mercado um single com a música "Love Me Tender" como Lado A. Os dois disquinhos venderam muito, levando o nome de Elvis Presley novamente para o topo das paradas, dos mais vendidos. O Coronel Parker não precisou de muito tempo para entender que Elvis assim poderia ser duplamente lucrativo, não apenas nas bilheterias de cinema, mas também nas lojas de discos, pois o filme impulsionava a venda de discos e vice versa. Os lançamentos fonográficos de Elvis também serviam como publicidade para os filmes. Discos vendiam filmes e filmes vendiam discos. Na visão do Coronel Parker era uma combinação comercial perfeita!

Por essa razão a Paramount Pictures anunciou logo após o sucesso de "Ama-me Com Ternura" que Elvis já estava contratado para atuar em seu próximo filme justamente pelo estúdio. A Paramount era na época um dos maiores estúdios de cinema de Hollywood. Entre seus contratados estavam John Wayne, Jerry Lewis, Dean Martin, Alfred Hitchcock, Frank Sinatra, James Stewart, Grace Kelly e tantos outros astros e estrelas da constelação do cinema. E a Paramount estava decidida a começar um novo filão de filmes feitos especialmente para Elvis. Ele seria a mais nova estrela do cinema. As apostas eram altas em relação ao seu futuro em Hollywood. O próprio Elvis sabia disso e apostava numa longa carreira de ator. Sobre isso ele chegou a declarar para uma revista de cinema na época: "Cantores aparecem e desaparecem muito rapidamente, da noite para o dia. Já se você for um bom ator poderá ficar em evidência por muitos anos".

O primeiro filme de Elvis no cinema, o faroeste "Love Me Tender" (Ama-me com Ternura, no Brasil) foi praticamente um teste. Os produtores queriam conferir se Elvis levava jeito para a coisa, se ele se saía bem em uma tela de cinema. Os resultados foram muito bons. Para um western B o filme, impulsionado pelas músicas e pela fama de Presley, se tornou um sucesso de bilheteria.

Para o segundo filme a Paramount Pictures resolveu investir em Elvis sem receios. Agora sua chegada em Hollywood era pra valer. O filme iria se apoiar exclusivamente nele. Se fizesse sucesso todos os méritos seriam de Elvis. O mesmo aconteceria se fosse um fracasso. Poderia enterrar suas pretensões de ter uma carreira em Hollywood.

A RCA Victor aproveitou o bom momento e editou a primeira trilha sonora de Elvis em um álbum completo. No lado A apenas as músicas do filme e no lado B uma série de boas canções que estavam arquivadas na sede da gravadora em Nova Iorque. O sucesso do disco antecipou o sucesso do filme. Elvis procurou estudar as atuações de seus dois maiores ídolos no cinema, James Dean e Marlon Brando. Ao diretor Hal Kanter, Elvis disse que não queria que seu personagem risse muito em cena, nada de sorrisos, isso porque Brando e Dean "sempre interpretavam personagens sérios". Bom, essa não era bem a intenção do estúdio. Eles já tinham em seus quadros os verdadeiros Marlon Brande e James Dean, assim não queriam um terceiro astro na mesma linha. Elvis era de outro tipo. Ele deveria basicamente cantar e encantar suas fãs nos filmes, nada mais. Ele seria um astro romântico ao velho estilo.

Como Elvis ainda era muito inexperiente no quesito atuação o estúdio escalou a veterana Lizabeth Scott para trabalhar ao seu lado. Era uma maneira de Elvis pegar dicas e sugestões na hora de atuar. Os dois eram sempre vistos juntos nas filmagens o que levantou alguns boatos de que estariam tendo um caso. Nada verdadeiro. Ela era bem mais velha do que ele e exercia uma certa autoridade sobre Elvis. Além disso a atriz era lésbica e mantinha sua vida privada bem longe das revistas de fofocas da época. Assim o jovem Elvis estava interessado mesmo em Dolores Hart, a bela atriz que tinha praticamente a sua idade. Não demorou muito e o cantor demonstrou estar apaixonado por ela. Anos depois Dolores largaria tudo, sua vida em Hollywood para se tornar freira numa ordem católica e sua história ao lado de Elvis seria contada no documentário "Deus é o Elvis Maior".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - O Primeiro Single

"That's All Right (Mama) / Blue Moon of Kentucky". Esse foi o primeiro single da carreira de Elvis Presley. Não foi a primeira gravação dele, como muitos jornalistas sempre se enganam. Também não foi o disco que ele supostamente gravou para dar de presente para sua mãe. Esse acetato é outro, com uma única faixa, "My Happiness". Esse Elvis aqui já deu um passo adiante, um jovem que queria tentar uma carreira de cantor, muito embora esse fosse ainda um sonho muito, muito distante. Tão distante como a lua. Na época em que Elvis entrou na Sun Records para gravar essas duas músicas ele ainda ganhava a vida como motorista da companhia de luz de Memphis. Nas horas vagas estudava para ser eletricista.

Sam Phillips costumava dizer que poucos dias depois de Elvis gravar as duas músicas ele resolveu levar o single para uma estação de rádio da cidade. Uma vez lá o DJ teria tocado o lado A pela primeira vez. A recepção teria sido ótima a ponto de muitos ouvintes ligarem, pedindo um bis. Foram tantos os telefonemas que, segundo Sam, as duas músicas de Elvis tocariam durante toda a noite. O DJ tocava "Mama" e depois virava o disquinho para tocar "Kentucky" e só rolou isso durante a noite inteira. Claro que os ouvintes gostaram, era um som novo mesmo, com uma sonoridade que ainda era desconhecida, mas dizer que só tocaram as duas canções naquela noite de sábado, naquele programa de rádio de Memphis, já era um exagero de Sam. Ele estava apenas se gabando de seu novo contratado. Esse tipo de coisa era típica dos sulistas.

Pablo Aluísio.

domingo, 27 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Clean Up Your Own Backyard / The Fair Is Moving On

Embalado por uma sucessão de bons singles, Elvis conseguiu um inesperado sucesso com o lançamento de mais um compacto, "Clean Up Your Own Backyard / The Fair Is Moving On" em junho de 1969. O fato é que os fãs pareciam ter renovado o interesse no trabalho de Elvis após ele retornar aos palcos no programa da NBC no final de 1968. Desde que aquele especial foi exibido, Elvis foi colecionando sucessivos sucessos de singles. Esse aqui nem tinha tanto potencial assim para se sobressair nas paradas, mas como havia uma onda de boas músicas gravadas recentemente por Elvis (em destaque aquelas vindas de suas sessões no American Studios em Memphis) o disquinho acabou sendo beneficiado. Como se diz no ditado popular ele foi na onda do sucesso de outros lançamentos mais recentes da carreira de Elvis. A faixa título "Clean Up Your Own Backyard" fazia parte da trilha sonora do filme "The Trouble With Girls" (Lindas encrencas, as Garotas). Com boa sonoridade e uma letra que mandava cada um cuidar de sua própria vida, era uma boa faixa que até mereceu o relativo sucesso que fez nas rádios do sul do país. Os autores Mac Davis e Billy Strange também representavam a força de uma nova geração de compositores na discografia de Presley. Temas mais interessantes, falando de aspectos atuais, modernos e mais de acordo com a realidade em que a nação americana atravessava naquele momento histórico. Uma renovação mais do que bem-vinda.

A canção do Lado B, "The Fair Is Moving On", havia sido gravada em fevereiro nas premiadas sessões do American Studios em Memphis. Foi uma faixa finalizada já no final das gravações, quando Elvis já estava um pouco cansado da maratona de trabalho. Por isso a RCA Victor não viu muito potencial nela, nem para entrar nos discos oficiais compostos pelas músicas do American. Usá-la como Lado B desse compacto parecia assim uma boa ideia. Iria chamar a atenção dos colecionadores, fazendo com que eles acabassem comprando o single. Somando-se tudo, a boa canção do filme "The Trouble With Girls" com uma gravação inédita do American e a boa fase artística pela qual Elvis passava, o resultado não poderia ser ruim - como realmente não foi. A única crítica partiu justamente do Coronel Parker. Ele se irritou com a capa pois queria que fosse usado material promocional do filme, justamente para promovê-lo (já que estaria entrando em cartaz justamente no mês de lançamento do single). A RCA acabou reconhecendo seu erro, enviando um pedido de desculpas ao empresário de Elvis. No final tudo saiu bem e Elvis ganhou mais um disco de ouro para sua coleção.

Pablo Aluísio.

sábado, 26 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - A Little Less Conversation / Almost In Love

Como a RCA Victor já não tinha a menor disposição de lançar novas trilhas sonoras de filmes de Elvis em formato de álbuns depois do fracasso de vendas de "Speedway" suas novas músicas vindas de Hollywood começaram a ser lançadas em singles simples, sem muitos gastos ou divulgação. Um executivo da gravadora chegou ao ponto de chamar esse tipo de compacto de "kamikaze", ou seja, lançado de qualquer jeito, o que viesse era lucro. Assim a RCA colocou no mercado o single "A Little Less Conversation / Almost In Love". Foi um single que vendeu pouco, ganhou modestas críticas nas principais revistas de música nos Estados Unidos e de maneira em geral não chamou muito a atenção. Por essa época todos já estavam cansados dos filmes de Elvis e até mesmo seus fãs mais fiéis já tinham desistido de defender produtos como esse. Todos queriam que Elvis voltasse a ser um cantor e não um ator frustrado que colecionava filmes ruins, um atrás do outro. Além disso "Live a Little, Love a Little", seu novo filme, não era muito melhor do que os abacaxis anteriores que tinham sido lançados. Quando as filmagens terminaram o próprio Elvis criticou o filme afirmando que interpretava um papel idiota de um fotógrafo que tinha um enorme cachorro, enquanto namorava e andava de buggy na praia. Não era Shakespeare e nem tinha muito valor artístico. O cenário era realmente desanimador.

A história porém muitas vezes tem seus caprichos. O que foi ignorado no passado geralmente pode ter uma segunda chance no futuro. Foi o que aconteceu. A música passou em brancas nuvens na época de seu lançamento original, mas hoje em dia é uma das mais conhecidas do repertório de Elvis. Como isso foi possível? A metamorfose de um fracasso do passado em um sucesso do futuro se deu porque a canção foi relançada como remix de sucesso há alguns anos. O DJ Junkie XL pegou a gravação original de Elvis, a refez em estúdio usando a moderna tecnologia, acrescentou uma batida atual e a canção se tornou um sucesso mundial. Um single que havia vendido poucas cópias em 1968 acabou vendendo milhões de singles em 2002 (no total o single remix vendeu nove milhões de cópias!!!). E foi além.... a música ocupou o primeiro lugar em todas as importantes paradas de sucesso ao redor do mundo, de Londres a Nova Iorque. Um mega hit. Coisas assim nos fazem pensar sobre a real qualidade até mesmo do material que Elvis vinha gravando para todos aqueles filmes. Era ruins mesmo, de fato, ou simplesmente eram mal lançados e trabalhados por sua gravadora? Uma questão que ganha cada vez mais pertinência com o passar dos anos. O lado B do single, "Almost In Love", também merece alguns comentários, principalmente para os brasileiros. A música, uma simpática bossa nova, foi escrita por um brasileiro, Luís Bonfá, sendo a primeira e única canção composta por um brasileiro gravada por Elvis Presley. Quem poderia dizer que um single tão mal lançado, verdadeiro fracasso de vendas em seu lançamento original, poderia trazer tantas coisas interessantes?

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Suspicious Minds / You'll Think Of Me

Nenhum single lançado por Elvis na década de 1960 foi mais importante do que esse. "Suspicious Minds / You'll Think Of Me" chegou nas lojas americanas em agosto de 1969 e pela primeira vez em sete anos Elvis retornava ao primeiro lugar da parada de singles da Billboard. Já imaginou o tamanho da crise que Elvis vinha enfrentando em sua carreira? Ele não chegava no Top 1 desde "Good Luck Charm" em 1962! Era algo espantoso! O que levou um dos maiores vendedores de discos da história a passar por tantos anos de vacas magras? A resposta é que as trilhas sonoras de Hollywood gravadas por Elvis não tinham força suficiente para competir no mercado com grupos de extremo apelo popular como os Beatles ou os Rolling Stones. Em razão disso Elvis foi ficando para escanteio durante a maior parte dos anos 60, sendo superado sistematicamente por artistas mais jovens e mais antenados com a juventude Flower Power que existia naqueles tempos. Apenas quando Elvis finalmente resolveu deixar os filmes de lado e retomar sua carreira musical é que ele começou a ser notado novamente por toda uma nova geração de fãs. Além disso o single anterior, "In The Guetto", havia criado uma boa receptividade entre radialistas mais jovens que mal conheciam a música de Elvis. Aquela temática sobre problemas raciais trouxe de novo uma boa vontade por parte desses profissionais em relações ao cantor. Até então ele era visto apenas como um velho ídolo, que ficava cantando músicas ruins em filmes igualmente ruins de Hollywood.

A qualidade do single também ajudou muito. Em determinado momento a RCA Victor passou a entender que lançar singles com músicas de filmes não estava mais dando certo. Os singles geralmente fracassavam. Com a gravação de farto material no American Studios de Memphis a gravadora finalmente começou a contar novamente com material relevante, com qualidade suficiente para disputar a primeira posição nas paradas. "Suspicious Minds" assim veio para finalmente consolidar esses novos rumos que Elvis começava a trilhar em sua carreira. O compacto vendeu milhões de cópias e se tornou um sucesso internacional, alcançando maravilhosas vendagens na Europa inclusive. Pela primeira vez em anos o ouvinte podia ligar o rádio e ouvir uma canção de Elvis Presley fazendo sucesso novamente. A música também serviu para apresentar uma nova geração de compositores dentro da carreira do cantor, como Mark James. Ele inclusive seria responsável por outros momentos marcantes na vida de Elvis nos anos seguintes como "Always On My Mind" "Raised On Rock" e "Moody Blue". Novas sonoridades, novas letras, enfim, renovação musical - era tudo o que andava faltando para Presley em suas estagnadas trilhas de Hollywood. James explicaria anos depois que havia criado "Suspicious Minds" inspirado em uma namorada californiana com quem tinha se relacionado meses antes. Embora ela posasse de garota moderna, meio hippie, adepta do amor livre, tinha um ciúme doentio do namorado. Um ciúme que ela definitivamente não conseguia controlar. Nada mais adequado para Elvis finalmente levantar sua cambaleante discografia novamente, a tornando comercialmente bem sucedida, algo que ele andava precisando muito naquele final de década.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Follow That Dream

Começa a maratona de filmes na carreira de Elvis. Em pouco tempo ele estaria deixando de lado completamente a gravação de discos convencionais de estúdio, independentes de Hollywood, para se concentrar única e exclusivamente em trilhas sonoras de suas produções para o cinema. Assim em julho de 1961 Elvis entrava no RCA Studio B em Nashville, Tennessee, para a gravação de mais músicas para seu filme que seria rodado na Flórida com o título de "Follow That Dream" (Em Cada Sonho um Amor, no Brasil). A produção musical seria de Hans Salter, uma vez que Elvis estaria trabalhando para um novo estúdio, a United Artists.

O interessante é que Elvis conseguiu terminar a gravação das músicas de maneira muito rápida, mostrando mais uma vez como era eficiente em suas sessões de gravação. O sistema continuava o mesmo. Elvis ouvia a música algumas vezes em uma versão pré-gravada em fitas de demonstração (fitas demo). Após memorizar a faixa os equipamentos eram ligados e Elvis corria atrás do take master. Ele não tinha mudado em nada seu método de trabalho mesmo após todos aqueles anos.

A RCA Victor aproveitou apenas parte das músicas gravadas. A gravadora decidiu que não iria lançar um álbum completo, um LP, como havia acontecido com trilhas anteriores como "GI Blues" (Saudade de um Pracinha) ou "Blue Hawaii" (Feitiço Havaiano). Ao contrário disso os executivos da gravadora de Nova Iorque decidiram que o lançamento de um EP (compacto duplo) já estava de bom tamanho. O preço de um EP geralmente era o dobro de um Single (compacto simples, com apenas 2 canções). Então o formato ideal escolhido foi justamente esse.

Quatro músicas foram escolhidas para fazer parte do EP. Elas foram selecionadas e colocadas na seguinte ordem: no lado A a RCA colocou as faixas "Follow That Dream" (Fred Wise / Ben Weisman) e "Angel" (Roy C. Bennett / Sid Tepper). No lado B o EP apresentava as canções "What a Wonderful Life" (Sid Wayne / Jerry Livingston) e "I'm Not the Marrying Kind" (Sherman Edwards / Mack David). A música "A Whistling Tune" ficou de fora, sendo arquivada. A boa "Sound Advice" também teve o mesmo destino e só seria lançada anos depois no álbum "Elvis For Everyone".

"Follow That Dream" foi a música tema do filme. Uma canção de certa forma até agradável de se ouvir em sua divertida melodia, mas pouco relevante se formos comparar com temas de filmes de Elvis do passado. Nem vou aqui colocar músicas como "Jailhouse Rock", "King Creole" ou "Love Me Tender" porque seria covardia. Mesmo em comparação com "GI Blues" ou "Blue Hawaii", dois temas dos anos 60, ela se mostrava bem fraquinha. Na verdade mostrava bem que as trilhas sonoras de Elvis iriam por um lado bem mais inofensivo, seguindo uma linha pop romântica sem maiores pretensões. No geral ainda vale pela boa performance do grupo The Jordanaires, aqui mostrando sua importância dentro da musicalidade de Elvis nessa fase.

A boa notícia para Elvis e banda na gravação dessa canção foi que sua finalização foi relativamente simples e sem problemas. Após apenas seis takes eles chegaram na versão definitiva, no take ideal. De maneira em geral essa faixa tema seria uma prévia do que seria o conjunto de músicas desse filme. Nada muito marcante, nada muito relevante. Apenas boas músicas inseridas ali dentro de um pop romântico jovem. Desde o começo dos anos 60 esse tipo de som dominava as paradas musicais da época. Elvis apenas foi na onda.

"Angel" segue nesse mesmo caminho. De certa forma essa música era uma faixa igualmente muito pueril e açucarada além do ponto, até mesmo para os padrões da primeira metade dos anos 60, recriando de forma bastante clara os arranjos de discos de cantores adolescentes ao estilo Frankie Avalon ou até mesmo Sandra Dee. E pensar que em seu livro Priscilla havia sugerido a Elvis usar o corte de cabelo de Ricky Nelson, outro ídolo teen dessa safra. A coisa pegou mal e Elvis viu a sugestão quase como uma ofensa, já que ele considerava todos esses artistas como meros imitadores de seu próprio estilo pessoal.

De uma maneira ou outra até que "Angel" apresentava uma vocalização bonita, fruto de sua melodia romântica juvenil. Entretanto devo dizer também que sempre tive a impressão de que algo deu errado dentro do estúdio, no momento de registrar a música em tape. O fato é que esse possível erro acabou deixando a master com um som abafado demais. Certa vez li uma observação que achei coerente. Dizia que parecia que Elvis estava cantando dentro de um poço muito fundo! Mesmo assim a RCA resolveu aproveitar e ela entrou no EP (compacto duplo) com o resto da trilha sonora do filme.  

"What a Wonderful Life" e "I'm Not the Marrying Kind" seguiam o mesmo padrão das demais canções da trilha, ou seja, um pop alegre, com arranjos bem executados e letras inofensivas. "I'm Not the Marrying Kind" foi escrita porque fazia poucos meses que Elvis havia sido eleito o "Solteiro mais cobiçado da América" pela revista People. Jovem, rico e bem sucedido ele realmente passava a imagem de um sujeito que queria distância de casamentos. Eu acho a música até interessante, mas a letra a força a ir por um caminho na melodia que em algumas partes soa até esquisito. O excesso da palavra "What" na letra também nunca me pareceu uma boa opção. De qualquer forma o recado foi dado, ele não era o tipo de cara para se casar.

Elvis Presley tinha uma intuição musical maravilhosa e sabia bem o que tinha ou não qualidade, o que poderia virar um sucesso ou não. Infelizmente no que diz respeito às suas trilhas sonoras o pacote vinha realmente fechado, sem possibilidade de Elvis escolher as canções que gravaria. Assim estava determinado em seu contrato e assim ele tinha que dar o melhor de si, mesmo quando as canções eram tolinhas e as letras beirando a infantilidade.

"What a Wonderful Life" poderia também soar como algo meio estranho. Afinal o personagem de Elvis era membro de uma família caipira errante, que adotando um estilo de vida nômade procurava um lugar para viver. Eram pobres, frutos da grande depressão, viajando em um velho calhambeque caindo aos pedaços. Seria essa a tal vida maravilhosa citada na letra? Calma, que nem tudo na vida é dinheiro. A mensagem era que mesmo as pessoas mais pobres poderiam ser também as mais felizes. Afinal o espírito humano é bem mais complexo do que meras notas de papel representando valores.

Para finalizar Elvis gravou a simpática, mas igualmente simplória "Sound Advice". Seira uma música em forma de conselho ou um conselho em forma de música? Pois é, nada poderia ser mais fora do ritmo do que uma baladinha basicamente tocada ao violão que tentava passar um conselho ao ouvinte. A RCA não pareceu também gostar da canção e a cortou do EP, do compacto duplo original com a trilha sonora do filme. Assim ela seria arquivada pela gravadora por alguns anos, só chegando ao mercado no álbum "colcha de retalhos" intitulado "Elvis For Everyone". Mesmo nesse álbum, que celebrava a parceria entre Elvis e a RCA Victor, ela ainda passaria praticamente despercebida do grande público.

Para finalizar essa análise das músicas que fizeram parte da trilha sonora do filme "Em Cada Sonho um Amor" vou tecer alguns breves comentários sobre o que ficou de fora. Hoje em dia existem colecionadores que querem tudo o que Elvis gravou. E quando escrevo a palavra "tudo" não é em vão. É tudo mesmo. Até mesmo as músicas rejeitadas, tanto pela gravadora como pelo próprio Elvis, como qualquer outra curiosidade que faça parte de sua longa e variada discografia. Afinal o que não faltam são takes, faixas arquivadas, demos e tudo o mais. O colecionador mais empenhado faz a festa com esse tipo de coisa.

A música "A Whistling Tune" ficou arquivada por décadas! Após ser gravada o produtor da RCA  Victor a deixou de fora dos discos de Elvis. Qual foi a razão? Eu sinceramente não vejo nada de errada nessa faixa. Penso até que poderia ter entrado no EP (compacto duplo) numa boa, sem problemas, mas ela foi considerada tão inexpressiva pela gravadora que o engenheiro de som Bill Porter nem se deu ao trabalho de escrever seu nome no relatório de gravação da sessão. Ficaria perdida, pegando poeira por anos.

Obviamente a sessão foi realizada para a gravação de canções que seriam cantadas por Elvis no filme e a RCA mesmo emprestando seus estúdios tinha pouco (ou quase nenhum) controle sobre a qualidade do material. Afinal a United Artists é que comandou e determinou a seleção das músicas. Assim a gravadora ficou em um impasse pois achou todo o material muito fraco e sem potencial de brigar pelos primeiros lugares da parada Billboard.

A RCA resolveu então incluir as músicas no lançamento de um EP exclusivo do filme. As vendas foram desanimadoras e alguns críticos apontaram como culpa a própria RCA Victor que não se empenhou em nada para divulgar o lançamento. Será que a culpa foi mesmo da gravadora ou do material que não tinha muita relevância? Lançado em abril de 1962 a trilha de "Follow That Dream" só conseguiu mesmo chegar no máximo na décima quinta posição entre os mais vendidos e mesmo assim por apenas uma semana. Um material de canções inéditas de Elvis Presley não chegando nem ao Top 10 era de fato algo a se chamar a atenção. As coisas infelizmente só iriam piorar dali em diante.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Good Luck Charm

A RCA Victor começou o ano de 1962 lançando no mercado americano esse novo single de Elvis Presley com as canções "Good Luck Charm" no lado A e "Anything That's Part of You" no lado B. Eram gravações realmente muito boas, com a voz de Elvis em grande momento. Seu sucesso de vendas foi imediato chegando logo ao topo da principal parada de sucessos dos Estados Unidos, a Billboard Hot 100. Historicamente porém esse single teria grande simbolismo dentro da carreira de Elvis Presley. Sob o ponto de vista comercial seria o último compacto simples até 1969 a chegar ao número 1 das paradas!

Incrível, mas é isso mesmo que você leu. Elvis Presley, o aclamado Rei do Rock, um dos maiores vendedores de discos da história ficaria por longos sete anos fora do primeiro lugar entre os mais vendidos da América na parada de compactos. Logo ele que estava acostumado a ter singles consecutivos nessa posição, sempre reafirmando seu posto de Rei da música. Olhando para trás realmente foi um desastre comercial. As razões são relativamente simples de explicar. Elvis literalmente jogou sua carreira musical para segundo plano. Claro que ele continuaria a cantar em seus filmes, mas isso não era mais o principal objetivo para Elvis naquela época. Ele queria mesmo era ser ator de cinema, apenas isso. Presley acreditava que a carreira musical era muito passageira e que ele, assim como quase todos os outros, logo seria colocado de lado também.

Elvis encontrou a solução para seus anseios no cinema. Em certo momento ele explicou, afirmando: "cantores surgem e desaparecem todos os anos, mas se você for um bom ator pode ficar por aí por muito tempo!". Assim saiu de cena o Elvis músico, cantor e entrou em cena o Elvis Made in Hollywood.  Seus singles e álbuns futuros iriam cair cada vez mais nas paradas pelo simples fato de serem trilhas sonoras, não exatamente gravadas para virar hits!

As trilhas eram longas e muitas vezes temáticas. Assim ficava muito complicado para ele brigar pelos primeiros lugares da Billboard com grupos como Beatles, Beach Boys e Rolling Stones, que estavam surgindo no horizonte. Some-se a isso o fato de Elvis ter parado de realizar concertos e você entenderá porque ele foi tão mal em vendas durante a década de 1960. Uma grande pena, certamente. Basta ouvir as belas faixas desse single para entender bem isso. "Good Luck Charm" tinha ótimo arranjo, vocais inspirados e muito carisma. É uma música gostosa de ouvir, acima de tudo. E o que dizer de "Anything That's Part of You" de Don Robertson? Maravilhoso momento romântico, com a voz de Elvis muito suave e terna, realmente fantástica. É de se lamentar que Elvis tenha deixado tudo isso de lado a troco de praticamente nada. A música perdeu o seu Rei e o cinema não ganhou nada em troca. Simplesmente lamentável.  

Pablo Aluísio.