segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - 1962 - Discografia e Filmografia

Elvis Presley 1962 - Discografia e Filmografia
Esse foi um bom ano para a carreira de Elvis, embora ele já estivesse completamente absorvido por sua carreira no cinema, por Hollywood. Houve o lançamento de apenas um álbum convencional, "Pot Luck", o único trabalho dele apenas como cantor. Em comparação houve o lançamento de três trilhas sonoras, sendo que duas delas foram lançadas apenas em EP (compacto duplo). A RCA Victor não tinha material para um LP, um álbum completo. Além disso os executivos da gravadora tinham receios de não haver mercado para tantas trilhas sonoras de filmes, que sempre ocuparam um lugar à parte no meio fonográfico. No mercado de singles foram lançados apenas três compactos, bem pouco se comparado com os anos anteriores, onde Elvis chegava a lançar 5, 6 singles com músicas inéditas. E no cinema os fãs tiveram oportunidade de conferir três novos filmes de Elvis a chegar nas telas. Todos os lançamentos de Elvis nesse ano obtiveram bons resultados comerciais.  Segue abaixo tudo o que foi lançado de Elvis no mercado dos Estados Unidos em 1962.

Álbuns (LPs):

Pot Luck

KISS ME QUICK / JUST FOR OLD TIMES SAKE / GONNA GET BACK HOME SOMEHOW / (SUCH AN) EASY QUESTION / STEPPIN' OUT OF LINE / I'M YOURS / SOMETHING BLUE / SUSPICION / I FEEL THAT I'VE KNOWN YOU FOREVER / NIGHT RIDER / FOUNTAIN OF LOVE / THAT'S SOMEONE YOU NEVER FORGET

Singles extraídos deste disco:
Kiss Me Quick / Suspicion (1964)
Easy Question / It Feels So Right (1965)
I'm Yours / Long Lonely Highway (1965)
Long Legged Girl / That's Someone You Never Forget (1967)

Girls, Girls, Girls
GIRLS! GIRLS! GIRLS! / I DON'T WANNA BE TIED / WHERE DO YOU COME FROM / I DON'T WANT TO / WE'LL BE TOGETHER / A BOY LIKE ME, A GIRL LIKE YOU / EARTH BOY / RETURN TO SENDER / BECAUSE OF LOVE / THANKS TO THE ROLLING SEA / SONG OF THE SHRIMP / THE WALLS HAVE EARS / WE'RE COMING IN LOADED

Single extraído deste disco:
Return to Sender / Where do You Come From (1962)

Compacto Simples (Singles):

Good Luck Charm / Anithyng that's part of You
She's Not You / Just Tell Her Jim Said Hello
Return to Sender / Where do You Come From

Compacto Duplo (EP):
Follow That Dream
Kid Galahad

Filmografia:
Em Cada Sonho um Amor (Follow That Dream)
Talhado Para Campeão (Kid Galahad)
Garotas e Mais Garotas (Girls, Girls, Girls)

Pablo Aluísio.

Elvis Presley – Elvis By Request

O Coronel Parker costumava dizer que uma gravação de Elvis tinha que ser vendida pelo menos duas vezes. Hoje em dia, depois de tantas décadas, quantas vezes as gravações de Elvis foram vendidas? Mil vezes? Um milhão de vezes? Provavelmente muito mais. Elvis está sempre no mercado, com algum CD ou edição nova com suas antigas gravações. É um jogo de marketing que resistiu a tudo, até mesmo à morte do próprio Elvis, como era de se esperar. E isso já acontecia enquanto Elvis estava vivo, em plena atividade na carreira. Esse EP é bem simbólico disso. Embora celebrasse o filme "Flaming Star" na capa e com duas faixas, era na realidade um mix, trazendo também músicas já lançadas anteriormente. Aquela coisa de faturar duas vezes, vender duas vezes o mesmo produto.

Esse EP (compacto duplo) foi lançado em 1961. Trazia duas faixas inéditas da trilha sonora do filme "Estrela de Fogo" no Lado A e duas reprises do ano anterior (1960) no Lado B. Não eram duas reprises comuns, eram músicas que tinham vendido milhões de cópias de seus singles originais. Tanto "It's Now Or Never" como "Are You Lonesome To Night" tinham sido premiadas com discos de ouro e platina. Foram colocadas aqui de forma até desnecessária. Elas já tinham vendido tudo o que podiam. Olhando para trás teria sido melhor a RCA Victor ter completado o restante do EP com as demais músicas da trilha (havia material para isso), mas acabaram cedendo ao modo de pensar do velho Parker. Era a mentalidade da época.

Elvis Presley – Elvis By Request
Flaming Star
Summer Kisses, Winter Tears    
Are You Lonesome To Night
It's Now Or Never

Pablo Aluísio

domingo, 20 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - His Latest Flame / Little Sister

Enquanto Elvis estava na Flórida filmando seu novo filme, "Follow That Dream" (Em Cada Sonho Um Amor, no Brasil), a RCA Victor colocou na praça seu novo single com duas canções compostas pela mesma dupla, Pomus e Shuman. No lado A do single, "(Marie's The Name) His Latest Flame" e no lado B, a simpática "Little Sister". Priscilla Presley relatou em seu livro "Elvis & Eu" (Elvis and Me, Ed. Rocco, 1985) que pensou seriamente que Elvis estava envolvido com uma garota chamada "Marie" quando esta canção foi lançada. Isto reflete bem o pensamento juvenil da garota adolescente que se apaixonou por Presley em 1958 e que iria se casar com ele em 1967. Quando esse single chegou nas lojas ela ainda estava morando na Alemanha com seus pais. Elvis estava rompendo seu namoro definitivamente com Anita Wood e pensava em um jeito de trazer Priscilla para morar com ele em Memphis. O problema é que ela ainda era menor de idade e Elvis tinha pavor de se envolver em um escândalo como o que havia destruído a carreira de Jerry Lee Lewis. A ironia é que enquanto Lewis afundava, Elvis fazia o mesmo que ele, mas sem chamar qualquer alarde para si e seu romance juvenil.

Como já foi dito o lado B do single vinha com a boa "Little Sister". Esse tipo de canção era até bem comum na época. Por trás de uma letra aparentemente bobinha havia toda uma carga de ironia e malícia com o sexo oposto. O que salvou realmente a música da banalidade foi seu ótimo arranjo e execução. Elvis parecia ter bastante simpatia pela canção, a ponto de a levar para os shows ao vivo que aconteceriam muitos anos depois em Las Vegas. O curioso é que geralmente ele a apresentava em um medley com "Get Back" dos Beatles. Até hoje não se sabe ao certo quem teve a ideia de unir as duas músicas no palco. Elvis gostava da música dos Beatles - chegou a declarar isso publicamente - mas ao mesmo tempo tinha um sentimento de amor e ódio com os ingleses. Basta apenas lembrar o que ele disse sobre o quarteto para o presidente Nixon na Casa Branca. De uma forma ou outra ele parece ter esquecido isso e levou várias canções do grupo para os palcos como por exemplo a imortal "Yesterday" e "Something" (já "Hey Jude" Elvis gravou em estúdio).  Em relação a "Little Sister" Elvis deu uma canja da canção nos ensaios do filme de 1970 "That's The Way It Is". É uma versão relaxada, para descontrair o clima o que rendeu cenas bem divertidas para a película. Nada levado à sério mas que serviu para animar o ambiente durante as gravações. "His Latest Flame / Little Sister" foi lançado em agosto de 1961, fez sucesso, tocou nas rádios mas não conseguiu chegar no topo da Billboard. Seu quarto lugar entre os mais vendidos foi considerado insuficiente pela RCA Victor que sempre apostava todas as fichas comerciais em Elvis. Era de certa forma um sinal do que estava por vir nos anos que viriam.

Pablo Aluísio.  

Elvis Presley - Can´t Help Falling in Love / Rock a Hula Baby

Single lançado pela RCA em novembro de 1961. Esse lançamento rompeu com uma certa independência que os singles de Elvis vinham mantendo em relação aos álbuns, pois foi meramente extraído da trilha sonora de "Blue Hawaii" (Feitiço Havaiano, no Brasil). Já que o disco havia vendido milhões de cópias muitos executivos da RCA achavam desnecessário o lançamento desse single pois não havia novidades, apenas reprises do que já havia sido lançado na trilha. Venceu porém o argumento daqueles que queriam pegar carona no grande sucesso comercial de "Blue Hawaii". Até porque "Can't Help Falling in Love" estava muito badalada, tocando bastante nas rádios. Não poderia se ignorar aquele público consumidor que só queria adquirir a música, sem necessidade de comprar toda a trilha com aquele monte de canções havaianas. Afinal de contas ela era de fato a principal canção do filme. Bem executada, com bela melodia e letra interessante, foi um dos grandes hits da carreira de Elvis. Conseguiu até chegar ao topo da Billboard na categoria Easy Listening, recebendo disco de platina por ter vendido mais de um milhão de cópias.

Por essa época a grande novidade musical do momento era o Twist. Uma dança que se tornou muito popular nos Estados Unidos invadindo as paradas com o sucesso comercial da canção de Chubby Checker. Até o presidente JFK se dizia fã da nova moda! Nos salões de dança, nos bailes, todo mundo estava dançando o tal Twist. Como Elvis era o principal produto comercial da RCA a empresa logo providenciou um twist para Elvis também e ele foi justamente o lado B desse single, "Rock A Hula Baby". Agora imaginem a loucura de se misturar música havaiana com twist! Assim o trio de compositores Wise, Weisman e Fuller teve que se virar para criar algo tão fora do comum como isso. O resultado se mostra abaixo do esperado. Na verdade a canção que se propunha a ser havaiana e twist ao mesmo tempo conseguiu não ser nem uma coisa, nem outra. Desde a primeira vez que a ouvi achei seu ritmo bem estranho e fora de sincronia, algo que se confirma cada vez que a escuto. De qualquer forma o single foi salvo do esquecimento e da irrelevância justamente por causa da maravilhosa "Can't Help Falling in Love", essa sim uma canção inesquecível.

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - I Feel So Bad / Wild in the Country

Para acalmar um pouco os ânimos dos críticos que afirmavam que depois que voltou do exército Elvis só gravava baladonas, a RCA Victor resolveu lançar no mercado um novo single de Elvis Presley. Detalhe importante: a canção principal não era uma balada romântica mas sim um blues conceituado. Era uma releitura acelerada de Elvis para "I Feel So Bad" canção originalmente gravada em 1953 por seu autor, Chuck Willis. Esse foi um nome importante do som de Atlanta. Cantor e compositor, Willis foi um artista de peso e importância no surgimento e popularização do R&B para o público branco na década anterior. Infelizmente morreu muito jovem, com apenas 30 anos, em 1958. Elvis sempre foi um admirador do estilo dançante e contagiante de Willis, tanto que quando entrou em estúdio para gravar seu novo single ele lembrou desse antigo hit sulista. Os arranjos foram os mais próximos possíveis ao do cantor original. Agindo assim Elvis mostrava um respeito intencional com a canção e seu autor. Anos depois, quando retornou aos palcos, Elvis novamente ressuscitaria um velho sucesso de Chuck, a famosa e muito conhecida "C.C. Rider" ou "See See Rider", que usaria geralmente no começo de suas apresentações.

Para o lado B a RCA encaixou a música tema do novo filme de Elvis que chegava nas salas de cinema naquele momento, "Wild In The Country", tema composto sob encomenda pelos estúdios Fox. Como Elvis vinha de uma sucessão de hits número 1, criou-se novamente uma grande ansiedade no mercado. Os números iniciais porém mostraram uma recepção bastante morna ao single. As rádios até se empenharam em divulgar a nova música de Elvis mas apesar de sua grande qualidade a canção não conseguiu virar um hit comercial. Com muito esforço da RCA a música só conseguiu alcançar um suado quinto lugar na semana de seu lançamento, caindo várias posições nas semanas seguintes. Na Inglaterra se saiu bem melhor, chegando entre as quatro mais vendidas mas mesmo por lá o resultado ficou abaixo do que era esperado, afinal todos aguardavam por mais um grande sucesso na voz do cantor mais popular do mundo. De qualquer maneira se não foi o sucesso de vendas tão esperado pelo menos ganhou boas resenhas nos principais jornais americanos. Aquele era o espírito que tinha transformado Elvis no fenômeno musical que todos conheciam. Era uma gravação com pique, energia, garra e sentimento, mostrando que a velha chama roqueira ainda brilhava na alma de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Surrender / Lonely Man

O primeiro single de Elvis Presley em 1961 surgiu nas lojas com as músicas "Surrender" (uma versão do clássico italiano "Torna A Surriento") e "Lonely Man". Era simples de entender que na verdade "Surrender" era uma tentativa de reviver o sucesso de "It´s Now or Never" que havia vendido milhões de cópias ao redor do mundo no ano anterior. Essa era uma regra não escrita dentro da carreira de Elvis. Se algo deu certo, a mesma fórmula seria repetida em futuros lançamentos. Algumas vezes dava certo (como aqui), mas em outras levavam à saturação (como aconteceu com suas trilhas sonoras de filmes nos anos 60).

De qualquer forma o single vendeu bem e vendeu bastante. Não repetiu o sucesso comercial de "It´s Now or Never", mas foi sem dúvida um compacto simples de sucesso. Os imigrantes (e filhos de imigrantes) italianos nos Estados Unidos bateram palmas para a versão de Elvis. Todos gostaram e a música começou a tocar nas cantinas italianas por todo o país, ao lado dos discos de Dean Martin e Mario Lanza. No lado B a RCA Victor encaixou uma bela balada, "Lonely Man", uma canção romântica vinda de Hollywood que sempre achei bastante subestimada. Bonita, acima de tudo.

Elvis Presley - Surrender
(Estados Unidos, 1961, 7", 45 RPM, Single)
Lado A:  
Surrender (Doc Pomus, De Curtis, Mort Shuman)
Lado B:
Lonely Man (Bennie Benjamin, Sol Marcus)

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Wild In The Country

Assim como aconteceu com "Flaming Star" a trilha sonora de "Wild In The Country" (Coração Rebelde, no Brasil) foi completamente negligenciada pela RCA Victor. As canções foram usadas na maioria das vezes como tapa buracos de outros discos e singles. Oficialmente Elvis deixou cinco canções gravadas para o filme. A RCA as jogou ao acaso dentro de sua discografia. 

A canção título, "Wild In The Country" virou Lado B do single "I Feel So Bad". "Lonely Man", a boa baladinha com toques country, não teve melhor sorte indo parar também no Lado B de outro single, "Surrender". "I Slipped I Stumbled I Feel" foi encaixada como faixa bônus do álbum "Something For Everybody". Por fim, sem ter onde lançar no mercado a gravadora resolveu arquivar as canções "In My Way" e "Forget Me Never". Elas ficariam pegando poeira por longos três anos nos arquivos da RCA Victor até serem finalmente lançadas no mercado no álbum "Elvis For Everyone", um título que escondia a verdadeira intenção da RCA: tentar ganhar algo com músicas que tinham ficado no limbo, arquivadas, sem destino comercial certo. Uma colcha de retalhos musical.

Mas afinal o que explicava esse pouco interesse pela gravadora de Elvis por essas faixas de trilhas sonoras? Para a RCA as canções tinham pouco apelo comercial. Eram em sua maioria baladinhas desplugadas sem grande força para se destacar no concorrido mercado musical americano. Nem o fato de Elvis ser o vocalista mudou essa opinião. Os fãs de Elvis reclamaram, afinal por essa época já havia vários colecionadores da música de Presley, pessoas que queriam ter tudo o que fosse relacionado ao cantor. A RCA entendeu o recado e a partir desse ponto adotou a estratégia de lançar pequenos compactos duplos com as trilhas sonoras desses filmes menores da carreira de Elvis. "Follow That Dream" e "Kid Galahad" seriam beneficiados por essa decisão. 

Até mesmo "Tickle Me" que não tinha faixas próprias recebeu o devido cuidado por parte da RCA com o lançamento de um compacto duplo com todas as canções do filme. Só a partir de 1968 é que a RCA voltaria a desistir de seguir por esse caminho, fato que deixou os últimos filmes de Elvis sem lançamento de suas trilhas no mercado americano, nem mesmo em EP. Os péssimos resultados comerciais de trilhas como "Easy Come, Easy Go" cancelariam futuros lançamentos. Era um reflexo no mundo do disco da derrocada da carreira de Elvis Presley no cinema.

Elvis Presley - Wild In The Country (1961)
Wild In The Country
Lonely Man
I Slipped I Stumbled I Feel
In My Way
Forget Me Never

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Flaming Star (1960)

Muita gente se decepcionou com a trilha sonora desse filme. Os fãs queriam uma trilha sonora completa, aos moldes de "Saudades de um Pracinha", um álbum completo, com dez ou doze faixas para colecionar. Só que ao invés disso a RCA apresentou um minguado compacto duplo com poucas canções. Foi decepcionante. Esse tipo de coisa iria levantar a atenção do Coronel Tom Parker que a partir daí iria sempre pressionar a RCA Victor a lançar discos inteiros de trilhas de seus filmes. Acontece que a trilha sonora de "Estrela de Fogo" só contava com apenas 5 músicas, sendo que uma delas nada mais era uma versão diferente, com outra letra, pouco modificada da música tema. Assim, se formos pensar bem, só havia mesmo 4 canções gravadas em estúdio para esse filme. Não havia material nem mesmo para completar um dos lados do LP, caso ele fosse programado realmente.

Depois de "G.I. Blues" Elvis colocou na cabeça que queria ser um grande ator de cinema, ao estilo Marlon Brando e James Dean, seus grandes ídolos. E músicas não faziam parte desse menu. Elvis só esqueceu que seu grande talento pessoal era para a música e não para a arte de atuar, algo que exigia dele outros talentos, completamente diferentes de ter uma bela voz e saber cantar bem. Como o tempo iria provar ele estava errado nesse tipo de pensamento. "Estrela de Fogo" certamente foi um dos bons filmes de sua carreira, mas não fez muito sucesso. Nada comparado com o hit de "Saudades de um Pracinha", esse sim um projeto que valorizava seu lado superstar, de cantor de sucesso. De qualquer maneira uma coisa era certa, essa trilha sonora de "Flaming Star" era apenas uma trilha sonora incidental, praticamente. O que foi uma tremenda decepção para quem queria comprar os discos de Elvis naquela época.

Uma enorme bagunça. Assim poderia definir tudo o que fizeram com a trilha sonora do filme “Flaming Star”. Para inicio de conversa mais da metade das canções do filme não foi lançada na época. Apenas “Flaming Star” e “Summer Kisses, Winter Tears” saíram regularmente em um compacto duplo chamado “Elvis by Request”, o resto das músicas foram esquecidas, arquivadas e ficaram inéditas por anos a fio. E afinal qual teria sido a melhor decisão? Ora, não é preciso ir muito longe para perceber que a RCA deveria ter lançado um EP (compacto duplo) com as cinco canções – algo que faria depois em trilhas sonoras com “Kid Galahad” e “Follow That Dream”. Isso seria em um mundo perfeito mas nada disso aconteceu. Elvis gravou as canções do filme (ele não queria pois em seu entender precisava apenas atuar bem no filme) e a RCA praticamente nada fez com elas no mercado. Provavelmente “Flaming Star” tenha sido a trilha sonora de Elvis Presley mais negligenciada de sua carreira. As músicas que chegaram ao mercado não fizeram sucesso e as que foram arquivadas ficaram no limbo por anos, esquecidas completamente.
   
Fazendo uma rápida retrospectiva: “Britches” só chegou ao mercado fonográfico muitos anos depois no álbum “A Legendary Performer, Volume 3”. “A Cane and a High Starched Collar”não teve melhor sorte. Apesar de aparecer no filme e ter um bom embalo também nunca foi lançada na época, só sendo colocada timidamente no disco “A Legendary Performer, Volume 2”. Por fim a estranha e desnecessária "Black Star" arranjou um espaço no LP “Collectors Gold”. Pra falar a verdade a trilha sonora só foi reunida de fato pela RCA na série Double Features, que nos anos 90 conseguiu trazer alguma organização para a extremamente bagunçada discografia de Elvis nos anos 60. Nessa edição além da trilha completa de “Flaming Star”, o fã de Elvis ainda teria acesso às trilhas de “Wild In The Country” e “Follow That Dream”. Gosto muito dos CDs Double Features, pois além do bom gosto (com excelentes encartes e direção de arte bonita), o fã ainda tinha acesso a todas as informações como datas de gravação, autores, etc. Já para quem esteja a fim de realmente radicalizar em termos de “Flaming Star” eu recomendo o bootleg “Master and session - Flaming Star” que traz as canções oficiais e muito mais como takes e versões alternativas. Demorou décadas mas “Flaming Star” finalmente chegou ao fã de Elvis como era esperado.

As sessões de gravação da trilha sonora do filme "Estrela de Fogo" (Flaming Star, em seu título original) se deram nos estúdios Radio Recorders, em Hollywood, na Califórnia. A sessão foi coordenada e produzida pelo produtor Urban Thielmann, acompanhado do engenheiro de som Thorne Nogar. Tudo foi praticamente gravado em poucas horas em agosto de 1960. Elvis já entrava no estúdio com as músicas decoradas, uma vez que a RCA enviava para ele fitas demos com as canções gravadas por cantores da própria gravadora. Curiosamente a primeira música gravada foi "Black Star". Aliás o filme de faroeste iria ter esse título, mas depois os executivos e produtores da 20th Century Fox pensaram melhor e entenderam que o uso do termo "Black" poderia causar alguma polêmica. Não podemos nos esquecer que a questão racial estava na ordem no dia naqueles tempos. A luta pelos direitos civis da população negra dos Estados Unidos ocupavam todas as manchetes de jornais. E para potencializar ainda mais algum tipo de problema nessa questão o personagem de Elvis no filme era um mestiço. Então para não criar problemas a Fox resolveu mudar o nome do filme para "Flaming Star".

E com essa decisão Elvis precisou voltar ao estúdio para gravar outra faixa título "Flaming Star" que tinha praticamente o mesmo arranjo, a mesma letra, só mudando os termos. Saiu o "Black" e entrou o "Flaming". A versão "Black Star" ficou anos arquivada pela RCA e todo o trabalho que Elvis teve para gravá-la (foram providenciadas até três versões dela) ficaram perdidos. Outra música que foi gravada para fazer parte dos trabalhos desse filme foi "Summer Kisses, Winter Tears". A grande maioria dos fãs de Elvis, principalmente aqui no Brasil, só veio a conhecer essa gravação quando ela foi lançada no álbum "Elvis for Everyone" de 1965. Sou da opinião de que a RCA Victor deveria ter produzido um álbum desse filme. Uma trilha sonora em LP. Bastava gravar mais cinco músicas para o lado B, o que não seria nada complicado para Elvis na época e pronto, havia um disco de verdade para acomodar todas as faixas desse filme. Infelizmente não foi isso que decidiram e a maioria das músicas de "Flaming Star" simplesmente se perderam e foram desperdiçadas dentro de sua discografia.

Apesar dos esforços de Elvis, que não queria aparecer cantando de jeito nenhum nesse filme "Estrela de Fogo", o estúdio Fox conseguiu convencer ele a cantar pelo menos uma canção. A escolhida foi a baladinha country "A Cane and a High Starched Collar". Eu gosto dessa música, apesar de ser das mais simples. Basicamente apenas um arranjo acústico, para que soasse verdadeira na cena do filme, pois era um faroeste, onde o personagem contava apenas com um violão. "Britches" era igualmente simples. Também foi cogitada para ser usada no filme, em outra cena, mas Elvis se recusou com firmeza. Ele queria que esse filme fosse apenas de atuação, não de cantoria. O resultado foi outra faixa gravada e completamente desperdiçada. Ficou anos e anos arquivada, se tornando muito rara. Se nos Estados Unidos passou em brancas nuvens, imagine no Brasil. Os fãs brasileiros nem sabiam que essa canção existia.

"Flaming Star" contou com um grupo musical bem diferente do que Elvis estava acostumado a trabalhar em estúdio. Nada de Scotty Moore e seus músicos da banda usual e tradicional que Elvis usava regularmente em seus discos e singles. Como era um western da Fox, o próprio estúdio cinematográfico escolheu a banda que iria tocar com Elvis na trilha sonora. Só músico contratado da própria companhia. E a banda era formada pelos seguintes músicos: Howard Roberts no violão, Hilmer J. "Tiny" Timbrell na guitarra (esse iria trabalhar em outras ocasiões com Elvis), Michael "Meyer" Rubin no baixo, Bernie Mattinson na bateria e no acordeão James Haskell pois eram músicas de faroeste. Da turma de Elvis mesmo só compareceu na sessão o pianista Dudley Brooks e o grupo vocal The Jordanaires, contando com os vocalistas Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker. A formação clássica dos Jordanaires, como se pode perceber.

Pablo Aluísio.