quarta-feira, 1 de maio de 2019

A Máquina de Lembranças

Nem sempre um bom conceito, um bom ponto de partida, pode dar origem a um filme interessante. É o que acontece nesse "A Máquina de Lembranças". O roteiro parte de um ponto inicial até bem original quando uma máquina é inventada por um executivo e cientista de uma empresa chamada Cortex. Essa nova tecnologia permite que as lembranças, as memórias de um ser humano, possam ser armazenadas em um software. Isso por si só já seria excelente, mas vai além. Qualquer pessoa pode acessar essas memórias, as assistindo como se estivesse vendo um filme. Só que obviamente algo assim acaba gerando problemas, inclusive efeitos colaterais imprevistos como alucinações e distúrbios mentais.

O enredo se desenvolve após a morte desse inventor. Ele é encontrado morto em seu escritório. Quem teria assassinado? Entra assim em cena o misterioso Sam Bloom (Peter Dinklage) que inclusive pode estar escondendo sua verdadeira identidade após roubar a única máquina já produzida. Lendo a sinopse assim pode o filme parecer bem interessante. Infelizmente não é. O desenvolvimento é muito lento, cheio de "climas" mal resolvidos. Para piorar o roteiro que poderia ser mais coeso surge desfragmentado em excesso. Outro problema é que o filme parece ter vários finais. Quando um termina, outro começa. Isso torna tudo tão chato, para não dizer tedioso. Nem o talento do ator Peter Dinklage salva o filme nesse sentido. Ele que é de certa forma a alma por trás do sucesso da série "Game of Thrones", aqui tem pouco a oferecer, tudo efeito de um roteiro mal resolvido, cujo clímax é mais do que decepcionante.

A Máquina de Lembranças (Rememory, Estados Unidos, Canadá, 2017) Direção: Mark Palansky / Roteiro: Mike Vukadinovich, Mark Palansky / Elenco: Peter Dinklage, Matt Ellis, Jordana Largy / Sinopse: Após a morte de um executivo, um inventor de uma máquina revolucionária que armazena as memórias de pessoas, um desconhecido começa a investigar sua morte. Quem teria sido o assassino?

Pablo Aluísio.

Mademoiselle Vingança

Produção francesa lançada pelo Netflix. A historia conta um caso de amor. Após ficar viúva, a Madame de La Pommeraye passa a ser cortejada pelo marquês des Arcis, O problema é que ele tem péssima reputação. É considerado na corte como um Don Juan aventureiro, um galanteador que não consegue ter um relacionamento sério com nenhuma mulher. Na verdade ele faz uma coleção de conquistas, todas sem ir a lugar nenhum. Apenas para satisfazer seu ego. No começo ela resiste, até faz piadas com suas declarações de amor, mas depois de um tempo não consegue mais resistir e cede aos seus avanços amorosos. Bom, não seria por falta de aviso que ela cairia na armadilha de um sujeito como aquele, só que quando se deu conta já era tarde demais.

O filme tem ótimo diálogos, todos extremamente bem escritos. Essa é uma característica bem conhecida dos filmes franceses. O problema é que a produção deixa muito a desejar. Fazer filmes de época é complicado, é necessário caprichar nos figurinos, nos cenários luxuosos, no glamour. Nesse quesito o filme falha. Também comete alguns erros históricos irritantes. Em determinada cena Madame de La Pommeraye mostra um quadro de seu falecido marido. Só que aquele quadro mostrado por ela é uma conhecida obra de pintura retratando o Rei Luís XVI. Imagine a cara de decepção do espectador mais culto e conhecedor de história ao se deparar com um erro desses! Parte do charme se vai para não mais voltar. Então é isso. Um filme irregular, com excelentes linhas de diálogo e produção capenga, que não consegue ficar à altura da época histórica que retrata.

Mademoiselle Vingança (Mademoiselle de Joncquières, França, 2018) Direção: Emmanuel Mouret / Roteiro: Emmanuel Mouret, baseado na obra de Denis Diderot / Elenco: Cécile de France, Edouard Baer, Alice Isaaz / Sinopse: Rica viúva, a Mademoiselle de Joncquières passa a ser cortejada por um nobre com fama de mulherengo e conquistador.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Montgomery Clift - Além da Alma - Parte 2

Durante muitos anos se especulou sobre a verdadeira sexualidade do ator Montgomery Clift. Recentemente o assunto voltou à tona pois um ex-gigolô em Hollywood lançou um livro supostamente mostrando a vida sexual de astros de cinema durante as décadas de 40, 50 e 60. Clift é um dos enfocados. O autor provavelmente não se deu muito bem com o ator e talvez por isso tenha escrito uma imagem nada lisonjeira dele nas páginas do livro. Mont é retratado como um esnobe, um sujeito cheio de "não me toques". Curiosamente apesar de ter sido esnobado por Clift o autor do livro garante que ele era gay! Mas com que provas?

De fato a alcunha de esnobe em relação a Clift não me surpreende. Ele era uma pessoa discreta, tímida na vida privada. Geralmente os tímidos são confundidos com esnobes. Não faz diferença. O fato é que Clift teve uma vida sexual das mais discretas em Hollywood. Tentativas de tachá-lo de gay nunca tiveram comprovação inequívoca. Na realidade não são poucos os que acham que ele na realidade era assexuado (uma definição que só há pouco tem se tornado mais comum).

Montgomery Clift realmente não era visto com mulheres em sua passagem por Hollywood. Ator consagrado de teatro resolveu ir para a capital do cinema atraído pelos bons cachês. Mesmo assim nunca se considerou um membro ativo daquela comunidade. Pouco ia a festas e eventos sociais e procurava manter sua privacidade a todo custo. Tanta discrição acabou despertando suspeitas. Como não era visto com mulheres em público logo se começou a especular se era gay. O interessante é que ao contrário de outros gays famosos em Hollywood, como Rock Hudson, por exemplo, tampouco existem testemunhos de algum ex amante do astro. O que parece ter realmente acontecido foi um simples desinteresse sexual por parte de Montgomery Clift, seja por homens, seja por mulheres. Era neutro ou como se diz atualmente, assexuado, desinteressado por sexo.

Clift tinha grandes paixões platônicas geralmente por mulheres. Sua paixão não realizada por Elizabeth Taylor era conhecida. Taylor sempre casando e descasando nunca deu uma chance para Mont e o considerava apenas um grande amigo. Equivocadamente ela pensava que ele era gay mas tampouco chegou a ver ele com qualquer homem em todo o tempo que conviveu ao seu lado. A eterna solteirice de Clift incomodou inclusive seu pai. Confrontado o ator simplesmente explicou: "Minha vida já é complicada demais sem outra pessoa, por isso não me envolvo mais seriamente com alguém. Mesmo assim darei 10 mil dólares a qualquer um que comprove que não gosto de garotas". Depois que sofreu um grave acidente de carro Montgomery Clift ficou ainda mais recluso e retraído. Sentindo fortes dores de cabeça e sofrendo com as consequências do acidente as chances de sair para cortejar com qualquer pessoa, seja homem ou mulher, ficaram nulas. Clift morreu solteirão e carregando uma injusta fama de homossexual quando na verdade ele simplesmente parecia estar além do sexo.

Pablo Aluísio.

Montgomery Clift - Além da Alma - Parte 1

Edward Montgomery Clift nasceu em uma família aristocrata de Omaha, Nebraska, a mesma cidade que deu ao mundo outro gênio da atuação, Marlon Brando. Entre os dois atores haveria sempre uma coincidência de destinos. Eles nasceram na mesma década (Clift em 1920 e Brando em 1924) e na mesma cidade. Durante os anos 1950 se tornariam grandes astros do cinema americano, elogiados por suas grandes atuações nas telas. Apenas as origens sociais eram diferentes. Enquanto Montgomery Clift nasceu no lado rico de Omaha, em uma família bem tradicional da cidade, Brando era apenas o filho de um caixeiro viajante, membro de uma família bem disfuncional que vivia no lado pobre de Omaha, do outro lado da linha do trem.

Mesmo assim o destino e a sétima arte os uniriam, até mesmo porque a riqueza da família Clift seria tragada por causa da grande depressão que arrasaria a economia americana em 1929, durante a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque. O pai de Monty, um rico especulador de ações, perderia praticamente tudo com a crise. Arruinados financeiramente, a família Clift mudou-se então para Nova Iorque, deixando o meio oeste durante os anos 1930. Essa mudança de cidade iria também mudar para sempre o destino de Montgomery Clift. Criado para ser um dândi da elite de Nebraska, ele precisou rever seus conceitos na grande cidade, na grande Maçã, como Nova Iorque era conhecida.

Ao invés de estudar em colégios privados tradicionais ele foi parar em uma escola pública do Brooklyn. Monty que sempre havia estudado com jovens ricos e bem educados de Omaha, se viu de repente no meio de um pessoal mais barra pesada, que partia para a briga nos intervalos. Nova Iorque era realmente uma selva e para sobreviver por lá o jovem Monty precisou se impor, não por meio de sua educação refinada, mas sim pela força dos punhos. Sem dúvida foi uma mudança brutal, de um meio aristocrático, para um realidade bem mais pé no chão.

Em meio a tantas mudanças algo no novo colégio mudaria para sempre sua vida. Ele se apaixonou pelo teatro. O departamento teatral da escola era muito bom, muito original, um ambiente que valorizava o talento dos alunos que mostravam o interesse pela arte de interpretar. Monty foi fisgado desde os primeiros dias. Ele sabia que Nova Iorque era um dos lugares mais efervescentes do mundo em termos teatrais. Havia muitas peças sendo encenadas na Broadway e no circuito Off-Broadway. As oportunidades estavam em todos os lugares. Vendo que poderia arranjar trabalho no meio teatral da cidade ele se empenhou nas peças escolares em que atuou. Seu objetivo era ganhar experiência para partir para a Broadway, até porque trabalhar havia se tornado uma necessidade em sua casa, pois seu pai enfrentava muitas dificuldades para arranjar um emprego.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

As Cartas de Grace Kelly - Parte 8

Quando a atriz Grace Kelly casou com o príncipe Rainier de Mônaco ela pensou que estava realizando o sonho de toda jovem, se tornando a princesa de um lindo principado europeu. Era um conto de fadas! A realidade de Monte Carlo porém era bem diferente do que ela pensava. O pequeno principado na verdade estava falido. Os hotéis viviam vazios, os restaurantes só eram frequentados por algumas velhinhas francesas aposentadas e os cassinos viviam praticamente às moscas. Grace ainda não havia entendido que seu casamento no fundo havia sido um grande golpe publicitário para levantar aquele outrora point turístico do passado.

De uma forma ou outra o fato da princesa ser Grace Kelly acabou chamando o interesse novamente para aquela região que parecia meio esquecida, afundada em dívidas. Navegando pela costa de Mônaco em seu maravilhoso iate Christine o milionário Aristóteles Onassis se interessou em conhecer melhor aquela pequenina monarquia, muito por causa da interessante história de Grace Kelly. Empreendedor nato ele viu que do ponto de vista capitalista tudo andava bem decadente. Como era um investidor sagaz Onassis resolveu que iria investir em Mônaco, a começar pelo country club que estava desativado, às moscas. No passado ele havia gostado de jogar golfe ali e ficou realmente desolado de ver que toda aquela beleza natural estava abandonada e esquecida.

Grace Kelly o conhecia desde os tempos de Hollywood e viu que seria ótimo que Onassis investisse em Mônaco, dando todo o apoio possível para seu desejo de investir lá. O curioso é que a empresa que administrava o desativado Country Club não gostava de Onassis e por isso recusou todas as propostas de venda do lugar. Inconformado e se recusando a ser esnobado Onassis resolveu comprar a própria empresa que insistia em lhe dizer não. Só assim ele teria total controle do Country Club de Mônaco. Depois disso não parou mais, comprou hotéis, cassinos e restaurantes. Muito do renascimento de Mônaco se deveu a Onassis que dizem as más línguas fez tudo isso porque nutria uma paixão platônica por Grace Kelly (quem poderia lhe culpar por algo assim?)

Assim Grace e Rainier não apenas ficaram gratos pela força milionária em Mônaco por parte de Onassis como também se tornaram amigos dele e de sua companheira, a cantora lírica Maria Callas. Com o dinheiro do rico Onassis a cidade resplandeceu e começou a novamente atrair turistas, especialmente americanos. Isso trouxe divisas, empregos e riqueza para Monte Carlo. Muitas e muitas vezes para celebrar os bons negócios Onassis convidava Grace Kelly e seu marido para longos passeios no iate Christine. Não era um barco comum, era o maior iate particular do mundo. Certa vez Onassis comentou com Grace Kelly que a embarcação tinha doze suítes de luxo, mas que viviam vazias. Intrigada Grace perguntou porque viviam vazias, sem ninguém, ao que Onassis respondeu: "Não existem doze pessoas interessantes no mundo que me faça querer compartilhar meu tempo e minha privacidade com elas".

Pablo Aluísio.

As Cartas de Grace Kelly - Parte 7

Grace Kelly (1929 - 1982) foi uma das mais belas atrizes de Hollywood. Preferida do mestre Alfred Hitchcock estrelou um de seus grandes clássicos, "Ladrão de Casaca". Foi vencedora do Oscar de Melhor Atriz em 1954 por "Amar é Sofrer". No começo de sua carreira foi modelo de sucesso em Nova Iorque. Logo se tornou um ícone da moda. Entretanto o sucesso nas revistas da moda não a interessavam tanto como o mundo do cinema. Obviamente que naqueles tempos havia um preconceito contra mulheres que se dedicavam à carreira de atriz em Hollywood. E Grace Kelly tendo nascido em uma família rica e tradicional enfrentou preconceitos ainda mais fortes e presentes. Mesmo assim passou por cima de tudo e enfrentou o desafio de ser uma atriz.

Grace Kelly foi atriz na era de ouro do cinema dos Estados Unidos. Tinha o tipo certo para isso. Era um tempo em que os estúdios estavam atrás de rainhas da beleza para os filmes. A beleza era fundamental nesse aspecto. Quanto mais belas, maiores eram as chances de emplacar uma carreira de sucesso na capital do cinema. Porém não era apenas isso que contava. E Grace sabia disso, por isso procurou estudar a profissão de atriz, frequentou cursos de arte dramática, tanto em Nova Iorque como em Los angeles para onde se mudou por causa da carreira.

E assim ganhou a confiança de grandes diretores de cinema, entre eles Alfred Hitchcock que com ela rodou alguns de seus maiores clássicos. Em "Janela Indiscreta" explorou na atriz a figura da mulher fiel, que sempre estava pronta a apoiar seu companheiro, mesmo quando ele colocava na cabeça que havia um crime sendo planejado e executado no apartamento vizinho. Já em "Ladrão de Casaca" o diretor a escalou para ser uma das peças de seu tabuleiro. Na rica Mônaco um jogo de roubo e charme era jogado e pelas mesmas pessoas, imagine você!

Depois de trabalhar com Hitchcock ela estava pronta para trabalhar com qualquer direitor, mas no final de tudo trocou sua carreira por uma coroa, na mesma Mônaco onde havia filmado seu filme com o mestre do suspense. Dizem que anos depois iria se arrepender de suas escolhas, mas será mesmo? De certa maneira ela trocou mesmo a insegurança de uma carreira de atriz, por mais bem sucedida que fosse, pela posição de esposa do monarca, de princesa de Mônaco. Que bela jovem de sua época não queria ser uma princesa de verdade? Era a concretização de um conto de fadas!

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de abril de 2019

As Cartas de Grace Kelly - Parte 6

Em 1951 Grace Kelly aceitou o convite para ir até Hollywood filmar um novo faroeste que iria se chamar "Matar ou Morrer". Ela teve um certo desejo de não aceitar o convite porque afinal de contas estava se dando muito bem em Nova Iorque, trabalhando como modelo e como atriz em peças na Broadway e em teleteatros filmados que eram exibidos nos canais de TV. Tudo corria maravilhosamente perfeito, mas seu agente lhe disse que um convite como aquele não poderia ser recusado. Outro ponto que a fez recuar um pouco foi o fato de que o filme seria um faroeste ao velho estilo, estrelado pelo astro do gênero Gary Cooper. Ela não tinha pretensões de fazer filmes desse estilo. Porém, mesmo com certa hesitação, ela terminou assinando o contrato para fazer o filme.

Assim, até meio a contragosto, ela finalmente arranjou três semanas livres e voou até Los Angeles. Acabou encontrando um set de filmagens com um diretor muito estressado pois o cineasta Fred Zinnemann era detalhista ao extremo, No elenco ela encontro um amigo, o ator Gary Cooper, que aos 51 anos era um veterano das telas, com décadas de carreira em Hollywood. Enquanto isso Grace era apenas uma novata esforçada, aos 21 anos de idade. Apesar da diferença de gerações (afinal ele tinha idade para ser o pai dela), as coisas fluíram muito bem entre eles. O que começou com uma amizade sincera entre dois colegas de trabalho acabou se tornando algo mais.

Grace Kelly levou o romance das telas para a vida real. Ela teve um romance com o cinquentão Cooper, que dono de uma personalidade bem tímida e retraída, nunca ficou muito confortável com aquela situação. Na verdade o ator ficou em dúvida se aquela jovem queria tirar algum proveito dele ou se realmente tinha um verdadeiro sentimento no relacionamento que começou bem no meio das filmagens. De uma forma ou outra o próprio Cooper resolveu acabar com o breve romance. Ele disse a Grace Kelly, já perto do fim das filmagens, que já tinha vivido muito para saber que algo como aquilo não tinha muito futuro. Assim de forma educada e gentil resolveu encerrar o romance. Ele gostava de cultivar a imagem de homem honrado dentro da comunidade em Hollywood. Um caso com uma atriz tão jovem não iria pegar bem.

Nos anos que viriam Grace Kelly iria se relacionar com muitos atores com quem trabalharia. Ela parecia ter um tipo de fetiche em namorar os grandes astros de Hollywood, por isso acabou ficando conhecida por ser muito namoradeira na época. Só um grande astro resistiu ao seu charme. Apesar de todos os esforços Grace Kelly não conseguiu conquistar o homem que ela considerava perfeito: Rock Hudson. Grace ficou apaixonadíssima por ele, pois era alto, bonito e tinha um ótimo carisma, se revelando simpático e muito acessível. O que Grace não sabia (poucos sabiam disso em Hollywood) era que Hudson era gay e escondia isso do estúdio e do público em geral. Afinal segredos eram para ser bem guardados.

Pablo Aluísio.

As Cartas de Grace Kelly - Parte 5

Em 1951 Grace Kelly finalmente estreou em Hollywood no filme "Horas Intermináveis" de Henry Hathaway. Era um filme da estética noir, com trama forte e pesada, mostrando um homem em desespero, prestes a cometer suicídio. O elenco era estrelado pelo ator Paul Douglas, cujo sucesso foi efêmero. Hoje em dia poucos se lembram dele, ao contrário de Grace Kelly que estava destinada a ser uma grande estrela. Outro nome interessante no elenco era o de Jeffrey Hunter, que assim como Grace, também estava em um papel coadjuvante.

A personagem de Grace se chamava senhorita Louise Ann Fuller e não tinha maior importância no filme. Isso porém era algo não tão importante, pois o que valia a pena mesmo era tentar se tornar mais conhecida em Hollywood. Em Nova Iorque Grace já tinha uma boa base de contatos no mundo fashion, da moda, e nos episódios de algumas séries de TV. Em Hollywood porém ela ainda tinha que se fazer conhecida.

Apesar de seu primeiro filme ser um noir sem muito orçamento (típico desses filmes da época), a produção ao menos conseguiu chamar atenção suficiente para arrancar uma indicação ao Oscar na categoria de melhor direção de arte. Um crítico de Los Angeles inclusive chegou a elogiar Grace Kelly por causa de sua beleza e boa presença de cena, algo que repercutiu entre os produtores da indústria. O produtor e diretor Stanley Kramer estava escalando o elenco de um novo western que seria estrelado pelo astro Gary Cooper. A direção já havia sido acertada com o mestre Fred Zinnemann. O papel da esposa do xerife Kane estava em aberto. Várias atrizes tinham sido testadas para interpretar Amy Fowler Kane, mas sem sucesso.

Foi então que Kramer pensou em Grace Kelly. Ele havia assistido "Horas Intermináveis" e gostado muito de Kelly no filme. O problema é que ao tentar entrar em contato com seu agente, o produtor descobriu que Grace havia viajado de volta naquela manhã para Nova Iorque. Kelly tinha compromissos na cidade, para atuar em uma série de programas de TV e ensaios para revistas de moda. A sorte da atriz é que a pré-produção de "Matar ou Morrer" (um dos maiores clássicos do western de todos os tempos) também atrasou, fazendo com que ela tivesse tempo de cumprir todos os seus compromissos para só assim voltar para Los Angeles. Esse seria o primeiro grande filme de sua carreira e aquele que mudaria os rumos de sua trajetória de atriz para sempre!

Pablo Aluísio.