domingo, 9 de janeiro de 2005

Elvis Presley - Blue Hawaii (1961)

Responda rápido: qual foi o disco mais vendido da carreira de Elvis enquanto ele esteve vivo? Sim, foi essa trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano". O disco vendeu milhões de cópias ao redor do mundo, chegando ao topo das paradas dos mais vendidos em diversos países. O Coronel Parker ficou vibrando com o resultado e em uma entrevista chegou a dizer que esse era "O Produto Perfeito"! Um álbum com músicas havaianas que agradava a diversos públicos, pessoas mais velhas, jovens, crianças, adultos, etc. Todo mundo tinha um sonho de ir passar férias no Havaí. Então foi de fato um produto de puro entretenimento que caiu no gosto popular. Se o público adorou, a crítica especializada não gostou muito do que ouviu. Era algo muito plastificado, meio kitsch, soando como uma falsa sonoridade da música do Havaí. Uma visão distorcida de Hollywood em relação àquela cultura daquelas ilhas distantes. O que Elvis pensou desse conjunto de músicas? Se formos levar em conta o que ele havia achado de outras trilhas sonoras, como "Saudades de um Pracinha", ele deve ter tido suas reservas. Entretando, como sempre profissional, foi lá e gravou as faixas da trilha sonora, mesmo não gostando muito.

O interessante é que pelo menos três canções o agradaram dentro daquele repertório (com excesso de músicas, para alguns). Ele particularmente apreciava a linda canção romântica "Can't Help Falling in Love", tanto que passou a usá-la para encerrar seus shows na década de 70. Ele parecia curtir também "Hawaiian Wedding Song", que inclusive chegou a cantar para Priscilla em sua lua de mel, como ela mesma confessou em sua biografia. Por fim Elvis parecia ter apreço igualmente pela italiana "No More". Por outro lado achava uma verdadeira palhaçada faixas como "Ito Eats", que só funcionava no contexto do filme e ficava péssima ao se ouvir no disco ou então de "Rock-a-hula Baby", que chegou a ser usada em single, mas que nunca convenceu ninguém. Uma música fraca. O sucesso absurdo tanto do filme como de sua trilha sonora fizeram com que Elvis se retraísse em suas opiniões pessoais. Ele ficou calado. Chegou a ponto de dizer numa entrevista que não deveria se mexer em um sucesso desses. Se as pessoas gostavam, então era isso mesmo, era o caminho. Esse pensamento o fez ficar em Hollywood por dez anos, gravando trilhas para filmes.

Vamos tecer algumas considerações sobre as músicas da trilha sonora desse filme "Feitiço Havaiano". A primeira música gravada por Elvis para esse disco foi "Hawaiian Sunset". Considero uma das boas músicas românticas do álbum, embora a RCA tenha colocado ela no final do Lado B do vinil original, mostrando que a gravadora não colocava muita fé em seu sucesso. De qualquer maneira é um bom momento, valorizado ainda mais pelo coro dos Jordanaires, cantando junto a Elvis - cuja voz foi colocado bem à frente, em destaque, como queria o Coronel Parker. Depois dela Elvis gravou a também romântica "Ku-u-i-po". Se formos comparar as duas músicas a melodia dessa é bem mais bonita. Tem um belo arranjo de violão solando ao fundo, além, é claro do Steel Guitar que permeia por praticamente todas as faixas do disco. Quem estava tocando esse som peculiar foi o especialista Alvino Rey, trabalhando pela primeira vez ao lado de Elvis em estúdio, até porque esse tipo de sonoridade era novidade nos discos do cantor. Tudo arranjado para que o ouvinte se sentisse no próprio Havaí, curtindo uma de suas maravilhosas praias ao sol.

E então, depois de gravar as duas havaianas faixas já citadas, Elvis se preparou para fazer uma boa gravação de "No More" que não fazia parte da cultura musical do Havaí, mas sim da doce Itália. Elvis, é bom lembrar, era admirador da música italiana, tanto que de tempos em tempos fazia suas próprias versões da musicalidade tão forte da rica cultura daquele país. E ele se saiu muito bem, em apenas 9 takes a faixa estava pronta, mostrando que Elvis a conhecia muito bem. Estava na ponta da língua, afiada para gravar rapidamente. Elvis em mais um momento Mario Lanza de sua discografia. E para encerrar os trabalhos naquele dia 21 de março Elvis fechou a noite gravando a versão definitiva de "Slicin' Sand". O take escolhido pelo produtor Joseph Lilley para ser a versão oficial do disco foi o de número 4. Boa escolha. É uma boa faixa do LP, mas não vá chamar isso de rock. Não é! É uma pop music que tem seus pontos positivos, embora no geral fique na média do resto da trilha sonora. Destaque para o bom solo de guitarra de Hank Garland.

A música tema do filme, "Blue Hawaii", tem um arranjo estranho em seu começo. Particularmente nunca gostei de seu início, parece algo sem ritmo, se arrastando. Depois melhora e vira uma balada agradável. Elvis não foi o primeiro a gravar essa música. Existe inclusive uma versão mais antiga gravada por Frank Sinatra, com menos efeitos típicos da música havaiana. Inclusive sempre fiquei surpreso por poucos conhecerem essa versão antiga do Sinatra. A música, pelo visto, não fez qualquer sucesso em sua voz. "Ito Eats" é a música mais fraca da trilha sonora. Nada é tão ruim como essa faixa. Eu poderia inclusive dizer, sem medo de ser injusto, de que essa canção é uma verdadeira porcaria. E no filme fica ainda pior quando mostra o tal do Ito, um sujeito gordinho que come sem parar. Penso que essa deveria ter sido descartada da trilha. Deixassem apenas no filme, como um número curto. Também não ficaria nada mal se o diretor tivesse jogado fora essa sequência que até tenta ser divertida, mas é sem graça demais.

"Hawaiian Wedding Song" é a música havaiano de casamento. A própria Priscilla Presley confidenciou que Elvis cantou um trechinho dessa música quando a levou para o quarto, na Lua de Mel do casal em Las Vegas. Uma palhinha apenas. A versão de estúdio ficou muito boa. A cena final do filme é com ela, com Elvis todo vestido de branco. Uma bela cena do filme, ficou bem bonita, sem dúvida. Em termos de palco Elvis chegou a cantá-la algumas vezes ao vivo nos anos 70. Uma versão Live inclusive chegou a ser lançada pela RCA em sua discografia oficial, no álbum póstumo "Elvis in Concert". "Island of Love" também é uma bonita música, mas bem mais fraca que a anterior. Tem um parte puramente instrumental que ficou bem legal. Ainda assim é bem esquecível também. No vinil original de 1961 ela foi colocada como penúltima música, lá no finalzinho do Lado B. Os ouvintes meio que deram de ombros, não se importando muito com essa "Ilha do Amor". No final das contas fica na média das demais baladas. É agradável de ouvir, apenas isso.

A música "Steppin' Out of Line" foi gravada para a trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano" mas acabou ficando fora do disco! O que aconteceu? Até hoje não há uma resposta sobre isso. A faixa foi bem gravada, era uma boa música, muito boa por sinal, mas ficou mesmo fora da trilha sonora. Alguns dizem que foi por pura falta de espaço, já que havia músicas demais para colocar no álbum. Se foi isso por que não tiraram músicas mais fracas? Eis a questão. De qualquer maneira ela não ficaria fora da discografia de Elvis, surgindo algum tempo depois no disco "Pot Luck". Por outro lado "Almost Always True ' é uma das boas canções da trilha. No disco original em vinil era segunda música do lado A, logo depois da música título do filme. Uma boa faixa, com ótima participação do saxofonista Homer "Boots" Randolph que costumava melhorar muito as músicas de Elvis nos anos 60 com seus solos instrumentais. Não chega a ser um rock, mas sim uma música pop das mais agradáveis de se ouvir. E não tem aquele monte de Steel Guitar e nem de Ukulele que aparecem nos arranjos das outras músicas desse álbum.

Podem dizer o que quiserem, mas eu pessoalmente gosto muito de "Moonlight Swim". O que mais curto nessa canção é seu arranjo, principalmente vocal, que nos remete a músicas bem mais antigas, inclusive da década de 1920. Aliás esse tipo de acompanhamento vocal feminino deveria ter sido mais presente nos discos de Elvis dos anos 60. Aqui destaco o excelente trabalho das cantoras. Ficou muito bom! "Aloha Oe" é até bonita, contando inclusive com uma introdução remetendo aos antigos cantos tradicionais havaianos. Entretanto depois de ouvir tantas músicas com guitarras havaianas tudo fica meio cansativo. Melhor é esperar a longa introdução terminar para ouvir a bela voz de Elvis quase cantando em estilo tradicional. É uma faixa pequenina. Funciona melhor em cena. No disco, ouvindo, não acrescenta muito.

Bom, não precisa saber muito sobre Elvis Presley e seus discos para entender que "Can't Help Falling in Love" foi o maior sucesso da trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano". Aqui temos realmente um grande hit e uma das faixas que sobreviveram até mesmo ao sucesso do filme. Afinal "Blue Hawaii" como cinema passou, mas essa balada romântica ficou, entrou definitivamente no repertório atemporal da música internacional. O interessante é que a gravação ficou realmente genial. Elvis gravou três versões diferentes, uma para ser usada em cena, no filme, outra para compor o disco oficial da trilha e uma menor, a ser usada no material de promoção nas rádios. O curioso é que as fãs da época pensavam que a faixa (que havia chegado a elas em single antes do lançamento do filme nos cinemas) iria embalar alguma cena bem romântica no filme, mas isso não aconteceu. Elvis a canta para uma senhora. Pois bem, como a música virou um hino praticamente, Elvis a resgatou em 1969 para ser usada em seus shows em Las Vegas. Nunca mais deixou de cantá-la, sendo usada como a música de despedida de praticamente todos os concertos que realizaria até o final de sua vida.

"Beach Boy Blues" já não era tão especial. Na realidade até considero uma faixa que tinha muito potencial, mas que de certa forma foi estragada por aquelas produções plastificadas de Hollywood. É incrível como os estúdios de cinema muitas vezes estragavam os ritmos musicais mais tradicionais. Ao invés de gravar um blues de grande qualidade, os escritores apareciam com meras imitações para o gosto do público médio dos Estados Unidos. Esse é um caso bem representativo disso. A cena do filme, com Elvis em cana, também não acrescenta muito. Acho a canção fraca. E fraca também pode ser considerada a última canção que Elvis gravou para esse disco. Estou me referindo a "Rock-a-hula Baby". Ei, misturar Havaí, ou sua sonoridade, com o Rock bravio, dos grandes centros urbanos dos Estados Unidos, realmente não parecia uma boa ideia. E não era mesmo! Foi escolhida para ser o lado B do single ""Can't Help Falling in Love". Por essa razão até ficou bem conhecida na época, afinal o compacto vendeu milhares de cópias. Só que tudo isso foi de certa forma em vão. A música era bem fraca mesmo e não resistia a ouvidos mais atentos. Depois de algumas audições logo se tornava bem enjoativa.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Something For Everybody (1961)

Ótimo momento da discografia de Elvis Presley nos anos 60. Este disco quando foi lançado em maio de 1961 alcançou rapidamente o primeiro lugar da parada musical da Revista Billboard ocupando esta posição durante três semanas consecutivas, tirando Frank Sinatra do topo da parada. "Something For Everybody" foi gravado em apenas duas sessões de gravação em Nashville! Elvis entrou nos estúdios às 10 da noite do dia 12 de março e finalizou tudo um dia depois. Em pouco mais de algumas horas de gravação o cantor já havia terminado sua parte deixando todas as músicas prontas para a RCA. Neste caso a pressa não foi inimiga da perfeição, pois este fato demonstra o alto poder de trabalho de Elvis e também o qualifica como o mais rápido "hitmaker" da história. O que aconteceu realmente era que a banda já estava devidamente ensaiada ao entrar em estúdio, então foi apenas uma questão de se chegar ao take adequado. No mesmo mês que este disco foi lançado o single "I Feel So Bad / Wild in the Country" chegava ao quinto lugar na parada americana e ao primeiro na parada britânica. O lado B deste single promovia o lançamento de mais um filme de Elvis "Wild in the Country" (coração rebelde, 1961). Este filme marca a tentativa de Elvis em estrelar filmes de maior qualidade com roteiros melhores e papéis dramáticos, porém seu objetivo não foi alcançado pois seus maiores sucessos cinematográficos iriam ser as comédias musicais românticas como "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961). De qualquer forma a música "I Sleeped, I Stumbled, I Feel" foi incluída no disco para promover o lançamento do filme. O álbum também se destaca por ser um dos poucos gravados em estúdio sem qualquer relação com trilhas sonoras. Como se sabe por essa época Elvis estava decidido em se tornar um grande ator, então até mesmo sua carreira musical seria deixada um pouco de lado. Os discos a partir de então passariam a ser meros veículos para os filmes de Elvis, algo que com o tempo se mostraria saturado, tanto em termos artísticos como comerciais. Agora vamos analisar faixa por faixa as gravações de "Something For Everybody (LSP 2370):

There´s Always Me (Don Robertson) - Maravilhosa canção romântica escrita pelo ótimo compositor Don Robertson. Robertson inclusive compareceu ao estúdio de gravação e trocou algumas ideias com Elvis. Depois se tornou amigo do cantor, a ponto inclusive de visitar várias vezes sua casa na Perugia Way em Bel Air. É sem sombra de dúvida uma das mais belas músicas interpretadas pelo Rei do Rock, que nos presenteia com um momento mágico. Além de contar com a voz de Elvis em um de seus melhores momentos, esta traz ainda a participação muito especial da vocalista Millie Kirkham. Simplesmente ouça e se emocione.

Give Me The Right (Wise / Blagman) - Outra boa gravação original de Elvis. Por essa época o compositor Fred Wise compôs vários temas para o cantor, tanto para seus (poucos) discos de estúdio como também para suas (muitas) trilhas sonoras de filmes. As músicas eram geralmente pedidas por telefone para Wise que morava em Nova Iorque e sempre mantinha um time de compositores auxiliares para as rápidas composições encomendadas. Outro fato que chama atenção aqui é o fato do disco trazer uma curiosidade em relação a outros trabalhos de Elvis: um dos lados do antigo LP era composto exclusivamente com baladas românticas e o outro com músicas mais agitadas. Esta canção é um exemplo do primeiro tipo com ótimo acompanhamento dos músicos do cantor. Durante as sessões Elvis e seu produtor resolveram acrescentar novos instrumentos na música para melhorá-la.

It´s a Sin (Rose / Turner) - Primeiro cover de Elvis Presley no disco. Essa é uma velha canção gravada pelo famoso cantor Eddy Arnold em 1947. Na ocasião de seu lançamento a canção se destacou nas paradas Country & Western dos EUA. Embora creditada a dois compositores a música foi composta realmente apenas pelo guitarrista Zeb Turner que cedeu a metade dos direitos ao editor musical Fred Rose, um fato bastante comum na época. Depois que virou sucesso na década de 1940 a canção foi sendo sucessivamente regravada ao longo dos anos. As versões de maiores destaques vieram nas vozes de Bill Haley & His Comets (1957), Don Gibson (1962), George Jones (1965), Dottie West (1969), Del Wood (1980) e Willie Nelson (1995). Essa versão de Elvis, datada de 1961, mantém o alto padrão do cantor por essa época. Sua voz suave e muito melódica está perfeita para a proposta da composição, aqui em versão bem mais romântica e sofisticada.

Sentimental Me (Cassin / Moreheread) - Outro cover de Elvis para uma canção antiga, também da década de 1940. A música estourou na versão do grupo The Ames Brothers. Na Europa ela ganhou uma interpretação linda e muito inspirada de Jackie Brown and his Quartet. As duas entraram nas paradas logo no começo de 1950. A versão de Elvis segue a tendência desse disco, ou seja, voz suave e terna, adicionando muito romantismo à sua interpretação. Sua versão mais recente é a de 2005 quando o cantor country David Slater a regravou para seu album "Nice And Easy".

Starting Today (Don Robertson) - Outra canção muito inspirada do compositor e pianista Don Robertson. Canção leve, com belo arranjo que se encaixava perfeitamente no lado mais romântico deste disco. Essa composição faz parte das quatorze músicas que o autor fez especialmente para Elvis. Isso era algo bem interessante para Presley pois o estilo mais sofisticado de compor de Robertson vinha bem de encontro com o que ele andava procurando para gravar. Faixas suaves, românticas, onde ele pudesse praticamente sussurrar as letras. Além disso o arranjo de piano criava um lindo fundo instrumental para sua voz. Enfim, temos aqui um dos pontos altos do álbum.

Gently (Wizeth / Lisbona) - Mais uma versão original do disco. Canção romântica bem ao estilo acústico, o que de certa forma difere bastante das demais músicas de "Something For Everybody". Sem dúvida é um belo momento seu em estúdio. Fez parte também da última coletânea da discografia do cantor em vida, "Welcome to my World". Uma de suas características mais marcantes é seu arranjo em lindo dedilhado, criando um clima intimista, voz e violão muito agradável. Essa faixa encerrava o Lado A do antigo LP em vinil.

I´m Coming Home (Charlie Rich) - Canção que abria o Lado B do disco original. Aqui começa uma seleção de músicas mais animadas, agitadas. Essa faixa é aquele tipo de gravação que deixa uma certa frustração no fã de Elvis porque apesar de toda a sua ótima qualidade (de vocais, arranjos e execução) nunca foi destacada ou teve grande reconhecimento. A música foi composta pelo grande músico e compositor Charlie Rich (1932 - 1995). Rich se destacou em seus muitos anos de carreira como um dos mais talentosos nomes dos meios musicais em Nashville e Nova Iorque. A country music porém era apenas uma de suas facetas musicais pois ele também se destacou compondo vasto repertório nos gêneros rockabilly, jazz, blues e até gospel. Infelizmente como tinha grande renome também era considerado "caro demais" pelo Coronel Tom Parker, o que de certa forma encerrou prematuramente sua parceria ao lado de Elvis.

In Your Arms (Schroeder / Gold) - Outra versão original composta pela dupla Schroeder e Gold que iriam se tornar figuras constantes e assíduas nos discos de Elvis dessa época, inclusive nas trilhas sonoras onde escreveriam vários temas para o cantor. Aqui se nota a importância do conjunto vocal The Jordanaires no som de Elvis. Esta bela música conta com o acompanhamento impecável deste grupo. Aliás um fato curioso: o Jordanaires era o único grupo creditado nos discos de Elvis o que levava muitas pessoas a pensarem de forma equivocada que eles eram na verdade um grupo musical com guitarra, baixo, bateria, etc. O que não sabiam era que os Jordanaires nada mais eram do que um quarteto vocal, tipicamente de gravações gospel que Elvis levou para a RCA por admirar seu trabalho. Scotty Moore e banda não eram creditados nas antigas capas dos álbuns de Elvis, o que convenhamos foi uma grande injustiça cometida por muitos anos contra esses talentosos músicos.

Put Blame On Me (Wise / Twoney / Blagman) - Tem o mesmo título de uma música antiga cantada no cinema pela diva Rita Hayworth. Porém se trata de uma outra composição. Gravação original que anos depois, em 1965, seria utilizada como parte da trilha sonora do filme "Tickle-me" (O Cavaleiro Romântico" no Brasil). Este filme dirigido por Norman Taurog, sem sombra de dúvida é um dos piores que Elvis realizou em seus anos de Hollywood, uma vez que não se teve nem ao menos a preocupação de se gravar um trilha sonora própria para a produção. Lamentável. Todas as músicas de sua trilha já tinham sido lançadas antes em outros álbuns do cantor.

Judy (Teddy Redell) - Outro grande momento deste trabalho musical é representado por esta ótima balada de nome tão singelo: "Judy". Este era um truque dos primeiros compositores de Rock'n'Roll: utilizar nomes de pessoas ou cidades para sensibilizar os moradores destes mesmos lugares ou que tivessem o nome destas canções para que elas comprassem o disco! "Judy" foi ainda lado B de um single lançado em 1967, (seis anos depois!?) com "There's Always Me" no lado principal. Single fora de época que não fez qualquer sucesso nas paradas.

I Want You With Me (Woody Harris) - Canção pop de ritmo rápido. Elvis nos anos sessenta procurou sempre melhorar seus arranjos, inclusive incorporando diversos instrumentos novos em sua música o que lhe deu maior consistência musical. Isto iria se acentuar mais tarde quando Elvis trocaria de produtor, saindo Steve Sholes e entrando Chet Atkins. Este último era considerado um dos grandes nomes de Nashville e era conhecido pelo melhoramento e embelezamento que dava às gravações. Chet Atkins morreu em 2001, causando uma grande comoção no mundo artístico dos Estados Unidos.

I Sleeped, I Stumbled, I Feel (Wise / Weisman) - Única canção que faz parte da trilha sonora do filme "Wild in The Country" (Coração Rebelde, 1961) presente no disco. No enredo Elvis a canta enquanto dirige um caminhão ao lado de sua namoradinha. A letra, nada inspirada, soava totalmente fora de tom dentro da proposta do roteiro, pois "Coração Rebelde" se destacava mesmo por seu texto melodramático. Sua inclusão na seleção musical do álbum também acabou criando certa confusão entre os fãs. Na capa do disco vinha a inscrição "Trilha Sonora do filme Coração Rebelde". O problema é que esse texto estava mal colocado e posicionado, dando uma impressão errada ao consumidor. Claro que a indicação se referia apenas à essa música e não às demais. O público porém não entendeu direito e pensou que todo o álbum fazia parte da trilha sonora do filme. Imaginem a surpresa quando o filme começou e outras canções completamente diferentes surgiram na tela, enquanto que não havia o menor sinal das demais músicas desse álbum. A RCA reconheceu o erro e até soltou uma pequena nota pedindo desculpas depois.

Something For Everybody (1961): Elvis Presley (vocais) / Scotty Moore (guitarra) / Hank Garland (guitarra) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Boots Randolph (sax) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Gravado no RCA Studio B, Nashville / Data de Gravação: 12 e 13 de março de 1961 / Data de lançamento: maio de 1961 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #2 (UK).

Pablo Aluísio.

sábado, 8 de janeiro de 2005

Elvis Presley - His Hand in Mine (1960)

Elvis gravou esse primeiro álbum gospel em 1960. A RCA Victor, sua gravadora, não achou uma boa ideia. Elvis era um rockstar, um cantor jovem pop. Não tinha nada a ver com músicas religiosas. Ele já havia gravado gospel antes, em um compacto duplo, nos anos 50, mas um álbum inteiro só com canções de teor religioso era algo que fugia dos padrões da gravadora. Só que Elvis já estava decidido. Ele queria gravar um álbum em homenagem à sua mãe. E nada era mais adequado do que gravar um LP gospel em memória da alma de Gladys Smith. Não é demais lembrar também que um dos sonhos de Elvis era fazer parte de um quarteto gospel. Isso desde os tempos em que era apenas um adolescente que ouvia música religiosa nas estações de rádio de Memphis. A família de Elvis era religiosa, mas não era fanática. Eram crentes comuns, que gostavam de ir aos cultos aos domingos e principalmente ouvir músicas religiosa no rádio, um dos poucos eletrodomésticos que existia em sua casa. Assim não é de se admirar que Elvis tenha criado um vínculo emocional nostálgico com todas essas músicas que ouvia quando era garoto. Era uma lembrança muito presente de sua mãe também, que ouvia ao seu lado todos esses programas.

Assim Elvis cresceu ouvindo gospel. Fazia parte de sua formação musical e cultural. As faixas de "His Hand in Mine" foram selecionadas pelo próprio Elvis. Ele teve que engolir todas aquelas músicas de "G.I. Blues", sem ter poder de veto sobre elas, recebendo um pacote fechado do estúdio e da gravadora, para apenas colocar sua voz. Porém em se tratando desse álbum ele iria ter controle completo. Iria escolher as músicas, cantando aquilo que realmente desejasse cantar. Era um material que ele acreditava. Eu considero um belo trabalho da carreira de Elvis. Curiosamente não gosto muito da faixa título "His Hand in Mine" que tem uma introdução muito estranha, embora melhore muito depois, em sua melodia bonita. Essa é uma antiga canção religiosa, que apenas pessoas como Elvis conheciam. Sim, ele tinha um vasto conhecimento de gospel music. E também era um colecionador de discos religiosos desde muito jovem. Ao longo dos anos Elvis estava sempre comprando discos desse gênero musical. Também adorava assistir programas religiosos nas manhãs de domingo. Esse era um lado de Elvis que realmente poucos conheciam na época.

Elvis gravou esse álbum no RCA Studio B, em Nashville, Tennessee. O produtor escolhido pela gravadora para essas sessões foi o bom e velho Steve Sholes. O escolhido para ser o engenheiro de som foi Bill Porter. Esse disco mostrou bem como Elvis era "rápido no gatilho". Em praticamente apenas dois dias (30 e 31 de outubro de 1960) ele finalizou sua participação no álbum. Gravou todas as doze faixas previstas. Sem perda de tempo e dinheiro. Contribuiu para isso o fato de que Elvis conhecia a maioria das músicas desde a adolescência. Então foi apenas questão de acertar o take certo. A primeira música gravada foi "Milky White Way", que não por acaso também era uma das melhores canções do álbum. Aqui Elvis caprichou mesmo naquele estilo de voz de veludo que seria a característica mais lembrada dessa fase de sua carreira, ali no comecinho dos anos 60. Elvis adotou um estilo de cantar mais suave, mais terno, como bem foi definido por um crítico da época. O velho estilo musical mais áspero e rasgante, de seus anos de roqueiro, nos anos 50, pareciam distantes agora.

Depois de gravar a faixa título do disco, Elvis se concentrou em "I Believe in the Man in the Sky". Essa era uma velha conhecida de Elvis. Um gospel tradicional, muito utilizado nos cultos da Assembleia de Deus, que era a igreja frequentada pela família de Elvis quando ele era apenas um garotinho. Foi uma lembrança nostálgica de seus anos de convivência ao lado de sua mãe Gladys, ainda nos tempos duros de Tupelo. Interessante citar também que a RCA Victor iria utilizar esse mesma música em um single, mas somente alguns anos depois. Nessa mesma noite de inspiração nos estúdios da RCA, Elvis ainda emplacou sua versão de "He Knows Just What I Need". Esse gospel deu um pouco mais de trabalho para Elvis e seu grupo de apoio pois foi preciso gravar 10 takes para que Elvis se sentisse finalmente satisfeito. Depois que ela foi gravada Steve Sholes sugeriu que Elvis desse um tempo nas músicas religiosas para que eles gravassem a faixa título de seu novo single, "Surrender". Mais complicada de gravar do que era esperado, Elvis levou 17 takes para finalizá-la. Havia uma parte final que cobrou seu preço na voz de Elvis. Ele precisou se empenhar bastante para que ficasse realmente boa a gravação. Ficou excelente. Essa música iria se tornar um hit em sua carreira.

"Joshua Fit The Battle" foi baseada em um evento narrado no velho testamento quando Josuè (Joshua) derrubou os muros de Jericó durante uma batalha. Essa vitória foi creditada pelos antigos judeus ao seu Deus único. Essa canção tem ótimo ritmo, bem animada, poderia ser considerado até mesmo um bom rockabilly se não fosse sua letra religiosa. Elvis parece bem empolgado com sua vocalização. É uma das faixas que mais aprecio nesse álbum. Pura energia positiva. Outra que se destaca por seu excelente ritmo, bem pra cima, bem agitada, é a canção "Swing Down, Sweet Chariot". Um fato curioso é que essa faixa seria regravada por Elvis em 1969, para fazer parte da trilha sonora do filme "Lindas Encrencas, as Garotas" (The Trouble With Girls). No filme Elvis representava um personagem que gerenciava um daqueles parques itinerantes que viajavam de cidade em cidade com seu show.

Na época chegou-se a dizer que o enredo do filme era baseado na vida do Coronel Tom Parker antes dele encontrar Elvis, para se tornar seu empresário. De qualquer maneira entre as duas versões prefiro muito mais a desse disco do que a trilha sonora, que embora inferior também era muito boa. E a cena no filme também ficou excelente, com Elvis em seu terno branco e chapéu de cowboy, figurino inclusive que usa em praticamente todas as cenas do filme, que também considero bom, até acima da média do que ele vinha fazendo em Hollywood. Outra faixa que merece destaque nesse disco "His Hand in Mine" é  "Working On The Building". Tem um excelente arranjo, mais voltado para o acústico. O violão é o grande destaque e muitos dizem que foi tocado pelo próprio Elvis no estúdio. Não seria uma surpresa. Se houve um álbum em que Elvis fez questão de se envolver nesse ano de 1960 foi justamente esse, que inclusive seria o seu último disco do ano a chegar nas lojas. Assim Elvis esperava fechar seu ano de retorno com belas mensagens cristãs. Nesse aspecto ele foi definitivamente bem sucedido em suas pretensões.

O gospel  "I'm Gonna Walk Dem Golden Stairs" atualmente é bem associada a Elvis Presley, mas esse hino religioso, ou pelo menos seus primórdios, suas primeiras versões, são bem antigas. Segundo algumas pesquisas os pioneiros já cantavam versões rudimentares dessa música religiosa já por volta de 1750. Esse tipo de gospel vai mudando ao sabor dos tempos, afinal é uma música composta e criada para ser cantada em cultos. Conforme mudam as igrejas, novas versões vão surgindo. "Known Only To Him" é o que os americanos gostam de chamar de spiritual. E o que seria isso? É uma subdivisão da música gospel. Essa denominação de spiritual era usada para canções mais introspectivas, mais centradas em si mesmo, mais reflexivas, algo como se fosse uma oração interior, um diálogo bem pessoal com Deus. Geralmente esse tipo de song era mais lenta, melancólica até. Feita para se ouvir em grandes crises pessoais.

"Mansion Over The Hilltop" apresenta uma melodia bem mais agradável em meu ponto de vista. O arranjo apresenta uma bela combinação entre o violão (que os americanos gostam de chamar de "guitarra acústica") e o piano, aqui dando o tom de todo o gospel, do começo ao fim. Destaque também, como não poderia de ser, ao grupo vocal The Jordanaires. Aqui eles estavam em casa, em seu habitual, pois nasceram como quarteto gospel, desde seu surgimento. Cantar ao lado de Elvis música pop, rock e comercial, havia sido quase um acidente em sua carreira. Um aspecto que acho interessante em um álbum como esse é que não é segredo para ninguém o desejo que Elvis tinha, desde que era apenas um adolescente, em se tornar membro de um quarteto vocal gospel. E ao longo de sua carreira ele pareceu nunca desistir de um dia realizar esse tipo de sonho. Tanto que sempre foi acompanhado em suas gravações por grupos vocais que tinham surgido dentro do universo gospel americano. Não importava o tipo de música que gravava, sempre havia um grupo vocal desse estilo ao seu lado fazendo os vocais de apoio.

Elvis gostava muito dos discos de um pastor batista chamado Thomas Mosie Lister. Tinha em sua coleção particular de discos todos os álbuns e singles desse pregador. Tão admirador do gospel de Mosie Lister se tornou que gravou várias versões de músicas dele, muitas delas presentes nesse seu primeiro LP de músicas religiosas, "His Hand in Mine". Era até engraçado quando Elvis entrava em alguma loja de discos naquela época. Os vendedores pensavam que ele iria comprar discos de rock ou pop, mas Elvis ignorava completamente a seção desses discos. Ele ia direto para a sessão de gospel music. Inclusive passando os olhos sobre a lista de sua discoteca particular vemos que a grande maioria dos discos era de gospel e country, seus dois ritmos musicais preferidos. Quase não havia nada de rock, a não ser alguns discos dos Beatles.

"In My Father's House", que em tradução livre poderia ser traduzido em nossa língua portuguesa como "Na casa de Meu Pai" era mais uma das músicas religiosas preferidas de Elvis. Aqui, como não poderia deixar de ser, se destacava em relevo as vocalizações de seu grupo de apoio, os bons e velhos membros dos Jordanaires, que poucas pessoas sabem hoje em dia, mas que nasceram como quarteto gospel. E por falar em quartetos gospel, Elvis tinha verdadeira adoração por esse tipo de vocalização. Ele inclusive chegou a declarar em entrevistas que não havia nada no mundo da música mais belo de se ouvir do que quatro vozes masculinas, em perfeita harmonia, cantando gospel music. Isso talvez explique a inclusão da faixa  "If We Never Meet Again" na seleção musical do álbum. Muito embora a versão de Elvis tenha sido adaptada ao seu estilo. Afinal os fãs queriam ouvir Elvis quando comprava um de seus discos oficiais e não um quarteto gospel ao velho estilo.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - G.I. Blues (1960) - Texto II

"G.I. Blues" é uma das boas trilhas sonoras de Elvis Presley nos anos 60. Esse filme marcou a volta de Elvis aos Estados Unidos, após ele servir o exército americano na distante Alemanha. Era uma romantização de seu período como soldado na Europa. Elvis não gostou muito da ideia, mas preferiu manter seu descontentamento só para si. O que não foi de todo errado, até porque a Paramount Pictures providenciou uma boa produção para marcar sua volta aos cinemas. Ao mesmo tempo a RCA Victor preparou toda a parte musical, contratando um time de compositores de Nova Iorque para providenciar as canções do novo filme. Elvis tinha apenas que cantar e atuar da melhor forma possível. O resultado viria em sucesso comercial tanto nas lojas de discos como nas bilheterias de cinema. Foi justamente isso o que aconteceu. Por essa razão considero "G.I. Blues" ("Saudades de um Pracinha", no Brasil) um momento agradável da discografia de Elvis. Boas canções, bem executadas. O filme vai pelo mesmo caminho, um romance onde o personagem de Elvis tenta brincar com uma garota, colocando ela como alvo de uma aposta com seus amigos. O tiro porém sai pela culatra e ele fica mesmo apaixonado pela dançarina (interpretada pela simpática e carismática Julier Prowse). Enfim, um belo momento na carreira de Elvis nos anos 60, tanto em disco como em película.

Tonight Is So Right For Love (S. Wayne / A. Silver) - Como já tinha escrito antes essa faixa "Tonight Is So Right For Love" ganhou duas versões bem diferentes, tudo por causa de direitos autorais. Dependendo do país a versão que foi mostrada no filme acabou não saindo na trilha sonora original, o que causou uma certa confusão nos fãs de Elvis na época. Essa versão "diferente, mas parecendo igual", bem light, tem boa estrutura e agrada aos ouvidos, só que a versão europeia tem muito mais personalidade. Ela é apresentada em cena quando Elvis canta para Juliet Prowse em uma cantina tipicamente italiana. Tanto a cena como a música em si são ótimas. Nada a reclamar.

What's She Really Like (Sid Wayne / Silver Joe Lilly) - "What's She Really Like" tem uma melodia agradável e trouxe muito para o álbum de uma forma em geral. Mal foi utilizada no filme, tampouco foi promovida de alguma maneira pela RCA Victor. Acabou sendo um bom Lado B para "G.I. Blues". O ponto central aqui é elogiar a boa performance de Elvis nos microfones. Ele parece ter gostado da composição, se esforçando para dar o melhor de si. No estúdio tudo ficou muito bom, diria até acima da média. Uma pena que a canção não tenha tido mais espaço em sua discografia. Nos palcos nem é preciso falar nada. Elvis se afastaria de apresentações ao vivo por um longo período.

Frankfort Special (Sid Wayne / Sherman Edwards) - "Frankfort Special" tem o ritmo de um trem em movimento. Isso aconteceu porque os roteiristas escreveram uma cena em que Elvis, ao lado de seus companheiros de farda, tocava e cantava em um vagão de trem rumo à cidade de Frankfurt. Essa faixa sempre foi uma das minhas preferidas do disco. É aquele tipo de som que se destaca e consegue ser apreciada mesmo fora do conjunto da trilha. A RCA Victor poderia ter trabalhado melhor nessa gravação, talvez a lançando em um single antes do disco chegar nas lojas, mas preferiu que ela ficasse apenas incorporada ao disco, trazendo qualidade para o repertório de uma forma em geral. Nisso a faixa também funcionou muito bem.

Wooden Heart (Kaempfert / Wise / Weisman) - O maior hit saído desse disco foi a bela e terna "Wooden Heart", O curioso é que Elvis jamais cantou qualquer canção dessa trilha sonora em shows ao vivo, mas abriu uma pequena e breve exceção justamente para essa baladinha. Na Alemanha e países vizinhos como a Áustria ela é certamente uma das mais conhecidas da discografia de Elvis. Foi uma das poucas que beberam da cultura alemã dentro do repertório desse álbum. A cena do filme também era puro carisma, com Elvis contracenando com uma marionete em um show infantil típico da Alemanha. Com um pequeno trecho cantado na língua germânica, a canção acabou caindo nas graças daquela região europeia.

G.I. Blues (Sid Tepper / Roy C.Bennett) - O resto do material da trilha sonora passeia entre adaptações de marchas militares e canções românticas ao velho estilo. Nos dois tipos Elvis se sai bem. Ele estava em um período vocal muito bom. O interessante é que ele de certa maneira deixou a suavidade mais característica desse período de sua carreira para adotar, em certas faixas, um aspecto mais forte em sua voz. Exigências de um material que contava com esse fator, digamos, militar do tema. A própria canção tema, "G.I. Blues" ia por esse lado. A letra não era muito boa, mas seu estilo parada militar foi muito bem adaptada. Não deixa de ser curioso também como os Jordanaires, grupo gospel em sua origem, também conseguiu se adequar ao novo estilo.

Pocketfull Of Rainbows (Wise / Weisman) - Bem, se você teve o vinil original dessa trilha sonora de Elvis Presley vai se lembrar que a bela balada "Pocketfull Of Rainbows" abria o Lado B do álbum. No filme Elvis fazia um dueto com a atriz Juliet Prowse. Enquanto ele cantava ela fazia a harmonia em sua voz. Até que ficou bonita a participação da atriz e dançarina, só que no disco tanto a RCA Victor como o Coronel Parker acharam que sua voz não deveria estar na gravação. Por isso a versão que saiu no disco foi a com a pura voz de Elvis, sem acompanhamento de Prowse. Considero uma das melhores músicas românticas da fase de Elvis em Hollywood. A cena no teleférico no filme também ficou muito boa. Assim a canção funcionou muito bem, tanto no disco como no filme.

Shoppin' Around (Tepper / Bennet / Schroeder) - "Shoppin' Around" trazia algumas características que iriam se repetir em futuras trilhas sonoras do cantor nos anos 60. Tinha um excelente ritmo, uma boa gravação em estúdio, mas... uma letra fraquíssima. Os compositores que faziam as músicas de Elvis nesse período pareciam se inspirar nos grandes musicais da Broadway de Nova Iorque, mas obviamente criando canções bem mais simples. Funcionava no filme, na cena, mas no disco parecia sem muita qualidade. Não deixa de ser um bom momento do álbum, mas novamente deixo claro que a letra realmente ficou muito abaixo do esperado.

Big Boots (Wayne / Edwards) - "Big Boots" teve duas versões em estúdio. Uma em ritmo de canção de ninar, usada no filme na cena em que Elvis contracena com um trio de bebezinhos. Outra versão rápida, bem estilo rock, foi gravada também. A RCA pensou em usar essa versão em um single, que nunca foi lançado. Uma pena, teria sido muito interessante para o fã de Elvis nos anos 60 ter acesso a duas versões diferentes, uma lançada no álbum e no filme (a versão canção de ninar) e outra em compacto, puro rock, para tocar nas rádios. Infelizmente as noções de marketing da época eram bem diferentes das de hoje. Assim a Big Boots rock ´n´roll acabou sendo arquivada por décadas e décadas, só chegando ao mercado após muitos anos depois da morte de Elvis. Lamentável.

Didja Ever (Wayne / Edwards) - "Didja Ever" era basicamente uma marcha militar. Aqui os compositores se esforçaram bem para trazer o clima de quartel general para o disco. Elvis não gostou muito. Na verdade ele não curtia muito o repertório dessa trilha sonora e nem o roteiro do filme. Segundo Priscilla ele tentou cortar várias das canções, sem sucesso. Também não ficava à vontade pelo fato do roteiro explorar de forma fantasiosa seu serviço militar na Alemanha. Era algo que soava a oportunismo em sua mente. Talvez nesse ponto Elvis estava sendo crítico demais. De maneira em geral gosto do trabalho musical desse disco, muito embora nem sempre venha a considerar todas as canções como obras acima da crítica.

Blue Suede Shoes (Carl Perkins) - Um dos aspectos mais curiosos dessa trilha sonora de Elvis Presley foi o fato dele ter gravado uma nova versão de "Blue Suede Shoes". A criação de Carl Perkins foi gravada para seu primeiro disco na RCA, lá em 1956. Depois em 1960 Elvis voltou para registrar mais uma gravação da canção. Muitos críticos não gostaram do resultado, o que discordo com veemência. A nova Blue Suede Shoes ficou ótima, com um arranjo primoroso! Deveria inclusive ter sido lançada em single na Europa, mas novamente a RCA errou e decidiu que a nova versão só faria parte da trilha sonora e nada mais. Erro de estratégia de vendas ao meu ver.

Doin' The Best I Can (Pomus/Schuman) - "Doin' The Best I Can" fechava o disco orignal, LP, de "Saudades de um Pracinha". É uma bela e terna música romântica, muito bem cantada por Mr. Presley. No filme ela aparecia timidamente, quando o personagem de Elvis, o soldado Tulsa, reunia sua banda de amigos de farda para dar uma canja musical em um daqueles bares típicos da Alemanha. Na cena do filme sempre notei uma certa indiferença por parte de Elvis, porém no estúdio, gravando a faixa, ele foi tecnicamente perfeito. Vinha bem de encontro com o estilo vocal que ele passava a adotar por essa época de sua carreira, cantando de forma mais terna, mas cadenciada. Dando maior importância na dicção das frases, uma dica deixada por Frank Sinatra quando eles se apresentaram juntos no programa de TV da rede ABC.

Elvis Presley - G.I. Blues (1960): Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Bob Moore (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Frank Bode (bateria) / Ray Siegel (contrabaixo) / Dudley Brooks (piano) / Jimmie Haskell (acordeon) / Tiny Timbrell (guitarra) / Hoyt Hawkess (guitarra) / Neil Mathews (tamborim) / The Jordanaires (vocal) / Produzido por Joseph Lilley e Hall WallisRCA Studios - Hollywood / Data de Gravação: 27, 28 de abril e 06 de maio de 1960 / Data de Lançamento: outubro de 1960 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

Elvis Presley - G.I. Blues (1960)

A trilha sonora do filme "Saudades de um Pracinha" tem altos e baixos. Na época em que esse álbum foi produzido os produtores procuraram por uma sonoridade que lembrasse as marchas militares. Nem preciso dizer que Elvis odiou essa ideia. Dono de um senso musical único, Elvis achou essa uma péssima premissa, porém acabou no final aceitando, por livre e espontânea pressão de ter assinado um contrato leonino com a Paramount Pictures e a RCA Victor. Nesse tipo de contrato era estipulado que Elvis iria receber o pacote já fechado com as músicas dos filmes. Ele apenas teria que cantar as músicas, sem poder opinar ou recusar gravar qualquer uma delas. O disco foi sucesso de público e crítica, fazendo com que Elvis resolvesse se calar pelo resto dos anos 60. O álbum com as músicas do filme se tornaram seu título mais vendido em 1960, superando e muito o "Elvis is Back!" que tinha maiores pretensões artísticas. A crítica também gostou. Achou o material criativo, lembrando inclusive de peças da Broadway em Nova Iorque. O disco foi até mesmo indicado ao Grammy, algo que não mais se repetiria em relação às trilhas sonoras de Elvis em Hollywood. Com tão boa receptividade, com tanto lucro, Elvis enfiou definitivamente suas opiniões no saco. Ele não mais reclamaria do material que lhe era enviado para gravar, por mais medíocres que fossem as músicas. Se estava fazendo sucesso, quem seria ele para contrariar?

Uma das curiosidades desse novo lote de músicas que ele teria que gravar é que Elvis teria que fazer uma nova versão de seu próprio clássico 'Blue Suede Shoes" de 1956. Lançada inicialmente em seu primeiro disco na RCA Victor, ele precisou voltar aos microfones para cantar esse novo arranjo, bem mais acústico e menos cru do que a versão original. Eu particularmente gostei da sonoridade dessa nova versão. É bem melhor produzida, não há como negar, embora com menos energia do que a primeira gravação, quando Elvis, aos 21 anos, estava no pique da sua fase roqueira. E se formos parar para pensar bem foi até bem desnecessária a produção dessa nova versão. Ela é usada numa cena do filme quando um soldado resolve interromper Elvis, que está cantando no palco de um night club. O pracinha liga o jukebox e dele sai justamente a nova "Blue Suede Shoes". Momento ideal para uma briga de Elvis e seu opositor. Praticamente todo filme de Elvis tinha uma cena de briga. Era padrão em seus filmes. Os roteiristas usavam uma determinada fórmula em seus roteiros. O público já chegava no cinema sabendo que haveria uma cena assim.

"What's She Really Like" foi composta pela dupla Abner Silver e Sid Wayne e gravada no dia 28 de abril de 1960. Considerada uma boa balada do disco, diria até que é uma das melhores faixas da trilha sonora, com uma sonoridade agradável e relaxante aos ouvidos. A letra é interessante, onde um amigo conta ao outro sobre sua nova namorada. Só elogios, dizendo que ela é maravilhosa em todos os sentidos, que tem lábios excitantes! E vem também o orgulho em dizer ao amigo que "ela é minha". Pois é, orgulho de namorado em romance recente. "Big Boots" foi um caso curioso dessa trilha sonora. Foram gravadas duas versões diferentes da música. A primeira e a principal, que acabou entrando no disco e sendo usada numa cena do filme, veio em ritmo de canção de ninar. Muito terna, muita doçura e fofura. A outra versão que foi arquivada vinha em ritmo de rock, ou melhor dizendo, em ritmo pop aceleradinho. Ficou ótima essa versão B, mas infelizmente os produtores da época acharam que não havia espaço nela no disco oficial. Coloque mais esse na longa lista de erros da RCA Victor.

"Didja' Ever" é uma marcha militar. Sim, uma marcha militar, mas com claro sabor pop music. Nada tão surpreendente assim, uma vez que o personagem de Elvis era um soldado americano na Alemanha, servindo por lá no pós-guerra, sendo um bom patriota e tudo mais. No filme a música ganhou certo destaque. A força aérea dos Estados Unidos até colaborou, cedendo um de seus caças para fazer parte do cenário. Afinal tanto o filme como o disco poderiam ser usados como propaganda para as forças armadas americanas. Algo meio trágico pois em pouco tempo os Estados Unidos iriam se envolver na Guerra do Vietnã e toda aquela tragédia humana e militar que foi aquela intervenção. Não há como ignora a bela melodia da balada "Doin' the Best I Can". A letra é de resignação e também de decepção. O enamorado personagem canta em primeira pessoa a decepção de se fazer tudo pela amada e não ter reconhecimento nenhum por isso. Ele faz tudo por ela, mas não parece ser suficiente. Uma carta de sonhos não realizados, afinal quando elas agem dessa maneira, uma coisa parece certa, o romance está prestes a desmoronar. Boa faixa, sendo que em minha opinião não foi bem usada no filme, aparecendo muito timidamente.

O maior sucesso dessa trilha sonora de Elvis foi a canção "Wooden Heart". É a bela música que foi apresentada no filme quando Elvis contracenou com uma marionete, no show para crianças. Cena muito legal do filme. Dois aspectos curiosos rondam essa música. A primeira é que foi a única música gravada por Elvis com palavras da língua alemã, o que era natural acontecer pois a versão aqui que ouvimos é uma adaptação de uma antiga música do folclore da Baviera. Como Elvis havia servido na Alemanha e como o seu personagem também servia na Alemanha na história do filme era impossível ignorar a cultura alemã na seleção musical do disco.  Os produtores do disco então se apressaram em providenciar algo nesse sentido. O resultado ficou muito bom, acima do esperado. E Elvis caprichou em sua performance. O segundo aspecto digno de nota é que essa foi a única música dessa trilha sonora que Elvis cantou ao vivo, em um palco, durante a década de 1970. Claro que foi apenas uma pequena versão, muito limitada, de poucos minutos, algo que Elvis sempre fazia em se tratando de suas antigas gravações, mas mesmo assim ela foi cantada. Nenhuma outra ganhou esse privilégio. Sucesso na Alemanha e nos demais países ali vizinhos, como Holanda e Suíça, "Wooden Heart", apesar de sua singeleza, segue sendo um dos maiores hits europeus do cantor.

"Pocketful of Rainbows" ganhou uma cena bem romântica entre Elvis e sua parceira Juliet Prowse. É a cena do teleférico. Essa cena foi rodada em estúdio, em Hollywood. As cenas das montanhas que aparecem nas costas do casal é apenas o velho método de black projection (alguns chamam de back projection) onde os atores atuavam na frente de uma grande tela de cinema, com cenas filmadas por uma segunda unidade de direção da Paramount que foi até a Alemanha para gravar as cenas que seriam usadas nos cenários do filme. Já no estúdio da gravadora RCA Victor Elvis precisou gravar duas versões diferentes da música. A primeira foi utilizada pela RCA na trilha sonora oficial do filme. Apenas Elvis cantando, em solo. A segunda foi gravada alguns dias depois quando a atriz Juliet Prowse apareceu nos estúdios para gravar um dueto ao lado de Elvis. Embora a voz de Prowse fosse bonita sempre preferi a versão que contava apenas com a vocalização de Elvis. Muito mais perfeita do ponto de vista técnico. Outro aspecto digno de nota é que essa canção deu muito trabalho para Elvis, resultando em incríveis 28 takes! Em se tratando de Elvis isso era um verdadeiro absurdo!

"Frankfort Special" é a música que Elvis canta em um trem, no filme. Gosto bastante dessa canção, embora Elvis não tenha apreciado tanto assim. Ele inclusive pediu que mais da metade das músicas fossem retiradas do filme. Aquela velha coisa de querer ser um ator sério ao estilo Marlon Brando e James Dean. O produtor Hall Wallis recusou todos os seus pedidos. Experiente em Hollywood sabia muito bem o que os fãs de Elvis queriam ver em seus filmes. Queriam ver ele cantando, nada muito além disso. Assim as músicas ficaram no filme. A música título do filme "G.I. Blues" divide opiniões. Tem que aprecie e tem quem não goste. Minha opinião é de que o ritmo é bom, um pop em ritmo de marcha militar. O que estraga um pouco é a letra, mais parecendo uma paródia dos anos em que Elvis viveu no serviço militar. De certa maneira desmerece quem serviu o exército americano naquele período, em tempos de paz. Acho que a melodia merecia uma letra melhor, menos metida a engraçadinha.

Caso semelhante ocorre com "Shoppin' Around". Excelente ritmo, letra fraquinha. Aqui Elvis foi creditado como instrumentista na ficha técnica da sessão de gravação. Ele teria tocado o violão. E como é uma faixa com forte vocação acústica essa teria sido, no final das contas, uma das melhores participações dele como músico nesse período de sua carreira. Ficou perfeito sua performance ao violão. Coisa rara de acontecer naqueles tempos. "Tonight Is So Right for Love" é uma bela balada, mas trouxe problemas de direitos autorais para os produtores do disco e para a gravadora RCA Victor. Acontece que não havia os direitos para lançar essa música na Europa, então Elvis teve que gravar uma outra canção, no estilo "bem parecida, quase idêntica". O curioso é que esse mesmo problema aconteceu também no Brasil. Por isso a edição nacional do disco era semelhante ao europeu e não ao americano. Depois da morte de Elvis outras edições do álbum foram lançadas, já com a presença das duas faixas, agora sem problemas legais.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis is Back! (1960)

Olhando para o passado notamos, com uma certa perplexidade, que esse foi o único disco convencional de Elvis em 1960. O único que não era, digamos assim, conceitual. "GI Blues" era uma trilha sonora. O filme "Saudade de um Pracinha" explorava em tom de pura ficção e romance, os anos em que Elvis havia passado no exército americano. "His Hand in Mine" era um álbum gospel, um disco gravado e direcionado para um público específico, sendo mais claro, a parcela evangélica do povo americano. Não era um álbum que um fã do rock de Elvis nos anos 50 iria comprar. Não seria de seu interesse. Assim para quem estava em busca apenas do Elvis cantor, sobrava esse bom "Elvis is Back!". É foi sem dúvida um disco excepcional, com ótima seleção musical. Todas as faixas tinham, ao seu modo, um interesse próprio ao ouvinte. Também foi um dos trabalhos mais ecléticos gravados por Elvis, passeando tranquilamente por vários estilos e gêneros musicais, todos gravados de forma brilhante, registros de puro talento de Elvis e dos músicos, arranjadores e produtores que o acompanharam nessas sessões. Todos estavam de parabéns nesse sentido.

"Make Me Know It" abria o disco, era a música de entrada, faixa 1 do lado A do vinil original. Mais uma excelente criação do compositor Otis Blackwell que já tinha muita estrada ao lado de Elvis em um passado não tão remoto, apesar de que os anos no exército pareciam ter durado uma eternidade. A letra nem é o mais importante pois apesar de bem escrita apenas expressava os sentimentos de um jovem que pedia para sua namorada mostrar a ele como ela também estava apaixonada. "Mostre-me como é". Versos de caderno escolar de um rapaz um tanto inocente. Pois é, o ponto alto não é mesmo a letra, mas sim o ritmo, esse saboroso de se ouvir. Elvis tocou muito "Soldier Boy" ao piano quando estava na Alemanha. Ele recebia amigos e convidados à noite em sua modesta residência e na sala de estar havia um piano onde Elvis se aventurava a tirar algumas notas musicais. E essa canção estava sempre presente nessas apresentações amadoras. Escrita pela dupla de compositores David Jones e Theodore Williams, Jr, essa canção contou com uma ótima performance vocal de Elvis. Ele soltou o vozeirão, algo que poderia ser encarado até mesmo como uma premissa do que estava por vir. "It´s Now or Never" estava chegando.

A música "Dirty, Dirty Feeling" foi escrita pela dupla Leiber e Stoller. Eles, é sempre bom lembrar, escreveram algumas das melhores canções gravadas por Elvis Presley ao longo de sua carreira. Basta lembrar de "Jailhouse Rock" para bem perceber isso. Conforme os anos foram passando eles começaram a cobrar mais por seus direitos autorais. Algo natural, afinal o que escreviam geralmente fazia sucesso. O Coronel Tom Parker não gostou disso. As coisas foram ficando mais tensas e aos poucos as músicas de Leiber e Stoller foram desaparecendo dos álbuns do cantor. "Dirty, Dirty Feeling" não é dos melhores momentos da dupla, mas mantém um certo nível de qualidade. Curiosamente essa faixa seria reaproveitada anos depois na trilha sonora do filme "O Cavaleiro Romântico" (Tickle-Me). Sempre pensando em gastar o menos possível o Coronel Parker chegou na péssima conclusão de que nem seria preciso gastar para gravar uma nova trilha sonora para esse filme. Bastava apenas pegar algumas músicas antigas e usar. Picaretagem pouca é bobagem!

"The Girl Of My Best Friend" tem uma bela melodia, uma das melhores desse disco. O título em português significa "A garota do meu melhor amigo", ou seja, a letra vai nessa direção. Imagine se apaixonar pela namorada de seu melhor amigo, situação delicada não é mesmo? Hoje em dia, com o afrouxamento dos valores morais, pode-se dizer que muitos nem pensariam duas vezes. Nos anos 60 porém ainda havia mais romantismo no ar e essa questão virava uma grande dúvida como se pode perceber ao ouvir essa bela balada romântica. O forte de "I Will Be Home Again" é a linda vocalização, em dueto de Elvis com Charlie Hodge. Elvis o conheceu na Alemanha, no exército. Eles se tornaram amigos e Charlie acabou virando uma espécie de valete na vida de Elvis, o acompanhando até sua morte em 1977. Eles costumavam cantar essa música na Alemanha, pois a letra era saudosista e se adequava bem a um pracinha vivendo na Europa, cantando sobre um dia voltar para sua casa, seu lar. Como viviam cantando essa canção em seus tempos de exército, nem foi precisar se esforçar muito dentro do estúdio. Não foi preciso ensaiar. A questão foi rápida e simples, apenas caprichando na versão definitva.

"Fever" sempre foi uma das músicas mais lembradas desse álbum. E não é para menos pois Elvis realmente teve uma performance vocal digna de todos os aplausos. A sensualidade da música era óbvia e Elvis sabia bem disso, potencializando cada sílaba, cada palavra. Essa música foi composta na verdade por Otis Blackwell. Porém ao se ler os créditos no disco você encontrará outro nome, John Davenport. Era apenas um pseudônimo usado por Otis. Muitos compositores negros usavam desse artifício para contornar contratos de exclusividade que tinham assinado. Com Otis Blackwell não foi diferente. A primeira vez que "Fever" foi lançada, ela chegou no mercado através de um single em 1956. Quem cantou a primeira versão, a versão original, foi  Little Willie John. Depois disso surgiram inúmeras versões. As mais conhecidas foram de Peggy Lee, Ella Fitzgerald, James Brown, Ann-Margret e, claro, não poderíamos deixar de citar, Madonna.

Outro grande destaque desse álbum é "Such a Night". Curiosamente em 1960 nenhum single foi extraído do disco para ajudar em sua promoção, porém se isso tivesse acontecido certamente a música com maior potencial para sucesso na parada de singles da Billboard seria justamente essa. Com o marketing correto, com o cuidado necessário por parte da RCA Victor e com algumas apresentações de Elvis na TV, tenho certeza que essa gravação chegaria ao topo das paradas. Só que infelizmente isso não aconteceu. Ficou tudo apenas na categoria do "... e se...". "The Thrill Of Your Love" é uma bela balada romântica, muito bonita em letra e música. Esse tipo de gravação era uma amostra do trabalho que Elvis iria abraçar cada vez mais nessa nova fase de sua carreira, nos anos 60. E os estúdios de Hollywood estavam ouvindo tudo atentamente, tanto que muitas canções nessa linha musical iriam fazer parte de suas futuras trilhas sonoras. Era o pacote perfeito. O disco ajudava a promover o filme e o filme, claro, ajudava a vender o disco. Para o Coronel Parker era essa a fórmula do sucesso.

 "The Girl Next Door Went A'walking" tem um ritmo esquisito. Não sei se muitas pessoas concordam com minha opinião ou não, porém sempre achei essa canção um tanto estranha em seu ritmo. Passa uma ansiedade, uma coisa meio apressada, que sempre me deixou meio surpreso com sua estrutura. A vocalização de Elvis mais uma vez está ótima, mas seguramente foge dos padrões. Essa expressão "Girl Next Door" é muito usada em língua inglesa. Significa aquela garota comum, que poderia ser inclusive a sua vizinha da casa ao lado. Pelo visto o autor da música ficou abalado ao ver sua bela vizinha caminhando pela rua...Até onde pesquisei essa faixa foi uma original da discografia de Elvis Presley. O que exatamente significava isso? Basicamente que Elvis havia gravado a canção pela primeira vez. Nenhum outro cantor a tinha gravado. Isso era importante porque aumentava o potencial da música em se tornar um hit. Músicas que já tinham feito sucesso na voz de outros artistas raramente se tornavam sucessos nas paradas. Só que a RCA Victor não fez questão de promover a música como se devia. Assim passou em brancas nuvens.

A música "It Feels So Right" pode ser considerada um blues. Muitos analistas citam apenas "Like a Baby" e "Reconsider Baby" como exemplos de blues presentes nesse álbum. Uma visão superficial da questão. Essa faixa "It Feels So Right" tem todos os elementos que um bom cantor de blues precisaria encontrar em uma composição para gravar em algum selo de Memphis, Atlanta ou Detroit. Afinal o blues é um estilo musical bem característico, da cultura negra, valorizando o sofrimento e mostrando as derrotas da vida. O blues nasceu nas grandes plantações de algodão do sul. Os escravos eram levados para essas grandes fazendas onde trabalhavam de sol a sol, praticamente sem parar. O próprio nome dado ao estilo musical Blues tem essa conotação. A palavra Blue na língua inglesa não significa apenas "Azul" como muitos pensam. Significa também um estado de espírito triste, melancólico e até mesmo depressivo. Daí sua grande carga emocional, sempre presente na composição desses grandes artistas negros americanos da história. Um prato cheio de ritmo e emoção.

Certa vez o cantor e compositor de blues Howlin' Wolf disse que Elvis era um cantor de blues. Apenas isso, um cantor de blues. Não importava qual gênero musical ele gravasse, fosse rock, gospel ou country. Elvis tinha o timbre de um cantor de blues. Bom, se ele estava certo ou não, essa é uma questão hoje em dia meramente secundária. O que podemos dizer com certeza é que Elvis se saía excepcionalmente bem gravando blues. O exemplo mais cabal disso se pode encontrar nesse álbum "Elvis is Back!" de 1960. Para esse disco Elvis gravou duas grandes músicas de blues. A primeira foi "Like a Baby". Essa canção foi gravada pela primeira vez em 1957, no mesmo ano que Elvis estrelou seu filme "O Prisioneiro do Rock" (Jailhouse Rock). Chegou ao mercado em um single obscuro gravado por Vikki Nelson, por seu próprio selo musical, a  Vik Records. Não causou grande repercussão no mercado. Quem se saiu melhor foi James Brown, com uma versão envenenada da música.

A versão de Elvis, como já foi dito, foi gravada em 1960, justamente para fazer parte do repertório do "Elvis is Back!", seu disco de retorno após passar alguns anos servindo o exército americano na Alemanha. A versão de Elvis, ao meu ver, tem muito mais estilo do que as demais. Elvis optou por desacelerar um pouco a velocidade da música, resultando tudo em mais sofisticação e elegância. Do meu ponto de vista ficou bem melhor. Agora em se tratando de blues todos só lembram mesmo da versão de Elvis para "Reconsider Baby". Lowell Fulson a compôs e foi o primeiro a gravá-la, em single, no ano de 1954, quando Elvis dava seus primeiros passos na Sun Records. Ao contrário de "Like a Baby" esse blues já nasceu como um clássico do gênero. Na versão de Elvis ele decidiu abrir um grande espaço para o solo de sax do instrumentista Boots Randolph. É o mais longo solo instrumental da discografia de Elvis, só rivalizando talvez com "Girls, Girls, Girls", a música título do filme. Um bem-vindo espaço para um grande saxofonista. Desnecessário dizer que a gravação ficou primorosa, uma verdadeira obra-prima.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2005

Elvis Presley - 50,000,000 Elvis Fans Can't Be Wrong - Elvis Gold Records Vol. 2

Esse álbum de Elvis tem uma característica bem interessante. As músicas, de maneira em geral, foram gravadas nas mesmas sessões, porém o disco foi lançado como uma coletânea! Qual é o sentido disso tudo? Bom, na mentalidade comercial daqueles tempos o mais interessante para a RCA Victor era manter o nome de Elvis na crista da onda enquanto ele estava servindo o exército na Alemanha Ocidental. Assim as faixas foram gravadas e arquivadas, para depois todas chegarem ao mercado em singles, lançados periodicamente. Por isso a impressão foi que eram músicas avulsas, que depois foram reunidas em um mesmo álbum.

Só que do ponto de vista de quem estava gravando (no caso o próprio Elvis) isso não fazia muito sentido porque as canções foram gravadas juntas, como ele fazia em todo e qualquer disco que era lançado depois. Aliás para o colecionador da época teria sido muito melhor que tudo fosse lançado junto mesmo. Seria o disco de despedida de Elvis após ele vestir a farda verde do exército americano. Porém o Coronel Parker tinha uma filosofia comercial de "vender sempre a mesma gravação duas vezes" e por essa razão as canções chegaram aos fãs do jeito que foram lançadas. Primeiro no formato de single. Depois dentro de uma falsa coletânea que poderia ser considerado um disco próprio de Elvis.

E a qualidade dessas dez canções é inegável. Só clássico do rock americano da época. Um verdadeiro deleite para os fãs do Elvis roqueiro em sua primeira fase na carreira. É interessante relembrar que pouco depois da gravação dessas faixas o rock iria entrar numa maré de azar. Vários ídolos do surgimento do gênero musical nos Estados Unidos, em sua geração pioneira, iriam cair em desgraça e isso no intervalo de poucos meses.

Os cantores Buddy Holly, Ritchie Valens e The Big Bopper morreriam no mesmo acidente de avião quando sobrevoavam Clear Lake, no estado americano do Iowa. Tiveram mortes terríveis. Chuck Berry foi preso acusado de envolvimento em crimes sexuais. O radialista Alan Freed, o homem que deu nome ao Rock, também foi para a cadeia, acusado de cobrar propina de produtores e gravadoras para tocar músicas em seu programa. Little Richard teve uma crise de fé e decidiu que iria deixar de cantar rock para se dedicar totalmente para a religião cristã. Até a ótima dupla The Everly Brothers decidiu se separar. E com Elvis no exterior, longe da carreira, os fãs de rock perceberam que praticamente não havia sobrado mais nenhum artista de seu estilo musical preferido. Os roqueiros da primeira geração pareciam desaparecer de forma assustadora. E foi dentro desse contexto que esse álbum de Elvis foi gravado.

As sessões de gravações da maioria das músicas que fizeram parte desse álbum são curiosas porque Elvis compareceu ao estúdio com a farda do exército americano. Pois é, isso nem seria necessário pois ele estava ali em um compromisso profissional de sua esfera privada, que nada tinha a ver com o serviço militar, mas mesmo assim Elvis surgiu no estúdio da RCA Victor devidamente fardado, o que deixou seus músicos, a banda, completamente surpresos. Além disso assim que chegou Elvis foi logo pegando uma guitarra para tirar alguns acordes, algo que ele não estava acostumado a fazer.

E esse disco de fato era muito bom. Uma bela mistura de canções mais agitadas, puro rock, com baladas românticas. O curioso é que o romantismo dos discos de Elvis por essa época tinham um sentimento mais juvenil, de namoro de mãos dadas mesmo, nada parecido com as baladas dos anos 1970, que viriam repletas de mensagens de amargura, desilusão, até mesmo raiva pela traição feita por aquela mulher que ele achava ser o grande amor de sua vida (se você associou Priscilla com isso, acertou em cheio!). Porém nesse disco o amor era aquele de colégio, mais simples e pueril.

E nessa categoria temos duas belas baladas. A primeira a se elogiar é a terna "Don´t". Os fãs brasileiros, por exemplo, mal conheciam a canção. Nos Estados Unidos ela havia sido lançada em um single que até fez bastante sucesso nas rádios. Porém no Brasil essa bela música passou em brancas nuvens. Curiosamente Priscilla Presley iria escolher pessoalmente essa faixa para servir de tema do seriado baseado em suas memórias, "Elvis e Eu", que foi exibido no Brasil, durante a década de 1980, no canal aberto SBT. É até fácil entender essa escolha. Foi justamente nessa época, em que a baladinha era lançada, que Elvis e Priscilla começaram a namorar. Certamente marcou para ela.

Outra canção romântica classe A do disco era "A Fool Such As I", Nessa gravação se sobressaíram muito bem o solo tocado por Scotty Moore e o vocal de apoio do grupo The Jordanaires. Outro fato curioso digno de nota é que os Jordanaires eram os únicos creditados nos discos de Elvis na época. Como naqueles tempos distantes havia pouca (ou quase nenhuma) informação sobre o grupo, muitos pensavam que eles tocavam todos os instrumentos. Na verdade era apenas o grupo vocal que acompanhava Elvis nas gravações. Os verdadeiros instrumentistas como Scotty Moore, Bill Black e demais membros da banda não tinham seus nomes creditados nas capas dos discos, ficando praticamente desconhecidos do grande público. Esse anonimato não deixava de ser uma injustiça para esses talentosos músicos.

Elvis entrou para o serviço militar, cortou seus famosos cabelos, foi para um breve período de treinamento no Texas e depois foi enviado para a Alemanha Ocidental. Era época de guerra fria. Do outro lado do muro de Berlim o comunismo dominava toda a Europa oriental. Os jornais do partido soviético diziam que a presença de um artista como Elvis na fronteira era "propaganda barata do ocidente". Realmente, ter um cantor de rock ali por perto, não passava mesmo de um certa provocação ideológica. Elvis representava para os jovens certos valores, entre eles a liberdade.

Enquanto o urso russo e a águia americana brigavam por corações e mentes mundo afora, usando todos os tipos de armas possíveis, a RCA Victor tentava manter o nome de Elvis em voga. Quando foi para a Alemanha Elvis confidenciou a pessoas próximas que acreditava que seria esquecido. Cantores eram descartáveis, em sua opinião. E quem não era visto, não era lembrado. A RCA então soltou o single de "A Big Hunk O'Love" nas lojas. Era uma música inédita de Elvis, gravada antes dele partir para a Europa. Para surpresa de muita gente o compacto fez muito sucesso, chegando nos primeiros lugares das paradas, entre os mais vendidos. Parecia que os fãs não tinham esquecido Elvis Presley afinal.

No Brasil as coisas vinham com atraso. Talvez por isso a música anterior não tenha feito qualquer sucesso por aqui. Porém o mesmo não poderia se dizer de "I Need Your Love Tonight". Essa caiu nas graças do público nacional (e americano também). Tanto que muitos anos depois foi incluída no famoso disco "Elvis - Disco de Ouro" que foi lançado em 1977 em nosso país e se tornou um dos LPs mais vendidos da carreira de Elvis Presley no Brasil. Não se pode negar que essa música tinha excelente ritmo e havia sido gravada numa sessão muito produtiva por parte de Elvis e banda. Eles estavam bem entrosados. É um pop / rock de excelente qualidade.

Outra que marcou e fez sucesso foi "One Night". Você gosta de blues? Acha que Elvis tinha talento e estilo para ser reconhecido como um grande blueseiro? Pois então essa é sua faixa. Na verdade pode-se dizer que foi o maior sucesso comercial de Elvis nesse gênero musical. Claro, ele gravou outras músicas de blues, mas nenhuma, mesmo as que tinham mais méritos, conseguiram maior espaço no hit parade. E Elvis parecia muito à vontade com esse tema, que para variar, foi considerado indecente pelos conservadores americanos na época. Imagine, um cantor como Elvis, que naqueles tempos tinha fama de rebelde e até mesmo de delinquente juvenil, cantando uma letra sensual e maliciosa como essa. Era mesmo para os membros do partido republicano se morderem de raiva e ódio!

Quando Elvis Presley foi para o exército, ele acabou se convencendo de que muito provavelmente havia chegado no fim de sua carreira. Em sua forma de ver as coisas, ele seria substituído por qualquer outro cantor jovem que surgisse durante sua ausência. Fabian, Rick Nelson ou até mesmo Frankie Avalon. Todos eles tinham o potencial para roubar seu trono de Rei do Rock, isso claro, sob o seu próprio ponto de vista, por mais incrível que isso possa parecer nos dias de hoje. No exército Elvis não faria mais shows, nem filmes e nem muito menos gravaria material inédito. Então ele imaginava esse tipo de coisa, baseado na velha máxima de que "Quem não é visto, não é lembrado".

O Coronel Parker sabia que a situação realmente não era muito boa e em conversação com a RCA planejou uma forma de manter o nome de Elvis sempre em evidência no mundo musical. O plano era relativamente simples. Lançar regulamente singles inéditos no mercado  - geralmente a cada 4, 5 meses – para que Elvis não fosse completamente esquecido. Todo o material já havia sido gravado antes de Elvis ir para o serviço militar. Devidamente arquivado, seria lançado no mercado aos poucos, de forma gradual. Assim as canções certamente iriam se tornar sucesso, tocando nas rádios e criando uma falsa impressão nos fãs de que Elvis ainda estava na ativa, produzindo.

O primeiro single a seguir essa nova estratégia foi “Wear My Ring Around Your Neck / Doncha Think It's Time”. O lado A com o rock "Wear My Ring Around Your Neck" era a grande aposta da RCA Victor em colocar Elvis novamente no primeiro lugar entre os compactos mais vendidos. A música tinha ótimo ritmo, muita vibração e energia, em uma bela e inspirada performance de Elvis.  Curiosamente embora fosse um rock com potencial de sucesso, a gravação não conseguiu se destacar nas paradas. O máximo que conseguiu foi alcançar um suado terceiro lugar por uma semana apenas, muito pouco em se tratando de single inédito de Elvis Presley na década de 1950. Para alguns analistas a culpa seria da letra considerada pouco significativa, fraca mesmo. Para outros o que pesou mesmo foi a falta da presença de Elvis na promoção da música em shows e apresentações na TV.

O lado B com "Doncha Think It's Time" não era menos interessante, Essa música tinha um ritmo próprio, sui generis, com uma vocalização muito singular por parte de Elvis. O ritmo soava nervoso, pausado, com explosões vocais em momentos chaves da canção! Infelizmente também não conseguiu chamar a atenção e foi solenemente ignorada na época. De forma injusta acabou virando um “Lado B obscuro”, pouco conhecido e nada mais dentro da discografia do cantor. Aliás o próprio Elvis parece ter esquecido dessas músicas nos anos seguintes, pois jamais as cantou ao vivo e nem as utilizou em qualquer outro projeto de sua carreira.

São duas faixas, que embora sejam muito boas, realmente foram para esquecimento dentro da discografia. A RCA Victor se esforçou bastante na divulgação do compacto, mas os resultados foram desanimadores, sendo o primeiro single de Elvis desde março de 1957 a não chegar ao topo da parada. O resultado comercial morno já indicava os problemas pelos quais a gravadora iria enfrentar, afinal vender canções inéditas de um soldado servindo à pátria na distante Alemanha não era algo fácil, nem mesmo para Elvis Presley!

O blues está na alma do povo americano e também estava na alma do jovem Elvis Presley. Como teve infância humilde, ele conviveu bastante ao longo de sua vida com a cultura negra. Não é de se admirar assim que o gênero tenha estado tão presente em sua carreira. E isso ficou bem claro no segundo single de canções inéditas lançadas pela RCA enquanto o cantor estava na Alemanha servindo o exército de seu país.

A faixa principal era um Rhythm & Blues que curiosamente sofreu auto censura pela própria gravadora, a RCA, que queria algo menos incisivo. Estamos falando da música "One Night". Inicialmente a canção se chamava “One Night of Sin”, título pela qual ficou conhecida dentro da cultura negra na voz do cantor Smiley Lewis (1913 - 1966). Natural de New Orleans, o músico havia destacado a canção nas paradas tanto que conseguiu chegar com ela no cobiçado primeiro lugar da parada R&B da Billboard. 

O problema é que qualquer citação na letra a pecado e coisas afins, soava como uma má idéia por parte dos executivos da RCA, principalmente em relação a Elvis que tanta controvérsia já havia causado. Presley chegou a gravar um Take envenenado, sem qualquer tipo de suavização, mas a gravadora realmente queria algo mais soft, leve, menos provocativo. E foi essa versão que chegou aos seus fãs na década de 1950.

No lado B do compacto a RCA escolheu colocar a faixa "I Got Stung", outra inédita composta pela dupla Schroeder e Hill que havia caído nas graças de Elvis no estúdio, pois os 1compositores a criaram pensando justamente no estilo vocal característico de Elvis naquela fase de sua carreira, algo como se estivesse mastigando as palavras ou como resumiu um irônico crítico musical do New York Times: “Elvis ao cantar parece estar também mascando chicletes”.

O single chegou nas lojas americanas e tal como o anterior também não conseguiu alcançar o topo da parada Billboard, chegando no máximo ao quarto lugar entre os mais vendidos, o que não o impediu de ser premiado com um disco de ouro. Com Elvis distante, sem condições de apresentar a música em filmes e nem em programas de TV, a situação ficava mais complicada pois a máquina publicitária da RCA tinha que trabalhar apenas com as emissoras de rádio, o que nem sempre era muito fácil ou barato. De fato as performances ao vivo de Elvis Presley eram vitais para os sucessos de suas gravações no mercado como bem foi provado por essa época.

Já na Inglaterra o single se saiu melhor finalmente atingindo o topo da parada daquele país. Infelizmente a RCA optou pelo caminho mais fácil nos Estados Unidos e fez uma promoção preguiçosa do single, não se dando nem ao trabalho de confeccionar uma capa decente pois o material foi retirado das fotos promocionais do álbum “Elvis Christmas Album”. De qualquer modo o que transparece é que apesar do certo descaso de sua gravadora, Elvis parece ter realmente acreditado na música tanto que a resgatou dez anos depois em seu especial de TV no canal NBC. Um reconhecimento tardio mas que trouxe o devido tratamento a uma de suas canções mais marcantes antes de ir para o exército.

Esse disco é uma coletânea de singles de sucesso. Ao mesmo tempo pode ser considerado um álbum convencional de estúdio da carreira de Elvis porque as músicas foram gravadas na mesma ocasião. É um caso bem único dentro da discografia de Elvis Presley. Pois bem, nessas faixas temos também o terceiro e penúltimo single de Elvis Presley trazendo canções inéditas durante seu serviço militar. As duas músicas que saíram originalmente no compacto singles foram incorporadas ao repertório desse "Gold Records 2". Uma velha tática do Coronel Parker que sempre dizia o seguinte: "Venda a mesma música pelo menos duas vezes. Use novas capas, crie novos discos, mas venda duas vezes! Não podemos perder essa oportunidade comercial". Lançamentos em dobro, lucros em dobro. Assim pensava o veterano empresário.

O lado A do compacto vinha com a conhecida “A Fool Such As I”. A música havia sido lançada originalmente em 1952 pelo popular cantor Hank Snow (1914 – 1999) um dos maiores nomes da história do country americano, com mais de 50 anos de carreira e 140 discos lançados em sua vasta discografia. Elvis cuja formação musical se deu principalmente devido ao rádio, conhecia muito bem o artista desde a década de 1940. Era uma cria do Grand Ole Opry, um dos programas mais ouvidos no sul. A versão de Elvis é maravilhosa. O cantor colocou em seu vocal anos e anos de aprendizado radiofônico. Aqui se nota muito bem seu espírito country, uma característica que nunca o abandonou, em nenhuma fase de sua carreira. Country music certamente sempre foi um dos pilares da trajetória de Elvis e aqui, em plena fase roqueira de sua discografia, ele ressurgia cantando um clássico country de Hank Snow. Depois do sucesso da versão de Elvis outros artistas a gravaram também, em especial Petula Clark, Mickey Gilley, Rodney Crowell e Baillie & the Boys

E talvez para não deixar seus fãs roqueiros confusos, o lado B trazia o excelente rock “I Need Your Love Tonight”. Essa canção ficou muito conhecida no Brasil porque fez parte do popular “Elvis – Disco de Ouro” de 1977, o vinil mais vendido do cantor em nosso país. Já nos EUA ela mantém seu status de boa gravação, mas ainda assim um Lado B. Elvis a registrou na última sessão antes de ir embora para a Alemanha. Havia muita pressa em deixar músicas inéditas arquivadas, mas isso em nada impediu o excelente nível técnico da gravação. Particularmente considero esse um dos melhores arranjos da década de 1950.

A banda, muito entrosada, não perdeu o pique. Além disso Elvis se mostrou comprometido em realizar uma boa versão. O single chegou nas lojas americanas em março de 1959 alcançando o quarto lugar da parada Billboard e sendo, assim como o single anterior, premiado com um disco de ouro. Isso apesar de nunca ter chegado ao número 1, que era o desejo da RCA. As noticias sobre sua volta já começavam a surgir na imprensa, trazendo seu nome de volta aos holofotes o que de certa forma ajudou na promoção do compacto. De qualquer modo não há como negar a ótima qualidade desse material. Os fãs certamente gostaram muito dessas boas músicas.

Finalizando os comentários sobre esse álbum de Elvis Presley, vamos falar sobre as últimas músicas referentes a esse disco. "I Beg Of You" seguiu a linha básica das canções que fizeram parte desse repertório. Ela foi gravada antes de Elvis ir para a Alemanha, em uma de suas últimas sessões de gravação antes de partir para o serviço militar. É uma boa canção, diria até que um bom momento roqueiro da carreira de Elvis, mas que nunca chegou a se tornar um hit. Tanto que foi deixada de lado. Com os anos Elvis nunca se lembrou dela para usar em shows, etc. Um bom momento que a despeito disso ficou inteiramente no passado de sua carreira.

O curioso é que as dez músicas que fizeram parte do disco original de vinil lançado em 1959 não foram as únicas que Elvis gravou naquela ocasião. Ele registrou outras músicas, mas a RCA Victor resolveu arquivá-las, só as lançando na década seguinte, nos anos 60, quando a música jovem americana já havia trilhado por outros caminhos. Foi uma falha da gravadora no meu ponto de vista. Elas deveriam ter chegado no mercado ainda nos vibrantes anos 50, nos chamados anos dourados do rock americano.

Uma dessas músicas foi "Your Cheatin' Heart" do lendário cantor country Hank Williams. Considerado um dos pais do country and western dos Estados Unidos, ele teve presença marcante em diversas ocasiões dentro da discografia de Elvis Presley. A influência de Williams certamente era enorme na época, sendo que Elvis simplesmente não poderia ignorar o seu legado musical. Essa boa gravação foi para os arquivos da RCA, só chegando ao mercado como música de abertura do disco "Elvis For Everyone" em 1965. Um erro, mas que ao menos foi corrigido, mais de cinco anos depois de ter sido produzida. Como diz o ditado "Antes tarde do que nunca".

Pior aconteceu com "Ain’t That Loving You Baby". Grande música com enorme potencial de se tornar um hit. Só que aqui a RCA Victor errou duas vezes. Primeiro por não lançar a música durante os anos 50, já que ela só chegou ao mercado de forma equivocada em um single obscuro e sem qualquer divulgação nos anos 60. Segundo, por ter escolhido o Take errado. Ora, basta ouvir a versão que foi lançado no disco "Reconsider Baby" de 1985, para entender que aquela era a versão certa para lançamento, não a que foi escolhida para o single, que tinha um ritmo muito estranho e fora do compasso. Enfim, erros e mais erros da gravadora de Elvis. Hoje em dia só podemos lamentar mesmo.

Pablo Aluísio

quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

Elvis Presley - A Date With Elvis (1959)

Esse álbum "A Date With Elvis" seguia basicamente a mesma fórmula do "For LP Fans Only". São duas faces da mesma moeda, ou melhor dizendo, discos que se espelham um no outro. O mesmo tipo de conteúdo, a mesma "filosofia" na escolha das canções. Basicamente aqui os executivos da RCA Victor pincelaram músicas avulsas gravadas por Elvis, desde os tempos em que o cantor gravava na Sun Records, para a composição de uma coletânea de, vamos colocar nesses termos, músicas "Lado B". Boas músicas, algumas excelentes faixas, mas que até aquele momento não tinham chamado maior atenção dos fãs (estou em referindo ao final dos anos 1950).

Uma das belas canções que foram usadas nesse álbum foi a bonita balada "Is It So Strange". Aqui eu costumo dizer que temos um arranjo bem simbólico daquela primeira fase do rock americano. Percebam bem o estilo de tocar guitarra de Scotty Moore. Esse tipo de arranjo era algo muito característico nas músicas românticas dessa época. Como diria George Harrison anos depois a guitarra"chorava" em cada nota produzida pelo músico. Algo muito bonito, bem nostálgico daqueles tempos mais românticos e mais sentimentais. Gravada em 19 de janeiro de 1957, composta por Faron Young, essa linda música nunca ganhou o espaço merecido dentro da discografia de Elvis Presley.

Arthur Neal Gunter foi um músico negro americano que desde os primeiros passos na carreira no estado da Georgia onde nasceu, tentou fazer sucesso com sua música. Porém nunca alcançou os picos da glória. Ele circulou por uma série de pequenas gravadoras do sul dos Estados Unidos até ir parar em Nashville. Só que Gunter não era um artista country, mas sim de blues e gospel. Ele inclusive vinha de um grupo vocal chamado Gunter Brothers Quartet, onde ao lado de seus irmãos e primos tentava chamar alguma atenção das gravadoras da época.

Em novembro de 1954 ele assinou com o selo fonográfico Excello para a gravação de um pequeno compacto (single). No lado A desse disquinho gravou a sua música "Baby Let's Play House". O sucesso foi mediano, mas satisfatório, chegando até mesmo a se destacar dentro da parada Billboard. E não demorou muito a chamar a atenção de um jovem chamado Elvis Presley que decidiu gravar sua versão da música. Claro, Elvis erotizou bastante a letra e o jeito de interpretar a canção, ao ponto inclusive de ser taxado de perversão pelos reacionários de plantão. Não importa, na voz de Elvis essa música realmente se tornou imortal. Curiosamente alguns meses antes de morrer em 1976 Arthur Gunter disse em uma entrevista para uma revista americana de música que "nunca teve a oportunidade de conhecer Elvis pessoalmente, nem de apertar sua mão". Infelizmente eles nunca se conheceram pessoalmente. Teria sido um encontro muito interessante, sem dúvida.

Esse álbum, como já frisei, foi lançado enquanto Elvis estava servindo o exército na Alemanha Ocidental. Era a época da guerra fria, da cortina de ferro. Os socialistas da Alemanha Oriental consideravam a presença de Elvis naquela região como uma provocação, uma propaganda política do lado capitalista decadente. Coisas da época. Pois bem, uma das músicas desse disco havia sido lançada originalmente no primeiro single de Elvis na Sun Records. Era a baladinha country "Blue Moon of Kentucky". Gravada em julho de 1954, havia sido composta por Bill Monroe.

Eu fico imaginando os fãs da época, roqueiros e tudo mais, colocando o novo disco de Elvis para tocar e se deparando com um country ingênuo desses. Afinal poucos tinham tido acesso aos compactos originais da Sun. Para a imensa maioria dos fãs aquela faixa, mesmo antiga como era, soava como novidade. E de repente o Rei do Rock surgia cantando uma balada country de montanha. Deve ter sido algo bem estranho para aqueles jovens roqueiros, cheios de brilhantina no cabelo, posando de Teddy boys. Não era o tipo de som que essa juventude estava acostumada a ouvir. Não era mesmo.

E mais estranho ainda deve ter sido ouvir a canção "Milkcow Blues Boogie". Essa aqui ainda era mais provinciana e radical do que "Blue Moon of Kentucky". Também havia sido gravada por Elvis na Sun Records para um público muito específico do sul. Era um tipo de som para fazendeiros, pessoas que viviam no meio rural. Uma sonoridade de nicho. Imaginem novamente esse tipo de country de raiz surgindo aos ouvidos de quem morava nos grandes centros urbanos, como Nova Iorque ou Los Angeles. Mais esquisita ainda deve ter soada para o público internacional. No Brasil, por exemplo. Pouca gente por aqui tinha familiaridade com o Boogie rural do sul dos Estados Unidos. A gravação também era abafada, causando mais estranheza ainda aos ouvidos de quem não era daquelas bandas. Era a música da vaca leiteira, enfim.

Mais familair para a moçada de lambreta era "(You're So Square) Baby I Don't Care". Essa havia sido tirada da trilha sonora do filme "Jailhouse Rock". Já era o Elvis roqueiro que todo mundo conhecia. O astro jovem de Hollywood, o ícone do rock em seus primórdios. Mais uma pequena obra-prima composta pela dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. Dessa faixa sempre é lembrado o fato de que Elvis tocou baixo nela. Bill Black se enrolou no solo da canção, se aborreceu e saiu do estúdio. Ele era assim, temperamental e cabeça quente. Elvis então viu ali uma oportunidade de mostrar seus dotes de instrumentista. Ele estudou baixo por anos e anos. E se saiu muito bem. Como raramente Elvis tocava em suas gravações, a música trazendo o "Elvis baixista" ficou marcada para sempre. Uma curiosidade para os fãs do cantor.

A música"Young And Beautiful" foi escrita pela dupla de compositores Aaron Schroeder e Abner Silver. Gravada por Elvis em 30 de abril de 1957, fez parte da trilha sonora do filme "Jailhouse Rock". Sempre foi uma bela balada subestimada, nunca usada adequadamente fora do contexto do filme. Curiosamente durante a década de 1970, em ensaios, Elvis esboçou uma tentativa de levar a música para os palcos, porém só ficou na intenção mesmo. Há uma boa versão dessa época, lá por volta de 1972, onde Elvis ensaia a canção com seu grupo em estúdio. Ficou bonita, apesar de ser uma versão bem despretensiosa.

E a RCA Victor encaixou outras faixas de filmes de Elvis nessa coletânea. Uma delas foi "We're Gonna Move". Oficialmente ela veio creditada como sendo composta por Vera Matson e Elvis Presley. Na verdade hoje sabemos que todo o material do filme "Love Me Tender" foi composto pelo maestro da Fox Ken Darby. Ele apenas não quis assinar essas criações, por motivos diversos, colocando as músicas como sendo feitas por sua esposa Vera e por Elvis, para agradar ao Coronel Parker que estava de olho nos direitos autorais das músicas gravadas por Elvis. Nada pessoal, uma questão puramente de negócios.

Eu adoro a dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. Em minha opinião as melhores músicas gravadas por Elvis nessa fase roqueira dos anos 1950 foram compostas por eles. Só que, apesar dessa admiração, devo dizer que "I Want To Be Free" se torna bem enjoativa depois de algumas audições. Gravada em abril de 1957, dentro do pacote de "Jailhouse Rock", essa música é certamente uma das mais fracas dessa celebrada trilha sonora. O que poderia ser pior do que isso? Basicamente temos alguns grandes clássicos nesse filme, mas essa aqui pode ser chamada de "musiquinha" sem medo de soar como uma injustiça. Enjoativa e banal, nem parece uma música com a assinatura dos geniais Leiber e Stoller.

Um fato curioso sobre esse álbum é que em sua edição original norte-americana, havia uma bonita direção de arte. Dentro de uma capa que abria - tal como se fosse um álbum duplo - havia muitas fotos de Elvis no exército, além de um enorme calendário do ano de 1960, que seria aquele em que Elvis retornaria aos Estados Unidos após cumprir serviço militar. Na década de 1980, para ser mais específico, em 1982, saiu a última edição desse disco em vinil no Brasil. Fazia parte da série "Pure Gold". Pena que toda a bonita direção de arte da edição original foi deixada de lado. Em uma edição pobre trazia capa e contracapa iguais, sem nenhum luxo. Uma versão bem decepcionante para os colecionadores da época.

Em setembro de 1954 Elvis participou de uma das sessões mais produtivas em seus anos na Sun Records. Em apenas um dia ele gravou seis músicas! Ora, isso era mais da metade de um disco de vinil da época, algo que Sam Phillips poderia pensar em fazer, caso sua gravadora não fosse tão modesta. As sessões começaram com "I'll Never Let You Go", cujos primeiros takes nunca foram lançados e se perderam para sempre. Outra que se perdeu e nunca foi lançada foi "Satisfied". Essa gravação foi realmente uma perda e tanto pois Elvis nunca mais gravaria a música em sua carreira. As baladas "I Don't Care if the Sun Don't Shine" e "Just Because" também foram gravadas. Como se pode perceber Elvis estava com bastante energia e vontade de mostrar seu talento nessa ocasião.

Para finalizar essa sessão de gravação mais do que produtiva Elvis encerrou os trabalhos com chave de ouro ao gravar o clássico "Good Rockin' Tonight" de Roy Brown. Para o dono da Sun Records, o produtor Sam Phillips, esse foi certamente um dos pontos altos de Elvis na gravadora de Memphis. Havia apenas três músicos dentro do estúdio naquele dia. Elvis cantando e fazendo acompanhamento em seu violão. Scotty Moore na guitarra e Bill black em seu enorme contrabaixo. Não houve baterista. Não havia mais ninguém. É de se impressionar ao ouvir a faixa nos dias de hoje e perceber que apenas três músicos conseguiram um efeito tão bom. Naquele mesmo mês de setembro a gravadora se apressou para lançar o single Sun 210, o segundo de Elvis pelo pequeno selo de Memphis. Não havia tempo a perder.

Outra música dos tempos da Sun Records que a RCA Victor aproveitou para eolocar nesse álbum "A Date With Elvis" foi "I Forgot to Remember to Forget". Escrita pela dupla Stan Kesler e Charlie Feathers. É uma baladinha country que tem um título curioso, que em português significaria algo como "Eu esqueci de lembrar de me esquecer". Um trocadilho até divertido de palavras. Os Beatles, que eram grandes fãs de Elvis nesse período da Sun Records, gravariam a música em seu programa na BBC de Londres. O registro sobreviveu ao tempo e foi lançado anos depois no excelente box "The Beatles - Live at the BBC".

Finalizando essa análise do álbum "The Date With Elvis" aqui vão algumas informações adicionais. O disco foi lançado no mercado americano em agosto de 1959 com o código fonográfico LPM 2011. Foi o oitavo LP de Elvis a chegar ao mercado pela RCA Victor. Não foi um grande sucesso de vendas, chegando apenas ao trigésimo segundo lugar entre os mais vendidos. Curiosamente o disco foi lançado um mês antes na Inglaterra, onde vendeu muito bem, chegando ao quarto lugar das paradas inglesas. Elvis era adorado pelos fãs das ilhas britânicas. No Brasil o disco só chegaria ao mercado quase um ano depois, numa edição bem simples, sem todo o capricho gráfico da edição americana.

Pablo Aluísio.