terça-feira, 24 de outubro de 2023

John Wayne, Meu Pai

Seguindo os passos de Christopher Scott, que escreveu um belo livro sobre seu pai, Randolph Scott, Aissa Wayne, filha do mito John Wayne, também publicou seu livro de memórias intitulado "John Wayne, My Father" ("John Wayne, Meu Pai" em português). Aissa nasceu em 1956, era filha da terceira esposa de John Wayne, Pilar. Como se sabe o velho cowboy sempre teve grande predileção por mulheres latinas de personalidade forte como Pilar. O Duke era um sujeito durão também no lar e gostava de mulheres de personalidade marcante para contrabalancear seu gênio. Outro aspecto que chamava a atenção é que John Wayne era católico e não protestante. No país mais evangélico do mundo ele optou por se dedicar ao catolicismo. Quem diria, um dos símbolos do americanismo não seguia a linha religiosa predominante em seu país. 

Aissa Wayne traz um retrato muito terno do velho ícone do cinema. O retrata como uma pessoa extremamente bondosa, amigo leal de todos que lhe eram próximo. Também mostra aspectos pouco conhecidos da personalidade do pai. Poucos sabem mas John Wayne era uma pessoa bem reservada, chegando às raias da timidez.

Tratava todos no set com grande cordialidade e educação e não perdia sua pose nem quando os outros profissionais não tinham o mesmo comportamento para com ele. John Ford, por exemplo, muitas vezes era um diretor difícil de lidar, cabeça quente e impulsivo, mas nem seu temperamento explosivo tirava Wayne de seu modo de ser. Em uma ocasião Ford irritou-se com Wayne e gritou a plenos pulmões: "Vamos lá seu hipopótamo, me dê alguma expressão nessa cena!";

O Duke se limitou a fechar a cara. Em seu até curto relato (o livro tem pouco mais de 200 páginas) Aissa ainda põe por terra alguns mitos que duraram anos no que diz respeito ao ator. Ela afirma, por exemplo, que é pura ficção a velha estória que dizia que Wayne tinha vergonha de seu verdadeiro nome, Marion (que em inglês tem uma conotação dúbia, podendo ser um nome tanto masculino como feminino). Aissa diz que Wayne não se importava de ser chamado de Marion e nunca presenciou ele censurando alguém por fazê-lo, apenas esclarece que poucos dias antes de morrer o Duke pediu a família que em sua lápide fosse colocado seu nome artístico e não o real em respeito aos fãs que ele tanto adorava. Em suma, "John Wayne, My Father" é outro excelente livro para conhecermos esse grande ícone do western de uma maneira privada e familiar. Uma bela dica de leitura para os amantes do gênero e da história do cinema americano.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 33

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 33
Só para se ter uma ideia do tipo de participação de Marilyn Monroe em seus primeiros filmes basta conferir seu papel (se é que poderíamos dizer isso) no filme "Torrentes de Ódio". Essa é uma produção de 1948. É uma aparição ao estilo "piscou, perdeu". Marilyn é a jovenzinha que passa atrás da atriz principal do filme, descendo as escadas de uma igreja. Ela apenas dá uma olá para a protagonista e nada mais. Sua "atuação" é tão sem importância que muitas biografias simplesmente ignoraram o filme como sendo um da filmografia da atriz, que fez questão de deixar claro: "Olha rapazes, eu estive nesse filme, basta prestar atenção!".

Porém o talento de Marilyn Monroe e seu carisma falaram mais alto com o passar dos anos. Aos poucos ela foi chamando atenção em um filme aqui, outro acolá. E as cartas de fãs e admiradores começaram a chegar nos estúdios Fox. E como a própria Marilyn Monroe diria alguns anos depois em uma entrevista, "Receber a primeira carta de um admirador, no começo da carreira, é como se embriagar! É uma alegria que até hoje sinto quando relembro".

Naquela época em Hollywood isso era extremamente importante para qualquer ator ou atriz, pois os executivos dos estúdios costumavam medir a popularidade de seus contratados pelo número de cartas que recebiam. E em pouco tempo o camarim de Marilyn ficou repleta de cartas, vindas de todos os lugares dos Estados Unidos e também do exterior. E ela fazia questão de ler todas, de ficar emocionada com cada frase escrita por seus fãs por todos os lugares. Era um sentimento de auto afirmação para quem sempre teve problemas de autoestima.

Além disso o nome de Marilyn começou a aparecer cada vez mais nas revistas de fofocas, fazendo com que ela fosse ainda mais conhecida a cada dia. Marilyn sabia manipular a imprensa ao seu favor. Quando fotos suas de nudez surgiram na imprensa, Marilyn soube facilmente virar o jogo para seu lado. Ela explicou, de forma chorosa, que havia tirado aquelas fotos porque estava sem dinheiro para pagar o aluguel. Claro que imediatamente ganhou o jogo da opinião pública. Ela novamente contou sua história de garotinha órfã abandonada, que havia passado por muitos problemas financeiros ao longo de sua vida, sempre na pobreza, sempre dura, tentando sobreviver. As pessoas que inicialmente a acusavam de ser vadia logo mudaram de opinião. Com compaixão de Marilyn elas logo passaram para seu time de admiradores. E para virar o jogo Marilyn não precisou mentir, ela apenas contou a verdade sobre sua vida. Bastou abrir seu coração e contar tudo, de forma bem honesta. Claro que o público não apenas aprovou seu modo de agir como começou a ir aos cinemas em busca de novos filmes com a jovem atriz. O sucesso estava encaminhado em sua carreira. 

Pablo Aluísio.

O Príncipe Encantado

Nobre regente (Laurence Olivier) conhece jovem corista (Marilyn Monroe) em um show de variedades e a convida para jantar em sua residência oficial em Londres. O encontro acaba trazendo inúmeras consequências para ambos durante os dias seguintes. Essa sinopse não esconde a verdadeira vocação de "O Príncipe Encantado". É um texto teatral e o filme não nega sua origem. Grande parte das cenas se passa em ambiente fechado e em cena duelam (no bom sentindo) o formalismo profissional de Laurence Olivier e o adorável amadorismo de Marilyn Monroe. Os acontecimentos de bastidores, das filmagens, há anos povoam o imaginário dos cinéfilos. Marilyn, como era de se esperar, causou todo tipo de problemas para Olivier, tantos que essa conturbada filmagem acabou virando um filme próprio que recebeu várias indicações ao Oscar, "My Week With Marilyn".

As histórias do set são saborosas mas e o filme? Sim, é uma boa comédia, muito bem produzida com lindos figurinos, cenários, muita pompa e luxo. Marilyn Monroe está encantadora. Apesar dos problemas de saúde ela surge em cena linda e aparentando muita saúde (o que me deixou surpreso). No saldo final considerei sua atuação muito superior á de Laurence Olivier, esse está particularmente travado na interpretação do nobre regente dos balcãs. Já Monroe não, está natural, espontânea. Não causa admiração a declaração que Laurence Olivier fez muitos anos depois da realização do filme reconhecendo que Marilyn estava ótima em "O Príncipe Encantado". Concordo plenamente. Aliás se tem algo que prejudica o filme é justamente a mão pesada do diretor Olivier. Ele demonstra claramente não ter o timing perfeito para Marilyn. O filme se alonga além do que seria razoável e tem barrigas (quebras de ritmo que o levam a certos momentos de monotonia). Pra falar a verdade quem salvou a produção foi realmente Marilyn que em muitos momentos simplesmente carrega o filme nas costas. Quem diria que a amadora Monroe daria uma rasteira no grande Laurence Olivier? Pois deu, e foi em "O Príncipe Encantado". O filme é dela no final das contas. Assista e confira!

O Príncipe Encantado (The Prince and The Showgirl, EUA - Inglaterra, 1957) / Direção de Laurence Olivier / Roteiro de Terence Rattigan / Fotografia de Jack Cardiff / Trilha sonora de Richard Addinsell / Com Laurence Olivier, Marilyn Monroe, Sybil Thorndike, Jeremy Spencer, Richard Wattis / Sinopse: Nobre regente (Laurence Olivier) conhece jovem corista (Marilyn Monroe) em um show de variedades e a convida para jantar em sua residência oficial em Londres. O encontro acaba trazendo inúmeras consequências para ambos durante os dias seguintes.

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de outubro de 2023

Um Broto Legal

Título no Brasil: Um Broto Legal
Título Original: Um Broto Legal
Ano de Lançamento: 2022
País: Brasil 
Estúdio: Laffilmes
Direção: Luís Alberto Pereira
Roteiro: Dimas Oliveira Junior, Luís Alberto Pereira
Elenco: Marianna Alexandre, Murilo Armacolo, Mylena Alves, Felipe Folgosi, Alana Oliveira

Sinopse:
Esse filme resgata a história dos irmãos Celly e Tony Campello. Eles fizeram parte do grupo de artistas pioneiros no Brasil que cantavam versões nacionais para rocks americanos e se tornaram estrelas de popularidade em sua época, vendendo muitos discos, liderando as paradas de sucesso. 

Comentários:
Eu sempre gostei da Celly Campello. Inclusive na casa de meus pais havia discos dela, então eu já ouvia seus maiores sucessos desde a minha infância. A Celly tem uma história muito singular na música brasileira. Ela surgiu em um tempo em que as gravadoras nacionais não apostavam em discos de rock. Nem havia roqueiros brasileiros na época. Era algo fora da rota. Só que com seu carisma a graciosidade ele foi colecionando grandes sucessos como "Estúpido Cupido", "Broto Legal" e "Banho de Lua". Músicas juvenis, até mesmo meio bobinhas, mas que tinham um charme inegável. Curiosamente ela largou tudo no auge da fama e do sucesso para se casar! Esse também foi um retrato revelador de como a mulher era de certa maneira estigmatizada pelo conservadorismo machista da época. Ao invés dela seguir em frente, com sua própria carreira artística, acabou indo pelo caminho de se tornar uma tradicional dona de casa do interior de São Paulo. Algo complemente impensável para os dias de hoje. De qualquer forma o filme merece os meus aplausos por resgatar a história dela e nos fazer ouvir novamente esses deliciosos hits de um tempo em que o rock era muito mais pueril e inocente. 

Pablo Aluísio.

sábado, 21 de outubro de 2023

Bobby Kennedy Para Presidente

Título no Brasil: Bobby Kennedy Para Presidente
Título Original: Bobby Kennedy for President
Ano de Lançamento: 2018
País: Estados Unidos
Estúdio: RadicalMedia
Direção: Dawn Porter
Roteiro: Dawn Porter
Elenco: Bobby Kennedy, John F. Kennedy, Lyndon B. Johnson, Richard Nixon, Martin Luther King (em imagens de arquivos). 

Sinopse:
Esse documentário conta a história do político norte-americano Bobby Kennedy. Irmão do presidente John Kennedy, ele tentou se eleger presidente após a morte de seu irmão, mas acabou sendo assassinado em plena campanha eleitoral em 1968. Um crime político que até hoje em dia desperta muitas dúvidas. 

Comentários:
Esse documentário é muito bom. Começa com pinceladas sobre a juventude de Bobby, passando pela sua fase como procurador geral, mostrando a morte do irmão, sua eleição a senador e finalmente sua campanha para a presidência, onde acabou sendo morto a tiros no hotel Ambassador após um discurso de campanha. O documentário assume a defesa de Bobby, o mostrando como um homem honesto e de valor. Pode realmente ser que ele fosse mesmo um político bem intencionado, mas em relação aos Kennedy eu sempre fico com um pé atrás. Até mesmo pelo que sei de seu envolvimento com Marilyn Monroe (que o documentário obviamente ignora), entendo que ele também mentia e tinha uma vida dupla. Só que os realizadores aqui não quiseram macular sua memória em nenhum nível. Então a imagem passada é realmente de um homem de muito valor pessoal e político. De qualquer forma algo é inegável em relação a esse documentário: é realmente muito bem produzido, bem roteirizado, resgatando imagens históricas (e algumas inéditas) da vida de Bobby. Assim fica mais do que bem recomendado. 

Pablo Aluísio.

O Monstro ao Lado

Título no Brasil: O Monstro ao Lado
Título Original: The Devil Next Door
Ano de Lançamento: 2019
País: Estados Unidos
Estúdio: Netflix
Direção: Yossi Bloch, Daniel Sivan
Roteiro: Yossi Bloch, Daniel Sivan
Elenco: Yoram Sheftel, Eli Rosenbaum, Michael Shaked

Sinopse:
Um senhor idoso, já avô, morador dos arredores de Cleveland é levado a julgamento em Israel, acusado de ser um infame assassino e genocida, guarda de um campo de extermínio alemão durante o III Reich. Procurado há décadas ele passa a ser apontado como o criminoso de guerra nazista conhecido como Ivan, o Terrível.

Comentários:
Imagine morar em uma bela cidade dos Estados Unidos, bem arborizada, sossegada e de repente descobrir que aquele pacato senhor idoso que mora ao lado de sua casa é um criminoso nazista procurado internacionalmente. É justamente essa história real que esse documentário histórico resgata. O tal senhorzinho era na verdade um carrasco nazista que atuou em campos de concentração, um sujeito sádico que controlava as temidas câmaras de gás onde milhões de judeus e demais membros de minorias foram executados de forma bárbara durante o regime de Hitler. Não deixa de ser arrepiante. E o pior de tudo é chegar ao final e saber que ainda hoje em dia pairam dúvidas sobre a real identidade desse nazista. Infelizmente alguns desses monstros da SS realmente esconderam bem suas trilhas após fugirem de uma Alemanha nazista destruída ao final da Segunda Guerra Mundial. Filme por demais interessante, mostrando os detalhes dessa caçada a esse nazista impiedoso, sádico e cruel. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Colheita Sombria

Título no Brasil: Colheita Sombria
Título Original: Dark Harvest
Ano de Lançamento: 2023
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: David Slade
Roteiro: Michael Gilio, Norman Partridge
Elenco: Casey Likes, Emyri Crutchfield, Dustin Ceithamer

Sinopse:
Na década de 1950, em uma pequena cidade no meio oeste dos Estados Unidos, um grupo de jovens colegiais participa de um bizarro ritual onde eles entram em um grande milharal em volta da cidade para caçar e destruir uma criatura sobrenatural que aparece por lá todos os anos na noite de Halloween (Dia das Bruxas).

Comentários:
O filme é bem produzido. Foi bancado pelo tradicional estúdio MGM. Só que o problema aqui é de roteiro mesmo. A ideia que sustenta toda a história do filme é esdrúxula demais para alguém comprar. Quem em sã consciência iria acreditar nesse ritual que o filme tenta empurrar ao espectador todo o tempo? Que tipo de pais iria enviar com muito orgulho e gosto seus próprios filhos em idade colegial para lutar contra uma criatura sobrenatural no meio do milharal? E tudo por causa da "honra" de ser o salvador da cidade? Pior do que isso, só a lenda de que se o tal monstro chegar na igreja da cidade será o fim de tudo. E para não soar tudo tão absurdo como já é, ainda inventaram como prêmio um corvette novinho e vermelho para o vencedor. Pura besteira! E para finalizar o que já não era bom, ainda há concessões para a cultura woke que impera em filmes e séries atualmente. Só que o filme se passa nos anos 50, então temos outro problema de contexto histórico por aqui. Enfim, bem produzido, mas com história mal contada e nada convincente. 

Pablo Aluísio.

Noite das Bruxas Macabra

Título no Brasil: Noite das Bruxas Macabra 
Título Original: Mischief Night
Ano de Lançamento: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: October County Films
Direção: Travis Baker
Roteiro: Travis Baker
Elenco: Brooke Anne Smith, Marc Valera, Nikki Limo

Sinopse:
Na noite de Halloween (Dia das Bruxas) uma jovem babá descobre apavorada que a casa onde está trabalhando foi invadida por um criminoso armado com uma faca. Tentando manter a criança que está cuidando em segurança, ela tenta conversar e dialogar com o invasor. 

Comentários:
Puxa vida, que filme ruim! Eu até entendo que esse roteiro quis criar um pouco mais de conteúdo para os personagens, apostando em longos diálogos entre os dois, a babá e o assassino invasor da casa. Só que tudo vai por água abaixo quando se descobre que o elenco é bem ruim. A jovem atriz Brooke Anne Smith então nem se fala. Ela é bonitinha, tem bom visual, mas não consegue falar uma linha de diálogo que soa convincente. Dicção péssima, por isso tente assistir o filme legendado mesmo para tentar entender o que ela diz. Essa aí se enquadra na categoria "bonitinha, mas ordinária". E assim o filme vai, nessa longa e logo tediosa conversa entre os dois. Como não tem um elenco bom logo se torna muito cansativo, apesar de ser curto na duração. Tem que ter muita paciência para chegar ao final. E se você estiver em busca de terror, esqueça. O filme naufraga nisso também. Enfim, um filme B sem salvação. 

Pablo Aluísio.