segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Best Sellers

Nesse filme o ator Michael Caine interpreta um escritor. Seu período de sucesso e de auge de criatividade, há muito se passou. Faz 50 anos que ele não escreve um livro de sucesso. Está no ostracismo completo. E tudo piorou depois que sua esposa faleceu. Agora ele vive em uma casa antiga. E está sendo ameaçado de despejo. Precisa rapidamente de dinheiro. A sorte bate à porta quando uma jovem editora vem em seu encontro. Ela quer contratar o velho escritor para o lançamento de um livro. Que ela acredita vai ser a salvação de sua empresa. Ou consegue esse livro, esse sucesso, ou então sua editora vai ser engolida por uma empresa maior! É uma jogada de risco. E nada está garantido. Enfim, depois de muita luta, ela consegue assinar com o escritor. Ele tem um antigo manuscrito que pode se transformar em um novo livro. Só que ela exige uma coisa para assinar o contrato. Ele tem que sair em turnê para divulgação do livro, algo que ele simplesmente abomina. 

Este é um filme que tinha potencial. Nada muito espetacular, mas que poderia surpreender. Não conseguiu chegar lá. Segue certas fórmulas de roteiros que já conhecemos. Essa figura do escritor em ostracismo é bem recorrente em filmes que falem sobre esse tema. Na realidade, é um modelo, um protótipo que sempre é utilizado por roteiristas. Acredito que seja baseado na vida de J. D. Salinger, autor de "O apanhador no campo de centeio". De maneira geral, é um filme convencional. Eu confesso que não gostei muito do personagem Harris Shaw. Michael Caine é um grande ator. Um dinossauro da era de ouro do cinema que ainda está vivo e trabalhando. Só que seu personagem não tem empatia e nem simpatia. Tudo bem ser um sujeito rabugento e ranzinza. Há uma certa graça em explorar isso. Só que no caso aqui, o personagem é simplesmente muito antipático para que eu tenha me importado com ele. Ficou um certo mal-estar. E como o roteiro é quadradinho e sem maiores voos em termos de originalidade, tudo ficou no meramente mediano.

Best Sellers (Reino Unido, 2021) Direção: Lina Roessler / Roteiro: Anthony Grieco / Elenco: Michael Caine, Aubrey Plaza, Scott Speedman / Sinopse: Um veterano escritor e uma jovem editora unem forças no lançamento de um novo livro. Ele precisa de dinheiro para pagar suas contas na velhice. E ela precisa salvar sua pequena empresa de ser engolida por uma grande empresa do ramo editorial.

Pablo Aluísio.

Era Uma Vez em Nova York

Esse filme conta a história de uma imigrante polonesa que chega em Nova Iorque no começo do século 20. Ela e a irmã logo encontram problemas com os agentes da imigração. A irmã é diagnosticada com tuberculose, afastada e levada para uma instituição de tratamento. E ela fica praticamente sozinha na grande cidade americana, em que ela não conhece ninguém. Nesse momento de grande agonia, surge um sujeito que diz que vai lhe ajudar. Esse personagem, interpretado pelo ator Joaquin Phoenix, parece ser uma pessoa amigável, só que na realidade esconde falsas intenções. Trata-se de um cafetão, sempre em busca de beldades que chegam aos Estados Unidos sem trabalho e sem condições financeiras. Um lobo em pele de cordeiro. E assim, logo a jovem garota se vê envolvida no grande esquema de prostituição na cidade de Nova Iorque. 

Temos aqui um filme interessante, mas ao mesmo tempo com problemas de roteiro. Eu percebi claramente que nesse filme não há um cuidado maior em desenvolver psicologicamente melhor alguns personagens. O cafetão de Phoenix, por exemplo, tem um antagonista. Um sujeito com viés artístico interpretado por Jeremy Renner. É um mágico de espeluncas. Só que em termos de personalidade, ele nunca é muito bem trabalhado. O próprio personagem do explorador de mulheres não tem muita o que dizer. Ora, ele age como um sujeito bom, um ser humano decente. Ora, ele age como um crápula. Agora, o maior problema desse filme é realmente a atriz Marion Cotillard que interpreta a imigrante Ewa Cybulska, que inclusive dá nome ao título original do filme. Ela não emociona e surge pouco carismática. Com isso o espectador aos poucos vai perdendo o interesse no que se passa na tela.

Era Uma Vez em Nova York (The Immigrant, Estados Unidos, 2013) Direção: James Gray / Roteiro: James Gray, Ric Menello / Elenco: Marion Cotillard, Joaquin Phoenix, Jeremy Renner / Sinopse: Através de uma personagem de ficção, o roteiro desse filme procura trazer um painel amplo e geral da vida de uma imigrante polonesa no começo do século 20, nos Estados Unidos. Chegando na América sem recursos, ela logo cai numa rede de exploração sexual de jovens mulheres.

Pablo Aluísio.

domingo, 16 de outubro de 2022

Assalto ao Banco da Espanha

Bom filme, que atualmente está sendo exibido pelo canal Megapix. Eu costumo dizer que bons filmes sobre roubos a banco sempre são bons. É preciso um roteiro muito ruim para estragar esse tipo de filme. Felizmente, o roteiro aqui é muito bom. Os membros dessa quadrilha decidem executar seu plano durante a Copa do Mundo. Exatamente quando a seleção espanhola está em campo. Tudo para desviar a atenção. Um dos aspectos mais interessantes deste filme é o próprio cofre do banco da Espanha. Um cofre que traz um mecanismo antigo, do século 19, mas que ainda funciona muito bem. O artefato foi construído em cima de uma balança sensível. 

Qualquer mudança significativa de peso, como o próprio peso de uma pessoa faz com que um sistema de proteção seja acionado. O local é imediatamente inundado por toneladas de litros de água. A intenção é realmente matar afogados todos os criminosos que ousassem tentar roubar o banco. Gostei de praticamente tudo aqui. O elenco traz um bom time de bons atores, muitos deles espanhóis, não conhecidos do público brasileiro. O único mais conhecido é o ator Freddie Highmore,  de séries e filmes. Atualmente, ele faz sucesso por "The Good Doctor". Também se destacou por "Bates Motel". Enfim, um filme que não deixa nada a desejar para quem gosta desse estilo cinematográfico.

Assalto ao Banco da Espanha (Way Down, Espanha, França, 2021) Estúdio: Sony Pictures International  / Direção: Jaume Balagueró / Roteiro: Rafa Martínez, Andrés M. Koppel / Elenco: Freddie Highmore, Astrid Bergès-Frisbey, Sam Riley, Liam Cunningham, Jose Coronado, Famke Janssen / Sinopse: Uma quadrilha é formada para roubar o banco nacional da Espanha. O objetivo deles é roubar 3 moedas históricas raras que juntas trazem a localização de um tesouro em ouro da época da colonização espanhola na América. Não vai ser uma tarefa fácil, pois o cofre do banco possui um mecanismo especial para evitar esse tipo de roubo. Para contornar essa obra-prima da engenharia, eles contratam um jovem prodígio que deverá solucionar a questão.

Pablo Aluísio.

SWAT: Comando Especial 2

Título no Brasil: SWAT: Comando Especial 2
Título Original:  S.W.A.T.: Firefight
Ano de Lançamento: 2011
País: Estados Unidos
Estúdio: Stage 6 Films 
Direção: Benny Boom
Roteiro: Reed Steiner, Randy Walker
Elenco: Gabriel Macht, Robert Patrick, Carly Pope, Giancarlo Esposito, Kristanna Loken, Matt Bushell

Sinopse:
Um especialista da Swat de Los Angeles, é enviado para Detroit para treinar policiais. O foco se concentra em situação de terrorismo de alto risco para a população. Na nova cidade ele encontra uma boa equipe, mas também uma certa desconfiança de seu trabalho. Em meio a tudo isso surge um criminoso fanático, um sujeito com ligações com o governo americano, que pode ser muito perigoso.

Comentários:
S.W.A.T: Comando Especial 2 foi produzido como a sequência tardia do primeiro filme para o cinema. Originalmente, foi uma série de grande sucesso na TV Americana durante a década de 1970. Esse segundo filme é bem modesto em termos de orçamento. Ao contrário do primeiro filme, que tinha uma produção classe A, uma equipe e elenco de pessoas conhecidas, esse aqui foi feito diretamente para a venda direta ao consumidor. Depois virou figurinha fácil em serviços de streaming e canais a cabo. Mas não entenda isso como um demérito. O filme até que tem suas qualidades. A história é banal e o roteiro segue uma linha, mas nada disso atrapalha. As cenas de ação são bem realizadas. E, por mais incrível que possa parecer, as relações entre os policiais são bem desenvolvidas. Nada muito espetacular. Para quem estiver em busca de um bom filme policial de ação esse segundo filme não vai decepcionar. Obviamente, eu recomendo muito mais o primeiro filme e aos nostálgicos a série original. De qualquer forma, esse filme aqui cumpre com o que promete. Não vai decepcionar quem esteja em busca de um bom passatempo.

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de outubro de 2022

Roubo nas Alturas

Título no Brasil: Roubo nas Alturas
Título Original: Tower Heist
Ano de Lançamento: 2011
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures 
Direção: Brett Ratner
Roteiro: Adam Cooper, Bill Collage
Elenco: Eddie Murphy, Ben Stiller, Casey Affleck, Matthew Broderick, Alan Alda, Michael Peña

Sinopse:
Um grupo de ex-empregados de um prédio para ricaços de Manhattan em Nova Iorque, decidi fazer um roubo bem elaborado de um apartamento onde mora um vigarista de Wall Street. Eles querem recuperar o dinheiro de um fundo de pensão dos empregados que foi roubado por esse mesmo criminoso. E um roubo desses não vai ser uma coisa fácil de se realizar, ainda mais sabendo que eles vão ter que tirar uma Ferrari de alto valor da cobertura do prédio.

Comentários:
Pelo elenco que apresenta esse filme poderia ser confundido com uma comédia. Afinal, os dois protagonistas são comediantes de carteirinha. Embora o filme tenha realmente um pouco de humor, o fato é que temos aqui um filme que foca muito mais na ação. Ação essa que se desenvolve através de um roubo feito por amadores de um edifício para pessoas muito ricas de Nova Iorque. Sim, é um filme de roubo. Embora nesse caso aqui seja um filme estrelado por atores especializados em comédias. Nesse quesito de fazer rir quem se sai melhor?  Eddie Murphy, claro. Ele interpreta um ladrão pé de chinelo, que é o único com experiência na criminalidade entre o grupo. Os demais são pessoas sem nenhum tipo de malícia para o mundo do crime. Alguns são verdadeiros panacas. O filme é bom e muito bem-produzido, mas no quesito humor realmente deixa a desejar. De qualquer forma o filme funciona e olha que nem é preciso muita boa vontade para se interessar pela história. O fato de se tentar baixar um carro milionário de uma cobertura de um prédio como aquele, no meio de uma parada do dia da Ação de Graças, torna tudo ainda mais interessante. Enfim, um filme que não decepciona e que até que cumpre bem aquilo a que se propõe.

Pablo Aluísio.

A Máquina Infernal

Título no Brasil: A Máquina Infernal
Título Original: The Infernal Machine
Ano de Lançamento: 2022
País: Estados Unidos
Estúdio: Moviebox Films
Direção: Andrew Hunt
Roteiro: Andrew Hunt, Louis Kornfeld
Elenco: Guy Pearce, Alice Eve, Alex Pettyfer, Jeremy Davies, Rachel De Fontes, Ana Lopes

Sinopse:
Um escritor que há muitos anos vive recluso, passa a receber mensagens misteriosas que ele interpreta como ameaçadoras. No passado um de seus livros serviu de inspiração para um louco assassino que subiu em uma torre de universidade e abriu fogo contra pessoas inocentes. Será que esse criminoso ou algum admirador seu estaria enviando as tais cartas?

Comentários:
Esse filme em particular investe bastante em uma tensão psicológica constante. Seu roteiro tem toques reais, mas mesclados com uma história ficcional. A parte real vem do fato de que realmente um assassino serial subiu em torre da universidade do Texas e matou pessoas inocentes durante a década de 1960. A parte ficcional trata justamente do escritor. Que, sendo o protagonista desse filme, é meramente um personagem criado pelo autor do livro original. É interessante como roteiros de filmes americanos investem nessa figura do escritor solitário e atormentado pelo passado. Geralmente esses personagens escreveram um grande livro, mas depois entraram em uma grande crise de criatividade. E nunca mais se recuperam. Viram figuras com essência mitológica até! Esse filme é bom, mas o espectador vai ter que ter um pouco de paciência. A teia de um jogo psicológico vai sendo elaborada ao longo do filme. De maneira em geral, achei interessante a abordagem. O final é que soou um pouco exagerado demais. Para quem vinha investindo em um drama psicológico, apostar na violência ficou um pouco fora de foco.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 8

O último filme de John Wayne em 1932 foi "Ouro Mal-assombrado" (Haunted Gold), faroeste dirigido por Mack V. Wright.  O mais curioso dessa produção é que o roteiro tinha também elementos de filmes de horror! Foi um dos primeiros filmes de Hollywood que procuravam mesmo reunir dois gêneros cinematográficos em um só! Já que o terror e o faroeste eram bem populares porque não tentar fazer uma produção que tivesse o melhor dos dois lados? E assim foi feito. Aqui John Wayne interpreta John Mason, Ao lado de Janet Carter (Sheila Terry) ele recebe uma carta convidando para ir até uma cidade fantasma onde supostamente existiria uma mina abandonada, com um tesouro escondido em seu interior. Claro que isso também desperta a ganância de bandidos que correm para colocar as mãos na fortuna. O mais curioso desse roteiro é que havia também um personagem fantasma que acabava ajudando Wayne e sua companheira em sua aventura mina adentro. Foi a primeira e única vez que Wayne flertou com o terror em toda a sua longa filmografia. Ficou muito interessante, é inegável dizer.

Em 1933 John Wayne foi novamente contratado pelo estúdio Warner Bros para estrelar o filme "Na Trilha do Telégrafo" (The Telegraph Trail). Era mais um faroeste, só que no estilo mais tradicional. Nada de muito diferente das outras fitas de matinê da época. No enredo John Wayne interpretava um empregado da companhia de telégrafos que era enviado para o velho oeste para descobrir o que estaria por trás de uma série de atos criminosos que colocavam abaixo os postes e os fios do telégrafo. Acabava descobrindo que um rancheiro inescrupuloso estava manipulando nativos indígenas para destruir as instalações, dizendo que aquilo seria usado pelo homem branco para ajudar na destruição das tribos. Uma fita bem escrita, contando novamente com a presença do cavalo amestrado Duke, que fazia a alegria da garotada nos cinemas.

Poucos sabem, mas John Wayne também participou de uma versão americana de "Os Três Mosqueteiros". Só que ao invés de espadachins e membros da guarda real da dinastia francesa dos Bourbons, o que se via na tela eram soldados americanos em aventuras no Oriente Médio. O filme se passava numa exótica Arábia, com heroísmo por parte dos militares da famosa Legião Estrangeira. John Wayne interpretava um personagem chamado Tom Wayne (bem sugestivo não é mesmo?), que se via às voltas com um vilão conhecido como El Shaitan, um facínora que espalhava terror nas pequenas comunidades ao longo das areias do deserto. O curioso é que a produção do estúdio Mascot Pictures (que faliu há anos) era simples e econômica. Assim os arredores de Los Angeles serviram de locação, até porque segundo o diretor Colbert Clark o deserto da Califórnia poderia ser tão quente e inóspito como o próprio Saara (e ele tinha razão nesse ponto!)

Por essa época John Wayne estava disposto a atuar em todo e qualquer filme que tivesse algum atrativo para o público mais jovem. Depois de aventuras nas areias do deserto ele virou um heroico piloto de aviação em "Atração dos Ares". Esse tipo de filme tinha um apelo comercial forte na época, até porque "Asas", que era bem semelhante, foi o principal vencedor da primeira premiação do Oscar! No enredo dois aviadores irmãos disputavam não apenas o prêmio de melhor piloto do mundo como também o coração de uma paraquedista chamada Jill Collins. Essa aliás foi uma das primeiras personagens femininas com ares de independência. Interpretada pela atriz Sally Eilers a Jill tinha personalidade forte e não se curvava aos meros caprichos dos homens. 

Em 1933 John Wayne atuou no faroeste "Na Terra de Ninguém" (Somewhere in Sonora. EUA, 1933). Filme dirigido por Mack V. Wright na Warner Bros. Mais uma vez o bom e velho John Wayne adotou um figurino à la Tom Mix, com aquele enorme chapéu branco de cowboy. Ele interpretou um personagem chamado John Bishop. Preso de forma injusta ele acaba sendo ajudado por um homem do campo chamado Bob. Em troca e como forma de gratidão resolve ajudar o rancheiro a procurar seu filho, há muitos anos desaparecido. Uma péssima ideia já que o rapaz estaria envolvido com problemas legais, inclusive estando na mira de uma quadrilha sanguinária de bandoleiros.

Depois de mais um western o ator decidiu mudar um pouco os ares. A procura por algo diferente veio com o filme "Viver na Morte" (The Life of Jimmy Dolan, EUA, 1933). De forma sintética poderíamos dizer que se tratava de um drama esportivo, com espaço também para um pouco de suspense. John Wayne interpretava um boxeador (não era a primeira vez que tinha um papel como esse). Seu personagem era bom de punhos e se chamava Jimmy Dolan. Durante uma festa ele acaba matando um homem de forma acidental. Para não ser preso decide fugir para o interior. Ao chegar numa pequena cidade termina adotando o nome de Jack Dougherty. Nos arredores da cidadezinha arranja trabalho numa fazenda de ajuda a pessoas inválidas, doentes, deficientes físicos, etc. O lugar administrado pela bela Peggy e pela honesta Sra. Moore, acaba mudando a forma como Jimmy via o mundo. Seu olhar cínico acaba cedendo ao descobrir que havia pessoas boas, tentando fazer o melhor possível para ajudar outras pessoas, carentes e precisando de ajuda especial. Uma mudança e tanto de vida. Esse é seguramente um dos melhores momentos de John Wayne no cinema na década de 1930, infelizmente sendo pouco lembrado nos dias de hoje.

Nos anos 30 os atores faziam um filme atrás do outro. Mal dava tempo para mudar os figurinos, como se brincava na época nos bastidores. Mal John Wayne havia feito o drama com toques sociais "Viver na Morte" ele voltava à ativa para atuar em "Serpente de Luxo" (Baby Face, EUA, 1933). A verdadeira estrela do filme era a loira platinada Barbara Stanwyck, ainda em começo de carreira. John Wayne por seu lado deixava os trajes surrados de cowboy de lado para aparecer de traje à rigor, superfino e na moda. Nem parecia o velho rancheiro de tantos filmes. O roteiro explorava a vida de uma mulher que em determinado momento de sua vida decidia se vingar de todos os homens que a tinham prejudicado no passado, dando a volta por cima. É o que certa vez o diretor Alfred E. Green chamou de "Suspense champagne", uma trama envolvendo crimes na alta sociedade.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 19

O Amor de Pier Angeli - Infelizmente para James Dean seus primeiros dias em Hollywood foram também os últimos. Seu estrelato foi muito breve, interrompido por um acidente fatal que o vitimou com apenas 24 anos de idade. Em suas últimas semanas de vida os amigos mais próximos começaram a perceber que Dean vinha falando muito de Pier Angeli. A atriz italiana havia sido sua grande paixão. Eles tiveram um intenso caso amoroso que não terminou bem. O jeito rebelde e autêntico de Dean desagradou a mãe de Angeli, uma verdadeira mama napolitana que não gostava nada de ver sua filha andando de mãos dadas com aquele sujeito de gestos rudes, pouca preocupação em agradar e ser educado. Não tardou e a mãe de Pier conseguiu destruir o namoro. Ao invés de Dean ela jogou a filha para cima do cantor almofadinha Vic Damone, com quem ela se casaria em meados de 1954 para tristeza de James Dean. "Como ela pôde se interessar por esse cara?!" - perguntou atônito o ator. De fato, Damone era o extremo oposto de Dean. Enquanto James era rebelde, andava de moto e usava o mesmo velho e surrado casaco, o cantor era o protótipo do engomadinho sem graça, sempre com terno impecável, sorrisinho falso no rosto e uma gentileza que nunca soava como verdadeira.

Claro que Dean sentiu muito ver a mulher que amava sendo levada ao altar por outro homem, mas depois de um tempo ele foi conseguindo superar o sentimento de perda até que casualmente a reencontrou nos corredores dos estúdios da Warner. Rever Pier foi como ter uma bomba jogada em cima dele, como ele confessaria depois a um de seus amigos mais próximos. Em questão de segundos toda aquela paixão voltou de forma intensa. Colocar os olhos em Angeli novamente o fez desabar. Dean voltou a curtir uma fossa tremenda e assim que encontrou seu colega Nick Adams resolveu desabafar dizendo: "Encontrei Pier ontem... foi como se tivessem jogado uma bomba atômica na minha cabeça... ela não é desse mundo, estava linda demais... quando nossos olhares se encontraram novamente eu não consegui me controlar, fiquei nervoso e tremendo. Eu ainda a amo profundamente". Dean não conseguia se conformar porque ele tinha certeza de que ela seria sua verdadeira paixão, a mulher de seus sonhos. Ao que tudo indica Pier também o amava muito. De fato, ela nunca conseguiu superar a perda. Após a morte de Dean o seu casamento entrou em crise e ela separou de Damone pouco tempo depois. Após mais um casamento infeliz (dessa vez com Armando Trovaioli) ela resolveu se matar tomando uma dose excessiva de barbitúricos que acabou causando sua morte em questão de minutos. Um triste fim para um amor tão bonito e sincero!

Sem conseguir superar seu amor por Pier Angeli e sem ter como concretizar esse sentimento, Dean começou a procurar por alguma válvula de escape para superar sua angústia. Quem o conhecia sabia muito bem que corridas velozes era uma das formas de Dean superar seus fantasmas. Ele comprou um novo Porsche 550, prateado, ideal para competições esportivas. O carro era rebaixado e alcançava grande velocidade, quase rente ao asfalto. Dean mandou personalizar o seu novo brinquedo. Mandou colocar o número 130 nas laterais e o apelido "Little Bastard" (Pequeno bastardo) na carroceria. Embora estivesse arrasado em seu íntimo, Dean procurava ocupar sua mente para superar o trauma da perda do grande amor de sua vida. Seria justamente nesse carro que ele sofreria o acidente que o mataria. As características do rápido automóvel se mostrariam letais para Dean. Ao correr com o Porsche numa rodovia comum o carro se tornava quase invisível a longa distância. O outro motorista que vinha em uma via perpendicular simplesmente não o viu vindo em sua direção. A batida assim se tornou inevitável. O "Little Bastard" se tornaria de fato seu túmulo de quatro rodas.

Correr feito um louco pelas estradas, porém não bastava. Dean também voltou para sua velha rotina de boêmia. Quando não estava filmando, comprometido com horários rígidos, o ator habitualmente virava a noite em festas, encontros ou apenas andando pelas ruas de Nova Iorque para terminar sua madrugada no píer, vendo o sol nascer. Ele não gostava de beber, por isso passava toda a noite acendendo um cigarro atrás do outro, enquanto pedia mais uma xícara de café. O que James Dean gostava mesmo era de respirar o lado mais boêmio de sua cidade preferida, Nova Iorque. Pelos bares da cidade, durante muitas madrugadas, ele conhecia novas pessoas, novatos que tentavam um lugar ao sol no concorrido mercado de atuação e trocava figurinhas com outros atores sobre peças, oportunidades de contratos e impressões sobre diretores e produtores. Dean valorizava em especial atrizes de teatro pois tinha muito em comum com elas. Queria trocar experiências e ao contrário do que muitos diziam ele não se revelava um sujeito fechado e tímido nessas ocasiões, muito pelo contrário, conversava bastante, dava risadas e falava pelos cotovelos. Assim também acabou criando sua própria turma, formada por jovens aspirantes ao sucesso teatral como ele.

Outra coisa que chamava muito a atenção de Dean era conhecer e adentrar em outros tipos de comportamentos fora dos padrões, algo que ele jamais havia visto quando morava em uma pequenina cidadezinha de Indiana. Quando soube que haveria uma badalada festa em uma boate local apenas para lésbicas e gays, Dean logo se animou para ir até lá. Claro que James Dean havia tido várias experiências homossexuais ao longo de sua vida, mas até aquele momento nunca havia participado de uma festa apenas para gays. Naquela época isso era considerado algo clandestino, escondido, um tipo de evento que era divulgado em voz baixa. Todos tinham receios de serem presos por atos contra a moralidade pública ou algo parecido. Dean, porém, não estava muito preocupado com isso. Em pouco tempo ele estava circulando dentro da festa, trocando beijinhos e promovendo flertes com os rapazes que frequentavam o salão de dança. Foi uma das últimas festas de sua vida e a Warner teria muito trabalho em esconder sua presença nesse local após sua morte. Valia tudo para manter o mito intacto e sua imagem imaculada, longe de todas as fofocas.

Pablo Aluísio.