terça-feira, 5 de março de 2013

Lobo

Não deu muito certo essa incursão de Jack Nicholson no gênero terror. Para entender porque um ator consagrado como Nicholson resolveu fazer um filme de lobisomens é preciso fazer uma pequena retrospectiva em sua própria carreira. Quando era apenas um jovem sonhador, querendo um lugar ao sol no concorrido mundo do cinema, a única pessoa que lhe deu uma chance verdadeira foi o rei dos filmes B, Roger Corman. Dessa fase se destaca “A Loja dos Horrores” que depois iria virar um remake musical muito divertido na década de 80. Nem precisa informar que virou um cult desde o seu lançamento. Esse primeiro filme, o original, contava a conhecida estória de um balconista de floricultura que acabava tendo uma estranha relação com uma planta carnívora muito especial. Corman fez um filme pequeno, leve, mas muito eficiente e Nicholson recebeu suas primeiras críticas elogiosas. Quando o script de “Lobo” caiu nas mãos de Jack, décadas depois, ele pensou que seria uma boa idéia voltar ao gênero que foi tão importante para ele no começo de sua carreira. O problema é que a empolgação nostálgica do ator não ficou à altura do projeto em si, que sinceramente falando tinha um enredo muito fraco.

Jack Nicholson aqui interpreta Will Randall, um editor que descobre estar amaldiçoado, se tornando um lobisomem em noites de lua cheia. Acontece que ele está em uma situação bem ruim na carreira, envelhecido, está sendo passado para trás por um carreirista mais jovem. Agora, ele irá usar os seus novos instintos de lobo para enfrentar a concorrência dentro de sua empresa com toda a garra que sua nova situação lhe traz. Como se pode perceber a estória era clichê, sem novidades. Nem mesmo a presença da “Mulher-Gato” Michelle Pfeiffer melhorava o filme. Para piorar a maquiagem deixava muito a desejar. Ao invés de virar um monstro, Jack se limitava a fazer cara de mau, com algumas penugens em suas orelhas. Tudo bem ruim, o que deixou muita gente surpresa já que era mais um trabalho do premiado Rick Baker. O que parece ter acontecido foi que Nicholson, muito preocupado com sua imagem, evitou usar uma máscara de monstro completa, optando por algo mais light, soft. Bem, não funcionou! A direção de arte – essencial para produções como essa – também era feia e opaca. Assim o filme não poderia se tornar outra coisa a não ser um abacaxi na carreira de Jack Nicholson, que poderia perfeitamente passar sem essa. Revisto hoje em dia só vale como curiosidade aos fãs do trabalho do ator e nada mais. Como filme de terror ele deixa, e muito, a desejar. 

Lobo (Wolf, Estados Unidos, 1994) Direção: Mike Nichols / Roteiro: Jim Harrison, Wesley Strick / Elenco: Jack Nicholson, Michelle Pfeiffer, James Spader / Sinopse: Homem de meia idade, com problemas em seu trabalho, é mordido por um lobo selvagem. Em pouco tempo descobre estar acometido pela maldição do lobisomem. Diante da nova situação usa de seus instintos animais para derrubar a concorrência dentro de sua empresa.

Pablo Aluísio.

Bom Dia Vietnã

Dentro do ciclo de filmes sobre a Guerra do Vietnã que foram realizados na década de 80 esse “Bom Dia Vietnã” foi um dos mais interessantes. Longe da melancolia de um “Platoon” e distante da insanidade desenfreada de “Nascido Para Matar” o filme apostava no talento cômico de Robin Williams sem deixar também o drama de lado, uma vez que as cicatrizes do Vietnã ainda estavam bem abertas dentro da sociedade americana e não seria de bom tom transformar tudo em uma comédia pastelão. Por isso o filme funciona não apenas por seus excelentes momentos de humor mas também pela temática social e contextual mostrando o dia a dia e a rotina das tropas americanas estacionadas naquela distante e estranho país do sudoeste asiático. Robin Williams era completamente desconhecido no Brasil quando o filme pintou nas telas em 1987. De fato ele só tinha dois filmes lançados por aqui antes, ambos com fraca repercussão de bilheteria em nosso país. A primeira referência vinha de “Popeye”, uma comédia que tentava trazer para o cinema as aventuras do famoso marinheiro dos desenhos animados. Não deu muito certo. A segunda lembrança surgia de “O Mundo Segundo Garp”, um filme que ninguém se interessou em ver. No mercado de vídeo ainda havia disponível “Moscou em Nova Iorque”, uma comédia de costumes interessante e era só. Assim “Bom Dia Vietnã” foi seu primeiro grande sucesso por aqui, se tornando a produção que o tornou famoso em nosso país.

O enredo do filme conta a história real do militar Adrian Cronauer (Robin Williams) que é enviado para o Vietnã em 1965, poucos meses antes do conflito realmente se tornar um buraco sem fundo para as forças americanas. Como gostava muito de música e era um sujeito extremamente simpático e bem humorado ele logo foi escalado para exercer a função de DJ na rádio das forças armadas. Embora possa parecer um posto sem importância a verdade era que Adrian exercia uma função muito importante dentro daquele conflito pois com suas transmissões bem humoradas e divertidas conseguia entreter as tropas americanas que estavam no front, elevando a moral dos soldados de uma forma em geral. Robin Williams obviamente dá um verdadeiro show com sua interpretação, imitando figuras populares da época, contando piadas e divertindo a todos. É curioso porque muitas pessoas pensam ainda hoje que ele sempre foi apenas um comediante careteiro e ignoram o fato de Williams ter uma excelente formação dramática tendo se formado em uma das escolas de interpretação mais prestigiadas dos Estados Unidos, a Juilliard em Nova Iorque, que tem um dos mais concorridos cursos do país. Lá estudou ao lado do também futuro astro Christopher Reeve (de Superman). Foram inclusive grandes amigos até o fim da vida de Reeve. Com tanta bagagem não é de se surpreender que esteja tão bem e tão à vontade no papel. Por fim é importante lembrar da grande trilha sonora do filme, que inclusive ressuscitou um dos grandes clássicos da carreira de Louis Armstrong, a nostálgica e bela "We have all the Time in the World". Enfim, para quem gosta do tema sobre o conflito dos Estados Unidos no distante e pequeno Vietnã, o filme é sem dúvida um excelente programa.

Bom Dia Vietnã (Good Morning, Vietnam  Estados Unidos, 1987) Direção: Barry Levinson / Roteiro: Mitch Markowitz / Elenco: Robin Williams, Forest Whitaker, Bruno Kirby, Tung Tranh Tran , Chintara Sukapatana / Sinopse: Militar Americano se torna DJ da única rádio oficial das forças armadas no Vietnã. Lá esbanja bom humor e versatilidade o que acaba trazendo problemas para ele com o alto comando estacionado no país asiático.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Como Perder Um Homem em 10 Dias

Comédia romântica que pretende fazer humor com as diferenças existentes entre homens e mulheres brincando com situações que são – na visão do roteiro – insuportáveis para ambos os sexos. Assim temos uma aposta entre o publicitário Ben (Matthew McConaughey) e seu chefe. Ele aposta que consegue conquistar qualquer mulher em apenas 10 dias. Por outro lado a jornalista Andie (Kate Hudson) por pura “coincidência” cruza seu caminho nesse mesmo momento. Ela pretende escrever um novo texto baseado em experiências pessoais intitulado “Como Perder um Homem em 10 dias”. Assim fica criada a situação: ele precisa conquistar ela de todo jeito para ganhar a aposta e ela faz de tudo para que o namoro acabe em dez dias, confirmando as teorias de seu texto jornalístico. Os maiores disparates são realizados pela jornalista mas o publicitário garotão engole todos para ganhar sua aposta.

Bobinho o argumento? Claro que é! O filme traz de volta a dupla Matthew McConaughey e Kate Hudson que durante um certo tempo pretendeu mesmo virar o casal clichê das atuais comédias românticas tal como foram no passado Rock Hudson e Doris Day e mais recentemente Tom Hanks e Meg Ryan. O problema é que esse tipo de filme funcionava melhor antes quando os costumes eram bem mais rígidos e o relacionamento entre homem e mulher tinha regras mais básicas. No mundo de hoje, onde os papéis geralmente andam invertidos, a coisa toda não consegue ter a mesma graça. Assim o roteiro, que já não é lá grande coisa, se apóia com tudo no carisma da dupla central de atores. Kate Hudson continua uma gracinha, uma simpatia mesmo e Matthew também continua o mesmo, geralmente interpretando sempre o mesmo papel, não importando o personagem que faz. Só não se consegue entender bem porque ele sempre tem que aparecer em cena sem camisa exibindo seus “talentos” físicos! Parece até uma obsessão pra falar a verdade. Para piorar o filme tem problemas de ritmo e a química do casal não transparece tão bem na tela. Assim fica o aviso: não é tão engraçada como parece ser essa comédia romântica, faltou mesmo timing e feeling para a coisa ser melhor. Fica para a próxima!

Como Perder Um Homem em Dez Dias (How to Lose a Guy in 10 Days, Estados Unidos, 2003) Direção: Donald Petriee / Roteiro: Kristen Buckley, Brian Regan, Burr Steers / Elenco: Kate Hudson, Matthew McConaughey, Kathryn Hahn, Annie Parisse, Adam Goldberg, Thomas Lennon, Michael Michele, Shalom Harlow, / Sinopse: Publicitário pretende ganhar uma aposta com seu chefe mostrando que pode fazer uma mulher se apaixonar por ele em apenas dez dias. Ao mesmo tempo uma jornalista pretende provar a veracidade de seu artigo intitulado “Como Perder Um Homem em Dez Dias”. Por uma coincidência acabam se encontrando o que dará origem a muitas confusões pois os objetivos deles são diametralmente opostos!

Pablo Aluísio.

Flyboys

Recentemente assisti ao filme “Esquadrilha Mortal” com John Wayne (leia sinopse no blog Cinema Clássico – Pablo Aluísio) e me lembrei de outra produção com tema muito semelhante, essa bem mais recente, chamada “Flyboys” (“Os Garotos Voadores” em tradução literal). Tal como acontecia no filme de Wayne aqui temos também um grupo de pilotos americanos servindo aos interesses de outro país em uma época conturbada, com muitos conflitos armados entre nações. No filme clássico era um grupo de pilotos americanos na China defendendo o país contra os ataques japoneses, na véspera da entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial. Já aqui em “Flyboys” temos um grupo de pilotos americanos na França, durante a I Guerra Mundial, na véspera da entrada dos Estados Unidos no conflito (um dos mais devastadores da história). O filme foi lançado no Brasil como parte das comemorações dos cem anos do primeiro vôo do 14 Bis, o famoso aparelho voador do brasileiro Santos Dumont. Isso não deixa de ser uma ironia histórica uma vez que “Flyboys” celebra a aviação de combate, algo que deixou Santos Dumont completamente deprimido pois não aceitava a idéia de que sua invenção fosse usada para a guerra em escala industrial.

Em termos puramente cinematográficos o filme “Flyboys” se revela tecnicamente muito bem realizado, com excelentes cenas de combate aéreo, mas em geral deixa a desejar por ter um roteiro sem surpresas e atado completamente aos clichês do gênero. Os personagens que formam a esquadrilha Lafayete não são muito carismáticos. O pior é ter que aceitar um grupo de pilotos americanos na I Guerra Mundial agindo como adolescentes dos dias de hoje (obviamente o roteiro se utiliza desse artifício para criar um vínculo com o público jovem que vai aos cinemas atualmente). O protagonista da estória é o texano Blaine Rawlings (James Franco) que decide ir se aventurar na Europa antes da entrada de seu país na guerra. A intenção é aprender a ser um ás e de quebra combater as forças alemãs (sempre utilizadas em filmes como esse como vilões malvados). Como já foi escrito o que vale mesmo aqui são as cenas de luta nos céus da Europa. Nessa época as batalhas eram travadas face a face e os pilotos tinham realmente que ter uma grande habilidade em seus pequenos aviões. Um dos mais conhecidos foi o famoso Barão Vermelho (Manfred von Richthofen), piloto alemão que derrubou 80 inimigos em combate. Até hoje é considerado o maior “ás da aviação” da história. Enfim é isso. Como mera diversão ligeira “Flyboys” até pode funcionar. Também é recomendado para os fãs de aviação militar. Fora isso não é nada demais e passa longe de ser uma produção marcante.

Flyboys (Flyboys, Estados Unidos, 2006) Direção: Tony Bill / Roteiro: Phil Sears, Blake T. Evans, David S. Ward / Elenco: James Franco, Jennifer Decker, David Ellison, Martin Henderson, Kyle Hensher-Smith / Sinopse: Grupo de pilotos americanos na I Guerra Mundial ajuda os franceses a se defenderem de ataques alemães.

Pablo Aluísio.

domingo, 3 de março de 2013

O Último Boy Scout

Tony Scott realizava um cinema muito mais modesto e sem pretensões do que seu irmão famoso. Um exemplo é esse “O Último Boy Scout” (um título nacional simplesmente risível onde o tradutor mistura inglês e português sem nenhum motivo aparente). Com o sucesso de “Duro de Matar” Bruce Willis não tinha outro caminho a seguir a não ser tentar repetir mais cedo ou mais tarde seu maior sucesso de bilheteria. Ele até tentou trilhar um caminho mais condizente com sua veia de ironia e bom humor, deixando o gênero de ação de lado, mas não deu para aguentar por muito tempo pois as propostas milionários se acumulavam na mesa de seu agente. Assim depois dos fracassados “A Fogueira das Vaidades” e “Hudson Hawk – O Falcão Está à Solta”, o velho e bom Willis resolveu embarcar em mais uma fita de ação sem muitas firulas ou perda de tempo. Seu personagem, um detetive em crise, após falhar como agente do serviço secreto, era na realidade um genérico do policial que havia interpretado em “Duro de Matar”.

Para melhorar um pouco a trama superficial Tony Scott resolveu investir um pouco mais no desenvolvimento de seu protagonista mas sem se estender muito sobre isso. Ao seu lado resolveu escalar o ator e comediante Damon Wayans que era bem popular na época. A dobradinha obviamente era outra derivação da dupla de “Máquina Mortífera” que tanto sucesso fazia nas telas. A trama girava em torno de uma stripper que após receber várias ameaças de morte era finalmente assassinada, sem motivo aparente. Indignado pela falta de empenho da policia em desvendar o mistério de sua morte o namorado da vítima, um jogador de futebol aposentado, resolve então se unir ao detetive Joe Hallenbeck (Bruce Willis) para solucionar a morte da garota.  Durante as investigações novas pistas acabam levando a algo muito maior envolvendo um grande esquema de corrupção no mundo dos esportes com vários políticos influentes envolvidos. “O Último Boy Scout” é bem realizado, não há como negar, Tony Scott tinha pleno domínio sobre esse tipo de produção, com muita ação e cenas espetaculares, mas isso não impediu do resultado ser muito descartável e esquecível. Massacrado pela crítica o filme acabou se saindo bem nas bilheterias apesar de tudo o que iria determinar de uma vez por todas os rumos da carreira de Bruce Willis nos anos seguintes.  

O Último Boy Scout – O Jogo da Vingança (The Last Boy Scout, Estados Unidos, 1991) Direção: Tony Scott / Roteiro: Greg Hicks, Shane Black / Elenco: Bruce Willis, Damon Wayans, Chelsea Field, Noble Willingham, Taylor Negron, Danielle Harris, Halle Berry / Sinopse: Detetive e ex-jogador de futebol Americano tentam desvendar a morte da namorada desse, uma stripper que é assassinada de forma misteriosa.

Pablo Aluísio.

Força Sinistra

Na década de 1980 com o sucesso de Steven Spielberg e seu cinema de aventura e fantasia os demais estúdios procuraram inovar em suas produções. “Força Sinistra” seguia a linha dos filmes de terror da época, seguindo os passos da franquia Alien ao misturar terror e ficção. E tinha um diretor que havia trabalhado com Spielberg antes. A diferença básica era que os alienígenas desse filme não eram criaturas com sangue de ácido e natureza predatória. Na verdade eram vampiros espaciais, seres que precisavam sugar a força vital de outros seres vivos para sobreviverem. Ao invés dos monstros de Aliens eles surgiam como homens e mulheres normais que usavam de seu poder de sedução para capturar suas presas. “Força Sinistra” tinha um roteiro enxuto, sem perda de tempo ou preocupação maior em desenvolver os personagens em cena. Na realidade os seres espaciais eram completamente sem profundidade e estavam ali apenas para se alimentar dos humanos distraídos que lhe apareciam pela frente. Também pudera já que o roteiro havia sido escrito em cima de uma obra de ficção puramente pulp fiction chamada “The Space Vampires” de autoria do inglês Colin Wilson.

O diretor de “Força Sinistra” era o cineasta Tobe Hooper, que havia dirigido o grande sucesso “Poltergeist” dois anos antes. Seu nome na direção garantiu a exibição do filme nos cinemas brasileiros onde conquistou até que uma boa performance de público mas não de crítica. Os críticos brasileiros reclamaram bastante da falta de desenvolvimento dos personagens, da banalidade das situações de terror e suspense e até mesmo da nudez excessivamente explorada da atriz que interpretava uma das vampiras vindas do espaço (ela surgia o tempo todo nua, devorando suas vítimas). É curioso que em plena ditadura militar os censores não tenham implicado mais com o filme por causa disso. “Laranja Mecânica”, por exemplo, foi censurado e perseguido no Brasil por anos mas “Força Sinistra” que tinha muito mais nudez e violência escapou, sendo liberado para maiores de 16 anos. Apesar das críticas o filme conseguiu arrancar uma indicação ao Prêmio Saturno de Melhor filme de terror de 1986, uma indicação que atribuo muito mais ao prestigio do diretor Tobe Hooper e do roteirista Dan O´Bannon, do que por seus méritos cinematográficos. Mesmo assim fica a dica: “Força Sinistra” que mostra os vampiros como eles eram na década de 80: espaciais, sensuais e vorazes.  

Força Sinistra (Lifeforce, Estados Unidos, 1985) Direção: Tobe Hooper / Roteiro: Dan O'Bannon, Don Jakoby, Michael Armstrong, Olaf Pooley / Elenco: Steve Railsback, Peter Firth, Frank Finlay, Mathilda May, Patrick Stewart / Sinopse: Nave especial que segue o cometa Halley é explorada por astronautas americanos que descobrem três corpos em estado vegetativo. Com a finalidade de estudar essas novas formas de vida os corpos são levados para o planeta Terra o que se revelará uma péssima idéia pois se tratam de vampiros espaciais que sugam a força vital de suas vitimas.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Oscar 2013

Foi uma cerimônia bem realizada mas também sem maiores surpresas. De fato todas as previsões que rondaram na semana anterior do prêmio se confirmaram. Não precisava ser vidente para acertar a maioria dos prêmios pois tudo já estava previamente esperado.  Inicialmente “Lincoln” era o mais cotado para vencer o Oscar de Melhor filme mas depois do Globo de Ouro a situação se inverteu e Argo virou o queridinho dos membros da Academia. Muitas pessoas ficaram indignadas pelo fato de Ben Affleck não ter sido indicado ao Oscar de Direção e essa situação acabou se revertendo a favor de “Argo”, um filme que já comentei aqui no blog, bem feito, bem roteirizado mas que ainda não considero melhor do que “Lincoln”. Aliás atribuo a derrota do filme de Spielberg ao seu resultado considerado pesado e enfadonho para quem não gosta particularmente nem de história e nem de política. Assim venceu o filme mais acessível aos membros da Academia. Some-se a isso também a campanha nos bastidores promovida por George Clooney, produtor do filme e muito bem relacionado no meio. Assim a vitória de “Argo” pode ser atribuída aos votos de protesto por causa de Affleck e aos votos de amizade captados por Clooney.

Nas demais categorias também não houve muitas surpresas. Os prêmios foram até que muito bem distribuídos entre todos os filmes principais, sendo que nenhum deles saiu de mãos vazias da noite. Jennifer Lawrence confirmou seu favoritismo e ganhou o Oscar de Melhor atriz por “O Lado Bom da Vida”. Ela levou uma tremenda queda quando subia para receber o prêmio mas isso até que era previsível já que é apenas uma jovem. Nervosa e com aquele vestido absurdo não era de se esperar outra coisa. Seu discurso de agradecimento foi atropelado e ansioso. O filme infelizmente não conseguiu levar mais nenhum prêmio mas diante da vitória da categoria atriz isso até que passou despercebido. Outro favorito absoluto que confirmou o que já se falava há tempos foi Daniel Day-Lewis. Em um discurso bem humorado (coisa que não é típico dele) o ator agradeceu a todos e dedicou o prêmio especialmente para a mãe. Infelizmente nas demais categorias “Lincoln” ficou a ver navios, só conseguindo mesmo apenas mais um Oscar por Direção de Arte (mais do que merecido).

Tarantino por outro lado ficou bastante satisfeito com o resultado de seu “Django Livre”. Além de faturar o Oscar por Roteiro Original (o que já era esperado) ainda abocanhou mais um prêmio de melhor ator coadjuvante para Christoph Waltz que assim repete o feito que havia conseguido no filme anterior de Tarantino, “Bastardos Inglórios”. Só não concordo com sua categoria coadjuvante pois em minha opinião o personagem interpretado por Waltz é um dos protagonistas do filme. Melhor para ele pois se tivesse sido indicado a ator não teria mesmo vencido Daniel Day-Lewis. No mais é sempre bom ver um western ganhando prêmios desse porte pois quem sabe assim a indústria se anime a realizar mais filmes do gênero. Os fãs do bom e velho faroeste agradecem. Como Ben Affleck não foi indicado ao Oscar de Melhor direção (uma aberração pois o filme levou o principal prêmio da noite) sobrou a Ang Lee levar o Oscar para casa por seu bonito “As Aventuras de Pi”. Nada mal para um sujeito que outro dia estava sendo considerado “carta fora do baralho” dentro da indústria americana. A produtora de Pi inclusive fechou as portas, falindo justamente no momento em que o filme recebia tantos reconhecimentos (também foi premiado por trilha sonora e efeitos visuais).

Na categoria animação talvez a maior surpresa de toda a noite pois “Valente” não era considerado um favorito. Animação caretinha conseguiu vencer o principal prêmio para espanto de todos. “Os Miseráveis” apesar do tema difícil venceu três estatuetas (atriz coadjuvante, maquiagem e mixagem de som). Um bom resultado sem dúvida. Anne Hathaway está muito bem no filme, embora não a considere uma boa cantora. De qualquer forma é sempre um prazer ver um musical sendo reconhecido pelo Oscar nos dias atuais. Por fim, nos 50 anos da franquia James Bond a Academia resolveu dar uma colher de chá ao agente premiando Skyfall nas categorias canção original e Edição de Som (onde ocorreu um raro empate entre os vencedores). Atribuo esses prêmios mais a uma homenagem e a um pedido de desculpas tardio do que qualquer outra coisa uma vez que Bond sempre foi desprezado pelo Oscar.

Agora bem decepcionante mesmo foi a fraca performance de Seth MacFarlane como apresentador. Esperava-se que fosse bem mais ácido e picante nas piadas mas nada disso aconteceu, soltou algumas farpinhas inocentes e tentou agradar mas sem ousar. Qualquer episódio de “Family Guy” é bem mais engraçado e irônico do que aquilo. No fundo ele quer mesmo é ser escalado novamente no ano que vem (o que acho complicado acontecer). Enfim, esse foi o Oscar 2013. Não houve nada de muito marcante ou surpreendente. O show como não poderia deixar de ser foi muito bem realizado mas também não conseguiu encher os olhos de ninguém. No fundo foi apenas uma premiação de rotina e nada mais. Parabéns aos vencedores e até ano que vem!

Oscar 2013 – Os vencedores da noite:
Filme: "Argo"
Direção: Ang Lee, por "As Aventuras de Pi"
Ator: Daniel Day-Lewis, "Lincoln"
Atriz: Jennifer Lawrence, "O Lado Bom da Vida"
Ator coadjuvante: Christoph Waltz, "Django Livre"
Atriz coadjuvante: Anne Hathaway, "Os Miseráveis"
Roteiro original:  "Django Livre"
Roteiro adaptado: "Argo"
Animação: "Valente"
Filme estrangeiro: "Amor" (Áustria)
Trilha sonora: "As Aventuras de Pi"
Canção original: "Skyfall", de Adele, "007 - Operação Skyfall"
Fotografia: "As Aventuras de Pi"
Figurino: "Anna Karenina"
Documentário:  "Searching for Sugar Man"
Curta de documentário: "Inocente"
Edição: "Argo"
Maquiagem: "Os Miseráveis"
Direção de arte: "Lincoln"
Curta de animação: "Paperman"
Curta-metragem: "Curfew"
Edição de som: empate entre "A Hora Mais Escura" e "007 - Operação Skyfall"
Mixagem de som: "Os Miseráveis"
Efeitos visuais: "As Aventuras de Pi"

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 2

Sempre que posso estou recomendando essas animações da DC Comics que estão sendo lançadas nos Estados Unidos no mercado de venda direta ao consumidor. São todas produções extremamente bem realizadas, com ótimos roteiros e tecnicamente perfeitas. Sobre esse “Batman: The Dark Knight Returns” já tive a oportunidade de tecer comentários aqui em nosso blog na ocasião do lançamento do primeiro DVD. Agora chega sua conclusão, a parte 2, e para alegria dos fãs de Batman tudo continua no mesmo nível, ou seja, tudo continua excelente. Aliás o enredo dessa segunda parte consegue ser até mesmo mais interessante e marcante do que o primeiro, uma vez que dois personagens ícones da DC surgem na trama: o Coringa e o Superman. O maior vilão do universo de Batman tenta convencer a todos que está finalmente reabilitado e pronto para voltar para a sociedade. Ao lado de seu psiquiatra (que vê nele um modelo de cura) o Coringa aceita participar de um programa de entrevistas popular na TV. Obviamente que tudo terminará numa grande tragédia até porque seu lado psicótico e insano logo volta a se manifestar com mais intensidade do que nunca.

Já o Superman vem como um super-herói do sistema, um joguete do governo americano que não hesita em utilizar seus poderes em prol de seus interesses imperialistas. Logo no começo da trama vemos o homem de aço completamente envolvido em uma guerra de colonialismo em um país perdido no meio do nada. É obviamente uma crítica – e muito bem feita – ao jogo político que os Estados Unidos patrocinam mundo afora. Outro fato curioso é que o Presidente surge como a figura de Ronald Reagan que era o líder da nação na época do lançamento da Graphic Novel original. Presidente de linha ultra-direita, intervencionista e republicano, o político acabou virando uma caricatura nada lisonjeira nas mãos de Frank Miller. E o Batman? Bom, ele é um sujeito envelhecido, doente e recluso que vê, deprimido, sua cidade virar um caos completo, dominada por crimes e convulsões sociais de todos os tipos. Para piorar a antiga gangue dos Mutantes o venera e o segue com fervor por causa de seu ideal de se fazer justiça pelas próprias mãos. Após resolver retornar às ruas para capturar novamente o Coringa, Batman se vê envolvido em um luta mortal com seu antigo colega Superman. Ambos estão em lados opostos e certamente vão se enfrentar para defender aquilo que acreditam ser o certo no meio daquele caos reinante. As cenas de luta entre os dois super-heróis acabam se tornando a melhor coisa da animação que é toda muito boa – realmente diferenciada e obrigatória para os fãs desse universo. Assim “Batman: The Dark Knight Returns, Part 2” está mais do que recomendado, não deixe de assistir.   

Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 2 (Batman: The Dark Knight Returns, Part 2, EUA, 2013) Direção: Jay Oliva / Roteiro: Bob Goodman baseado na obra de Fank Miller / Elenco (Vozes): Peter Weller, Ariel Winter, Michael Emerson / Sinopse: Para capturar novamente seu antigo inimigo, o Coringa, um envelhecido Batman volta às ruas. Sua presença porém passa a incomodar as autoridades americanas que pedem ajuda ao Superman, o único que poderá encarcerar definitivamente o Homem Morcego.

Pablo Aluísio.