domingo, 5 de fevereiro de 2012

Imortais

Fui assistir a esse filme com o fiasco de "Fúria de Titãs" na cabeça. Por isso não tinha a menor fé em nada - pensei que seria mais um lixo Hollywoodiano. Para minha surpresa acabei achando interessante. Talvez por estar com expectativas quase a zero acabei ao final achando um blockbuster decente. Obviamente não aconselho aos estudiosos de mitologia grega, esses ficarão desapontados. O roteiro toma enormes liberdades com os mitos originais. Teseu, por exemplo, virou um rebeldinho revoltado, sem consistência. Monstros famosos como o Minotauro foram relegados a um simples grandalhão com máscara de touro feito de gravetos e por aí vai. O que salva "Imortais" do desastre é em primeiro lugar a linda direção de arte do filme e em segundo a presença sempre muito bem-vinda do ator Mickey Rourke. O filme é o que gosto de chamar de produção de luxo. Claro que praticamente todo ele foi gerado digitalmente mas mesmo assim achei tudo de muito bom gosto, sua fotografia em tons dourados, as cores gritantes das capas e uniformes. Até mesmo o figurino, que foi tachado de brega e excessivo em algumas resenhas, acabou me agradando.

Já Mickey Rourke é um capítulo à parte. Esse é o tipo de ator forjado no Actors Studio que consegue sobreviver a (quase) tudo. Não escondo de ninguém que sou admirador de carteirinha dele. Aqui temos o típico caso de ator maior que o filme. Seu personagem, o rei Hyperion, não é nem melhor e nem pior que outros vilões que enchem os blockbusters americanos todos os anos, a diferença é que Rourke declama até os mais simples diálogos com cuidado, capricho, e isso é sem dúvida uma grande diferença com os canastrões de hoje em dia. E por falar em canastrão o tal de Henry Cavill (que faz Teseu) é de uma nulidade gritante. Sem carisma, mono facial e sem graça quase leva tudo a perder. Se não fosse Rourke segurando as pontas o quesito atuação do filme seria simplesmente desastroso. Enfim, gostei de Rourke, da direção de arte e do bom gosto. Desgostei do Cavill, dos deuses (medíocres) e dos Titãs (esses últimos parecem zumbis de quinta categoria). Apesar de tudo no fim das contas vale uma espiadinha.

Imortais (Immortals, Estados Unidos, 2011) Direção de Tarsem Singh / Roteiro: Charley Parlapanides, Vlas Parlapanides / Elenco: Henry Cavill, Mickey Rourke, John Hurt / Sinopse: Teseu é um mortal que é escolhido por Zeus para liderar uma guerra contra o tirânico rei Hyperion que está em busca de uma arma capaz de destruir toda a humanidade.

Pablo Aluísio.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O Homem Que Mudou o Jogo

Esse é o tipo de filme que está tão enraizado na cultura americana que dificilmente fará a cabeça dos brasileiros. O tema é centrado na história de um gerente de esportes (Brad Pitt) de um time de beisebol que tenta chegar ao sucesso usando das estatísticas de um jovem economista formado em Yale. Juntos, analisando números, eles tentam montar o time ideal: barato mas eficiente. Agindo assim a dupla acaba despertando a ira de velhos conselheiros do clube e até mesmo da imprensa que tem uma visão romântica do esporte e se sente muito incomodada pelo uso de uma ciência exata para chegar ao título do campeonato. O filme é interessante em termos justamente por esse conflito entre o romantismo e o pragmatismo. Afinal números frios vencem partidas ou não?

Claro que na linguagem técnica do esporte o espectador brasileiro que não conhece e nem entende sobre Beisebol vai ficar boiando mas o filme não se resume a isso. Há um desenvolvimento mostrando o lado familiar do personagem do Pitt, sua relação com a filha e as pressões que sofre em razão do esporte. Eu pessoalmente achei que falta um pouco de ritmo ao desenvolvimento da trama. O filme soa muitas vezes arrastado e sem foco. Só em seu terço final realmente cresce mais em emoção mas aí se utiliza do esporte que retrata e por essa razão quem não conhece direito as jogadas e as regras do Beisebol pode até mesmo ficar mais aborrecido ainda. De uma maneira em geral gostei do resultado. Poderiam ter aproveitado melhor a presença do grande ator Philip Seymour Hoffman, que faz o técnico do time, mas tudo bem. Para quem gosta de filmes de superação em esportes pode ser uma boa pedida mesmo que você não fale inglês e nem nunca tenha ouvido falar do Red Sox. Basta fazer uma forcinha a mais para gostar

O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball, Estados Unidos, 2011) Direção: Bennett Miller / Roteiro: Steven Zaillian, Aaron Sorkin / Elenco: Brad Pitt, Philip Seymour Hoffman, Robin Wright, Jonah Hill / Sinopse: Equipe de beisebol contrata um jovem especializado em estatísticas para ajudar na formação de sua nova equipe.

Pablo Aluísio.

Os Fragmentos de Tracey

Um verdadeiro achado esse "Os Fragmentos de Tracey". O filme não é muito conhecido até por causa de seu formato pouco convencional. Esqueça as narrativas normais que você está acostumado a ver por aí pois não a encontrará aqui. Na realidade a edição é tão dinâmica e desfragmentada que pensamos estar dentro da cabeça da jovem Tracey de quinze anos, com todas as suas inseguranças, sonhos e desejos tão típicos da sua idade. Achei particularmente genial o uso de vários quadros ao mesmo tempo nas cenas. Isso era comum no final dos anos 60 mas aqui o diretor Bruce McDonald resolveu levar tudo às últimas consequências. Assim em uma só cena vemos dois, quatro, seis e até vinte pontos de vista diferentes em um efeito de grande impacto.

Além da linguagem inovadora o roteiro é tão bem feito que ficamos com a impressão de ter sido escrito por uma adolescente mesmo. Lá está Tracey com seu amor platônico da escola, a sensação de ser a "loser", a convicção de que sua família é toda formada por idiotas e por aí vai. O filme lida muito com sensações, assim nada de contar a vida dela de forma banal, pelo contrário, tudo é tão jovial e inovador que fiquei realmente surpreso. O filme lembra em certos momentos "Juno" (o grande filme da carreira da Ellen Page) mas é muito mais radical e cool. Está a fim de assistir algo que fuja do feijão com arroz? Ora, corra para ver "Os Fragmentos de Tracey". Eu recomendo com absoluta certeza.

Os Fragmentos de Tracey (The Tracey Fragments, Estados Unidos, 2007) Direção de Bruce McDonald / Elenco: Maureen Medved, baseado na novela de Maureen Medved / Elenco: Ellen Page, Zie Souwand, Maxwell McCabe-Lokos / Sinopse: O filme mostra em narração desfragmentada pequenos momentos da vida de Tracey Berkowitz, uma garota de 15 anos que sai em busca de seu irmão.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sideways: Entre Umas e Outras

Sideways parte de uma premissa muito simples: dois amigos, Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church), partem para aproveitar a semana que antecede o casamento desse último. Miles planeja uma semana de turismo em vinícolas da região ao lado do amigo, degustando o que de melhor há em termos de vinho. Claro que mais cedo ou mais tarde todos os planos virão abaixo pois Jack está mais interessado nos rabos de saia que encontra pelo caminho do que propriamente em aproveitar de forma sofisticada sua última semana de solteirice. Já Miles tem seus próprios problemas. Divorciado, deprimido, acaba descobrindo que sua ex-esposa se casou novamente! O roteiro é, como se pode ver, bem simplório mas curiosamente em sua simplicidade consegue debater sobre temas importantes ao mesmo tempo em que desenvolve diversas situações de humor com os amigos. Não é uma comédia escrachada, tão em voga hoje em dia, mas sim um drama mesclado com pequenas situações de humor que satirizam os anseios e os dilemas que os homens enfrentam atualmente em seu dia a dia. Miles é o retrato disso - professor de colégio que tem aspirações a se tornar escritor mas que não consegue espaço no meio editorial por causa de "problemas de marketing" das editoras (talvez se ele lançasse um livro sobre vampiros adolescentes certamente seria publicado)!

O elenco do filme é todo bom com destaque para Giamatti que aqui repete seu tipo característico: homem de meia idade que não consegue concretizar seus sonhos e objetivos pessoais.. Já Thomas Haden Church (que lembra bastante Nick Nolte quando era mais jovem) consegue entregar uma boa caracterização de seu personagem: um ator de meia tigela que aproveita o pouquinho da fama que tem para traçar todas as garçonetes e empregadas que lhe cruzam o caminho. Para quem gosta de seriados um pequeno bônus: a presença de Sandra Oh que há muitos anos interpreta a Dra. Cristina Yang na série "Grey´s Anatomy". Enfim, "Sideways" é uma boa pedida. Uma boa direção de Alexander Payne que aqui se sai bem melhor do que em seu último filme, "Os Descendentes". Vale a pena conferir.

Sideways - Entre Umas e Outras (Subways, Estados Unidos, 2004) Direção de Alexander Payne / Roteiro de Alexander Payne baseado na novela de Rex Pickett / Elenco: Paul Giamatti, Thomas Haden Church, Virginia Madsen / Sinopse: Dois amigos, Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church), partem para aproveitar a semana que antecede o casamento desse último. Miles planeja uma semana de turismo em vinículas da região ao lado do amigo, degustando o que de melhor há em termos de vinho.

Pablo Aluísio.

Pronta Para Amar

Esse filme tem embalagem de comédia romântica, marketing de comédia romântica e jeito de comédia romântica mas na realidade não é nada disso! É o que chamavam antigamente de "filme de doença", ou seja, o espectador vai acompanhando a personagem principal a partir da descoberta da doença fatal (no caso aqui um câncer de intestino) passando pelo desenrolar do difícil tratamento até chegar ao desfecho de tudo (que tenta ser agradável, leve, mas convenhamos disso não tem nada). Eu não recomendaria esse tipo de produção para pessoas que perderam entes queridos recentemente pois é possível que venham a se identificar com a situação mostrada nas telas. Reviver algo assim nem sempre é recomendado. Principalmente para quem passou por esse tipo de coisa há pouco tempo. Além disso algumas situações de vida (ou da morte) não devem ser tratadas como algo leve, soft, pop, tentando criar um clima de falsa felicidade para mostrar uma situação que em si deve ser tratada e mostrada com a devida seriedade.

E os pontos positivos? Sim, há partes que valem a pena no filme. Um das coisas bacanas aqui é o elenco, cheio de atores e atrizes que gosto bastante. Além da Kate Hudson, que não compromete mas que também não surpreende (ela parece ter colocado sua carreira definitivamente em controle remoto), temos ainda Kathy Bates, muito bem em sua caracterização de "mãezona" e uma improvável Whoopi Goldberg em um papel nada comum. Outro ponto positivo é o fato do filme ter sido feito em New Orleans, uma das cidades mais peculiares dos EUA. A grande maioria das grandes cidades americanas não possuem identidade própria, são praticamente todas iguais, com cultura plastificada. Não é o caso de New Orleans que tem uma rica cultura musical, herdada dos colonizadores franceses que estiveram por lá. Além disso impossível ignorar o talento de tantos grandes músicos negros que nasceram na famosa cidade. É o berço do jazz e do soul - precisa dizer mais alguma coisa? A música e a cultura de lá ajudaram muito na suavização da trama. Como é um filme que trata de um tema muito sensível achei adequado que uma mulher exercesse a direção. Aqui a diretora Nicole Kassell tenta a todo custo amenizar o máximo possível a questão, tendo sucesso algumas vezes e outras não. Enfim é isso, "Pronta Para Amar" deveria se chamar realmente de "Pronta Para Morrer" pois é justamente disso do que se trata. Recomendo com restrições por causa do tema e do baixo astral.

Pronta Para Amar (A Little Bit of Heaven, Estadps Unidos, 2011) Direção: Nicole Kassell / Roteiro: Gren Wells / Elenco: Kate Hudson, Kathy Bates, Peter Dinklage, Gael García Bernal / Sinopse: Jovem profissional (Kate Hudson) descobre que tem uma doença incurável. A partir daí repensa sua vida e seus relacionamentos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Como Esquecer

Professora universitária (Ana Paula Arósio) tenta superar a dor do fim de seu relacionamento com uma mulher. Devastada emocionalmente ela não encontra forças para seguir em frente no trabalho, na vida social e nas amizades. Esse filme "Como Esquecer" é bem interessante. Primeiro ele mostra um relacionamento lésbico sem transformar isso em bandeira do movimento gay. Isso é um ponto positivo pois o roteiro não se torna panfletário, simplesmente mostrando duas pessoas apaixonadas. Outro aspecto a elogiar é a sempre marcante presença de Ana Paula Arósio. Eu conheço seu trabalho há muito tempo e sempre a achei muito digna em suas atuações. Ela tem uma dicção perfeita e sempre consegue se impor, não importa o papel. A Arósio é tão classuda que até mesmo quando interpreta uma prostituta (como em Hilda Furacão) se sai bem. Na realidade confesso que sou fã dela como atriz. O elenco de apoio também é muito bom, bem simpático. O Murilo Rosa aqui faz um amigo gay da personagem da Ana Paula Arósio. Ele inclusive rouba algumas cenas da colega. Isso se deva talvez ao fato de seu personagem ser "pra cima", animado, de bem com a vida.

O filme foi dirigido por uma mulher, Malu de Martino que só tinha feito um longa de repercussão antes: "Mulheres do Brasil" mostrando a realidade de cinco diferentes mulheres em várias regiões de nosso país. Ela é boa diretora como bem demonstra aqui em "Como Esquecer". Tudo é muito sutil, delicado e apesar de mostrar um tema que poderia ser polêmico evita o sensacionalismo disponibilizando um retrato muito humano da vida da professora. Vale a pena conferir. "Como Esquecer" mostra que há lugar no cinema brasileiro também para o bom gosto e a sutileza.

Como Esquecer (Como Esquecer, Brasil, 2010) Direção: Malu de Martino / Com Ana Paula Arósio, Murilo Rosa, Natália Lage, Bianca Comparato e Arieta Corrêa / Sinopse: Professora universitária (Ana Paula Arósio) tenta superar a dor do fim de seu relacionamento com uma mulher. Devastada emocionalmente ela não encontra forças para seguir em frente no trabalho, na vida social e nas amizades.

Pablo Aluísio.

Thor

Eu sempre torci o nariz para filmes de personagens em quadrinhos, todo mundo sabe disso, mas gostei desse Thor e sabem por quê? Porque Thor foi um dos poucos heróis de quadrinhos que não tiveram vergonha de aparecer no cinema como são na verdade - como um personagem de quadrinhos ora! Thor é despudorado, kitsch até o último fio de cabelos loiros e nada envergonhado de sua origem. O seu mundo é um desbunde! Poucas vezes vi uma direção de arte tão desavergonhada como essa! O mundo de Thor não é apenas over, mas totalmente over, pra falar a verdade tudo parece mais uma discoteca gay dos anos 70 do que qualquer outra coisa - a ponte que liga o nosso mundo a Asgard por exemplo mais parece uma pista de dança da época de Dancing Days! E falo isso não para criticar mas para dizer que adorei a exagerada direção artística do filme! É isso mesmo, se tem que ser kitsch, que seja até o fim. Sobrou até para Elvis Presley, sua música "I Can Help" de 1975 está na trilha, imagine você!

No elenco como sempre o grande Anthony Hopkins predomina. Ela não tem muitas cenas, é verdade, mas nas que aparece se impõe. É curioso encontrar esses grandes nomes em filmes como esse. Um personagem como esse nada vai acrescentar a uma carreira brilhante como a de Hopkins mas muitos intérpretes simplesmente não conseguem rejeitar aquela montanha de dinheiro que lhes é oferecido pelos grandes estúdios para encarnar tais tipos nas telas. Obviamente que se torna um tanto decepcionante ver um ícone como Anthony Hopkins em coisas como "Thor" mas enfim, o mundo não é apenas movido pela arte, mas pelo dinheiro também. É uma constatação da realidade. O mesmo acontece com Natalie Portman pois sua personagem é totalmente vazia de conteúdo. No fundo seu nome é apenas um luxo para abrilhantar os cartazes da produção. E o ator que interpreta "Thor"? Bom, o sujeito é dramaticamente nulo, tal como os anabolizados atores que faziam Maciste no passado. Ainda bem que não fala muito e por isso consegue surpreender não estragando o filme. Enfim, "Thor" é isso - é exagerado, é kitsch e é despudorado. Seu grande mérito é que se assume como tal e pela honestidade vale a pena ser assistido, mesmo sendo cinema chiclete que se mastiga e depois se joga fora sem culpa ou remorso.

Thor (Thor, Estados Unidos, 2011) Direção: Kenneth Branagh / Roteiro: Ashley Miller, Zack Stentz / Elenco: Chris Hemsworth, Anthony Hopkins, Natalie Portman / Sinopse: Thor (Chris Hemsworth) cai em desgraça no Olimpo dos deuses e tem que ir para a Terra como punição por suas falhas.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A Origem

"A Origem" é uma excelente ideia que ficou no meio do caminho. Seu roteiro chama a atenção pela extrema imaginação e originalidade, seu argumento é ótimo com uma ideia central muito rica em possibilidades, com tudo bem costurado, coerente e fechadinho mas que se perde em uma narrativa sofrível que prejudica muito o filme no saldo final. Em poucas palavras: Um roteiro extremamente criativo que afunda numa edição ruim e numa linha narrativa pior ainda. Também falta coragem em se assumir como uma ficção totalmente inteligente e conceitual. No desespero de agradar aos mais jovens que frequentam cinema hoje em dia o diretor Christopher Nolan se acovardou e encheu a produção de correrias, tiroteios ultra exagerados (e bregas) tornando tudo banal, mais do mesmo. Não ousou ir até o fim, até as últimas consequências (como Kubrick fazia em seus filmes). Poucas vezes vi um ponto de partida tão promissor se perder em um emaranhado tão vasto de bobagens de estilo e cenas de ação gratuitas. A ideia central do filme não é complicada de se seguir (embora tenha deixado alguns espectadores sem entender muito bem o que acontece). Basicamente é uma alegoria do inconsciente que aqui deixa de ser meramente individual para se tornar coletivo, em um plano compartilhado por várias pessoas ao mesmo tempo. Falando assim até parece sem sentido, mas não é. Quem assistiu sabe disso. O problema é que o diretor Nolan faz um rocambole dos diabos com isso.

O calcanhar de Aquiles de "A Origem" é essa: as coisas acontecem em um ritmo tão acelerado e desorganizado que deixa o espectador médio aturdido. Faltou ao diretor organizar melhor as ideias e as distribuir na sequência de cenas de uma forma menos caótica. A terça parte final do filme é um verdadeiro abismo em termos de edição. Temos três níveis de sonhos, mais delírios de subconsciente e lembranças tudo misturado em uma quase inexistente linha de narração. A impressão nítida que tive foi que Nolan se perdeu totalmente nessa parte do filme. As coisas são literalmente vomitadas em cima do espectador que fica sem saber direito o que está afinal acontecendo. Alguns se esforçam para seguir o fio da meada mas pelo pude constatar na sala que assisti a maioria simplesmente desistiu de tentar acompanhar. Para esses Nolan distribuiu fartas cenas de ação vazias que permeiam toda a narrativa. Estaria tentando acordar os mais sonolentos? Foi o que me pareceu. Assim em determinado momento a produção se torna muito chata, afundada numa sucessão de sonhos dentro de sonhos que por sua vez estão dentro de outros sonhos. O filme também é muito pretensioso mas não cumpre o que prometia. Em poucas palavras: se torna um filme intragável para grande parte do público. Realmente faltaram foco, organização, ousadia e sensibilidade no resultado final. Espero sinceramente que Nolan não leve todos esses defeitos para o próximo Batman. Pretensão demais pode levar qualquer filme à sua própria ruína.

A Origem (Inception, Estados Unidos, 2011) Direção de Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan / Elenco: Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page / Sinopse: Don Cobb (Leonardo Di Caprio) é um especialista em adentrar sonhos e mentes alheias com objetivos ilegais e ilícitos. Em uma dessas invasões acaba se envolvendo em uma rede de interesses industriais e comerciais do qual não consegue mais ter controle.

Pablo Aluísio.