sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Psicose

Norman Bates (Anthony Perkins) é um rapaz solitário que toma conta de um decadente motel de beira de estrada ao lado de sua mãe, que mora numa velha casa nos fundos do Bates Motel. Para sua surpresa uma jovem e bonita garota chamada Marion (Janet Leigh) resolve se hospedar em seu sinistro estabelecimento. Isso basta para que o lado mais obscuro de Norman venha à tona. "Psicose" é seguramente o filme mais famoso do genial diretor Alfred Hitchcock. Temendo uma reação muito negativa diante do teor violento da estória o cineasta tomou uma decisão polêmica ao decidir filmar em preto e branco. Posteriormente em entrevista Hitchcock esclareceu que seria de muito mal gosto filmar a famosa cena do chuveiro em cores berrantes pois o vermelho sangue jorrando pelo ralo da banheira seria demais para o público daquela época. O roteiro foi baseado em uma novela de Robert Bloch, um escritor de terror e ficção muito popular na década de 60. Embora seja ficcional é impossível negar que o personagem de Norman Bates também foi inspirado em assassinos em série famosos nos EUA, como por exemplo, Ed Gein. Esse também vivia isolado da sociedade, era acometido por alucinações com pessoas falecidas e tinha uma verdadeira obsessão pela mãe morta, que era fanática religiosa e rotineiramente punia o filho como a mãe rígida de Norman Bates apresentada em "Psicose".

Além do suspense e do tema mórbido "Psicose" também se tornou um marco do cinema por causa de alguns detalhes que fizeram toda a diferença em relação aos demais filmes da época. O primeiro deles é sua excelente trilha sonora, assinada por Bernard Herrmann. O tema musical das cenas mais marcantes ainda hoje soa familiar aos ouvidos de qualquer cinéfilo, de associação imediata ao filme (basta ouvir para saber que se trata de "Psicose"). Além disso foi tão imitada ao longo dos anos que acabou virando marca registrada. Nove em cada dez filmes de terror atuais trazem em suas trilhas incidentais apenas variações do famoso tema do filme de Hitchcock. Outro aspecto a se louvar aqui é a brilhante interpretação de Anthony Perkins, tão brilhante aliás que marcou a carreira do ator para sempre o deixando praticamente prisioneiro de Norman Bates para o resto de sua vida. Por fim só nos resta aplaudir todo o domínio de cena e ambientação de Hitchcock. Não é por outro motivo que ele passou para a história como o "Mestre do Suspense". O cineasta nunca era óbvio em suas decisões, surpreendendo em cada cena, em cada tomada. A própria cena do chuveiro é uma aula de direção, abrilhantada com uma das mais inspiradas edições da história do cinema. Em suma "Psicose" é item obrigatório para quem gosta de cinema. Um clássico do suspense que segue soberbo, firme, como o melhor e mais influente já produzido até hoje.

Psicose (Psycho, Estados Unidos, 1960) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: Joseph Stefano baseado na novela de Robert Bloch / Elenco: Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles / Sinopse: Norman Bates (Anthony Perkins) é um rapaz solitário que toma conta de um decadente motel de beira de estrada ao lado de sua mãe, que mora numa velha casa nos fundos do Bates Motel. Para sua surpresa uma jovem e bonita garota chamada Marion (Janet Leigh) resolve se hospedar em seu sinistro estabelecimento. Isso basta para que o lado mais obscuro de Norman venha à tona.

Pablo Aluísio. 

A Sétima Alma

Ufa, depois de muito sacrifício consegui terminar de ver esse "A Sétima Alma". Foi penoso aguentar porque sinceramente o filme é ruim demais. Aliás merece uma medalha quem aguentar os vinte minutos iniciais (uma das introduções mais bizonhas que já tive o desprazer de assistir). Depois desse começo bizarrro de ruim o filme se estabiliza e somos apresentados a sete jovens que seriam a reencarnação do tal estripador da estória (um sujeito ridículo usando uma roupa mais ridícula ainda). Pelo que eu resumi aqui já deu para sentir o absurdo do roteiro não é mesmo? Todos os clichês estão aqui. Um grupo de jovens que sabemos que vão ser trucidados? Confere. Uma floresta assustadora? Confere. Um assassino malvadão? Confere. Muita canastrice em cena? Confere. Uma direção obtusa? Confere. Na verdade é uma das produções mais derivativas que já assisti, isso porque imita todas as fórmulas dos filmes de terror com adolescentes da década de 80, só que sem brilho, talento e impacto.

O pior de tudo é saber que na direção do filme não está um medíocre mas sim um dos mais conceituados realizadores do cinema de horror americano. O que aconteceu afinal Wes Craven? O que será que aconteceu com o sujeito para filmar uma mediocridade dessas? Será que perdeu todo o dinheiro que ganhou? Será que perdeu sua casa nessa crise econômica que atinge a economia americana? Será que o Craven está com medo de virar sem teto? Sei não, só pode ser isso porque tem que ter muita coragem para assinar um lixo desses! Provavelmente algum produtor oportunista colocou o cineasta contra a parede para ele realizar um filme como aqueles que ele fez no passado. Ele tirou aquele velho roteiro empoeirado que tinha na gaveta há 30 anos e resolveu ver no que ia dar. Bom, pelo resultado podemos dizer que não deu em nada. Fraquíssimo momento de um bom diretor. Passe longe.

A Sétima Alma (My Soul to Take, Estados Unidos, 2010) Direção: Wes Craven / Roteiro: Wes Craven / Elenco: Max Thieriot, John Magaro, Denzel Whitaker / Sinopse: Um serial killer retorna para sua cidade natal para perseguir e matar sete jovens que completam aniversário na mesma data que o seu.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Júlio César

Em sua autobiografia Marlon Brando tirou duas conclusões sobre o filme “Júlio César”. A primeira foi que ele era ainda muito jovem e inexperiente para assumir um papel tão complexo em um texto tão rico (e muito fiel ao original escrito por William Shakespeare). O ator ficou inseguro durante as filmagens, também pudera, rodeado de monstros da arte de interpretação, Brando teve que se esforçar muito mais do que o habitual para não só decorar o rebuscado texto como também compreender o que ele significava. A segunda conclusão que Brando chegou é a de que filmes assim não encontram muita recepção e ressonância entre a cultura americana que em essência é a cultura do chiclete e da Coca-Cola, uma cultura que nem chega perto da milenar cultura europeia do qual provém essa maravilhosa peça.

Durante a exibição do filme fiquei pensando na opinião do ator e cheguei na conclusão pessoal de que ele estava certo apenas em termos. Realmente o ator está muito jovem, até inexperiente, para recitar Shakespeare. Atores ingleses obviamente se saem melhor nesse aspecto. Porém é impossível não reconhecer seu talento em duas grandes cenas do filme. A primeira ocorre quando Marco Antônio (Brando) encontra o corpo esfaqueado de César no senado. Se nos primeiros minutos de filme ele está em segundo plano aqui nesse momento assume posição de destaque no desenrolar dos acontecimentos. A segunda grande cena do ator no filme surge depois quando ele discursa para a multidão. Levando o corpo de César nos braços ele joga com as palavras de forma maravilhosa. Essa segunda cena é seguramente um dos maiores momentos de Brando no cinema. Esqueça seus famosos resmungos, aqui ele surge com uma dicção perfeita e uma oratória ímpar (mostrando que sua passagem pelo Actors Studio não foi em vão). Com pleno domínio ele instiga o povo contra os senadores que mataram César. Brando está perfeito no discurso, em um momento realmente de arrepiar.

Sobre o segundo aspecto realmente devo dar razão à opinião do ator. O público americano provavelmente estranhou a forma do filme. A cultura americana (e a nossa, diga-se de passagem) não abre muitas brechas para um texto tão bem escrito e profundo como esse. Os diálogos são declamados com grande eloqüência, por maravilhosos atores. O texto obviamente é riquíssimo em todos os sentidos e ao final de cada grande diálogo o espectador mais atento certamente ficará impressionado pela grandeza que a palavra escrita alcançava nas mãos de Shakespeare. Por se tratar de tão culto autor o filme exige uma certa erudição do público.

O espectador deve entender principalmente o contexto histórico do que se passa na tela (o fim da República Romana e o surgimento do Império). Deve também entender que Brutus (brilhantemente interpretado por James Mason) não é um vilão em cena mas sim um cidadão romano que acreditava no sistema político de então. Aliás é bom frisar que o tempo acabaria de certa forma dando razão a ele e aos senadores que mataram César. Os ideais republicanos de Roma tiveram muito mais influência nos séculos seguintes do que o arcaico e corrupto sistema que foi implantado pelos imperadores que iriam suceder César no poder. O legado do Império acabou mas as fundações do republicanismo que tanto foram defendidas por Brutus seguem firme até os dias de hoje. Enfim, Júlio César é um excelente filme, uma aula de cultura em todos os aspectos. Brando não está menos do que magnífico, apesar de ter ficado inseguro no resultado final. Em tempos de sub-cultura que vivemos “Júlio César” é não menos do que obrigatório

Júlio César (Julius Caesar, Estados Unidos, 1953) Diretor: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Joseph L. Mankiewicz baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Marlon Brando, James Mason, John Gielgud, Deborah Kerr, Alan Napier./ Sinopse: Júlio César (Louis Calhern) é um habilitoso político e general romano que é assassinado no senado nos idos de março. Após sua morte duas facções se formam, os que querem a morte dos assassinos liderados por Marco Antônio (Marlon Brando) e Otáviano e os que comemoram sua morte liderados por Brutus (James Mason) e Cícero (Alan Napier). O palco da guerra civil está armado.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O Cálice Sagrado

Esse é o primeiro filme da carreira de Paul Newman. Isso por si só já basta para atiçar a curiosidade de qualquer cinéfilo. Além de Newman há no elenco atores e atrizes que de uma forma ou outra entraram na história do cinema como Jack Palance (como Simão, o Mago) e Pier Angeli (a namoradinha e grande amor da vida de James Dean). Pois bem, a primeira coisa que chama a atenção de quem assiste "O Cálice Sagrado" é sua estranha direção de arte. Tudo soa estilizado no filme, principalmente os cenários que são pouco realistas, parecendo até mesmo ambientações para peças de teatro. Cheguei a pensar que se tratava de uma produção pobre mesmo mas depois em uma cena de crucificação coletiva entendi finalmente a intenção do diretor. Não é que o filme seja mal feito mas se trata realmente de uma opção artística do cineasta Victor Saville (um veterano da época do cinema mudo).

O roteiro mistura ficção com realidade histórica (pelo menos para os que aceitam o conteúdo bíblico como fato histórico). Personagens que na Bíblia são secundários aqui ganham bastante atenção como José de Arimatéia e Simão, o Mago. Esse último é citado no novo testamento como um mágico que desafiou Pedro publicamente. Ofereceu dinheiro pelo poder de realizar milagres e foi repelido pelo principal apóstolo de Cristo. A cena final com Simão tentando provar ao imperador Nero que poderia voar (algo que nem Jesus conseguiu em vida) é muito divertida mesmo. Enfim, apesar de Newman ter odiado sua atuação aqui (chegou a publicar um pedido de desculpas em um jornal americano por sua fraca atuação) não posso dizer que o resultado final seja ruim. "O Cálice Sagrado" é um épico diferente, estranho até em certas passagens, mas que tenta ser inteligente e instigante. Isso já justifica sua existência.

O Cálice Sagrado (The Silver Chalice, Estados Unidos, 1954) Direção: Victor Saville / Roteiro: Thomas B. Costain, Lesser Samuels / Elenco: Paul Newman, Virginia Mayo, Pier Angeli, Jack Palance / Sinopse: Escravo de nome Basilio (Paul Newman) é designado para a confecção daquele que teria sido o último cálice usado por Jesus Cristo na última ceia.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Hatari!

Um grupo de aventureiros caçam animais selvagens na África para eles serem vendidos a Zoológicos ao redor do mundo. Sua rotina de trabalho finalmente muda com a chegada de uma bonita fotógrafa especializada em retratar o reino animal. Hatari é uma aventura muito interessante, com cenas de capturas de animais que prendem a atenção pois são bem reais (bem ao contrário do que se fossem feitas hoje em dia pois teríamos várias tomadas com animais digitais). John Wayne sai um pouco de seus filmes habituais de western para encarnar um personagem diferenciado, mais leve, lidando com várias situações de humor e diversão (algo que ele repetiria também em filmes como por exemplo "O Aventureiro do Pacífico). A atriz que faz seu interesse romântico, a italiana Elsa Martinelli, não me convenceu muito. Com forte sotaque, ela só serve mesmo como babá dos três elefantinhos do filme (sempre lembrados em suas cenas ao som da ótima trilha sonora de Henry Mancini). O roteiro foi baseado no livro de Harry Kurnitz um famoso jornalista da década de 30 que adorava participar de aventuras exóticas em lugares distantes. Seus textos acabariam sendo adotados pelo cinema, inclusive vários deles inspiraram filmes com Errol Flynn durante as décadas de 30 e 40.

A tônica do filme é de humor leve, soft. Bem ao estilo do cineasta que o realizou. O diretor Howard Hawks tinha um grande prestigio em Hollywood e ao longo de sua carreira realizou quase 50 filmes, com grande versatilidade, indo das comédias musicais aos filmes de aventura. Esse Hatari inclusive nem foi seu primeiro trabalho na África pois durante a época dourada do cinema americano ele já havia estado lá filmando o clássico "Uma Aventura na Martinica" com Humphrey Bogart e esposa, Lauren Bacall. Quando ele se deparou com o livro de Kurnitz ficou com a idéia fixa por anos de transpor aquela estória para as telas. Após ter o roteiro de Leigh Brackett em mãos o enviou a John Wayne para saber se ele tinha interesse no filme. Com o sinal positivo do ator finalmente conseguiu que o projeto fosse aceito. Era uma produção cara, filmada em locações africanas e apenas a participação de um grande nome como John Wayne viabilizaria a realização da produção. Aqui em Hatari encontramos todos os elementos que fizeram a fama de Hawks: Belas tomadas abertas, fotografia caprichada e cenas de aventura ao velho estilo. Quem precisa mais? Não deixe de conferir.

Hatari! (Hatari, Estados Unidos, 1962) Direção: Howard Hawks / Roteiro: Leigh Brackett baseado no livro de Harry Kurnitz / Elenco: John Wayne, Elsa Martinelli, Hardy Krüger, Red Buttons, Hardy Krüger / Sinopse: Um grupo de aventureiros caçam animais selvagens na África para eles serem vendidos a Zoológicos ao redor do mundo. Sua rotina de trabalho finalmente muda com a chegada de uma bonita fotógrafa especializada em retratar o reino animal.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ou Vai ou Racha!

Mais uma parceria da dupla Jerry Lewis / Dean Martin. Aqui eles protagonizam um verdadeiro Road Movie cômico pois boa parte do filme se passa durante a viagem que ambos fazem, atravessando os EUA de costa a costa para chegar até a Califórnia. No caminho várias cenas de pastelão bem ao estilo de Jerry Lewis. O curioso é que o humor além de físico é muito cartunesco, utilizando linguagem de desenhos animados da época. Esse filme foi o último realizado pela dupla. Dean Martin após inúmeras brigas com Jerry Lewis resolveu se afastar do colega de tantos anos (estavam juntos desde a época em que se apresentavam em clubes de segunda categoria). Martin achava que Lewis não lhe dava o devido reconhecimento e destaque, o que acho injusto pois Dean Martin nada mais era do que uma escada para Jerry brilhar em cena, esse o verdadeiro comediante da dupla. Além disso Jerry Lewis sempre encaixava alguma canção de Martin nos filmes na tentativa de promover o talento musical de Martin (como acontece aqui onde Dean Martin tem a oportunidade de apresentar várias canções). De qualquer forma por um motivo ou outro Jerry iria estrelar sozinho seus filmes daqui em diante, sendo o "Delinquente Delicado" sua primeira produção solo.

Além de ser o último filme da dupla Martin / Lewis, "Hollywood Or Bust" traz ainda duas outras curiosidades. A primeira é a presença de Anita Ekberg no elenco, tentando emplacar no cinema americano. Sua participação não é muito relevante, diria até antipática, mas até que segura bem as pontas (inclusive com poucos diálogos pois não sabia falar muito bem inglês). O segundo ponto forte desse filme é a direção de Frank Tashlin, o melhor diretor de filmes da dupla. Ele inclusive dirigiu aquele que é considerado o melhor filme de Martin / Lewis, o ótimo "Artistas e Modelos". Aqui o resultado é mais modesto. É sem dúvida uma comédia divertida e agradável, mas longe de seus melhores momentos no cinema. Enfim, "Ou Vai Ou Racha" marcou o fim de uma era. Foi a última chance de ver essa bela dupla junta.

Ou Vai Ou Racha! (Hollywood or Bust, Estados Unidos, 1956) Direção: Frank Tashlin / Roteiro: Erna Lazarus / Elenco: Jerry Lewis, Dean Martin, Pat Crowley, Anita Ekberg / Sinopse: Steve Wiley (Dean Martin) dá um golpe durante um sorteio de carro e tem que dividir o prêmio com Malcolm Smith (Jerry Lewis), o verdadeiro vencedor do concurso. Juntos resolvem viajar com o carro para Hollywood.

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Zona Verde

Os atos do governo George W. Bush continuam a assombrar os americanos. Uma prova é o argumento desse filme que retrata um oficial americano envolvido na busca das chamadas ADM (Armas de Destruição em Massa). Como hoje sabemos nada foi encontrado no Iraque. Para quem não se lembra foi justamente a existência dessas armas que justificou a invasão americana ao país de Saddam Hussein. Curiosamente mesmo após tantos anos nenhum figurão foi responsabilizado pelas mortes e pela operação militar naquele país. Pelo jeito não é só em nosso país que existe impunidade para os altos cargos governamentais. Mas deixemos esse debate um pouco de lado. "Zona Verde" é um bom filme de inteligência militar. O roteiro é bem escrito, bem desenvolvido. Matt Damon surge à vontade em seu papel, com ecos de sua franquia bem sucedida Bourne. O filme também mostra um aspecto curioso envolvendo duas das maiores agências de segurança dos EUA: a CIA e o FBI. O Pentágono e o complexo industrial armamentista também são lembrados e citados. Afinal a quem interessava um conflito dessa dimensão?

Como, apesar das boas intenções, se trata de um produto comercial "Zona Verde" traz diversas concessões. Uma delas é a própria figura do personagem principal. O "mocinho" aqui é personificado pelo Oficial Miller (Matt Damon) que é ajudado por um agente da CIA inconformado pelos rumos que a guerra tomou. Já o antagonista é todo centralizado em apenas uma figura cheia de mistérios (talvez para simplificar o que acontece em cena ao grande público) interpretado pelo sempre eficiente Greg Kinnear. Nesse labirinto de intrigas, meias verdades e falsas pistas o filme vai se desenvolvendo de forma que realmente prende a atenção do espectador. As cenas de ação propriamente ditas são bem realizadas, com muita câmera na mão e correria (o que pode incomodar alguns) mas mesmo assim não chegam a comprometer o resultado final. Há uma cena em especial que achei bem conduzida, já no final, com uma queda de um helicóptero americano. Até me recordei do bom "Falcão Negro em Perigo". Em conclusão "Zona Verde" é um bom filme de ação que não se descuida de uma bem escrita trama de espionagem. Vale a sessão certamente.

Zona Verde (Green Zone, Estados Unidos, 2010) Direção de Paul Greengrass / Roteiro: Brian Helgeland baseado no livro de Rajiv Chandrasekaran / Elenco: Matt Damon, Jason Isaacs, Greg Kinnear / Sinopse: Oficial americano (Matt Damon) se envolve em complexa rede de espionagem e inteligência envolvendo a questão das chamadas Armas de Destruição em Massa.

Pablo Aluísio.

O Pecado de Todos Nós

"O Pecado de Todos Nós" definitivamente não é uma obra para todos os públicos, um filme que vá agradar a todos os setores, muito pelo contrário. O diretor John Huston não fez nenhuma concessão e entregou uma obra crua, visceral, sem nenhum tipo de amenização. Marlon Brando, como sempre, se destaca. Acho esse um de seus personagens mais corajosos. O ator joga a imagem de galã fora e encara um papel extremamente complexo e polêmico. Aqui ele interpreta um Major do exército americano com o casamento em crise, em frangalhos. Sua esposa, interpretada por Elizabeth Taylor, em mais uma de seus excelentes caracterizações, é uma fútil dona de casa que passa os dias em longas cavalgadas ao lado de seu amante, um oficial que mora vizinho ao casal na vila militar onde residem. Isso já bastaria para caracterizar esse casamento como disfuncional mas isso não é tudo.

O problema básico do Major Weldon Penderton (Marlon Brando) é que ele não tem mais nenhum desejo sexual pela esposa, pois na realidade é um homossexual enrustido que não consegue exteriorizar e vivenciar sua verdadeira orientação sexual. Após ver um soldado cavalgando nu pelo bosque, o Major acaba ficando obcecado por ele. Tudo caminha então para um clímax ao melhor estilo do diretor Huston, com muitas nuances psicológicas e tensão entre os principais personagens. A hipocrisia do núcleo familiar considerado ideal pela moralista sociedade norte-americana também é exposta sem receios. O grande número de homossexuais escondidos no armário dentro da vida militar também é explorada. O roteiro do filme acerta em cheio na hipocrisia reinante nesse meio.

O argumento soa na realidade como uma provocação por parte de John Huston para com toda a sociedade norte-americana. A família tradicional e o sistema militar são obviamente seus principais alvos. Na porta de entrada dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, ele ousou colocar um tema tabu em cena: o homossexualismo dentro das casernas militares. Mais explosivo do que isso impossível. Além disso expõe os problemas que existiam por baixo da imagem impecável das famílias conservadoras daquele país. O marido que posa de cidadão exemplar na verdade despreza sua esposa e esconde seus desejos sexuais mais inconfessáveis. A esposa é infiel, sem conteúdo, rasa, vazia, materialista e tola. Um retrato demolidor de um modelo que nos anos 1960 vinha abaixo.

"Reflections in a Golden Eye" foi baseado na obra da escritora Carson McCullers, uma autora que não tinha receio de tocar nas feridas mais profundas da América. Aqui ao lado de Huston, Liz Taylor e Marlon Brando, ela finalmente encontrou a transposição perfeita de sua obra para as telas de cinema. Em conclusão, "O Pecado de Todos Nós" é uma produção nada confortável e nem amenizadora. No fundo é um retrato controvertido que coloca na berlinda alguns dos pilares mais prezados pelos conservadores americanos. Não deixe de assistir.

O Pecado de Todos Nós (Reflections in a Golden Eye, Estados Unidos, 1967) Direção: John Huston / Roteiro: Chapman Mortimer, Gladys Hill baseados na obra "Reflections in a Golden Eye" de Carson McCullers / Elenco: Elizabeth Taylor, Marlon Brando, Brian Keith, Julie Harris / Sinopse: O Major do exército americano Weldon Penderton (Marlon Brando) se torna obcecado por um jovem soldado da tropa que ele vê nu, cavalgando no bosque. Com fortes inclinações homossexuais, ele não consegue mais conter seus desejos ao mesmo tempo em que negligencia sua esposa Leonora (Elizabeth Taylor), uma dona de casa vazia e fútil, em um casamento de aparências, de fachada.

Pablo Aluísio.