quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Mensagem de Jesus e a Intolerância Religiosa

A Mensagem de Jesus e a Intolerância Religiosa
Devemos respeitar todas as religiões e suas doutrinas, caso contrário tudo o que nos tornaremos é mais um na longa fila dos intolerantes religiosos. Se você quer expor seu pensamento sobre Deus, ótimo, você é livre para isso, mesmo que sua doutrina religiosa seja diferente da minha. Agora tudo se deturpa quando você começa a apenas atacar as outras crenças. A fé em Deus é algo pessoal, bem  subjetivo. No final é algo entre Deus e a pessoa. Cada um encontra seu caminho até chegar a Deus e se esse caminho é diferente do seu, não significa que você deve ofender as escolhas de cada um. A intolerância religiosa nasce quando alguém não aceita que as pessoas tenham sua própria religiosidade. A humilhação e a ridicularização são formas de intolerância religiosa. Repense suas posturas. Você poderia estar passando seu ponto de vista de um modo equilibrado, racional. Não seja mais um pregador de ódio contra os que pensam diferente de você! O ódio é o oposto do amor e Jesus pregou o amor. Quem prega o ódio contra a religião alheia não está obviamente seguindo a mensagem de Jesus que era acima de tudo de puro amor.

Deus não olha pequenas divergências de doutrina religiosa, Deus olha o coração de cada um. Um católico pode ser salvo, assim como um evangélico, um judeu, etc. Se essas pessoas forem puras de coração e sua ligação com Deus for sincera ela será salva. Não será por causa de picuinhas doutrinárias religiosas (muitas delas criadas pelos homens apenas) que alguém perderá a salvação. Detalhes de doutrinas são secundárias, Jesus deixou isso bem claro. Veja no evangelho. Ao ver que alguns judeus estavam preocupados em violar uma lei que dizia que não se deveria consumir certos alimentos em determinados dias da semana, que isso causaria a impureza da alma desses homens, Jesus disse: O que torna impuro o homem não é o que entra pela sua boca (os alimentos em questão), mas sim o que sai de sua boca (as ofensas aos outros, por exemplo).

Você acha que entre bilhões de pessoas no mundo, cada qual com sua própria cultura e religião, ninguém seria salvo apenas por questões doutrinárias secundárias? Os justos e puros de coração serão salvos pela misericórdia de Deus. Esse é ensinamento de Jesus de Nazaré. A condenação da alma apenas por pequenos detalhes religiosos é sem sentido. Esse tipo de pensamento é absurdo. Deus não punirá e nem condenará ninguém por causa desse tipo de questão. O que valerá no final é a pureza do coração em cada um. Esse é o pensamento que Jesus deixou bem claro em sua mensagem. Por isso te digo, se estão saindo coisas impuras da sua boca (como disse Jesus), isso não será bom para você no juízo. Repense e leia a palavra do Filho do Homem. Entenda bem o que ele quis passar. Reavalie a forma como você está agindo. Não condene a maneira de pensar diferente do seu irmão. Ele segue outra religião? Essa é uma escolha dele, apenas dele.

Apenas fique atento e procure evitar seguir aqueles que transformam a pregação em uma bandeira de ódio contra os outros, contra os que professam outro tipo de fé! Uma conduta negativa nada tem a ver com a mensagem do Cristo. E qual é a sua conduta? A de ofender outras formas de religião! Isso seria de acordo com Deus? Jamais! Jesus veio para divulgar a boa nova e a boa nova é o amor, a tolerância e a misericórdia. O católico deve considerar o evangélico seu irmão, assim como o judeu, o seguidor de religiões afro, os espíritas, os mórmons, as testemunhas de Jeová, os budistas! Qualquer pessoa religiosa merece respeito, acima de tudo! Jesus disse que na casa de seu Pai havia muitas moradas. Esse é o grande exemplo do cristianismo, o acolhimento de todos. O Nazareno deixou claro que a cortina do templo da antiga proposta religiosa (que só aceitava os seguidores da vertente religiosa judaica) estava rasgada com sua ressurreição. Se você ainda não entendeu isso, certamente não entendeu a verdadeira mensagem de Jesus de Nazaré. A mensagem de Jesus é para todos os homens, independente de suas religiões. Jesus veio para todos.

A ofensa e a perseguição contra outras religiões é algo absolutamente negativo e isso definitivamente não parte de Deus. Devemos amar todas as maneiras e expressões religiosas no mundo. Isso é positivo. Ofender, não. Como disse Jesus o que realmente torna impuro o homem é o que sai de sua boca. Eis o problema. Se você deseja mesmo seguir o exemplo do Filho do Homem é importante entender sua mensagem. Faço parte de uma comunidade católica e sou muito feliz na minha religião. Claro que sei que existem muitas outras religiosidades pelo mundo afora, mas procuramos respeitar todas elas, todas! O Papa Francisco sempre deixa isso bem claro em suas pregações. Trate aquele que professa outra fé como a um verdadeiro irmão. Talvez esse seja o grande segredo do sucesso do catolicismo pelo mundo inteiro, a sempre disposição de ajudar, de ser um braço amigo e fraterno.

A tolerância religiosa nos aproxima de Deus, nos tornam pessoas melhores. Esse tipo de postura não faz parte apenas da doutrina religiosa católica, mas das obras dos grandes filósofos clássicos da Grécia e de Roma. Aliás os grandes textos filosóficos clássicos da antiguidade só chegaram ao nosso conhecimento por causa dos mosteiros católicos espalhados por toda a Europa. Os monges copistas preservaram esse grande legado cultural. Não é à toa que na visita do Papa Francisco aos Estados Unidos o Presidente Obama disse em discurso que a Igreja Católica foi um dos mais importantes pilares da fundação da civilização. Ele tinha toda a razão.

Essa é a grande lição dessa mensagem. O próprio Jesus, se formos pensar bem, foi morto justamente por causa da intolerância religiosa. Sua mensagem era revolucionária, ia contra a visão tradicional da época. A forma de pensar de Jesus foi combatida com violência e ele foi crucificado. Quando você se torna intolerante religioso você pensa igualmente aos que mataram Jesus. Ser um intolerante faz de você uma pessoa que está colocando Jesus de novo na cruz! É isso o que você deseja ser? Claro que não! Quando geralmente encontro alguém cheio de ódio no coração tento deixar uma palavra de paz, de amor e de compreensão. Jesus deixou palavras de amor, seu mandamento é puro amor - amar uns aos outros como eu os amei - tão simples! Infelizmente as pessoas ainda preferem encher o coração de ódio ao invés de amor. Odiar o que pensa diferente, o que segue outra vertente religiosa. Isso não o levará perante Deus. De qualquer forma, fazendo um trabalho de formiguinha tento espalhar a mensagem pura do Nazareno que foi acima de tudo o amor ao próximo.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Papa Paulo III

O cardeal Alessandro Farnese se tornou o Papa Paulo III em outubro de 1534, pouco tempo após o assassinato de Clemente VII, seu antecessor. Alessandro era um velho cardeal na ocasião, muito bem relacionado nos bastidores do alto clero do Vaticano. Romano de nascimento, ele conhecia toda a cúpula da Igreja Católica na intimidade. Ao subir no trono de Pedro, Farnese precisou lidar com alguns aspectos negativos que envolviam sua biografia no passado. Uma delas era o fato de ter sido muito próximo do corrupto Papa Alexandre VI. Muitos cronistas diziam que a ascensão desse Papa representava a subida novamente ao poder do grupo que cercava o Papa Bórgia.

Outro problema é que Alessandro Farnese tinha filhos! Ele formou uma família enquanto era cardeal, isso em uma época em que o celibato já era regra oficial da Igreja. Ele tinha quatro filhos com uma nobre chamada Silvia Ruffini. Todos eles eram bem conhecidos em Roma e de certa maneira a notícia de que o novo Papa era realmente pai de família não chocou muito as pessoas da época, pois isso era de certa maneira notório dentro daquela sociedade. O celibato ainda era contestado por vários membros do clero, muitos alegavam que não havia base bíblica para essa norma. Curiosamente os escritos de Paulo (ao qual o nome do novo Papa se inspirava) tinham servido de fundamento para os defensores do celibato clerical.

Os problemas de sua vida pessoal porém pareciam menores diante da crise que a Igreja vinha passando. O avanço do protestantismo começava a preocupar os líderes da Igreja Católica. Os papas anteriores não tinham se empenhado muito em deter esse avanço, mas Paulo III chegara na conclusão que a coisa toda havia saído do controle. Durante mil e quinhentos anos o cristianismo havia sido unido sob a bandeira do Vaticano. Era uma igreja única. Com as publicações de Martinho Lutero várias novas igrejas iam surgindo nas mais diversas sociedades da Europa. Mal um novo monarca subia ao trono e logo ele rompia com o catolicismo, criando sua própria igreja. Foi o que fez o Rei inglês Henrique VIII. Com a recusa do Papa Clemente VII em lhe dar o divórcio ele resolveu romper com Roma. Expulsou os membros do clero católico do país e fundou sua própria igreja, a Anglicana. Casou-se com sua amante Ana Bolena e acabou sendo excomungado justamente por Paulo III que o declarou herege, adúltero e pecador.

Para combater o avanço do pensamento Luterano pela Europa, Paulo III também tomou outras providências, dando início ao que ficou conhecido como Contra-Reforma, uma série de medidas que visavam parar a reforma protestante pelo continente. Uma dessas medidas foi a implantação da terrível inquisição que visava julgar e condenar todos os hereges da fé católica. Sob essa bandeira muitos foram mortos em fogueiras por toda a Europa. Paulo III também promoveu e incentivou a fundação da Companhia de Jesus, criada por Inácio de Loyola em 1540.

De certa maneira Paulo III foi um Papa contraditório. Ao mesmo tempo em que ele autorizou coisas terríveis como a inquisição ibérica, também foi um patrono das artes, servindo de Mecenas para que Michelangelo pintasse uma de suas maiores obras primas, o juízo final no altar da Capela Sistina. Também se mostrou muito humanista ao escrever e defender os direitos dos povos nativos das recentes colônias espanholas e portuguesas no novo mundo. Em 1545 também promoveu outra de suas grandes obras, a convocação do Concílio de Trento, que iria mudar a Igreja para sempre. Tudo porém acabou ruindo da noite para o dia. Um de seus filhos foi assassinado por causa de intrigas palacianas e brigas por direitos sucessórios. A morte dele arrasou o Papa. Ele nunca mais conseguiu ser o mesmo. Ao entrar em depressão acabou sofrendo um colapso do coração, pois já estava em idade avançada, com 81 anos. Depois de sua morte ele foi enterrado na Basílica de São Pedro, como havia se tornado tradição no século XVI.

Pablo Aluísio.

O Deus dos Judeus e o Deus dos Cristãos

Esse é um aspecto polêmico, mas vale a reflexão. Antes de mais nada é importante frisar que estou nesse texto tratando de um aspecto teológico, ou seja, não é minha intenção criticar qualquer tipo de crença ou fé alheia. Dito isso vamos para a análise. A primeira é uma afirmação que não está livre de controvérsias. O Deus dos judeus não é o mesmo Deus dos cristãos. O Deus dos cristãos é Jesus. Jesus é Deus dentro da doutrina cristã. Deus se fez homem na figura de Jesus. O Deus dos  judeus é apenas Deus, o eterno. Os judeus não acreditam que Jesus era Deus. Não acreditam nem que ele era o Messias. Assim muitos confundem esse tema. Jesus por ser judeu seguia em parte as leis do judaísmo e tecnicamente o Deus que ele adorava seria o mesmo Deus dos cristãos. Será mesmo? Não se deve confundir as bases do Judaísmo com as bases do Cristianismo. O Judaísmo é uma religião, o Cristianismo é outra. As regras de uma doutrina religiosa não valem necessariamente para a outra. Nem o Deus de uma das religiões é o mesmo da outra. Duvida? Então vamos lá.

Quem acha que o Deus do Judaísmo é o mesmo do Cristianismo nunca refletiu muito a fundo sobre os fundamentos do próprio cristianismo. Teologia é importante, justamente por essa razão, é algo importante para a vida! Assim vamos expor as bases de cada religião aqui. Jesus é Deus na doutrina do cristianismo (católico e protestante). Para o Judaísmo Jesus não é Deus. Ele foi apenas um judeu que viveu no século I e que tinha sua própria visão religiosa. Nada mais do que isso. Se Jesus é Deus dentro do cristianismo e não é Deus dentro do judaísmo, logo chegamos na conclusão lógica que as duas grandes religiões do mundo ocidental não seguem a mesma divindade. O Deus de uma religião não é o mesmo Deus da outra religião.

Claro que existirão aqueles que dirão que o Deus que Jesus adorou foi o mesmo Deus do judaísmo tradicional. Isso porém vai até um determinado momento histórico. Com a morte de Jesus e a crença em sua ressurreição temos uma clara ruptura entre o Judaísmo tradicional e a nova religião que nascia. Uma expressão muito interessante que expressa isso diz que a cruz de Jesus rasgou a cortina do templo, ou seja, sua morte e ressurreição rompe definitivamente com as amarras e leis do velho Judaísmo tradicional. O próprio Jesus ao longo de sua vida pregou vários temas que fugiam ao que era imposto pelas autoridades do templo. Basta lembrar do evento em que ele disse "Que atire a primeira pedra quem nunca pecou!" ao impedir o apedrejamento de acordo com as leis judaicas ou então quando rompeu com uma velha tradição sobre o não consumo de alimentos por parte dos judeus em determinado dia da semana. Nesse dia Jesus disse: "O que torna impuro os homens não é que entra de sua boca, mas o que sai dela!".

Então o que vemos é um Jesus que não estava disposto a seguir cada detalhe secundário da doutrina do judaísmo, muito longe disso. E por parte das autoridades do templo ele tampouco era o Messias e para sustentar essa posição alegavam e traziam de volta as antigas profecias que diziam o que o verdadeiro Messias deveria fazer. Não há salvação nesse ponto. O cristianismo apresenta muitos laços históricos com o judaísmo, mas em termos de identificação as semelhanças logo param e param justamente na figura de Jesus, o Deus dos cristãos. A Trindade, por exemplo, algo tão vital na crença dos cristãos não é também aceita pelos judeus. As diferenças são enormes e não cabe aqui expor todas elas.

O Judaísmo tem seus dogmas, doutrinas religiosas e sistema de crenças próprios. O cristianismo também. Não são ambos idênticos e por essa razão não são a mesma religião. Por isso vejo com espanto quando algum líder religioso cristão levanta regras do velho Judaísmo para criticar outras vertentes do cristianismo. Do ponto de vista teológico isso não faz o menor sentido. Um exemplo vem da tão falada idolatria dos católicos em relação às imagens. Ora, essa é uma velha regra do Judaísmo que sequer deveria ser levada em conta dentro do cristianismo. Pior do que isso, os católicos não veneram imagens, como já bem expliquei aqui no blog. Mesmo que adorassem imagens, não haveria em si mesmo nenhum problema. O catolicismo tem seus próprios dogmas religiosos, suas próprias doutrinas. Não segue literalmente tudo o que o velho Judaísmo prega. Como um evangélico pode levantar uma regra do velho Judaísmo contra os católicos se os judeus sequer acreditam que Jesus é o Messias? Não faz muito sentido não é mesmo?

Além disso a ignorância impera em muitos setores. O idolatrismo condenado pelos judeus era bem outro. Primeiro só se referia a idólatras dentro do próprio Judaísmo e segundo que os textos antigos se referem a cultos de idolatria onde havia até mesmo sacríficios humanos de crianças. Quem pode comparar algo assim tão terrível com a arte sacra dos católicos? É simplesmente absurdo. Dessa forma fica então esses aspectos que levantei para pura reflexão. Pense sobre tudo o que leu e reflita sobre tudo o que eu escrevi.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Papa Júlio III

Foi um ato de coragem do cardeal Giovanni Maria Giocci adotar o nome Papal de Júlio III. Isso porque Júlio II havia sido um dos grandes Papas daquele século. Evocar o título Papal Júlio era realmente a prova que o cardeal Giocci queria nada mais do que a grandeza para seu pontificado. Ele subiu ao trono em novembro de 1549, no conclave que foi convocado após a morte do Papa Paulo III. O alto clero de Roma queria mudar alguns aspectos para o novo Papa. Era necessário escolher um sucessor não tão idoso como havia sido Paulo III e não tão jovem como Leão X (que se tornou Papa com apenas 37 anos de idade!).

O que eles procuravam então? Um homem de meia idade, culto, bem relacionado diplomaticamente e que tivesse poder dentro da cúria romana. Nenhum nome se encaixava melhor nesse perfil do que Giocci. Assim que assumiu ele percebeu que o velho problema da cisão do Cristianismo continuava na Europa. Monarcas estavam fundando suas próprias igrejas protestantes, muitas delas controladas por protegidos da nobreza, pessoas sem qualquer qualificação religiosa que só queriam explorar os fiéis. Roma estava apreensiva com essa situação.

Júlio III enquanto cardeal foi um homem de confiança do Papa Paulo III. Muitos diziam que ele era seu braço direito. Assim não houve mudanças significativas no rumo da Igreja durante seu pontificado. O novo Papa se dedicou a completar tudo o que havia começado na gestão de Paulo III, entre eles o desenvolvimento do Concílio de Trento. Essa reunião de mestres e estudiosos católicos tinha sido inaugurada por Giocci quando ele era cardeal. Foi dele a incumbência de fazer as orações iniciais do Concílio e agora como Papa as discussões teológicas deveriam seguir em frente.

As teses de Martinho Lutero foram debatidas durante o Concílio e rejeitadas. Houve uma preocupação especial de Júlio III com os seminários católicos ao redor do mundo. Ele temia influências por parte dos reformistas nas mentes dos jovens estudantes. Por isso reforçou os colégios eclesiásticos, em especial da Alemanha e de Roma. Ajudou a elaborar os estatutos dos jesuítas, considerados essenciais para a Igreja Católica naquele momento delicado. Também fortaleceu a doutrina católica, evitando que fosse contaminada pelas novas heresias vindas dos seguidores de Lutero.

No plano externo, em questões políticas, o Papa Júlio III se aliou a Maria Tudor, filha de Henrique VIII, que havia rompido com o catolicismo. Com a morte do rei o Papa viu a oportunidade de reorganizar a Igreja Católica na Inglaterra, algo em que alcançou certo êxito. Também procurou abrir diálogo com os protestantes alemães, pois apesar de haver discordâncias dogmáticas, as duas linhas de pensamento religioso eram cristãs, acima de tudo. O Papa porém não conseguiu ver suas obras concluídas. Seu papado foi relativamente breve. Após cinco anos no trono de Pedro ele morreu, vítima de gota, uma doença bem dolorosa, que o impedia de se deslocar por sua corte e seus domínios, algo que lhe trouxe fama de ser recluso e alheio ao povo católico da época.

Pablo Aluísio.

Papa Clemente VII

Depois da morte do Papa Adriano VI subiu ao trono mais um membro da família Médici. Júlio de Juliano de Médici, que se tornaria o papa Clemente VII, era bem diferente de Adriano. Enquanto esse vinha de origem humilde e subiu por suas próprias forças, Júlio era parte da rica aristocracia europeia, fazendo parte da elite rica (e corrupta) de Florença, uma das mais influentes e poderosas cidades estado da época. O interessante que Júlio Médici foi por anos um dos grandes conspiradores palacianos do Vaticano, sendo figura central na ascensão de vários Papas como Leão X (com o qual tinha parentesco) e Adriano VI, seu antecessor.

Sua subida na carreira eclesiástica foi fulminante. Em pouco tempo Júlio Médici saiu da posição de padre para arcebispo, bispo e cardeal. Praticamente toda a sua carreira foi formada em Florença, onde sua família exercia uma posição de grande proeminência. Depois de se tornar cardeal foi para Roma, onde com grande tradição política acabou se tornando uma figura central na subida e queda dos Papas da época. Dizia-se nos bastidores que Júlio Médici, muitas vezes, tinha mais poder e influência do que o próprio Papa.

Por essa razão era natural que um dia viesse a se tornar Papa também. E assim ele venceu de forma bem fácil a eleição para a sucessão de Adriano VI. Adotando o nome de Clemente VII ele logo entrou de forma decisiva no jogo político da época, nunca se furtando em se meter nos mais variados assuntos dos diferentes Estados cristãos. Foi seguramente um dos pontífices mais politiqueiros de toda a história. Não havia um só trono ou nação que não tivesse algum representante do Papa em sua corte, sempre jogando o xadrez político daqueles tempos.

Com tanto envolvimento na política da época, Clemente VII negligenciou o lado religioso de seu posto. Ao invés de estar envolvido em questões de fé, espirituais, Clemente parecia mais interessado em colocar monarcas que estivessem ao seu lado, destronando os que iam contra seus interesses. Tampouco quis saber do nascente movimento protestante. Clemente achava aquilo uma bobagem que iria passar, sumir com o tempo, por isso não deu ouvidos às críticas que eram feitas para a Igreja, ao invés disso passou a insistir em coisas erradas, como a venda de indulgências.

O fato histórico mais conhecido de seu papado foi o rompimento com o Rei inglês Henrique VIII. O monarca britânico queria se separar de sua primeira esposa, que não lhe dava um herdeiro homem, para se casar com Ana Bolena, que tinha fama de prostituta. O Papa recusou dar o divórcio a Henrique pois Catarina de Aragão, a Rainha, era uma devota católica fiel. A crise, sem solução, acabou levando ao rompimento de Londres com Roma. Henrique VIII expulsou os padres e membros católicos da Inglaterra, fundando sua própria Igreja, chamada Anglicana. O Papa Clemente VII morreu aos 56 anos de idade, após ser envenenado em sua refeição com um cogumelo venenoso. Quem o matou? Com tantos inimigos nas cortes europeias essa resposta acabou ficando sem resposta.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Papa Leão X

A morte do grande Papa Júlio II abriu um vácuo de poder em Roma. Seu sucessor teria que ser igualmente grandioso. As principais famílias nobres da Europa disputavam o trono de São Pedro na época. Ter um Papa em sua linhagem familiar era seguramente uma grande honra. Assim na disputa pela sucessão de Júlio II a poderosa, rica e influente família Médici se sagrou vitoriosa, dando o trono do Papado para um de seus membros: Giovanni di Lorenzo de' Medici que se tornou o Papa Leão X em março de 1513. Como membro de uma das famílias nobres mais ricas de toda a Europa, Giovanni cresceu recebendo a melhor educação possível para a época. Seus professores ao longo da vida eram mestres da filosofia, das artes e da política. Ele era em razão disso extremamente culto e um dos jovens mais preparados da Europa, tanto que se tornou Cardeal muito jovem ainda.

Esse Papa realmente tinha que ter um preparo intelectual fora do comum porque ele enfrentou um dos grandes desafios na história da Igreja Católica: o desmembramento da fé cristã. Durante séculos, por mil e quinhentos anos,  a Europa viveu unida apenas sob uma única fé: o catolicismo. Agora Leão X precisava enfrentar algo novo, impensável anos atrás. Um grupo de reformistas liderados por Martinho Lutero estava divulgando ideias por todo o continente que dariam origem à reforma protestante. Os reformistas denunciavam a corrupção na cúpula da Igreja Católica e propunham uma reforma radical em seus dogmas, ritos e crenças. A Igreja já havia enfrentado muitos problemas antes, inclusive com invasões de exércitos brutais em seus domínios, mas jamais havia enfrentado uma guerra no mundo da teologia, das ideias religiosas.

Leão X foi um dos papas mais jovens da história. Ele subiu ao poder no Vaticano com apenas 37 anos de idade! Isso aliado aos desafios que tinha que enfrentar colocava em risco os rumos da poderosa Igreja Católica. Assim que assumiu o jovem Papa precisou enfrentar o fracasso do quinto Concílio de Latrão que foi reunido para trazer inovações para a Igreja, mas que concretamente fez muito pouco. Em pouco tempo se chegou na conclusão que havia sido um fracasso teológico. Os problemas porém iam além dos meros fracassos internos. O mundo cristão ocidental estava ameaçado pelo avanço dos guerreiros muçulmanos. O poderoso império Otomano estava prestes a invadir a cristã Hungria, ameaçando invadir a Europa Ocidental. Leão X então precisou reunir todos os grandes monarcas europeus para que eles organizassem seus exércitos para combater os islâmicos antes que fosse tarde demais. Planos para uma grande cruzada foram elaborados, porém no final o Papa conseguiu respirar aliviado ao perceber que os exércitos húngaros tinham conseguido destruir os exércitos invasores do Islã.

Outra crise, essa de natureza doméstica, perturbava a paz de Leão X. Em sua época a península itálica ainda não formava um único Estado (o que futuramente aconteceria com a fundação da Itália). Assim existiam várias cidades-estados, tais como Milão, Nápoles, Veneza, etc, sempre brigando entre si. Leão X exercia assim uma posição de árbitro no meio de tantos conflitos, algo que o desgastou enormemente. Dois porém foram grandes legados do Papa Leão X. O primeiro dizia respeito à escravidão. O Papa condenou publicamente o tráfico de negros para serem usados como mão de obra escrava nas colônias americanas. Para o Papa isso era um completo absurdo. Outra inovação veio do direito canônico pois o Papa Leão X promoveu mudanças para evitar que os postos de cardeais fossem ocupados apenas por fatores puramente políticos. Para ser cardeal agora era necessário passar por anos e anos de dedicação eclesiástica. Ironicamente o Papa Leão X encerrava um modelo que de certo modo havia lhe favorecido no passado. Depois de muitas lutas internas e externas, de política e teologia, o Papa morreu de forma repentina em dezembro de 1521, com apenas 45 anos de idade, o que despertou suspeitas de que ele teria sido envenenado. Algo que nunca foi historicamente confirmado.

Pablo Aluísio.

Papa Adriano VI

O Papa Adriano VI, que sucedeu Leão X, herdou um mundo cristão dividido. O protestantismo estava se espalhando em países do norte da Europa, muitas vezes apoiados por monarcas que tinham problemas políticos com a Igreja Católica. O curioso é que inicialmente o reformador Martinho Lutero queria a fundação de uma Igreja Evangélica unida, única, mas isso de fato não aconteceu. Cada príncipe, cada monarca europeu, cada Rei e Rainha, promoveu a fundação de igrejas subordinadas a eles, com dogmas religiosos que lhes agradavam e nada mais. O cristianismo assim passava por uma verdadeira anarquia religiosa promovida pelas monarquias europeias.

Adriano Floriszoon Boeyens, o Papa Adriano VI, era alemão de nascimento. Ele tinha origem humilde, filho de um simples marceneiro e uma dona de casa. Pessoas simples de sua cidade natal, Utrecht. O jovem porém demonstrava ter vocação para o estudo. Por isso seu pai o incentivou a investir numa vida acadêmica, ter educação formal, algo que lhe faltou. Patrocinado pela Marquesa de Borgonha ele fez dos estudos sua vida. Entrou na universidade e se formou em teologia, filosofia e direito canônico. Era um estudante disciplinado, dedicado e fervoroso amigo do saber. Desde cedo se destacou entre os colegas justamente por essas características.

A Igreja Católica mantinha as melhores universidades da época e assim a vida religiosa passou a ser um passo natural em sua vida. Quando se formou se tornou professor dos filhos da alta nobreza, educando os filhos do imperador Maximiliano I. Era um homem erudito, culto e muito respeitado. Justamente o tipo que o Papa Leão X - ele também um erudito - queria ao seu lado em Roma. Assim Adriano foi chamado para o Vaticano e lá se tornou Cardeal, por seus méritos próprios. Não tinha origem aristocrática, mas soube-se fazer sozinho com dedicação e luta no mundo dos estudos. Foi recompensado por isso.

Quando Leão X morreu uma parte dos cardeais queria a eleição de seu primo, também da família Médici, para o trono de Pedro. Dois terços dos cardeais porém formaram um bloco de oposição e resolveram apoiar Adriano, por ser um homem culto, de origem humilde, que não tinha laços com famílias ricas como os Médicis. Assim Adriano foi eleito Papa em 1522, quando curiosamente ele não se encontrava em Roma. Só depois voltou para a cidade, já eleito Papa pelos membros da Cúria Romana. Tinha 63 anos, uma idade considerada avançada para a época pois a expectativa de vida não ia muito além disso.

Como Papa, Adriano VI tentou lutar contra a corrupção na alta cúpula da Igreja Católica. Combateu as indulgências e promoveu reformas éticas em Roma. Como era alemão, com hábitos diferentes e cultura estrangeira, não conseguiu ganhar a confiança do povo romano, apesar de suas medidas de limpeza da Cúria romana. Era considerado um homem duro, de gestos firmes, não condizentes com o que o rebanho estava acostumado. No trato político era austero, o que lhe criou problemas com a nobreza europeia. Também, para muitos historiadores, não levou muito à sério a Reforma Protestante, achando equivocadamente que ela não iria muito longe e que não prosperaria. Infelizmente, como já era uma pessoa idosa para os padrões do século XVI, não ficou muito tempo como Papa, Após um ano de sua subida ao trono morreu no Vaticano. Foi um dos mais breves papados da história. Um outro Papa alemão demoraria a subir novamente ao poder depois de sua morte.

Pablo Aluísio.

domingo, 12 de junho de 2011

Lutero e o Nazismo

Que ligação poderia haver entre o pai do protestantismo, Martinho Lutero, e o Nazismo que varreu a Europa no século XX? Segundo o historiador Robert Michael as fontes do sentimento nazista possuem uma ligação incômoda com textos que Lutero deixou. Já é consenso que Lutero era profundamente antissemita. Ele odiava judeus em geral e não parecia esconder esse fato. Pior do que isso, escrevia sobre sua ódio para o que ele considerava ser "O povo do diabo". 

Nos últimos anos de sua vida escreveu: "A Alemanha deve ficar livre de judeus, aos quais após serem expulsos, devem ser despojados de todo dinheiro e joias, prata e ouro. Que sejam incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e destruídas." O texto choca pela violência verbal, porém essas frases não foram escritas por um membro do partido nazista, mas sim por Lutero!

Três anos antes de morrer Lutero defendeu a tese de que o povo judeu não era mais o escolhido por Deus. Não era mais o povo eleito pelo Senhor, mas sim o povo do diabo. Chocante demais? Agora veja que ele foi além, muito além, ao escrever que "A sinagoga é como uma prostituta incorrigível e uma devassa maléfica. Os judeus estão cheios das fezes do demônio, nas quais se rebolam como porcos". Sua retórica agressiva e humilhante seria vista nos dias de hoje como um crime de ódio. Em determinado momento chegou a escrever: "A culpa é nossa, por não termos matado todos eles".

Seus textos intolerantes criaram inúmeros problemas por toda a Alemanha. Na Saxônia houve tumultos e mortes. Em Brandenburg e na Silésia houve inúmeras perseguições promovidas por protestantes contra judeus em sinagogas e nas ruas. Uma coisa tenebrosa. Em Estrasburgo os textos antissemitas de Lutero foram proibidos, mas os conflitos continuaram quando um pastor luterano incentivou seus paroquianos a matarem todos os judeus que encontrassem pela frente! Algo terrível. Apesar de combatido o pensamento infame de Lutero contra os judeus persistiu, chegando ao século XX quando subiu ao poder na Alemanha os Nazistas.

Assim como havia escrito Lutero, os membros do Partido Nazista também declaravam abertamente o ódio aos judeus e pregavam seu extermínio físico. Isso levou o Pastor Wilhelm Rehm de Reutlingen a declarar em 1933 que o Nazismo não teria surgido se Lutero não tivesse plantado o ódio antissemita na Alemanha em sua época. Julius Streicher, editor do jornal Nazista Der Stürmer, foi mais longe e escreveu que "nunca havia dito nada sobre os judeus que Martinho Lutero não tivesse dito 400 anos antes." A questão foi resumida pelo historiador William L. Shirer que declarou:“O grande fundador do protestantismo não foi só antissemita apaixonado como feroz defensor da obediência absoluta à autoridade política alemã. Desejava a Alemanha livre de judeus!"

Pablo Aluísio.