terça-feira, 18 de janeiro de 2005

Elvis Presley - Separate Ways (1973)

O vinil "Separate Ways" de 1973 é outro disco do selo RCA Camden que trazia como carro chefe duas canções retiradas de singles recentes, misturadas com músicas de filmes e canções dos anos 60. Tudo feito sem muito critério, a não ser faturar facilmente com o nome de Elvis Presley. Era uma tática do Coronel Parker cujo lema era "vender a mesma coisa duas vezes!". Foi assim que o empresário fez sua fortuna. Muitas vezes apenas pegava velhas canções, mandava criar belas capas e as colocava de novo no mercado. Ao melhor estilo "se colar, colou", Parker e a RCA ganhavam mais dinheiro em cima do carisma do cantor, e o que era melhor, em dobro, obviamente. A seguir analisamos as canções desse álbum.

1. Separate Ways (Richard Mainegra / Red West) - Igualmente sentimental e igualmente declarativa de seus pensamentos era a música "Separate Ways". A imagem que vinha das palavras que significavam "caminhos separados" também era bem clara e óbvia. O pedido de divórcio, o abandono de Elvis por parte de Priscilla e principalmente sua traição com o amante Mike Stone pegaram o rockstar de jeito, jogando sua auto estima e seu ego no chão. De repente Elvis, que era considerado o homem perfeito por praticamente todas as mulheres, descobria que havia sido trocado pelo amante de sua esposa. Pior do que isso, a traição partia da mulher que ele mais amava, Priscilla. Foi algo realmente complicado de superar (aliás Elvis nunca superou isso, verdade seja dita). Em "Separate Ways" Elvis cantava versos como: "Não há mais nada a fazer do que seguir nossos caminhos separados / E juntar os pedaços que ficaram para trás / E talvez um dia, em algum lugar, durante a caminhada / Outro amor nos encontrará". A capa desse disco trazia Elvis com os dois pés em caminhos diferentes. Na época e até hoje em dia muitos dizem ser uma das capas mais cafonas da discografia de Elvis. Eu penso um pouco diferente. Reconheço que a capa não é uma maravilha, não é Da Vinci, porém tem lá seu charme setentista, algo até bem marcante, reconhecível de imediato por qualquer colecionador. Em "Separate Ways" Elvis cantava versos como: "Não há mais nada a fazer do que seguir nossos caminhos separados / E juntar os pedaços que ficaram para trás / E talvez um dia, em algum lugar, durante a caminhada / Outro amor nos encontrará". A capa desse disco trazia Elvis com os dois pés em caminhos diferentes. Na época e até hoje em dia muitos dizem ser uma das capas mais cafonas da discografia de Elvis. Eu penso um pouco diferente. Reconheço que a capa não é uma maravilha, não é Da Vinci, porém tem lá seu charme setentista, algo até bem marcante, reconhecível de imediato por qualquer colecionador

2. Sentimental Me (Jimmy Cassin / Jim Morehead) - "Sentimental Me" é outra bela balada romântica. Essa é do disco "Something For Everybody", um disco que não canso de dizer, capturou a voz de Elvis em um momento especial, quando ele adotou um estilo mais suave de cantar, numa espécie de versão branca de Nat King Cole. Todas as faixas desse disco, inclusive às que pertenciam a outros gêneros (como rock e pop) foram beneficiadas por esse tipo de performance vocal. Por ser tão bela e lindamente vocalizada, a RCA resolveu lançá-la novamente, só que nesse disco de 1972, "Separate Ways". Também tinha algo a ver com o momento em que ele passava, uma vez que a canção era bem sentimental, puro coração e emoção.
   
3. In My Way (Ben Weisman / Fred Wise) - O álbum "Separate Ways" segue com mais algumas músicas de trilhas sonoras que foram lançadas nos anos 60. Afinal esse disco, é impossível negar, foi uma colcha de retalhos para lucrar em cima do mercado de discos promocionais, que geralmente custavam a metade do preço dos discos oficiais. Por essa razão a RCA Victor colocou várias reprises nos lados A e B do vinil. Uma forma de faturar sem custos de produção. "In My Way" foi retirada da trilha sonora do filme "Wild in the Country" ("Coração Rebelde" no Brasil). Esse filme não fez muito sucesso entre os fãs de Elvis na época porque tinha um roteiro mais dramático, com poucas músicas. Elvis queria avançar em sua carreira de ator, provando que sabia atuar bem também em dramas. O problema é que os fãs não gostaram, acharam o filme parado e chato, só quebrando sua monotonia quando Elvis surgia em cena com seu violão para dar uma canja entre uma cena e outra. Como essa produção não fez sucesso de bilheteria, o Coronel Parker acabou convencendo Elvis a se resumir em suas comédias românticas musicais (como "Feitiço Havaiano"). Esses filmes sim faziam sucesso nos cinemas, vendendo discos com suas trilhas sonoras. Era um sucesso duplo impossível de ignorar.

4. I Met Her Today (Hal Blair / Don Robertson) - Tirando esse lado comercial de lado, não é que havia boas músicas por aqui! Algumas belas músicas românticas que chegavam nas mãos dos colecionadores mais jovens, que não tinham acesso aos lançamentos originais. Uma dessas belas baladas era a romântica "I Met Her Today" de Don Robertson. Essa música nunca encontrou um lugar adequado dentro da discografia oficial de Elvis Presley. Apesar de ser uma bela composição de Robertson e contar com uma preciosa performance de Elvis, ela foi literalmente sendo encaixada aqui e acolá, em álbuns que não passavam de colchas de retalhos sonoros. Uma pena. Merecia melhor sorte por sua qualidade artística.   

5. What Now, What Next, Where To? (Hal Blair / Don Robertson) - Outra de Robertson era a elegante e agradável "What Now, What Next, Where To?". Outra que ficou no vácuo por anos e anos a fio, sem que a RCA Victor a lançasse adequadamente. Ela foi gravada em maio de 1963 quando a própria RCA se questionava se o lançamento de tantas trilhas sonoras, uma atrás da outra, era de fato algo bom para a discografia de seu artista contratado. Meio às pressas, Elvis foi levado até Nashville para a gravação de músicas que não fizessem parte de nenhuma trilha de filme. O resultado foi muito bom, mas a RCA desistiu de editar um disco com as gravações, as deixando arquivadas por muitos anos. Essa música fez parte desse pacote. Uma belo momento que foi empoeirado por erros administrativos da gravadora de Elvis na época.

6. Always on My Mind (Johnny Christopher / Mark James / Wayne Carson) - A grande canção desse álbum sem sombra de dúvidas é "Always on My Mind". Essa música é certamente muito conhecida nos dias de hoje, um grande sucesso de Elvis. Só que na época (estamos falando de 1972) não houve essa repercussão toda em seu lançamento. Mais do que isso, a gravação passou praticamente despercebida, como um mero Lado B qualquer de single. Aliás a canção só iria se tornar um hit após a morte de Elvis, nos anos 80. Escrita pelo trio Johnny Christopher, Mark James e Wayne Carson, a faixa era obviamente uma declaração de arrependimento por parte de Elvis para sua ex-esposa Priscilla. Também era uma declaração de amor, afirmando que ele não a esquecera em nenhum momento e que reconhecia seus erros em seu casamento. Ele basicamente dizia que agora, com o fim do casamento, entendia que não a havia tratado bem, como deveria e que havia falhado como marido e homem. Além disso deixava claro que ela estava sempre em sua mente. Versos como esses deixam isso bem claro: "Talvez eu não tenha lhe tratado tão bem quanto deveria / Talvez eu não tenha te amado tanto quanto eu poderia / Pequenas coisas que eu deveria ter dito e feito / Eu simplesmente nunca encontrei tempo / Se eu te fiz sentir-se em segundo lugar / Garota, eu sinto muito, eu estava cego!". Priscilla obviamente entendeu tudo o que Elvis queria dizer, a tal ponto que elegeu a música para ser o tema principal da série baseada em seu livro autobiográfico "Elvis e Eu". O ciclo assim se fechava.

7. I Slipped, I Stumbled, I Fell (Ben Weisman / Fred Wise) - O público conhecia "I Slipped, I Stumbled, I Fell" do álbum "Something For Everybody" de 1961. Esse foi um belo disco com o nome de Elvis, um lançamento que fez sucesso e que tinha uma excelente qualidade artística. A voz de Elvis estava em um ótimo momento naquela época, com interpretações suaves e elegantes, que ficaram na memória dos fãs. O curioso é que apesar de ser um dos destaques daquele excelente LP, essa faixa havia sido gravada mesmo para fazer parte do filme "Coração Rebelde" (Wild in the Country). Ela foi composta pela dupla Ben Weisman e Fred Wise, compositores bem recorrentes da época em que Elvis estava em Hollywood, estrelando seus filmes em ritmo industrial.

8. It Is So Strange (Faron Young) -  "It Is So Strange" também é dos anos 50. Essa bela balada nunca foi bem aproveitada na discografia de Elvis, a tal ponto que ela só ganhou um melhor espaço quando foi lançada como faixa "tapa buraco" na coletânea "A Date With Elvis" de 1959. Aquele disco mesmo em que Elvis está com uniforme militar na capa, olhando para trás, no volante de seu novo Cadillac. A gravação foi realizada em 1957. Naquele mesmo ano ela chegou aos fãs pela primeira vez no compacto duplo "Just for You". Depois disso foi arquivada e praticamente esquecida. Uma pena. Gosto bastante dessa melodia e arranjos. Perceba que a forma de tocar a guitarra de Scotty Moore se tornaria uma marca registrada dos 50´s, dos chamados anos dourados. É um estilo muito bonito de se ouvir.

9. Forget Me Never (Ben Weisman / Fred Wise) - Outra música da trilha de "Coração Rebelde" colocada nesse álbum foi "Forget Me Never". Aliás é bom de se dizer que tanto essa como "In My Way" foram compostas pela mesma dupla: Ben Weisman e Fred Wise, que se especializaram em compor músicas para os filmes de Elvis em Hollywood. As duas canções também apresentam arranjos bem semelhantes, basicamente Elvis e violão, sem muitos instrumentos de apoio dentro do estúdio. São baladas românticas até bonitas, mas com singeleza em demasia, o que as rapidamente as levaram ao esquecimento.

10. Old Shep (Red Foley) - "Old Shep" já era uma velha canção quando Elvis resolveu gravá-la nos anos 50. É interessante porque apesar de Elvis ser naquele momento (estamos falando de 1956) o roqueiro número 1 do mundo, ele escolheu gravar em seu novo álbum essa baladinha chorosa, feita especialmente para as crianças. Era algo fora de rota, sem dúvida. Porém Elvis tinha uma ligação emocional com a música, quando a cantou pela primeira vez em público. Ele era apenas um garotinho numa competição de calouros. O fato de a cantar naquele momento de sua vida o marcou para sempre. Gravá-la em estúdio muitos anos depois foi uma espécie de homenagem nostálgica aos seus tempos de infância.

Elvis Presley - Separate Ways (Estados Unidos, 1973) - Elvis Presley (vocal e piano) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Glen Spreen (Orgão) / Charlie McCoy (orgão, harmônica e percussão) / The Imperials (vocais) / June Page, Millie Kirkham, Temple Riser e Ginger Holladay (Vocais) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / DJ Fontana (bateria) / The Jordanaires (vocais) / Data de Lançamento: Janeiro de 1973.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - He Touched Me (1972)

"He Touched Me" foi o terceiro e último álbum gospel da carreira de Elvis Presley. Lançado em 1972 o disco foi premiado com o prêmio Grammy na categoria gospel, de álbuns religiosos,  ainda naquele ano. Apesar de laureado pela academia musical "He Touched Me" não se tornou uma unanimidade entre os especialistas. Ao contrário dos discos evangélicos anteriores de Elvis, esse não foi gravado em uma sessão exclusiva, mas sim no meio da maratona de maio de 1971, sendo completado meio que às pressas no mês seguinte em Nashville. Tanta correria e rapidez de certa forma acabaram prejudicando em parte o desenvolvimento do disco, cujo projeto deveria ter sido melhor trabalhado.

Um reflexo disso acabou aparecendo depois quando todos o ouviram pela primeira vez. Por causa da correria em finalizar o LP o produtor Felton Jarvis não conseguiu providenciar um arranjo mais original para as faixas do disco. Dessa forma quando surgiu nas lojas, alguns críticos de música dos EUA foram quase unânimes em acusar o disco de simplesmente copiar linha a linha o arranjo e as harmonias das gravações originais. De certa forma havia razão por parte dos jornalistas e da crítica em geral. "He Touched Me" sofre bastante nesse aspecto. A impressão que nos passa é que realmente tudo foi gravado na pressa de finalizar o número de canções planejadas a tempo. Também pudera, Elvis vinha cumprindo uma extensa e apertada agenda de shows e temporadas ao vivo que acabavam sendo incompatíveis com as chamadas maratonas de gravação, como essa de 1971, praticamente a última grande sessão em estúdio da carreira de Elvis.

O álbum é puxado pela faixa título, na realidade um sucesso gospel de Bill Gaither, famoso compositor, músico e pregador americano. A canção é um spiritual ideal para o grupo The Imperials brilhar. O cantor por sua vez deve ter se sentido muito bem gravando essa faixa, pois ela foi escrita especificamente para ser executada por um quarteto gospel e não era segredo para ninguém que um dos maiores sonhos de Elvis era justamente esse, participar como vocalista de um grupo como o The Imperials (aqui brilhantemente o acompanhando). "I´ve Got a Confidence", a faixa seguinte, demonstra a falta de um trabalho mais consistente de arranjo. A música mais parece uma jam session descompromissada.

Os grandes destaques do álbum realmente são as faixas "Amazing Grace" (clássico absoluto do repertório gospel americano, aqui muito bem executado por Elvis e seu grupo feminino de apoio), "Bossom Of Abraham" (com seu balanço que não deixa margens de dúvidas de onde proveio o Rock n Roll em suas origens) e "I, John" (que acabou ganhando uma divertida cena no documentário "Elvis On Tour"). Enfim, "He Touched Me" é um disco que tem belos méritos e se peca por não ter sido muito original em seus arranjos se redime pela intensa dedicação de Elvis em dar o melhor de si nas músicas. De qualquer maneira não deixa de ser também um marco em sua discografia. Um álbum que deve estar presente em toda coleção do cantor que se preze. Vamos tecer comentários sobre cada música, a seguir.

01. He Touched Me (William J. Gaither) - "He Touched Me", a música que dá título ao álbum, foi um lançamento original de Bill Gaither em 1963. Porém a versão que fez Elvis efetivamente se interessar por ela foi outra, mais tardia, gravada pelo grupo vocal The Imperials. Elvis admirava bastante esse quarteto gospel, sempre comprava seus singles e álbuns, então acabou sendo algo natural para ele gravar a música alguns anos depois. A letra foi inspirada nas páginas do próprio evangelho, nos milagres que Jesus fazia usando apenas suas próprias mãos. Basta lembrar da cura do cego e outras passagens. Também há o toque inspirativo de sua própria mensagem que tocava o coração dos homens.

02. I've Got Confidence (Andraé Crouch) - "I've Got Confidence" foi escrita por Andraé Edward Crouch, pastor, cantor e compositor negro gospel bem popular nos Estados Unidos. Todos sabem que Elvis era um colecionador de discos religiosos. Estava sempre atento aos novos talentos. O primeiro álbum de Crouch chamado de "Take the Message Everywhere" havia sido lançado em 1969. Foi através desse álbum que Elvis conheceu a obra musical desse ministro batista. A versão de Elvis é até bem simples. Arranjo sóbrio e destaque para a vocalização. Ficou bonito, mas em minha opinião ainda não tão marcante como outras faixas desse disco. Durante a sessão de gravação de muitas canções desse álbum Elvis contou apenas com sua banda básica e grupo vocal de apoio dentro do estúdio. Somente depois que o produtor Felton Jarvis colocava todos os demais instrumentos, para deixar as músicas mais completas, mais bonitas ao ouvinte.

03. Amazing Grace (John Newton) - Um dos destaques positivos desse disco vem justamente de "Amazing Grace", um dos maiores clássicos religiosos da cultura norte-americana. Penso até que o disco deveria ter sido nomeado de "Amazing Grace", não apenas porque essa faixa é muito superior a "He Touched Me" como também pela força comercial do nome da música. Provavelmente não foi escolhida para nomear o álbum por questões de direitos autorais, ou então porque os executivos da RCA Victor acreditavam que esse gospel já havia sido gravado tantas vezes antes, por tantos artistas diferentes ao longo dos anos, que estaria simplesmente saturado no mercado. De qualquer maneira esse gravação é uma das que justificam a existência do disco como um todo. Mesmo com problemas, etc, "Amazing Grace" na voz de Elvis é sem dúvida um dos mais belos momentos de sua discografia. Algo muito inspirador e bonito de se ouvir. Pena que seja uma exceção no meio convencional dominante que impera no disco.

04. Seeing Is Believing (Red West / Glen Spreen) - "Seeing Is Believing" também trazia uma mensagem bela do ponto de vista religioso, exaltando os fiéis a não embarcarem no equivocado pensamento do "ver para crer". A canção foi escrita pelo guarda-costas e amigo pessoal de Elvis, Red West. Foi um ato de amizade por parte dele. Ainda assim temos aqui que reconhecer que Red West, apesar de tudo o que aconteceu, tinha talento para escrever belas letras e até bonitas melodias. Elvis gravou diversas músicas de Red West ao longo de sua carreira, nenhuma delas pode ser considerada ruim ou medíocre. Aqui Red dividiu os créditos da música com o músico Glen Spreen. É um bom momento do álbum.

05. He is My Everything (Dallas Frazier) - Assim que os primeiros acordes de "He Is My Everything" tocam, o fã de Elvis imediatamente lembra de outra música do cantor, "There Goes My Everything" de outro disco, do "Elvis Country (I’m 10,000 Years Old)".  Quando consulta o selo descobre que o autor, Dallas Frazier, é exatamente o mesmo da outra canção. Como poderia se explicar isso? Na realidade temos aqui a mesma melodia, porém com uma pequena mudanças na letra. Uma é romântica, a outra é gospel, religiosa. Elvis curtia as duas versões e por isso decidiu gravar a sacra para seu novo disco, "He Touched Me". Curiosamente o autor dessas duas faixas foi considerado no começo de sua carreira como uma espécie de Elvis, estilo mais country e gospel. O mundo realmente dá voltas. Eis que nos anos 70 Elvis gravaria duas composições de sua autoria. Foi o ápice para Dallas Frazier, sem dúvida.

06. Bosom of Abraham (William Johnson / George McFadden / Ted Brooks) - Para quem não consegue entender a ligação entre o rock e a música gospel indico a audição de "Bosom of Abraham", Como se sabe o rock em seus primórdios foi uma fusão de diversos ritmos musicais, entre eles o gospel. A rapidez, a vibração do ritmo, principalmente nos hinos mais enérgicos cantados nas capelas do sul, trouxe muito ao novo ritmo que nascia. Essa música mais se parece um velho rockabilly se formos pensar bem. A única diferença obviamente vem no teor de sua letra. Essa foi uma das gravações de Elvis que penso poderia ter sido muito bem aproveitada nos palcos. Pena que ele não pensou dessa forma, a relegando apenas nessa versão em estúdio, muito bem gravada por sinal.

07. An Evening Prayer (C. Maude Battersby / Charles Hutchison Gabriel) - "An Evening Prayer" abria o lado B do vinil original de "He Touched Me" em sua versão oficial, da discografia americana. É uma composição da dupla C. Maude Battersby e Charles Hutchison Gabriel, Era uma das faixas que a RCA Victor promoveu como uma gravação original de Elvis Presley na época de lançamento do disco. Como o próprio título deixa claro se trata de uma oração cantada, com uma letra composta de poucas linhas, mas que funciona perfeitamente aos seus propósitos. Orações são assim, puro sentimento. Elvis, por sua vez, tem uma excelente performance vocal. Ele sempre ficava muito inspirado cantando gospel.

08. Lead Me, Guide Me (Doris Akers) - "Lead Me, Guide Me", por sua vez, era uma velha composição da cantora e compositora gospel Doris Mae Akers. O auge de sucesso de sua carreira aconteceu no pós guerra. Ela decidiu se mudar para Los Angeles em 1946 e lá tirou a sorte grande ao ser contratada pela gravadora RCA Victor, que começava a apostar no mercado gospel, na produção de discos voltados mais para o público religioso. Provavelmente Elvis conhecia suas músicas desde a infância pois Gladys gostava de ouvir música evangélica no rádio, na estação local de Memphis. Foi assim uma forma de Elvis voltar no passado, nos bons tempos que passou ao lado de sua mãe.

09. There Is No God But God (Bill Kenny) - "There Is No God But God" era uma das novidades do disco. Escrita por Bill Kenny, era uma canção praticamente desconhecida de muitos. A letra louvava obviamente a Deus, mostrando toda a sua grandiosidade, deixando claro que apenas existe um único Deus e nenhum outro. Elvis gostava muito do trecho da letra que afirmava que Deus havia criado tudo no universo e que não existiria nada, absolutamente nada, existente, que não fosse uma obra de Deus, nem um pássaro voando no horizonte, nem um gota de água que viesse a cair no chão. Deus absoluto, criador de todas as coisas. Esse tipo de mensagem enchia a alma de Elvis que era uma pessoa muito religiosa.

10. A Thing Called Love (Jerry Reed) - Nunca cheguei a gostar muito de "A Thing Called Love", Acredito que seja uma das músicas mais datadas do álbum, por causa dos arranjos. A primeira versão, a original, foi lançada em 1968 por Jerry Reed, cantor country. Depois Jimmy Dean (não confundir com o famoso ator morto nos anos 50) também gravou sua versão. Curiosamente a canção se tornou sucesso mesmo com Johnny Cash, chegando a ficar em primeiro lugar na parada country. Era bem a especialidade do bom e velho Cash. Em suma, é uma country music em essência, mas com uma letra também religiosa sob certos aspectos.

11. I, John (William Johnson / George McFadden / Ted Brooks) - "I, John" é excelente. Outra que tem uma sonoridade bem rockabilly, mostrando que o rock é mesmo uma mistura, um caldeirão de outros ritmos musicais que se fundiram e lhe deram origem. Uma canção bem rápida, com excelente trabalho coletivo entre Elvis e seu grupo de apoio. É interessante que muitos que viviam ao redor de Elvis sempre afirmaram que a canção era uma de suas preferidas nas reuniões e pequenas festas que ele dava em seu apartamento após os shows. Era uma forma dele relaxar. Sempre nessas ocasiões ele puxava o coro dos seus vocalistas, aproveitando cada nota. Então fica a questão: por que ele não a usou mais em concertos já que gostava tanto da canção? Essa é uma daquelas perguntas que apenas Elvis poderia mesmo responder.

12. Reach Out to Jesus (Ralph Carmichael) - "Reach Out To Jesus" é uma música bem antiga. Seu autor Ralph Carmichael foi um bem sucedido compositor de músicas religiosas, tendo suas obras gravadas por grandes nomes da música norte-americana, entre eles Nat King Cole, Ella Fitzgerald e Bing Crosby. Alguns anos depois ele decidiu se tornar ministro religioso e virou pastor. Também virou produtor musical, fundando seu próprio selo de músicas gospel, a Light Records. Essa versão de Elvis é muito boa, porém não chega necessariamente a se tornar um destaque dentro do disco. "He Touched Me" vale muito pelo seu conjunto. Essa é, em minha opinião, a principal razão do disco ter sido premiado pelo Grammy. Visto como um todo é um belo álbum gospel. Assim a faixa cumpre seu papel dentro do repertório. Elvis nunca mais a utilizou em estúdio e tampouco voltou a cantá-la em concertos ao vivo. De certa forma essa gravação pode ser considerada um autêntico Lado B da discografia de Elvis Presley. Nada muito além disso.

Elvis Presley - He Touched Me (1972) - Elvis Presley (vocais) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putman (baixo) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Charlie McCoy (órgão, harmônica e percussão) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / Glen Spreen (órgão) / The Imperials (vocais) / Mary & Ginger Holladay (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Junge Page (vocais) / Temple Riser (vocais) /Sonja Montgomery (vocais) / Produção: Felton Jarvis e Elvis Presley / Local de Gravação: RCA Studio B, Nashville, Tennessee / Data de Gravação: 15 de março de 1971, 15 a 21 de maio de 1971, 8 a 10 de junho de 1971 / Data de Lançamento: Abril de 1972.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Elvis Presley - That's the Way It Is (1970)

Esse foi o disco lançado pela RCA Victor trazendo a trilha sonora do filme "Elvis é Assim". O curioso é que as faixas, em sua maioria, não eram as mesmas mostradas no filme. Esse material foi gravado em Nashville, em estúdio, e não em Las Vegas, durante as apresentações do cantor na sua segunda temporada na cidade. E nem todas as músicas apresentadas nesse álbum foram mostradas no filme. Assim o fã de certo modo se surpreendeu quando comprou o disco original na época. Tempos depois várias edições especiais tentariam compensar esse aspecto, colocando todas as músicas dos shows, mais vasto material extra. Sem dúvida esses CDs especiais eram bem mais completos, porém do ponto de vista histórico, dentro da discografia oficial de Elvis Presley, o disco que conta foi justamente essa primeira edição do ano de 1970. É um bom álbum, trazendo canções que iriam marcar a carreira de Elvis pelo resto de sua vida. Além disso era mais um a seguir nesse novo caminho de sua carreira, o mostrando como um artista diferente, cantando músicas mais maduras, falando de relacionamentos adultos. Os anos de juventude, da adolescência dos filmes dos anos 60, havia ficado definitivamente no passado. A seguir comento faixa a faixa desse disco importante dentro da discografia do cantor.  

I Just Can't Help Believin' (Barry Mann / Cynthia Weil) - E assim chegamos no álbum "That's the Way It Is", um dos mais queridos dos fãs de Elvis em sua fase anos 70. O disco original era basicamente a trilha sonora do novo filme de Elvis pelo estúdio MGM. Ao contrário das inúmeras trilhas do passado essa aqui não era a de uma comédia romântica musical, mas sim a de um documentário musical que trazia para as telas de cinema parte das apresentações de Elvis em Las Vegas durante o ano de 1970 (em sua terceira temporada na cidade). A canção que abriu o LP foi essa bela balada "I Just Can't Help Believing", sucesso na voz do cantor B.J. Thomas na época. É interessante notarmos que Elvis começava a flertar com uma outra geração de interpretes americanos. Cantores como B.J. Thomas e Neil Diamond nunca foram roqueiros em suas carreiras. Eram vocalistas que apostavam tudo em repertórios bem românticos - para alguns tangenciando até mesmo para o sentimentalismo mais meloso. Elvis porém não parecia se importar muito com isso. Ele estava certo nesse ponto de vista. O importante era interpretar boas músicas e sempre que encontrava uma bela composição no repertório dos colegas cantores não demorava muito para fazer a sua versão. Pois bem, quando "That's the Way It Is" foi anunciado pela RCA Victor muitos pensaram na época que o álbum seria mais um no estilo "Ao Vivo" em Las Vegas. O produtor Felton Jarvis porém não queria saturar o mercado com três discos consecutivos de Elvis gravados ao vivo em Vegas. Assim o cantor foi até Nashville para participar de uma verdadeira maratona de gravações, gravando dezenas de novas canções em estúdio. A intenção era gravar bastante material para ser lançado aos poucos, nos meses e anos seguintes. A primeira leva de canções dessa maratona surgiu justamente nesse álbum. Curiosamente a RCA acabou utilizando quase nenhuma gravação ao vivo da temporada que aparecia no filme. Uma exceção acabou sendo exatamente essa versão "Live" de "I Just Can't Help Believing". A letra é um dos pontos altos da música, retratando o sentimento de ternura e paixão que existe nos pequenos detalhes de um relacionamento amoroso, como as mãos dadas, os sorrisos e os aromas da amada. Praticamente apenas três estrofes, mas tudo muito bem escrito. A melodia também é excelente, calma, ponderada, completamente adequada para a mensagem de sua letra. Enfim, uma grande performance de Elvis que esteve bem à altura desse verdadeiro clássico da discografia do cantor. Simplesmente essencial.

Twenty days and Twenty Nights (Weisman - Westlake) - Mais uma bela balada romântica gravada por Elvis. Curiosamente essa canção nunca teve um espaço maior dentro da discografia oficial de Elvis. Ao que me consta ela nunca foi devidamente trabalhada ao vivo por Elvis e banda e nem tampouco ganhou maior cuidado por parte da RCA Victor. Em 2010 um CD foi lançado com o mesmo título da canção, trazendo uma rara versão ao vivo cantada por Elvis em agosto de 1970. Era um bootleg do selo Audionics com excelente qualidade sonora. Mesmo assim continuou sendo uma música coadjuvante dentro da vasta obra musical do cantor. De qualquer forma, como foi dito, embora Elvis tenha cantado a canção em raras ocasiões em Las Vegas a RCA Victor no álbum original "That´s The Way It Is" resolveu usar a versão de estúdio, bem mais conhecida entre os fãs. Sua linha melódica mais triste (e diria até mesmo melancólica) realmente combinava melhor com o cuidado e o clima mais intimista de um estúdio de gravação do que um palco, onde ela muitas vezes a canção caia em um clima de tédio e falta de empolgação por parte do público, afinal de contas em concertos ao vivo nem sempre a música funcionava muito bem (e talvez por isso tenha sido deixada de lado por Elvis muito rapidamente). Uma das coisas mais interessantes sobre essa música, que fala sobre solidão e arrependimento, é o salto de qualidade do compositor Ben Weisman. Autor de algumas das mais bobas, maçantes e infantis canções da fase de Elvis em Hollywood, Ben se superou de forma surpreendente nessa composição, escrevendo finalmente um tema de relevância, adulto, falando de dramas reais, de pessoas reais, tudo com muita sobriedade e maturidade. Nada mais longe das bobagens que ele costumava escrever para Elvis em suas piores trilhas sonoras. Talvez a má qualidade desse material nem tenha sido sua culpa, talvez os próprios argumentos ridículos de alguns filmes de Elvis o tenha levado a escrever tantas bobagens, mas o que é importante destacar mesmo é que dessa vez ele finalmente apresentou um material digno e à altura de um astro como Elvis gravar. Em resumo: ótima canção, belíssimo arranjo e o mais importante de tudo, uma letra relevante com uma mensagem realmente importante a se passar adiante.

How The Web Was Woven (Westlake - Most) - "How The Web Was Woven" é outra canção desse maravilhoso disco que considero apenas mediana. A letra até tem um refrão e um verso que considero bem escritos, fazendo uma analogia entre o ato de se apaixonar e a prisão em uma teia de aranha da qual não se consegue mais se desvencilhar. Mesmo assim, tirando isso, considero uma canção marcada por uma melodia que não avança, não vai para lugar nenhum. O acompanhamento de cordas ajuda a passar o tempo, mas o saldo final é de tédio. O próprio Elvis também não parecia levar muita fé na canção, tanto que nunca a trabalhou muito ao vivo, nunca ajudou em sua promoção e tampouco mostrou ter algum apreço especial por ela. Costumo rotular esse tipo de estilo de country melancólico de Nashville. Por essa época Elvis estava muito mergulhado no universo country da capital mundial desse gênero musical. A RCA Victor também enviou um grande leque de opções de músicas como essa para Elvis gravar durante a chamada Maratona de Nashville. Assim não me soa como surpresa a presença de faixas como essa durante essas produtivas sessões de gravação. Curiosamente muitos dizem perceber um certo cansaço físico por parte de Elvis na música. Sua performance seria quase no controle remoto. Não concordo muito com essa visão. No meu ponto de vista a própria canção demanda esse tipo de performance mais intimista, quase depressiva. Nesse aspecto Elvis apenas foi fiel ao que seu compositor queria passar em sua letra. O que ouvimos é uma voz de melancolia, não de cansaço.

Patch It Up (Rabbit / Bourke) - Essa faixa só se justificava mesmo no palco. Em termos gerais é uma canção bem fraca, principalmente se formos levar em conta que Elvis gravou alguns dos maiores rocks da história. Claro, não estou dizendo com isso que a canção seja um rock genuíno, nada disso. Na verdade era um pop pegajoso ao estilo Las Vegas que soava desconfortável na discografia de Elvis. Esses autores praticamente nunca tinham sido gravados por Elvis antes. A sugestão partiu de Felton Jarvis que convenceu Elvis que a música tinha potencial, principalmente durante os concertos ao vivo. Elvis não se mostrou em um primeiro momento muito convencido, mas depois resolveu gravar a canção - mais do que isso decidiu que iria interpretá-la para as câmeras da MGM que estavam prestes a filmar suas performances em Las Vegas para um filme documentário que seria lançado em breve nos cinemas. Para o fã da época deve ter sido chato perceber que a RCA Victor chegou a acreditar que a gravação seria mesmo um sucesso, a ponto inclusive de lançar duas versões diferentes da música (algo que raramente acontecia na discografia oficial), uma gravada ao vivo e outra em estúdio. A primeiro fez parte da trilha sonora, do álbum "That´s The Way It Is". É a versão que todos conhecemos muito bem. A outra chegou no mercado em compacto, como lado B da canção "You Don't Have To Say You Love Me". Nenhuma das versões se tornou sucesso. Também pudera, não tinha qualidade para tanto. A letra, que se repetia em demasia, rodando e rodando sem ir para lugar nenhum, se resumia a usar a expressão "Patch It Up" (algo como "vamos consertar" no caso o relacionamento amoroso) para grudar na mente do ouvinte e de lá não sair nunca mais. Não deu certo. O curioso é que pelo menos a faixa serviu para proporcionar uma boa cena coreografada para o filme. O próprio Elvis porém não levava muita fé, tanto que a descartou para nunca mais usar. Um fato curioso é que em países de língua alemã (Alemanha e Áustria) o single saiu com as versões trocadas, com "Patch It Up" no lado A. A capa também foi modificada - para melhor, com uma ótima foto de Elvis no palco. Esse mesmo compacto foi lançado na Holanda e Suécia dois meses depois e também conseguiu ótimas vendas. Pelo visto os germânicos estavam mais afinados com o marketing certo de vendas. Coisas de mercado.

Mary In The Morning (Cymball / Lemball) - A versão original dessa canção se tornou conhecida em 1967 na voz do cantor e ator ítalo-americano Al Martino. Para quem gosta de cinema é interessante lembrar que foi Martino quem interpretou uma paródia de Frank Sinatra no filme "O Poderoso Chefão". Ele interpretava um cantor em decadência que pedia ajuda ao chefão Corleone (Marlon Brando) para levantar sua carreira, chantageando e ameaçando o dono de um poderoso estúdio de cinema em Hollywood para lhe dar o papel em um importante filme que iria ser realizado. Dizem que foi assim que Sinatra ganhou o personagem do sargento americano no clássico "A Um Passo da Eternidade" que acabou lhe valendo o Oscar, dando um novo pulso para sua carreira, que naquele momento andava em baixa. Mario Puzo aproveitou esse fato e o usou em seu livro. Verdade ou mito? As conexões de Sinatra com a máfia sempre foram alvos de boatos. A verdade porém nunca saberemos... Deixando um pouco isso de lado o fato é que Elvis sempre parecia ter uma grande ligação com a música italiana. Basta lembrar de "It´s Now Or Never" e "Surrender". É interessante notar também que em seu lançamento original "Mary in The Morning" não foi um grande sucesso, um hit absoluto. Lançada discretamente por Martino em single pouco chamou atenção, mas Elvis a conhecia muito bem pois tinha comprado o compacto. Havia um lirismo em sua letra que lhe chamava a atenção. Esse tipo de romantismo sempre tocava o cantor. Pena que após ter gravado a canção em estúdio Elvis não a tenha trabalhado mais, inclusive no palco. No filme "That´s The Way It Is" o cantor surge em um ensaio tentando cantar a música, porém mais interessado nas brincadeiras com a Máfia de Memphis não chegava a se concentrar no que estava ensaiando. A cena diverte, mas também decepciona para quem gostaria de vê-lo cantando essa bela canção romântica. Na temporada em Las Vegas não chegou a usar a canção. Afinal havia tantas outras do álbum que acabou esquecendo de Mary, da manhã e do arco-íris... Coisas da vida!

You Don't Have To Say You Love Me (Wickham - Napier - Bell - Donaggio - Pallavicini) - Em relação a essa canção "You Don't Have To Say You Love Me" eu sempre tive a mesma opinião, mesmo após tantos anos passados desde a primeira vez que a ouvi. A primeira convicção é que se trata de uma bela balada romântica, despudoradamente apaixonada com aquele sabor latino que todos conhecemos tão bem. Percebe-se desde os primeiros acordes que seu compositor não teve qualquer vergonha de se atirar nesse tipo de sentimento. Seus versos são bem claros sobre isso. A outra certeza que tenho é que a versão oficial que saiu no álbum "That´s The Way It Is" é mal gravada mesmo. Até lamento dizer isso, mas é a pura verdade. Inclusive escrevi exatamente essa opinião quando escrevi pela primeira vez sobre a faixa alguns anos atrás. Na ocasião eu coloquei minhas impressões no texto e afirmei: "A versão de Presley é mais uma representante da feliz fusão de Elvis com a música da Itália como It's Now or Never, No More e Surrender. O astro era fã do cantor Mario Lanza, o que talvez explique esta aproximação com este tipo de canção. De qualquer forma, apesar de toda essa importância histórica, não consigo deixar de ficar decepcionado com a má qualidade da gravação original de 1970. A master mais parece um ensaio descompromissado de tão mal gravada. Certamente Elvis não está em um bom momento, na realidade é fácil perceber que ele na realidade está se comportando como se estivesse em um ensaio, nada mais do que isso. Porém o produtor Felton Jarvis resolveu escolher esse Take como o master oficial o que deixou todos surpresos mesmo. Repare como até a vocalização de Elvis está ruim pois ele está com a boca excessivamente salivada, coisa que nenhum artista de seu nível deixaria passar em uma gravação oficial. Alguns autores até mesmo chegam a afirmar que ele estaria com um chiclete na boca na hora da gravação! Particularmente não acredito nisso, não vamos chegar a tanto. Apenas é uma versão abaixo da média. Se alguém errou aqui não foi Elvis, mas sim Felton Jarvis que a escolheu para compor o disco oficial. Foi uma péssima escolha." Historicamente a faixa tem uma trajetória interessante. Ela foi originalmente lançada com grande sucesso pelo cantor italiano Pino Donaggio com o título original de "Io Che Non Vivo Senza Te" em 1964 pelo selo Odeon. O cantor inglês Dusty Springfield em 1966 fez a primeira versão em língua inglesa, versão esta lançada pelo selo Philips. Certamente foi essa segunda versão a grande fonte de inspiração para Elvis fazer sua versão. Pena que não saiu tão boa.

You've Lost That Lovin' Feelin' (Mann / Well) - Essa criação do casal Barry Mann e Cynthia Weil é sem dúvida uma das músicas mais populares e bem sucedidas comercialmente da história. O curioso é que sua criação demonstrava de certa forma como funcionava a indústria fonográfica da época. O produtor Phil Spector conheceu por acaso a dupla vocal branca The Righteous Brothers durante um festival de música. Spector estava em busca de novos talentos para seu selo musical recém fundado chamado Philles Records. Até aquele momento Spector tinha gravado uma série de bons compactos (singles) de artistas negros em seu selo, porém nenhum deles tinha realmente estourado nas paradas. Assim o produtor foi atrás de artistas brancos e encontrou o que queria ao ver o Righteous Brothers. Assim ele os contratou, depois ligou para a dupla de compositores Mann e Well para que eles escrevessem um novo tema para seus novos contratados. Assim nasceu "You've Lost That Lovin' Feelin'", uma canção feita para fazer sucesso. Lançada inicialmente em outubro de 1965 o plano de Spector deu mais do que certo. A música se tornou um hit absoluto, chegando ao primeiro lugar entre os mais vendidos em todas as paradas musicais, tanto dos Estados Unidos como na Europa. Para muitos críticos o produtor havia chegado na perfeição da técnica que ele próprio havia criado, conhecida como "Wall of Sound". O interessante é que anos depois o próprio Phil Spector declarou que adoraria ouvir Elvis cantando a música que havia produzido. O problema é que em 1965 Elvis estava preso a contratos com companhias cinematográficas que muito certamente não autorizariam ele a gravar uma canção que não fosse das suas próprias editoras musicais. Assim, ao invés de gravar obras primas como "You've Lost That Lovin' Feelin'" Elvis passou aquele ano gravando trilhas sonoras bem fracas como "Harum Scarum" e "Girl Happy". A oportunidade porém pintou novamente em 1970 quando Elvis foi a Las Vegas para gravar um novo filme. O conteúdo era simples: mostrar Elvis ao vivo nos palcos da cidade. Para isso Elvis precisava de um repertório cheio de grandes canções e assim "You've Lost That Lovin' Feelin'" entrou na trilha do documentário "That´s The Way It Is". Uma ótima decisão. A versão de Elvis, mesmo gravada ao vivo, tem um sentimento e uma alma fora do comum. Elvis sabia que estava sendo imortalizado em película naquele momento e resolveu caprichar. O resultado ficou ótimo, excepcional. A canção retornaria à discografia de Elvis alguns anos depois no álbum "Elvis as Recorded at Madison Square Garden", mas devemos ser sinceros, a primeira versão é bem melhor. No Madison Elvis e banda aceleram muito o ritmo da música, a prejudicando um pouco.

I've Lost You (Howard / Blaikley) - Belo momento do disco "That´s The Way It Is". Essa famosa dupla britânica de compositores, Ken Howard e Alain Blaikley, foi uma das mais populares durante os anos 60 e 70, tendo escrito temas para grandes astros da época como The Honeycomb e Peter Frampton. Quando escreveram "I've Lost You" eles jamais pensariam que Elvis gravaria uma versão dessa canção muitos anos depois. Aliás a música chegou nas mãos de Elvis meio por acaso, quando um engenheiro de som a tocou de forma acidental durante as gravações em Nashville. Elvis se interessou e pediu que ele a tocasse novamente. O que aconteceu depois não é nenhuma novidade. A música virou título do primeiro single de Elvis composto com músicas desta trilha. A versão do disco foi gravada ao vivo e a que saiu em compacto é gravada em estúdio. A melhor sem dúvida é a do disco pois conta com a energia da plateia, o que dá um sabor especial à canção. A versão de estúdio foi gravada no dia 4 de Junho de 1970 em Nashville a a versão ao vivo foi gravada em Las Vegas no dia 11 de Agosto. Por essa época Elvis havia decidido deixar de lado as canções românticas mais voltadas para o público juvenil, afinal de contas ele próprio já não era mais um adolescente e nem um ídolo jovem. Ele estava amadurecido, assim como seus fãs. Os tempos eram outros. Quando gravou essa música Elvis já tinha seus próprios problemas em seu casamento. Foi justamente nessa segunda temporada de 1970 que surgiram os primeiros conflitos sérios com sua esposa Priscilla. Elvis havia se firmado em Las Vegas e essa cidade, como todos sabemos, é conhecida como a "cidade do pecado" nos Estados Unidos. Elvis proibiu Priscilla e as demais esposas de ficarem em Vegas durante as temporadas. Elas poderiam comparecer apenas nas noites de abertura e de encerramento. Fora isso, durante os concertos, deveriam ir embora. "Nada de esposas em Vegas" - decretou o cantor. Obviamente Priscilla soube depois que Elvis a estava traindo sistematicamente com várias mulheres enquanto realizava seus shows na cidade. O casamento começou a ruir justamente por isso e Elvis certamente foi percebendo que começava a perder sua esposa. O tema assim da letra se ajustava perfeitamente com o que ele estava passando em sua vida privada. Elvis só não sabia ainda que seu rompimento conjugal seria tão devastador e traumatizante como foi. O destino de seu casamento porém já estava traçado.

Just Pretend (Guy Fletcher, Douglas Flett) - Algumas baladas cantadas por Elvis Presley em sua carreira foram bem injustiçadas. São gravações belíssimas, mas igualmente ignoradas pelo grande público. Não fizeram o devido sucesso na época de seu lançamento e tampouco foram trabalhadas da forma que mereciam por Elvis. Um dos maiores exemplos vem de "Just Pretend". A canção nunca ganhou maior espaço dentro da carreira do cantor. Gravada durante a Nashville Marathon, em junho de 1970, em uma noite particularmente muito produtiva por parte de Elvis, a bela composição foi desaparecendo com os anos, sendo injustamente esquecida. Como bem sabemos Elvis era um artista extremamente produtivo. Basta apenas darmos uma olhada na grande quantidade de canções que ele gravou em sua longa carreira. Com tanto material novo invadindo o mercado de uma só vez não haveria como evitar que certas injustiças fossem cometidas. Uma delas foi, como escrevi, "Just Pretend". Essa música é uma das mais bonitas gravadas por Elvis. Com vocalização sóbria e pleno domínio durante as gravações, Elvis legou para a posteridade uma de suas melhores baladas românticas, daquelas que ainda merecem ser redescobertas. Usada timidamente tanto no filme como na trilha sonora, "Just Pretend" merece novas e atentas audições! Com melodia e letra acima da média, a canção que fala sobre reconciliação e reencontro, encontrou eco nos corações mais sensíveis. Ela guarda várias semelhanças de arranjo com outro momento precioso desse disco, "Bridge Over Troubled Water". Não poderia ser diferente pois ambas foram gravadas quase no mesmo dia e local, uma no dia 05 de junho de 1970 a outra um dia depois no mesmo estúdio, em Nashville. Nessa semana realmente Elvis estava extremamente inspirado para cantar belas e ternas canções de amor acompanhadas de belíssimos arranjos de teclados. O veredito final não poderia ser diferente pois essa é uma balada romântica sensível que foi injustamente subestimada na época, não tendo alcançado a devida repercussão que merecia. De qualquer forma nunca é tarde para se reparar uma injustiça.

Stranger in the Crowd (Winfield Scott) - Se "Just Pretend" e "Bridge Over Troubled Water" são músicas embasadas nos arranjos de piano, aqui o que se destaca mesmo é o pleno domínio dos arranjos de cordas e de instrumentos percussivos. A mais acústica música do disco não chega ao ponto de ser um dos destaques da trilha, sendo considerada apenas um complemento ao conjunto. Apesar disso, de ser uma mera coadjuvante, não podemos deixar de colocar em destaque seus méritos como a vocalização inspirada de Elvis e o belo solo de guitarra de James Burton, bem diferente do que ele costumava fazer em estúdio. Winfield Scott, autor dessa música, compôs várias canções dos filmes de Elvis nos anos 60. Ele esteve muito presente nessa fase e foi dele a descoberta de uma das maiores surpresas em termos de gravações perdidas de Elvis. Quase que por acaso ele acabou descobrindo o tape inédito de "I'm Roustabout", canção que havia sido originalmente composta para ser o tema principal do filme "Roustabout" (O carrossel de emoções, 1964). Assim que soube o que tinha em mãos entrou em contato com Ernst Jorgensen que não perdeu tempo em anunciar para o mundo que pela primeira vez em muitos anos havia sido descoberta uma nova música na voz de Elvis, até então totalmente inédita. A descoberta acabou sendo definida por Joe Di Muro, executivo da RCA / BMG, como a "mais inacreditável da música moderna"!

The Next Step Is Love (Evans / Barnes) - Quando Elvis resolveu retomar o rumo de sua carreira e deixar Hollywood para trás ele procurou encontrar inspiração e renovação em um novo grupo de compositores. Paul Evans, cantor, compositor e famoso produtor certamente se encaixava nesse novo perfil que Elvis tanto procurava. Antes de compor "The Next Step is Love", Evans já era muito conhecido nos EUA por causa de suas músicas românticas, doces e ternas, que fizeram muito sucesso principalmente na primeira metade dos anos 60 como, por exemplo, "Too Make You Feel My Love", "When" e principalmente "Roses are Red (My Love)", seu grande sucesso que chegou ao primeiro lugar nas paradas. Além disso ainda escreveu novas versões para o clássico sacro "Amazing Grace". Compositor de grande talento, foi ainda gravado por Pat Boone, La Vern Baker e Bobby Vinton. Pena que não tenha tido uma parceria de maior duração ao lado de Elvis, pois na visão estreita de Tom Parker ele ainda era considerado um compositor muito "caro"!!! De qualquer maneira a música acabou sendo lançada como Lado B do Single "I've Lost You". No filme Elvis aparece ouvindo e dando sua aprovação final ao resultado da gravação desta canção. É uma bela música sem dúvida, porém perde em comparação com alguns clássicos presentes neste disco. Poderíamos dizer que é um belo complemento ao disco, mas sem jamais ser protagonista dentro da seleção de boas melodias desse trabalho de Elvis. A letra da canção exalta principalmente a paixão, os primeiros momentos em que cada um se descobre apaixonado pelo outro. Há uma clara intenção de, em forma poética, tentar capturar esse momento. Até mesmo aspectos bobos ganham relevância, como caminhar descalços pelos campos, rindo debaixo da chuva. Particularmente penso que essa gravação teria ficado bem melhor se tivesse sido feita com a antiga banda de Elvis, principalmente com aquela formação da primeira metade da década de 1960. Essa música tem uma singeleza que combinaria bem com aquele período histórico da carreira do cantor. Além disso se ele tivesse optado por aquela linha vocal mais terna, que tanto caracterizou suas canções naquela época, o resultado teria sido bem bonito. Já em Nashville, com todas aquelas canções para se gravar, onde o tempo era mais do que precioso, houve uma certa pressa em finalizar a faixa. Com isso a melodia não foi tão valorizada. Some-se a isso o fato da TCB Band ser um grupo com características de palco, o que deu a esse registro um certo sabor de música gravada ao vivo. Mas enfim, mesmo sendo feitas essas observações é importante ressaltar a boa qualidade da música como um todo. Nunca chegou a ser um hit ou um standart na discografia de Elvis, porém como coadjuvante nesse ótimo álbum "That´s The Way It Is" está de bom tamanho.

Bridge Over Troubled Water (Paul Simon) - Essa é uma das maiores canções populares já escritas. Gravada originalmente no final dos anos 60 e lançada em janeiro de 1970 no disco de mesmo nome da dupla Simon e Garfunkel a música logo virou símbolo de uma era e colecionou prêmios em sua vitoriosa trajetória: "Gravação do ano", "Álbum do ano", "Melhor canção escrita do ano" e outros. Além da aclamação da crítica o público também não deixou por menos colocando a música por seis semanas seguidas no topo da parada norte americana. Tanto sucesso não poderia passar despercebido por Elvis Presley. Ele amou a música desde a primeira vez que a ouviu e foi um dos primeiros intérpretes a gravar uma versão, apenas seis meses depois que ela foi lançada originalmente pela famosa dupla dos anos 70. Elvis não perderia a chance de fazer sua versão pessoal de uma canção tão significativa. Logo ele, que estava empenhado em renovar seu repertório e produzir material relevante e de importância, bem longe de seu passado recente de trilhas sonoras medíocres. Antenado no que estava acontecendo musicalmente ao seu redor, Elvis logo providenciou seu próprio registro da canção. Quando foi informado da data das sessões de gravação em junho daquele mesmo ano ele logo entrou em contato com seu produtor Felton Jarvis e pediu que ele providenciasse logo a liberação da música pois ele já tinha inclusive feito alguns ensaios com sua banda na estrada e estava procurando achar o tom certo para sua versão. Elvis sabia que seu estilo vocal em pouco se aproximava da linha folk universitária de seus autores originais. Ele procurou adaptar a canção ao seu próprio estilo, deixando a simplicidade da versão original de lado e investindo em algo mais grandioso com presença marcante de orquestra (arranjo inexistente dentro da versão original da dupla Simon e Garfunkel). Isso também se justificava porque Elvis pretendia utilizá-la durante seus concertos e não havia como ele, sendo um barítono, fazer uma versão que se aproximasse da ideia simplória de Paul Simon e seu companheiro de dupla. Alguns ajustes teriam que ser feitos e isso traria todas as características que fariam essa canção única dentro da vasta discografia de Elvis. Esse tipo de material era o que ele iria procurar cada vez mais durante os anos 70.

Canções que representassem de alguma forma um novo desafio, um novo pico a alcançar. Certamente os rocks que tanto caracterizaram sua carreira, ao ponto de receber o título de Rei do Rock, não mais significavam um grande desafio a ser superado em 1970. Elvis procurava algo mais, algo que demonstrassem a todos seu grande talento vocal, que deixasse claro para quem ouvisse seus discos ou assistisse seus shows que ele era, acima de qualquer coisa, um grande cantor, nada mais do que isso. Elvis procurava antes de qualquer coisa ser reconhecido por seus colegas profissionais, pela crítica especializada e principalmente por seu público que manteve-se fiel a ele, mesmo na pior fase de sua carreira nos anos 60. O saldo final é conhecido de todos: a canção é considerada uma das maiores interpretações de toda a carreira de Elvis Presley! A versão do Rei para o sucesso imortal da dupla "Simon e Garfunkel" emociona até hoje. Como toque final foram acrescentadas palmas para se dar a impressão que ela foi gravada ao vivo, porém esta é a versão de estúdio e não a versão que aparece no filme (e que também é ótima). Só foi lançada da forma como foi gravada muitos anos depois na caixa de CDs "Walk a mile in my Shoes" com nova mixagem e mostrando toda a extensão de sua beleza. "Bridge Over Troubled Water", sem a menor sombra de dúvida, é um dos maiores marcos da carreira de Elvis Presley.

Elvis Presley - That´s The Way It Is (1970): RCA Studio B, Nashville: Elvis Presley (vocal e violão) / James Burton (guitarra) (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Chip Young (guitarra) / Bob Lanning (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin(piano) / The Imperials (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / John Wilkinson (guitarra) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (bateria) / David Briggs (piano) / Charlie McCoy (orgão e Harmônica) (Banjo) / Harold Bradley (guitarra) / The Jordanaires (vocais) / Farrel Morris (percussão) / Bobby Morris e sua Orquestra / Produzido por Felton Jarvis / Arranjado por Felton Jarvis, Elvis Presley, Glen D. Hardin, Cam Mullins, David Briggs, Bergen White, Norbert Putnam / Ficha Técnica / International Hotel Showroom, Las Vegas: Elvis Presley (vocal e violão) / James Burton (guitarra) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin(piano) / John Wilkinson (guitarra) / The Imperials (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Joe Guercio e sua Orquestra. That's The Way It Is: Gravado no RCA's Studios B, Nashville e Showroom do International Hotel, Las Vegas / Data de Gravação: 4 a 8 de junho e 11 a 13 de agosto de 1970 / Data de Lançamento: novembro de 1970 / Melhor posição nas charts:#21 (EUA) e #12 (UK).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Almost In Love (1970)

Esse disco "Almost In Love" foi lançado pelo selo azul da RCA denominado RCA Camden. Os álbuns desse selo eram lançados com preços promocionais, geralmente custando a metade do preço de um disco (LP) da RCA Victor. Como era um lançamento especial, não havia a necessidade e nem a preocupação por parte dos executivos em lançar canções inéditas entre suas faixas. Muitas vezes esses discos da Camden, embora fossem oficiais, traziam apenas uma salada de faixas de filmes, material que não havia sido muito bem aproveitado ou então gravações que há muito estavam arquivadas, sem aproveitamento pela gravadora. Curiosamente a música que deu nome ao disco era uma composição de um autor brasileiro, uma bossa nova, gênero musical que estava se tornando muito popular nos Estados Unidos, principalmente entre a elite universitária daquele país. A Bossa Nova brasileira era vista quase como uma variação do jazz, indo na mesma linha de sofisticação e bom gosto musical. Na verdade essa canção nunca foi muito badalada dentro da discografia de Elvis. Depois de fazer parte da trilha sonora esfacelada do filme "Live a Little, Love a Little" de 1969 a música ficou meio esquecida. Lançada no disco "Almost In Love" da RCA Camden ganhou alguma projeção, mas definitivamente nunca virou um hit dentro da carreira do cantor.

1. Almost In Love (Luiz Bonfá) - A Bossa Nova invadiu os Estados Unidos durante os anos 60 quando Frank Sinatra convidou Tom Jobim para gravar um álbum ao seu lado. Era uma coisa realmente inédita pois Sinatra, egocêntrico como era, jamais havia dado tanto espaço a um outro artista em sua discografia antes. Pois bem, depois desse disco a sociedade americana descobriu aquele ritmo muito interessante e sofisticado proveniente de um país tropical mais conhecido por seu carnaval e florestas do que por qualquer outra coisa. Com um feeling de jazz a Bossa Nova encontrou grande receptividade entre o público e a crítica do grande irmão do norte. Diante dessa boa recepção era de se esperar que muitos músicos e compositores brasileiros fossem para os Estados Unidos em busca de trabalho e oportunidade. Um deles foi Luiz Bonfá, compositor e violonista carioca. Ele vendeu várias canções para as editoras americanas e eventualmente uma delas foi parar na RCA Victor, onde Elvis Presley gravava. Até aquele momento Elvis jamais tinha gravado qualquer canção do gênero (por favor esqueça "Bossa Nova Baby" de "Fun in Acapulco" que não tinha nada a ver com a verdadeira Bossa Nova). Assim Elvis acabou gravando a única canção escrita por um brasileiro em toda a sua longa carreira. Eu sempre considerei essa gravação muito elegante, sofisticada, de boa cadência rítmica. É interessante notar como Elvis conseguiu realizar uma boa performance ainda mais se levarmos em conta que ele não tinha nenhuma familiaridade com a cultura brasileira e seus ritmos musicais. Obviamente se nota um certo cuidado por parte de Elvis para não pisar na bola. Como estava em terreno desconhecido ele vai encontrando seu tempo aos poucos, de forma lenta e gradual. O resultado é certamente bem melhor do que o esperado. Grande momento de Elvis Presley em raro momento de aproximação com a cultura musical do Brasil. Por anos essa música ficou fora de catálogo, sem acesso aos fãs. Com o advento do CD ela retornaria em algumas edições no formato do próprio álbum de mesmo nome. Novidade mesmo só surge com o lançamento da edição especial do selo FTD (Follow That Dream) trazendo takes inéditos da trilha sonora do filme "Live a Little, Love a Little". Durante muitos anos se especulou que não havia mais nenhum take da sessão original, mas esse CD colocou abaixo essa visão. Assim o CD trazia praticamente todos os takes da sessão. Nesse CD intitulado "Live A Little, Love A Litte sessions" você encontrará os takes de número 1, 4, 5 e 6. Também terá a oportunidade de ouvir um ensaio puramente instrumental e finalmente uma versão restaurada. Sem dúvida um excelente resgate histórico dessa faixa.

2. Long Legged Girl (McFarland - Scott) - "Almost In Love" é uma coletânea de músicas avulsas. Um exemplo desse tipo de seleção sem muito critério vem da inclusão nesse disco dessa canção "Long Legged Girl (With the Short Dress On)" da trilha sonora do filme "Double Trouble" de 1967. Qual era a razão da canção estar presente nesse álbum em especial? Provavelmente nenhuma. Era apenas uma forma de preencher o tempo de um disco como esse. A canção que nunca fora nada de muito interessante ou especial chegava assim em seu terceiro lançamento dentro da discografia de Elvis pois antes já tinha feito parte da trilha sonora do filme (que não vendeu muito bem) e do single (que também decepcionou nas paradas de sucesso!). É curioso porque sempre achei a sonoridade dessa trilha diferente. O estéreo é esquisito, os instrumentos estão mais separados do que o habitual e o próprio Elvis não primou por uma boa performance em suas gravações. Provavelmente ele sabia que esse tipo de material não valeria muito a pena. Era pura perda de tempo e dinheiro. De qualquer maneira o álbum "Almost In Love" estava nas lojas e o fã, querendo ou não, levou a música pela terceira vez para casa. Tudo fruto do velho pensamento mercenário de Tom Parker que dizia: "O Segredo do lucro é vender a mesma coisa duas, três vezes!". Esse disco seguramente provou o ponto de vista do veterano empresário.

3. Edge Of Reality (Giant - Baum - Kaye) - Dando continuidade na análise sobre o álbum "Almost in Love" aqui vão mais algumas considerações sobre as canções que fizeram parte desse LP do selo azul da RCA Camden. É a tal coisa, a intenção era fazer uma mistura de singles, canções de filmes e gravações que estavam pegando poeira nos arquivos da gravadora. Depois juntava-se tudo, colocava uma boa capa e lançava o disco no mercado, em preço promocional. Geralmente dava bem certo, trazendo mais alguns dólares paras as contas de Elvis e do Coronel Parker. E tudo isso sem a necessidade de se entrar em estúdio para gravar algo novo. Assim "Edge Of Reality" acabou sendo incluída nesse pacote. Falando a verdade sempre achei essa canção um tanto esquisita, com estranha harmonia. Ela foi Lado B do single campeão de vendas "If I Can Dream" em 1968, mas mesmo assim nunca conseguiu chamar muito a atenção. A música entrou no compacto não apenas como "tapa buraco", mas também para promover o filme "Live a Little, Love a Little" que estava chegando nos cinemas naquela mesma ocasião. Acabou sendo ignorada como praticamente todo o restante do material. Por essa época os fãs de Elvis já estavam fartos de seus filmes em Hollywood e toda gravação ligada às suas trilhas sonoras não parecia encontrar mais receptividade entre os admiradores do cantor. Havia ali uma clara má vontade sobre isso. E os fãs estavam mais do que certos, é bom frisar.

4. My Little Friend
(Shirl Milete) - Outra canção que fez parte do disco "Almost In Love" foi essa balada "My Little Friend". Como a intenção desse álbum era reunir músicas aleatórias da discografia de Elvis, principalmente se elas tivessem sido mal lançadas anteriormente, a inclusão dessa canção no repertório até que não foi uma má ideia. Inicialmente esse country foi lançado como Lado B do single "Kentucky Rain", em fevereiro de 1970, mas não conseguiu obter qualquer repercussão. Não era para menos. A música em si é realmente bem fraca. Felton Jarvis até tentou melhorá-la na sala de edição, mas ainda continuou sem brilho. De forma em geral é uma música country que não desperta muito atenção, a não ser para um público bem específico (entenda-se sulistas americanos).

5. A Little Less Conversation (Strange - Davis) - Não há dúvida de que essa é, hoje em dia, a música mais famosa do disco "Almost In Love" de Elvis Presley. Pois é, uma surpresa para muitos é saber que a primeira vez que "A Little Less Conversation" pintou em um álbum de Elvis foi justamente nesse "Almost in Love". Como explicar que uma das músicas mais populares de Elvis tenha sido lançada em um disco sem maior importância, uma coletânea promocional de um selo secundário da RCA? Bom, antes de qualquer coisa é importante saber que durante sua carreira a música "A Little Less Conversation" nunca foi um sucesso. Ela só se tornou extremamente popular com o Remix que foi lançado muitos anos após a morte de Elvis. Antes disso ela passou completamente despercebida, sem sucesso ou repercussão. Para o cantor e para seus fãs da época ela era apenas mais uma música de trilha sonora da fase final de Elvis em Hollywood. Nada mais do que isso. Diante disso já estava de bom tamanho e mais do que isso, ela estava encaixada mesmo no disco certo, apesar de tudo o que aconteceria depois. Nessa época ela era apenas uma canção secundária de um disco secundário da discografia de Elvis.

6. Rubberneckin´(Jones - Warren) - A canção "Rubberneckin" que também iria ganhar uma conhecida versão remix muitas décadas depois, igualmente acabou fazendo parte de "Almost in Love", o álbum. Essa canção também havia sido lado B de um single bem sucedido, "Don't Cry Daddy", e fazia parte da trilha sonora de um filme Made in Hollywood, o hoje mais reconhecido "Change of Habit". Esse foi o último trabalho de Elvis no cinema, isso naquele velho estilo com roteiro, estorinha, romance e tudo mais. Agora verdade seja dita, o roteiro dessa última produção passava longe de ser ruim, pelo contrário, ao invés de garotas em bikinis dançando na areia, esse mostrava uma trama melhor, com Elvis interpretando um médico numa periferia de uma grande cidade. Além disso contava com uma ótima atriz no elenco, a recentemente falecida Mary Tyler Moore. Tudo de muito bom gosto, bem acima da média em relação aos filmes anteriores de Elvis. Pena que essa mudança em sua carreira no cinema acabou chegando tarde demais.

7. Clean Up Your Own Backyard (Mac Davis / Billy Strange) - Outra que foi encaixada nesse disco "Almost in Love" foi a excelente "Clean Up Your Own Backyard" do filme "The Trouble With Girls" (que no Brasil recebeu o título de "Lindas Encrencas, as Garotas"). Já tive oportunidade de elogiar essa canção várias vezes aqui no site. Ela realmente tem um ótimo arranjo e a letra, nada idiota, elevou bastante a qualidade das trilhas sonoras dos filmes do cantor. Ganhou até uma cena no filme, onde Elvis surge com excelente visual, com o característico terno branco e camisa azul do figurino desse filme bem diferente. Relembrando: Elvis interpreta um gerente de um show de variedades do começo do século XX que sai de cidade em cidade com sua companhia itinerante. O roteiro foi escrito levemente inspirado na vida do Coronel Parker, o empresário do cantor, que viveu exatamente essa vida antes de conhecer Elvis e mudar sua carreira profissional para sempre. Escrita pelos ótimos Mac Davis e Billy Strange, esse blues country é certamente uma das melhores coisas da produção. Merece ser redescoberta.

8. U.S. Male (Jerry Reed) - A canção "U.S. Male" é um dos grandes destaques desse LP. Sempre considerei que essa gravação, uma das melhores feitas por Elvis no período final dos anos 60, nunca foi muito bem aproveitada em sua discografia. Essa faixa foi gravada no meio das sessões da trilha sonora do filme "Stay Away, Joe". Era uma continuação das belas sessões feitas por Elvis em setembro de 1967. Como não deu tempo de finalizá-la naquela ocasião, Elvis arranjou um tempinho no meio dessa trilha para terminar sua gravação. Tudo tem seu tempo e por essa razão a música ficou meses pegando poeira nos arquivos da RCA Victor. Em um tempo em que Elvis precisava melhorar tecnicamente no material que ele vinha apresentando no mercado, essa música deveria ter sido lançada bem antes. Aliás muitos afirmam que as sessões de 1967 teriam sido uma tentativa frustrada por parte da RCA Victor em lançar um disco de estúdio inédito, de qualidade, com várias canções ao estilo country. O projeto foi deixado de lado depois que a RCA resolveu pegar esse pacote de gravações para preencher os LPs das trilhas dos filmes, usando o material como "Bonus Songs". Um pecado! A música foi escrita por Jerry Reed, talentoso compositor e cantor. Um dos melhores com quem Elvis teve a oportunidade de trabalhar. Embora seja um dos mais interessantes momentos de Elvis em estúdio no fim dos anos 60, o fato é que U.S. Male continuou sem muito espaço dentro de sua discografia, sendo encaixada em "Almost in Love" sem muito critério. Em minha visão a música foi totalmente desperdiçada. Lamentável, mas enfim. O disco chegou ao mercado em outubro de 1970, sendo lançado pelo selo RCA Camden. Como foi lançado no mercado promocional, entre dois importantes álbuns de Elvis (On Stage e That´s The Way It Is), nunca chegou a ser um grande sucesso comercial, muito embora tenha sido lançado no Brasil, em uma época em que isso nem era tão fácil de acontecer.

9. Charro (Strange - Davis) - Já "Charro" entrou no disco por causa da proximidade de lançamento do filme nos cinemas. Naquele final de década os filmes do chamado western spaghetti estavam em alta. Até mesmo o Western Made in USA encontrava dificuldades de competir com os filmes italianos de faroeste que eram mais violentos, mais realistas e mais sangrentos. O western tradicional, cheio de mocinhos cheios de virtudes, estava em baixa perante o público. Eles queriam ver os filmes feitos na Cinecittà em Roma. Assim Elvis, procurando pelo sucesso perdido nas telas de cinema, embarcou na onda, na modinha. E assim foi feito "Charro", o spaghetti americano estrelado por Elvis Presley. Já pararam para pensar como tudo soava estranho? O Spaghetti era uma imitação do cinema americano e agora a própria indústria americana de cinema estava copiando aqueles que o tinham copiado! O original copiando a cópia! Faz sentido para você? Não muito, é verdade. De qualquer forma se o filme não é tão bom (na verdade ele é ruim mesmo), a trilha sonora teve seus encantos. O estúdio contratou um especialista em temas de faroestes italianos e o que ouvimos aqui é uma boa canção, bem arranjada. Elvis de barba, montando seu cavalo, até que não foi um desperdício total. A trilha sonora pelo menos foi boa, bem razoável. Para quem comprou o LP "Almost in Love" na época isso já era o bastante

10. Stay Away, Joe (Weisman - Wayne) - O mesmo não se podia dizer da música tema do filme "Stay Away, Joe", também incluída na seleção das canções desse disco. Esse aqui já era um filme bem nonsense, com um roteiro amalucado e sem muito sentido que tentava tirar pitadas de comédia com Elvis interpretando um mestiço nativo em meio a muitas confusões envolvendo garotas, brigas, motos e lama (não necessariamente nessa ordem!). Era um tipo de versão mais hardcore dos roteiros bobinhos que fizeram parte de vários filmes de Elvis nos anos 60. Se o filme e a trilha não ajudavam muito, uma curiosidade despertava a atenção dos fãs pois uma versão inédita da música foi incluída no disco, um take em que Elvis quase caía na risada, bem no meio da gravação. A raridade do take acabou levando muitos a comprarem o álbum, mostrando pela primeira vez aos executivos da RCA Victor que havia também um grande interesse por parte dos fãs em takes alternativos, algo que anos depois iria ser a principal razão para o lançamento da coleção FTD.

Pablo Aluísio.

domingo, 16 de janeiro de 2005

Elvis Presley - On Stage, February, 1970

C.C. Rider (Presley) - "On Stage - February 1970" foi o primeiro álbum gravado ao vivo por Elvis Presley a ser lançado na década de 70. De certa forma foi o pioneiro numa série de discos de grande sucesso de público e crítica. Saiam de cena as trilhas sonoras de filmes e entravam os discos gravados nas temporadas de Elvis em Vegas e nas suas turnês pelos Estados Unidos. A ideia desse primeiro disco foi bem interessante. Ao invés de lançar um LP aos moldes do anterior (Elvis in Person), trazendo um show na íntegra, com vários sucessos de Elvis gravados ao vivo, os produtores resolveram fazer uma seleção apenas com músicas inéditas dentro da discografia de Elvis. Assim iria satisfazer tanto o fã que estivesse em busca de um disco gravado no palco por Elvis como aquele que estivesse em busca de novidades, de material inédito do cantor. A faixa que abriu o disco foi justamente essa C.C. Rider que ao longo do tempo iria tradicionalmente abrir os concertos de Elvis nos anos 70. A origem da canção é desconhecida. Já na década de 1910 ela já era bem tocada por cantores de blues em bares no sul. Quem a criou? Provavelmente um desses artistas cujo nome se perdeu no tempo... Apenas em 1924 seria gravada pela primeira vez por Gertrude "Ma" Rainey ainda nos tempos dos acetatos de cera dos gramofones. Como era uma canção tradicional nunca desapareceu, sempre tocada em eventos pelos estados sulistas. Aqui Elvis a revitalizou, dando um arranjo mais moderno, mais rock ´n´ roll. Curiosamente se você tiver a oportunidade de encontrar uma cópia original do LP americano verá que a canção foi creditada no selo do disco ao próprio Elvis Presley. Na verdade Elvis não a compôs, mas sim ajudou nos arranjos. Esse fato acabou justificando a retificação nas reedições posteriores do disco quando então foi creditado da forma correta com a expressão "Arr: Elvis Presley". Essa primeira versão que ouvimos aqui é excelente, mais acústica do que as demais. Além disso soava como novidade, algo que não iria se repetir com a exaustão de execuções repetidas dos anos seguintes quando ela finalmente ficaria saturada.

Release Me (Miller / Pebworth / Yount) - Sempre gostei muito dessa regravação de Elvis de um velho sucesso da década de 1940, gravada originalmente por Ray Price. Ele foi um artista muito popular durante a adolescência de Presley em Memphis, sempre tocando nas emissoras de rádio da cidade. "For the Good Times", outro de seus sucessos radiofônicos, seria gravada também por Elvis em pouco tempo (sendo lançada no álbum "Good Times" de 1974). Assim Elvis resolveu dar uma nova roupagem a esse velho hit country, usando de certa maneira como base a versão posterior de Engelbert Humperdinck, que chegou, imagine você, a disputar com um single dos Beatles (Penny Lane / Strawberry Fields Forever), a primeira posição nas paradas de sucesso da Inglaterra! Assim você já pode perceber que "Release Me" já era muito conhecida quando Elvis a interpretou em Las Vegas em sua segunda temporada. Como o cantor queria trazer mais material renovador para seu repertório a canção acabou se enquadrando muito bem no que ele tencionava fazer nos palcos da cidade.<br /><br />Em termos de melodia e letra "Release Me" é bem simples, fruto da época em que foi composta, no período da II Guerra Mundial. Aqueles soldados americanos que estavam lutando na Europa só queriam ouvir uma boa música country para relembrarem suas namoradas que ficaram nos Estados Unidos. Por essa razão a mensagem era simples e fácil de entender. Nada muito intelectualmente sofisticado. Como se sabe muitos desses militares na Europa ou no Pacífico encontraram novos amores nas cidades por onde passavam, assim a letra trazia essa mensagem ao mesmo tempo nostálgica de um amor do passado e libertária em relação a novos relacionamentos. Em termos de carreira de Elvis eu costumo qualificar canções como essa como "músicas de palco". Elvis nunca a gravou oficialmente em estúdio e ela só foi lançada na discografia oficial justamente nessa versão ao vivo. A interpretação do cantor foi excelente nessa noite e de todas as performances de Elvis cantando "Release Me" ao longo de sua carreira essa é a certamente a melhor. Curiosamente Elvis também a descartaria rapidamente do repertório dos concertos, sem muita explicação. Assim ao longo dos anos ela seria sutilmente esquecida por Elvis e sua banda. Uma pena.

Sweet Caroline (Neil Diamond) - Um dos pontos altos da temporada de fevereiro de 1970 foi essa versão de Elvis para o sucesso de Neil Diamond, "Sweet Caroline". Essa era uma música bem recente nas rádios pois ela havia sido lançada como single (com "Dig In" no lado B) poucos meses antes. Elvis, como todos sabemos, era fã incondicional da música de Diamond, a tal ponto que ao longo de sua carreira gravou várias canções desse artista. Para sua apresentação no palco em Las Vegas acabou criando uma coreografia própria que ficou excelente. O grande diferencial da versão de Elvis para a original de Diamond vem dos arranjos. A música na voz de Neil Diamond soava mais pueril, com uma sonoridade bem hippie. Com Elvis ela ficou mais marcante, fruto dos metais da orquestra. A singeleza do resto, principalmente em relação à letra, manteve-se. Outro detalhe técnico chama a atenção. Alguns autores afirmam que "Sweet Caroline" foi sugerida a Elvis ainda quando ele estava produzindo nas sessões do American Studios em Memphis, no ano anterior. Isso provém do fato de que a versão de Diamond foi produzida por Chips Moman (que também produziu aquelas sessões com Elvis) e Tommy Cogbill (que também tocou com Elvis naquela ocasião). Apesar de ter sido oferecida a Elvis e tudo mais o cantor não a gravou em estúdio. As razões de sua recusa seguem desconhecidas. Talvez a grande qualidade das outras canções tenha ofuscado "Sweet Caroline", quem sabe... Foi um erro de Elvis porque ele teria gravado a versão antes de seu autor e teria feito bastante sucesso nas paradas se a tivesse lançado como single, ainda em 1969. Depois disso o próprio Elvis foi surpreendido pela versão original de Neil Diamond que lançada como compacto pelo selo MCA fez bonito nas paradas, ganhando um disco de platina por suas vendas. Todo esse sucesso poderia ter sido de Elvis caso ela não a tivesse descartado no American. Tentando contornar a bobagem que havia feito Elvis resolveu levá-la para os palcos em Vegas, confirmando o velho ditado que diz "Antes tarde do que nunca".

Runaway (Del Shannon / Max Crook) - Diante do propósito de só trazer canções inéditas para esse álbum, Elvis subiu ao palco em Las Vegas para cantar o hit "Runaway" de Del Shannon. Essa música foi número 1 na lista Billboard Hot 100 em fevereiro de 1961. Dois aspectos são dignos de menção. O primeiro é que a canção nunca havia sido gravada por Elvis em estúdio antes (por essa razão era inédita em sua discografia). O segundo é que ela na verdade não havia sido gravada em fevereiro de 1970 como constava na capa do LP original, mas sim em agosto de 1969, na sua primeira temporada de retorno aos palcos em Nevada. A RCA Victor quase a lançou no disco anterior, Elvis in Person, mas por precaução resolveu arquivá-la por mais algum tempo. Quando pintou o projeto desse novo LP ela se mostrou ideal para fazer parte de seu repertório. Ótima decisão. Segundo o próprio Del Shannon em uma entrevista essa canção acabou lhe trazendo uma das maiores alegrias de sua vida. Ele, como tantos outros milhares de admiradores de Elvis, fez questão de assistir o Rei do Rock ao vivo em Las Vegas. Para um artista que parecia só realizar concertos de dez em dez anos era uma oportunidade única, imperdível. Na noite em que estava na plateia Elvis parou repentinamente a apresentação e resolveu comunicar para os presentes que Del Shannon estava ali, naquela noite, lhe prestigiando. Shannon ficou completamente surpreendido, pois sequer havia comunicado ao staff de Elvis que iria assistir ao seu concerto. Depois de agradecer sua presença Elvis então mandou ver em sua própria versão do sucesso "Runaway", deixando Shannon emocionado. Depois o encontrou em seu camarim. Sobre esse encontro o autor declarou: "Assistir Elvis cantando minha canção foi muito emocionante. Depois ao encontrá-lo no camarim pude constatar como Elvis era educado, humilde e solícito. Ele me deixou emocionado. Nem quando os Beatles fizeram sua própria versão de Runaway pude ficar tão emocionado. Aquela foi uma das grandes noites de toda a minha vida. Uma lembrança que jamais esquecerei".

The Wonder of You (Baker Knight) - Esse era o tipo de música que Elvis vinha procurando para apresentar ao vivo, principalmente em palcos como o de Las Vegas, onde esse tipo de exuberância orquestral era praticamente um pré-requisito para qualquer artista se dar bem e ser aclamado por público e crítica. O curioso é que a música em si era antiga, gravada e lançada no final da década de 1950 pelo cantor pop Ray Peterson, justamente na época em que Elvis estava servindo o exército americano numa base na Alemanha. Não há maiores informações sobre se Elvis a teria conhecido na Europa ou na sua volta aos Estados Unidos em 1960, até porque naqueles tempos não havia ainda a facilidade de comunicação e divulgação que temos hoje em dia, mas o fato é que a música conquistou o cantor, tanto que ele pensou em gravá-la durante as sessões no American Studios em Memphis, no ano anterior. A canção chegou inclusive a ser selecionada, o novo arranjo elaborado e até ensaiado pela banda, mas no final passou mesmo em branco. Elvis jamais a gravaria em estúdio. O arranjo composto porém não seria desperdiçado. Já nos primeiros ensaios de sua segunda temporada Elvis resolveu inclui-la no repertório, ainda mais agora que a RCA Victor estava em busca de músicas inéditas dentro da discografia de Elvis. O próprio Felton Jarvis diria a Elvis que o "On Stage" seria na verdade um álbum de gravações inéditas, só que nas versões live, ao vivo. Assim com tudo certo a bela faixa foi incluída. Considero essa performance impecável, tanto por parte de Elvis como por parte da TCB Band. É fato que eles sabiam que estavam gravando músicas para o novo LP de Presley e por essa razão foram perfeccionistas na execução da música. Acertaram em cheio. A gravação que foi incluída nesse disco foi a registrada pela RCA em 19 de fevereiro de 1970. Assim que desceu do palco Elvis mandou um recado para seu produtor, para que essa versão fosse a escolhida para o álbum pois ele bem sabia que ela havia ficado simplesmente maravilhosa. Uma das melhores interpretações ao vivo de Elvis em toda a sua carreira.

Polk Salad Annie (Tony Joe White) - Essa canção é uma das mais sui generis da carreira de Elvis. O autor, Tony Joe White, foi criado nas regiões pantanosas da Louisiana e assim escreveu essa letra, meio maliciosa, sobre uma garota pobre do sul, que tinha hábitos alimentares bem regionais. Usando de gírias de sua região natal ele criou esse enredo meio nonsense, algo que no final das contas nunca fez muito sentido ou foi de fácil entendimento para os ouvintes de outras regiões dos Estados Unidos. Por essa mesma razão sua letra soava incompreensível para quem não era do sul. Assim, sempre que Elvis a cantava, usava uma pequena introdução tentando explicar do que se tratava. Na maioria das vezes não adiantava nada, mas o que valia era a boa intenção. Em uma época em que o psicodelismo imperava, com letras que não faziam nenhum sentido, até que Elvis poderia dispensar esse tipo de preciosismo, já que para falar a verdade ninguém estava muito se importando mesmo com a letra da música. O que salvava "Polk Salad Annie" era o seu embalo, o ritmo e as coreografias que Elvis apresentava no palco. E por falar em misturas e misturebas, Elvis também resolveu jogar em um mesmo caldeirão movimentos que tinha aprendido com mestres em artes marciais e o estilo dançante da canção, resultando tudo em algo novo. Nesses primeiros concertos Elvis ainda se esmerava em dar o melhor de si, as melhores performances, mas com o passar dos anos a execução de "Polk Salad Annie" foi se tornando mais displicente, quase uma gozação por parte de Elvis nos shows. De uma forma ou outra o que não se pode negar é que a música era ótima para concertos ao vivo! Por outro lado Elvis nunca gravou uma versão oficial com sua banda em estúdio. Era desnecessário. "Polk Salad Annie" afinal era pura festa e diversão.

Yesterday (Lennon / McCartney) - A canção "Yesterday" dos Beatles foi um dos maiores sucessos dos anos 60. Lançada originalmente no álbum "Help!" em 1965 ela acabou virando um verdadeiro fenômeno de vendas e popularidade naquela década inesquecível. Durante anos se especulou se Elvis algum dia iria lançar sua própria versão, já que praticamente todos os outros grandes cantores americanos, como Frank Sinatra e Dean Martin,&nbsp; acabaram fazendo as suas. Em estúdio isso jamais aconteceria. Embora Elvis gostasse de vários discos e canções dos Beatles, ele nunca se interessou em gravar suas próprias versões do repertório do quarteto inglês, pelo menos até 1969. Isso mudou com sua volta aos palcos. Como artista de concertos ao vivo Elvis sentiu a necessidade de incluir algumas canções dos Beatles em seu repertório. "Yesterday", a imortal criação de Paul McCartney, foi a primeira delas a sair em um disco oficial de Elvis Presley. Ela veio não numa versão de estúdio, como era esperado, mas ao vivo, no palco. Um fato curioso envolve a inclusão dessa faixa nesse álbum. Como sabemos o disco foi intitulado "On Stage - February, 1970" (Em bom português: "No Palco - Fevereiro de 1970"). Isso levava o ouvinte a pensar que todas as gravações tinham sido realizadas nesse período, justamente a da segunda temporada de Elvis em Las Vegas. Isso era apenas parcialmente verdadeiro. "Yesterday" na verdade havia sido gravada em agosto do ano anterior, na primeira temporada de Elvis em Las Vegas. Para ser mais exato no dia 25 de agosto de 1969, algo que nunca foi informado ao fã que comprou o disco uma vez que não havia ficha técnica e nem maiores detalhes na edição original desse disco. Apesar disso a boa seleção acabou deixando tudo com um aspecto bem imperceptível ao fã menos atento. Na realidade o consumidor menos detalhista poderia até mesmo jurar estar ouvindo a uma única apresentação de Elvis, realizada na mesma ocasião. Deixando isso um pouco de lado temos que admitir que essa versão live de "Yesterday" é muito boa, embora não seja tecnicamente perfeita. Se Elvis a tivesse gravada em estúdio, com todo o aparato e cuidado técnico que esse tipo de gravação traz, o resultado teria sido inegavelmente muito superior.

Proud Mary (John Fogerty) - Dentro do conceito de trazer músicas inéditas dentro da discografia de Elvis na época (estamos falando de 1970) a RCA Victor selecionou essa versão ao vivo do grande clássico do rock americano, "Proud Mary". A canção havia sido lançada originalmente em janeiro de 1969 pelo grupo Creedence Clearwater Revival, um dos melhores de sua geração. O single (com "Born on the Bayou" no lado B) acabou se tornando um dos maiores sucessos da banda. Realmente é uma grande composição, um exemplo perfeito do tipo de country / rock que Elvis estava procurando para renovar seu repertório. Certamente cantar novas versões de sucessos dos anos 50 como "Hound Dog" ou "Don´t Be Cruel" em Las Vegas até poderia soar interessante, principalmente para os fãs mais veteranos, porém era igualmente necessário não esquecer o tipo de sucesso que andava tocando nas rádios naquele período. Segundo Felton Jarvis, o produtor e arranjador de Elvis, tudo o que o cantor queria na época era equilibrar seu legado, suas antigas canções, com o mundo musical contemporâneo. Não soar apenas como um artista meramente nostálgico, que vivia de glórias passadas. A escolha foi perfeita. A interpretação de Elvis foi uma das mais empolgantes e se tornou o ponto alto da temporada. Curiosamente, apesar da boa repercussão, Elvis iria deixar a música de lado nos anos seguintes. É bom lembrar porém que "Proud Mary" surgiu duas vezes na discografia oficial de Elvis. A primeira foi aqui, no "On Stage". Uma versão bem executada, bem elaborada, com um ritmo mais cadenciado e um sabor quase acústico. A segunda gravação veio no álbum "Elvis as Recorded at Madison Square Garden" de 1972. Para muitos essa segunda versão seria bem melhor, contando com um pique e ritmo que ficaram bem conhecidos dessa eletrizante apresentação de Elvis em Nova Iorque. Por fim, um detalhe interessante: Embora muitos reconheçam que o single do Creedence Clearwater Revival tenha sido vital para que Elvis a gravasse, sua maior influência teria vindo mesmo da versão de Ike &amp; Tina Turner, que lançada nesse mesmo ano (1970), teria impressionado pela garra e vitalidade da interpretação da cantora. Ouvindo todas as versões (a do Creedence, a de Tina Turner e a de Elvis) chegamos na conclusão que realmente Elvis retirou muito mais inspiração da segunda gravação, que combinava muito mais com o estilo de Las Vegas. Afinal de contas ele certamente sabia que poderia contar com essa música para levantar o público durante os shows.

Walk a Mile In My Shoes (Joe South) - Certa vez Elvis declarou: "Antes de criticar os outros, meu caro, se coloque no lugar deles!". A essência da letra dessa música é justamente essa. Coloque-se no lugar do outro, lute suas batalhas, vejas as dificuldades que cada um enfrenta na sua própria pele. Criticar é fácil, viver os problemas alheios, não! Elvis foi tão criticado ao longo dos anos 60 que ele sabia muito bem o que essa mensagem significava. "Caminhe uma milha em meus sapatos", ou seja, fique no meu lugar, veja como é difícil andar nessa jornada, como a vida definitivamente não é nada fácil para ninguém. Em um trecho a letra é clara sobre isso ao dizer: "Viva um pouco no meu lugar, antes de abusar, criticar e acusar, viva um pouco no meu lugar". Aliás se formos analisar bem a letra foi a chave, o fator determinante, que fez Elvis gravar essa canção. Elvis estava farto, cansado, exausto de ser tão criticado depois de tantos anos. Em termos puramente musicais "Walk A Mile In My Shoes" não havia se destacado antes de Elvis gravar a sua própria versão. A canção foi lançada de forma bem obscura como Lado B de um single do cantor e compositor Joe South. O compacto, um tanto precário, quase uma produção independente, foi lançado como sendo do grupo "Joe South and the Believers". Na realidade não era bem uma banda, um novo conjunto vocal country, mas sim um arranjo envolvendo Joe South, seu irmão Tommy e sua cunhada. Eles se reuniram em Atlanta, juntaram uns trocados, fizeram uma gravação praticamente amadora em um estúdio da cidade e mandaram prensar 500 cópias. Tinham a esperança de vender pelo menos umas 300 cópias para lucrar algum dinheiro, e isso era tudo. Acontece que a música acabou chegando até Elvis (não me perguntem como!) e assim o astro a cantou ao vivo em Las Vegas. Quando o álbum "On Stage" chegou nas lojas Joe South pulou de alegria obviamente. Depois de Elvis colocar sua voz em sua criação finalmente Joe conseguiu lançar um single profissional que, pasmem, acabou fazendo um bom sucesso na parada country do cinturão bíblico do sul dos Estados Unidos. Sua sorte havia finalmente mudado!

Let It Be Me (Curtis / Delanoë / Bécaud) - Bom, dando sequência na análise das canções que fizeram parte do álbum "On Stage" chegamos nesse verdadeiro clássico, "Let It Be Me". A primeira vez que ouvi essa música não foi na voz de Elvis Presley. Na verdade ela já havia feito muito sucesso antes na interpretação do grupo "The Everly Brothers". Essa versão - a primeira em língua inglesa - havia sido lançada pelos irmãos em 1960, alcançando um grande sucesso nas paradas, em especial da Billboard Hot 100. É curioso que esse sucesso chegou talvez tarde demais para eles. Já havia uma grande tensão entre os dois e a canção acabou sendo um de seus últimos sucessos juntos. Curiosamente alguns meses atrás assisti a uma entrevista com Paul McCartney afirmando que o estilo vocal do Everly Brothers havia se tornado a grande influência para os Beatles em seus primeiros discos. De fato, basta ouvir álbuns como "Please Please Me" ou "With The Beatles" para comprovar bem isso. Além da influência vocal havia também os arranjos, baseados principalmente na dobradinha voz e violão, que os Beatles também procuraram seguir, principalmente nas canções mais lentas, ternas, com letras que falavam de amor, romance e paixão. Não há como negar, os Beatles deveram muito em termos de influência musical a essa dupla americana. De qualquer maneira apesar da inegável importância da versão dos irmãos Everly, o fato é que a versão original não era deles. A primeira gravação dessa canção foi lançada na França com o título de "Je t'appartiens" na voz do cantor Gilbert Bécaud. Isso abre um fato histórico interessante. Elvis teria conhecido a música através do single dos Everly Brothers ou tinha gostado dela por causa da versão original, quando ainda estava servindo o exército americano na Europa? Como se sabe Elvis adorava música francesa e chegou a visitar Paris em uma viagem de férias enquanto estava em solo europeu. Anos depois, consultando a discografia particular de Elvis em Graceland, descobriu-se que ele tinha tanto o compacto americano dos Everly Brothers como o álbum de Gilbert Bécaud. Na dúvida sobre qual gravação era a sua preferida uma coisa é certa: quando apareceu a oportunidade Elvis não deixou passar em branco e resolveu também gravar sua versão em forma de homenagem para essa grande canção, que em suas mãos ganhou um arranjo rico, com muita orquestra, bem diferente das versões originais que primavam pela suavidade e simplicidade harmônica.

Elvis Presley - Elvis On Stage, February, 1970 (1970) - Data de Gravação: Agosto de 1969 - fevereiro de 1970 / Local de Gravação: Las Vegas, Nevada / Produtor: Felton Jarvis, Glen D. Hardin, Glenn Spreen, Bergen White, Elvis Presley / Músicos: Elvis Presley (vocais, violão), James Burton (guitarra), Jerry Scheff (baixo), John Wilkinson (guitarra), Bob Lanning (bateria), Ronnie Tutt (bateria), Charlie Hodge (violão), Glen Hardin (piano), Larry Muhoberac (Piano, órgão), The Imperials (vocais), The Sweet Inspirations (vocais), Millie Kirkham (vocais), Bobby Morris e Orquestra. / Data de Lançamento: Junho de 1970 / Melhor Posição nas paradas: #13 (Estados Unidos) #2 (Inglaterra).

Pablo Aluísio.