sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Elvis Presley - From Elvis in Memphis (1969)

As pessoas precisam entender que até o lançamento desse álbum, Elvis vinha em uma situação muito ruim em sua carreira. A discografia de Elvis atravessava uma péssima fase. A grande maioria de seus discos se resumiam em trilhas sonoras de seus filmes. Esses já não eram grande coisa e as músicas também deixavam muito a desejar. Embora existissem gemas preciosas perdidas, o material como um todo era adolescente demais, quase bobo. O problema básico era que Elvis já era um homem de 30 anos, cantando e agindo como um adolescente apaixonado no cinema. Era fora de época, quase bizarro. Os fãs dos velhos tempos de Elvis também já tinham deixado os tempos colegiais de lado, estavam casados, com filhos, enfrentando problemas no casamento e tudo o mais. Quem iria ainda perder tempo comprando discos de Elvis Presley onde ele basicamente cantava letras falando de namoricos, bichinhos de estimação e praia? Nesse tempo Elvis foi sendo abandonado pelos antigos fãs ao mesmo tempo em que não conquistava novos admiradores entre os adolescentes dos anos 60 que estavam curtindo outro tipo de som. Elvis era apenas um tiozão querendo dar uma de garotão para essa nova geração.

Assim em 1969 todos da organização Presley tomaram consciência que a mudança teria que vir. Os discos não vendiam mais bem, as trilhas encalhavam nas lojas e Elvis era um autêntico artista ultrapassado, um ídolo roqueiro do passado que "já era", ele pouco significava em termos comerciais para o mercado fonográfico. Como mudar isso? A primeira providência foi deixar Hollywood para trás. Ainda havia alguns contratos a cumprir com os estúdios de cinema, mas depois deles, nunca mais. Outro passo importante era voltar aos shows ao vivo. Elvis ficou tanto tempo fora dos palcos que as pessoas simplesmente esqueceram que ele ainda existia. A estratégia de Tom Parker em isolar Elvis do público como forma de incentivar a venda de ingressos nos cinemas não deu certo. Elvis foi sumindo dos jornais, das revistas e finalmente dos olhos do público. Ao invés de estar fazendo shows e turnês memoráveis, Elvis estava afundando em roteiros de péssima qualidade em filmes que estavam sendo solenemente ignorados pelas pessoas em geral.

Pois bem, Elvis já tinha deixado Hollywood para trás e voltado aos shows em Las Vegas. O próximo passo era voltar ao estúdio de gravação para gravar boas músicas. "From Elvis in Memphis" entra nesse último quesito. Ao invés de letras bobocas sobre amores adolescentes o produtor Chips Moman selecionou um repertório de verdade, com temas interessantes, adultos, bem de acordo com os tempos em que todos viviam. O saldo de qualidade foi absurdo. Elvis que não era bobo nem nada ouviu todos aqueles demos e ficou empolgado. Ali estava um material para enfiar a cara, dar o melhor de si. Ao invés das ridículas canções sobre mariscos e ostras de seus filmes de praia, Elvis agora tinha uma bela coleção de canções para trabalhar. Ele ficou empolgado com a oportunidade de novamente cantar bem, fazer bonito perante a crítica e principalmente reconquistar seu velho público que havia ido embora depois de tantos discos medíocres.

O estúdio escolhido foi o American que ficava ali em Memphis mesmo, em um bairro de vizinhança pobre e negra da cidade. No passado o American havia sido usado por inúmeros artistas de black music. Ao contrário dos assépticos estúdios da costa oeste, com seu ambiente de plástico, agora Elvis estava respirando história musical ali dentro. Procurando absorver os bons ares do local ele costumava chegar cedo ao estúdio para acompanhar as gravações de artistas negros que gravavam antes dele. Elvis sempre foi um apaixonado pela música negra e agora podia se sentir fazendo parte daquela comunidade de artistas. Era algo muito gratificante para ele naquele momento complicado de sua vida profissional.

Outra decisão que ajudou Elvis a respirar novos ares foi a despedida de sua antiga banda. Com os anos muitos daqueles músicos foram pegando vícios dentro dos estúdios. A convivência por muito tempo acabou criando uma certa saturação de relacionamento. Com a entrada de um novo grupo musical esses ares se renovavam. Os novos membros da banda de estúdio de Elvis nunca tinham trabalhado com ele antes. Eram jovens e admiravam Presley pelo que ele havia conquistado por todos aqueles anos, porém todos concordavam que os últimos álbuns do cantor eram verdadeiras palhaçadas. Ajudar Presley passou a ser mais um ponto de incentivo para todos. Scotty Moore, DJ Fontana e a velha banda de Elvis então foram dispensados pelo Coronel Parker. Eles faziam parte do passado e Elvis agora procurava olhar para a frente, em busca de novos horizontes e objetivos a conquistar. Uma nova era começava em sua vida.

Wearin' That Loved On Look (Dallas Frazier / Al Owens) - A canção que abre o álbum "From Elvis in Memphis" já trazia todos os elementos que demonstrariam aos fãs que Elvis finalmente trilhava um novo caminho na carreira. As mudanças já começavam pelos arranjos. Há nitidamente por parte do produtor Chips Moman um esforço em enriquecer as gravações com uma instrumentação mais bem elaborada e moderna. Também chama a atenção o fato de que os antigos arranjos vocais da discografia de Elvis, baseados em grupos masculinos de formação gospel, como os Jordanaires, foram substituídos por algo mais contemporâneo, baseado numa vocalização feminina negra. A canção deu trabalho. Elvis e seus músicos ficaram das duas da manhã até as sete do dia 14 de janeiro, já com o sol raiando, trabalhando nela. No total foram produzidas 14 takes, sendo que nenhum deles deixou Elvis suficientemente satisfeito. Chips prometeu a Elvis que iria trabalhar depois na mesa de som com as gravações para se chegar em uma versão perfeita. Depois de tanto esforço é de se reconhecer que a gravação final ficou realmente irretocável. Uma bela obra prima dessa fase mais criativa do cantor. Eis as canções do álbum:

Only The Strong Survive (Gamble / Huff / Butler) - Uma das coisas que mais chamam atenção nessa nova leva de gravações de Elvis em 1969 é a mudança significativa das letras. Durante praticamente toda a década de 1960, principalmente com suas trilhas sonoras, Elvis ficou preso a um tipo básico de letra sobre amores adolescentes que se desgastou completamente. Assim já havia passado mesmo da hora de mudar, evoluir, crescer. Certamente o tema sobre amores não seria deixado de lado, porém sob um enfoque diferente, tratando dos problemas de um relacionamento mais adulto. Essa música havia sido gravada originalmente pelo cantor e compositor Jerry Butler um ano antes. Ela fazia parte do repertório do disco "The Ice Man Cometh". Quando lançada em single se tornou um grande sucesso, vendendo mais de um milhão de cópias, conquistando o disco de platina. Elvis a adorava e foi ele que a trouxe para as sessões no American. Posteriormente a música seria regravada por Billy Paul, consolidando ainda mais seu sucesso nas paradas.

I´ll Hold Your In My Heart (Arnold / Horton / Dilbeck) - Eddie Arnold foi um pioneiro da música country que cruzou várias vezes o caminho de Elvis ao longo de sua carreira. Um de seus maiores sucessos foi justamente essa canção "I´ll Hold Your In My Heart". Curiosamente, apesar de Arnold ter sido um dos maiores nomes do som de Nashville, ela gravou sua versão original nos estúdios da RCA Victor em Chicago. Outro fato que o liga a Elvis é que essa sessão de gravação foi produzida por Steve Sholes, o mesmo produtor que trabalhou ao lado de Elvis em seus primeiros anos na gravadora RCA. Elvis inclusive considerava esse um dos melhores trabalhos de Sholes e durante anos dizia que também iria gravar a sua versão da canção, que era uma de suas preferidas. Assim "I´ll Hold Your In My Heart" acabou sendo outra música escolhida pessoalmente por Elvis para a sessão. Como sempre a tocava no grande piano dourado de Graceland, em momentos de descontração, o próprio Elvis decidiu que ele iria tocar o instrumento na faixa. É justamente isso que ouvimos na versão oficial. Elvis inspirado fazendo sua pequena homenagem ao legado de Eddie Arnold.

Long Black Limousine (George / Stavall) - É certamente uma das melhores letras do disco. Evocativa, quase como uma narrativa cinematográfica, a canção chama a atenção pela originalidade e ousadia, afinal de contas não era todo dia que se ouvia algo assim. Com elementos de country e rhythm and blues, a canção foi sugerida pelo produtor Chips Moman. Ele chamou Elvis para lhe mostrar o tipo de sonoridade e criatividade que estava esperando produzir naquelas sessões. "Long Black Limousine" inclusive foi a música que abriu os trabalhos no American Studios. Moman queria começar em grande estilo, procurando ir diretamente a uma fonte com mais qualidade, com melhores arranjos e letras fortes, marcantes. Elvis adorou tanto a canção como a proposta do produtor, já que há anos vinha reclamando da falta de material de qualidade para trabalhar. A música havia sido escrita em 1958, no mesmo ano em que Elvis estrelava "King Creole". Durante anos porém ela não foi gravada. Foi considerada estranha demais pelas gravadoras da época. Apenas em 1961 ganhou sua primeira versão, em um single lançado pelo cantor Wynn Stewart. Ao longos dos anos foi ganhando novas regravações discretas. Nem a versão de Glen Campbell conseguiu se destacar nas paradas, provando que era realmente uma faixa sui generis que fugia dos padrões mais comerciais. Antes de Elvis a tornar mais conhecida, apenas sua inclusão no disco "The Nashville Sound of Jody Miller" conseguiu trazer alguma notoriedade. Depois que Elvis a gravou no American Studios finalmente a música conseguiu se tornar apreciada pelo grande público em geral. Um reconhecimento tardio, mas muito bem-vindo.

It Keeps Right A Hurtin (Johnny Tillotson) - Johnny Tillotson foi um cantor e compositor sulista que surgiu na esteira de sucesso do próprio Elvis, ainda na década de 1950. Inicialmente ele apareceu no mercado como um astro pop adolescente, porém com o passar dos anos foi crescendo musicalmente, abraçando finalmente o estilo country. Apesar de Johnny muitas vezes ser encarado apenas como um "mini Elvis" como tantos outros que surgiram naquela época, Elvis via em seus singles um claro talento musical. Na verdade o próprio Elvis costumava ouvir seus compactos quando estava na Alemanha, prestando serviço militar. Daqueles astros juvenis ele era um dos que mais chamavam sua atenção. "Pledging My Love", por exemplo, um hit na voz de Tillotson durante a década de 60, seria gravada por Elvis em seu último álbum, "Moody Blue". Já "It Keeps Right On A-Hurtin'" foi lançada originalmente como single em 1962. Desde o seu lançamento Elvis a considerou uma grande canção. A música realmente tinha excelente melodia e letra, o que a faz se destacar na Billboard, alcançando a terceira posição entre os mais vendidos. Essa foi outra especialmente selecionado por Presley para fazer parte do álbum. Uma questão realmente de gosto pessoal.

I'm Movin On (Hank Snow) - Nessa gravação Elvis Presley fez uma volta ao seu passado, mais precisamente a 1950 quando "I'm Movin On" na voz de Hank Snow estourou em todas as paradas country. Em Memphis ela virou figurinha fácil nas emissoras de rádio. Na época Elvis era apenas um garoto de quinze anos de idade que sequer sonhava em alcançar a fama de Hank, considerado um dos maiores ídolos da música country dos Estados Unidos. Durante as sessões Elvis começou a trocar ideias com o produtor Felton Jarvis (que iria se tornar seu produtor musical definitivo depois dessa gravação) e disse a ele que seria muito bom trazer grandes clássicos da country music para o American Studio. Ali mesmo, com Elvis sentado em um banco no centro do estúdio, eles começaram a lembrar de grandes músicas de um passado distante. Elvis se virou para Jarvis, apontou o dedo e disse: "Eu me lembrei agora de I'm Movin On do Hank! Vamos gravá-la!". Felton Jarvis então providenciou partituras para os músicos e após alguns breve ensaios eles conseguiram, até com relativa facilidade, chegar no take ideal que se tornaria o oficial. Depois da última tentativa, ainda com microfone aberto, Elvis empolgado disparou no microfone: "Ei, essa é uma grande canção!". Risos foram ouvidos atrás dele.

Power Of My Love (Bill Giant / Bernie Baum / Florence Kaye) - O trio Giant, Baum e Kaye escreveu algumas das mais medonhas músicas gravadas por Elvis em sua carreira. Muitas delas tinham sido compostas a toque de caixa para fazer parte das trilhas sonoras de seus filmes. Com o tempo Elvis foi desenvolvendo uma certa aversão ao trio, justamente por causa das porcarias que tinham escrito ao longo dos anos. Curiosamente ele, que chegou certa vez a dizer que nunca mais gravaria nada composto pelo trio novamente, resolveu abrir uma última exceção. A razão era simples de entender, pois "Power Of My Love" era realmente uma grande música, muito boa realmente, com letra e melodia bem acima da média. Muitos anos depois o compositor Florence Kaye confessou: "Realmente muitas músicas que fizemos para Elvis não eram grande coisa. Os filmes também não nos empolgavam a escrever nada melhor. Se o filme era ruim, as trilhas não poderiam ser melhores. Em 1969 o produtor de Elvis me ligou dizendo que providenciasse algo novo. O Coronel queria que uma de nossas músicas fosse para o novo disco de Elvis. Era um álbum de estúdio e por isso resolvemos dar o melhor de nós! Acho a gravação muito forte e bonita. Nossa melhor colaboração ao lado do cantor". Kaye tinha toda a razão, "Power Of My Love" era mesmo uma grande faixa e seguramente um dos melhores momentos do disco inteiro. Grande canção.

Gentle On My Mind (John Hartford) - John Hartford foi um mestre do folk americano. Com uma carreira longa e muito produtiva ele se destacou como um grande tocador de banjo e violão folclórico. Durante toda a sua carreira Hartford lutou para a preservação da cultura dos grandes rios do sul, onde muita música de qualidade era criada, principalmente em pequenos portos fluviais, em estabelecimentos pequenos que se instalavam próximo aos locais de desembarque dos grandes barcos movidos a vapor. Folclorista e historiador, dedicou sua carreira a preservar esse aspecto histórico da música sulista americana. Também foi produtor musical, muito próximo a Chet Atkins que havia trabalhado como produtor do próprio Elvis nos anos 60. Durante uma sessão de gravação em Nashville Elvis se encontrou casualmente com Hartford nos bastidores, já que na época John trabalhava também na RCA Victor. Presley aproveitou para elogiar sua recente gravação, a própria "Gentle On My Mind" que havia sido lançada originalmente pelo autor em 1967. John nem hesitou e sugeriu a Elvis que ele um dia a gravasse. "Adoraria ouvir você cantando ela, Elvis!" - disparou o compositor. Elvis parece não ter esquecido da sugestão. Assim dois anos depois desse encontro lá estava ele no estúdio cantando a música de seu colega da RCA. O que temos aqui é uma bela faixa, um excelente momento do cantor no American. A lamentar apenas o fato de Elvis não ter gravado mais canções de Hartford ao longo de sua discografia. Ele era inegavelmente um grande talento musical.

After Loving You (Miller / Lantz) - Essa canção já tinha uma longa tradição quando Elvis a gravou no American. Ela foi escrita por Eddie Miller na década de 1930. Naquela época a indústria fonográfica americana ainda era muito primitiva e os compositores ganhavam dinheiro com a venda das partituras musicais em folhas de papel. Essas então eram levadas para as grandes casas tradicionais do sul onde eram tocadas ao piano em saraus animados e elegantes. Era uma outra era, com costumes próprios. Depois de anos nessa linha tradicional a música foi finalmente colocada em um disco, numa gravação. Coube a Joe Henderson essa honra, já na primeira metade dos anos 1960 (trinta anos depois que Miller compôs sua canção). Depois veio a versão de maior sucesso, gravada por Eddy Arnold. Foi essa a versão na qual Elvis se baseou para sua gravação no American já que ele não apreciava muito a terceira versão, lançada em 1963, com Jim Reeves nos vocais. Segundo o próprio produtor Chips Moman, Elvis até pediu para ouvir novamente a gravação de Arnold no estúdio para se preparar para a sua própria interpretação. Em suma, uma canção histórica que rendeu um ótimo momento ao disco como um todo.

True Love Travells On A Gravel Road (Frazier / Owens) - Essa canção foi sugerida a Elvis Presley pelo produtor Felton Jarvis. Vejo isso como uma prévia do que iria acontecer na parceria entre ambos durante a década seguinte. Elvis como cantor, Jarvis como seu braço direito nos estúdios, seu produtor fixo. Geralmente músicas de claro sabor country, que não tinham feito muito sucesso com seus autores originais, eram revitalizadas por Elvis em seus vários álbuns na década que viria. Isso até se tornaria padrão nas escolhas de repertórios de seus futuros discos. É justamente o que temos aqui. A versão original havia sido lançada no ano anterior, porém não conseguiu se sobressair nas paradas - nem mesmo naquelas especializadas em country music. Jarvis, que tinha claros interesses comerciais na música, a tocou para Elvis no American. "Veja que bela canção Elvis!". Os olhos do cantor brilharam na primeira audição (ele ainda não conhecida a versão de Duanne Dee) e assim em questão de segundos ele decidiu que aquela era uma boa música e que iria gravá-la. Quem produziu a faixa inteiramente foi Felton Jarvis já que o produtor principal da sessão, Chips Moman, não se encontrava no estúdio naquele momento. Na verdade Elvis gostou muito mais de trabalhar ao lado de Felton Jarvis do que de Moman, que tinha um jeito mais incisivo de impor sua opinião, algo que não era de inteiro agrado de Elvis. Havia limites que, na visão de Elvis, Chips havia ultrapassado várias vezes durante os trabalhos no American. Jarvis, por outro lado, parecia ser mais camarada, amigo e próximo, e isso fez com que Elvis nas sessões seguintes sempre pedisse a RCA Victor para que Jarvis voltasse como seu produtor principal. Ficariam juntos até a morte do cantor em 1977.

Any Day Now (Hillard / Bacharad) - Todos sabiam que Elvis tinha uma grande admiração por Chuck Jackson, cantor negro nascido na Carolina do Sul, astro do selo Motown Records. Em 1962 ele emplacou esse sucesso em um single de grande sucesso. Naquela época Elvis até tentou gravar essa faixa para fazer parte de algum single pela RCA porém por motivos contratuais relativos à direitos autorais isso jamais aconteceu. Também não era o momento adequado. Elvis estava afundado em contratos de cinema e muito provavelmente nem encontraria espaço para lançar adequadamente a canção. Quando em 1969 voltou aos estúdios e recebeu carta branca da RCA ele nem pensou duas vezes. Aquele era o momento para gravar finalmente a música. Naquela altura a canção já tinha inclusive ganhado mais duas outras novas versões, lançadas por Burt Bacharach e Percy Sladge. O que mais chama a atenção na gravação de Elvis é que ele e Chips Moman procuraram dar a ela aquela sonoridade tão característica da Motown, com ricos arranjos de metais. Quando chegou a hora de gravar Chips posicionou os microfones mais distantes de Elvis do que o habitual. Era uma forma de criar uma sonoridade característica, como se Elvis estivesse cantando do fundo de um poço. Ecos da Sun Records. Uma maneira de homenagear aquele passado glorioso do cantor, afinal de contas eles estavam ali, na mesma cidade, Memphis, tentando recriar pelo menos em parte toda aquela magia inicial da carreira de Elvis.

In The Guetto (Mac Davis) - No final da década de 1960 a chamada música de protesto estava em alta. Havia os hippies, os movimentos sociais, a luta pelos direitos civis e toda uma sociedade em ebulição. Esse clima de tensão racial, sexual e social acabou passando para a arte, como era de se prever. Assim Mac Davis escreveu essa música que tem quase uma linguagem cinematográfica. O foco vai para a dura vida dos negros nas grandes cidades americanas, vivendo em bairros e guetos pobres, longe de tudo, mas principalmente da riqueza dos brancos. Além disso havia o sempre presente preconceito racial, as atitudes de discriminação que sofriam e a exclusão social que sentiam na pele. Elvis, que em toda a sua carreira, nunca foi de cantar canções políticas ou de protesto, surpreendeu muita gente com essa faixa. Conforme ele próprio explicou numa entrevista, sua intenção não era virar um artista ativista, muito longe disso. Em sua maneira de ver a situação aquela era simplesmente uma ótima música que ele não poderia ignorar. A sua letra mais social era apenas um detalhe. Lançada como single era o tipo de gravação de que Elvis precisava para ganhar a simpatia de toda uma nova geração de radialistas, muitos deles alinhados com o novo tipo de pensamento e mentalidade que se espalhavam por toda a sociedade. Profissionais que surgiram tocando Beatles e Bob Dylan e que na maioria das vezes simplesmente ignoravam os lançamentos de Elvis, principalmente em sua fase Hollywoodiana dos anos 60. Agora o veterano Elvis parecia ter algo mais substancial para apresentar. Não é por outro motivo que a música acabou virando sucesso, também nessas rádios de universidades, comunidades, centros sociais, etc. Finalmente Elvis parecia ter algo importante para cantar após anos apresentando material de baixa qualidade. O sucesso foi então apenas um efeito natural da boa receptividade da faixa como um todo.

Elvis Presley - From Elvis in Memphis (1969): Elvis Presley (voz, piano e violão) / Reggie Young (guitarra) / Tommy Cogbill (baixo) / Mike Leech (baixo) / Gene Chrisman (bateria) / Bobby Wood (piano) / Ronnie Milsap (piano) / Bobby Emons (orgão) / John Hughey (steel guitar) / Ed Kollis (harmônica) / Sonja Montgomery, Mary Green, Mary Holladay, Donna Thatcher, Susan Pilikington & Sandy Bolsey (vocais) / Charlie Hodge (vocais) / The Memphis Horns (metais) / The Memphis Strings (cordas) / Orquestra Sinfônica Municipal de Memphis / Produzido por Felton Jarvis, Chips Moman e Elvis Presley / Data de gravação: 13 a 22 de janeiro e 17 a 22 de fevereiro de 1969 / Gravado no American Studios, Memphis / Data de lançamento: Novembro de 1969 / Melhor posição nas charts: #13 (EUA) e #1 (UK).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis NBC TV Special (1968)

Elvis NBC TV Special (1968)
No final dos anos 60 a TV NBC passava por uma séria crise financeira e de audiência. Suas concorrentes ABC e CBS ganhavam cada vez mais espaço, enquanto a NBC perdia cada vez mais. Para mudar esse quadro, a direção da emissora resolveu apostar alto em uma nova grade de programação, dando destaque especial para a sua área de shows. A NBC resolveu investir pesado e entrou em contato com o coronel Tom Parker para a realização de um especial de final de ano com Elvis Presley. Seria a principal atração do fim da temporada, com ampla publicidade e ótimos contratos de marketing. Elvis precisava tanto da NBC quanto ela precisava de Elvis. O Rei do Rock vinha em um mal momento da carreira. Seus filmes já estavam desgastados, Elvis sentia-se cada vez mais frustrado com a política dos grandes estúdios de cinema de Hollywood, que lhe mandavam fazer o mesmo filme ano após ano, com as mesmas trilhas sonoras e os mesmos roteiros estúpidos. Elvis estava mais do que farto deste esquema em 1968. Quando soube da idéia do especial, se empolgou e disse ao seu empresário que fechasse o contrato, pois ele queria voltar o quando antes a se apresentar ao vivo. Ainda tinha contratos a cumprir na costa oeste, mas queria que estes fossem os últimos. Sem dúvida, para quem apostava em uma carreira de ator, aquilo tudo representava um grande retrocesso. Era uma derrota para Elvis deixar Hollywood assim.

A verdade era que ele descobriu, ao longo dos anos, que nenhum estúdio iria lhe dar uma chance para desenvolver uma carreira dramática em Hollywood. Para os chefões Elvis tinha que sempre desempenhar o mesmo papel: o de Elvis Presley. Se continuasse no esquema dos estúdios cinematográficos, Elvis iria continuar a fazer uma comédia musical atrás da outra até sua carreira se apagar de vez. Ele estava decidido a pular fora e salvar o que ainda tinha restado de seu legado musical. E assim foi feito. Depois de acertar seu cachê (meio milhão de dólares por quatro dias de trabalho) Elvis finalmente se preparou para sua volta. O show seria transmitido no final do ano, em dezembro. O coronel Parker sugeriu um roteiro simplesmente desastroso para o especial: "Elvis entraria de papai noel, cantaria meia dúzia de músicas natalinas e iria embora pela chaminé". Elvis e o produtor Steve Binder simplesmente odiaram essa idéia. Juntos, trocaram pensamentos e conceitos e chegaram a um modelo básico. Elvis seria acompanhado de sua primeira banda, Scotty Moore e D.J. Fontana (Bill Black havia morrido em 1965).

Seria um show acústico (o primeiro da história), com Elvis vestindo uma roupa de couro negro, tocando uma guitarra Gibson, tudo de forma natural e autêntica. Ele interpretaria seus velhos sucessos e duas canções escritas especialmente para o programa: "If I Can Dream" e "Memories". Estava em ótima forma física e empolgado pela chance de voltar a apresentar um material de qualidade. Tudo que precisava era uma chance de mostrar novamente seu incontestável talento. Os ensaios foram exaustivos, Elvis tomou a frente, elaborando arranjos e produção, esse foi um momento crucial de sua vida, se falhasse, provavelmente seria o fim de sua carreira. E ele sabia disso. Em 1968, aos 33 anos de idade, Elvis Presley finalmente voltou à TV, num especial histórico para NBC em comemoração ao natal. O cantor estava no auge de sua beleza física e o show foi um marco em sua vida. Com cenas em estúdio e ao vivo, Elvis estava natural, espontâneo, Elvis como ele só. Priscilla Presley em seu livro "Elvis e eu" relembra o impacto do show: - "O especial de Elvis foi um sucesso espetacular e alcançou o maior índice de audiência do ano.

A música final, "If I Can Dream", foi sua primeira gravação que ultrapassou a barreira de um milhão de cópias vendidas em muitos anos. Sentamos em torno da TV assistindo ao programa, esperando nervosamente pela reação. Elvis se manteve silencioso e tenso durante toda a exibição do programa, mas assim que os telefones começaram a tocar, compreendemos que ele conquistara um novo triunfo. Não perdera a classe, ainda era o rei do rock'n'roll". Com esse programa Elvis se convenceu que era hora de deixar Hollywood para trás e retomar os rumos de sua carreira musical. Não haveria mais trilhas sonoras insípidas, o momento era de entrar em estúdio novamente para gravar canções de qualidade, para mudar novamente os rumos musicais de seu tempo.

Medley: Trouble (Jerry Leiber / Mike Stoller) / Guitar Man (Hubbard) - Para abrir o programa Elvis apresentou esse Medley bem sacado. Em um disco pirata dos anos 80, pode-se ouvir Elvis trocando idéias sobre esses arranjos com W. Earl Brown. Elvis diz: - "Vamos balancear a orquestra com a banda, cara!", no que o produtor responde: -"Também pensei nisso, ok!". O acompanhamento ficou bem mais forte e presente, sem dúvida. A orquestra presente foi a da NBC. Isso se nota bem, pois seu som é bem peculiar dentro da discografia de Elvis, essa você só vai ouvir nesse disco. Mas, vamos às músicas: "Trouble" é a melhor música da trilha do filme "King Creole" e também a mais conhecida. Trouble é uma preciosidade composta por Leiber e Stoller em que o ritmo e o conteúdo de sua letra caiu como uma luva para a estória do personagem Danny Fisher, um garoto correto que tenta sobreviver numa New Orleans infestada de Gangsters. Esta versão que foi utilizada no memorável "Comeback Special" de 1968 é muito boa. Porém sem sombra de dúvida "Trouble" vai ficar imortalizada mesmo na versão original gravada por Elvis no dia 15 de Janeiro de 1958 para o filme "King Creole". "Se você procura por encrenca, veio ao lugar certo!" Já "Guitar Man" é a típica música de Elvis pós 67: muito mais arranjada do que o normal trazendo a excelência instrumental do compositor Hubbard. Ela foi lançada em um single em janeiro de 1968 com "Hi-Heel Sneakers" no lado B.

Lawdy, Miss Clawdy (Price) - Depois da apresentação, Elvis começa a parte acústica do show: Só ele e os caras da banda, tocando ao vivo, sem frescuras, numa volta sobrenatural aos tempos da Sun Records. Só faltou mesmo Bill Black, e tenha certeza, faz uma tremenda falta. Sem dúvida, disparado esse é o ponto alto tanto do disco como do especial. Rock'n'Roll é isso aí. "Lawdy, Miss Clawdy" é um grande momento da carreira de Elvis cuja versão original foi gravada no dia 3 de fevereiro de 1956 nos estúdios da RCA em Nova Iorque. Foi lançada como lado B de um single com "Shake, Rattle and Roll" em Agosto de 56. Era uma das preferidas do Rei do Rock. Pintou pela primeira vez na discografia de Elvis no famoso disco "For LP Fans Only" que foi lançado nos Estados Unidos quando ele estava servindo o exército na Alemanha.

Baby, What You Want Me to Do - Clássico de Little Richard e Jimmy Reed. Elvis pára a música no meio para brincar um pouco, falando com os músicos e com a platéia: ao simular um problema no lábio Elvis vira a boca e diz: "Espere caras, estou com um problema nos lábios", dá seu sorriso ímpar e diz: "Pois fique sabendo que fiz 29 filmes desse jeito". Todos riem. Depois relembra seus shows na Flórida onde não podia mexer nada, apenas seu dedo mindinho. Lembra que os shows eram filmados pela polícia para impedir que ele fizesse "imoralidades" nos palcos. Elvis se diverte com o fato. Mostra o lado divertido do Rei do Rock.

Medley: Outro medley, esse fazendo uma revisão geral na carreira de Elvis. O problema é que muito material foi cortado da exibição, pois o programa só teve uma hora de duração. Então o jeito foi fazer um medley que resumisse grande parte da vida de Elvis de uma vez só. Claro que isso é impossível, mas até que ficou bom, no balanço geral. Essas foram as utilizadas:

Heartbreak Hotel (Axton / Durden / Presley) — O primeiro grande sucesso de Elvis em nível nacional foi lançado em Janeiro de 1956 com "I was the one" no lado B alcançando o primeiro lugar na parada americana e européia. A música foi escrita especialmente para ele e se tornou uma de suas marcas registradas. Foi gravada em 10 de janeiro de 1956 no estúdios da RCA em Nashville. Foi gravada na primeira sessão de Elvis na RCA. Para tentar reproduzir o som das gravações da Sun Records, o engenheiro Bob Ferris construiu uma câmara no prédio do novo estúdio, buscando eco de telhas e vidro. Inacreditáveis as guitarras acústica e elétrica de Chet Atkins e Scotty Moore na gravação. A companhia de discos a considerou "um desastre", imprópria para tocar no rádio. Cinco semanas depois, tornava-se seu primeiro hit número 1.

All Shook Up (Elvis Presley / Blackwell) — Esta canção alcançou tamanho sucesso quando lançada que se tornou parte do vocabulário da juventude norte americana da época. Elvis alcança uma das mais brilhantes interpretações de sua vida resultando num dos singles mais vendidos de sua carreira. A canção chegou a Elvis através de Steve Sholes, seu produtor na RCA Victor. O single alcançou o primeiro lugar da parada da revista Billboard em março de 1957 tendo sido gravada em 12 de janeiro do mesmo ano nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Esta canção foi gravada primeiramente como I´m All Shook Up por David Hill, na Aladdin Records. Elvis gravou fazendo percussão na parte de trás do violão. O single ficou durante nove semanas no topo das paradas dos EUA, seu maior tempo consecutivo como número 1. Também foi seu primeiro número 1 na Inglaterra.

Can't Help Falling In Love (Peretti/Creatore/Weiss) -- Canção baseada em "Plaisir d'Ámor" do compositor francês de origem alemã Jean Paul Martini. A versão de Presley foi muito feliz pois foi muito bem adaptada. O maior sucesso do filme. Quando foi lançada em Single em Novembro de 1961 alcançou um enorme sucesso de vendas. Nos anos setenta ela seria utilizada como desfecho de todos os seus shows. Nos anos 90 o grupo UB40 faria uma nova versão de grande sucesso. Parte da trilha sonora do filme Blue Hawaii. O álbum ficou durante incríveis 20 semanas no nº 1 e vendeu mais de 2 milhões de exemplares.

Jailhouse Rock (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Música título do terceiro filme estrelado por Elvis que no Brasil recebeu o nome de "O Prisioneiro do Rock", sendo que sua trilha foi lançada em um Compacto Duplo em outubro de 1957. Foi ainda lançada como single em setembro de 1957 com "Treat Me Nice" no lado B. O Sucesso foi imediato e o single chegou ao primeiro lugar na parada americana. A cena do filme em que Elvis apresenta esta canção é considerado o melhor momento do cantor no cinema. Leiber e Stoller afirmaram posteriormente que sua intenção era "...imitar o som de pedras quebrando" o que de certa forma foi conseguido. Foi gravado em 30 de abril de 1957 nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Assim Elvis ignorou a intenção satírica dos autores (Jerry Leiber e Mike Stoller) e interpretou a canção com fúria. Jailhouse Rock foi o primeiro single da história a ir direto para o topo das paradas no Reino Unido.

Love Me Tender (Presley / Matson) - Música título de seu primeiro longa Metragem que no Brasil recebeu o nome de "Ama-me Com Ternura". O titulo original do filme era "The Reno Brothers" mas com a ascensão do Rei resolveu-se mudar o titulo para aproveitar o sucesso do cantor. A estória se passa durante o final da guerra civil norte americana e trata da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. "Love Me Tender" foi gravada em Agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood. Ele não contou com sua banda tradicional e sim músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Elvis produziu Love me Tender durante sua primeira sessão de gravações na Costa Oeste, em agosto de 1956. Ele apresentou a canção no The Ed Sullivan Show, em 9 de setembro. Provavelmente, este foi o primeiro disco da história a ter 1 milhão de cópias pré-vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento.

Fim do Medley: Elvis encerra sua volta aos anos iniciais com "Love Me Tender". Esse segmento, ao contrário do anterior, foi apresentado com Elvis de pé e acompanhado da orquestra da NBC, ao invés de sua banda. Funciona melhor com as canções mais, digamos, virtuosas como "Can't Help Falling In Love". Com os rocks, perde-se um pouco, seria melhor que fosse executada com o apoio de Scotty Moore e cia.

Medley Gospel: Where Could I Go But The Lord (James B. Coats) - Canção do disco "How Great Thou Art", por demais conhecida no mundo Gospel norte americano. Foi escrita inicialmente pela dupla de compositores K.E.Harris e J.M.Black em 1890. Em 1940 J.B.Coats escreveu uma versão bastante modificada. Foi gravada ainda por Red Foley em 1951 e por Faron Young em 1954. Elvis a utilizou ainda no NBC TV Special num medley com outras canções evangélicas.

Up Above My Head (Brown) - Esse medley continua com essa música inédita. São ao todo sete minutos e meio de gospel. Faz sentido. Até porque era época de natal e também porque Elvis não ia dispensar essa chance de colocar esse ritmo, o seu preferido, no seu especial de retorno. Esse é um gospel tocado principalmente em igrejas de negros no sul dos Estados Unidos. Elvis sempre teve uma posição altamente positiva em relação à questão racial. Colocava artistas negros para lhe acompanhar em seus shows (como as Sweet Inspirations) e sempre que podia incentivava e elogiava a cultura negra de seu país. Para um sulista isso significava uma atitude altamente louvável, pois estes Estados sulistas dos EUA sempre foram os mais racistas.

Saved (Leiber / Stoller) - Até hoje me pergunto: como uma dupla de judeus iria escrever uma música gospel como essa? Só mesmo Leiber e Stoller para aprontar uma dessas. Devem ter deixado seu rabino com os cabelos em pé, sem dúvida. Viva o ecumenismo!

Blue Christmas (Billy Hayes / Jay Jonhson) — Essa foi incluída para satisfazer o coronel Parker. E pensar que ele queria transformar o especial numa breguice de natal. Outro sucesso dos anos 40 cantada por Elvis neste disco. O Rei apresentaria uma versão no Histórico "NBC TV Special" (Comeback Special) em 1968. A versão em questão está no LP da Trilha do especial de TV que trouxe o Rei de volta as apresentações ao vivo depois de uma longa ausência proporcionada pela série de filmes protagonizados por ele nos anos sessenta. Foi gravada no dia 5 de setembro de 1957 em Hollywood.

One Night (Bartholomew/King) - A Versão original desta canção foi lançada por Smiley Lewis em 1956 pelo selo Imperial. A Versão de Elvis se tornou um grande sucesso. Ele a utilizou também dez anos depois no memorável NBC Special em 1968 (Comeback Special). A letra mais uma vez foi considerada ofensiva o que fez a produção mudá-la de forma a torná-la mais aceitável. A versão com a letra completa foi lançada muitos anos depois como "One Night a Sin". "One Night" chegou ao quarto lugar nas paradas em Outubro de 1957 nos EUA e ao topo na terra dos Beatles. Para aplacar a sanha dos censores, essa música teve um verso mudado. Em vez de "One night of sin is what I´m not paying for" (Uma noite de pecado é para o que não estou pagando), ele cantou "One night with you is what I´m now praying for" (Uma noite com você é pelo que estou rezando agora). Ainda assim, foi considerada escandalosa.

Memories (Strange / Davis) - Acho "Memories" realmente uma música muito especial. Muito bem escrita, bem arranjada e contando com Elvis em um dos seus melhores momentos. No especial Elvis a canta no finalzinho do show, ainda com sua roupa de couro negro. Foi lançada em single no começo de 1969 com "Charro" (do filme de mesmo nome) no lado B. Foi um belo sucesso, reconciliando definitivamente Elvis com as paradas de sucesso.

Medley: Nothingville (Strange / Davis) / Big Boss Man (Smith / Dixon) /  Guitar Man (Hubbard) / Little Egipt (Leiber e Stoller) / Trouble (Leiber e Stoller) / Guitar Man (Hubbard) - O último medley do especial, juntando músicas novas e inéditas como Nothingville (nunca mais foi usada por Elvis) com trilhas sonoras (Little Egipt de "Carrossel de Emoções"), além das já citadas "Guitar Man" e "Trouble". Funciona? Em termos, acho que "Big Boss Man" merecia uma faixa solo e não cortada como saiu. Tremenda geléia geral que às vezes dá indigestão! Esse medley foi utilizado no especial como pano de fundo de várias cenas de estúdio, com Elvis, dançarinos e um fiapinho de roteiro. Totalmente dispensável. Não deveriam ter cortado vários trechos de Elvis ao vivo para colocar isso. Felizmente anos depois, as cenas inéditas apareceram e tudo foi corrigido.

If I Can Dream (Brown) - Em uma palavra: épica! Com um simples single Elvis colocou os Beatles e os Rolling Stones no bolso e detonou eles das paradas! Depois de anos sendo superado, por causa de suas trilhas ruins, Elvis mostrou quem é que mandava. Os fãs do Rei ficaram de peito lavado e eu também (se tivesse tido a oportunidade e a idade de vivenciar isso, claro!). Mas deixando essas questões puramente comerciais de lado, se "If I Can Dream" fosse apenas um compacto obscuro na carreira de Elvis eu ainda iria amar essa música, sem dúvida nenhuma. Ela foi lançada com "Edge of Reality" no natal de 1968 e foi ouro na mesma semana. Foi uma das mais políticas músicas de Elvis, que tratava e falava de forma poética de vários problemas que a sociedade americana e mundial vinham enfrentando naquela época. Para gravá-la Elvis pediu que ficasse sozinho no estúdio, que fossem apagadas todas as luzes. Ele se sentou no chão do estúdio e comovido presenteou e deixou para a eternidade um momento simplesmente insuperável! Um momento raro. Os produtores e engenheiros de som do Burbank Studios ficaram simplesmente de queixo caído! Anos depois, Bones Howe, um dos presentes, confidenciou que após gravar a música Elvis conversou baixinho com alguém no estúdio! Ainda sentado no chão ele agradeceu, emocionado, a essa "entidade" pela inspiração. Não se sabe o que ocorreu, mas dizem que naquela noite conversou com sua querida mãe, falecida dez anos antes... ela estava ao seu lado, segurando sua mão...

Ficha Técnica: Elvis Presley (vocal, guitarra e violão) / Scotty Moore (guitarra) / D.J. Fontana (bateria) / Charlie Hodge (guitarra) / Alan Fortas (percussão) / Lance Le Gault (tamborim) / The NBC Orquestra / Bob Finkel (produção executiva) / Steve Binder (direção) / Bones Howe (supervisão musical) / Allan Blye e Chris Beard (roteiro) / W. Earl Brown (arranjos) / Gene McAvoy (direção de arte) / Jaime Rodgers e Claude Thompson (coreografias) / Gravado nos estúdios Burbank, Califórnia / Data de gravação: 27, 28, 29 e 30 de junho de 1968 / Data de exibição: 3 de dezembro de 1968 / Data de lançamento da trilha sonora: dezembro de 1968.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol. 4 (1968)

No momento em que a carreira de Elvis parecia renascer a RCA Victor soltou no mercado um novo álbum do cantor. A filosofia era a mesma dos discos anteriores, ou seja, reunir grandes sucessos de Elvis que só tinham sido lançados antes em singles (compactos). O problema básico é que os sucessos estavam rareando cada vez mais na discografia do Rei do Rock. Assim quando os executivos da RCA determinaram a produção do quarto disco da série Golden Records o responsável pela seleção musical soltou uma pergunta fatal bem no meio da reunião: "Tudo bem, mas que sucessos Elvis realmente alcançou nesses últimos anos?". Era uma constatação bem ruim e verdadeira. Ao longo dos anos 1960 Elvis foi colecionando fracassos comerciais com seus singles. A bagunça e muitas vezes falta de promoção fizeram com que muitos compactos de Elvis se tornassem grandes desastres comerciais. Eles ficavam por meses nas estantes das lojas de discos, pegando poeira sem que ninguém os quisesse comprar. Lotes e mais lotes de caixas cheias de compactos de Elvis Presley eram enviados de volta para a fábrica da RCA por não terem encontrado compradores no mercado.

Por volta de 1967 a RCA inclusive chegou a colocar em dúvida se valia mesmo a pena renovar com o astro por mais alguns anos. O fato é que a má qualidade das trilhas sonoras e dos filmes tinham literalmente acabado com Elvis do ponto de vista comercial. Ele facilmente era superado por bandinhas sem nenhuma importância musical. Seu público havia debandado e pouco sobrara do antigo campeão das paradas. Quando as negociações começaram a RCA deixou claro ao Coronel Parker que estava ficando sem interesse no passe de Elvis. Ele não vendia mais como antigamente, no começo de sua carreira. Tirando poucos discos que tinham realmente feito sucesso, Elvis amargava baixas posições nas paradas. O público não se interessava mais pelo que ele vinha produzindo e nem as revistas de fofocas mais exploravam sua vida pessoal, que andava mais fechada e reclusa do que nunca. Elvis não aparecia em festas e nem em eventos, não fazia mais shows ao vivo e só aparecia para seu público através de filmes de Hollywood bem ruins. Era a fórmula mesmo do desastre.

Sem muitos sucessos comerciais para compor o disco o jeito mesmo foi pincelar alguns poucos bons momentos de vendas do cantor na década de 1960. Um terceiro lugar aqui, um quarto lugar acolá, tudo sendo colocado junto para preencher cronologicamente o álbum. O fato é que mesmo estando em maré baixa em termos de vendas o talento de Elvis continuava lá. O problema é que a sucessão de músicas ruins de seus filmes foram soterrando a voz e o carisma do cantor. Por volta de 1966 ele foi renascendo aos poucos. Algumas sessões livres de músicas de filmes foram realizadas e nelas Elvis finalmente pôde contar com material de qualidade novamente. Curiosamente foram justamente algumas dessas gravações que conseguiram o mínimo de repercussão nas paradas, mostrando um caminho para Elvis e a RCA Victor rumo de volta ao sucesso comercial. No caso tínhamos realmente o casamento entre qualidade e sucesso comercial, algo que hoje em dia é bem raro. O fato inegável porém era que naqueles tempos Elvis sempre conseguia bons números de vendas quando apresentava material de qualidade no mercado. O inverso também era verdadeiro: quanto piores eram as trilhas sonoras, menos elas vendiam a cada ano.

Elvis Presley não era um idiota. Ele sabia o que era bom e o que era ruim no material providenciado por sua gravadora. Geralmente as trilhas sonoras eram bem ruins depois de 1965. Eram compostas às pressas, sem capricho e sem cuidado. Os autores e compositores ganhavam mal e por essa razão também não mais se empenhavam em criar algo bom. Uma coisa ruim levava a outra e em pouco tempo Elvis ia amargando sucessivos fracassos. Depois de uma sessão particularmente muito fraca, Elvis, que sempre foi conhecido por seu bom comportamento e educação dentro dos estúdios, estourou com o microfone ainda aberto: "O que mais vocês querem que eu faça com essa merda?". Quando a RCA começou a disponibilizar um material de melhor qualidade finalmente as coisas foram ficando mais claras. Elvis, livre das amarras dos estúdios cinematográficos, conseguia finalmente contar com canções realmente boas, bem compostas, bonitas. Ficar cantando sobre ostras, cachorros e namoricos de adolescentes era um suplício para The Pelvis nesses tempos nebulosos. Quando ele finalmente recebeu bom material tudo foi melhorando, não apenas em termos de vendas, mas principalmente em termos de relevância artística. Assim por volta de janeira a RCA finalmente soltou a relação das canções que iriam fazer parte de seu disco (segue lista abaixo).

Love Letters (Heyman / Young) - Muita gente boa ainda confunde essa versão com a mais conhecida, dos anos 1970, que inclusive deu origem ao nome de um álbum de Elvis. A versão aqui presente é outra, gravada em meados de 1966. Bem no meio de uma fase bem ruim e pouco inspirada em sua carreira, o produtor Felton Jarvis lutou para trazer maior qualidade técnica para suas gravações. Nada que lembrasse suas trilhas sonoras. Realmente basta ouvir a música para entender bem isso. A canção se apresenta com ótimo arranjo, com um piano melódico sempre presente, ao fundo. Para tornar a música ainda mais bonita Felton escreveu um arranjo vocal feminino (algo que era muito raro nas gravações de Elvis) para soar liricamente em segundo plano. O conjunto é mais do que agradável. Ficou muito bonita realmente. A original "Love Letters" nunca foi um sucesso, mas como a RCA Victor estava sem muitas opções e como a gravação ficou acima da expectativas resolveu-se colocá-la como faixa de abertura do álbum. Um cartão de apresentação com qualidade, acima de tudo.

Whitcraft (Bartholomew - King) - Outra versão que causa certa confusão por aí. Não se trata de uma versão de Elvis Presley para o hit "Witchcraft" de Frank Sinatra. Aquela era uma swing jazz, muito conhecida por sinal, um dos grandes sucessos de Sinatra em sua carreira, sempre presente em suas coletâneas mais populares. Essa é outra canção. Poderia qualificar como um pop nervosinho, com um ótimo solo de sax do mestre Boots Randolph (sem dúvida o melhor destaque da gravação, se sobressaindo ainda mais do que a boa vocalização de Mr. Presley). A faixa é bem curtinha, simples e direta. Não há espaço (e nem tempo) para maiores firulas. Produzida por Steve Sholes ela foi gravada em 1963, numa produtiva sessão com outras 14 canções. Fazia parte da ideia da RCA Victor em lançar um LP convencional de Elvis, sem músicas de filmes, que acabou indo por água abaixo. Desastrosamente as boas músicas gravadas nessa ocasião começaram a ser lançadas como bonus songs de trilhas, as deixando em um limbo injusto. Com o tempo foram praticamente esquecidas. Só muitos anos depois o disco saiu finalmente com o nome de "The Lost Album" (o álbum perdido), já na era do CD.

It Hurts Me (Byers - Daniels) - Outro caso curioso dentro da discografia de Elvis. A música foi originalmente gravada numa rápida sessão em janeiro de 1964, entra as gravações das trilhas sonoras de "Kissin Cousins" e "Roustabout". Sem saber direito o que fazer com a música a RCA Victor resolveu que era melhor arquivá-la por um tempo. Com o lançamento da trilha sonora de "Kissin Cousins" pensou-se em utilizá-la como bonus songs do disco, mas depois se descartou essa ideia. Ela assim foi renegada, sem muita razão ou lógica, como Lado B do single "Kissin' Cousins". Péssima decisão. A canção era muito boa, com arranjos do grande Chet Atkins (que inclusive a produziu) e deveria ter sido melhor trabalhada para fazer bonito nas paradas, batendo inclusive de frente com os singles dos Beatles que no auge da Beatlemania andavam dominando todas as paradas de sucesso pelo mundo afora. Mais um exemplo de que os executivos da gravadora de Elvis definitivamente não sabiam o que fazer com suas gravações.

What'd I Say (Ray Charles) - Gravada em 1964 como parte da trilha sonora de "Viva Las Vegas" a versão de Elvis para o clássico de Ray Charles tem admiradores e detratores na mesma proporção. Particularmente gosto da alegria contagiante que Elvis e sua banda conseguiram colocar na faixa. Certamente é bem mais pop que a gravação de Ray Charles e se distancia bastante de sua característica principal, a de ser uma canção com letra profana em uma base sonora típica de música gospel, mas isso em momento algum soa como um defeito ou um demérito. Pelo contrário, penso que Elvis sabia que a sua versão seria parte de um filme de Hollywood e que teria que ter por essa razão um melhor balanço para dar a devida agilidade na cena. Essa, por seu lado, também ficou muito divertida, animada e bem realizada. O diretor George Sidney sabia como poucos coreografar bem um número musical em seus filmes. Além disso some-se a isso a notável beleza e carisma da atriz Ann-Margret e você certamente terá o pacote completo em mãos. Não é algo para se reclamar, vamos convir.

Please Don't Drag That String Around (Baum / Giant / Kaye) - Em sua fase mais pop Elvis Presley realmente gravou algumas faixas adoráveis. Não estou aqui defendendo essa canção como uma grande obra de arte, nada disso, apenas dizendo que essa é uma daquelas músicas que nos deixam mais leves, felizes, simplesmente por ouvi-la. Tem um excelente balanço e uma melodia que imediatamente cria uma cumplicidade com o ouvinte. Muitos poderiam dizer que é demasiadamente inofensiva e sem pretensão, bom, isso nem sempre é um ponto negativo, muito pelo contrário, dependendo da intenção de cada composição pode ser um grande acerto. Essa é outra gravação proveniente das sessões do "The Lost Album", registrada em maio de 1963. Nessa noite, devidamente inspirado no RCA Studio B, em Nashville, Elvis conseguiu finalizar quatro faixas. Entre um gole e outro de Pepsi (seu refrigerante preferido) ele foi fazendo seu trabalho. As sessões começaram com a boa "Echoes of Love" (que seria usada como bonus songs na trilha sonora de "Kissin Cousins"); depois veio o grande hit da sessão "Devil in Disguise" (lançado como single de grande sucesso) e finalmente "Never Ending" (outra boa faixa que seria jogada no vazio pelos executivos da RCA Victor). "Please Don't Drag That String Around" foi a segunda música a ser gravada nessa noite. Elvis adorou sua intensa alegria e levou apenas seis takes para finaliza-la. Um belo trabalho de vocalização e entrosamento. Pura alegria e diversão.

Indescribably Blue (Darrell Glenn) - Balada lançada em 1967 como single com "Fools Fall in Love" no lado B. Essa música já é de uma fase em que Elvis começava a mudar sua musicalidade. Ele ia aos poucos deixando o tipo de trabalho que vinha fazendo desde 1960, quando retornou aos Estados Unidos depois de ter cumprido o serviço militar na Alemanha, para ir por novos rumos, novos caminhos, novas experiências. Talvez o grande responsável por esse novo tipo de som tenha sido o produtor Felton Jarvis. Depois da saída de Steve Sholes e Chet Atkins da produção dos discos de Elvis, Jarvis se mostrou o homem ideal para trabalhar com o cantor nos estúdios. Paciente, bom ouvinte e com sensibilidade para entender o lado emocional de Presley, Jarvis começou uma excelente parceria com o Rei do Rock. Um exemplo perfeito de sua boa simbiose com Elvis veio justamente de sessões como essa. Ao invés da correria das gravações anteriores, que deixavam Elvis nervoso e estressado, Felton Jarvis propôs mais calma e tranquilidade, trabalhando melhor em cada música. Assim em junho de 1966 lá estava Elvis e Felton juntos, pensando em arranjos para as belas baladas da noite. Nessa ocasião eles ainda gravariam a linda "I'll Remember You" (a versão de estúdio, a mesma música que Elvis consagraria ao vivo no álbum "Aloha From Hawaii") e "If Every Day Was Like Christmas" (a música natalina que viraria sucesso no Vietnã, sendo tocada nas noites de natal passadas fora de casa pelas tropas americanas, nas florestas daquele país tropical em chamas). Para muitas pessoas "Indescribably Blue" pode ser excessivamente triste e melancólica, mas para outros é mais um exemplo do tipo de bela música que Elvis e Jarvis podiam produzir juntos. Um momento memorável sob esse ponto de vista.

(You're The) Devil in Disguise (Otis Blackwell / Winfield Scott) - Um dos últimos grandes sucessos na voz de Elvis escrito por Otis Blackwell. O compositor negro tinha sido responsável por alguns dos maiores sucessos da carreira de Elvis Presley como "All Shook Up", "Don't Be Cruel" e "Fever". Nascido em uma família pobre de Nova Iorque, Blackwell soube como poucos criar hits nas paradas dos anos 1950. Além de brilhar ao lado de Elvis ele ainda escreveria um dos grandes hits da carreira de Jerry Lee Lewis, "Great Balls of Fire". Infelizmente depois de algum tempo ele começou a ter problemas com a RCA Victor e o Coronel Tom Parker. Tudo em razão de problemas financeiros e contratuais. Parker não queria pagar o que ele pedia por novas músicas; em contrapartida Otis aos poucos foi se afastando da carreira de Elvis. Para o Coronel o compositor não deveria entrar em atrito com Elvis, uma vez que havia sido ele que o tinha colocado no mapa da grande indústria fonográfica americana. As afirmações de Parker acabaram mexendo com os brios de Otis que resolveu por volta de 1964 não mais ceder canções a Elvis. A mágoa porém não apagou os grande êxitos comerciais dessa parceria. Assim "(You're The) Devil in Disguise" acabou sendo a despedida da dupla, algo realmente a se lamentar.

Lonely Man (Bennie Benjamin / Sol Marcus) - Música que fez parte das sessões de gravação da trilha sonora de "Wild in the Country". Uma faixa que sempre me recorda dos grandes faroestes do passado. O produtor Urban Thielmann escreveu um arranjo bonito que em minha opinião não envelheceu em nada e nem ficou datado. Essa canção não fez muito sucesso e passou praticamente despercebida até mesmo para os fãs de Elvis na época. Ela só entrou na seleção desse disco porque foi lado B do single "Surrender". Tirando isso não consigo achar uma boa justificativa para a faixa estar aqui. Em minha forma de entender é mais uma prova de como havia um verdadeiro deserto de sucessos na carreira de Presley naqueles tempos complicados. Se formos comparar com a seleção musical do primeiro disco, "Elvis Golden Records" de 1958, vamos perceber a grande diferença entre aquelas faixas (todas grandes sucessos) com as daqui, algumas sem nem razão de ser. Os bons tempos tinham realmente ficado para trás. 

A Mess Of Blues (Doc Pomus / Mort Shuman) - Uma grande canção, gravada nas maravilhosas sessões do retorno de Elvis em Nashville quando ele terminou seu serviço militar na Alemanha em 1960. Foi inicialmente lançada como lado B do single campeão de vendas "It's Now or Never", um dos mais vendidos de sua discografia. O que mais me impressiona nessa fase é que Elvis conseguiu unir grande qualidade técnica com uma diversidade musical poucas vezes superada em sua carreira. É até relativamente fácil compreender isso. A volta de Elvis era ansiosamente aguardada pelo mercado mundial. Durante sua ausência o próprio rock entrou em decadência. Assim ele foi literalmente colocado na posição de salvador do ritmo musical que tanto ajudou a popularizar na década anterior. Elvis porém não estava muito preocupado com isso, para ele o importante mesmo era voltar a fazer grandes discos, gravar excelentes músicas, mesmo que essas fossem de ritmos musicais variados. Definitivamente ele não queria ficar limitado apenas a um nicho do mercado fonográfico. Pelo menos nesse primeiro momento ele realmente atingiu seus objetivos. "A Mess Of Blues", gravada no dia 21 de março de 1961, na mesma noite em que ele também gravou outros clássicos de seu repertório como "Stuck on You", "Fame and Fortune" e "It Feels So Right", era definitivamente uma prova de sua versatilidade e talento. Desfilando por um blues muito bem escrito, Elvis provava que não era apenas o Rei do Rock como todos diziam, mas sim um cantor versátil que poderia se sair bem em praticamente todos os ritmos musicais. Um verdadeiro Rei dos microfones, independentemente do tipo de repertório que lhe era disponibilizado na época.

Ask Me (Domenico Modugno / Florence Kaye / Bill Giant / Bernie Baum) - Como eu já tive oportunidade de falar antes nunca gostei de "Ask Me". Na verdade sempre critiquei o fato da música ter sido título de um single de Elvis Presley bem no auge da Beatlemania. Lançada quase sem promoção com "Ain't That Loving You Baby" no lado B o disquinho não fez muito pela carreira do cantor na época. Na verdade pode ser visto até mesmo como um produto de publicidade de outro disco, o do álbum da trilha sonora de "Roustabout" ("Carrossel de Emoções" no Brasil). Isso é facilmente constatado pela própria capa do single, com uma foto do filme e uma grande chamada promocional onde se lê "Coming Soon! Roustabout LP Album". Tudo o que a RCA Victor e o Coronel fizeram foi mesmo resgatar duas músicas que estavam há bastante tempo arquivadas para lança-las assim mesmo, sem muito esforço, na tentativa de divulgar o disco do filme, esse sim uma aposta verdadeira da gravadora. Curiosamente a trilha sonora vendeu realmente muito bem, chegando ao primeiro posto das paradas e essa repercussão comercial certamente também deu um pequeno impulso no compacto pois os americanos acabaram fazendo uma dobradinha, levando o LP e o compacto que estava à venda nas lojas na mesma ocasião. Já em termos musicais a canção é realmente fraca, uma melodia com arranjo excessivo que nunca parece ir para lugar nenhum.

Ain't That Loving You Baby (Clyde Otis / Ivory Joe Hunter) - Essa música foi gravada em 1958, pouco antes de Elvis ir embora para a Alemanha onde cumpriria seu serviço militar. É interessante notar que enquanto esteve servindo o exército a RCA Victor negou que houvesse gravações deixadas por Elvis antes dele ir para a Europa. Eles informavam aos fãs que Elvis não havia deixado nada para trás e que tudo já havia sido definitivamente lançado como single enquanto ele estava fora. Era mentira. "Ain't That Loving You Baby" ao contrário de outras faixas dessas sessões nunca fora lançada! A razão permanece obscura até hoje. Para muitos especialistas a música foi considerada mal gravada, não finalizada. O produtor Steve Sholes nutria esperanças que Elvis a resgataria quando voltasse, mas isso definitivamente nunca aconteceu. Uma versão mais rápida, com pequenas falhas, é bem superior, mas também foi arquivada e deixada de lado. Seis anos depois de sua gravação finalmente a RCA resolveu lhe dar uma chance. Sem material inédito do cantor resolveu jogar a canção como lado B do single "Ask Me". Não fez sucesso e nem causou muito alvoroço. Aliás é até complicado de justificar sua inclusão nesse disco já que a canção não pode ser considerada um enorme sucesso de sua carreira.

Just Tell Her Jim Said Hello (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Muitos implicam com o arranjo dessa música. Consideram bobinha demais. Discordo. Nem sempre é necessário se revolucionar o mundo da música já que muitas vezes tudo o que você está querendo mesmo é ouvir uma sonoridade bem despretensiosa e agradável. Se esse for seu foco pode ficar tranquilo pois a faixa vai bem mesmo por esse caminho. Além disso vamos convir que a música foi assinada pela melhor dupla de compositores da carreira de Elvis Presley, Jerry Leiber e Mike Stoller. Eles criaram alguns dos maiores sucessos de Elvis, mas sempre tiveram um relacionamento conturbado com o Coronel Parker. A questão da discórdia geralmente envolvia dinheiro, como era de se esperar. Eles queriam mais pelas novas composições pois quando acertavam, Elvis vendia milhões de cópias. O Coronel, por outro lado, queria pagar o mesmo que eles recebiam na década de 50. Assim, com o tempo, já desapontados, eles passaram a enviar material já não tão maravilhoso como antes para Elvis gravar. Essa composição, por exemplo, não foi considerada uma obra prima e nem uma excelente composição pelos críticos da época. Isso de certa maneira irritou Tom Parker e com o tempo a parceria foi sendo desfeita aos poucos. Tudo fruto de uma desavença contratual entre as partes. Uma pena porque no final os grandes perdedores foram realmente Elvis e seus fãs.

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol. 4 (1968) - Ficha técnica: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Grady Martin (guitarra) / Jerry Kennedy (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Murrey "Buddy" Harman (bateria) / D.J. Fontana (bateria) / Homer "Boots" Randolph (sax) / David Briggs (piano) / Henry Slaughter (órgão) / Peter Drake (steel guitar) / Rufus Long (sax) / The Imperials (vocais) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Red West (vocais de apoio) / Produzido por Steve Sholes, Chet Atkins, Felton Jarvis / Local de gravação: RCA Studio B, Nashville, Tennessee / Data de Lançamento: janeiro de 1968 / Melhor Posição nas paradas: 33 (EUA).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Sings Flaming Star (1968)

Esse foi um disco vendido a preço promocional pelo selo RCA Camden lançado em outubro de 1968. Esse selo secundário da RCA lançava discos com, em média, a metade do preço de um álbum convencional. O mercado desse tipo de lançamento era o de classe média baixa, com vendas em pontos comerciais alternativos como lojas de conveniências, aeroportos, supermercados, bancas de jornal etc. Como era um produto barato geralmente trazia material já lançado ou que estava há anos em arquivo sem maior interesse da gravadora em promover um lançamento mais elaborado. Era uma maneira também de levantar um bom dinheiro sem gastar muito. Não havia nenhuma maior lógica na elaboração dos discos, geralmente sendo formados por canções avulsas, que não tinham ainda encontrado um lugar dentro da discografia de Elvis.

No caso a RCA quis aproveitar restos de trilhas sonoras que tinham ficado para trás. Não significa que fossem canções ruins, nada disso. Era tudo apenas um reflexo da bagunça e falta de organização que imperava em algumas gravações realizadas por Presley na década de 1960. Veja o caso das faixas "Yellow Rose Of Texas / The Eyes Of Texas" e "Do The Vega". Duas que deveriam ter sido lançadas na trilha sonora do filme "Viva Las Vegas". Como o álbum desse filme nunca foi lançado (não me pergunte o porquê, já que ninguém sabe como isso foi acontecer) elas ficaram perdidas por anos e anos. Para que não fossem completamente desperdiçadas resolveu-se colocar tudo nesse título, sem muito critério visível para isso. Outro fato que chama a atenção é o pequeno número de músicas e a curta duração do disco. São apenas nove faixas (quando o mínimo da época eram dez!) e apenas 20 minutos de duração. Já que era baratinho, então que não se gastasse muito em sua elaboração. Absurdo? Talvez. São regras de mercado apenas.

O vinil original desse álbum hoje alcança um bom preço no mercado de colecionadores, principalmente nos Estados Unidos e Europa, onde ele não foi sequer lançado em vários países. Como não vendeu muitas cópias acabou virando um item raro, de difícil acesso. O curioso é que a falta de cuidado no lançamento do disco acabou indiretamente contribuindo para essa valorização. A direção de arte é interessante, com Elvis usando uma roupa de faroeste de seu filme "Flaming Star", outra película que teve péssima organização dentro da discografia do cantor. Na verdade duas empresas que estavam patrocinando o programa de Elvis na NBC investiram como forma de promoção no álbum. A primeira foi a própria NBC, canal de TV onde o programa seria exibido. A outra foi a marca de máquinas de costura Singer, que havia investido na produção com direito a ter seus comerciais vinculados no espaço publicitário durante a exibição da volta de Elvis aos palcos. Os executivos dessas empresas entraram em contato com a RCA e chegaram na conclusão que um novo álbum no mercado iria esquentar e reacender o interesse em Elvis, preparando o terreno para a exibição do especial. Foi uma ideia que deu certo apenas em termos, já que não houve muita repercussão. Algumas poucas resenhas pequenas nas publicações especializadas e vendas modestas não era bem o que todos esperavam. De uma maneira ou outra acabou fazendo parte da discografia oficial de Elvis Presley e por isso merece a menção. Vamos tecer alguns comentários sobre cada faixa a seguir.

Flaming Star (Wayne / Edwards) - Essa composição vem bem de acordo com o que Elvis vinha produzindo em sua fase Hollywoodiana. Não chegaria a dizer que se trata de uma grande faixa, mas é inegavelmente bem produzida. Na verdade é uma música composta com um objetivo bem específico: funcionar como tema principal do filme de mesmo nome. Curiosamente as duas versões definitivas de "Flaming Star" (a que saiu em vinil na época e a outra utilizada especialmente para o filme) foram gravadas após as demais canções da trilha sonora estarem prontas há um bom tempo. Dois meses após gravar praticamente todas as canções que fariam parte do filme, Elvis teve que retornar ao estúdio para registrar essas duas, tudo porque os produtores resolveram mudar o título da produção que deixou de se chamar "Black Star" para ser denominada de "Flaming Star" por ser mais comercialmente atraente. Além disso em tempos de tensão racial (Os Estados Unidos passavam pelo problema dos direitos civis com as populações negras) era mais prudente evitar qualquer tipo de desconforto com a palavra "Black" (até porque o personagem de Elvis era um mestiço entre brancos e nativos americanos). No final a mudança foi sensata. No Brasil o filme também recebeu um título forte, que soava muito bem nas marquises de cinema: "Estrela de Fogo".

Wonderful World (Fletcher / Flatt) - Essa música também foi extraída de uma trilha sonora, no caso do filme "Live A Little, Love A Little" (Viva um Pouquinho, Ame um Pouquinho, no Brasil). Ela aparecia logo na primeira cena, durante os letreiros de apresentação, com Elvis dirigindo perigosamente seu bugre amarelo. Hoje a canção soará bem datada por causa de seu arranjo bem cafona, parecendo que Elvis está sendo acompanhado por uma bandinha de circo ou parque de diversões do interior. Curiosamente a música foi deixada de lado pela RCA Victor por anos e anos. Pelo visto os produtores da gravadora não ficaram muito empolgados pelo resultado final e não investiram muito nela, não procuraram trabalhar comercialmente melhor com seu potencial. A tentativa de soar nostálgico, saudosista e ao mesmo tempo meio moderninho (como o próprio filme queria) não deu lá muito certo, temos que admitir.

Night Life (Giant / Baum / Kaye) - Mais uma que estava perdida dentro da discografia de Elvis. É a tal coisa, a RCA vasculhou velhos arquivos, tirou poeira das fitas esquecidas e literalmente salvou do esquecimento completo algumas faixas que tinham sido esnobadas, mas que juntas até que poderiam servir para vender algumas cópias avulsas, usando o nome mágico do ponto de vista comercial de Elvis. "Night Life" é muito curta, que termina quase em um susto. Em sua defesa temos que admitir que tem um bom arranjo e uma boa pegada. A guitarra estridente ao fundo agrada. Elvis não se esforça muito, é verdade, mas no fundo essa é uma questão menor. A música originalmente foi gravada para fazer parte da trilha sonora de "Viva Las Vegas" (Amor a toda velocidade, no Brasil), porém acabou arquivada sem muita explicação por parte do produtor. Acredito que nem o próprio Elvis se lembrava dela quando finalmente a faixa ganhou o mercado nesse LP. Se fosse defini-la de forma sucinta diria que é um bom roquinho para alegrar o ambiente.

All I Needed Was The Rain (Weisman / Wayne) - Esse blues fez parte do pacote de músicas que acompanharam o filme "Stay Away, Joe" (Joe é Muito Vivo, no Brasil). Esse foi um filme bem gaiato, completamente singular dentro da filmografia do cantor. Só quem assistiu a essa película saberá do que estou dizendo. O roteiro é uma bagunça completa, quase uma brincadeira nonsense. Elvis, extremamente bronzeado, parece interpretar um sujeito que está mais em busca da próxima zueira do que qualquer outra coisa. O enredo é praticamente inexistente e há várias cenas ao estilo pastelão. O interessante é que Elvis viu seu cômico personagem como uma oportunidade de fazer algo diferente em Hollwyood. Imaginem só como andava feia a coisa para ele por essa época. No filme Elvis a canta quando está na pior, ao relento, curtindo uma fossa. Trocando em miúdos, a música é boa, mas a cena, tal como todo o filme, não passa de uma bobagem sem tamanho.

Too Much Monkey Business (Chuck Berry) - Até hoje fico chocado com a falta de cuidado por parte da RCA Victor em relação a essa gravação. Uma das melhores de Elvis durante os anos 1960 não teve qualquer tipo de repercussão maior, até porque a gravadora de Elvis simplesmente lavou as mãos e não se esforçou em divulgá-la nas rádios na época. Negligência pura e simples, para desgosto do fã de Elvis que implorava por material de qualidade. Muitas pessoas reclamavam que não havia boas músicas do cantor, mas a verdade é que havia sim, certamente elas existiam, só que não eram promovidas e nem popularizadas, caindo rapidamente no esquecimento (isso quando chegavam a ser pelo menos conhecidas). De falha em falha, exatamente nesse tipo de situação, é que podemos entender como a carreira de Elvis entrou em um buraco negro! Mesmo quando havia boas faixas, músicas excelentes registradas em estúdio, a gravadora de Presley absurdamente não parecia disposta a fazer nada por elas. Uma lástima.

Yellow Rose Of Texas / The Eyes Of Texas (Tradicional) - Fez parte da trilha sonora do filme "Viva Las Vegas" (Amor a toda velocidade, no Brasil). Em cena Elvis a usa para tirar um bando de beberrões de um cassino com o objetivo de localizar a linda professora de natação que conhecera um dia antes (e que ao contrário do que ele pensava não era uma dançarina profissional dos inúmeros hotéis da cidade do pecado). O medley une duas populares canções tradicionais do grande estado do Texas. Como se sabe os texanos são bem ciosos de suas origens e sua cultura, chegando ao ponto de criar uma identidade própria, nem sempre ligada ao restante da nação. É costume dizer o ditado entre eles de que primeiramente são texanos e só depois americanos. Mexer com algo assim poderia ser um vespeiro, mas o diretor soube contornar isso tudo, jamais indo para o lado do deboche ou escárnio. O personagem de Elvis até mesmo se mostra muito respeitoso com o estado da rosa amarela - e não poderia deixar de ser se ele não quisesse entrar numa tremenda confusão com os nacionalistas e orgulhosos texanos.

She's A Machine (Joy Byers) - Até que para uma música de trilha sonora dos anos 1960 não chega a aborrecer. Não é desastrosa e nem passa vergonha alheia. A letra é estúpida, como de praxe, mas a linha de melodia com suas "paradinhas" tem uma sonoridade que agrada. Hoje em dia seria considerada machista, mas naqueles tempos tudo era encarado com mais bom humor. Pena que qualquer tipo de pretensão de fazer o mínimo de sucesso nas paradas afundou tal como o personagem mergulhador de Elvis no filme. Aliás, vamos ser sinceros? A película "Easy Come, Easy Go" (Meu Tesouro é Você, no Brasil) é um tremendo abacaxi, uma ofensa para quem gosta de cinema de verdade. Com inúmeras cenas chatas debaixo da água marcou uma triste despedida de Elvis da Paramount Pictures, um estúdio que fez o possível para caprichar em suas produções. Quando a concorrente MGM começou a realizar musicais B com Elvis sem qualquer cuidado técnico, os executivos da Paramount resolveram também chutar o balde da boa qualidade. Só podemos lamentar nessa altura do campeonato.

Do The Vega (Giant / Baum / Kaye) - Outra que ficou anos e anos comendo poeira nos prédios de arquivos da RCA Victor em Nashville. Gravada para fazer parte da trilha de "Viva Las Vegas" foi colocada para escanteio quando a gravadora decidiu cancelar a edição do álbum com as músicas do filme! Esse cancelamento foi um dos maiores absurdos da discografia de Elvis, só comparado mesmo a outro cancelamento ridículo, dessa vez com a trilha do documentário "Elvis on Tour" na década de 1970. Dois grandes momentos de Elvis no cinema que simplesmente não tiveram trilhas lançadas no formato clássico, o álbum LP! Absurdo completo e irrestrito. Como se pode perceber os executivos da RCA não eram as pessoas mais inteligentes, brilhantes e espertas do mundo! Talvez se Elvis tivesse dado no pé da RCA em meados dos anos 1960 sua carreira tivesse trilhado um rumo melhor em termos de organização nos lançamentos!

Tiger Man (Lewis / Burns) - Tiger Man aqui foi usada para promover o programa de televisão NBC TV Special. A versão da edição original desse disco trazia a versão gravada ao vivo no palco da NBC em Burbank. Era uma tremenda novidade na época e por essa razão impulsionou as vendas do disco como um todo. Afinal os fãs e colecionadores queriam dar uma conferida na faixa para ter uma ideia melhor do que viria pela frente. "Tiger Man" é uma grande música, sobre isso não tenho considerações a fazer. O problema ao meu ver é que a edição do disco não caprichou muito na qualidade sonora da faixa. Canções assim, gravadas ao vivo, são problemáticas, precisam passar por um tratamento sonoro antes de cair no mercado. Infelizmente os engenheiros de som da gravadora não se preocuparam sobre isso e então a canção saiu com uma qualidade sofrível - agravada ainda mais pelo formato vinil! De qualquer maneira se fosse necessário eleger um momento que valesse por todo o disco certamente essa versão de "Tiger Man" seria a escolhida.

Elvis Sings Flaming Star (1968)
- Ficha técnica: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Grady Martin (guitarra) / Jerry Kennedy (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Murrey "Buddy" Harman (bateria) / D.J. Fontana (bateria) / Frank Carlson (bateria) / Homer "Boots" Randolph (sax) / David Briggs (piano) / Henry Slaughter (órgão) / Peter Drake (steel guitar) / Rufus Long (sax) / The Imperials (vocais) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Red West (vocais de apoio) / Produzido por Steve Sholes, Chet Atkins, Felton Jarvis, George Stoll / Local de gravação: RCA Studio B, Nashville, Tennessee - Western Recorders, Los Angeles - NBC, Dressing Room, Burbank, California - Radio Recorders, West Hollywood, Californ ia / Data de Lançamento: outubro de 1968 / Melhor Posição nas paradas: 2 (Inglaterra).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

Elvis Presley - How Great Thou Art (1967)

Vamos agora dar prosseguimento nas análises da discografia de Elvis Presley. Esse álbum foi literalmente uma benção para Elvis Presley. Perceba que em 1967 ele estava de fato no fundo do poço. Seus discos - em sua enorme maioria trilhas sonoras - já não faziam sucesso e Elvis deixou de ser considerado um artista relevante, daqueles que se deve prestar atenção. No lugar sobrou apenas o triste fato de ser ignorado pela imprensa, pelos críticos e o pior de tudo, pelo público. Assim foi muito mais do que bem-vindo ter entrado em estúdio para gravar um disco completamente gospel, apenas com canções religiosas. O curioso é que a carreira de Elvis dentro do setor gospel do mercado americano sempre foi muito deixada de lado pela maioria dos fãs, inclusive brasileiros. O que poucos sabem é que foi justamente nesse tipo de estilo musical que ele ganhou algumas de suas maiores glórias, como por exemplo ser premiado pelo prestigiado prêmio Grammy, não apenas uma vez, nem duas, mas três vezes! Isso se torna ainda mais importante quando descobrimos que ele nunca ganhou um Grammy fora da categoria Gospel - incrível não é mesmo?

Pois bem. É sabido de todos que Elvis levava muito à sério sua fé. Embora tenha sido muito eclético em suas escolhas o fato é que Presley sempre prezou pelas canções evangélicas que aprendeu desde muito cedo nos cultos da Igreja Assembléia de Deus. Abro um parêntese aqui para uma informação importante. Ao contrário do que muitos dizem a família Presley em seus primórdios era uma família bem comum nesse aspecto. Aos domingos Gladys, Vernon e Elvis frequentavam os cultos da Igreja local, mas nunca foram também muito atuantes dentro de sua paróquia. Eram frequentadores normais e passavam longe de serem considerados fanáticos ou algo do tipo, como muitas biografias mais desinformadas costumam publicar. Sim, Elvis adorava música gospel, sim ele e seus pais eram frequentadores dominicais dos cultos, mas isso não significa que eram diferentes ou mais empenhados do que outras famílias daquela época. Ficavam na média, assistiam as celebrações, mas depois iam para a casa desfrutar o resto do domingo ouvindo rádio pelas estações de Memphis.

No final das contas o que Elvis pegou de bom do ambiente gospel foi mesmo a empolgação dos pastores, que corriam pra lá e pra cá, contorciam o corpo e gritavam aleluia com todo o fervor. Elvis desde muito criança descobriu que para mexer um público você tinha que entrar mesmo na dança, empolgar, rolar no chão se fosse preciso, mostrar que se importava e sentia aquilo que cantava. Toda essa performance o jovem Elvis soube muito bem usar em seus primeiros concertos, só que ao invés de passar uma mensagem religiosa no palco ele desfilava um modo de ser sexy e provocante, visando atingir diretamente seu público alvo, as adolescentes americanas na faixa entre 14 e 17 anos de idade. Isso porém foi em 1955, 56, agora lá estava Elvis em 1967, reencontrando sua velha paixão, a gospel music, para tentar levantar novamente sua carreira. Foi mesmo uma sábia decisão se afastar, ainda que por um breve período de tempo, do material de Hollywood. Aquele tipo de coisa já estava saturada e os fãs ansiavam por algo diferente, novo e se possível menos adolescente.

O disco logo se tornou um sucesso de público e crítica nos Estados Unidos e vizinho Canadá, mas infelizmente toda essa badalação ficou restrita ao mercado norte-americano. No Brasil o disco sequer chegou a ser editado e lançado. A razão? Muito simples de explicar. A RCA Brasil que já não vinha lançando os discos das trilhas sonoras de Elvis em nosso mercado não viu qualquer razão para investir em um disco religioso. Para eles seria um tremendo fracasso comercial. Além do próprio Elvis estar em baixa, o álbum era visto como "um disco para crentes" e como os evangélicos estavam em franca minoria em nosso país, ninguém se interessou em colocar o disco em nossas lojas. Uma pena porque sem dúvida foi o primeiro trabalho de grande qualidade musical do cantor em anos. Foi um trabalho primoroso, extremamente bem gravado, com Elvis em belo momento vocal. Uma verdadeira obra prima de sua discografia. Assim os fãs brasileiros mais fiéis tiveram que importar o disco, muitas vezes pagando verdadeiras fortunas para ter o privilégio de ouvir seu rei enaltecendo o mais puro espírito cristão.

1. How Great Thou Art (Stuart K. Hine) - Essa é uma canção bem antiga, escrita ainda no século XIX por um pastor chamado Carl Boberg. Só muitos anos depois foi que surgiu a primeira versão em inglês, dessa vez nas palavras escritas por Stuart K. Hine cujos créditos foram dados na contracapa do disco. Elvis tinha grande apreço por essa canção e a levou inúmeras vezes ao palco durante os anos 70. Curiosamente temos aqui um caso em que as versões ao vivo são bem melhores do que a gravada em estúdio. Durante muitos anos especialistas afirmaram (com plena razão) que há problemas de equalização na master original. O vocal de Elvis também está bem mais soturno do que nas versões gravadas em shows, onde há sem dúvida maior fluidez em seu desenvolvimento. As melhores versões são da primeira metade dos anos 70 pois sempre notei que a partir de determinado momento Elvis passou a exagerar em certos trechos da música, algumas vezes até mesmo gritando seu refrão a plenos pulmões para causar impacto no público. Funcionava, mas para falar a verdade aquilo tinha pouca coisa a ver com musicalidade verdadeira.

2. In The Garden (C.Austin Miles) - Outra canção religiosa bem antiga, datada do começo do século XX. A letra é muito bonita e inspiradora, mas segundo a própria neta do autor ela não foi composta em um belo jardim, como supõe o ouvinte, mas sim em um porão frio, úmido e cheio de vazamentos, onde Miles passou por maus bocados quando chegou em New Jersey pela primeira vez na década de 1930, desempregado e com família para sustentar. Ele era farmacêutico e estava na pior. Depois que compôs a música levou para um amigo que trabalhava numa editora musical de Nova Iorque e assim sua vida começou a melhorar. Foram várias gravações ao longo do tempo - o que trouxe uma certa estabilidade financeira para o compositor e sua família - e ao que tudo indica a principal referência para Elvis foi uma versão gravada em 1958 por Perry Como, um de seus cantores preferidos. Provavelmente Elvis já a conhecia de muitos anos, inclusive a mais bem sucedida versão comercial assinado por Tennessee Ernie Ford em 1956. Pelos arranjos e vocal porém tudo indica que Elvis usou mesmo o trabalho de Perry Como como norte para sua própria versão que foi finalmente finalizada no dia 27 de maio de 1967 após apenas três tentativas.

3. Somebody Bigger Than You And I (Johnny Lange / Walter Heath - Joseph Burke) - A mais inspirada versão dessa canção veio em 1960 com a grande Mahalia Jackson. Na ocasião Elvis até cogitou gravá-la durante as sessões de seu primeiro disco religioso, "His Hand in Mine", mas desistiu em cima da hora por achar que a gravação seria ofuscada pela de Jackson, que ainda era muito recente e estava fazendo muito sucesso nas paradas. Elvis assim a deixou de lado. Em casa porém, nos momentos de descanso quando cantava e tocava gospel ao lado de amigos, ela sempre surgia, mostrando que Elvis a adorava. Ao longo dos anos sempre aspirou gravar sua própria interpretação para a música e assim quando pintou na noite de 27 de maio no RCA Studio B, em Nashville, Tennessee, nem pensou duas vezes. Curiosamente a canção acabou se revelando mais complicada de se gravar do que Elvis pensava. Como ele a vinha cantando por tantos anos pensou que seria relativamente fácil chegar no take ideal. Ledo engano, "Somebody Bigger Than You And I" precisou de 16 takes para ficar pronta. Quem tiver curiosidade em acompanhar o processo de se chegar no take ideal da música eu aconselho o CD "Stand by Me" que trouxe vários takes encontrados nos arquivos da RCA. 

4. Farther Along (W.B.Stone) - Essa não precisa ir muito longe para entender de onde Elvis a conhecia. Ela fez parte do repertório do cantor e compositor Bill Monroe, um dos preferidos de Elvis, autor de "Blue Moon of Kentucky". Ela também foi gravada pelo grupo Stamps Quartet, um dos mais apreciados por Presley e que mais tarde o iria acompanhar em futuras gravações. Aqui o processo foi bem mais simples do que "Somebody Bigger Than You And I", com Elvis chegando no take master em apenas três tentativas. Para sorte dos fãs de Elvis todos os takes sobreviveram ao tempo e podem ser conferidos em CDs como "Stand by Me vol. 2".

5. Stand By Me (Charles Tindley) - Elvis tinha a discografia completa do grupo vocal The Harmonizing Four. Em sua opinião esse tinha sido o melhor grupo harmônico de todos os tempos. Ora, desnecessário concluir que dentro dessa opinião havia uma grande dose de subjetividade típica de um fã - e Elvis Presley era justamente isso em relação ao Harmonizing Four, um grande fã. A música original foi composta pelo pastor metodista Charles Alfred Tindley. Sua história é bem importante pois ele foi um dos primeiros pastores negros de Maryland e hoje em dia é considerado um dos pais da música gospel negra americana. Falecido em 1933 (dois anos antes do nascimento de Elvis) suas canções se tornaram muito populares em comunidades evangélicas do sul, onde Elvis certamente veio as conhecer, ainda garoto. Quando o The Harmonizing Four gravou a música em um pequeno acetato, Elvis obviamente adorou, pois era a reunião de uma velha canção de seus tempos de infância com as vozes de seu grupo preferido. Depois dessa união, mais cedo ou mais tarde, ele também faria sua versão, algo que se concretizou justamente aqui nesse premiado e belo álbum gospel de sua carreira.

6. Without Him (Myron LeFreve) - O autor Myron LeFreve escreveu essa canção quando tinha apenas 17 anos. Embora fosse membro de uma tradicional família religiosa, era bem conhecido também em sua adolescência por ser um sujeito rebelde e dono de opiniões bem próprias. Depois que escreveu a música resolveu que a iria apresentar numa convenção de jovens compositores em Memphis. Entre o público havia um ouvinte bem atento em sua apresentação: ele mesmo, Elvis Presley, que dono de intuição musical à flor da pele decidiu ali mesmo que um dia a gravaria. Após o show o próprio Elvis foi aos bastidores conhecer LeFreve que prontamente aceitou seu pedido de gravação. Esse fato é bem interessante pois revela um lado de Elvis que poucos chegaram a conhecer, a do descobridor de novos talentos. Esporadicamente Presley ouvia alguma composição que o atraía e ele próprio não tardava a levar para o estúdio, sem se importar se era um grande compositor consagrado ou um novato talentoso. Para Elvis rótulos como esses tinham pouca importância - o que importava mesmo era a melodia da música lhe tocar de forma bem particular.

7. So High (Tradicional, Elvis Presley) - Como era de se esperar algumas músicas religiosas não trazem o nome de seus autores originais. Isso porque ninguém sabe ao certo suas origens, elas apenas surgem dentro das comunidades evangélicas e de lá ganham o gosto de outras paróquias na mesma região. Pressume-se que "So High" tenha sido criada em meados do século 18, em pequenas capelas de comunidades evangélicas negras no Mississippi. Alguns historiadores americanos dizem que seus primeiros registros surgiram em uma pequena igreja batista localizada no condado de Franklin. De qualquer maneira o nome exato de seu compositor (ou compositora) se perdeu no tempo. Como fazia parte do repertório das igrejas daquela região (não podemos nos esquecer que Elvis nasceu em Tupelo, no Mississippi) fica bem claro que Presley a conhecia desde seus tempos de garoto. Nascida no meio dos fiéis, a música só chegou dentro da indústria fonográfica nos anos 1940, inicialmente na voz de Rosetta Tharp e depois em um belo registro vocal de LaVern Backer em 1959. Como Elvis foi creditado como arranjador desse álbum, seu nome constou como criador no selo original do disco "How Great Thou Art" quando esse chegou nas lojas em 1967.

8. Where Could I Go But The Lord (James B. Coats) - O autor dessa música, James Buchanan Coats, nasceu no mesmo estado natal de Elvis, o Mississippi. Ao contrário de outros compositores de canções desse álbum, ele não era negro e nem pastor religioso. Na verdade Coats era um professor branco de música, que ensinou por muitos anos em escolas públicas da região de Summerland, Mississippi. Como era um estudioso de música popular e religiosa, ele começou a escrever canções que tinham como base a mesma estrutura musical e melódica das que conhecia em sua cidade natal. Desse verdadeiro experimento acadêmico nasceram várias canções, entre elas essa popular "Where Could I Go But The Lord". J. B. Coats escrevia suas músicas pensando em quartetos negros de gospel music, por isso há uma riqueza de detalhes muito presente nas notas vocais que criava. Ideal para um cantor como Elvis e seu grupo de apoio na época. Infelizmente o autor da música não chegou a conhecer a versão de Elvis Presley, que de certa forma imortalizaria sua obra, pois infelizmente morreu em 1961, bem antes de Elvis gravar esse álbum religioso.

9. By and By (Charles B. Tindley) - Canção antiguíssima! Para certos autores a música teria sido composta no século XIX durante a Guerra Civil Americana. As partituras originais porém se perderam no tempo. O que chegou até nós foi essa versão escrita pelo pastor metodista Charles Albert Tindley. Aqui chamo a atenção para um fato importante: Tindley era um ministro negro cujo pai tinha sido escravo, ou seja, ele fazia parte da primeira geração a ganhar o direito de ser livre nos Estados Unidos. Obviamente que por sua experiência pessoal havia muito clamor e emoção em suas palavras. Talvez por essa razão a canção tenha essa puxada para cima, um sentimento efervescente de quem deseja recomeçar de novo, ir adiante e vencer. Impossível ficar parado ouvindo esse hino gospel. Elvis provavelmente a conheceu através da gravação de Bill Monroe, um cantor e compositor que ele aprendeu a adorar desde muito cedo em sua vida.

10. If The Lord Wasn´t Walking By My Side (Henry Slaughter) - O autor Slaughter nasceu em uma fazenda de tabaco perto de Roxboro, Carolina do Norte. Ele provavelmente teria trilhado o mesmo destino de miséria e privações de muitos que nasceram nessas regiões rurais atrasadas do sul dos Estados Unidos se não fosse salvo pela música. Depois de servir o exército americano ele decidiu que iria dedicar sua vida compondo canções religiosas. Além de ser bom escritor de letras era também excelente cantando, por isso fez parte de vários quartetos gospel ao longo da vida, entre eles os mais famosos foram o Selo-Ozark Quartet, seguido do The Weatherford Quartet (1958-1961), finalmente integrando o The Imperials (1964-1966), que era um dos preferidos de Elvis Presley.

11. Run On (Tradicional) - Outra cujas origens se perderam no tempo. Era um dos hinos religiosos mais populares em igrejas negras no começo do século XX. Dito isso é importante salientar que "How Great Thou Art" é isso mesmo que você está pensando, praticamente um disco gospel negro, para surpresa de muitos. Como isso aconteceu? Ora, Elvis provavelmente não frequentava as igrejas de comunidades negras em Tupelo e nem no Tennessee pois a sociedade ainda era fortemente segregada naquela época. Elvis certamente tomou conhecimento desse tipo de som ouvindo rádio, mais especificadamente estações direcionadas ao povo negro de Memphis. Como ele era apenas um garoto não havia em sua mente esse estado de coisas, essa separação entre brancos e negros. Para ele o que importava era que se tratava de uma música ótima, que mexia com ele. Como bem resumiria Sam Phillips muitos anos depois: "Para Elvis não havia música negra ou música branca, havia simplesmente música!".

12. Where No One Stands Alone (Mosie Lister) - Você sabe quem foi Mosie Lister? Thomas Mosie Lister nasceu na pequenina cidade sulista de Cochran, Georgia em 1921. Desde cedo se mostrou um garoto muito religioso e por isso sonhava um dia se tornar pastor protestante. Já adulto entrou no ministério se tornando ministro Batista na década de 1940. Embora fosse branco ele logo compreendeu que a ginga e o barulho do gospel negro poderia se tornar uma ótima ferramenta de evangelização. Como tinha excelente voz começou a cantar nos cultos e depois de dois anos sentiu-se suficientemente seguro para apresentar suas próprias composições no altar. Escreveu grandes sucessos, entre eles “Till the Storm Passes By”, “Then I Met the Master” e “How Long Has It Been?”. Ao longo de sua vida fez parte também de vários grupos vocais entre eles Melody Masters Quartet, porém acabou se consagrando mesmo alguns anos depois no maravilhoso Statesmen Quartet, outro grupo que Elvis amava e que não perdia nenhum lançamento. Presley levou sua paixão para seus próprios discos pois além de "Where No One Stands Alone" ainda gravou "He Knows Just What I Need" e "His Hand in Mine", do mesmo autor. Maior prova de sua admiração não poderia existir.

13. Crying In The Chapel (Artie Glenn) - Essa canção foi incluída no álbum por sugestão de Tom Parker. Na verdade era uma gravação antiga de Elvis Presley gravada sete anos antes e que seguia inédita em LPs do cantor. Só havia sido lançada em single em 1965 com "I Believe in the Man in the Sky" no Lado B. Como havia sido muito bem sucedida Parker entendeu que seria uma adição importante ao disco pois seria uma faixa conhecida que poderia puxar as vendas do álbum como um todo. O compositor Artie Glenn escreveu a música em 1953 com a intenção de ser gravada por seu próprio irmão, o cantor Darrell Glenn. Curiosamente as editoras musicais não acreditaram muito na canção. Os editores da Hill and Range Songs e da Acuff-Rose Music recusaram a música, afirmando que não tinha chances de virar um sucesso nas rádios. Mal sabiam o erro que estavam cometendo. A música logo se tornou uma campeã de vendas, sendo depois sucessivamente gravada por grandes nomes como Rex Allen, Ella Fitzgerald, June Valli e The Wailers. Assim quando Elvis a gravou ela já era considerada um standard da história da música norte-americana. Sob a voz de Presley "Crying In The Chapel" chegou no disco de platina vendendo mais de um milhão de cópias, um dos grandes êxitos comerciais de sua discografia.

How Great Thou Art - Elvis Presley (1967) - Elvis Presley (vocal, piano e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Henry Strzelecky (baixo) / Charlie McCoy (baixo e gaita) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria e timba) / Floyd Cramer (piano) / Henry Slaugter (piano) / David Briggs (orgão) / Pete Drake (steel guitar) / Boots Randolph (sax) / Rufus Long (sax) / Ray Stevens (piston) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham, June Page, Dolores Edgin & Sandy Posey (vocais) / The Imperials (vocais) / Produzido por Felton Jarvis / Arranjado por Felton Jarvis & Elvis Presley / Local de gravação: RCA Studios B, Nashville / Data de gravação: 25 a 28 de maio de 1966 / Lançado em fevereiro de 1967 / Melhor posição nas charts: #18 (EUA) e #11 (UK).

Pablo Aluísio.