quinta-feira, 17 de novembro de 2011

John Lennon - US Vs John Lennon

Esse fim de semana tive o prazer de assistir o interessante documentário "US vs John Lennon". O enfoque desse filme é a luta travada por John Lennon contra o governo de Richard Nixon que usou de todas as artimanhas (legais e ilegais) para expulsar o ex beatle dos EUA. A intenção oficial era simplesmente deportar um estrangeiro que não tinha o direito de permanecer no país após ter seu visto expirado. Isso pelo menos era o que foi divulgado ao público americano durante a crise. O fato porém é que na realidade o governo republicano queria se livrar de uma pessoa que incomodava a política americana, principalmente em relação à guerra do Vietnã, que Lennon criticava abertamente. É a velha história de abuso do poder que tanto conhecemos (principalmente no Brasil onde a máquina estatal muitas e muitas vezes simplesmente serve para os objetivos particulares de quem detém o poder naquele momento). Não tem jeito, a natureza humana certamente leva os "donos do poder" a abusar dele e o direcionar não para o interesse público, coletivo, mas seus próprios interesses, alguns bem mesquinhos.

O filme mostra de forma bastante didática o momento em que Lennon deixou de ser apenas um astro pop de uma banda comercial para se tornar um ativo ativista político, se envolvendo em passeatas, shows de protesto e movimentos pela paz. Como sempre acontece com pessoas que resolvem se insurgir contra a máquina, ele foi satirizado, ridicularizado e sua credibilidade foi atacada de todas as formas. Para muitos Lennon era apenas "um sonhador drogado, sem nada de concreto para oferecer". Após assistir ao documentário cheguei na conclusão que sua luta foi sincera, embora em muitas ocasiões não tenha utilizado dos meios que seriam mais eficazes. De certa forma Lennon seguiu a mesma linha de protesto que já havia sido utilizado com sucesso antes por líderes como Gandhi e Martin Luther King. Basicamente é a mensagem do uso da não violência como arma contra o sistema corrupto e corroído em suas próprias entranhas. Curiosamente Lennon acabou sendo morto da mesma maneira que os já citados, ou seja, um defensor da não violência acabou sendo assassinado justamente pela violência mais sem sentido e gratuita.

Algumas lições ficam desse filme. A primeira é que no mundo em que vivemos é muito perigoso simplesmente dizer a verdade. A sociedade tem suas bases fundadas em muitas hipocrisias e falsas boas intenções. Geralmente certos grupos ou famílias tomam o poder político e o utilizam de forma bem vil, agindo em certas ocasiões como verdadeiras cosas nostras. Segundo, queira ou não, somos todos ditados pelo poder econômico. A vida da sociedade humana é ditada pela economia, pelo poder financeiro. Muitos se perguntam porque os americanos entraram em uma guerra tão sem sentido com o pequeno Vietnã? Simples, pelo poder econômico da indústria de armas. Aliás o fato continua ainda nos dias de hoje, haja visto o envolvimento dos americanos em conflitos como o Iraque e Afeganistão. Pelo visto, apesar de todos esses anos pouco ou nada se aprendeu nessa questão. O mundo continua sendo apenas uma esfera de influência desses grupos. Em um terreno hostil assim pessoas como John Lennon, Gandhi e Luther King acabam pagando com suas próprias vidas.

Pablo Aluísio.

John Lennon - Anthology

John Lennon costumava dizer que durante seu período de afastamento da vida pública ele teria literalmente jogado sua guitarra para debaixo da cama e ela teria permanecido lá por longos cinco anos! Bom, usando de uma expressão popular, o que o ex-beatle falou foi apenas uma licença poética. Na verdade ele se afastou das gravações profissionais, dos estúdios, etc mas em casa, no aconchego de seu lar, dentro de seu quarto, Lennon jamais deixou a música de lado, sempre escrevendo alguma ideia interessante e até mesmo ensaiando alguns projetos de música. Um exemplo disso vem justamente no CD 4 dessa bela coleção chamada "John Lennon Anthology". Intitulado "Dakota" (o nome do prédio em que morava na cidade de Nova Iorque) ouvimos vários registros caseiros do cantor e compositor. Alguns registros são mais do que curiosos como por exemplo "Life Begins at 40" (A vida começa aos 40) quando em raro momento de preocupação Lennon se mostrava até indiretamente preocupado com a idade, quem diria!

O leque é vasto e variado. Os registros vão de 1969 até 1980. Muitos takes alternativos, ensaios, versões caseiras e amadoras, com bastante variação em termos de qualidade musical. Algumas gravações são de boa qualidade, outras como não poderia deixar de ser são bem ruins. No fim o que vale nesse tipo de lançamento é realmente o resgate histórico. O Lennon que ouvimos nos outtakes é divertido, brincalhão mas também ranzinza e mal humorado em certos momentos. Yoko Ono guardou esse material por longos anos e só o lançou ao mercado em 1998. Ela chegou a esclarecer em certas entrevistas que isso era tudo, que ela não teria mais nada do marido para lançar em futuros lançamentos. Verdade ou apenas uma desculpa de Yoko para deixarem de sempre perguntar a mesma coisa? Complicado dizer. Yoko sempre foi muito fechada e registros sonoros inéditos de Lennon que valem verdadeiras fortunas são mais complicados ainda de saber se existem de fato ou não! De qualquer maneira "John Lennon Anthology" é simplesmente indispensável para quem é fã dos Beatles e de Lennon. Um registro do músico, do homem e do pai.

John Lennon Anthology (1998)
Disc 1 (Ascot) - Working Class Hero / God / I Found Out / Hold On / Isolation / Love / Mother / Remember / Imagine (take 1) / 'Fortunately / Baby Please Don't Go / Oh My Love / Jealous Guy / Maggie Mae / How Do You Sleep? / God Save Oz / Do the Oz / I Don't Want to Be a Soldier / Give Peace a Chance / Look at Me / Long Lost John.

Disc 2 (New York City) - New York City / Attica State / Imagine (live) / Bring on the Lucie (Freeda Peeple) / Woman Is the Nigger of the World / Geraldo Rivera – One to One Concert / Woman Is the Nigger of the World" (live)  / It's So Hard / Come Together" (live) / Happy Xmas / Luck of the Irish" (live) / John Sinclair" (live) / The David Frost Show / Mind Games (I Promise) /
Mind Games (Make Love, Not War) / One Day (At a Time) / I Know (I Know) / I'm the Greatest / Goodnight Vienna / Jerry Lewis Telethon / A Kiss Is Just a Kiss / Real Love / You Are Here.

Disc 3 (The Lost Weekend) - What You Got / Nobody Loves You (When You're Down and Out) / Whatever Gets You thru the Night (home) / Whatever Gets You thru the Night (studio) / Yesterday (parody) / Be-Bop-A-Lula / Rip It Up / Ready Teddy / Scared / Steel and Glass /
Surprise, Surprise (Sweet Bird of Paradox) / Bless You / Going Down on Love / Move Over Ms. L / Ain't She Sweet / Slippin' and Slidin / Peggy Sue / Bring It On Home to Me / Send Me Some Lovin / Phil and John 1 / Phil and John 2 / Phil and John 3 / When in Doubt, Fuck It /
Be My Baby / Stranger's Room / Old Dirt Road.

Disc 4 (Dakota) - I'm Losing You / Sean's 'Little Help' / Serve Yourself / My Life / Nobody Told Me / Life Begins at 40 / I Don't Wanna Face It / Woman / Dear Yoko / Watching the Wheels / I'm Stepping Out / Borrowed Time / The Rishi Kesh Song / Sean's 'Loud / Beautiful Boy / Mr. Hyde's Gone (Don't Be Afraid) / Only You / Grow Old with Me / Dear John / The Great Wok / Mucho Mungo / Satire 1 / Satire 2 / Satire 3 / Sean's "In the Sky / It's Real.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

John Lennon - John Lennon Live In New York City

Esse é o único disco póstumo ao vivo da carreira solo de John Lennon. Na verdade não é complicado entender o porquê. Lennon fez pouquíssimas apresentações depois do fim dos Beatles. A maioria de seus álbuns não foram divulgados em turnês e ao contrário de seu ex-colega de banda, Paul McCartney, John Lennon não sentia a menor necessidade de cair na estrada novamente. Em entrevistas Lennon explicava que achava os músicos de concertos ao vivo muito caros e complicados de se lidar, além disso ele próprio não estava seguro se estava disposto a enfrentar todo o desconforto da estrada, dos hotéis, dos concertos e do público, sempre pegando no pé, querendo autógrafos, etc. John preferia mesmo ficar na tranquilidade dos estúdios, gravando seus discos anuais sem muito esforço. No máximo aceitava filmar algum material promocional e era só. 

 Em 1972 porém resolveu que queria gravar um disco ao vivo, tal como aqueles que Elvis Presley vinha lançando ao público. O local escolhido foi o famoso e mitológico Madison Square Garden, o mesmo que Elvis se apresentaria nesse mesmo ano, dando origem a um de seus álbuns mais vendidos da década de 70. Lennon reuniu alguns bons músicos (todos com visual de bicho grilo da década anterior) e mandou ver. Ele não gostava muito de si mesmo nos shows ao vivo. Como bem esclareceu em uma entrevista achava seu ritmo muito estranho e descompassado. Com os Beatles isso ficava um pouco em segundo plano já que Paul e George sempre seguravam a onda mas será que daria certo agora em carreira solo?

Como estava em uma fase muito política John resolveu doar a arrecadação do concerto para uma instituição de apoio a crianças com problemas mentais. O repertório deixou seu legado Beatles de fora. Lennon tinha verdadeiro pavor de subir no palco sozinho para cantar as velhas canções do quarteto de Liverpool. Ela costumava satirizar Paul por fazer esse tipo de coisa. De qualquer maneira, fazendo uma pequena concessão, ele incluiu na lista a sua “Come Together”. De certa forma Lennon considerava essa música tão autoral de sua parte que nem a via como uma canção dos Beatles. E parou por aí. O resto das canções eram todas de sua fase solo. “Imagine”, “Cold Turkey” e “Give Peace a Change” não poderiam faltar. Também adicionou sua personalíssima “Mother” onde em uma letra triste relembrava a morte de sua mãe, atropelada por um veículo dirigido por um cara embriagado.  Canções menos conhecidas também entraram no repertório como a fraquinha “Well, Well, Well”. 

Para surpresa de todos também executou “Hound Dog” de Elvis, proclamando ao final que amava o cantor. Era uma forma de Lennon homenagear um de seus grandes ídolos. A apresentação foi boa mas Lennon odiou as gravações. Acho que sua voz havia ficado diferente e esquisita. Após ouvir as faixas decretou sem cerimônia que as fitas tinham ficado mesmo uma porcaria. Ele ficou tão desapontado que mandou arquivar o material. A decisão de lançar o disco ao vivo foi deixada de lado. De fato o disco só seria editado seis anos depois de sua morte, por decisão de sua viúva Yoko Ono. Realmente o álbum não é um primor técnico mas vale por sua importância histórica. Yoko agiu bem disponibilizando o material aos fãs. Além de ser um concerto importante por sua raridade ainda é uma verdadeira declaração de amor de Lennon para com Nova Iorque, a cidade que amava morar. É um daqueles itens obrigatórios para qualquer fã dos Beatles que se preze.  

John Lennon Live in New York City (1986)
New York City
It's So Hard
Woman Is the Nigger of the World
Well Well Well
Instant Karma!
Mother
Come Together
Imagine
Cold Turkey
Hound Dog
Give Peace a Chance

Pablo Aluísio.

John Lennon - Milk and Honey

O que podemos dizer desse álbum? Em primeiro lugar ouvir esse disco nem sempre é uma experiência agradável pois se trata da obra inacabada de um gênio musical. Quando Lennon levou os tiros em frente ao edifício Dakota ele trazia consigo fitas gravadas no estúdio de canções que seriam justamente usadas para fazer parte desse álbum. Conforme o próprio John explicou em uma de suas últimas entrevistas seu plano era ter dois novos discos gravados, prontos e lançados no mercado, para só então cair na estrada, iniciar uma nova turnê mundial. O primeiro álbum foi “Double Fantasy” e o segundo seria justamente esse que não chegou a ser terminado pois Lennon infelizmente foi morto covardemente por um lunático que o atingiu naquela noite fria em Nova Iorque. Por essa razão, como já escrevi, a audição desse trabalho é penoso. Claro que os fãs não iriam perder a chance de ouvir as últimas gravações feitas por John Lennon mas ainda hoje paro para pensar se isso foi de fato uma boa ideia. Será que Lennon gostaria mesmo que tais gravações chegassem ao mercado como estavam, ainda um tanto cruas?

A decisão porém cabia à viúva Yoko Ono e ela resolveu seguir em frente. Em muitas das faixas se nota nitidamente a postura de ensaio por parte de Lennon – ele está claramente tentando se encontrar nas canções ao lado de seus músicos. Por essa razão não são performances perfeitas ou impecáveis. É o que se chama de takes alternativos no jargão do mercado fonográfico. Mesmo assim foram lançadas, para o bem ou para o mal. Eu estou sempre com um pé atrás nesse tipo de lançamento póstumo. Muitas vezes são títulos oportunistas, sem o devido cuidado, feitos obviamente para faturar muito em torno da comoção pública. Basta lembrar do último CD de Michael Jackson que chegou ao mercado para entender bem o que digo. Dentre as faixas de “Milk and Honey” não há também nenhum grande sucesso, apenas "Nobody Told Me" conseguiu se destacar razoavelmente nas paradas. O resto das canções são bem esquecíveis para falar a verdade. Uma pena. Nenhuma faixa pode ser destacada entre os grandes momentos de John Lennon. Por fim fica também o aviso: várias músicas são cantadas por Yoko Ono, tal como aconteceu em “Double Fantasy”. A seleção do disco intercala canções cantadas por John e por Yoko, de forma sucessiva. Não sou fã de seu estilo de cantar mas de qualquer forma há quem a admire nos vocais. No final “Milk and Honey” se destaca mais por ser historicamente importante (afinal foi o último trabalho de Lennon) do que por seus méritos artísticos.

John Lennon – Milk and Honey (1984)
1. I'm Stepping Out
2. Sleepless Night
3. I Don't Wanna Face It
4. Don't Be Scared
5. Nobody Told Me
6. O' Sanity
7. Borrowed Time
8. Your Hands
9. (Forgive Me) My Little Flower Princess
10. Let Me Count the Ways
11. Grow Old with Me
12. You’re the One

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

John Lennon - Double Fantasy

Depois de ficar cinco anos em reclusão voluntária, ajudando a criar seu filho Sean, John Lennon anunciou que voltaria ao estúdio para gravar novas canções. Numa dessas entrevistas de retorno John explicou um fato curioso. Ele afirmou que ficou cinco anos com a "guitarra debaixo da cama", sem nenhuma vontade de tocar ou compor nada mas que certa manhã acordou muito inspirado e de uma só vez criou novos temas, novas composições, numa explosão de criatividade e empolgação. Para Lennon "Double Fantasy" significava antes de tudo um recomeço, como bem demonstra a primeira faixa do disco, chamada adequadamente de "(Just Like) Starting Over". Era a volta aos estúdios e como ele próprio explicou à estrada, algo que tencionava fazer após o lançamento de um segundo disco, que viria após "Double Fantasy". Lennon queria ter material suficiente para não precisar apresentar as velhas canções dos Beatles. Seu sentimento de independência para com a banda que o transformou em mito ainda era muito presente.

Infelizmente por uma dessas situações que não são facilmente explicáveis, o cantor e compositor acabou sendo brutalmente assassinado em frente ao edifício em que morava em Nova Iorque, colocando fim à sua carreira e à sua vida. Os planos de recomeçar de novo acabaram drasticamente naquele trágico dia. Sem dúvida uma perda enorme para a música mundial. Para os fãs e admiradores de Lennon só restou a música e "Double Fantasy", o tão planejado recomeço, acabou se transformando no canto de cisne do artista. Diante de tamanha responsabilidade resta perguntar: "Double Fantasy" é um disco digno de despedida de um nome como John Lennon? Embora não tenha sido concebido para tal o disco se sustenta como legado da genialidade de Lennon? A resposta a tais indagações certamente não são fáceis. Muitas pessoas, obviamente envolvidas pelo calor do momento, do impacto da morte de John, certamente diriam que sim, que o último disco de Lennon foi excepcional, acima das expectativas, à altura do grande mito que o ex líder dos Beatles foi.

Eu procuro ser mais racional a esse respeito. Não resta dúvidas que "Double Fantasy" traz em sua seleção musical espasmos de bons momentos do talento de John Lennon, certamente, mas não vamos deixar a pura emoção nos envolver. O disco tem ótimas canções mas não é representativo a ponto de marcar a obra do cantor como um todo. O primeiro problema no meu ponto de vista é a divisão das músicas entre Lennon e sua esposa Yoko Ono. Essa é uma questão delicada mas por opção deixarei as canções da artista japonesa de lado, me focando apenas nas de Lennon. E o que nos sobra? De certa forma pouca coisa. "(Just Like) Starting Over" é ótima. Seu clima nostálgico invoca os anos 50, algo que Lennon propositalmente buscou. Quando perguntado sobre que tipo de arranjo desejava ele foi incisivo "Quero uma velha orquestra de rock´n´roll dos anos 50". E conseguiu. A vocalização nos remete imediatamente àquela década, ao estilo vocal de Gene Vincent ou Elvis Presley em seus anos de Sun Records.

Outra faixa digna de citação é "Watching The Wheels". A música foi composta por Lennon como uma grande resposta a todos que viviam se perguntando o que ele estaria fazendo durante todo o tempo em que se afastou da carreira? Lennon brinca com o fato numa letra simples mas inspirada, embalada numa bela melodia (que gruda na cabeça na primeira audição). O tom de nostalgia que é tão presente em "(Just Like) Starting Over" acaba voltando na mais bela canção do disco, "Woman". Perceba que Lennon estava mais autoral do que nunca. Todas as letras procuravam demonstrar fases de sua vida atual, coisas de seu cotidiano. Obviamente "Woman" se refere à mulher de sua vida, Yoko, mas sua letra também poderia se encaixar em relação a todas as mulheres do mundo. A melodia fala por si só, uma das mais belas e inspiradas de toda a carreira do cantor. As demais faixas já não seriam tão marcantes. "I´m Losing You" tem seus defensores mas a acho repetitiva e aborrecida. Menos fraca é a música que ele fez para Sean, "Beautifull Boy", com todo o lirismo inerente ao tema. Com efeitos sonoros que lembram um dia despreocupado na praia, a canção é marcante pelo simbolismo, por tudo que Lennon abdicou em nome de seu segundo filho.

Claro que com a morte de Lennon o disco explodiu em vendas. O mundo estava chocado e ninguém deixaria de comprar o último trabalho lançado em vida pelo famoso ex-beatle. É um disco de bons momentos, belas baladas e melodias, que buscava demonstrar um novo momento na vida de John Lennon que infelizmente foi o seu último mas não é algo que ficou tão marcado dentro da discografia de Lennon. Embora seja uma mera suposição, talvez se John não tivesse morrido da forma que todos sabemos, o disco teria sido lembrado nos anos seguintes apenas como o seu retorno à carreira, sem nada de muito especial nele.

Double Fantasy - John Lennon
(Just Like) Starting Over
Kiss Kiss Kiss"
Cleanup Time"
Give Me Something
I'm Losing You
I'm Moving On
Beautiful Boy (Darling Boy)
Watching the Wheels
Yes I'm Your Angel
Woman
Beautiful Boys
Dear Yoko
Every Man Has A Woman Who Loves Him
Hard Times Are Over

Pablo Aluísio.

John Lennon - Shaved Fish

Em 1975 John Lennon anunciou publicamente que iria se retirar da vida pública e artística para acompanhar a infância de seu segundo filho, Sean. O cantor sentia-se um pouco culpado pelo fato de mal ter acompanhado o crescimento de seu primeiro filho, Julian, pois na época ele estava vivendo o auge da popularidade dos Beatles e mal parava em casa, sendo que seu filho acabou virando um desconhecido para ele. De qualquer forma a decisão estava tomada e como ele já havia cumprido seu contrato com a gravadora EMI nada haveria que o impedisse de literalmente "jogar a guitarra para debaixo da cama", usando de uma expressão que ele próprio utilizou em entrevistas.

Assim nasceu Shaved Fish, a primeira (e única) coletânea em vida da carreira solo do ex-beatle. Uma das coisas que mais chamam atenção aqui é a extensão de hits que o artista conseguiu em um período relativamente curto de tempo. Em mais ou menos cinco anos, desde o fim do quarteto de Liverpool, Lennon conseguiu emplacar várias canções na lista dos mais vendidos. Embora muitos atribuam isso a uma pretensa rivalidade com seu ex-companheiro Paul McCartney, o fato é que atuando sozinho Lennon deu vazão ao seu lado mais pessoal nas suas composições, o que acabou criando um sentimento de intimidade com seu público. Via de regra John Lennon não escrevia suas músicas de forma abstrata, sobre situações não reais. John escrevia sobre si mesmo, geralmente em primeira pessoa e defendia a ideologia que entendia ser a correta. Assim nasceram hinos pacifistas como "Imagine", "Give Peace a Chance" e "Power of The People" e verdadeiros desabafos pessoais como "Mother".

Uma questão a se destacar aqui é interessante. Nos anos 50, 60 e 70 nem sempre os maiores sucessos faziam parte de algum álbum. Eram lançados como singles (compactos simples) com duas músicas que iam diretamente para as rádios. Eventualmente os hits entravam ou não na set list dos discos com 10 ou 12 canções geralmente. Por essa razão você não encontrará "She Loves You" em nenhum álbum oficial dos Beatles na época. Eram singles, feitos para vender muito e rapidamente (o que era natural uma vez que os compactos eram baratinhos e vendiam como água). Nos anos 70 esse sistema de mercado ainda era utilizado e essa coletânea demonstra bem isso pois a grande maioria de suas músicas nada mais são do que singles de sucesso da carreira solo de John Lennon. Assim se você estiver procurando por apenas um título para representar os primeiros anos de Lennon em sua carreira solo, "Shaved Fish" ainda é uma boa pedida, mesmo após todos esses anos.

John Lennon - Shaved Fish
Give Peace a Chance
Cold Turkey
Instant Karma
Power To The People
Mother
Woman Is The Nigger Of The World
Imagine
Whatever Gets You Thru The Night
Mind Games
9 Dream
Happy Xmas

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

John Lennon - Rock´n´Roll (1975)

Provavelmente um dos menos conhecidos trabalhos de John Lennon na carreira solo. O fato é que sendo um disco de covers, "Rock´n´Roll" não chamou tanta atenção assim da mídia na época e nos anos que viriam o álbum cairia em um injusto esquecimento. Existe também um certo preconceito contra o disco. Já li, por exemplo, várias resenhas afirmando que Lennon o gravou apenas para cumprir seu contrato com a gravadora e encerrar sua longa parceria com a Emi-Odeon. Acho esse tipo de atitude apressada. Não considero o álbum um "tapa buraco" na discografia solo de John Lennon, isso é de um simplismo absurdo. O fato é que John vinha vivendo uma fase conturbada na vida (havia se separado de Yoko Ono) e resolveu gravar um LP com as músicas que tinham feito sua cabeça na adolescência. Nada mais de acordo com uma pessoa que se considerava acima de tudo uma "velha orquestra de Rock´n´Roll".

Outros dizem que John apenas gravou "Rock´n´Roll" por uma questão legal. Acontece que após o lançamento da canção "Come Together" John sofreu um pesado processo judicial por plágio por aqueles que detinham os direitos autorais da canção "You Can´t Catch Me" de Chuck Berry. Para não ser condenado Lennon acabaria fazendo um acordo no tribunal. Ele não pagaria uma indenização pesada (algo em torno de alguns milhões de dólares) mas em compensação gravaria a música de Berry. Como ela era em si uma antiga música dos anos 50 ele teria tido a ideia de realizar um velho sonho gravando outras canções antigas, da época em que era apenas um jovem de Liverpool. O fato é que de uma maneira ou outra Lennon se decidiu e resolveu gravar seu disco revival.

O álbum na verdade pode ser dividido em duas partes. A primeira foi gravada com a produção de Phil Spector e a segunda pelo próprio John. Eu pessoalmente gosto muito mais da "parte Lennon" do disco. As músicas que foram produzidas por Phil Spector são mais "pesadas" em seus arranjos e produção, o que acaba prejudicando a própria essência das canções, que tinham arranjos bem mais simples e lúdicos. Spector produziu em excesso as canções, colocando uma quantidade fora do normal de metais e orquestração ao fundo, muitas vezes abafando a própria vocalização de Lennon. Já a segunda parte do disco é bem mais coesa, leve e divertida (como tinha que ser já que estamos lidando aqui com músicas que em sua maioria pertencem aos pioneiros do surgimento do Rock nos anos 50). Lennon suavizou os arranjos, maneirou nos excessos e trouxe vitalidade e leveza ao disco em si. Ainda bem.

Em um depoimento Mick Jagger afirmou que a seleção musical do disco contou com sua preciosa participação. Ele afirma que por essa época começou a sair mais com Lennon e esse o usou de forma deliberada para lembrar de velhos hits da juventude de ambos. Pode ser, já que separado da japonesa, John realmente se uniu a alguns amigos do passado e caiu na vida boa, se divertindo, arranjando confusões e até brigas em boates (esse período de sua vida ele chamava de "Fim de Semana Perdido"). Depois do disco John Lennon finalmente retornou para os braços de Yoko Ono e com o contrato cumprido anunciou que ficaria cinco anos parado, sem gravar nada em estúdio, promessa que cumpriu só voltando a gravar material novo em 1980 no álbum "Double Fantasy". De qualquer forma recomendo e muito a audição do disco, principalmente para quem só conhece o single "Stand By Me". John já não era apenas um jovem rebelde por essa época mas era suficientemente competente para gravar um belo revival do surgimento do Rock´n´Roll.

Três foram os motivos para John Lennon gravar esse álbum chamado "Rock 'n' Roll" que era composto basicamente por diversas versões covers dos clássicos do rock dos anos 50 e 60. O primeiro foi que Lennon tinha que cumprir seu contrato com a EMI / Capitol, a gravadora que lhe processaria em alguns milhões de dólares se ele pulasse fora do barco. Quando ainda era um Beatle ele assinou esse contrato de dez anos e agora tinha que cumprir o que havia se comprometido a fazer. Os Beatles se separaram e John ainda tinha cinco anos de contrato para cumprir! Esse disco foi exatamente o último LP a ser gravado por essa obrigação contratual. Uma forma de finalmente se ver livre da EMI e suas pressões. Pode-se dizer que John ficou muito aliviado de ter chegado ao fim das gravações desse disco. Foi sua liberdade reconquistada.

O segundo motivo foi também cumprir uma obrigação, mas dessa vez judicial. John havia perdido um processo por plágio movido por Chuck Berry. Na conciliação que se seguiu John se comprometeu a gravar algumas músicas de Berry, um artista que ele realmente adorava e respeitava. Bom, nem precisa pensar muito para entender que se iria gravar rocks de Chuck Berry, então era melhor gravar logo um disco inteiro de músicas do surgimento do Rock 'n' Roll nos Estados Unidos. Juntando o útil ao agradável e adotando uma sugestão de Mick Jagger, Lennon resolveu colocar a ideia do álbum em frente. O prazer de gravar tantas músicas imortais acabou sendo assim a terceira e última razão para gravar o disco. Era algo que ele queria fazer já há alguns anos, no final das contas seria um prazer para ele que sempre se considerou acima de tudo um roqueiro ao velho estilo, um verdadeiro cantor de rock.

As sessões só não foram melhores porque John enfrentava uma crise pessoal em sua vida. Poucas semanas antes de começar as gravações sua musa Yoko Ono resolveu dar um tempo no relacionamento que tinha com o ex-Beatle. Nem precisa dizer que isso o devastou emocionalmente. John ficou muito abatido e acabou chamando esse rompimento com Yoko de "o fim de semana perdido". Ele ficou literalmente perdido mesmo e começou a se envolver em confusões, principalmente nas boates de Nova Iorque. Sem Yoko de lado, John voltou a ser o valentão bêbado de seus dias de adolescência quando gostava de brigar nos bares de Liverpool. A diferença agora era que ele estava mais velho e já não tinha mais a energia de seus tempos de juventude. As brigas voltaram e John ficou mal, não apenas emocionalmente mal, mas fisicamente mal também. Passou a acordar todos os dias com uma ressaca infernal. Mal conseguia se levantar para trabalhar em estúdio.

Outro erro foi contratar o produtor Phil Spector para trabalhar ao seu lado. Spector estava vivendo uma fase de profundo vício em cocaína, que o impedia de prestar atenção nos takes, nas gravações. John ficou irritado e acabou demitindo o produtor, assumindo ele mesmo a produção do disco. John, que também estava usando drogas na época, era mais profissional. Ele nunca esqueceu suas origens em Liverpool. Tendo nascido na classe trabalhadora inglesa, onde todos levavam muito à sério o trabalho, John sabia separar o momento das farras do trabalho. Na hora de ir para as gravações para trabalhar John procurava sempre antes ficar sóbrio. No estúdio se mostrava um músico concentrado. Já Spector aparecia cheirado, completamente noiado e cheio de droga na cabeça. John obviamente ficou irritadíssimo com isso. Não demorou muito e Lennon o demitiu na frente de todos, bem no meio do Record Plant, o caro estúdio de Nova Iorque. Ele não precisava de Spector naquela situação deplorável em que ele se encontrava. Ele iria assumir tudo, se tornando o George Martin e também o Paul McCartney de seu novo disco. Iria produzir e fazer todos os arranjos sozinho. Não deixava de ser um desafio interessante para o bom e velho John Lennon. Ele queria se testar novamente.

John Lennon - Rock ´n´ Roll
01- Be Bop a Lula
02- Stand by me.
03- Medley: Rip it up / Ready Teddy.
04- You can't catch me.
05- Ain't That a Shame.
06- Do you want to dance?
07- Sweet little sixteen.
08- Slippin' and slidin'.
09- Peggy Sue.
10- Medley:
       Bring it on home to me / Send me some lovin'.
11- Bony Maronie.
12- Ya ya.
13- Just because.

Pablo Aluísio.

John Lennon - Walls and Bridges

Todo trabalho cultural reflete de uma forma ou outra aspectos da vida pessoal de seu criador. John Lennon e esse "Walls and Bridges" demonstram bem isso. Gravado em um período muito conturbado da vida do ex-beatle o LP traz para sua seleção musical essa confusão emocional da vida de Lennon na época. O disco é desconexo, sem fio condutor, tudo parecendo feito ao acaso, sem planejamento. Na ocasião de seu lançamento Lennon explicou a amigos e pessoas próximas que teria entrado em estúdio por obrigação contratual, sem ter nem ao menos uma faixa pronta. Assim, segundo ele próprio, tentou produzir algo, meio que na base do improviso, numa desordem completa. Parecia até estar se desculpando pelo disco que havia gravado. Não era para menos. John recuperou velhos manuscritos, ideias abandonadas de outras épocas e tentou terminar o que havia começado (algumas músicas não passavam de rabiscos de um ou dois estrofes, tudo em estado muito embrionário).

Diante dessa situação o resultado final não poderia ter saído diferente. A obra não tem uma ideia ligando as faixas, demonstrando realmente falta de critério, arranjos pobres e letras que em nada lembram o brilhantismo de outrora da carreira de John Lennon. O clima de reciclagem começa logo pela capa (um velho desenho feito por ele em seus tempos de escola). As diversas faces de Lennon podiam ser trocadas na contracapa (que funcionavam muito bem na capa grande de papel do vinil) mas que acabou se perdendo em sua edição de CD, o que é uma pena pois era uma das melhores coisas de "Walls and Bridges". Tirando essa bem bolada direção de arte o conteúdo musical deixou muito a desejar. Quando chegou nas lojas muitos críticos torceram o nariz. É um produto tipicamente produzido naquilo que John mesmo chamou de "fim de semana perdido". Separado de Yoko Ono o artista parece que literalmente perdeu o rumo: se envolveu em bebedeiras, brigas em bar e deu vexames públicos por aí. Além disso foi declarado "persona non grata" pelo governo americano por causa de seus problemas com drogas e protestos anti guerra. No meio de todo esse turbilhão ele tentou fazer algo musicalmente mas temos que convir que ficou apenas nas boas intenções. Com a vida em caos "Walls and Bridges" não poderia ser menos do que caótico.

Realmente após ouvir todo o disco chegamos na desanimadora conclusão de que temos aqui apenas duas faixas fortes. A primeira é a conhecida "Whatever Gets your Thru The Night" Fruto da parceria entre Lennon e Elton John a canção bebe diretamente da fonte da moda "disco" que imperava na época. A faixa por suas características acabou criando identidade própria e se destacou mais como single do que pela sua inclusão na seleção do LP. A segunda boa canção de "Walls and Bridges" é a muito bem arranjada "#9 Dream" em que o capricho do arranjo destoa completamente do restante das músicas (todas pobremente arranjadas, aliás velho problema da discografia solo de Lennon). O resto da audição não traz maiores surpresas ou bons momentos. Fora essas duas canções o restante das faixas não consegue trazer nada que nem ao menos lembre dos grandes momentos de Lennon em estúdio. Algumas são inclusive embaraçosas como "Bless You" em que John literalmente se coloca numa situação meio estranha ao abençoar o recente romance de Yoko com o guitarrista David Spinozza. Outra que chama atenção é "Jeff Berky" única música puramente instrumental da carreira do ex-beatle. O que poderia ser interessante desaba em uma sucessão de riffs e momentos clichês. Depois dessas músicas nada mais se destaca ou chama a atenção. As demais faixas não são dignas de nota. Algumas gravações são visivelmente mal feitas, demonstrando terem sido compostas ao acaso, na pressa, nada memoráveis (como o tempo provaria pois realmente caíram no esquecimento completo pois hoje em dia ninguém mais parece se lembrar delas). "Walls and Bridges" é quase um desastre completo. Por fim fica a pergunta: "Walls and Bridges" é o pior disco da carreira de John Lennon? Complicado afirmar, de qualquer forma uma coisa é certa: é um dos mais mal produzidos e confusos, igual ao tal "fim de semana perdido" de seu autor.

John Lennon - Walls and Bridges
Going Down on Love
Whatever Gets You thru the Night
Old Dirt RoadWhat You Got
Bless You
Scared
#9 Dream
Surprise, Surprise (Sweet Bird of Paradox)
Steel and Glass
Beef Jerky
Nobody Loves You (When You're Down and Out)
Ya Ya

Pablo Aluísio.