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domingo, 22 de novembro de 2020

Narciso Negro

Esse filme é um grande clássico da história do cinema. A história é das mais interessantes. Uma ordem de freiras católicas envia um grupo de cinco irmãs para uma região remota, nas proximidades do Himalaia, com a missão de construir uma escola para crianças e um hospital para a população local. Numa altitude de mais de 2.800 metros acima do mar, elas tentarão estabelecer as bases de evangelização de um povo que ainda não conhece o cristianismo. As freiras são jovens e chegam numa antiga casa abandonada onde lá viviam as esposas do rei em um passado distante. É justamente nesse local que fundam um novo convento de assistência e educação para a população da região. "Narciso Negro" é um filme magnífico. Mostra bem um dos aspectos mais louváveis da igreja católica que é a evangelização em lugares remotos, situados numa verdadeira fronteira da fé cristã. Nessas regiões só existem escolas e hospitais por causa da força missionária da Igreja. No caso aqui temos cinco freiras da ordem das irmãs de Maria que vão até esse distante local para ajudar no que for possível a população local. Em termos religiosos há um templo budista também localizado nas encostas montanhosas, além de um enigmático "homem santo" que passa seus dias contemplando o horizonte em meditação. Apesar de sua profundidade espiritual nada fazem em prol do povo local. Apenas as freiras católicas se esforçam para educar e trazer assistência médica para aquelas populações. O filme mostra bem como foi complicado tentar evangelizar uma cultura tão diferente da ocidental como aquela. Nesse aspecto conseguimos entender muito bem como a Igreja Católica atuou como ponta de lança em países distantes, bem longe do mundo civilizado ocidental.

A produção é excelente, com fotografia belíssima, afinal a região do Himalaia é naturalmente linda, com suas altas montanhas com picos de neve eterna. O roteiro é extremamente bem escrito, com todas as personagens muito bem desenvolvidas. O destaque obviamente vai para Deborah Kerr que interpreta a irmã Clodagh. Apesar de jovem ela é designada como chefe da missão de evangelização, o que representará um grande desafio em sua vida religiosa. Outro destaque vai para David Farrar que interpreta um agente inglês que preserva os interesses do império britânico no local. Como único ocidental na região, ele se torna um amigo e um apoio para as freiras católicas. Essa aproximação inclusive acaba criando uma tensão sexual entre ele e as religiosas, fazendo com que o roteiro discuta ainda que sutilmente a questão do celibato dentro da Igreja católica.

"Narciso Negro" é considerado um dos melhores dramas da década de 1940, fruto é claro de seu ótimo roteiro, das atuações de excelente nível e da marcante produção. O filme até hoje chama a atenção por ter todos os elementos em perfeita harmonia. Um bom exemplo disso encontramos no clímax quando umas das freiras, esgotada pela austeridade e trabalho duro a que é submetida, tem um surto de loucura. A cena que se desenvolve ao pé do precipício, no badalar dos sinos, me fez recordar inclusive do mestre Hitchcock, por causa do ótimo clima de suspense e tensão que se desenrola nesse momento. Um primor cinematográfico. Em suma, eis aqui mais uma obra-prima que não pode faltar na coleção de nenhum cinéfilo que se preze. "Narciso Negro" é um filme que realmente merece o título de clássico da sétima arte.

Narciso Negro (Black Narcissus, Estados Unidos, Inglaterra, 1947) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Michael Powell, Emeric Pressburger / Roteiro: Rumer Godden, Michael Powell / Elenco: Deborah Kerr, David Farrar, Flora Robson / Sinopse: Um grupo de freiras é enviada pela Igreja Católica para aturar numa ordem religiosa instalada no Himalaia, região distante, onde a população local sequer conhecer o cristianismo. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor direção de fotografia (Jack Cardiff) e melhor direção de arte (Alfred Junge). Filme premiado pelo Globo de Ouro na categoria de  melhor direção de fotografia (Jack Cardiff).

Pablo Aluísio.

10 comentários:

  1. Cinema Clássico
    Narciso Negro
    Pablo Aluísio.

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  2. Filme lindo e maravilhoso! Deborah Kerr era tudo de bom. Atriz top demais!

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  3. A Deborah Kerr nesse filme encarnou uma das freiras mais sensuais do cinema. E a sensualidade dela não vem da vulgaridade, mas de mind games, jogos psicológicos. Na minha forma de entender o filme ela também tem uma crise de fé daquelas... de pular no penhasco mesmo. Dom Pablo, esse é um filmaço clássico sem deslizes.

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  4. Belle Thaís, não há mesmo elogios suficientes para o talento da Deborah Kerr. Ela marcou o mundo do cinema em sua época. Estaria facilmente numa lista das cinco melhores de sua geração. E sua filmografia é mais do que rica. Grandes clássicos nela.

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  5. Lord Erick, o que aconteceu com a personagem da Deborah Kerr é mais comum do que se imagine. Muitas mulheres se tornam freiras na juventude, na flor da idade, em um momento da vida em que as convicções pessoais estão em alta. Depois o tempo passa, vem a velhice e não há aquela que não se pergunte se fez a escolha certa, se era isso mesmo que queria da vida. É um questionamento válido e bem comum na vida de religiosas como ela.

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  6. Correção: "É mais comum do que se IMAGINA"

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  7. Apesar da Déborah Kerr ser uma atriz e uma mulher maravilhosa, como disseram a Thais e o Erick, e ter participado inclusive de um dos maiores sucessos da cinema mundial, "A Um Passo da Eternidade", em que faz uma das cenas mais antológicas de todos os tempos, o beijo na praia com o Burt Lancaster, ela acabou caindo em um injusto ostracismo, tendo menos relevância que muitas atrizes menos talentosas e belas que ela. Nao dá pra entender porque isso aconteceu.

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  8. Ela foi uma mulher forte, independente e inteligente. Tal como a Bette Davis. E como todos sabemos os produtores preferiam as belas e burras, para que explorassem com mais facilidade.

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  9. E eles pensavam que a Marilyn era loira e burra. Não era bem assim.

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  10. A Marilyn Monroe tinha uma ótima intuição. Era loira, mas burra, jamais...

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