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quarta-feira, 27 de março de 2019

Rock Hudson - A Morte do Ator

Em seus últimos meses de vida Rock Hudson lutou bastante por sua vida. A ciência médica ainda não tinha respostas e nem cura para a AIDS e por isso ser contaminado pelo vírus era mesmo uma sentença de morte. Em busca de alguma saída o ator foi para Paris para participar de um tratamento experimental, só que não houve resultados positivos. Ele foi declinando a cada dia, até que seu médico o aconselhou a voltar para os Estados Unidos para morrer em paz. Os amigos mais próximos de Rock então o colocaram em um avião e ele voltou para Los Angeles.

Rock morreu em sua mansão que ele gostava de chamar de "O Castelo". Era uma bela propriedade nas colinas de Hollywood. Ao longo de muitos anos ele reformou o lugar, ampliando seus espaços, construindo novos quartos e um belo jardim que cuidava pessoalmente. Também providenciou toda a decoração, inspirada na arquitetura do sul da Espanha. Ele adorava o estilo ibérico europeu. Seu amigo e secretário Mark Miller diria sobre a casa: "Rock passou a vida reformando o Castelo. Foram anos e anos construindo. Quando finalmente a reforma ficou pronta, o homem também estava pronto! Ele morreu em seus aposentos que tanto amou".

Foi nesse lugar que Rock esperou pela morte. Não havia mesmo nenhum outro lugar melhor para essa passagem. Rock faleceu no dia 2 de outubro de 1985. Algumas semanas antes ele decidiu assumir sua homossexualidade publicamente, algo que tinha escondido por décadas. Também revelou que estava com AIDS, uma nova doença mortal. Esse ato de coragem de Rock teve grande repercussão na mídia mundial e ajudou muito na conscientização das pessoas sobre a doença, os preconceitos que giravam em torno dela e o incentivo na busca de uma cura pela ciência. Rock determinou que sua fortuna fosse usada numa fundação que levaria seu nome e que teria como objetivo incentivar e promover pesquisas sobre o vírus da AIDS.

Rock não queria ter um túmulo, ele preferia que seu corpo fosse cremado e suas cinzas fossem jogadas no mar. Ele havia sido marinheiro na segunda guerra mundial e nesse último ato de vontade pediu por uma despedida própria de um homem da marinha. O destino final de suas cinzas seria o fundo do oceano. Assim foi feito. Seus mais próximos amigos, Mark Miller e Tom Clark (um antigo amante) cuidaram de tudo. O espólio do ator ainda seria processado pelo último namorado fixo de Rock, Marc Cristian, que exigia uma fortuna por ter morado ao seu lado enquanto Rock definhava com AIDS. Ele alegava que Rock havia lhe escondido a doença, colocando sua vida em risco. Nos Tribunais acabou vencendo a causa, fazendo com que grande parte de sua fortuna pessoal não tivesse o destino que o ator tanto queria em seus últimos momentos de vida.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 26 de março de 2019

Rock Hudson - O Começo do Fim

Rock Hudson descobriu que estava com AIDS por um acaso. Ele havia participado de uma recepção na Casa Branca promovida pelo presidente Ronald Reagan (que havia sido ator no passado) e percebeu na foto do evento que havia uma estranha mancha em seu pescoço. No começo Rock pensou que se tratava de uma espinha inflamada, mas alertado por seu amigo e assistente pessoal Mark, resolveu ir ao médico. A consulta foi em um famoso dermatologista de Los Angeles que logo percebeu que a tal mancha não era causada por uma espinha.

Na realidade era um Sarcoma de Kaposi, um tipo raro de câncer que estava se espalhando rapidamente entre pessoas que tinham sido diagnosticadas com uma nova doença denominada AIDS (Síndrome da imunodeficiência adquirida) que atacava em especial a capacidade do organismo em se defender de doenças e enfermidades em geral. Rock ficou assustado pois sabia por matérias que havia lido na imprensa que aquela doença não tinha cura e que costumava matar em pouco tempo. O dermatologista aconselhou Rock a realizar um exame completo, com um especialista no assunto.

Uma semana depois dessa consulta o exame deu positivo para AIDS. Rock ficou apavorado. Naquele tempo ser diagnosticado com AIDS era praticamente uma sentença de morte. Pior do que isso, a doença era associada exclusivamente a homossexuais, o que destruiria publicamente a imagem do ator. Algo que ele havia passado a vida inteira escondendo (a de que na sua vida privada era gay) certamente seria explorado ao máximo pela imprensa sensacionalista quando tudo fosse descoberto e revelado pelos jornais. O primeiro a saber foi seu amigo pessoal George Nader, que obviamente guardou segredo absoluto. No íntimo George também ficou com medo de conviver com Rock pois na ignorância do surgimento da nova doença muitos tinham receio de que ela fosse transmitida no ar, como a tuberculose.

Rock ficou arrasado. Passou uma semana sem dormir, completamente deprimido em sua mansão. Uma de suas primeiras providências foi escrever uma série de cartas para homens com quem tinha transado, seus amantes. Rock queria avisá-los para que procurassem ajuda médica. O texto era objetivo e curto: "Estou escrevendo essa mensagem de forma anônima por motivos óbvios. Recentemente fui diagnosticado com AIDS. Como tivemos relações sexuais há pouco tempo sugiro que procure passar por exames médicos o mais rapidamente possível! Desejo boa sorte!". Na verdade Rock não tinha a menor ideia de quem teria lhe passado a doença. Uma das suspeitas caíram sobre Marc Christian, que vivia ao seu lado em sua mansão conhecida como "O Castelo".

Algumas semanas antes Marc havia confidenciado a Rock que já tinha feito programas com gays por dinheiro, ou seja, que havia trabalhado como prostituto em uma sauna nos arredores de Hollywood. Rock ficou pasmo, pois achava que Marc era um sujeito correto, que era exclusivamente heterossexual antes de conhecê-lo, pois tinha uma namorada fixa e tudo mais. Depois da revelação Rock criou uma clara aversão sobre o namorado. Começou a tratá-lo com uma certa repulsa. Sem contar nada a ele o enviou para exames médicos. Queria saber se Marc também tinha AIDS. Para sua surpresa o exame deu negativo. Não havia sido Marc o homem que o tinha contaminado. O drama de Rock porém estava longe de acabar. Ele soube que as pesquisas mais promissoras sobre a doença estavam vindo de Paris, na França. Assim numa manhã de domingo Rock fez suas malas e pegou o primeiro avião para a capital francesa. Aquela poderia ser uma das únicas chances que tinha de continuar vivo...

Pablo Aluísio.

Rock Hudson - O Começo da Carreira

Quando Rock Hudson deu baixa na Marinha Americana, onde havia servido durante a Segunda Guerra Mundial, ele retornou para a vida civil e como muitos outros como ele viu-se no momento decisivo em que tinha que decidir o que iria fazer do resto de sua vida. A vida militar havia chegado ao final e agora ele tinha que determinar um rumo para seu futuro. Há muitos anos Rock tinha um velho sonho de se tornar ator. Seria realmente maravilhoso ganhar a vida fazendo aquilo de que gostava. Quando era apenas um rapaz do meio oeste jamais contou esse desejo para ninguém, porém quando a guerra acabou ele se viu livre para fazer o que bem entendesse de sua vida. Rock serviu em um cruzador e quando esse chegou na baía de San Francisco foi recebido por uma grande festa ao som de sentimentais canções cantadas por Doris Day. Em sua autobiografia Rock recorda que jamais esqueceu esse dia pois em poucos anos ele próprio, aquele marinheiro completamente desconhecido, estaria estrelando filmes ao lado de Doris Day - quem naquela altura poderia dizer que algo assim um dia aconteceria? A primeira providência de Rock ao pisar em solo americano novamente foi ir embora em direção a Los Angeles, onde estava Hollywood, a terra onde ele tencionava realizar seus sonhos. A Universal tinha uma excelente escola de treinamento para atores iniciantes, onde belos e jovens rapazes eram treinados pelo estúdio para se tornarem futuros astros e campeões de bilheteria.

Assim numa manhã Rock pintou pela primeira vez diante dos portões da Universal. Ele já havia assinado com um agente, Henry Wilson, e tinha firmes esperanças que seria aceito para a escola. O que importava para os recrutadores da Universal naquela época nem era o fato dos aspirantes a atores terem realmente talento dramático. Na visão do presidente do estúdio o que vinha em primeiro lugar era a boa aparência, depois com o tempo, estudo e dedicação, o talento para atuar despontaria. No primeiro dia de teste Rock participou de uma sessão de fotos. O que se procurava era alguém que tivesse um ótimo perfil, que fosse alto, elegante e que incorporasse a essência do chamado "galã de cinema americano". Para sua sorte Rock se enquadrava em todos os padrões estéticos. Era alto, tinha um rosto perfeito para a câmera e um estilo que combinava muito bem com o que a Universal vinha procurando. Quem deu o aval para que Rock fosse contratado imediatamente foi o diretor Raoul Walsh. Ele sabia que Rock precisava de muito estudo e lapidação para se tornar um bom ator, mas seu ótimo visual não poderia ser dispensado. Walsh disse ao recrutador do estúdio: "Contrate esse Rock Hudson. Ele parece um herói americano das telas. Depois vamos lapidar melhor o rapaz".

Rock foi contratado naquela mesma tarde, com um pequeno salário de 1.200 dólares, algo que o deixou impressionado. Acostumado com o soldo de marinheiro aquilo era realmente fantástico, um sinal de que seu velho sonho em ser ator de cinema um dia poderia se concretizar. Para mostrar que Rock ficava ótima em cena Raoul Walsh resolveu aproveitar ele em uma ponta de seu novo filme, "Sangue, Suor e Lágrimas". Colocou Rock em um uniforme da força aérea e ficou realmente muito satisfeito com o resultado. A um assistente de direção confidenciou: "Esse jovem Rock Hudson vai ser um astro, pode ter certeza, olha a estampa dele, realmente impressionante!". Depois dessa sua primeira experiência como ator, Rock foi enviado para o centro de treinamento de novos talentos da Universal onde acabou conhecendo outros alunos, entre eles algumas futuras estrelas como Tony Curtis, Jeff Chandler e Tab Hunter.

A partir do momento em que virou um ator sob contrato da Universal tudo mudou. Suas roupas, os locais que deveria ou não frequentar, com quem sairia ou que tipo de atitude deveria adotar em público, seria determinado pelo estúdio. Rock começou a frequentar festas em Hollywood, onde seria apresentado pela imprensa pelo setor de relações públicas. Como não tinha uma namorada, a Universal determinou que deveria sair com outras alunas do departamento de treinamento da empresa. Assim Rock saía com outras aspirantes à atriz, que estavam como ele tentando alcançar o estrelato. Era uma forma de promoção dupla, tanto para ele como para suas lindas acompanhantes. Na vida pessoal Rock se tornou grande amigo de George Nader. Ele era um atlético e jovem promissor ator que nas horas vagas gostava de escrever livros de ficção científica. Nader se tornou muito próximo de Rock porque assim como o amigo também tinha um segredo a esconder da Universal: era gay e morava há anos com Mark, seu companheiro de longa data. Rock Hudson e George Nader jamais tiveram um relacionamento amoroso, mas sua amizade duraria até o fim de suas vidas. Quando morreu, Rock nomeou George e Mark como seus herdeiros, provando que aquela singela amizade nascida nos corredores da Universal seria o começo de um grande elo de ligação pessoal entre todos eles.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 25 de março de 2019

Rock Hudson - Rock e a Universal

Enquanto Rock Hudson ia se firmando dentro da Universal, ele começou a desenvolver duas paixões que jamais o abandonariam até o fim de sua vida: colecionar discos e viajar. Rock gastava um valor enorme de seu salário na compra de discos, de todos os gêneros, que colecionou com grande dedicação até sua morte. Era um aficcionado por música. Certa vez declarou: "Não consigo viver sem música. É como o ar que respiro. Mal chego do estúdio depois de um dia de trabalho duro e a primeira coisa que faço é ligar meu toca-discos". De fato Rock não curtia um novo invento que estava chegando em todos os lares durante os anos 1950, a TV, mas se esbaldava nos fins de semana, comprando todos os vinis que encontrava pela frente. Era de fato um colecionador voraz, desses que pagam pequenas fortunas por discos raros, com selos diferentes ou edições limitadas. Esse hobby encontrou alguns contratempos ao longo da vida. Quando estava no complicado processo de divórcio de sua primeira e única esposa, ela em um acesso de fúria começou a quebrar os raros exemplares que Rock havia movido montanhas para comprar.  Suas cópias raras de Ella Fitzgerald e Duke Ellington ficaram em pedacinhos em questões de minutos. Talvez por isso Rock tenha jurado aos amigos mais próximos que jamais se casaria novamente, promessa que aliás cumpriu com afinco.

Além de colecionar vinis, Rock adorava viajar pelo mundo. Assim que virou um astro em Hollywood ele começou a cruzar os céus e os mares para conhecer outras culturas, outros países. A primeira viagem que fez e o encantou foi na Itália. Rock voltaria para lá várias vezes, inclusive algumas a trabalho quando filmou filmes na região, mas nada superaria o prazer de conhecer velhos castelos e vilas medievais. Rock não era um turista tradicional, desses que compram pacotes fechados de viagem. Ele queria também sentir a emoção da aventura. Assim não raro alugava um carro em algum país europeu e saía viajando pelas estradas, sem rumo certo. Rock certa vez realizou uma longa viagem de automóvel que começou em Portugal, atravessou a Espanha, França e terminou quase nas fronteiras da cortina de ferro, a barreira erguida pela União Soviética separando os países socialistas do resto da Europa. Ele até tentou aprender algumas línguas, mas depois de várias tentativas de aprender francês reconheceu que não era sua praia. Rock se considerava velho demais para se tornar um bom aluno de língua estrangeira.

Obviamente que sua vida pessoal e privada continuava fechada a sete chaves. Nas entrevistas promocionais Rock se mostrava simpático, alegre, e diplomaticamente fechado. Como se soube muitos anos depois Rock escondeu por décadas suas verdadeiras preferências sexuais, afinal ele era gay. Aos poucos porém isso foi deixando de ser um problema para ele, do ponto de vista estritamente pessoal. A publicação do livro "Sexual Behavior in the Human Male" de Alfred C. Kinsey, foi o ponto chave na aceitação de sua homossexualidade. Por anos Rock viveu com culpa e vergonha, se sentindo inferior ou uma aberração. O livro do professor Kinsey colocava muitos mitos ao chão. Assim o fato de ser gay não poderia ser mais considerado uma doença ou um desvio de caráter. O cientista havia concluído com suas pesquisas que a homossexualidade era algo natural na natureza. Muitos animais seguiam essa tendência e não havia nada de errado nisso. Para completar, ele afirmava em seus estudos que praticamente todos os seres humanos tinham uma tendência natural para gostar de outros humanos do mesmo gênero. Poucos eram absolutamente heterossexuais. Havia uma escala que ia da homossexualidade absoluta até a heterossexualidade completa. Os seres humanos geralmente ficavam no meio dessa escala, indo para um lado ou para o outro. Rock e a comunidade gay da Califórnia receberam com alívio essas conclusões. Afinal naquela época ser gay era algo completamente condenável, tanto do ponto de vista legal, social e até científico. Kinsey deu uma nova visão sobre o tema. Claro que Rock não iria se assumir publicamente, afinal ele interpretava galãs nos filmes e se o fato de ser gay viesse a público ele seria ridicularizado. Dentro de sua alma porém ele se sentia aliviado.

Já profissionalmente as coisas caminhavam bem. Todo fim de ano a Universal publicava uma lista de atores demitidos, dos quais ela não tinha mais interesse em continuar sob contrato. Era um momento de tensão para os jovens aspirantes a astro do estúdio. Rock temia ser demitido, mas para sua felicidade continuou dentro do cast da empresa. Outro de sua mesma turma que ganhou novo contrato foi o futuro astro Tony Curtis. Agora Rock poderia respirar mais aliviado. Como era um tipo grande, alto e forte, lembrando os pioneiros que foram para o oeste em busca de uma nova vida, Rock foi imediatamente escalado para contracenar com James Stewart e Shelley Winters no faroeste "Winchester '73". A direção seria do grande diretor do gênero Anthony Mann. O papel de Rock não era muito significante, mas tinha o espaço suficiente para que ele se mostrasse bem na tela, além disso havia bons diálogos para declamar. Era o começo de uma nova virada profissional em sua vida no cinema.

Pablo Aluísio.

Rock Hudson - Rock e as ondas!

Duas semanas antes do começo das filmagens de "Sublime Obsessão" Rock Hudson resolveu surfar com amigos em um das praias mais bonitas da Calfórnia. O que parecia um programa inofensivo de domingo virou um pesadelo na vida do ator. Uma das ondas jogou Rock contra as rochas da praia. O astro foi salvo pelos amigos Mark e George que o levaram imediatamente ao hospital. O diagnóstico foi terrível - Rock havia fraturado o braço e teria que passar por uma cirurgia ficando em recuperação por no mínimo seis semanas. Tanto tempo o tiraria de "Sublime Obsessão" o primeiro grande filme que faria, seu primeiro papel principal ao lado de uma atriz premiada e um diretor de primeira linha, Douglas Sirk. Não fazer o filme seria o mesmo que perder a grande chance de sua carreira - uma chance que provavelmente não aconteceria mais.

No meio da crise Rock implorou aos médicos uma solução mais rápida. A equipe que o atendeu lhe informou então que ele poderia deixar a cirurgia de lado, apenas isolando o local fraturado mas isso teria consequências sérias para ele nos anos seguintes - perderia parte da mobilidade de seu braço e o tratamento inadequado iria prejudicar suas articulações. Rock não pensou duas vezes e pediu pelo simples isolamento do local para não perder a chance de participar de "Sublime Obsessão".

E assim foi feito. Dentro da Universal ainda existiu uma certa resistência em Rock estrelar o filme por causa do acidente. Mas o ator conseguiu o apoio de um executivo influente que tinha se tornado seu caso mais recente. Com tudo pronto finalmente Rock conseguiu estrelar aquele que seria o primeiro grande filme de sua carreira, o primeiro que estrelaria como ator principal e que teria ótima bilheteria. A partir daí Rock Hudson iria emplacar uma incrível sucessão de sucessos que o transformaria em astro de primeira grandeza em Hollywood. Rock perdeu realmente parte da mobilidade de seu braço como os médicos lhe avisaram mas no fundo tudo valeu a pena. Ele literalmente deu o braço a torcer para se tornar um grande superstar.

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de março de 2019

A Luz é Para Todos

Philip Schuyler Green (Gregory Peck) é um jornalista e escritor californiano que vai até Nova Iorque em busca de um recomeço em sua vida. Viúvo, com um filho pequeno, morando com sua mãe, ele acaba arranjando emprego em uma conhecida revista liberal da cidade. Sua primeira pauta de artigo é o antissemitismo na América. O editor o convence a escrever uma série de textos mostrando as lutas dos judeus contra o preconceito nos EUA. Em busca de uma matéria diferente Green tem uma ideia ousada. Como quase ninguém o conhece em Nova Iorque ele decide se passar por um judeu, para assim sentir na pele o antissemitismo declarado e escondido dentro da sociedade americana.

Assim que espalha que é judeu ele logo começa a sentir a diferença. Nem todos os restaurantes aceitam reservas em seu nome, seu filho começa a ser hostilizado na escola e ele próprio acaba descobrindo para sua grande surpresa e espanto traços de preconceito em sua própria namorada, uma mulher com o qual tem planos de se casar! Até dentro da própria revista onde trabalha descobre que há uma política de não empregar candidatos em busca de trabalho que fossem judeus. Um quadro alarmante que o deixa completamente perplexo!

Esse filme "A Luz é Para Todos" é na verdade um manifesto escrito de próprio punho pelo diretor Elia Kazan (que não foi creditado como roteirista)  sobre o preconceito contra judeus dentro dos Estados Unidos. Como ele próprio era judeu transpôs para as telas muitas das situações que vivenciou em seu dia a dia, tudo mesclado ao material original escrito por Laura Z. Hobson. O produtor do filme, Darryl F. Zanuck, o chefão da Fox na época, também era judeu o que ajudou ainda mais na divulgação da mensagem que o filme tenta passar. Uma das melhores cenas do filme acontece justamente quando o personagem de Peck tenta explicar ao seu jovem filho o que é conceitualmente um judeu!

A inocência do garoto em suas perguntas acaba expondo de certa forma até mesmo a complicada definição do que seria realmente um judeu em vista da sociedade humana. Uma religião? Uma raça? Kazan, de forma inteligente deixa tudo no ar. Em outro momento interessante do filme trava-se um diálogo muito espirituoso entre um cientista judeu (obviamente inspirado na figura de Einstein) e o jornalista interpretado por Gregory Peck. Em determinado momento o sábio e espirituoso físico explica a Peck que se ser judeu for uma questão de mera religião então ele próprio não seria mais judeu, uma vez que em suas convicções pessoais, como brilhante cientista, desconfiava até mesmo da existência de um Deus, seja ele judeu ou cristão. Em conclusão podemos dizer que "A Luz é Para Todos" é um belo filme da carreira de Elia Kazan. Um pouco panfletário, é verdade, mas mesmo assim uma obra que levanta muitos questionamentos e perguntas relevantes.  

A Luz é Para Todos (Gentleman's Agreement, EUA, 1947) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Moss Hart, Elia Kazan (não creditado), baseados na obra escrita por Laura Z. Hobson / Elenco: Gregory Peck, Dorothy McGuire, John Garfieldm, Celeste Holm / Sinopse: Jornalista (Peck) se faz passar por judeu para sentir na pele os preconceitos e desafios que os judeus sentem no dia a dia dentro da sociedade americana. Vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme (Darryl F. Zanuck), melhor diretor (Elia Kazan) e melhor atriz coadjuvante (Celeste Holm). Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de melhor filme - drama, melhor diretor e melhor atriz coadjuvante (Celeste Holm).

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de março de 2019

Mergulho no Inferno

Em plena Segunda Guerra Mundial o Tenente Ward Stewart (Tyrone Power) se sente muito satisfeito fazendo parte de uma esquadra de navios de guerra de longo alcance mas é transferido para um submarino americano chamado USS Corsair. Ao mesmo tempo em que vê mudanças em sua vida profissional começa a se apaixonar pela bela professora Jean Hewlett (Anne Baxter), mal sabendo que ela é, na verdade, comprometida justamente com o capitão do submarino para onde ele foi designado. As coisas pioram quando tudo é revelado! Antes porém de resolverem esse problema amoroso os marinheiros precisarão sair vivos de uma arriscada missão de ataque a uma base naval alemã perto da costa norte-americana.

Filme de guerra que mescla com doses certas um pouco de ação, romance e aventura. Tyrone Power, um dos maiores galãs da época, empresta todo seu carisma para seu personagem, um jovem tenente que tenta a todo custo conquistar uma bonita professorinha de uma escola só para moças. Há boas cenas dele tentando conquistar a garota, tudo claro dentro dos rígidos padrões morais daqueles anos. A produção é claramente financiada e ajudada pelas forças armadas americanas, especialmente a Marinha americana que cedeu sua base naval em New London, Connecticut, para as filmagens. Assim tudo o que vemos fazia realmente parte da esquadra, até mesmo os figurantes.

Por ser um filme claramente realizado para ajudar no esforço de guerra o espectador deve relevar um certo tom ufanista que o roteiro nem tenta esconder. Nos letreiros finais, por exemplo, temos até mesmo um apelo em forma de propaganda para que os espectadores comprassem no próprio cinema os chamados bônus de guerra! De qualquer maneira, a despeito disso, não há como negar o bom resultado final desse filme. Tecnicamente gostei muito também, as cenas submarinas são convincentes e o ataque final a uma base alemã na costa dos Estados Unidos é bem realizada e cheia de boas ideias, como a do bravo comandante dando instruções para sua tripulação na torre do submarino parcialmente submerso. No fim o que temos mesmo é uma obra cinematográfica que vai satisfazer todos os seus desejos de assistir a um bom filme de guerra clássico.

Mergulho no Inferno (Crash Dive, Estados Unidos, 1943) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Archie Mayo / Roteiro: Jo Swerling, W.R. Burnett / Elenco: Tyrone Power, Anne Baxter, Dana Andrews / Sinopse: O filme conta a história de um militar da marinha americana durante a segunda grande guerra mundial, seus problemas pessoais e os desafios de sua profissão no mar.

Pablo Aluísio.

Ratos do Deserto

Norte da África. Segunda Guerra Mundial. As tropas do eixo comandadas pelo brilhante general Erwin von Rommel (James Mason) tentam destruir os últimos batalhões de resistência aliada entrincheirados em Tobruk. O capitão inglês 'Tammy' MacRoberts (Richard Burton) é enviado para o campo de batalha para liderar um regimento australiano que tem como missão deter o avanço dos tanques do Afrika Korps alemão. Disciplinador e austero com seus comandados, ele logo se torna uma figura de destaque no meio do histórico conflito. Conseguirá ser bem sucedido em seu plano de defesa? Para quem gosta de filmes sobre a II Guerra Mundial esse "Ratos do Deserto" é um prato cheio. O roteiro explora uma das mais famosas e sangrentas batalhas de toda a guerra, a luta pelo controle do norte da África, uma região hostil, complicada, onde uma luta feroz entre alemães e ingleses se desenvolve. Eles travam uma queda de braço que entrou para a história. O capítulo de enfrentamento entre alemães e ingleses nas areias do deserto no norte da África certamente é um dos momentos mais estudados e lembrados de toda a guerra. Choque de titãs!

O elenco conta com dois grandes atores. James Mason está excelente como Rommel. Sua atuação não é apenas grandiosa no que diz respeito ao estilo do general mas também fisicamente, pois ele está muito parecido com o militar alemão. Richard Burton também se destaca em seu papel. Seu personagem encontra um dilema pessoal quando encontra um velho professor de sua adolescência lutando como um mero soldado raso em seu pelotão. Os diálogos que travam mostram bem como o roteiro é bem escrito, caprichado mesmo. Outro destaque é o talento demonstrado por Robert Wise, um grande cineasta. Ele procura ser realista mas também abre espaço para cenas que são visualmente impressionantes como a dos soldados caminhando em direção ao horizonte, enquanto olham para as explosões que os esperam, se refletindo nas nuvens do céu. Esse momento tem um grande impacto para o espectador pois vemos a fragilidade daqueles homens em frente a um conflito de dimensões épicas. Outra cena tecnicamente perfeita acontece quando Rommel ordena um ataque bem no meio de uma tempestade no deserto. Ele pretende literalmente camuflar seus tanques no meio do caos causado pela areia. Em conclusão podemos dizer que "Ratos do Deserto" merece o status de ser considerado um dos melhores filmes de guerra já feitos pelo cinema americano. É um filme realmente excepcional em todos os aspectos.

Ratos do Deserto (The Desert Rats, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Robert Wise / Roteiro: Richard Murphy / Elenco: Richard Burton, James Mason, Robert Newton / Sinopse: O filme resgata a acirrada batalha travada entre ingleses e alemães no norte da África durante a segunda guerra mundial.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de março de 2019

A Espada de Damasco

Aventura das mil e uma noites produzida pelos estúdios Universal. Aqui não há grande segredo. A Universal realizava esse tipo de filme para as matinês, para um público jovem que frequentava o cinema no período matutino. Os filmes eram produções B, de baixo orçamento, com excesso de princesas, lutas de capa e espada e muita fantasia. Tudo isso se pode encontrar em "A Espada de Damasco". Na história Rock Hudson interpreta um jovem do deserto que vê seu pai ser assassinado por guardas do Califa de Bagdá. Jurando vingança vai até a cidade e lá conhece um comerciante que acaba lhe vendendo uma antiguidade, uma espada milenar que tem poderes mágicos, tornando aquele que a possuir literalmente invencível.

Não há como negar que esse tipo de produção soa totalmente datada nos dias de hoje. Nada é muito bem cuidado em termos de cenário, figurino, roteiro e diálogos. Tudo aparenta ser bem falso, filmado com pouco dinheiro no quintal dos estúdios Universal. É um tipo de aventura ligeira que hoje em dia aparente ser por demais inocente e até sem muito nexo. Em um produção infanto juvenil como essa "A Espada de Damasco" pouco coisa é ainda relevante nos dias de hoje mas gostaria de destacar o trabalho da simpática atriz Piper Laurie que empresta muito carisma ao resultado final. Fazendo uma princesa pouco convencional ela mantém o mínimo interesse em um argumento de teatro infantil. Em suma "A Espada de Damasco" não se sustenta nos dias de hoje, envelheceu e se tornou obsoleto. Só vale mesmo pela curiosidade de conhecer como eram os filmes das "Mil e Uma Noites" da Universal na década de 1950. Aqui realmente apenas a nostalgia e o saudosismo salvam o filme em uma revisão atual. O resto está ultrapassado pelo tempo.

A Espada de Damasco (The Golden Blade, EUA, 1953) Direção: Nathan Juran / Roteiro: John Rich / Elenco: Rock Hudson, Piper Laurie, Gene Evans / Sinopse: Na história Harun (Rock Hudson) é um jovem do deserto que vê seu pai ser assassinado por guardas do Califa de Bagdá. Jurando vingança vai até a cidade e lá conhece um comerciante que acaba lhe vendendo uma antiguidade, uma espada milenar que tem poderes mágicos, tornando aquele que a possuir literalmente invencível.

Pablo Aluísio.

Oh, Marieta!

A atriz Jeanette MacDonald tinha formação de cantora lírica e em determinado momento de sua carreira viu os estúdios se interessarem em produzir filmes musicais com ela, onde poderia soltar sua voz bem no estilo da ópera clássica, mas com uma verniz mais popular, para consumo das massas. Esse "Oh, Marieta!" foi um de seus sucessos de bilheteria. A historia começa na França de Luís XV. Jeanette MacDonald interpreta uma moça da nobreza que é destinada a se casar com um nobre bem mais velho do que ela. Obviamente a mocinha não quer de jeito nenhum se envolver nesse tipo de casamento arranjado. Só que naqueles tempos os casamentos eram determinados pelo rei e quando ele era desobedecido a pessoa tinha que fugir para não ser presa.

Assim a jovem nobre se disfarça de Marieta, uma identidade falsa. Se fazendo passar por uma mulher que é enviada para a colônia francesa da Louisiana ela finalmente consegue escapar de um destino infeliz, de um casamento forjado, sem amor. Só que a vida na América não será nada fácil, uma vez que seu navio é atacado por piratas durante a travessia, jogando Marieta numa série de eventos inesperados. Bom, o filme é um musical muito antigo, com aquela ingenuidade bem típica dos anos 30. É uma fita leve, que procura ser divertida a todo custo. Jeanette MacDonald tinha carisma suficiente para levar o filme em frente. Pena que ela teve vida breve, morrendo ainda muito jovem, de um ataque cardíaco. Provavelmente se tivesse vivido mais, tendo feito mais filmes, seria mais lembrada nos dias de hoje.

Oh, Marieta! (Naughty Marietta, Estados Unidos, 1935) Direção: Robert Z. Leonard, W.S. Van Dyke / Roteiro: Rida Johnson Young, John Lee Mahin / Elenco: Jeanette MacDonald, Nelson Eddy, Frank Morgan / Sinopse: Durante o reinado de Luís XV, jovem da nobreza francesa decide fugir, por causa de um casamento arranjado para ela. Assim ela embarca para o novo mundo, para a América, em busca de seus sonhos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de março de 2019

E o Sangue Semeou a Terra

Argumento e Roteiro: O filme mostra as lutas de um grupo de pioneiros que adentram o Oeste americano em busca de terras para lá se estabelecerem. No caminho encontram tribos de índios selvagens e comerciantes de provisões desonestos. O roteiro se foca bastante na briga entre o líder da caravana, Glyn McLyntock (James Stewart), e um comerciante desonesto que recebe por um carregamento de alimentos mas não o entrega no acampamento dos pioneiros na montanha conforme havia sido contratado. Para evitar que seu grupo morra de fome Glyn resolve pegar suas provisões à força, o que gera uma série de conflitos na região. A estória e o roteiro em si são simples e o filme curto, mas tudo muito bem realizado.

Elenco: O destaque fica obviamente com James Stewart em mais um de seus personagens íntegros e honestos. Curiosamente seu Glyn McLyntock também tem um passado nebuloso quando era um assaltante das fronteiras distantes. A caravana de carroças com os pioneiros se torna assim sua redenção pessoal rumo a uma nova vida. Outro ator que chama atenção no elenco é Rock Hudson. Em começo de carreira, ele aqui interpreta um jogador e aventureiro, Trey Wilson. Seu figurino é exótico, com roupas e chapéu em cores incomuns, como lilás. Tudo bem diferente do que estamos acostumados a ver em personagens de filmes de western. Como era muito jovem ainda, sua atuação se mostra muito fraca e vacilante. Rock está sempre com um sorriso no rosto, não importando a situação. Realmente o ator era ainda muito inexperiente e deixa transparecer isso em suas cenas.

Produção: Um dos pontos altos do filme. Apesar de ter cenas feitas em estúdio “E o Sangue Semeou a Terra” foi praticamente quase todo rodado em locações distantes. O Estado americano escolhido para as filmagens foi o bonito Oregon, com muitas montanhas nevadas e rios exuberantes, entre eles o Rio Columbia onde as cenas com o barco “The Queen River” foram realizadas. Já a montanha Hood se destaca por sua beleza natural, sempre ao fundo das cenas. Tudo muito bonito para o espectador se deliciar com as lindas paisagens naturais.

Direção: “E o Sangue Semeou a Terra” foi mais uma bem sucedida parceria entre James Stewart e o diretor Anthony Mann. Aqui eles repetem de certa forma a fórmula que havia dado tão certo em “Winchester 73”, um dos maiores sucessos de bilheteria da dupla. O curioso é que apesar de ambos terem trabalhado em muitos filmes, eles geralmente brigavam bastante durante as filmagens. Não que se odiassem ou algo assim, mas o fato é que criaram uma relação tão próxima de amizade que geralmente diziam o que pensavam um ao outro, sem rodeios. Isso inevitavelmente criavam atritos entre eles. Aqui em “O Sangue Semeou a Terra” o diretor surge acima de tudo econômico e eficiente. Conta sua estória da melhor forma possível mas sem exageros ou afetações. O resultado se mostra muito bom no final das contas.

E o Sangue Semeou a Terra (Bend of the River, EUA, 1952) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Borden Chase, baseado no livro de William Gulick / Elenco: James Stewart, Rock Hudson, Arthur Kennedy, Jay C. Flippen, Julie Adams / Sinopse: O filme narra as lutas de um grupo de pioneiros que vão para o Oeste selvagem em uma caravana de carroças com a intenção de começar uma nova vida em terras distantes. Para vencer em sua jornada, eles terão que lutar contra tribos indígenas hostis e comerciantes de provisões desonestos.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 20 de março de 2019

Caravana do Ouro

Título no Brasil: Caravana do Ouro
Título Original: Virginia City
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Michael Curtiz
Roteiro: Robert Buckner
Elenco: Errol Flynn, Randolph Scott, Humphrey Bogart, Miriam Hopkins

Sinopse:
Na fase final da Guerra Civil Americana, os confederados sofrem pela falta de recursos, dinheiro e equipamentos. A única solução é encontrar de forma urgente uma nova fonte de ouro. Ela existe em Virginia City, Nevada, porém a região está dominada pelas tropas da União. O alto comando do exército sulista decide então enviar o Capitão Vance Irby (Randolph Scott) para liderar uma caravana que traga o ouro até Richmond. A União por sua vez envia o Major Kerry Bradford (Errol Flynn) para deter os planos dos rebeldes. Começa a partir daí um jogo de traições, falsas pistas e acobertamentos envolvendo o valioso carregamento.

Comentários:
"Virginia City" é uma obra pouco lembrada do mestre Michael Curtiz. Com roteiro mais bem elaborado do que o habitual, envolvendo uma curiosa trama de espionagem protagonizada por dois militares se fazendo passar por espiões e agentes infiltrados, o filme acabou sendo considerado complexo demais para o público ao qual se destinava. Hoje em dia ganha muito em novas revisões, justamente por causa da bem arquitetada estória. Outro ponto que chama logo a atenção é o elenco, com três grandes mitos da história de Hollywood. O primeiro é Errol Flynn, eterna estrela das produções dirigidas por Michael Curtiz na Warner. Seu personagem tem ares de Robin Hood, a perícia de um Capitão Blood e a valentia do General Custer. De maneira em geral apesar de ser o protagonista do enredo é o personagem menos interessantes do filme, apenas uma mistura pouco criativa de vários outros papéis desempenhados por Flynn ao longo de sua carreira. 

Já o Capitão confederado Vance Irby, interpretado por Randolph Scott, é muito mais bem desenvolvido. Comandante de uma prisão militar no começo do filme, ele é enviado pessoalmente pelo presidente Jeff Davis para trazer o ouro para os cofres sulistas numa última e desesperada tentativa de vencer uma guerra que naquela altura já parecia estar perdida, pois como bem explica um dos generais rebeldes: "Guerras são vencidas com dinheiro e não apenas com bravura e honra". Randolph Scott está completamente à vontade, até porque o western sempre foi o seu gênero preferido no cinema. Humphrey Bogart surge em cena como John Murrell, líder de um grupo de bandoleiros que está de olho no ouro. É muito divertido assistir Bogart nesse papel porque ele é muito sui generis em sua carreira. Com um bigodinho bem estranho, ele mal pôde ser reconhecido por causa de sua caracterização. Além disso é um personagem bem coadjuvante, o único vilão verdadeiro da trama, que só foi aceito pelo ator por causa de sua amizade e gratidão para com Curtiz, cineasta a quem tinha enorme respeito. Então é isso, "Caravana do Ouro" é de fato um ótimo faroeste que merece ser desempoeirado após ficar tantos anos esquecido embaixo das areias do tempo.

Pablo Aluísio.

Arizona Violenta

Mais uma das produções de western de Randolph Scott da década de 1950: "Arizona Violenta". O filme é curioso por alguns motivos interessantes. O primeiro é que ele foi rodado nas mesmas locações em que "Sete Homens e um Destino" seria feito anos depois. Aquela mesma vilazinha ao pé da montanha. Produzido pelo próprio Randolph Scott que inclusive escolheu o local que depois ficaria famoso pelos fãs do gênero. Atuando ao seu lado no filme temos a atriz Jocelyn Brando, irmã de Marlon Brando. Para quem não sabe foi por causa da irmã Jocelyn que Brando resolveu ser ator ao se mudar para Nova Iorque após ser expulso da Academia Militar onde estudava. Jocelyn Brando porém nunca chegou a se tornar uma estrela. Era um atriz mediana, esforçada mas não muito brilhante. Aqui sua atuação soa exagerada, o que contrasta com a tranquilidade e a austeridade de Scott, sempre com boa presença de cena (embora ele modestamente não se considerasse um grande ator).

No filme Randolph Scott interpreta John Stewart, um rancheiro que tem problemas com um proprietário de terras (Richard Boone) que quer a todo custo dominar a região. O roteiro, muito eficiente por sinal, foi escrito por Irving Ravetch, um talentoso escritor que fez roteiros para grandes filmes como "O Mercador de Almas", "O Indomado" e um dos mais curiosos filmes da carreira de John Wayne, "Os Cowboys" onde ele virava um tipo de mestre para vários pupilos, garotos que queriam se tornar cowboys como ele. O diretor H. Bruce Humberstone (1901–1984) era um veterano que conseguiu imprimir ao filme uma excelente dose de aventura e ação. Não é para menos, ele era muito competente nesse aspecto, tanto que depois seria escalado para fazer filmes de Tarzan. A parceria com Scott daria mais frutos e ele voltaria a dirigir o ator no também eficiente faroeste "Colt 45". Enfim, "Arizona Violenta" é um western com cara de matinê - curtinho, divertido e eficiente. Vale a pena assistir.

Arizona Violenta (Ten Wanted Men, EUA, 1955) Direção: H. Bruce Humberstone / Roteiro: Kenneth Gamet, Irving Ravetch / Elenco: Randolph Scott, Jocelyn Brando, Richard Boone / Sinopse: Sinopse: John Stewart (Randolph Scott) é um bem sucedido rancheiro e criador de gado que procura tocar seu negócio com honestidade e honra. Seus problemas começam quando um rancheiro rival começa a criar atritos com ele, o que causará uma séria desavença entre ambos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de março de 2019

Fronteiras da Crueldade

Título no Brasil: Fronteiras da Crueldade
Título Original: Slaughter Trail
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Irving Allen
Roteiro: Sid Kuller
Elenco: Brian Donlevy, Gig Young, Virginia Grey

Sinopse:
Três assaltantes de bancos conseguem realizar um roubo bem sucedido numa pequenina cidadezinha do velho oeste. Na fuga percorrem centenas de milhas de distância, o que acaba levando seus cavalos à morte por exaustão. Precisando de novas montarias eles então roubam animais de uma tribo nas montanhas, o que desperta a fúria dos nativos. Novamente em fuga, os bandoleiros acabam buscando refúgio em um forte avançado da cavalaria americana, o que dá início a uma nervosa guerra psicológica entre as tropas federais e os índios da região!

Comentários:
Achei o roteiro desse faroeste muito perspicaz e bem escrito pois explora o choque cultural e jurídico existente entre a civilização do homem branco e os nativos americanos. Em determinado momento do filme três assaltantes se refugiam em um acampamento militar do exército dos Estados Unidos. O problema é que eles também roubaram cavalos dos índios, um crime muito sério em sua cultura ancestral, punível com a morte. É justamente isso que os Siouxs querem, que os soldados americanos entreguem os bandoleiros para que sejam enforcados na árvore mais próxima. O capitão Dempster (Brian Donlevy) porém pensa diferente. Para ele todo cidadão americano merece ter um julgamento justo, com o exercício do pleno direito de defesa, o que é completamente Incompatível com a tradição e forma de agir dos índios que o querem morto a qualquer custo! Isso acaba criando uma tensão incrível entre o forte americano e a tribo Sioux da região. É baseado justamente nessa premissa que o filme se desenvolve. Para estudantes de direito em geral a produção se tornar uma ótima pedida por mostrar em plena prática o princípio do contraditório e da ampla defesa. Western "jurídico" que surpreende pelas boas ideias e pelo final mais do que bem pensado.

Pablo Aluísio.

O Rio dos Homens Maus

Título no Brasil: O Rio dos Homens Maus
Título Original: Canyon River
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: Allied Artists Pictures
Direção: Harmon Jones
Roteiro: Daniel B. Ullman
Elenco: George Montgomery, Marcia Henderson, Peter Graves

Sinopse:
Steve Patrick (George Montgomery) é um rancheiro honesto e trabalhador do Wyoming que decide ir até o estado vizinho do Oregon para comprar bons reprodutores para seu rebanho. Os invernos severos de Wyoming exigem um gado muito resistente e ele pretende melhorar o nível de seu plantel. O que ele não sabe é que na viagem enfrentará muitos desafios, inclusive um complô de ladrões de gado que querem lhe assassinar para roubar todas as cabeças bovinas de sua propriedade.

Comentários:
Depois de assistir a centenas de filmes de faroeste dos anos 1950 me sinto seguro em dizer que você nunca vai se arrepender de assistir um western americano dessa época. O padrão de qualidade era realmente algo impressionante. E isso vale não apenas para grandes produções dos mais ricos estúdios de Hollywood como Universal, Warner ou MGM; vale também para as pequeninas companhias que se aventuravam em também produzir filmes de bangue-bangue. Esse "Canyon River" é um caso desses. O filme foi produzido pela pequena Allied Artists para ser exibido em cinemas interioranos dos Estados Unidos. Obviamente que o roteiro tem muito clichês, mas isso acaba fazendo parte de seu charme nostálgico. Estrelado pelo ator George Montgomery, esse western tem ótimas sequências de tiroteios, o que certamente vai deixar o fã de faroeste muito satisfeito. Não é nenhuma obra prima, mas apenas uma pequena fita B que fez a alegria de muitos garotos nos anos 50. Recentemente a Warner, que comprou os direitos de todos os filmes da Allied Artists quando ela faliu, tem relançado em pacotes produções como essa. Não é de se admirar que os fãs de faroestes americanos estejam tão contentes ultimamente, pois lá nos Estados Unidos a oferta de filmes raros e bons anda grande, bem ao contrário do Brasil, onde praticamente nada de novo surge no mercado. Uma pena!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de março de 2019

Chicago PD - Terceira Temporada

Aqui está uma pequena compilação de episódios que comentei da terceira temporada da série policial Chicago PD. Segue sendo ainda uma das séries que mais gosto no momento. Claro, tenho que admitir, que o formato é bem de acordo com o meio televisivo mainstream dos Estados Unidos, mas nem isso, essa convencionalismo, tira os méritos do programa. Por isso sigo assistindo ainda nos dias de hoje. Pretendo mais à frente publicar novas postagens sobre as temporadas que virão. Enquanto isso fiquem com essa coletânea de textos de Chicago PD.

Chicago PD 3.05 - Climbing Into Bed
Nos Estados Unidos esse episódio acabou sendo exibido em conjunto com o seguinte, intitulado "You Never Know Who's Who", em uma noite especial do canal para a série "Chicago PD". É a tal coisa, a série policial estrelada pelo sargento Hank Voight foi crescendo cada vez mais de audiência e agora é um sucesso (já está na quarta temporada em exibição). Nesse episódio aqui o detetive Adam Ruzek (Patrick John Flueger) resolve seguir uma quadrilha de assaltantes sem conhecimento do departamento, tudo de forma não oficial. Não precisa ser gênio para entender que tudo acaba saindo errado. Ao lado de um dos criminosos, ele acaba invadindo um pequeno restaurante, vizinho a uma joalheria. Um roubo de milhões é feito, pessoas são mortas e a corregedoria cai no seu encalço. Enquanto Voight e os demais homens de sua unidade tentam descobrir a verdadeira identidade dos criminosos e os autores intelectuais do roubo, Ruzek acaba na geladeira, sem distintivo e sem direito de executar com armas trabalho nas ruas. Voight que já tem problemas demais com a corregedoria certamente não vê com bons olhos tudo o que está acontecendo. Na cena final o jovem policial lhe pergunta se ele está na pior com tudo o que aconteceu. Seria expulso do departamento? "Não sei" - acaba sendo a resposta curta e grossa de Voight ao fechar a porta atrás de si. Pois é, fugir do protocolo pode ser uma grande dor de cabeça. Ande sempre na linha! / Chicago PD 3.05 - Climbing Into Bed (Estados Unidos, 2015) Direção: Lin Oeding, Mark Tinker / Roteiro: Michael Brandt, Derek Haas / Elenco: Jason Beghe, Jon Seda, Sophia Bush.

Chicago PD 3.06 - You Never Know Who's Who
Esse episódio é extremamente curioso. imaginem um sujeito, completamente maluco, que consegue convencer outras pessoas que trabalha para a CIA e que na verdade as estariam recrutando para missões especiais, ultra secretas, da agência de inteligência do governo americano! Pois é justamente o que acontece aqui. Um corpo é encontrado dentro de um carro. As investigações demonstram que ao redor do homem que foi encontrado morto gira uma série de sujeitos que acreditam estar trabalhando para a CIA. Agora caberá ao sargento Hank Voight (Jason Beghe) e sua equipe localizar esses "agentes" para que eles parem com a fantasia e que também parem de cometer crimes - sim, muitos deles cometeram inclusive assassinatos, convencidos que estariam trabalhando para o governo! Uma coisa, literalmente, de louco! Nesse episódio também temos o lado mais sentimental, com um garotinho com câncer que sempre sonhou ser um policial. Os tiras de Chicago fazem uma bela homenagem a ele. Por fim a sargentona Trudy Platt (Amy Morton) consegue livrar a barra de um dos homens de Voight cobrando para isso certos "favorzinhos" que fez aos seus superiores no passado. Bom episódio, que foi exibido nos Estados Unidos na mesma noite, em sequência ao anterior. / Chicago PD 3.06 - You Never Know Who's Who (Estados Unidos, 2014) Direção: Mark Tinker / Roteiro: Michael Brandt, Derek Haas / Elenco: Jason Beghe, Jon Seda, Sophia Bush, Amy Morton.

Chicago PD 3.07 - A Dead Kid, a Notebook, and a Lot of Maybes
Aos poucos estou retomando minha rotina de assistir séries. Aqui vão alguns episódios que assisti recentemente. Uma das minhas séries policiais americanas enlatadas preferidas é Chicago PD. Nessa semana assisti ao sétimo episódio da terceira temporada intitulado "A Dead Kid, a Notebook, and a Lot of Maybes". O enredo foi bem interessante. Tudo começa quando um garoto se mata perto de sua escola. Inicialmente as investigações mostram que ele poderia fazer parte de algum plano para assassinar outros estudantes, ao estilo do massacre de Columbine, só que depois Voight e seu grupo descobrem que as coisas são bem diferentes, envolvendo até mesmo um professor de natação pedófilo. Algo bem mais barra pesada do que eles inicialmente pensavam. O roteiro explora bem o ambiente, muitas vezes doentio, que impera dentro de algumas instituições de ensino nos Estados Unidos. Coisa de louco, literalmente. / Chicago PD 3.07 - A Dead Kid, a Notebook, and a Lot of Maybes (Estados Unidos, 2015) Direção:  Charlotte Brändström / Roteiro: Michael Brandt / Elenco: Jason Beghe, Jon Seda, Sophia Bush.

Chicago PD 3.08 -Forget My Name 
Traduzindo o título original desse episódio para o nome idioma teremos "Esqueça o Meu Nome!". É bem isso. O episódio começa quando vários homens são encontrados mortos em uma caçamba de camionete. Quem são, quem teria os matado, o que aquele crime significa? Bom, essas perguntas terão que ser respondidas por Hank Voight (Jason Beghe) e sua equipe de policiais. O curioso é que tudo havia sido descoberto através da dica de um informante, que depois descobre-se trabalha para a agência de segurança nacional! Isso por si só já seria bem estranho, mas as coisas ficam ainda mais nebulosas quando Voight e seus tiras descobrem que o caso envolve o roubo de informações do serviço de inteligência do governo. Coisa de peixe grande! Pois é, esse episódio é muito bom, "Forget My Name" mistura elementos de filmes policiais com espionagem. Para quem é fã da série é uma ótima pedida! / Chicago PD 3.08 -Forget My Name (Estados Unidos, 2015) Direção: Nick Gomez / Roteiro: Michael Brandt, Derek Haas/ Elenco:Jason Beghe, Jon Seda, Sophia Bush.

Chicago PD 3.10 - Now I'm God
"Agora, eu sou Deus" diz o título original desse episódio. É de fato é o que temos aqui. O vilão é um médico, um especialista em pacientes de câncer. No passado ele tratou da esposa de Hank Voight (Jason Beghe). Agora descobre-se que ele receitava tratamentos de quimioterapia para pacientes que não precisavam dele. Tudo por questão de dinheiro e orgulho pessoal. Para outro médico o tal doutor não passaria de um perigoso psicopata! Quando Voight descobre sobre isso ele fica furioso. Em um primeiro momento, diante das dificuldades de se conseguir provas concretas, ele pensa em fazer justiça com as próprias mãos, porém depois, de forma mais sensata, resolve confiar na justiça, chegando até mesmo a testemunhar perante o tribunal. O enredo desse episódio me lembrou de um caso parecido acontecido no Brasil quando uma máfia de próteses amputava pessoas sem necessidade apenas pela razão de ganhar dinheiro com os equipamentos vendidos! Uma coisa atroz! / Chicago PD 3.10 - Now I'm God (Estados Unidos, 2015) Direção: Holly Dale / Roteiro: Michael Brandt, Derek Haas / Elenco: Jason Beghe, Jon Seda, Sophia Bush.

Chicago PD 3.11 - Knocked the Family Right Out 
Os bandidos desse episódio formam uma quadrilha que usa gás para adormecer suas vítimas. Então eles entram e roubam tudo da casa dessas pessoas. Pior do que isso, enquanto todos os moradores perdem a consciência eles estupram as mulheres. A gota d´água acontece quando uma adolescente de apenas 14 anos de idade é violentada por um desses animais. A quadrilha é formada por jovens, psicopatas que vivem de roubos e festas rave, onde rolam muita droga e perversão. O tipo de vagabundo ideal para o sargento Hank Voight (Jason Beghe) colocar as mãos. No começo as investigações emperram, pois os marginais usam máscaras e luvas, o que dificulta a descoberta de suas identidades, porém aos poucos as pistas vão levando os policiais aos verdadeiros criminosos. Nesse episódio também vemos a saída de um velho conhecido de Voight. Um presidiàrio que ele conheceu quando estava atrás das grades. A parceria pelo visto vai continuar do lado de fora da prisão. / Chicago PD 3.11 - Knocked the Family Right Out (Estados Unidos, 2016) Direção: Mark Tinker / Roteiro: Michael Brandt, Derek Haas/ Elenco:  Jason Beghe, Jon Seda, Sophia Bush.

Chicago PD 3.21 - Justice
Imagine atirar em um jovem negro sem ter a certeza de que ele seria o verdadeiro autor de um crime. É o que acontece nesse episódio. Durante uma patrulha a policial Kim Burgess (Marina Squerciati) atira em um suspeito. Ele supostamente havia atirado contra a viatura enquanto essa estava parada, em uma rua deserta. O sujeito veio por trás, na escuridão, e atirou no parceiro de Kim, praticamente à queima roupa. Depois desse incidente veio o que era o de se esperar. Muitos protestos por toda a cidade, principalmente porque o jovem alvejado seria um rapaz negro, sem antecedentes criminais, visto como um bom rapaz pela sua comunidade. Teria sido ele o verdadeiro autor dos disparos ou tudo não passaria de um engano - mais um - de um policial em serviço, que a despeito de tudo nem pensou duas vezes em atirar contra um negro? Bom episódio, inclusive com um bom desenvolvimento do caso no tribunal. / Chicago PD 3.21 - Justice (EUA, 2016) Estúdio: Universal Television / Direção: Jean de Segonzac / Roteiro: Michael Brandt, Derek Haas / Elenco: Jason Beghe, Jon Seda, Sophia Bush, Jesse Lee Soffer, Marina Squerciati, LaRoyce Hawkins.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de março de 2019

Hannibal

Essa série é na verdade uma adaptação para a TV do famoso personagem Hannibal Lecter de "O Silêncio dos Inocentes". No cinema o famoso psicopata canibal foi interpretado por Anthony Hopkins. Por isso havia o receio da série afundar rapidamente. Afinal quem poderia substituir Hopkins? O incrível de tudo é que o ator Mads Mikkelsen conseguiu não apenas substituir o grande ator, como em certos aspectos superá-lo. Em uma série há maior tempo para desenvolver melhor cada personagem. No cinema há apenas um filme para isso. Com isso Mads acabou criando nuances bem mais elaboradas. O seu Hannibal não fica a dever em nada ao do cinema.

Essa série foi exibida entre os anos de 2013 a 2015, totalizando três temporadas. Não tive a oportunidade de assistir todas, ficando restrito mesmo à primeira, por isso não vou opinar sobre as demais. Do que assisti posso dizer que não há o reclamar. Bons roteiros, boa produção e como já deixei claro, uma excelente interpretação do ator Mads Mikkelsen. Aqui nessa postagem consegui reunir as resenhas que escrevi de alguns episódios que assisti. É o tipo de série obrigatória caso você seja um fã de um dos criminosos seriais mais famosos do cinema. Por isso não deixe passar em branco. Segue abaixo os textos compilados.

Hannibal 1.07 - Sorbet
Jantar de alto nível é isso aí. Belas iguarias servidas à mesa pelo sofisticado e elegante Dr. Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen). Com uma lista classe A de convidados ele capricha bem no menu. Receitas da mais fina cozinha gourmet. O que todos ignoram é que a carne servida é de... órgãos de seres humanos! Pois é, segue a série de um dos psicopatas mais famosos do cinema na TV. Devo confessar que comecei a acompanhar "Hannibal" com uma certa resistência, afinal o personagem já havia sido imortalizado em uma franquia de filmes realmente maravilhosos no cinema. Haveria espaço para ele no mundo das séries? O fato porém é que essa série televisiva conseguiu criar identidade própria e a cada novo episódio surpreende cada vez mais. Nesse em particular o inspetor Jack Crawford (Laurence Fishburne) quebra a cabeça para colocar as mãos no estripador que anda aterrorizando sua cidade. Quando um jovem é encontrado em uma banheira cheia de sangue, com ferimentos profundos e sinais de brutalização em seu corpo, ele logo associa aos crimes cometidos pelo psicopata que anda perseguindo (que a imprensa batizou de "Estripador de Chesapeake"). Essa porém não é a opinião de Will Graham (Hugh Dancy), pois em sua visão se trata de outro criminoso, com estilo diferenciado. Enquanto eles não chegam em uma conclusão o  Dr. Hannibal Lecter segue preparando seus pratos finos. Fígado cortado em fatias elegantes, baço no liquidificador e coração ao molho! Estão servidos? Ah, antes que me esqueça, nesse episódio temos a participação muito especial da atriz Gillian Anderson (de "Arquivo X"), interpretando a Dr. Bedelia Du Maurier, psiquiatra do próprio Hannibal! Quem diria... / Hannibal 1.07 - Sorbet (EUA, 2013) Direção: James Foley / Roteiro: Bryan Fuller, Thomas Harris  / Elenco: Hugh Dancy, Mads Mikkelsen, Laurence Fishburne, Gillian Anderson, Caroline Dhavernas.

Hannibal 1.08 - Fromage
Não é raro um tipo de psicopatia gerar algum tipo de interesse em outra. É basicamente isso que temos explorado nesse episódio da série "Hannibal". Perceba que o Dr. Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen) fica particularmente interessado nos métodos de Tobias Budge (Demore Barnes). E quem é ele? Um psicopata que usa as vísceras de suas vítimas para confeccionar delicadas cordas de instrumentos musicais clássicos como violoncelos e violinos. Tobias usa o intestino das pessoas que mata para criar finas e precisas cordas que acabam caindo no gosto dos mais exigentes músicos das principais filarmônicas dos Estados Unidos. O próprio Tobias é um sujeito refinado, extremamente culto e educado, que nas horas vagas se propõe a dar vazão a estranhas experiências, como por exemplo, tentar tocar in natura as cordas vocais de uma pessoa assassinada! Algo que logo chama a atenção de Hannibal que em determinado momento fica em dúvida se deve matar ele ou se tornar seu amigo, embora como saibamos é complicado para um psicopata ter amizade com quem quer que seja, já que a empatia não é algo presente na personalidade desses indivíduos. Outro fato curioso é que nesse episódio vemos que psicanálise demais também pode não fazer muito bem a uma pessoa! Acompanhe a razão: O assassino psicopata Tobias é paciente de um psiquiatra que por sua vez faz análise com Hannibal que por sua vez também é paciente da Dra Bedelia Du Maurier (Gillian Anderson, maravilhosamente fria no papel). E qual é o resultado desse ciclo nada evolutivo? Mais mortes e mortes em cada episódio para seu divertimento! / Hannibal 1.08 - Fromage (EUA, 2013) Direção: Tim Hunter / Roteiro:  Bryan Fuller, Thomas Harris / Elenco: Hugh Dancy, Mads Mikkelsen, Caroline Dhavernas.

Hannibal 1.09 - Trou Normand
Abigail Hobbs (Kacey Rohl) deixa mais ou menos claro para o Dr. Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen) que sabia do que acontecia ao seu redor, de todas as mortes e assassinatos das jovens e até mesmo ajudava nos crimes de forma indireta. Isso era algo que Hannibal já desconfiava por causa de sua experiência profissional com assassinos em série. Afinal de contas a insanidade completa também pode ser genética e a mente humana realmente guarda recintos completamente obscuros e sinistros. Enquanto isso Will Graham (Hugh Dancy) começa a perceber que ele próprio está perdendo sua sanidade, sofrendo lapsos mentais, surgindo em lugares sem nem saber como foi parar lá! Claro que ele nunca foi o que podemos chamar de um sujeito normal, mas agora os ataques parecem tomar um rumo totalmente diferente do passado! Para piorar ainda mais o que já anda bem ruim o assassino que ele persegue resolve fazer uma obra de "arte" surreal, uma espécie de totem composto de corpos humanos expostos em uma praia deserta, algo completamente bizarro e assustador. Pelo visto ele deseja não apenas ser descoberto como também reconhecido por seus inúmeros crimes, uma velha obsessão que persegue certos serial killers, sempre dispostos a ganhar alguns minutos de infâmia. O grande atrativo desse episódio em particular vem da presença do ótimo ator Lance Henriksen. Conhecido de tantos filmes e séries, ele aqui surge em um personagem completamente sombrio, um homem atormentado por seu passado. Sem freios morais e éticos, ele acaba cometendo um erro fatal ao eliminar uma pessoa sem saber que ele próprio tinha laços de sangue com ela. Nesse processo acaba descobrindo que sua próxima parada é realmente o inferno. / Hannibal 1.09 - Trou Normand (EUA, 2013) Direção: Guillermo Navarro / Roteiro: Bryan Fuller, Thomas Harris, baseados no livro "Red Dragon" / Elenco: Hugh Dancy, Mads Mikkelsen, Lance Henriksen, Caroline Dhavernas.

Hannibal 1.10 - Buffet Froid
Uma garota morando sozinha percebe, pouco antes de pegar no sono, estranhos sons vindos da casa. Para piorar pingos de água começam a cair vindos do sótão. Sem outra alternativa, ainda sonolenta, ela sobe as escadas para ver o que está acontecendo. Há um buraco no teto e ela nem desconfia que também há um invasor dentro de sua residência que entrou lá justamente por aquele buraco em seu telhado. Depois de tentar consertar, ela finalmente volta para seu quarto apenas para ser surpreendida pelo assassino que a espera na escuridão. A morte brutal da jovem se torna mais um caso para Will Graham (Hugh Dancy) sondar, com seus poderes sensitivos, o que teria de fato acontecido na cena do crime. Dessa vez porém ele nota algo estranho. Ele não apenas consegue ver o que aconteceu, como também sentir-se na pele do próprio assassino, algo que o assusta e o deixa desnorteado pois nunca havia acontecido antes. Para o Dr. Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen) tudo aquilo soa clinicamente muito interessante e ele resolve fazer novos exames em Will. Descobre-se, entre outras coisas, que Will sofre de encefalite, o que acabaria alterando sua percepção da realidade, justificando assim em parte suas estranhas visões. Hannibal porém decide preservar essa informação só para si, como algo valioso que poderá ser usado em um futuro próximo. Em relação às investigações, o modo em que a vítima é encontrada leva o Dr. Hannibal a levantar teses sobre a doença mental que estaria por trás das mortes. Pelo que deduz o assassino seria um portador de uma raro distúrbio mental chamado de Síndrome de Carton. Essa alteraria o modo de funcionamento do cérebro, fazendo com que o doente se convencesse de que na verdade já estaria morto! Além disso impediria ao paciente de reconhecer rostos humanos, o tornando violento e irracional. A brutalidade dos crimes seria assim apenas um efeito desse estado mental. Mais um bom episódio da série Hannibal, aqui valorizado por duas novidades: pela primeira vez o espectador verá Lecter brutalizando uma de suas vítimas e Will finalmente passa a ser encarado como um doente e não apenas como um "escolhido" com visões paranormais especiais. / Hannibal 1.10 - Buffet Froid (EUA, 2013) Direção: John Dahl / Roteiro: Bryan Fuller, Thomas Harris, baseados nos personagens criados no livro "Red Dragon" / Elenco: Mads Mikkelsen, Caroline Dhavernas, Hugh Dancy, Laurence Fishburne.

Hannibal 1.11 - Rôti 
O episódio começa quando o Dr. Abel Gideon, um assassino serial, é enviado para seu julgamento. Ele matou todas as pessoas de sua família. Em sua defesa ele alega que após passar por vários psiquiatras e psicoterapeutas acabou sendo induzido a acreditar que ele seria na verdade o próprio estripador de Chesapeake. Cirurgião respeitado, viu sua carreira e sua vida ruir após os crimes. Durante o transporte da cadeia para o tribunal ele consegue escapar. De volta às ruas começa uma insana jornada de vingança contra todos os psiquiatras que ele considera culpados por sua situação. Enquanto o matador psicopata sai cometendo seus assassinatos, Will Graham (Hugh Dancy) começa a perder o controle de suas visões, ficando aos poucos sem saber distinguir os delírios da realidade ao seu redor. Algo que intriga o Dr. Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen), Bom episódio de Hannibal. Esse roteiro explora um aspecto bem curioso, a do paciente que acaba ficando mais insano do que nunca após passar por terapias que deveriam lhe curar. A mente humana certamente pode ser um lugar bem misterioso. / Hannibal 1.11 - Rôti (EUA, 2013) Direção: Guillermo Navarro / Roteiro: Bryan Fuller, Thomas Harris / Elenco: Mads Mikkelsen, Hugh Dancy, Caroline Dhavernas.

Pablo Aluísio.

Stalker

"Stalker" (perseguidor) é um termo usado nos Estados Unidos para definir aquelas pessoas que criam obsessões por outras, literalmente as perseguindo por todos os lugares. É algo até muito comum no mundo das celebridades, onde os fãs mais obcecados começam a ir em todos os lugares aonde seus ídolos vão. Com o tempo a coisa pode piorar mais e mais, indo para um lado perigoso. Basta lembrar do caso envolvendo John Lennon que acabou sendo morto justamente por um stalker, um sujeito com problemas mentais que se dizia fã dos Beatles e de Lennon em particular. Todo cuidado é pouco.

Pois bem, essa série explora esse tema. O resultado ficou apenas decepcionante (para não dizer medíocre mesmo). É uma série muito mainstream, que tem medo de ir além, de ser mais ousada ou fora dos padrões. Esse formato quadrado ao extremo e convencional a prejudicou muito. E justamente por ser tão banal não conseguiu sobreviver ao teste da primeira temporada. Após 20 episódios foi cancelada. Esse sempre foi um velho problema que atinge muitas séries da CBS. Eu consegui assistir aos seis primeiros episódios (comentados nessa postagem). Depois me convenci que a série realmente não iria para lugar nenhum e a deixei de lado. Era caso perdido. Pelo tema me interessei inicialmente pela série, mas depois de um tempo cheguei na conclusão que realmente deixava bastante a desejar. Perda de tempo.

Stalker 1.01 - Pilot
Estou começando a assistir com certo atraso essa série "Stalker" que inclusive, se não estou enganado, já foi cancelada nos Estados Unidos. É outro programa assinado e criado pelo Kevin Williamson (da franquia "Pânico" e da série "The Vampire Diaries"). A marca registrada desse produtor é justamente esse tipo de terror mais adolescente, ao estilo horror enlatado para jovens. O foco aqui é desviado para esse tipo de criminoso denominado "perseguidor" (Stalker em inglês), que anda muito em voga atualmente, seja no mundo real ou virtual. São pessoas que se tornam obcecadas por outras e por essa razão passam a acompanhar todos os seus passos de forma oculta, escondida, nas sombras. O termo Stalker pode inclusive se referir tanto ao tipo mais inofensivo que apenas se contenta em ver tudo de longe o que acontece na vida de seu "crush" (um outro termo tirado do mundo adolescente que designa a pessoa perseguida) como também aos psicopatas que se tornam obcecados por determinadas pessoas e partem para a violência física contra elas após um certo tempo. Obviamente a série se concentra justamente nesse segundo tipo, caso contrário teríamos uma série sobre adolescentes apaixonadas e isso não faria muito sentido. Nesse primeiro episódio temos um grupo especializado em casos envolvendo stalkers da polícia de Los Angeles. Eles precisam lidar com dois casos: no primeiro um homem de meia idade, casado, careca e barrigudo, se apaixona por uma jovem que conheceu na academia. Em crise de meia-idade ele acaba se apaixonando e ficando obcecado por seu novo amor. Algo comum que acontece geralmente com homens que não conseguem lidar muito bem com a velhice que vem chegando. Após o breve romance chegar ao fim, ele se torna um stalker na vida da garota. No outro inquérito policial os agentes precisam resolver um estranho caso de obsessão envolvendo dois jovens que foram colegas de quarto numa faculdade. Embora esse primeiro episódio seja bem regular eu pude perceber que tudo caminha mesmo para o mais convencional. O formato é quadradinho, bem mainstream e nada inovador. Pode ser que os episódios seguintes tragam algum tipo de melhoria ou inovação, algo que não vemos nesse episódio piloto que é bem na média do que se vê costumeiramente em enlatados americanos de uma maneira em geral. Nada muito ousado ou inovador. / Stalker 1.01 - Pilot (EUA, 2014) Direção: Liz Friedlander / Roteiro: Kevin Williamson / Elenco: Dylan McDermott, Maggie Q, Mariana Klaveno.

Stalker 1.02 - Whatever Happened to Baby James?
A série "Stalker" é bem na média, feijão com arroz. Passa longe da qualidade de outros programas que atualmente estão em exibição na TV americana. Mesmo assim, para um fim de noite sem compromissos, pode servir como mero passatempo. Aqui uma adolescente começa a perceber que há um perseguidor à espreita. Ela sempre tem essa sensação de estar sendo observada o tempo todo. Suas suspeitas se confirmam quando alguém entra em sua casa, à noite, enquanto está sozinha ao lado do irmão, um garotinho de dez anos de idade. Desesperada, acaba fugindo para o meio da rua, pedindo socorro. As suspeitas da identidade do invasor recaem sobre um pedófilo que mora nas redondezas. As investigações porém se mostram equivocadas. Não se trata de um maníaco, mas sim de uma jovem mãe, acima de quaisquer suspeitas, que mora na vizinhança. Ela perdeu seu jovem filho há poucos meses e não conseguiu superar a perda. Na verdade ela não estava atrás da adolescente - que pensava estar sendo vítima de um stalker - mas sim de seu jovem irmãozinho, pois em sua mente deteriorada ela procura por um "substituto" para o filho morto. Pela sinopse você percebe que não há nada demais no enredo e nem o segredo é algo assim tão surpreendente. Isso porém tem pouca importância. "Stalker" é realmente apenas uma boa diversão sem pretensão. Afinal de contas Kevin Williamson passa longe de ser um Steven Soderbergh. PS: O título do episódio é uma bem sacada homenagem com o clássico estrelado por Bette Davis e Joan Crawford em 1962 chamado "What Ever Happened to Baby Jane?" (O Que Aconteceu com Baby Jane?, no Brasil). / Stalker 1.02 - Whatever Happened to Baby James? (EUA, 2014) Direção: Liz Friedlander / Roteiro: Kevin Williamson, Sanford Golden / Elenco: Dylan McDermott, Maggie Q, Victor Rasuk.

Stalker 1.03 - Manhunt
Para muitas mulheres o dia do casamento é o mais feliz de suas vidas. Pois é, algumas ainda associam casamento a felicidade absoluta! Mas enfim... Pois é justamente no dia de seu matrinônio que a filha de um renomado policial de Los Angeles encontra seu trágico destino. Ao subir no altar ela é atingida na cabeça por um tiro certeiro, dado por um sniper (um atirador de elite). Imediatamente todas as suspeitas recaem sobre um ex-namorado dela, um veterano dos fuzileiros navais, que jamais conseguiu se recompor após levar um fora dela (a clássica situação que dá origem ao Stalker, o perseguidor rejeitado, que passa a seguir os passos do amor perdido). Para piorar ele havia sido deixado para trás por causa de um amor lésbico! O detetive Jack Larsen (Dylan McDermott), do departamento especializado nesse tipo de caso da polícia de Los Angeles, logo passa a desconfiar desse tipo de solução que para ele parece ser óbvia demais. Mais um episódio de "Stalker" onde aqui os roteiristas focaram em um roteiro do tipo reviravolta, onde nada parece ser o que se pensava ser inicialmente. A série como um todo é na média, nada muito sofisticado ou surpreendente, mas como já escrevi antes tem potencial. Um caso curioso é que o próprio detetive Larsen é na verdade um stalker de sua ex-esposa, uma mulher que o detesta e o ameaça caso ele não vá embora de volta para Nova Iorque. Enfim, vale a pena acompanhar, até porque é mais uma que leva a assinatura de Kevin Williamson, o Workaholic mais obsessivo da TV americana. / Stalker 1.03 - Manhunt (EUA, 2014) Direção: Bronwen Hughes / Roteiro: Kevin Williamson, Brett Mahoney / Elenco: Dylan McDermott, Maggie Q, Mariana Klaveno.

Stalker 1.04 - Phobia
O Stalker (perseguidor) desse episódio é um tipo diferente de criminoso. Ele não se contenta apenas em seguir os passos, de longe, de seus alvos, mas ir além, explorando a fobia de cada uma para seu próprio prazer sádico pessoal. É um investidor do mercado financeiro que encontra suas vítimas em sites de encontros e namoros. Assim ele descobre que, por exemplo, determinada garota teria fobia do escuro, o que lhe inspira a fazer uma invasão às escuras ou então que tem pavor de serpentes o que o faz encher o quarto de sua vítima com víboras de todos os tipos. Enquanto as jovens se apavoram, gritam em desespero, ele filma tudo, se deliciando com tudo o que acontece. Parece insano demais para você? Pois é, os roteiristas queriam justamente isso. O mais curioso de Stalker é que o personagem principal, o policial Jack Larsen (Dylan McDermott), também é um stalker em sua vida privada, algo que piorou muito quando foi deixado por sua ex-esposa. Dessa maneira ninguém realmente escapa. / Stalker 1.04 - Phobia (EUA, 2014) Direção: Roxann Dawson / Roteiro:  Kevin Williamson, Heather Zuhlke / Elenco: Dylan McDermott, Maggie Q, Victor Rasuk .

Stalker 1.05 -  The Haunting
No começo parece ser um caso clássico de perseguição (stalking). Uma jovem e bonita garota universitária dispensa seu namorado por ele ser emocionalmente infantil e imaturo. Depois ela começa a perceber que ele anda à espreita. Quando é aterrorizada por um cara vestido de palhaço numa loja de fantasias (na verdade o amigo de seu namorado tentando passar uma peça nela), resolve procurar a polícia. O detetive Jack Larsen (Dylan McDermott) começa então a juntar todas as peças. Para sua surpresa ele descobre que na verdade o perseguidor não é seu ex-namorado, mas sim o antigo proprietário da velha casa onde moram. No passado o lugar foi palco de um crime horrível, envolvendo a morte de uma mulher e seu filho por seu próprio marido. Os anos passam e o tal criminoso finalmente é liberado do manicômio judicial. De volta às ruas ela volta para sua casa em busca de um passado que já não existe mais. Mais um episódio divertido de se acompanhar dessa série. Embora "Stalker" seja em muitos aspectos bem convencional ela traz algumas tiradas bem boladas em seus roteiros, como por exemplo o fato do investigador Jack ser ele próprio um stalker de sua ex-esposa! / Stalker 1.05 -  The Haunting (EUA, 2014) Direção: Brad Turner / Roteiro: Kevin Williamson / Elenco: Dylan McDermott, Maggie Q, Victor Rasuk.

Stalker 1.06 - Love Is a Battlefield
Situação clássica: Mulher se divorcia do marido e no divórcio acaba levando praticamente toda a sua fortuna. Acontece que ele a traiu com uma mulher bem mais jovem e por essa razão oitenta por cento de seus bens acabam indo para a ex-esposa traída. Coisa de contratos pré-nupciais bem elaborados. Agora ela denuncia que está sofrendo assédio de um perseguidor, que pode ser ou não ser ex-marido, mas que ao que tudo indica poderá ser ele mesmo, ainda mais agora que está financeiramente arruinado. Para investigar entram em campo os policiais do departamento especializado em stalkers, ou melhor dizendo, perseguidores que ficam obcecados por determinadas pessoas. Esse episódio usa e abusa das chamadas reviravoltas, o que no final das contas não é grande coisa, embora divirta bastante o espectador. A série inclusive é bem na média do que é exibido na TV americana. Kevin Williamson não parece ter se dedicado muito a essa sua nova criação e por essa razão talvez a série tenha ficado apenas na primeira temporada (foi cancelada recentemente). Eu também acho que ficou a dever bastante. Por isso muito provavelmente irei ficando por aqui. Valeu conhecer, mas ir em frente? Acho que não mais. / Stalker 1.06 - Love Is a Battlefield (Estados Unidos, 2014) Direção: Omar Madha / Roteiro: Kevin Williamson, Dewayne Darian Jones / Elenco: Dylan McDermott, Maggie Q, Victor Rasuk.

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de março de 2019

Yellowstone

Essa nova série é uma boa dica para quem gosta de western. Na falta de bons novos filmes de faroeste no cinema o jeito é procurar na TV por novidades. E aqui temos uma excelente opção. Kevin Costner é o pai de um clã de fazendeiros de Montana. A história da série se passa na atualidade. Ao mesmo tempo em que cuida de seus negócios, de seu maravilhoso rancho, ele também é a autoridade policial do local. Sim, Costner, que já interpretou Wyatt Earp no cinema, aqui volta a um papel de xerife. Só que ao invés de ser um homem da lei do século XIX, ele agora lida com os problemas atuais que um homem moderno precisa enfrentar.

E os inimigos são muitos. Desde um forasteiro que chega na cidade para promover uma grande corporação de apartamentos de luxo (na fronteira de suas terras), até mesmo um movimento de nativos que vivem em suas reservas e agora pedem por mais direitos. Para piorar o clima de tensão o próprio filho do personagem de Costner é casado com uma mulher descendente dos índios que no passado enfrentaram os pioneiros brancos que chegaram naquela região. Uma série muito boa, com bons roteiros e episódios caprichados. Nos Estados Unidos está sendo exibida no canal Paramount, algo que acredito seja repetido no Brasil. Vamos aguardar.

Yellowstone (Estados Unidos, 2018, 2019) Direção: Taylor Sheridan, Stephen Kay / Roteiro: John Linson, Taylor Sheridan, Ian McCulloch / Elenco: Kevin Costner, Luke Grimes, Kelly Reilly / Sinopse: A série acompanha a vida do rancheiro e xerife John Dutton (Kevin Costner). Ele mora em uma bela propriedade rural de Montana e precisa lidar com diversos problemas envolvendo suas funções de homem de família, xerife e dono de terras.

Pablo Aluísio.

Jekyll & Hyde

O livro original é um marco da literatura de terror. As adaptações para o cinema já renderam todos os tipos de filmes que você possa imaginar, desde pequenos clássicos até produções B horríveis. A influência dentro da cultura pop de "O Médico e o Monstro" é complicada até mesmo de rastrear. Está em inúmeros personagens, como o próprio "Hulk" da Marvel que segundo seu criador, Stan Lee, foi completamente baseado nessa estória. Assim era de se esperar que algo tão popular e influente pelo menos renderia uma boa minissérie. Pena que as expectativas não foram plenamente atendidas (pelo menos em minha opinião pessoal).

Achei bem mediana essa adaptação, a ponto inclusive de não ter me animado de ver tudo. No total apenas quatro episódios de dez, o que mostra claramente que não foi uma série que tenha me empolgado. Apesar da boa produção inglesa penso que os roteiros decepcionaram um pouco, por serem lentos demais. A série foi exibida originalmente em 2015 e até pensaram em uma improvável segunda temporada, mas antes disso foi cancelada. Pois é, nem sempre os grandes clássicos da literatura de terror dão adaptações perfeitas. O mundo das letras e o mundo das imagens são universos próprios. Segue abaixo uma pequena compilação de episódios que cheguei a assistir, antes de abandonar o barco.

Jekyll & Hyde 1.01 - The Harbinger
Apenas mediana essa nova série sobre o famoso clássico da literatura "Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde" escrito por Robert Louis Stevenson em 1886. Na verdade usaram o enredo do livro original apenas como ponto de partida. O personagem principal não é o Dr. Jekyll de Stevenson, mas sim seu filho, Robert Jekyll (Tom Bateman). A ação se passa na década de 1930 na colônia britânica da Índia. É lá que vive o jovem que foi criado por um casal de indianos. Ele herdou os problemas do pai, ou seja, quando submetido a tensão ou stress muda de personalidade, assumindo um modo de ser agressivo, ofensivo e brigão, surgindo dentro de si o infame Mr. Hyde. A obra clássica original está completamente descaracterizada nessa nova série, até porque fica claro desde o começo que esse novo programa visa conquistar o público mais jovem. Por essa razão surgem monstros (muito bem feitos por sinal) inexistentes no livro, como uma criatura chamada de Arauto, metade homem, metade cão, que profetiza a chegada de um mestre que irá destruir toda a Inglaterra. Os roteiristas criaram também um setor de inteligência do governo inglês especializado em fenômenos sobrenaturais (como se fossem Homens de Preto do século XIX). A produção é muito boa, com cenários e figurinos luxuosos. Pena que não optaram por contar ou adaptar o clássico da literatura de terror. Aqui surge algo mais desfigurado, tentando alcançar um público mais jovem e moderno, o que acabou descaracterizando praticamente tudo. Vou tentar seguir acompanhando, mesmo com um pé atrás. Possa até ser que melhore com o passar do tempo, muito embora não tenha gostado da premissa inicial. Por enquanto o que posso antecipar é que esse episódio piloto deixa um pouco a desejar. Porém como há um certo potencial vou dar o benefício da dúvida. / Jekyll & Hyde 1.01 - The Harbinger (Inglaterra, 2015) Direção: Colin Teague / Roteiro: Charlie Higson / Elenco: Tom Bateman, Donald Sumpter, Natalie Gumede.

Jekyll & Hyde 1.02 - Mr Hyde
No episódio anterior o Dr. Robert Jekyll (Tom Bateman) acaba sendo esfaqueado após uma intensa briga numa taverna. Agora ele está de volta à consciência. Para sua surpresa descobre que o ferimento cicatrizou completamente, sem lhe deixar quaisquer danos físicos. Em meio a lembranças ele se recorda que fora ajudado pelo barman, Garson (Donald Sumpter), que no passado trabalhou para a família Jekyll como assistente pessoal. Robert retorna ao bar em busca de maiores informações e consegue convencer Garson a ir com ele de volta à velha mansão de seu avô. Lá Garson resolveu revelar tudo, levando inclusive Robert e seu advogado até o antigo laboratório de seu avô, onde tudo teria começado. O velho acreditava que o ser humano na realidade trazia duas personalidades distintas em um só corpo. Tentando separá-las ele acabou criando uma poção que acabou por revelar seu pior lado, o Mr Hyde, um sujeito brigão, mal caráter, egoísta, egocêntrico e portador de todos os piores defeitos que um ser humano pode carregar consigo. Assim Robert acaba descobrindo de onde teria vindo essa sua outra personalidade que se manifesta nas horas mais impróprias. E ele também precisa ficar mais atento pois surge um estranho perseguidor em sua vida, o Capitão Dance (Enzo Cilenti). Bom episódio que vai revelando cada mais da trama. Por enquanto "Jekyll & Hyde" ainda vai demonstrando seguir uma linha mais juvenil, com monstros, etc, porém acredito que tem potencial para melhorar. Vou seguir acompanhando. Só espero que não derrape vertiginosamente em sua qualidade. / Jekyll & Hyde 1.02 - Mr Hyde (EUA, 2015) Direção: Colin Teague / Roteiro: Charlie Higson / Elenco: Tom Bateman, Donald Sumpter, Enzo Cilenti, Mohamed Adamaly, Nadika Aluwihare, Michael Ballard.

Jekyll & Hyde 1.03 - The Cutter
Essa série "Jekyll & Hyde" tem boa produção, bom elenco e uma reconstituição histórica de primeira linha. Além disso material não lhe falta já que o conhecido enredo que lhe deu origem é um dos mais celebrados do mundo Sci-fi. O que anda tão errado então? Na minha forma de ver a tentativa dos produtores em transformar a série em um produto mais comercial, voltado principalmente para o público mais adolescente, pode vir a colocar tudo a perder. Há uma série de monstros que vão surgindo do nada, bem apelativos e já não tão bem feitos, que tiram parte de graça ou do suspense que poderia vir a cada episódio. E isso tudo já vai ficando claro aqui no terceiro episódio da primeira temporada (cedo demais para esse tipo de coisa acontecer). Nessa linha de séries de terror "Jekyll & Hyde" já anda comendo poeira de programas bem melhores como "Salem" e até mesmo "The Frankenstein Chronicles". Nem vou comparar com "Penny Dreadful" porque aí já seria covardia demais. Ainda darei mais chances para melhorar, mas se continuar com esses momentos bem tolinhos realmente deixarei para trás, sem arrependimentos. / Jekyll & Hyde 1.03 - The Cutter (EUA, 2015) Direção: Colin Teague / Roteiro: Charlie Higson / Elenco:  Mohamed Adamaly, Nadika Aluwihare, Tom Bateman.

Jekyll & Hyde 1.04 - The Calyx
Sim, ainda estou insistindo em "Jekyll & Hyde". Um dos motivos - além de gostar da estória original - é sua direção de arte. Tudo é tão caprichado em termos de visual, figurinos, design, cenários, etc, que me faz seguir em frente mesmo sabendo que os roteiros não são lá grande coisa e nem que tudo esteja sendo desenvolvido muito bem. Na verdade ficou óbvio desde o começo que a produtora ITV quis criar um produto vinculado ao público mais jovem, adolescente. Não há nada de errado nisso, desde que venham a melhorar em termos de roteiro que muitas vezes são fracos demais. Nesse episódio aqui há um elemento novo na trama, um cálice que conteria o coração de um ser demoníaco do passado. O problema estaria em abrir tal artefato. Apenas uma pessoa com uma força descomunal poderia fazê-lo. Por essa razão os vilões vão atrás de Hyde. Capturam Robert Jekyll (Tom Bateman) e fazem de tudo para que ele finalmente se transforme em Hyde, passando para o seu lado, abrindo o tal cálice contendo o coração de Lord Trashy. Aqui nesse episódio há a destruição de um dos principais vilões da série, o Capitão Dance (Enzo Cilenti), o que me deixou surpreso pois pensei que ele seria o principal antagonista de Jekyll e Hyde. Enfim, temos que reconhecer que ainda falta muito para Jekyll & Hyde ser tão bom como material que lhe deu origem, mas pelo sim e pelo não vamos continuar acompanhando. / Jekyll & Hyde 1.04 - The Calyx (Inglaterra, 2015) Direção: Joss Agnew / Roteiro: Charlie Higson / Elenco: Tom Bateman, Ruby Bentall, Amy Bowden, Enzo Cilenti.

Pablo Aluísio.