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quinta-feira, 30 de junho de 2022

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 17

"Vidas Amargas" demorou alguns meses para ser editado de acordo com as exigências de Elia Kazan. Quando ficou finalmente pronto James Dean se viu na incômoda obrigação contratual de ter que ajudar na divulgação do filme. Era um serviço de relações públicas que Dean odiou desde o começo. Os problemas começaram logo no primeiro dia de entrevistas com a imprensa. A Warner marcou para Dean um encontro com um dos mais respeitados críticos de cinema da Inglaterra. Ele acabou aparecendo no estúdio ao lado de uma rica herdeira, uma nobre de sangue azul da família real britânica. Dean não deu a menor bola. Assim que foram apresentados o jornalista começou a dizer a ele de onde ela provinha, sua maravilhosa árvore genealógica cheia de monarcas e príncipes da dinastia Tudor e James Dean começou a achar aquela conversa de uma chatice sem tamanho.

De repente interrompeu sua longa descrição e disparou: "Ok, foda-se ela, diga logo o que você quer perguntar". Nem precisa dizer que o sofisticado inglês ficou branco e pálido pelo modo pouco discreto do rebelde número 1 de Hollywood. Depois Dean teve que encarar a colunista Hedda Hopper, fofoqueira e colunista de um importante jornal de Los Angeles. Aquilo era um saco para Dean. Em todas as entrevistas que deu ele demonstrou claramente que não estava nem aí para a divulgação do filme e que só se importava mesmo em ter feito um bom trabalho. Uma das poucas revelações dignas de nota surgiu quando Dean se abriu falando sobre seus planos futuros no cinema. A uma jornalista de Nova Iorque declarou: "Gostaria de interpretar Hamlet no cinema. Esse personagem exige ser interpretado por um jovem como eu, que mantenha uma certa inocência perante o mundo. Laurence Olivier é um bom ator, mas ele já passou da idade de fazer Hamlet da forma certa. Também gostaria de um dia dirigir filmes. Acho o processo muito enriquecedor".

Talvez para começar a ter alguma ideia de que como seria dirigir um filme, Dean comprou uma câmera Super 8 em Nova Iorque e depois rumou em direção à sua cidade do coração, Fairmount, comunidade rural localizada no estado de Indiana, bem no meio do centro oeste americano. A intenção de Dean era visitar a fazenda de seus tios onde cresceu e viveu até tentar se tornar um ator na cidade grande. Enquanto o país inteiro começava a conhecer Dean após a estreia de "Vidas Amargas" ele ia de carona até a pacata cidadezinha. Lá tirou fotos, brincou com seu primo e readquiriu velhos hábito como o de ir para o meio do milharal tocar bongô até o anoitecer. Também pôde sentir os primeiros sinais que estava virando um astro de Hollywood. A população local o recebeu de braços abertos e Dean começou a ser tratado como uma verdadeira celebridade, algo que no íntimo o encheu de orgulho e emoção. Dean também foi até os fundos da fazenda de sua tia para rever sua antiga moto, a primeira que comprou. A um amigo confidenciou: "Jamais a venderei. É como uma amiga dos velhos e bons tempos!". Depois decidiu que iria dar mais uma volta com ela pela região. Nesses poucos dias ele voltou a ser o mesmo James Dean de seus tempos de adolescente, revendo velhos amigos e comendo da gostosa comida caseira de sua tia. Chegou até mesmo a ganhar um aumento de peso por causa da boa vida que estava levando. Tudo foi interrompido quando a Warner finalmente lhe mandou um telegrama para que voltasse a Los Angeles pois tudo estava pronto para o começo das filmagens de "Rebel Without a Cause" (que no Brasil receberia o título de "Juventude Transviada").

Foi nessa época que Dean formou seu grupo de amigos mais próximos na costa oeste. Em Nova Iorque Dean comandava uma turma muito interessante de jovens atores e atrizes que tentavam ganhar a vida nos palcos de teatro da cidade. Em Los Angeles os novos nomes ao lado do rebelde eram Sal Mineo, Natalie Wood e Nick Adams, entre outros. Dean esnobou outros jovens que tentaram se aproximar dele e que no futuro se tornariam grandes astros como Jack Nicholson. Naquele tempo Jack não era realmente ninguém na indústria. Trabalhando em um departamento burocrático do estúdio, tentando ganhar a vida a duras penas, ele estava anos distante do grande astro que um dia iria se tornar. O próprio Nicholson relembrou seu encontro com Dean anos depois: "Um amigo comum me disse que iria me apresentar à nova estrela da Warner Bros, então fui até lá. Dean estava encostado em um carro, fumando, no intervalo das filmagens. Fui apresentado a ele, mas para meu desapontamento ele não deu muita bola. Não prestou atenção no que eu dizia e de repente simplesmente se levantou e foi embora. Meu amigo ficou até mesmo envergonhado e pediu desculpas, dizendo que ele não estava ouvindo muito bem porque estava andando de moto e a audição ficara prejudicada com isso pelo vento que tomou. Não acreditei nisso, mas fingi acreditar".

James Dean de fato não era uma pessoa fácil de conviver, nem mesmo entre seus amigos mais próximos. Em Nova Iorque ele tinha crises de mau humor. Quando se reunia com amigos em bares pela cidade ele poderia tanto surgir como a pessoa mais simpática do mundo como também como a mais desagradável. Certa vez destratou quatro de seus mais próximos amigos em uma mesa, durante o almoço. Simplesmente ficou ali, de cara amarrada, durante toda a refeição. Depois se levantou e perguntou: "Onde estão os meus verdadeiros amigos?". Virou-se e se retirou sem maiores explicações. Não havia qualquer motivo para seu comportamento, mas Dean era assim mesmo, dado a explosões de melancolia, raiva e mau humor. Na costa oeste as coisas não seriam melhores. Natalie Wood, sua partner em "Juventude Transviada" ficou caidinha por Dean, mas ele não lhe deu muita bola também. Desde o começo das filmagens Dean deixou mais ou menos claro que não iria ter nenhum caso amoroso com ela. Depois de Pier Angeli e Ursula Andress, ele definitivamente não estava mais disposto a se envolver seriamente com uma atriz de Hollywood. Para Natalie o que sobrou foi mesmo uma amizade do tipo "irmão mais velho e irmãzinha". As filmagens foram quase todas realizadas em Los Angeles mesmo, por seus arredores, em uma antiga mansão abandonada e decadente localizada na S. Irving Boulevard, que foi usada para locações. Essa casa tinha sido a mesma utilizada nas filmagens do grande clássico "Crepúsculo dos Deuses" de 1950. Assim que pisou no local Dean mandou todos se calarem para "sentir melhor todas as vibrações dos deuses da sétima arte" presentes ali! 

Pablo Aluísio.

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Quando tentaram comparar o Elvis Presley com o James Dean alguem lembrou e que enquanto tudo que o primeiro queria era ser aceito pela indústria do cinema, o segundo queria o oposto, ou seja, distância de tudo aquilo, apesar de almejar o sucesso como qualquer mortal.

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  3. Tirando o penteado e o topete, eles não tinham nada em comum, eram pessoas com personalidades bem diferentes, inclusive acredito que se tivessem se conhecido não iriam gostar um do outro, isso apesar de Elvis ter sido um admirador declarado de Dean.

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  4. Até que o Elvis tenta emular um "James Dean", misturado com um pouco de Marlon Brando, em O Prisioneiro do Rock e Balada Sangrenta, mas ficou naquilo.

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  5. Certamente tentou copiar seus estilos, depois seguiu seu próprio caminho

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