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quarta-feira, 27 de abril de 2011

O General Lee e a Supremacia Branca

Essa semana não houve notícia mais comentada do que o desfile dos supremacistas brancos na pequena cidade de Charlottesville, no estado sulista da Virgínia. A coisa toda começou quando algumas pessoas decidiram que era hora de colocar abaixo uma estátua do General Robert Lee, o herói confederado da guerra civil americana. Como gosto muito de história não deixei de prestar atenção em todos os acontecimentos. O mais curioso de tudo é saber que o velho general Lee foi, através do tempo, alçado a uma posição, se tornando símbolo de uma causa, que nem ele mesmo acreditava em vida.

O General Lee virou de certa forma um ícone desse movimento de supremacia branca nos Estados Unidos. O problema é que Lee não era um defensor da escravidão negra como muitos pensam. Ao contrário disso ele era um sujeito bem pragmático, um militar que mesmo tendo lutado ao lado dos confederados, sabia muito bem que não havia volta sobre a libertação dos escravos. A roda da história havia girado e não teria mais como manter a escravidão dos negros nas plantações de algodão das grandes fazendas do sul. O General Lee ia além e sabia até mesmo de antemão que seria impossível vencer a guerra. Homem experiente, general famoso do exército americano, ele tinha plena consciência de que as melhores tropas, os melhores armamentos e oficiais estavam do lado da União, dos ianques. Vencer aquela guerra civil era praticamente impossível.

Assim você pode se perguntar: Se Robert Lee não acreditava na escravidão e sabia que o Sul jamais venceria a guerra, por que afinal ele ficou do lado do exército confederado? A resposta sobre essa questão pode ser encontrada em qualquer biografia do militar americano. Ele sempre dizia que havia entrado para o lado rebelde simplesmente porque seu estado natal, a Virgínia, havia decidido lutar ao lado da Confederação. Ele dizia amar sua terra natal e assim foi para um exército que tinha poucas chances de vitória, lutando por uma causa que nem sequer acreditava. Ele nem era um racista, mas sim um homem do seu tempo, que sabia muito bem que a escravidão estava com os dias contados.

E a história também tem suas ironias. Com os anos Robert Lee virou esse símbolo dos supremacistas, dos neonazistas americanos do sul, mas a verdade é que ele não tinha essa visão que seus supostos seguidores ainda defendem. Já o presidente Abraham Lincoln, dito como o grande libertador, escreveu textos de cunho nitidamente racistas. Em um deles chegou a dizer que os negros jamais poderiam ser comparados aos brancos, que eram superiores. Mais do que isso, em determinado momento da guerra Lincoln estava disposto a abrir mão da abolição da escravidão em troca da paz, algo que pelo calor dos acontecimentos foi negado pelos sulistas. Assim o tempo muda as percepções. Nem Lincoln foi esse herói todo que muitos almejam, nem Robert Lee foi esse racista da supremacia branca que tantos o descrevem. A verdade histórica é bem mais complexa do que muitos imaginam.

Pablo Aluísio.

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