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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Museu de Cera

Título no Brasil: Museu de Cera
Título Original: House of Wax
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: André De Toth
Roteiro: Crane Wilbur, Charles Belden
Elenco: Vincent Price, Carolyn Jones, Charles Bronson, Phyllis Kirk
  
Sinopse:
Henry Jarrod (Vincent Price) é um artesão talentoso que transforma bonecos de cera em retratos quase perfeitos de personagens históricos. Maria Antonieta, Joana d'Arc e Abraham Lincoln são algumas da figuras históricas que ele esculpiu em cera para serem exibidas em seu próprio museu. Seu sócio porém tem outros planos. Ele está de olho no dinheiro do seguro. Por essa razão resolve promover um grande incêndio, algo que deixa Jarrod severamente ferido e deformado pelas chamas. Agora, recuperado, ele parte para sua vingança pessoal contra todos que fizeram esse atentado contra sua arte e sua vida. Filme indicado ao prêmio da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films.

Comentários:
É um dos clássicos de terror mais lembrados da carreira de Vincent Price. O enredo gira em torno desse artista muito diferente, um mestre em criar figuras de cera com extrema fidelidade, a tal ponto de levar a todos a pensarem se estão mesmo na presença de uma peça de cera ou de um ser humano real. Após entrar em atrito com seu desonesto sócio, um sujeito que só pensa em queimar todo o museu de cera para receber o seguro, Henry Jarrod (Vincent Price) vê suas pretensões de ser um grande artista queimarem em um inferno em chamas. Deformado pelo fogo e transformado em um ser de aparência repugnante (o que contrasta enormemente com a beleza de sua arte) ele ainda não se sente pronto a abandonar suas ambições artísticas. Após se vingar daqueles que o destruíram ele resolve voltar. Como é um artesão em recriar rostos e formas humanas cria uma máscara para esconder as deformidades de sua própria face, arranja um novo sócio e abre um novo museu de cera, só que essa vez bem diferente, com uma seção especializada em horrores que refaz todas as cenas dos maiores crimes da história. O que é desconhecido do público é que Henry Jarrod perdeu sua capacidade de criar figuras em cera após ter suas mãos queimadas no incêndio. Assim ele decide usar outra técnica para produzir suas novas "obras de arte" - isso mesmo, corpos humanos de verdade! 

Essa produção foi alvo de um remake há poucos anos, mas aquele roteiro tinha pouco a ver com essa produção original. Aqui o foco é todo voltado para as ambições de um artista que só pretendia refazer o belo em cera, mas que pelas circustâncias de sua vida trágica teve que abraçar o grotesco e o horror! Price usa uma bem feita máscara que o dá uma face monstruosa e usa de seu charme e elegância naturais para interpretar o gentil artista que no fundo esconde um terrível segredo. Charles Bronson também está no elenco interpretando Igor, o assistente mudo e com problemas mentais de Jarrod. Completando o elenco ainda temos Carolyn Jones, que se imortalizou como a Morticia Frump Addams da série de grande sucesso na TV americana, "A Família Addams". Tecnicamente o filme é muito bem realizado, com cenários bem construídos. Também foi um dos primeiros filmes da história a usar uma rudimentar tecnologia 3D. Você vai perceber bem isso em algumas cenas que parecem gratuitas, como a do animador com bolinhas de pingue-pongue que as fica atirando propositalmente em direção à tela. A única coisa que não me agradou muito do ponto de vista técnico nesse "House of Wax" foi sua trilha sonora incidental. Com uma linha de flauta irritante em sua melodia ela acabou atrapalhando um pouco justamente nos momentos mais tensos da estória. Mesmo assim, não é algo com se preocupar, pois não chega a ser um problema. No fundo é apenas fruto de uma época. Enfim, de maneira em geral é um terror muito bom, com aquele charme nostálgico que só melhorou com os anos. Não é de se admirar que seja um filme tão cultuado pelos fãs de terror até os dias de hoje! 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A Maldição do Sangue da Pantera

Título no Brasil: A Maldição do Sangue da Pantera
Título Original: The Curse of the Cat People
Ano de Produção: 1944
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Gunther von Fritsch, Robert Wise
Roteiro: DeWitt Bodeen
Elenco: Simone Simon, Kent Smith, Jane Randolph
  
Sinopse:
Amy Reed (Ann Carter) aparenta ser uma garota normal, mas isso não corresponde a realidade dos fatos. Ela tem uma mente mais imaginativa do que as demais meninas de sua idade, a ponto de suas coleguinhas de escola dizerem que ela vive sonhando. Após receber um anel de uma senhora que mora numa grande casa sombria na vizinhança ela começa a ter visões de uma bela dama em seu quintal. Mal sabe ela que Irena (Simone Simon), sua suposta amiga imaginária, é na realidade o fantasma da ex-esposa de seu pai, uma mulher estranha que tinha o poder de se transformar em uma pantera negra.

Comentários:
Que filme surpreendentemente bom! Inicialmente você pensa que vai assistir apenas a uma sequência caça-niqueis de "Sangue de Pantera". Ledo engano. Em certos aspectos essa continuação consegue ser melhor do que o filme original! Falando sinceramente poderia ser um roteiro até mesmo isolado da trama do primeiro filme. O clima mais espiritualista e a proposta diferenciada realmente fazem com que essa produção tenha um estilo bem próprio e singular. O enredo gira praticamente todo em torno de Amy Reed (Ann Carter). Ela é a filha do casal formado por 'Ollie' Reed (Kent Smith) e sua esposa Alice (Jane Randolph). Em "Sangue de Pantera" acompanhamos como se conheceram e se apaixonaram. Apesar de Ollie ser casado com Irena (Simone Simon), sua personalidade difícil e suas crenças fora do comum foram minando aos poucos o conturbado relacionamento. Ela tinha certeza que havia sido amaldiçoada em sua vila na Sérvia e que por isso se transformaria em uma pantera em noites escuras e sombrias. Depois dos trágicos acontecimentos do primeiro filme com a morte de Irena, finalmente Ollie e Alice ficaram livres para se casar. O problema é que Amy, sua filha, não age como uma garotinha normal de sua idade. Ela não tem amigos e cultiva uma imaginação fora do comum, onde realidade e fantasia geralmente se confundem. Quando ela começa a ter visões de Irena no jardim de sua casa as coisa complicam ainda mais. Ela surge em sua forma espiritual, como se fosse sua amiga imaginária. A fronteira que separa fantasia e realidade vai ficando cada vez mais estreita, para desespero de seus pais. 

O roteiro ainda apresenta outros personagens interessantes, como uma veterana atriz de teatro que vive em sua sombria casa ao lado da filha, ao qual não mais reconhece. O clima de sombras e medo atravessa todo o filme, mas tudo é realizado com tanto bom gosto que não podemos ficar menos do que surpresos. Para quem gostou das mulheres que se transformam em panteras fica o aviso que o roteiro agora apresenta outro foco, a ponto inclusive de não haver mais feras em cena. O terror é mais psicológico. Como eu já escrevi, apesar de haver uma pequena ligação com a trama do primeiro filme essa sequência é tão própria e particular que poderia até mesmo ser assistida sem ver o filme anterior. Por fim vale a menção da presença do grande Robert Wise na direção. Um dos mestres em sua especialidade, a presença do talentoso cineasta explica muita coisa, inclusive sua qualidade fora do comum. Esse foi o primeiro trabalho creditado de Wise como diretor e ele resolveu caprichar bastante, tanto no aspecto puramente técnico (há ótima utilização de luz e sombras) como de roteiro (a trama é de fato bem surpreendente). Seu talento que iria despontar no clássico "O Dia em que a Terra Parou" já dá sinais bem claros aqui. É de fato uma pequena obra prima clássica, não se enganem sobre isso. É aquele tipo de filme que se revela muito melhor do que aparenta ser.

Pablo Aluísio.

Sangue de Pantera

Título no Brasil: Sangue de Pantera
Título Original: Cat People
Ano de Produção: 1942
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Jacques Tourneur
Roteiro: DeWitt Bodeen
Elenco: Simone Simon, Tom Conway, Kent Smith, Jane Randolph 
  
Sinopse:
Irena Dubrovna (Simone Simon) aparenta ser uma jovem normal. Em um passeio pelo zoológico de sua cidade acaba conhecendo casualmente Oliver Reed (Kent Smith), um arquiteto que fica bastante interessado nela. Após alguns encontros começam a namorar. O que parecia um relacionamento promissor se torna problemático quando Oliver descobre que sua namorada tem estranhos pensamentos. Um deles a faz acreditar que ela é mais uma vítima de uma maldição secular de sua terra natal, a Sérvia. No século XV mulheres de sua região teriam feito um pacto com Satã, que transformaria jovens em feras, bestas animalescas das sombras. Estaria Irena enlouquecendo ou haveria algum fundo de verdade em suas estranhas crenças?

Comentários:
Se você tem mais de 30 anos de idade certamente conhece o filme "A Marca da Pantera" com Nastassja Kinsk, um filme que fez bastante sucesso em seu lançamento no ano de 1982. Pois bem, poucos sabem disso, mas aquele era apenas um remake desse filme original, "Sangue de Pantera" de 1942. O argumento é basicamente o mesmo. O enredo gira em torno de uma antiga maldição que acabou dando origem a uma linhagem de mulheres que se transformam em panteras quando são traídas ou ofendidas. A personagem Irena Dubrovna ainda não sabe se isso tem alguma veracidade ou se é apenas uma lenda de sua país, a Sérvia. O roteiro procura explorar o suspense que nasce dessa situação. No mais perfeito clima noir o filme se desenvolve muito bem e apresenta soluções excelentes para os momentos mais tensos. Como não havia ainda tecnologia para mostrar uma mulher se transformando em pantera, o cineasta Jacques Tourneur acabou criando cenas de alto impacto. Por exemplo, ao invés de mostrar a transformação em si, de forma explícita, ele apenas a sugere com vestígios, como as pegadas de um sapato feminino no chão que aos poucos vão sendo substituídos por marcas de patas de felinos. Desse tipo de sugestão, que nada mostra, mas deixa claro, é que vemos a inteligência de seus realizadores. Outra cena muito boa acontece numa piscina coberta, quando Alice Moore (Jane Randolph) fica aterrorizada com a iminente presença de uma fera no local. Uma pantera negra prestes a atacar sua presa! Enfim, um belo suspense noir, cheio de sacadas bem boladas e inteligentes, tudo associado a um roteiro muito bem escrito e eficiente. É de fato um pequeno clássico em seu gênero.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Alma no Lodo

Título no Brasil: Alma no Lodo
Título Original: Little Caesar
Ano de Produção: 1931
País: Estados Unidos
Estúdio: First National Pictures
Direção: Mervyn LeRoy
Roteiro: W.R. Burnett, Robert N. Lee
Elenco: Edward G. Robinson, Douglas Fairbanks Jr., Glenda Farrell
  
Sinopse:
Little Caesar (Edward G. Robinson) é um bandido que vive de pequenos golpes, como roubos em postos de gasolina. Ao se deparar com a notícia de um grande jornal de Nova Iorque ele percebe a diferença entre ser um bandido pé de chinelo e ser um grande e poderoso gângster de uma grande cidade americana. Assim resolve deixar sua cidade natal e vai até a grande metrópole no objetivo de entrar na gangue de Pete Montana (Ralph Ince). Violento e ambicioso, começa a subir na hierarquia do crime. Após matar um importante comissário de polícia resolve se tornar o chefão de sua própria quadrilha. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. 

Comentários:
Segundo várias biografias de Al Capone esse era o seu tipo preferido de filme. Não é de se admirar, até porque na maioria das vezes os roteiros eram meras adaptações de sua própria vida pessoal. Assim o mais famoso gangster da história se sentia lisonjeado em ser retratado nas telas. Tal como aconteceu com James Cagney, o ator Edward G. Robinson construiu sua carreira interpretando criminosos, gangsters violentos e cruéis. Cagney ainda procurava injetar certos aspectos de humanidade em seus personagens, mas Robinson não estava muito preocupado com isso. Seus bandidos eram violentos, desalmados e cruéis. Ele próprio dizia, sem rodeios, que já nascera com cara de bandido (o que não deixava de ser uma verdade). Nesse filme ele dá vida a Little Caesar, que se tornaria um de seus personagens mais famosos. Aquele tipo de gangster que a platéia adorava odiar! O curioso é que o roteiro gira praticamente em torno dele e de seu comparsa mais antigo, Joe Massara (Douglas Fairbanks Jr), um criminoso incomum que não conseguia se decidir entre escolher o mundo do crime ou da dança (isso mesmo, um gangster que adorava dançar!). O enredo está cheio de assassinatos, crimes violentos, roubos e tiroteios. Esse tipo de filme, realizado na década de 1930, acabaria sendo alvo do Macartismo alguns anos depois, sendo apontado como um exemplo de como Hollywood gostava de glorificar e glamorizar a vida de criminosos infames da época. Não é para tanto. O roteiro parece preocupado o tempo todo em mostrar que o crime não compensa, a ponto inclusive de abrir o filme com uma passagem do Novo Testamento quando Jesus disse: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada pela espada morrerão!" (Mateus 26:52). O destino de Little Caesar só confirmaria a famosa frase, mostrando claramente as intenções do roteiro. Assim temos aqui um dos mais famosos filmes sobre gangsters da era de ouro do cinema clássico americano. Um belo retrato de uma época violenta e brutal.

Pablo Aluísio.

Jejum de Amor

Título no Brasil: Jejum de Amor
Título Original: His Girl Friday
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio:  Columbia Pictures
Direção: Howard Hawks
Roteiro: Charles Lederer, Ben Hecht
Elenco: Cary Grant, Rosalind Russell, Ralph Bellamy, Gene Lockhart, Porter Hall, Ernest Truex

Sinopse:
Baseado na peça teatral intitulada "The Front Page", o filme "Jejum de Amor" conta a história de um editor de jornal que usa de todos os truques para que sua ex-esposa não venha a se casar novamente.

Comentários:
Esse clássico filme romântico foi mais um dos escolhidos para fazer parte de uma seleta lista que procurou preservar grandes obras cinematográficas do passado, tudo sob a supervisão do Congresso dos Estados Unidos. Diante dessa informação você já começa a entender sua importância dentro da cultura norte-americana. Mas calma, não pense que é um filme pesado. chato, enfadonho ou nada do gênero. Na realidade é uma deliciosa comédia romântica dos anos 40, valorizada por uma inspirada interpretação do sempre ótimo Cary Grant. Ele não consegue tirar sua ex-esposa da cabeça e começa a mexer os pauzinhos para destruir os planos dela de se casar novamente. Situação complicada. Enfim, ótimo filme, um delicioso momento do cinema de Howard Hawks.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Boneca de Carne

Título no Brasil: Boneca de Carne
Título Original: Baby Doll
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Elia Kazan
Roteiro: Tennessee Williams
Elenco: Karl Malden, Carroll Baker, Eli Wallach, Mildred Dunnock
  
Sinopse:
Archie Lee (Karl Malden) é um fazendeiro arruinado, cheio de hipotecas para pagar, que não encontra mais nenhuma fonte de renda em sua propriedade falida, uma velha mansão sulista caindo aos pedaços. Casado com um mulher vinte anos mais jovem, de mente adolescente e boba, a infantil Baby Doll (Carroll Baker), que o despreza completamente, ele decide de forma desesperada cometer um crime, colocando fogo em uma máquina do sindicato dos plantadores de algodão, para assim lucrar alguma coisa na manufatura do produto em sua própria fazenda. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz (Carroll Baker) e Melhor Atriz Coadjuvante (Mildred Dunnock).

Comentários:
Tennessee Williams era um gênio. Um escritor brilhante que soube como poucos captar a alma do sulista norte-americano. Aqui ele abre vistas para um casal disfuncional. Ele é um sujeito fracassado, arruinado financeiramente, gordo e careca, que não consegue mais esconder de ninguém que já não conseguirá alcançar mais nada em sua vida. Ela é uma garota mimada, desbocada, ofensiva e imatura, que transforma a vida do marido em um inferno maior do que ela já é! Para piorar levou a tiracolo sua tia, uma senhora idosa com problemas mentais, para morar com eles. Após a loja de móveis levar toda a mobília de sua velha casa embora por falta de pagamento, Archie Lee (Malden) resolve tomar uma decisão extrema: tocar fogo na descaroçadeira de algodão do sindicato para assim levar os produtores a lhe procurar, pois ele tem uma máquina dessas, meio acabada pelo tempo, é verdade, mas que ainda funciona, aos trancos e barrancos. Uma desesperada tentativa de ganhar algum dinheiro. 

Silva Vacarro (Eli Wallach) é um dos produtores que acabam procurando Archie depois do incêndio. Ele desconfia que foi Lee quem colocou fogo em tudo e por isso vai até sua propriedade rural, não apenas para alugar sua velha máquina, mas também para seduzir sua jovem e bobinha esposa. O texto de Tennessee Williams mostra os perigos de se viver em uma ilusão, tentando-se criar uma realidade forçada, imposta. O casamento de Archie Lee e Baby Doll é um desastre em todos os aspectos. Ela não o respeita, o despreza e o humilha, mas ele insiste em continuar casado com ela, dando origem a uma relação doentia e fadada ao completo fracasso. Inseguro, não consegue consumar seu casamento com a própria esposa, ao mesmo tempo em que vive em estado de tensão esperando pela inevitável traição por parte dela. Uma aula sobre as mesquinharias da alma humana que apenas Tennessee Williams teria talento para colocar no papel. Some-se a isso a incrível sensibilidade do diretor Elia Kazan e do excelente trio de protagonistas e você certamente terá um dos melhores filmes americanos da década de 1950. Um clássico do cinema simplesmente imperdível. Uma maravilhosa obra prima cinematográfica. Nota dez com louvor!
 
Pablo Aluísio.

O Enviado de Satanás

Título no Brasil: O Enviado de Satanás
Título Original: Alias Nick Beal
Ano de Produção: 1949
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: John Farrow
Roteiro: Jonathan Latimer, Mindret Lord
Elenco: Ray Milland, Audrey Totter, Thomas Mitchell
  
Sinopse:
Joseph Foster (Thomas Mitchell) é um procurador honesto que apesar dos esforços não consegue condenar nos tribunais um famoso chefão de quadrilha do crime organizado de sua cidade. As provas que o condenariam são queimadas. Desesperado e ambicionando uma carreira de sucesso também no mundo político (ele almeja se tornar o próximo governador de seu estado), acaba dizendo a frase: "Eu daria minha alma para prender esse homem!". Em pouco tempo surge Nick Beal (Ray Milland) em sua vida, um sujeito misterioso que começa a lhe ajudar na realização de seus sonhos de vaidade e ambição.
 
Comentários:
Apesar do título nacional sugerir isso, não se trata de um filme de terror. É um drama com toques de suspense que foi nitidamente inspirado no famoso poema "Fausto" de Johann Wolfgang von Goethe. O argumento é basicamente o mesmo e se desenvolve quando um homem íntegro e honesto acaba caindo nas garras da ambição e vaidade pessoal, fazendo um pacto com o diabo para realizar seus desejos de riqueza e poder. Nesse processo acaba perdendo sua própria alma. O roteiro explora esse personagem, um procurador que começa a esquecer seus valores e princípios, tudo ambicionado por uma carreira política de sucesso. O tal enviado de Satanás (um título muito exagerado e pouco sutil do tradutor brasileiro, é bom frisar) é interpretado por Ray Milland. Um sujeito estranho que parece sempre surgir das sombras, nos momentos mais decisivos. Seus conselhos são sempre antiéticos e manipuladores, mas no calor do momento soam pertinentes e adequados para Joseph. De decisão em decisão o antes honesto e correto Joseph Foster começa a se afundar na lama da corrupção. Enquanto isso Nick Beal (Milland) vai se deliciando com a fraqueza e a pobreza espiritual dos homens em geral. O próprio nome do personagem interpretado por Ray Milland traz pistas, pois lembra Baal, um velho demônio da mitologia antiga. Um belo filme, muito interessante, valorizado por uma estética noir que lhe acrescenta e muito em termos cinematográficos. Em suma, um bom programa e uma bem realizada releitura do poema imortal de Goethe.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A Loja da Esquina

Título no Brasil: A Loja da Esquina
Título Original: The Shop Around the Corner
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Ernst Lubitsch
Roteiro: Samson Raphaelson, Miklós László
Elenco: Margaret Sullavan, James Stewart, Frank Morgan
  
Sinopse:
Alfred Kralik (James Stewart) é o melhor vendedor de uma loja de variedades em Budapeste, na Hungria. Quando Klara Novak (Margaret Sullavan) é contratada para trabalhar no mesmo estabelecimento começam os atritos. Eles não se dão muito bem e em pouco tempo a convivência começa a se tornar intolerável. O que eles nem desconfiam é que trocam cartas apaixonadas entre eles, em um programa de encontros anônimos. Apaixonados na escrita, mas implicantes no trato pessoal, eles terão uma surpresa e tanto quando suas verdadeiras identidades são reveladas depois de um longo período de troca de correspondências.

Comentários:
Pauline Kael foi uma das mais famosas críticas de cinema da história do jornalismo americano. Ela manteve uma coluna periódica na publicação "The New Yorker" por longos anos. Seus textos eram extremamente influentes e poderia levar um filme ao fracasso completo caso escrevesse uma crítica negativa. Ela era conhecida por sua aspereza e forma ácida com que destruía filmes que não lhe agradassem. Mesmo sendo considerada implacável em suas avaliações ela acabou se rendendo ao charme desse charmoso "The Shop Around the Corner". Na verdade ela se encantou tanto com essa produção que chegou ao ponto de escrever que era uma das melhores comédias românticas da história do cinema americano! Um elogio e tanto partindo de alguém que era conhecida por ser tão pouco generosa na distribuição de elogios cinematográficos. A boa notícia é que ela tinha toda a razão. Esse filme é de fato uma delícia em todos os aspectos. O roteiro é cativante e emociona o espectador não apenas pela singeleza de seu enredo, mas também pelas excelentes atuações da dupla central de atores. James Stewart sempre foi o tipo ideal para dar vida a personagens de uma honestidade de sentimentos fora do comum. Com poucos minutos você já sabe que ele é uma pessoa em que se pode confiar. Margaret Sullavan era outra preciosidade das telas. Simpática, mas também passando a sensação de ser uma mulher dos novos tempos, ela se deu muito bem ao contracenar com Stewart, dando credibilidade à dúbia situação pela qual passa sua personagem. Em suma, um dos clássicos mais charmosos da década de 1940. Uma verdadeira jóia do cinema clássico americano. Simplesmente imperdível para cinéfilos de estilo.

Pablo Aluísio.

O Crime não Compensa

Título no Brasil: O Crime não Compensa
Título Original: Knock on Any Door
Ano de Produção: 1949
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Nicholas Ray
Roteiro: Daniel Taradash, John Monks Jr
Elenco: Humphrey Bogart, John Derek, George Macready
  
Sinopse:
Andrew Morton (Humphrey Bogart) é um advogado criminalista que decide defender o jovem Nick Romano (John Derek) nos tribunais. Ele está sendo acusado de ter matado um policial durante uma fuga, após um assalto frustrado. Morton conhece Romano há muitos anos, desde que defendeu seu pai no passado, também acusado de crimes no bairro onde morava. Para o advogado, Romano seria inocente e seu passado de pequenos crimes seria apenas fruto de uma vida complicada, pois perdeu seu pai muito cedo, ainda em sua adolescência.

Comentários:
"Viva rápido, morra jovem e se torne um belo cadáver" - Esse é o lema do jovem criminoso Nick Romano (Derek) nesse filme. Criado nas ruas, tendo logo cedo contato com a criminalidade, ele acaba se envolvendo numa acusação de homicídio de um tira, logo após um assalto mal sucedido. O advogado Morton (Bogart) acredita em sua inocência e resolve lutar para provar sua inocência. O problema básico é que o jovem tem uma longa ficha policial em seu passado, pois desde a morte do pai não deixou mais de praticar pequenos crimes pelas redondezas onde mora. Esse filme é mais um da safra do excelente cineasta Nicholas Ray que enfoca a delinquência juvenil, um problema considerado muito sério na sociedade americana da época. Sua grande obra prima, explorando esse mesmo tema, viria alguns anos depois com o clássico jovem "Juventude Transviada" com o mito James Dean. Aqui ele já ensaia passos que iria usar em seu grande filme. Nicholas Ray tenta provar algumas teses com esse roteiro. A mais importante delas seria a de que muitos criminosos, principalmente os jovens, seriam na verdade vítimas da própria sociedade. É a velha teoria da justificativa social do crime. Uma maneira mais humana de entender as causas da criminalidade dentro da vida de alguns excluídos do sistema. Claro que hoje em dia essa visão está bem desacreditada, principalmente no momento atual que vivemos em nosso país. De qualquer maneira, olhando-se puramente pelo ponto de vista cinematográfico, temos aqui um bom filme, valorizado pelo uso inteligente de flashbacks e pela sempre bem-vinda presença de Humphrey Bogart que tem um longo monólogo no tribunal na cena final do filme.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de janeiro de 2018

E as Chuvas Chegaram

Título no Brasil: E as Chuvas Chegaram
Título Original: The Rains Came
Ano de Produção: 1939
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Clarence Brown
Roteiro: Philip Dunne, Julien Josephson
Elenco: Myrna Loy, Tyrone Power, George Brent
  
Sinopse:
Lady Edwina Esketh (Myrna Loy) e seu marido Lord Albert Esketh (Nigel Bruce) decidem viajar até a distante Ranchipur, na Índia, para comprar maravilhosos cavalos de raça do marajá. Lá acabam reencontrando um velho amigo, Tom Ransome (George Brent), um pintor inglês muito conhecido por ser um aventureiro que viaja o mundo em busca de diversão e emoções exóticas. Também conhecem o Major Rama Safti (Tyrone Power), um médico do exército que dedica sua vida a ajudar os mais humildes e necessitados. A aproximação com Safti acaba abalando Edwina que acaba se descobrindo apaixonada por ele, mesmo sendo casada. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais.

Comentários:
Por essa época Hollywood ficou muito interessada em produzir filmes românticos passados em lugares exóticos do mundo. Esse tipo de romance estava muito popular, atiçando a imaginação das mulheres americanas que sentiam-se massacradas pelo cotidiano duro do dia a dia e de seus relacionamentos convencionais e entediantes. Já que seus casamentos eram chatos e enfadonhos nada melhor que fantasiar, nem que fosse em breves momentos, por belas histórias de amor. Para isso era necessário apenas comprar uma entrada de cinema. Assim nada mais atraente do que vivenciar (mesmo que apenas nas telas) um romance de folhetim em regiões distantes e isoladas do chamado mundo civilizado. E se o galã fosse Tyrone Power então as coisas ficariam ainda mais atraentes para o público feminino. Não é de se admirar que esse tipo de filme rendesse ótimas bilheterias. "The Rains Came" ainda conta em seu enredo com esse fator picante envolvendo uma mulher casada que acaba sentindo uma surpreendente paixão por um médico idealista que dedica sua vida a ajudar os mais pobres. Para completar some-se a isso eventos incontroláveis da natureza, como uma tempestade que une a todos em volta da luta pela sobrevivência e você terá todos os ingredientes que fazem um grande épico de aventura e romance. O filme é tecnicamente muito bem realizado (e por essa razão acabou sendo indicado a vários prêmios técnicos na Academia como edição, som e direção de arte). A fotografia também é outro destaque (o que lhe valeu também outra importante indicação ao Oscar para o diretor de fotografia Arthur C. Miller). Em suma, paixão e aventura em um belo momento épico do cinema clássico americano na década de 1930, em um tempo distante em que ser romântico não era visto como algo ultrapassado e fora de moda.

Pablo Aluísio.

Nunca Deixei de Te Amar

Título no Brasil: Nunca Deixei de Te Amar
Título Original: Never Say Goodbye
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal International Pictures
Direção: Jerry Hopper, Douglas Sirk
Roteiro: Luigi Pirandello, Bruce Manning
Elenco: Rock Hudson, Cornell Borchers, George Sanders
  
Sinopse:
O Dr. Michael Parker (Rock Hudson) é um bem sucedido cirurgião que enfrenta uma grave situação em sua vida pessoal, envolvendo sua esposa e um misterioso assassinato. Encurralado por algo que não mais consegue controlar, ele começa então a relembrar como conheceu sua amada e doce mulher, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, na bucólica e linda Áustria. Filme baseado na peça teatral escrita pelo autor Luigi Pirandello intitulada originalmente como "Come prima, meglio di prima".

Comentários:
A carreira do ator Rock Hudson pode ser dividido em duas fases. Na primeira ele desempenhava heróis românticos em dramas sofridos e tristes na Universal. Era a época em que Rock virou um dos mais populares astros de Hollywood, geralmente em personagens galãs que procuravam por algum tipo de redenção pessoal após uma grande tragédia acontecer em suas vidas. Depois dessa fase inicial Rock finalmente descobriu a força das comédias românticas e ao lado da atriz e amiga Doris Doy começou a estrelar simpáticos e divertidos filmes cujos roteiros brincavam com as diferenças de agir, pensar e amar entre homens e mulheres. Rock trocou a estampa de galã de romances trágicos para comédias românticas bem humoradas. Esse "Never Say Goodbye" pertence ainda à primeira fase da carreira de Rock. São dramas pesados, complexos e sofridos. Os personagens vivem algum tipo de situação extrema, que os levam ao limite completo de suas forças emocionais, amorosas e psicológicas. O grande cineasta Douglas Sirk dirigiu parte do filme, mas ao final deixou que fosse creditado inteiramente ao diretor Jerry Hopper e por essa razão seu nome não aparece nos créditos. Um ato de generosidade com o colega de estúdio. Considero um dos melhores dramas da carreira de Rock, transitando muito bem entre o amor impossível e a força de uma paixão que supera a tudo e a todos.

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Nas Garras do Ódio

Título no Brasil: Nas Garras do Ódio
Título Original: The Nanny
Ano de Produção: 1965
País: Inglaterra
Estúdio: Hammer Films
Direção: Seth Holt
Roteiro: Jimmy Sangster
Elenco: Bette Davis, Wendy Craig, Jill Bennett, James Villiers, William Dix, Pamela Franklin

Sinopse:
Baseado na novela de suspense escrita por Marryam Modell, o filme conta a história de antipatia que um garotinho nutre pela mulher que foi babá de sua mãe e que continuou a morar com a família, mesmo após muitos anos. O menino é problemático e acusa a babá de ter matado sua irmã.

Comentários:
Um combinação interessante. A Hammer Films, produtora especializada em filmes de terror como Drácula, etc, contratou a atriz  Bette Davis nos anos 1960 para atuar nessa produção de suspense. O roteiro mostra uma família bem disfuncional. A mãe sofre de depressão e não consegue lidar com os problemas do dia a dia. O marido é um sujeito distante que não aguenta passar muito tempo naquela casa e o filho, bem, o filho é o mais problemático de todos. Rebelde, mimado, ofensivo, ele odeia a babá da sua mãe (interpretada por Davis) que continuou morando com ela, mesmo já adulta e casada. O menino afirma que ela matou sua irmã em circunstâncias mal esclarecidas. Assim o roteiro deixa tudo no ar: o garoto seria apenas um moleque mal criado, mentiroso e infernal ou estaria mesmo dizendo a verdade? Bette Davis, já na velhice, como sempre, tem muita dignidade em cena. Com uma maquiagem que lhe deu grossas sobrancelhas ela parece sempre calma, paciente e gentil, mas essa seria sua personalidade verdadeira ou apenas uma máscara para esconder os mais inconfessáveis desejos de cometer crimes? Assista ao filme para descobrir.

Pablo Aluísio.

Anastácia - A Princesa Esquecida

Título no Brasil: Anastácia - A Princesa Esquecida
Título Original: Anastasia
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Anatole Litvak
Roteiro: Arthur Laurents, Marcelle Maurette
Elenco: Ingrid Bergman, Yul Brynner, Helen Hayes, Akim Tamiroff, Martita Hunt, Felix Aylmer

Sinopse:
Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Anna Koreff (Ingrid Bergman), uma jovem senhorita que surge na Inglaterra afirmando ser na verdade a princesa Anastásia Nikolaevna Romanov, a filha sobrevivente do Czar Nicolau II. Anna diz ter sobrevivido ao massacre de sua família pelos comunistas durante a revolução russa. Sua presença causa transtorno entre os nobres europeus. Seria possível que ela fosse realmente a princesa perdida? Filme vencedor do Oscar e do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Ingrid Bergman). Também indicado ao Oscar na categoria de Melhor Música (Alfred Newman).

Comentários:
Em 1944 a atriz Ingrid Bergman foi premiada pela primeira vez com um Oscar por sua atuação no filme "À Meia Luz". As premiações porém não terminaram por aí. Em 1956 ela foi novamente premiada por sua atuação em "Anastácia, A Princesa Esquecida". Nessa produção elegante dirigida pelo cineasta Anatole Litvak, ela interpretava Anna Koreff, uma mulher que aparecia na imprensa mundial, muitos anos após a morte da família Romanov, o clã imperial russo, alegando ser a princesa Anastácia, cujo paradeiro desconhecido levantava inúmeras dúvidas e lendas se ainda estava viva ou não. O filme contava no elenco com o excelente Yul Brynner, interpretando o general Sergei Pavlovich Bounine. Afinal, ela era ou não a princesa desaparecida? Com classe e elegância, dignas de uma verdadeira aristocrata de sangue azul, ela realmente deixava todos em dúvida. Curiosamente Ingrid não pôde comparecer na noite de premiação, por questões de saúde. Quando seu nome foi anunciado quem subiu ao palco para receber a estatueta foi seu colega e amigo Cary Grant.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Quinteto

Título no Brasil: Quinteto
Título Original: Quintet
Ano de Produção: 1979
País: Estados Unidos
Estúdio: Lion's Gate Films
Direção: Robert Altman
Roteiro: Frank Barhydt, Robert Altman
Elenco: Paul Newman, Vittorio Gassman, Fernando Rey, Bibi Andersson, Brigitte Fossey, Nina van Pallandt

Sinopse:
Em um mundo pós-apocalíptico congelado, o caçador Essex (Paul Newman) chega em uma pequena comunidade de sobreviventes. São pessoas estranhas, frias, que não se importam mais com a violência e a barbárie. Elas passam o dia inteiro jogando "Quinteto", um estranho jogo de tabuleiro. A mulher de Essex está grávida, mas logo ele percebe que entrou em um território perigoso, onde sua vida corre um sério perigo. 

Comentários:
É um filme de ficção bem diferente. Como se trata de uma obra assinada pelo diretor Robert Altman, o cinéfilo mais experiente já sabe de antemão de que não é um filme comum. Na verdade temos aqui uma distopia bem estranha, onde os sobreviventes de um mundo congelado passam seus dias envolvidos em um jogo esquisito, que pode inclusive se tornar mortal. Esse tipo de produção nunca foi a praia de Paul Newman. Ator dramático consagrado em tantos clássicos ele surge em cena meio deslocado e nunca encontra o tom certo durante o filme inteiro. A experiência para o astro foi tão negativa que ele nunca mais voltou ao gênero. Nota-se seu desconforto nas cenas. No geral é um filme complicado, difícil, que poucos vão realmente gostar. Some-se a isso o fato de Robert Altman ter inserido uma espécie de fotografia embaçada e você vai entender porque essa produção caiu logo no esquecimento. Poucos a conhecem e o público da época não aprovou. O filme foi mal nas bilheterias.

Pablo Aluísio.

500 Milhas

Título no Brasil: 500 Milhas
Título Original: Winning
Ano de Produção: 1969
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: James Goldstone
Roteiro: John Foreman
Elenco: Paul Newman, Joanne Woodward, Robert Wagner, Richard Thomas Jr, David Sheiner, Karen Arthur

Sinopse:
Frank Capua (Paul Newman) é um piloto de corridas extremamente competitivo. Após se inscrever na famosa 500 Milhas de Indianápolis, ele fará de tudo para se tornar o grande campeão do ano, ao mesmo tempo em que precisa lidar com a bela Elora Simpson (Joanne Woodward) que pode vir a se tornar o grande amor de sua vida. 

Comentários:
Esse filme nasceu da paixão do ator Paul Newman em relação ao automobilismo. Todos os seus admiradores sabem muito bem que ele manteve por décadas sua própria equipe de corrida. No final de sua vida mantinha um escudo na Fórmula Indy, a categoria mais popular dos Estados Unidos. Então unir seu amor por carros velozes com o cinema foi mesmo uma questão de tempo. E esse filme mantém seu charme, apesar do roteiro que podemos dizer que é simples. Os personagens humanos não são tão importantes como as máquinas possantes, essa é e verdade. Assim, de acordo com o próprio gosto e desejo de Paul Newman, o filme assim foi feito. Vai agradar a todo mundo? Não, não vai, mas os fãs vão ter uma chance maior de gosto mais sobre esse famoso ator.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Django

Título no Brasil: Django
Título Original: Django
Ano de Produção: 1966
País: Itália
Estúdio: B.R.C. Produzione, Tecisa Films
Direção: Sergio Corbucci
Roteiro: José Gutiérrez Maesso, Piero Vivarelli
Elenco: Franco Nero, Loredana Nusciak, Eduardo Fajardo, José Bódalo

Sinopse:
Vagando pelo meio do deserto o pistoleiro Django (Franco Nero) acaba salvando a vida de uma mulher que está sendo chicoteada por bandidos. Juntos vão até uma cidade lamacenta e perdida no meio do nada que é disputada por dois grupos armados, o primeiro formado por revolucionários mexicanos e o segundo por confederados sulistas liderados por um corrupto oficial.

Comentários:
Não restam dúvidas que Django é um dos mais famosos faroestes do chamado Western Spaguetti. Na época de seu lançamento causou grande repercussão não apenas por algumas propostas que eram realmente inovadoras como também pela violência explícita. Por causa desse último fator o filme foi lançado em alguns países europeus com a mais rígida classificação etária, sendo proibido para menores de 18 anos. Um exagero obviamente. Django ainda hoje se mantém como um produto bem realizado. Claro que revisto atualmente muitas das sequências vão soar fantasiosas demais ou exageradas, mas isso fazia parte de um estilo de fazer cinema que já não existe mais. Os faroestes macarrônicos eram assim mesmo. De positivo temos uma boa direção de arte – a cidade onde Django chega, por exemplo, é um lamaçal completo, suja, feia e abandonada. Sua imagem carregando um caixão, completamente enlameado, entrou na cultura pop e virou um ícone daquele estilo. O próprio Franco Nero, bronzeado, de olhos azuis, chegou até mesmo a virar símbolo sexual e sua interpretação se tornou um tipo de modelo a ser seguido em centenas e centenas de outros Spaguettis. Seu Django era um sujeito durão, de poucas palavras e capaz de grandes façanhas com seu revólver. O diretor Sergio Corbucci tinha preferências por enredos desse tipo, bem crus, mas nunca se descuidava dos aspectos técnicos em seus filmes. Os cenários eram bem pensados, as tomadas de cena procuravam tirar o melhor proveito do momento e os roteiros, mesmo simples como eram, sempre procuravam fisgar o espectador com cenas marcantes. Django está repleto desses momentos. 

Logo na primeira cena o diretor procura mostrar todo o seu estilo. O pistoleiro Django surge bem no meio do nada, carregando um pesado caixão. Esse tipo de coisa fica marcada na mente do espectador, não tem jeito. Outra cena muito interessante é aquela em que Django finalmente revela o que traz dentro desse caixão que sempre o acompanha. É um impacto certamente. O enfrentamento contra os soldados sulistas mais lembram produções de ação dos anos 80 do que qualquer outra coisa. De certa forma Django inspiraria aqueles filmes em que um homem conseguia liquidar todo um exército praticamente sozinho. É claro que é inverossímil, é claro que é exagerado, mas também é o tipo de sequência estilizada que o público da época adorava! Franco Nero se consagrou no papel e praticamente nunca mais se livrou dele. Chegou a realizar alguns outros filmes como Django, com o mesmo Corbucci como roteirista, mas sem o mesmo impacto. Depois disso o personagem Django acabaria trilhando o mesmo caminho de outro personagem popular do cinema italiano, Maciste, aparecendo em dezenas e dezenas de outros filmes, muitos deles de baixíssimo orçamento e de qualidade técnica bem pobre. O excesso de exploração comercial acabou queimando o personagem que virou símbolo de cinema mal feito, vendido de qualquer jeito. O que vale a pena mesmo nesse mar de “Djangos” é realmente esse, o primeiro filme, o original, os demais são meras imitações baratas. Se você gostou de “Django Livre” de Tarantino não deixe de reservar um tempinho para assistir (ou redescobrir) o Django original de Franco Nero e Sergio Corbucci. Provavelmente você vai achar no mínimo bem interessante.
 
Pablo Aluísio.

Dominados pelo Terror

Esse é um western diferente, pois não se resume em contar a história de uma família de rancheiros, usando apenas daquela velha fórmula que conhecemos tão bem, valorizando a coragem desses pioneiros que foram para o oeste. Ao contrário disso investe em dramas familiares, mostrando as complexas relações entre os irmãos que no fundo não se suportam. Robert Mitchum é o irmão do meio. Ele tem uma personalidade forte, dominante. Também tem uma visão cínica do mundo. Ele sempre tem uma frase sórdida e ácida para dizer aos seus familiares. Quando o gado começa a aparecer morto, ele sai a cavalo ao lado de seu irmão mais velho para caçar a pantera negra que estaria matando os bovinos de seu rancho.

O lugar é inóspito, localizado no alto das montanhas de Montana, onde há muito neve e perigos em todos os lugares. Há um velho nativo que mora com a família. Ele tem visões sobrenaturais com a pantera, como se essa fosse uma manifestação do mundo espiritual. No fundo o animal funciona dentro do roteiro quase como uma metáfora da própria morte. O resultado é no mínimo estranho. Há um clima sombrio e de trevas que atravessa todo o filme, algo muito surreal e pouco comum em filmes de faroeste. Os mais velhos não são sábios, mas sim pessoas desprovidas de esperança, de boas virtudes. O velho pai do personagem de Mitchum vive atrás de sua garrafa de whisky que esconde em todas as partes do casarão, a mãe é uma mulher dura, com ares de fanatismo religioso. Um clima nada bom, em um filme com um tom tão escuro que em determinados momentos causa até mesmo agonia no espectador.

Dominados pelo Terror (Track of the Cat, Estados Unidos, 1954)  Direção: William A. Wellman / Roteiro: A.I. Bezzerides, baseado na novela escrita por Walter Van Tilburg Clark / Elenco: Robert Mitchum, Teresa Wright, Diana Lynn, Tab Hunter / Sinopse: Dois irmãos de uma família de rancheiros sobem às montanhas para caçar uma pantera negra que estaria matando todo o gado de seu rancho. No caminho encontram não apenas um animal comum, mas também uma manifestação sobrenatural da própria morte.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Dívida de Sangue

Título no Brasil: Dívida de Sangue
Título Original: Cat Ballou
Ano de Produção: 1965
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Elliot Silverstein
Roteiro: Walter Newman, Frank Pierson
Elenco: Jane Fonda, Lee Marvin, Michael Callan, Nat 'King' Cole
  
Sinopse:
A jovem e educada Catherine Ballou (Jane Fonda) retorna para sua cidade natal, Wolf City, após longos anos estudando fora. Seu pai, um pequeno fazendeiro da região, anda ameaçado por bandidos e pistoleiros. Após sua morte ela decide reunir um grupo para se vingar de seu assassinato. Contrata o famoso pistoleiro Kid Shelleen (Lee Marvin), mas logo descobre que ele não faz jus ao seu nome e nem à sua fama, pois passa os seus dias completamente embriagado, mal se sustentando na sela de seu cavalo. Desesperada, Catherine resolve então  assumir a identidade de Cat Ballou, a musa e rainha dos Foras-da-Lei. Filme vencedor do Oscar e do Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator (Lee Marvin). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição, Melhor Música e Melhor Canção Original ("The Ballad of Cat Ballou" de autoria de Jerry Livingston e Mack David). 

Comentários:
Passa longe de ser um western convencional. Se trata na realidade de uma comédia musical muito divertida que procura brincar com todo o bom humor com os clichês dos filmes de faroeste. O enredo pode ser descrito até mesmo como cartunesco ou uma peça de teatro bufa. Há inclusive elementos bem teatrais em seu desenvolvimento, como os dois cantores (ou seriam menestréis?) que vão contando a divertida história da pistoleira e fora da lei Cat Ballou. É claro que o espectador não deve levar nada, mas absolutamente nada mesmo, à sério, pois tudo se desenvolve nesse divertido tom de farsa meio maluca. Em termos de elenco temos dois destaques absolutos. O primeiro, como não poderia deixar de ser, vem da preciosa presença da maravilhosa e linda Jane Fonda. Ainda bem jovem, ela demonstra ter um timing incrível para o humor. Sua personagem começa como uma jovem inocente, recém saída de uma escola para moças de fino trato. De volta à fazenda do pai, um sujeito tosco e rude, ela precisa mudar sua forma de ser, principalmente depois que entende que ele anda ameaçado por pessoas inescrupulosas que desejam tomar suas terras. Depois da morte de seu querido pai, não há outra maneira a não ser cair no mundo do crime, assaltando um trem com um belo carregamento de ouro para o pagamento de trabalhadores da estrada de ferro. Jane, na flor da idade, era belíssima. Seu pai, o grande Henry Fonda, provavelmente teve orgulho dessa sua atuação. 

O outro grande ponto de destaque desse elenco vem com o fantástico Lee Marvin. O ator, que se notabilizou pelos personagens maus e vilões em filmes de western, deixou a vaidade pessoal de lado a abraçou a comédia escrachada com um brilhantismo digno de aplausos. Ele interpreta dois pistoleiros. Um é o vilão, um sujeito mal encarado e sempre disposto a matar, desde que lhe paguem bem. Todo vestido com um figurino negro, lembra os antigos personagens de Marvin nos filmes de Randolph Scott. O outro é uma lenda das publicações baratas, Shelleen Kid. Se nos pequenos panfletos (que eram bem populares na época) ele surgia como um herói sem máculas, na vida real não passava de um  alcoólatra, caindo pelos cantos, implorando por mais uma dose de whisky barato. Lee Marvin transformou seu papel em um pateta e está muito divertido em sua caracterização, a ponto inclusive de ter sido premiado com o Oscar por sua atuação, em um reconhecimento mais do que merecido. Por fim e não menos importante é bom ressaltar a presença da lenda da música americana Nat 'King' Cole, intercalando o divertido enredo com seu talento maravilhoso, cantando as músicas do filme. Em suma, uma comédia divertida, bem humorada, para se assistir com extrema leveza. Se você gosta de faroestes e não se importa que transformem alguns clichês do gênero em uma piada engraçada, certamente vai gostar do resultado. O importante é relaxar e se divertir o máximo possível.

Pablo Aluísio.

A Lei da Coragem

Título no Brasil: A Lei da Coragem
Título Original: Two-Fisted Law
Ano de Produção: 1932
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: D. Ross Lederman
Roteiro: William Colt MacDonald, Kurt Kempler
Elenco: Tim McCoy, John Wayne, Alice Day, Wheeler Oakman, Tully Marshall, Wallace MacDonald

Sinopse:
Tim Clark (Tim McCoy), um pacato e honesto rancheiro do Texas, vê sua paz e tranquilidade acabar quando alguns mineradores encontram prata nas montanhas que circulam sua propriedade rural. Agora todos cobiçam seu rancho e querem liquidá-lo para colocar as mãos no rancho que lhe pertence.

Comentários:
John Wayne se saiu tão bem na fita anterior que foi produzida pela Columbia Pictures que logo foi escalado também para outro bang-bang de Tim McCoy. Esse segundo filme, também rodado e lançado em 1932 se chamava "A Lei da Coragem" (Two-Fisted Law). O roteiro era bem simples, mas movimentado e divertido. No centro da trama tínhamos um pacato rancheiro que acaba se vendo no meio de uma disputa por prata nas montanhas próximas de sua propriedade rural. Curiosamente nesse filme John Wayne usou o nome de Duke, que nomeava seu personagem e que também era o seu apelido pessoal, bem conhecido de todos que frequentavam sua recém comprada casa em Hollywood. O Duke do roteiro foi levado pelo próprio Duke, ou seja, ele mesmo, John Wayne. Algo que soava bem familiar para todos os seus amigos próximos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Família e Honra

Título no Brasil: Família e Honra
Título Original: The Timber
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: MediaPro Studios
Direção: Anthony O'Brien
Roteiro: Steve Allrich, Anthony O'Brien
Elenco: James Ransone, Elisa Lasowski, Mark Caven
  
Sinopse:
Dois jovens, que vivem no rancho deixado pelo pai que há muito desapareceu, são informados que a hipoteca de sua propriedade em breve será executada e eles perderão tudo. Só há um meio de evitar isso: pagando o que devem para o banco. Desesperados, sem ter o dinheiro necessário para pagar as dívidas, eles decidem sair em caçada do próprio pai, um homem que é foragido da lei cuja recompensa foi estimada em mais de vinte mil dólares, um valor que serviria para que eles pagassem ao banco, mantendo seu rancho na família. Refugiado há muitos anos no alto de uma montanha distante e isolada a busca por ele será uma verdadeira jornada de vida ou morte.

Comentários:
Infelizmente não se fazem mais bons filmes de faroeste como antigamente. Veja o caso dessa produção. Lançada diretamente no mercado de venda direta ao consumidor nos Estados Unidos a fita apresenta vários problemas. O enredo é dos mais simples, o que me fez até mesmo lembrar de alguns westerns do passado. O problema central é que o diretor Anthony O'Brien não parece ter tido a habilidade necessária para contar sua história, o que é de se admirar pois não há muito o que contar. Basicamente é a busca de dois jovens ao pai, um sujeito foragido e com a cabeça a prêmio, com vinte mil dólares de recompensa. Passada a apresentação da história eles partem em busca dele em uma montanha nevada. Sinceramente não haveria maiores problemas em se contar algo tão básico. A direção porém consegue complicar até mesmo um enredo simples como esse. Em determinado momento a edição fica confusa, truncada demais. A sensação que temos é que houve um corte brutal nos acontecimentos (provavelmente houve mesmo por causa da pouca duração dessa versão, com pouco mais de oitenta minutos de duração). 

Assim os fatos do enredo vão surgindo de forma atropelada, muitas vezes sem maiores explicações. Só para se ter uma ideia do que estou escrevendo em determinado momento eles entram numa caverna para se alojar do clima hostil e lá encontram uma espécie de "homem-urso" que surge do nada e desaparece sem maiores explicações! Depois quando chegam a um acampamento de mineradores no alto da montanha são aprisionados e torturados por um homem que cita passagens bíblicas enquanto os tortura! Por quê? O roteiro não explica! Curiosamente as personagens femininas (as duas mulheres que ficam no rancho) parecem ser mais interessantes do que os dois irmãos em sua caçada, mas o diretor erra novamente ao não desenvolver nenhuma delas de forma minimamente satisfatória. Como o filme em si é mal desenvolvido o espectador começa rapidamente a perder o interesse. O bocejo assim se torna inevitável. Em suma, um filme fraco que se salva apenas pelas bonitas paisagens onde foi filmado, uma região de neve espessa e eterna no arredores de Bucareste, na Romênia. Fora isso "The Timber" deixa muito a desejar em termos de roteiro e edição, sendo essa simplesmente desastrosa.

Pablo Aluísio.

O Soldo do Diabo

Título no Brasil: O Soldo do Diabo
Título Original: Man in the Shadow
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Jack Arnold
Roteiro: Gene L. Coon
Elenco: Jeff Chandler, Orson Welles, Colleen Miller, Ben Alexander
  
Sinopse:
Ben Sadler (Jeff Chandler) é o xerife de uma pequena cidade do oeste americano. Por lá não costumam ocorrer muitos crimes, na maioria das vezes são apenas bebedeiras e pequenos incidentes que acontecem no saloon da rua principal. Não há nada mesmo de muito  grave para se fazer na vida de um homem da lei. As coisas mudam quando um trabalhador mexicano vai até a delegacia de Ben e lhe denuncia um assassinato ocorrido justamente no maior rancho da região, o Império Dourado. Um jovem capataz teria sido brutalmente espancado e morto após ficar muito próximo da filha do patrão, o poderoso rancheiro Virgil Renchler (Orson Welles). Agora Ben precisará investigar o suposto crime ao mesmo tempo em que sofrerá todo tipo de pressão para não seguir em frente com seu trabalho.

Comentários:
"Man in the Shadow" se passa no moderno oeste americano. Em certos momentos me lembrou muito do clássico "Matar ou Morrer", memorável filme de western dirigido por Fred Zinnemann e estrelado por Gary Cooper. As semelhanças existem porque ambos os enredos mostram um honesto xerife precisando lidar praticamente sozinho com a aplicação da lei e da ordem numa cidadezinha perdida no oeste. Para o protagonista interpretado por Jeff Chandler a situação é ainda mais delicada porque o alvo de suas investigações é justamente o homem mais rico e poderoso da região, Virgil Renchler (Orson Welles). Arrogante e se considerando acima da lei, ele não aceita que suas imensas terras se tornem o palco das investigações do xerife. Para piorar o homem da lei não consegue encontrar maiores pistas a não ser o testemunho de uma velho empregado do rancho que teria visto tudo. Depois que ele também é encontrado morto não existem mais dúvidas que um grande plano de acobertamento está mesmo sendo feito, tudo para que os verdadeiros assassinos não sejam punidos. 

Gostei bastante de "O Soldo do Diabo " pois é um filme de curta duração (com pouco mais de 70 minutos) que consegue contar muito bem sua história. O elenco tem dois grandes destaques. O primeiro é o galã de cabelos grisalhos Jeff Chandler. O xerife que interpreta é um homem honesto e íntegro que precisa lidar até mesmo com a hipocrisia da sociedade na cidade onde trabalha. Mesmo todos sabendo que algo muito errado aconteceu no rancho eles não querem que nada seja investigado, uma vez que a maioria deles dependem economicamente de seu proprietário. O outro grande destaque vem com a presença do grande Orson Welles. Consagrado como cineasta de grande talento sempre achei seu trabalho como ator muito subestimado. Seu personagem nesse filme é um achado. Ele é um sujeito que acredita que sua riqueza e poder o deixam completamente imune a qualquer tipo de lei. Violento com as pessoas se mostra particularmente vulnerável quando se trata de sua única filha. Esse excesso de proteção em relação a ela acaba sendo seu grande erro pois seus capangas acabam cometendo um erro fatal. Em suma, bom faroeste que vai fundo sobre a culpa coletiva que muitas vezes surge dentro de uma sociedade assolada pelo crime e pela morte.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Marcha de Heróis

Título no Brasil: Marcha de Heróis
Título Original: The Horse Soldiers
Ano de Produção: 1959
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: John Ford
Roteiro: John Lee Mahin, Martin Rackin
Elenco: John Wayne, William Holden, Constance Towers
  
Sinopse:
Durante a guerra civil americana o Coronel John Marlowe (John Wayne) da União recebe uma missão ousada e perigosa. Ele precisará adentrar o território inimigo, indo em direção ao coração do sul rebelde e confederado, para destruir uma importante estação ferroviária chamada Newton, que está sendo usada como uma vital via de reposição de tropas e recursos para os exércitos sulistas. A empreitada, praticamente suicida, acaba colocando frente a frente dois oficiais que não se dão muito bem, o próprio Marlowe e o Major Henry Kendall (William Holden), médico cirurgião do exército. A marcha acaba se revelando uma jornada de superação e heroísmo. Filme indicado ao Directors Guild of America na categoria de Melhor Direção (John Ford).

Comentários:
O mestre John Ford (1894 - 1973) elevou o gênero Western a um novo patamar. Ele recriou a mitologia do velho oeste e consagrou um dos mais importantes fenômenos cinematográficos da história. Os faroestes dirigidos por Ford não se contentavam apenas em contar boas histórias, em excelentes produções, mas também criar toda uma nova mitologia americana, louvando a bravura do homem do oeste. Aqui o foco se dirige em direção à guerra civil, o conflito armado que mais ceifou vidas americanas durante toda a história daquela nação. Wayne interpreta esse velho Coronel, um sujeito durão, formado pelas adversidades da vida. No passado ele viu seu filho morrer por causa de uma imperícia médica e por essa razão acabou criando uma aversão natural por médicos em geral. Ao ter que lidar com o cirurgião Henry Kendall (Holden) durante uma perigosa missão rumo ao sul as coisas realmente começam a sair do controle. O roteiro, muito bem estruturado e dividido em pequenas tramas independentes que vão sendo exploradas ao longo do filme, se revela muito acima da média, investindo bastante nas relações humanas de todos os personagens. 

Isso não se limita ao tenso convívio entre o durão Coronel e o médico cirurgião de sua tropa, mas também em relação a uma dama sulista, Miss Hannah Hunter (Constance Towers), que eles precisam levar a tiracolo depois que ela descobre importantes planos da União. Não demora muito e o Coronel acaba desenvolvendo sentimentos em relação à mocinha, uma velha presença constante na obra de Ford, sempre procurando também trazer um pouco de  romance mesmo em suas tramas essencialmente masculinas e feitas para os homens dos anos 50. Ford também se dá ao luxo de colocar o Coronel interpretado por John Wayne em crise existencial ao perceber que ele no final das contas está destruindo aquilo que construía antes da guerra (já que o velho Coronel Marlowe foi engenheiro ferroviário antes da guerra civil). Em um bar, ouvindo as dinamites explodirem as linhas de trem, o velho oficial finalmente desaba e tem um ataque de nervos, algo incomum para um típico herói de faroestes daquela época. O bom humor também não é deixado de fora pelo roteiro. Os sulistas que surgem geralmente são caipirões indigestos e o conflito iminente entre a cavalaria da União e uma guarnição sulista composta apenas por garotos da escola militar acabam gerando os momentos mais divertidos de todo o filme. O clímax também é ótimo, na travessia da ponte que significa a salvação e a liberdade para aqueles bravos soldados da União. Assim não existe outra qualificação para "The Horse Soldiers", pois é uma obra cinematográfica realmente grandiosa que faz jus a toda genialidade de seu diretor. Um faroeste que jamais poderá faltar em sua coleção. Realmente imprescindível!

Pablo Aluísio.

Texas Rising

Título no Brasil: Texas Rising
Título Original: Texas Rising
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: A+E Studios, ITV Studios America
Direção: Roland Joffé
Roteiro: Darrell Fetty, Leslie Greif
Elenco: Bill Paxton, Stephen Monroe Taylor, Trevor Donovan
  
Sinopse:
Série de western que se propõe a contar eventos históricos marcantes da colonização do velho oeste americano, entre eles a guerra que definiu os rumos do estado do Texas, quando um exército americano liderado por Sam Houston (Bill Paxton) se empenhou bravamente em expulsar as tropas mexicanas sob comando do general Antonio Lopez de Santa Anna (Olivier Martinez) de seu território, logo após o massacre do forte Álamo.

Comentários:
Embora tenha assistido ainda apenas alguns episódios dessa nova série "Texas Rising" já me sinto plenamente confortável em recomendá-la. A produção é excelente e o roteiro consegue mesclar o lado histórico do surgimento do Texas como estado livre e independente a cenas extremamente bem realizadas no campo de batalha. Um dos personagens centrais, como não poderia deixar de ser, é o comandante Sam Houston (Bill Paxton). No primeiro episódio ele se encontra com suas tropas estacionadas em uma colina e envia homens para descobrir os desdobramentos da chegada do exército do general mexicano Santa Anna no forte Álamo. As notícias porém são as piores possíveis. Mesmo lutando bravamente por vários dias o forte finalmente caiu, após todos os seus combatentes serem mortos sem piedade pelo exército inimigo. A série começa justamente aqui, no dia seguinte ao colapso do Álamo, que ao longo dos anos viraria um importante símbolo para o povo texano, uma verdadeira bandeira de sua luta contra as forças vindas de um México ditatorial, tirano e sanguinário. Naquele momento histórico o que o povo do Texas mais almejava era a liberdade proporcionada pela federação norte-americana que estava se formando. A República do Texas estava nascendo exatamente naquele conflito. Assim "Texas Rising" satisfaz até mesmo o mais exigente dos espectadores. Tem ótima reconstituição de época, bom roteiro, direção precisa e elenco afinado. Tudo isso somado ao fato de termos agora uma nova série de western para acompanhar na TV, o que convenhamos é uma ótima notícia.

Pablo Aluísio.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Pistoleiros em Duelo

Título no Brasil: Pistoleiros em Duelo
Título Original: Gunfight in Abilene
Ano de Produção: 1967
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: William Hale
Roteiro: Berne Giler, John D.F. Black
Elenco: Bobby Darin, Emily Banks, Leslie Nielsen, Donnelly Rhodes
  
Sinopse:
Durante a Guerra Civil Americana o Major Cal Wayne (Bobby Darin) mata acidentalmente um companheiro de armas. Quando a guerra chega ao fim ele decide retornar para sua cidade natal, Abilene, onde havia sido xerife antes de se alistar no exército confederado. Curiosamente todos pensavam que ele estava morto, inclusive seu grande amor, Amy Martin (Emily Banks), que agora está comprometida, prestes a se casar, com o rico homem de negócios Grant Evers (Leslie Nielsen), justamente o irmão do homem que Cal matou de forma acidental no front.

Comentários:
Faroeste B da Universal que tentou lançar o cantor Bobby Darin como astro em Hollywood. Não deu muito certo. Darin tinha uma bela voz e chegou a gravar excelentes discos, a maioria deles seguindo o estilo de seu grande ídolo Frank Sinatra. Como ator porém ele era muito limitado, mesmo para filmes que não exigissem muito no quesito atuação. Aqui ele interpreta um veterano confederado que ficou traumatizado após matar seu próprio amigo durante a confusão de uma batalha sangrenta. De volta para a vida civil ele tenciona se casar com a namoradinha que havia deixado em Abilene, mas boatos de que teria morrido em campo fizeram com que ela se comprometesse com outro homem, bem mais velho porém extremamente bem sucedido no ramo de pecuária. Esse curioso personagem que usa um braço de madeira por ter perdido em um acidente muitos anos antes é interpretado por Leslie Nielsen. Bom, se você gosta de cinema certamente se lembrará do senhor grisalho que estrelou diversas comédias escrachadas ao estilo "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!". Essa foi uma fase tardia de sua carreira e a que ele mais teve sucesso comercial. Na década de 1960 o ator ainda interpretava sujeitos durões em filmes como esse. No geral "Gunfight in Abilene" é um bom western. Tem um roteiro redondinho, bem escrito e por ser um filme curtinho jamais aborrece o espectador. O grande fraco em termos de elenco vem mesmo da atuação modesta de Darin que como ator não convencia. Pena que ele não cante em cena, embora desfile uma boa performance na canção "Amy" que abre e fecha o filme. Enfim, vale pelo menos pela diversão ligeira.

Pablo Aluísio.

Os Cowboys

Título no Brasil: Os Cowboys
Título Original: The Cowboys
Ano de Produção: 1972
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Mark Rydell
Roteiro: William Dale Jennings, Irving Ravetch
Elenco: John Wayne, Roscoe Lee Browne, Bruce Dern
  
Sinopse:
Em plena corrida do ouro nas montanhas, o rancheiro Wil Andersen (John Wayne) acaba ficando sem cowboys para tocar seu gado do Colorado até a Califórnia onde os animais serão vendidos. Todos estão atrás do suposto ouro das minas e ninguém mais deseja se empenhar em um trabalho tão árduo, perigoso e penoso como aquele. A jornada é longa e cheia de desafios e sem homens experientes se torna praticamente impossível de realizar. Seguindo a sugestão de um amigo e em desespero, Andersen acaba contratando como empregados um bando de jovens adolescentes, garotos que mal saíram da escola. Junta-se a esse inusitado grupo o cozinheiro Jebediah Nightlinger (Roscoe Lee Browne). No caminho uma série de desafios os esperam, algo que mudará a vida de todos para sempre. Filme premiado pelo Western Heritage Awards.

Comentários:
Esse é certamente um dos melhores filmes da fase final da carreira do grande John Wayne (1907 - 1979). O ator já caminhava para o seu final quando a Warner teve a brilhante ideia de produzir esse western diferente, mostrando um grupo de garotos tentando se transformar em homens no velho oeste. Para isso eles acabam sendo contratados por um rancheiro durão (interpretado pelo próprio Wayne) para uma jornada épica: atravessar as pradarias selvagens do oeste até a Califórnia para vender seu rebanho. Essa temática aliás sempre foi muito bem explorada pelo cinema americano, basta lembrar de outros filmes famosos e consagrados com o próprio John Wayne como "Rio Vermelho", por exemplo. Aqui o grande diferencial é realmente o elenco jovem pois Wayne jamais havia contracenado com tantos garotos de uma só vez antes. É justamente desse choque de realidades, entre um veterano rancheiro, já velho e experiente e os meninos que o acompanham que nasce o grande interesse do filme. John Wayne, como sempre, está ótimo. Mesmo envelhecido ele tinha uma presença e um carisma fora do comum. No roteiro desse faroeste ele se torna logo uma espécie de mentor para os cowboys adolescentes que fazem parte de seu grupo. O experiente cowboy precisa ensinar a todos eles o valor do trabalho duro, da disciplina e da honestidade. Os mesmos valores que construíram a saga do pioneiro do oeste americano. Ao seu lado conta com a ajuda de apenas outro adulto, o cozinheiro Jebediah Nightlinger. Interpretado pelo ótimo ator negro Roscoe Lee Browne, esse personagem logo se torna uma das melhores coisas do filme, já que ele é sábio também em relação à vida e não apenas ao seu ofício. 

Também se torna peça chave do enredo quando um assassinato covarde acontece no meio da jornada. O vilão Long Hair (Bruce Dern) também é outro achado do filme. Ele acabou de sair da prisão e procura Wil Andersen (Wayne) para fazer parte do trabalho de levar seu rebanho pela vastidão do oeste, mas é recusado por ser na realidade um mentiroso e um ladrão de gado. Ao perceber que a caravana será escoltada por meninos forma um novo bando de ladrões para roubar todos os animais na travessia. O ator Bruce Dern além de construir um vilão brilhantemente asqueroso ainda teve a "honra" de interpretar um dos poucos vilões que conseguiram matar John Wayne em cena! Essa cena que ficou famosa também chocou em parte o público que acompanhava a carreira de Wayne no cinema por tantos anos, já que era algo tão raro, afinal de contas os personagens de John Wayne sempre tinham sido praticamente imbatíveis em seus filmes anteriores. A sua morte porém foi plenamente justificada, abrindo espaço para um ato final saboroso de vingança e justiça por parte dos garotos que assim deixavam de ser meninos para se tornarem enfim homens de verdade, homens do velho oeste. Assim não temos outra conclusão, "The Cowboys" é de fato outro grande momento de John Wayne em sua já tão brilhante e maravilhosa carreira cinematográfica.

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Três Anúncios Para um Crime

Esse filme está sendo apontado por alguns críticos nos Estados Unidos como um dos mais fortes concorrentes a vencer o Oscar na categoria de melhor filme do ano. É a história de uma mãe, Mildred (Frances McDormand), que após a morte brutal da filha (ela foi estuprada, assassinada e seu corpo queimado), resolve constranger os policiais da pequena cidade onde mora porque eles não conseguiram descobrir o autor do crime. Assim ela aluga três outdoors na estrada e coloca lá frases de indignação e ironia com o fato da polícia nunca ter pego o assassino de sua filha. Claro que algo assim logo se torna o principal tema de conversas da cidade, até porque o xerife local, Willoughby (Woody Harrelson), é querido dentro da comunidade e as pessoas em geral acabam ficando do seu lado.

O roteiro assim se desenvolve em cima desse clima de constrangimento e tensão com as placas provocativas contra a polícia, sua inércia e incompetência de colocar atrás das grades o criminoso que matou a jovem garota. Um dos policiais da equipe do xerife é um sujeitinho desprezível (interpretado com maestria por Sam Rockwell), conhecido na cidade por prender e torturar negros sem motivos, tudo fruto apenas de seu racismo. Mexer com pessoas assim não parece ser uma boa ideia, mas Mildred segue em frente, mesmo sofrendo todos os tipos de intimidações. Ela quer a solução do crime, quer o assassino atrás das grades e não mede esforços para isso, nem que tenha que passar por cima de toda aquela caipirada que mora naquele lugar esquecido por Deus.

Olha, sendo bem sincero, a trama desse filme não me pareceu grande coisa. De fato o roteiro não avança muito. Você fica esperando alguma coisa acontecer ou se resolver, mas tudo vai ficando na mesma situação, batendo na mesma tecla. Passa longe, em minha opinião, de ser considerado o melhor filme do ano! Acho essa consideração até um pouco absurda. Talvez isso seja o retrato da queda de qualidade dos filmes nos últimos anos. Até fitas medianas como essa acabam ganhando um status fora de propósito. A única qualidade mais louvável vem do elenco, esse sim muito bom, acima da média. Tanto Frances McDormand, como Woody Harrelson, estão muito bem. Eles são grandes atores e isso era até de se esperar. Até o pequeno grande ator Peter Dinklage, que não tem muito espaço dentro da história, está bem. Assim a grande força dessa produção vem do elenco realmente. Já o roteiro e a trama em si me pareceram bem convencionais, com nada de extraordinário para ganhar tanta atenção.

Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, Estados Unidos, 2017) Direção: Martin McDonagh / Roteiro: Martin McDonagh / Elenco: Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, Peter Dinklage / Sinopse: Após a morte horrível de sua filha, uma mãe resolve partir pra cima dos policiais que não resolveram e solucionaram o caso. Ela aluga três outdoors com mensagens irônicas e provocativas contra os tiras. Isso acaba causando uma grande repercussão na cidadezinha onde mora. Filme vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Roteiro, Melhor Atriz (Frances McDormand) e Melhor Ator Coadjuvante (Sam Rockwell). Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Frances McDormand), Melhor Ator Coadjuvante (Sam Rockwell), Melhor Ator Coadjuvante (Woody Harrelson), Melhor Roteiro, Edição e Trilha Sonora incidental.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O Destino de uma Nação

Mais uma produção que está concorrendo ao Oscar de Melhor Filme do ano. Mais uma que tem como protagonista o Primeiro Ministro inglês Winston Churchill. A história se passa logo no começo da II Guerra Mundial. O premier Neville Chamberlain está desacreditado depois de tentar inúmeras vezes manter uma paz com Hitler. Com isso chega a hora de eleger um novo Primeiro Ministro. Churchill é visto com desconfiança geral, por ser considerado muito belicista. Só que diante das circunstância não há outro caminho. O roteiro assim explora a ascensão de Churchill ao poder e os primeiros desafios que teve que enfrentar, entre eles uma forte oposição dentro de seu próprio gabinete.

Antes de qualquer consideração aqui vai uma dica interessante ao leitor. Procure assistir a três filmes recentes como se eles estivessem contando a mesma história (coisa que efetivamente estão). Primeiro o cinéfilo deve ver esse "O Destino de uma Nação" que conta a subida de Winston Churchill ao poder. Depois assista a "Dunkirk" que também está concorrendo ao Oscar de Melhor Filme, uma produção que conta como foi a retirada de Dunquerque, algo que aliás faz parte do roteiro desse primeiro filme também. Por fim confira "Churchill" de Jonathan Teplitzky, filme de 2017, que conta os momentos decisivos da guerra, nas vésperas do Dia D, quando os aliados invadiram o norte da Europa, colocando fim na dominação nazista na Europa. Com esses três filmes o espectador terá uma ampla visão da história de Winston Churchill durante esse período histórico decisivo.

Voltando para "O Destino de uma Nação" uma das coisas que mais foram elogiadas nessa produção foi a atuação do ator Gary Oldman como Churchill. Ele não tem a idade e biotipo do Primeiro Ministro, porém conseguiu fazer um grande trabalho, mesmo embaixo de maquiagem pesada. Todos sabem que Gary Oldman sempre foi um camaleão e aqui não seria diferente. Ele só derrapa brevemente em alguns momentos, quando parece estar um pouco caricatural demais. Fora isso está perfeito. Por fim, para terminar essa resenha, chamo atenção para algumas cenas que fazem o filme valer a pena. Uma delas ocorre quando Churchill resolve pegar um metrô sozinho, para entrar em contato com o povo inglês, com o homem comum. Outro grande momento acontece quando ele finalmente supera seus adversários e conclama o parlamento para a guerra, que é inevitável. Excelentes cenas em um filme que desde já segue a passos largos para se tornar um clássico contemporâneo do cinema.

O Destino de uma Nação (Darkest Hour, Estados Unidos, Inglaterra, 2017) Direção: Joe Wright / Roteiro: Anthony McCarten / Elenco: Gary Oldman, Lily James, Kristin Scott Thomas / Sinopse: O filme "Darkest Hour" conta os eventos históricos reais que culminaram na ascensão de Winston Churchill ao cargo de primeiro ministro, logo no começo das invasões nazistas por toda a Europa, fatos que deram origem à II Guerra Mundial. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Gary Oldman), Melhor Fotografia (Bruno Delbonnel), Melhor Figurino (Jacqueline Durran), Melhor Design de Produção (Sarah Greenwood e Katie Spencer) e Melhor Maquiagem (Kazuhiro Tsuji e David Malinowski). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator (Gary Oldman).

Pablo Aluísio.

Filmes no Cinema - Edição XVIII

Quais filmes estão em cartaz nos cinemas? "Tom & Jerry: O Filme" é o principal lançamento nos cinemas brasileiros nessa semana. Vai ocupar a maioria das salas de cinema do circuito comercial. Tom & Jerry são personagens bem antigos. Foram criados em 1940 pelo geniais William Hanna e Joseph Barbera. A série de desenhos animados foi um grande sucesso na TV americana, dando origem e inúmeras outras repaginações em versões posteriores. Agora Hollywood traz de volta essa criação em um filme que mistura personagens criados por computação gráfica, interagindo com atores reais.

A historinha é bem básica, como convém a Tom e Jerry. O ratinho vai parar em um hotel. A atriz Chloë Grace Moretz que trabalha no hotel é encarregada para eliminar a presença de Jerry, afinal nenhum hotel do mundo quer ver ratos andando pelos seus corredores, ou pior do que isso, entrando nos quartos dos hóspedes. Ela então decide resolver o problema usando um método antigo, trazendo um gato, claro, o gato Tom. E isso acaba dando origem a todos os tipos de confusões. Essa animação é a aposta da  Warner Bros para manter a programação dos cinemas em funcionamento nesses tempos complicados de pandemia. O estúdio espera atrair as crianças para as salas de cinema. É esperar para ver.

Para um público mais adulto, que curte filmes de terror e suspense, a dica fica com "O Mensageiro do Último Dia" (The Empty Man, Estados Unidos, 2020). O filme com direção de David Prior aposta no medo para atrair espectadores aos cinemas. Do que se trata a história? Eis a sinopse: No rastro de uma garota desaparecida, um ex-policial se depara com um grupo secreto que tenta invocar uma entidade sobrenatural aterrorizante. Lançado nos cinemas americanos e europeus o filme teve uma bilheteria bem morna. O estúdio culpou a pandemia e espera recuperar o investimento quando o filme for para as plataformas de streaming.

Por fim, para que aprecia um tipo de cinema mais alternativo, produzido na Europa, a dica é a estreia nos cinemas do filme "Notre Dame". Dirigido por Valérie Donzelli, essa produção francesa conta a história de um casal que precisa lidar com questões emocionais envolvendo a vida sentimental e também os desafios profissionais. O filme traz no elenco o talentoso casal Valérie Donzelli e Pierre Deladonchamps. Um filme ideal para um público mais indie, que esteja em busca de algo mais substancial para ver no cinema. Outro filme francês que chega aos cinemas brasileiros é "Um Divã na Turquia". Com direção de Manele Labidi, o filme conta a história de uma psicoterapeuta que deseja abrir um consultório em Tunis, na Turquia, só para descobrir como isso é complicado de se fazer. Bom filme, com toques de humor.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Roda Gigante

Título no Brasil: Roda Gigante
Título Original: Wonder Wheel
Ano de Produção: 2017
País: Estados Unidos
Estúdio: Amazon Studios
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Kate Winslet, Justin Timberlake, Jim Belushi, Juno Temple, Tony Sirico, David Krumholtz

Sinopse:
Nos anos 40, Ginny (Kate Winslet), a esposa de um empregado do parque de diversões de Coney Island, se apaixona pelo salva-vidas Mickey (Justin Timberlake). Como se uma mulher casada tendo um caso extraconjugal já não fosse um problema e tanto, Mickey começa ainda a dar em cima da enteada da amante, criando ainda mais situações explosivas.

Comentários:
Esse novo filme de Woody Allen foi esnobado propositalmente pelo Oscar e pelo Globo de Ouro. Acontece que o diretor está também envolvido na onda de acusações de assédio sexual que está assolando Hollywood. Uma filha dele o acusou recentemente de tê-la abusado sexualmente quando ela era criança. Allen está em uma situação bem delicada atualmente, para dizer o mínimo. Provavelmente sua carreira vá entrar em um espiral para o fundo do poço daqui para frente. De qualquer forma, deixando de lado esses escândalos, esse seu novo filme "Wonder Wheel" é até bem agradável de assistir. Passa longe de seus grandes filmes do passado, com um roteiro bem ao estilo folhetim, mais parecendo uma novela das seis da Rede Globo. Mesmo assim consegue agradar principalmente por causa do elenco. Kate Winslet interpreta essa mãe infeliz no casamento que acaba reencontrando a felicidade em um caso com um homem mais jovem, interpretado por Justin Timberlake. É o segundo casamento dela. No primeiro ela também traiu o marido, então o peso de trair de novo se torna ainda maior. Pior é ter que competir com sua própria enteada pelos amores do salva vidas bonitão da praia, enquanto o marido, gordo e grosseirão, tenta ganhar a vida vendendo entradas para o carrossel do parque onde eles trabalham e vivem. Um triângulo (ou quadrilátero) amoroso bem ao estilo novela, folhetim. Salva o filme também o clima nostálgico desses velhos parques que estão em extinção atualmente. Um filme que é pura diversão e que passa longe, muito longe, dos roteiros mais intelectuais que Allen rodou em seu passado. Parece que a principal preocupação do diretor hoje em dia é sobreviver, em uma Hollywood que parece cada vez mais disposta a pendurar sua cabeça numa sala de troféus.

Pablo Aluísio.