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domingo, 19 de maio de 2013

Nixon

É bem complicado assistir a um filme como esse que, em uma análise mais profunda, foi realizado por um liberal de carteirinha (Oliver Stone) retratando um líder republicano, conservador (o presidente americano Richard Nixon). Não há a isenção e nem a imparcialidade necessárias para se realizar assim uma obra cinematográfica historicamente correta, livre de manipulações. Stone deveria se concentrar mais em aspectos mais periféricos da sociedade americana, como fez brilhantemente com os feridos em guerras (Nascido em 4 de Julho) ou os combatentes deixados ao acaso no meio da selva do Vietnã (como vimos em Platoon). Ao retratar um presidente que particularmente odeia o cineasta perde a compostura, se deixa dominar pela emoção. Esse é sem sombra de dúvida o ponto mais complicado desse filme “Nixon”. Stone despreza o biografado e não tem o menor pudor de esconder isso. Na pele do excelente e talentoso Anthony Hopkins, o ex-presidente americano virou praticamente uma caricatura de si mesmo, chegando ao ponto de até mesmo parecer um ser repulsivo e grotesco, lambendo os lábios, suando em profusão, quase um monstro shakesperiano.

Na verdade Nixon até que não foi um presidente tão ruim como se pensa. Claro que aconteceram fatos lamentáveis em sua trajetória, sendo o mais conhecido o escândalo Watergate, mas de uma maneira geral ele de certa forma tirou os Estados Unidos da lama do Vietnã e reatou laços diplomáticos com inimigos históricos, entre eles a China. Era um político experiente (muito mais do que JFK) e soube conduzir o país muito bem na política internacional. Infelizmente dentro de casa a coisa não foi tão bem sucedida. Tragado por uma burocracia que mal conseguia compreender, Nixon foi crucificado pela invasão a sede do partido democrata, onde homens de sua filiação política teriam ido em busca de informações sobre a campanha adversária. Em uma democracia como a americana isso certamente era algo inadmissível e assim Nixon perdeu não só sua credibilidade mas também sua presidência. Por fim quero destacar o confuso roteiro do filme. Para quem não é particularmente intimo de história americana a película certamente se mostrará confusa, desconexa, com idas e vindas no tempo, deixando o espectador comum simplesmente perdido. Assim Stone erra duplamente, ao enfocar um personagem histórico que simplesmente detesta e ao fazer um filme por demais fragmentário. Prefira assistir “Frost / Nixon” que sem dúvida é uma produção bem mais consistente.

Nixon (Nixon, Estados Unidos, 1995) Direção: Oliver Stone / Roteiro: Stephen J. Rivele, Christopher Wilkinson, Oliver Stone / Elenco: Anthony Hopkins, Joan Allen, Powers Boothe, Ed Harris, Bob Hoskins, E.G. Marshall, David Paymer, David Hyde Pierce, Paul Sorvino, Mary Steenburgen, J.T. Walsh, James Woods, Brian Bedford, Kevin Dunn, Fyvush Finkel, Annabeth Gish, Tom Bower, Tony Goldwyn, Larry Hagman / Sinopse: Cinebiografia do presidente Americano Richard Nixon. Indicado aos Oscars de Melhor Ator (Anthony Hopkin), Melhor Atriz Coadjuvante (Joan Allen), Melhor Trilha Sonora e Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio.

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