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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Lado Bom da Vida

Alguns filmes são bem cativantes. O roteiro procura se apoiar em personagens carismáticos para assim conquistar o espectador. “O Lado Bom da Vida” segue bem por esse caminho. Embora já tenha sido classificado como uma comédia romântica a produção é bem mais do que isso. Seria limitar demais suas qualidades ao se enquadrar apenas nesse gênero cinematográfico, isso apesar de todo o argumento ser realmente construído em torno de um romance improvável. O casal do filme é dos mais incomuns. Ele é Pat Solatano (Bradley Cooper), um bom sujeito, que simplesmente enlouqueceu após pegar sua jovem esposa no flagra, transando com um velho professor de história no banheiro de sua casa. Para piorar o que já era ruim no momento em que estava com seu amante sua esposa ouvia justamente a música de seu casamento. Após ser internado por longos meses por ter sido diagnosticado como bipolar ele retorna finalmente para a casa dos pais. A idéia é recomeçar a vida sob uma nova perspectiva. Ela é Tiffany (Jennifer Lawrence), jovem viúva que também perde a razão após o falecimento de seu jovem marido. Perdida, sem rumo, ela também volta a morar com seus pais e tenta um recomeço. Procurando por uma válvula de escapa acaba se entregando a uma sucessão de amantes anônimos. O sexo casual porém não ameniza sua dor interna, só a piora. Ambos parecem ter suas vidas destruídas, tomam remédios controlados e sofrem de transtornos psicológicos. Tanta identificação acaba os aproximando.

O filme começa muito bem, principalmente após se conhecerem. Pat (Cooper) e Tiffany (Lawrence) são igualmente esquisitos, estranhos e fora do comum. O começo de seu romance como não poderia deixar de ser foge completamente dos padrões. Essa parte inicial de aproximação se torna a melhor coisa do filme. Porém não há como negar que o filme perde um pouco o pique após dois terços de sua duração. O que era sutil e romântico aos poucos vai perdendo espaço para uma competição de dança ao estilo daqueles programas de TV que fazem sucesso nos EUA. Pat e Tiffany se inscrevem nesse concurso e o pai de Pat, um viciado em apostas interpretado por Robert DeNiro,  transforma a competição em mais uma de suas roletas da sorte. De qualquer modo mesmo perdendo um pouco de seu interesse nessa parte, o filme ainda se mantém bom por causa da excelente dupla central de protagonistas. Já tecemos vários elogios a Jennifer Lawrence. A garota já chamava atenção desde “O Inverno da Alma” e de lá para cá só disponibilizou boas atuações. Da geração jovem ela é seguramente uma das melhores profissionais surgidas nesses últimos anos. Aqui ela mostra todo o seu talento dramático, fazendo uma personagem difícil, que vive no limite que separa sanidade de loucura. Mesmo assim ainda dança graciosamente e mostra timing para o humor por causa das maluquices de Tiffany. Provavelmente esse seja o seu primeiro filme em que ela tira proveito sem pudores de seu sex appeal, pois Tiffany, sua personagem, pode até ser maluquinha mas também é um poço de sensualidade e charme. Ela inclusive está lindíssima com seus belos cabelos negros. Bradley Cooper também é outra grata surpresa. Ele já tinha se destacado no excelente “As Palavras” e aqui volta ao drama para mostrar que não é apenas mais um comediante gaiato como muitos que existem por aí. Ele consegue trazer muita alma para seu perturbado e obsessivo personagem. “O Lado Bom da Vida” é isso, um bom estudo de pessoas complicadas, com muitos problemas, mas que a despeito de tudo isso ainda conseguem seguir em frente, reencontrando inclusive o prazer da paixão e do romance. Uma bela lição de vida.

O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, Estados Unidos, 2012) Direção: David O. Russell / Roteiro: David O. Russell, baseado no romance de Matthew Quick / Elenco: Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Bradley Cooper, Julia Stiles, Chris Tucker / Sinopse: Um casal tenta reencontrar o lado bom da vida após passar por grandes traumas em sua vida amorosa. Vencedor do Globo de Ouro de Melhor atriz para Jennifer Lawrence. Indicado aos Oscars de Melhor Filme, Direção (David O. Russell), Ator (Bradley Cooper), Atriz (Jennifer Lawrence), Ator Coadjuvante (Robert De Niro), Atriz Coadjuvante (Jacki Weaver), Roteiro Adaptado e Edição.

Pablo Aluísio.

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