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terça-feira, 15 de novembro de 2011

John Lennon - Double Fantasy

Depois de ficar cinco anos em reclusão voluntária, ajudando a criar seu filho Sean, John Lennon anunciou que voltaria ao estúdio para gravar novas canções. Numa dessas entrevistas de retorno John explicou um fato curioso. Ele afirmou que ficou cinco anos com a "guitarra debaixo da cama", sem nenhuma vontade de tocar ou compor nada mas que certa manhã acordou muito inspirado e de uma só vez criou novos temas, novas composições, numa explosão de criatividade e empolgação. Para Lennon "Double Fantasy" significava antes de tudo um recomeço, como bem demonstra a primeira faixa do disco, chamada adequadamente de "(Just Like) Starting Over". Era a volta aos estúdios e como ele próprio explicou à estrada, algo que tencionava fazer após o lançamento de um segundo disco, que viria após "Double Fantasy". Lennon queria ter material suficiente para não precisar apresentar as velhas canções dos Beatles. Seu sentimento de independência para com a banda que o transformou em mito ainda era muito presente.

Infelizmente por uma dessas situações que não são facilmente explicáveis, o cantor e compositor acabou sendo brutalmente assassinado em frente ao edifício em que morava em Nova Iorque, colocando fim à sua carreira e à sua vida. Os planos de recomeçar de novo acabaram drasticamente naquele trágico dia. Sem dúvida uma perda enorme para a música mundial. Para os fãs e admiradores de Lennon só restou a música e "Double Fantasy", o tão planejado recomeço, acabou se transformando no canto de cisne do artista. Diante de tamanha responsabilidade resta perguntar: "Double Fantasy" é um disco digno de despedida de um nome como John Lennon? Embora não tenha sido concebido para tal o disco se sustenta como legado da genialidade de Lennon? A resposta a tais indagações certamente não são fáceis. Muitas pessoas, obviamente envolvidas pelo calor do momento, do impacto da morte de John, certamente diriam que sim, que o último disco de Lennon foi excepcional, acima das expectativas, à altura do grande mito que o ex líder dos Beatles foi.

Eu procuro ser mais racional a esse respeito. Não resta dúvidas que "Double Fantasy" traz em sua seleção musical espasmos de bons momentos do talento de John Lennon, certamente, mas não vamos deixar a pura emoção nos envolver. O disco tem ótimas canções mas não é representativo a ponto de marcar a obra do cantor como um todo. O primeiro problema no meu ponto de vista é a divisão das músicas entre Lennon e sua esposa Yoko Ono. Essa é uma questão delicada mas por opção deixarei as canções da artista japonesa de lado, me focando apenas nas de Lennon. E o que nos sobra? De certa forma pouca coisa. "(Just Like) Starting Over" é ótima. Seu clima nostálgico invoca os anos 50, algo que Lennon propositalmente buscou. Quando perguntado sobre que tipo de arranjo desejava ele foi incisivo "Quero uma velha orquestra de rock´n´roll dos anos 50". E conseguiu. A vocalização nos remete imediatamente àquela década, ao estilo vocal de Gene Vincent ou Elvis Presley em seus anos de Sun Records.

Outra faixa digna de citação é "Watching The Wheels". A música foi composta por Lennon como uma grande resposta a todos que viviam se perguntando o que ele estaria fazendo durante todo o tempo em que se afastou da carreira? Lennon brinca com o fato numa letra simples mas inspirada, embalada numa bela melodia (que gruda na cabeça na primeira audição). O tom de nostalgia que é tão presente em "(Just Like) Starting Over" acaba voltando na mais bela canção do disco, "Woman". Perceba que Lennon estava mais autoral do que nunca. Todas as letras procuravam demonstrar fases de sua vida atual, coisas de seu cotidiano. Obviamente "Woman" se refere à mulher de sua vida, Yoko, mas sua letra também poderia se encaixar em relação a todas as mulheres do mundo. A melodia fala por si só, uma das mais belas e inspiradas de toda a carreira do cantor. As demais faixas já não seriam tão marcantes. "I´m Losing You" tem seus defensores mas a acho repetitiva e aborrecida. Menos fraca é a música que ele fez para Sean, "Beautifull Boy", com todo o lirismo inerente ao tema. Com efeitos sonoros que lembram um dia despreocupado na praia, a canção é marcante pelo simbolismo, por tudo que Lennon abdicou em nome de seu segundo filho.

Claro que com a morte de Lennon o disco explodiu em vendas. O mundo estava chocado e ninguém deixaria de comprar o último trabalho lançado em vida pelo famoso ex-beatle. É um disco de bons momentos, belas baladas e melodias, que buscava demonstrar um novo momento na vida de John Lennon que infelizmente foi o seu último mas não é algo que ficou tão marcado dentro da discografia de Lennon. Embora seja uma mera suposição, talvez se John não tivesse morrido da forma que todos sabemos, o disco teria sido lembrado nos anos seguintes apenas como o seu retorno à carreira, sem nada de muito especial nele.

Double Fantasy - John Lennon
(Just Like) Starting Over
Kiss Kiss Kiss"
Cleanup Time"
Give Me Something
I'm Losing You
I'm Moving On
Beautiful Boy (Darling Boy)
Watching the Wheels
Yes I'm Your Angel
Woman
Beautiful Boys
Dear Yoko
Every Man Has A Woman Who Loves Him
Hard Times Are Over

Pablo Aluísio.

4 comentários:

  1. Nesse LP o que sempre me irritou foi levantar do sofá para pular as músicas da Yoko. Não desmerecendo as músicas, pois até o John disse em entrevista que o disco era como se fosse um diálogo dos dois, mas é aquela coisa, a mulher canta mal, definitivamente não dá para ouvir. Mas Lennon queria que fosse feito assim e também creio que ninguém tivesse peito para o contradizer. O desconforto do pula-pula de faixa acabou com o cd, tenho costume de fazer cópia dos meus discos originais, especialmente neste eu gravei em cd só as de Lennon.

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    1. Devo confessar que também não gosto da Yoko Ono como cantora, tanto que a exclui da análise do disco. rs.

      Pablo Aluísio.

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  2. Os músicos do B-52's disseram, uma vez, que se inspiraram e gostavam muito do disco "Yoko Ono and the Plastic Ono Band", disco com canções de Yoko. Assim, em agradecimento, ela compôs várias músicas inspiradas nos B-52's. Ouçam só "Kiss, kiss, kiss".

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  3. Avaliação:
    Produção: ★★★
    Arranjos: ★★★
    Letras: ★★★
    Direção de Arte: ★★★
    Cotação Geral: ★★★
    Nota Geral: 7.5

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