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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pink Floyd - Delicate Sound Of Thunder

Com o sucesso do disco A Momentary Lapse Of Reason, David Gilmour resolveu colocar o pé na estrada ao lado de seus companheiros de banda. Para fazer jus ao nome mitológico do Pink Floyd, Gilmour não mediu esforços e resolveu trazer para os shows ao vivo do grupo o que de melhor havia no mercado em termos de aparatos técnicos e sonoros. A volta do conjunto aos palcos deveria acontecer em grande estilo e ele estava completamente concentrado em provar que o Floyd funcionaria bem, mesmo sem a presença de Waters. A ideia ganhou grandes dimensões conforme as apresentações iam acontecendo e Gilmour então resolveu transformar tudo em um grande projeto multimídia trazendo os novos lançamentos do Pink Floyd ao mercado em todas os segmentos culturais possíveis (na época Delicate foi lançado não apenas como álbum duplo, mas também em filme VHS para venda direta e K7). A idéia era não só ressuscitar a banda mas também conquistar uma nova legião de fãs entre os mais jovens, que apenas conheciam o Floyd de nome. Para isso os concertos ao vivo deveriam ser marcantes. E acredite, Gilmour conseguiu alcançar todos os objetivos que havia traçado.

Delicate Sound of Thunder foi gravado em Long Island, Nova Iorque, numa série de cinco concertos que o grupo fez no Nassau Coliseum. No repertório David Gilmour resolveu não arriscar muito e investiu nos maiores sucessos do Pink Floyd da década anterior. Três das maiores obras do conjunto serviram de referência no projeto ao vivo: Dark Side Of The Moon, Wish You Were Here e The Wall. As novas canções do último disco também foram lembradas, para dar um toque de contemporaneidade aos shows em si. O álbum abre com uma das melhores versões ao vivo de Shine On You Crazy Diamond, canção do disco Wish You Were Here. Como todos sabem essa música havia sido composta em homenagem ao ex-líder Syd Barrett. Depois desse pequeno momento revival somos apresentados ao novo material do disco A Momentary Lapse of Reason. Interessante notar que Gilmour não se fez de rogado e levou as novas faixas em peso para os concertos. Isso prova que ele não teve nenhum receio ou medo com as críticas e comparações que poderiam ser feitas após a saída de Waters. Seguro de si, Gilmour apresentou com orgulho praticamente todo o repertório novo do recém lançado trabalho do Pink Floyd. O destaque fica mais uma vez com On The Turning Away, extremamente bem executada por Gilmour e o grupo de apoio (que contava não apenas com Wright e Mason, mas com uma verdadeira equipe de músicos talentosos que em muito acrescentaram na sonoridade dos novos arranjos).

O ciclo se fecha com as canções da época de ouro do Pink Floyd: Money e Time fazem uma dobradinha deliciosa, lembrando seu maior sucesso, Dark Side of The Moon (que depois seria levado na íntegra ao vivo no disco PULSE, outro marco da era David Gilmour). One of These Days por sua vez ganha um nova roupagem sonora, mudança que pode ser sentida também no hit Another Brick in the Wall (Part 2). De todas as releituras porém nenhuma se compara a Comfortably Numb, faixa impecável onde David Gilmour demonstra sem rodeios porque é considerado um dos maiores guitarristas da história do Rock. Um fantástico momento de êxtase sonoro. Delicate Sound of Thunder veio coroar o incrível trabalho de renascimento do Pink Floyd promovido por David Gilmour. Uma iniciativa que merece todos os nossos aplausos. Através de seu esforço pessoal Gilmour mostrou que o Pink Floyd não havia morrido e que ainda era capaz de emitir um delicado som de trovão por onde passasse.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 1
Dos escombros de uma briga judicial que parecia nunca ter fim o Pink Floyd finalmente ressuscitou na segunda metade dos anos 80. Agora liderados única e exclusivamente por David Gilmour, o novo grupo tinha a proposta de levantar o nome da banda, tão desgastada por causa das brigas entre Gilmour e Roger Waters. Esse último tentou impedir nos tribunais ingleses o uso do nome "Pink Floyd" pelos demais membros do conjunto. Assim David Gilmour precisou lutar muito para que ele e seus companheiros Nick Mason e Richard Wright tivessem o direito de usar o nome em um novo álbum. Esse disco acabou sendo chamado de "A Momentary Lapse of Reason". Apesar de todas as críticas, inclusive de Waters que jamais reconheceu esse LP como sendo do Pink Floyd realmente, devo dizer que gostei bastante da nova proposta. David Gilmour, um dos maiores instrumentistas da história do rock, realmente realizou um trabalho bem sofisticado, muito bom de se ouvir. Não era em absoluto revolucionário, ou qualquer outra coisa do tipo, porém era digno de se usar o mitológico nome da maior banda de rock progressivo da história. O resto são lágrimas ao vento de um ressentido Roger Waters, que deveria ter ficado mesmo calado.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 2
Poucas coisas podem ser mais chatas do que aquele grupo de fãs do Pink Floyd que vivem de ridicularizar a fase anos 80 de David Gilmour. Eu acho a opinião dessas pessoas completamente bizarra, uma vez que alguns dos meus discos preferidos da banda são dessa época. Aqueles que dizem não haver uma sonoridade genuína do Pink Floyd nesses discos precisa reavaliar urgentemente seus conceitos. "Signs of Life" que abre o álbum "A Momentary Lapse of Reason" é um exemplo disso. É uma música puramente instrumental, que começa com sons de um remo de barco. O que estaria por trás disso. Simples de explicar. Esse disco foi gravado em um estúdio flutuante mantido por Gilmour chamado Astoria. Foi uma forma que o guitarrista e novo líder do Pink Floyd encontrou de trabalhar em paz, longe das pressões do público e da crítica. A melodia foi escrita por Gilmour e o produtor Ezrin e as vozes ao fundo são as do baterista Nick Mason. A voz dele foi duplicada, como se ele estivesse conversando com ele mesmo. Essa faixa me lembra muito a sonoridade de "Atom Heart Mother". É uma lembrança óbvia dos tempos em que o Pink Floyd criava trilhas sonoras incidentais para filmes. Uma ligação com o passado mais do que pertinente.

"The Dogs of War" continuava dividindo opiniões. Eu pessoalmente considero uma faixa forte, lembrando os bons tempos do auge da criatividade do rock progressivo inglês. Muitos a consideram um momento de fragilidade de David Gilmour nesse álbum. Que tolice! A música se revelou ótima para ser tocada ao vivo por causa de sua introdução de impacto. Composta ao lado de Anthony Moore, a letra não era uma referência aos advogados que trabalharam nos inúmeros processos envolvendo Gilmour e Roger Waters como muitos disseram na época de lançamento. Na verdade os tais cães de guerra são os políticos ingleses envolvidos em casos de corrupção. É assim uma composição mais política por parte de Gilmour. Imaginem se ele conhecesse o nível de corrupção da política brasileira! Aí sim ele veria o que é de verdade um mundo cão! Para os que reclamavam dessa nova sonoridade da banda, provavelmente "One Slip" era um prato cheio! Lançada no último single extraído do disco "A Momentary Lapse of Reason" a canção nunca foi uma unanimidade. Já ouvi todo tipo de crítica contra essa música, desde que ela seria um popzinho safado dos anos 80, até que seria "latina demais", principalmente em sua introdução! Provavelmente resolveram pegar no pé do compositor Phil Manzanera, pensando se tratar de algum músico latino. Não é! Phil é inglês e escreveu a música ao lado de Gilmour durante a pré-produção do disco. Enfim, de bobagens e tolices esse mundo de fãs mais radicais do Pink Floyd está realmente bem cheio!

Pink Floyd - Delicate Sound of Thunder
Quando os primeiros acordes de "Shine on You Crazy Diamond" ecoam nesse álbum você fica até mesmo em dúvida se está mesmo ouvindo uma versão ao vivo do clássico absoluto do Pink Floyd lançado originalmente no disco "Wish You Were Here" de 1975. É tão perfeita que ficamos em dúvida se ela foi executada ao vivo. David Gilmour que nunca foi bobo nem nada, só levou feras ao palco dessa turnê. Juntando isso ao fato dele próprio ser um dos maiores guitarristas da história da música, não poderia dar em outra coisa. O registro é perfeito e arrebatador. Essa canção é uma das mais importantes da discografia do grupo. Durante anos a versão oficial foi que ela foi composta após uma visita inesperada de "Syd" Barrett ao estúdio onde os demais membros do grupo estavam gravando um novo disco. O estado de Barrett era tão ruim nesse momento, com cabelos escorrendo uma espécie de óleo, que Gilmour e Waters teriam ficado chocados com o que viram. O uso de ácido lisérgico (LSD) e outras drogas destruíram Syd do ponto de vista psicológico. Logo ele, o fundador do grupo, aquele que havia idealizado todas as bases e fundamentos do Pink Floyd, ia sendo engolido pela loucura. Uma bad trip sem volta, sem retorno. O resto do grupo sabia da sua dívida impagável com Syd e por essa razão resolveu lhe prestar essa homenagem, o que resultou em uma das músicas mais imortais do Pink Floyd. Depois desse apogeu sonoro, as coisas se acalmam um pouco e o Pink Floyd aproveita para mostrar uma música nova, "Learning to Fly" do disco "A Momentary Lapse of Reason". As viúvas de Roger Waters nunca perdoaram o fato de David Gilmour continuar com a banda após a saída de Waters. Por isso gostam de malhar todas as faixas de álbum, afirmando que o álbum nunca foi um legítimo LP do Pink Floyd, mas sim um disco solo de David Glimour que apenas usou o nome comercial do Pink Floyd. Acho essa visão tão provinciana e boboca que me recuso até mesmo a perder tempo argumentando. Esse disco é um legítimo trabalho do Pink Floyd. Estavam lá além de David Gilmour, o baterista Nick Mason e o tecladista Richard Wright. Do quinteto só faltava Syd Barret que havia enlouquecido e que não estava lá por motivos óbvios e Roger Waters, por ser um egocêntrico incurável. Por isso os fãs dessa linha mais radical deveriam baixar a bola antes de criticar um disco tão bom!

"The Dogs of War" foi lançada no disco "A Momentary Lapse of Reason". Como sabemos esse álbum foi severamente criticado pelos fãs de Roger Waters. Para eles esse não é um verdadeiro trabalho do Pink Floyd, mas sim uma picaretagem de David Gilmour que apenas usou o nome do grupo em um trabalho solo. Verdade? Não, pura bobagem. Além de ser realmente um trabalho do Pink Floyd (sem Waters, obviamente), também tem grande qualidade sonora e artística. A música foi composta como uma crítica contra determinados políticos britânicos, absurdamente submissos à política externa dos Estados Unidos. Clamando para que os cães de guerra entrem em campo sempre que Tio Sam ordenasse. Onde estaria o velho orgulho do povo inglês? Os arranjos da música também se destacam porque Gilmour trouxe um clima épico, como se você, ouvinte, estivesse dentro de um calabouço, onde monstros caninos estivessem prontos para o ataque. Talvez por forçar um pouco essa barra, parecendo em certos aspectos com uma trilha sonora, a canção tenha sido acusada de chata e pretensiosa demais. Só esqueceram esses críticos que o Pink Floyd, por muitos anos, também se especializou em compor trilhas sonoras. Eles não estavam fugindo muito do que sempre fizeram ao longo de todos esses anos. Menos criticada e muito mais bonita do ponto de vista melódico é a bela baladinha "On the Turning Away". OK, poderia certamente fazer parte de algum trabalho solo de David Gilmour, mas isso é um pouco óbvio demais. Opiniões banais devem ser descartadas. Não foi de um disco solo de David, mas sim parte de um bom LP do Pink Floyd, lançado em plenos anos 80. Por falar em anos 80... Admito que aquela sonoridade comprometeu um pouco (só um pouquinho) o resultado final desse já citado disco, o "A Momentary Lapse of Reason". Há intervenções de sax ao estilo Kenny G, que fez muitos fãs do Pink Floyd arrancarem os fios de cabelo da cabeça. O que tenho a dizer a essas pessoas é que elas precisam, acima de tudo, relaxarem para curtir melhor essa bela composição de David Gilmour. Só assim vão entender e apreciar a beleza da música como um todo. Que tal ser menos chato e apreciar uma música apenas pelas suas qualidades musicais, sem preconceitos ou visões cimentadas?

A música "Yet Another Movie" é muitas vezes criticada por não ser "uma autêntica música" do Pink Floyd! O que exatamente seria isso? Ninguém sabe responder ao certo. O que me parece é que essa má vontade vem do fato da canção ter sido parte do álbum "A Momentary Lapse of Reason", que como sabemos não contou com Roger Waters. Sem Waters, sem Pink Floyd autêntico. Essa parece ser a conclusão dessas pessoas. Em minha opinião esse pensamento é pura bobagem e até mesmo um tanto infantil. Grupos de rock se modificam ao longo dos anos. É natural que sua sonoridade também sofra mudanças, algumas vezes para melhor e outras para pior. Processo natural e completamente esperado. Essa crítica de que não faz parte do verdadeiro Pink Floyd já não pode ser dirigida para o clássico "One of These Days". Originalmente essa música fez parte do repertório consagrado do disco "Meddle". Não foi uma música que o grupo levou com frequência para os palcos nos tempos de Roger Waters, mas tem sua importância inegável dentro da discografia da banda. No vinil original do "Delicate Sound of Thunder" foi usada para abrir o disco 2 do pacote, mostrando a importância dela como mola propulsora dos shows do Pink Floyd nessa era quase que exclusivamente David Gilmour. Em relação a "Time" do "The Dark side of the Moon" já tive fases de gostar muito da música e fases de saturação dela. Também é inegável que sua harmonia pode causar um certo cansaço no ouvinte, depois de ouvi-la por anos e anos. Cansaço vai bater, seguramente. Porém, é a tal coisa, nada que tenha feito parte do "Dark Side" pode ser relegado a um segundo plano. Disco mais vendido da banda, é até hoje reverenciado como uma obra prima absoluta. De certa maneira temos que respeitar esse status das músicas desse LP.

Delicate Sound Of Thunder (1988)
01. Shine On You Crazy Diamond
02. Learning to Fly
03. Yet Another Movie
04. Round and Around
05. Sorrow
06. The Dogs of War
07. On the Turning Away
08. One of These Days
09. Time
10. Money
11. Another Brick in the Wall (Part 2)
12. Wish You Were Here
13. Comfortably Numb
14. Run Like Hell

Pablo Aluísio.

5 comentários:

  1. Nessa nova geração será que teremos um grupo "vocal e instrumental" tão poderoso como este?

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  2. Avaliação:
    Produção: ★★★★
    Arranjos: ★★★★
    Letras: ★★★★
    Direção de Arte: ★★★★
    Cotação Geral: ★★★★
    Nota Geral: 8.4

    Cotações:
    ★★★★★ Excelente
    ★★★★ Muito Bom
    ★★★ Bom
    ★★ Regular
    ★ Ruim

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  3. Gostei muito do seu texto. Procuro tudo sobre o Pink Floyd e muitas vezes em textos como esse se consegue uma informação ou reflexão diferente sobre a banda. Também sou um grande apreciador da fase Gilmour, gosto muito desses álbuns.

    Parabéns pelo blog.

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