Marlon Brando é considerado um dos grandes atores do século XX. Com personalidade ímpar o ator foi grande não apenas nos palcos e nas telas mas também nas causas que defendeu. Muita coisa infelizmente ficou encoberta pela celebridade que o acompanhava - celebridade essa que ele particularmente detestava. No meio de tantas polêmicas, muitos boatos, mentiras e histórias não verdadeiras acabaram ganhando status de fato. Vamos agora revelar algumas verdades e mentiras sobre esse mito da cultura pop.
Marlon Brando odiava seus pais?
Durante toda sua vida Brando teve um relacionamento complicado com seus pais, em especial com Marlon Brando Sênior, seu pai. Ambos tinham temperamentos fortes e não aceitavam se submeter uma ao outro. Além disso Brando não perdoava as constantes escapadas do velho que, caixeiro viajante, acabava arrumando várias namoradas nas cidades pelos quais passava. Com a mãe, Marlon também tinha problemas. Desde jovem a mãe de Brando gostava de beber. Com o tempo a bebida se tornou um sério problema virando alcoolismo. Não raro o ator quando garoto tinha que percorrer bares barra pesada atrás de sua mãe. Isso acabou criando traumas nele para o resto de sua vida. Quando o pai estava para morrer Brando pediu que ele tivesse mais alguns segundos de vida para como ele mesmo afirmou em sua autobiografia, "Quebrar todos os dentes de seu velho". Apesar de todas essas brigas e desavenças o ator acabou perdoando as falhas dos pais e conseguiu superar todos os problemas anos depois ao fazer análise como acabou revelando em sua autobiografia.
É verdade que Brando foi expulso de um colégio militar em sua juventude?
Brando foi um garoto problema. Com dificuldades de aprendizado nunca conseguiu ser um sucesso nas escolas pelos quais passou. Assim seu pai resolver matricular o garoto na Academia Militar de Shattuck em Minnesota. Foi nessa Academia, em regime de internato, que o ator passou grande parte de sua juventude. Sob severo regime disciplinar Brando acabou com o tempo se revoltando contra todas aquelas regras de comportamento, tão típicas de uma escola militar. Era indisciplinado, bagunceiro e sempre se metia em confusões. Numa delas sumiu com o badalo do sino da Academia (ele odiava acordar cedo e as badaladas do sino indicavam a hora de acordar pela manhã). Em outra desrespeitou um oficial durante uma formação de rotina. Esse último evento acabou selando sua expulsão da Academia.
O que fez após ser expulso da Academia Militar?
Brando voltou para casa. Seus pais decepcionados perguntaram o que ele iria fazer da vida. Sem perspectivas Brando passou um tempo trabalhando em obras de construção civil como peão. Depois se encheu daquilo tudo e resolveu ir embora para Nova Iorque. Sua irmã Frannie estava morando na grande cidade, tentando se tornar atriz. Cansado dos sermões de seus pais, Marlon acabou decidindo ir embora para a Big Apple. Ele ainda não tinha intenção de ser ator mas apenas de arranjar um emprego qualquer para se estabelecer na nova cidade. Sua opção de se tornar ator só surgiria depois quando Brando sentiu que a atuação lhe poderia render um bom dinheiro sem precisar suar muito a camisa.
Qual foi a grande mentora de Brando em Nova Iorque?
Stella Adler foi uma das primeiras professoras que Brando teve ao chegar em Nova Iorque. Após decidir que tentaria ser ator ele se matriculou em cursos de formação de atores e Stella Adler acabou mudando sua vida. O jovem aspirante a ator ficou encantado pelo talento, carisma e dedicação da grande atriz e professora. Anos depois ao escrever sua autobiografia Brando creditou a Stella muito da inspiração que levou para toda a sua carreira ao longo da vida. Após se formar nesse curso Brando aos poucos foi ganhando experiência em montagens off Broadway. Foram várias montagens até que finalmente encontrasse o papel que iria mudar toda a sua vida: Stanley Kowalski da peça "A Street Named Desire" de Tennessee Williams.
Marlon Brando teve um romance com Marilyn Monroe?
Segundo o próprio ator sim. Na realidade nem foi propriamente um romance mas sim um encontro casual após uma festa em Hollywood. Marilyn nunca escondeu sua atração por Marlon a ponto de colocá-lo em uma lista de dez homens que gostaria de levar para a cama. Assim após se conhecerem em uma noite a própria Marilyn lhe convidou para ir em sua casa. Após esse encontro nada mais de muito importante surgiu entre eles. De vez em quando Marilyn ligava para Brando e ambos passavam várias horas conversando. Marilyn aliás ligou para Brando na noite anterior ao de sua morte supostamente por overdose de pílulas para dormir. Brando jamais divulgou o conteúdo dessa sua última conversa com Marilyn.
O que Brando achava de James Dean e Montgomery Clift?
Brando admirava Montgomery Clift. O achava um grande ator que infelizmente estava sucumbindo à problemas com bebidas e drogas. Após sofrer um acidente de carro que desfigurou parcialmente seu rosto Clift encontrou dificuldades de encontrar trabalho em novos filmes. Brando então resolveu ajudar pessoalmente o colega, exigindo inclusive sua colocação no elenco de "Os Deuses Vencidos". Já sobre Dean, Marlon Brando tinha uma opinião diferente. O achava perturbado e acreditava que Dean o imitava deliberadamente (inclusive nas roupas, nas motos que andava, etc). Dean tentou uma aproximação maior com Brando mas esse o dispensou discretamente, o aconselhando a procurar ajuda psicológica. Deu inclusive o número de seu analista pessoal para Dean.
Marlon Brando era bissexual?
Segundo Anna Kashfi, sua segunda esposa, Brando era bissexual. Seu depoimento porém é discutível uma vez que ela teve muitos problemas (inclusive legais) com o ator no processo de divórcio. Embora fosse assumidamente hétero, se envolvendo com muitas mulheres ao longo da vida, sempre existiu a suspeita que Marlon teria tido pelo menos um romance mais sério com um homem, o diretor francês Christian Marquand. Isso porém nunca foi comprovado, ficando apenas no patamar de mero boato. O fato foi investigado por vários autores de biografias sem se chegar a uma comprovação de que algo além de amizade teria realmente acontecido. Nos anos 50 surgiu uma suposta foto de Brando praticando sexo oral em um homem negro, sem identificação. A foto até ganhou certa repercussão no meio mas depois descobriu-se ser apenas uma montagem (nos dias de hoje se percebe bem que tudo não passa mesmo de uma montagem grosseira). Brando não desmentiu a suposta veracidade da fotografia, se limitando a se divertir com o bizarro registro.
Como era Marlon Brando fisicamente?
Marlon Brando tinha estatura média para a população americana: 1.75. Para compensar isso se dedicou bastante a jogar futebol americano na adolescência ganhando peso e força muscular, que iria ser acentuada em seus primeiros anos em Nova Iorque quando precisou mostrar boa composição física para interpretar tipos rudes como o personagem Stanley de "A Named Street Desire". Infelizmente o ator foi aos poucos deixando a musculação e a partir dos anos 60 e começou a engordar de forma assustadora. Em seus últimos anos Marlon sofreu muito com obesidade mórbida chegando a incríveis 180 kgs.
Brando não gostava de Elvis Presley?
Em sua autobiografia Marlon Brando afirma que achava uma piada o governo americano ter colocado Elvis como selo postal oficial do país. Para Brando o assim chamado Rei do Rock apenas copiou a cultura negra que existia há anos. Ele se ressentiu ainda pelo fato de Elvis ter morrido de uma overdose de drogas e esse fato ser ignorado pelo governo dos EUA justo em uma época de guerra do país no combate às drogas.
Por que Brando e Chaplin não se deram bem ao trabalharem juntos?
Marlon Brando não gostou do estilo de trabalho de Chaplin. Para Brando o antes genial Charles Chaplin estava ultrapassado, sua forma de dirigir um filme era completamente obsoleta. Marlon que vinha da escola do Actors Studio se ressentiu pelo fato de não conseguir abrir um diálogo com Chaplin para discutir seu personagem. Além disso ficou chocado com a forma que Chaplin tratava um de seus filhos no set de filmagem. De forma sádica Chaplin repreendia publicamente seu filho que atuava no filme, o chamando de incompetente e incapaz na frente dos outros atores e da equipe técnica. Em determinado momento o próprio Brando pensou seriamente em largar o filme no meio das filmagens. Para ele, que sempre idolatrou Chaplin, tudo se tornou uma grande decepção. O resultado da parceria entre eles foi o pior possível pois o filme foi um tremendo fracasso de pública e crítica. Anos depois Brando definiu "A Condessa de Hong Kong" como "um de meus desastres" e acabou afirmando que o pai de Carlitos havia sido "um dos homens mais sádicos que já conheci na minha vida"
O que Brando achava da máfia?
Ele realmente encontrou chefões da cosa nostra para filmar "O Poderoso Chefão"? Brando acreditava que a máfia americana não era muito diferente das grande corporações ou até mesmo da CIA. Segundo o ator ambas usavam de violência e corrupção para se impor e se firmar na sociedade. O ator inclusive criticava duramente o tratamento dado pelo governo americano em países de terceiro mundo. Ele até tentou realizar um documentário sobre isso mas cedeu às fortes pressões que sofreu até mesmo dentro da indústria cinematográfica. Durante as filmagens de "O Poderoso Chefão" ele chegou realmente a ser visitado no set por figuras importantes do submundo Um deles inclusive disse que ele não precisava mais se preocupar pois a partir daquele dia nenhum restaurante de Little Italy, em Nova Iorque, iria lhe cobrar pelas refeições. Brando agradeceu a cortesia e o convite e descobriu anos depois que realmente nunca mais teria que pagar contas nos restaurantes daquele bairro de Nova Iorque. O chefão realmente havia falado sério!
Brando recusou todos os Oscar que ganhou?
Todas as pessoas pensam equivocadamente que Brando recusou todos os prêmios de melhor ator que recebeu. Isso é fácil de explicar pois sua recusa pelo Oscar de "O Poderoso Chefão" em protesto ao modo como o cinema americano retratava os nativos daquele país até hoje ficou marcada no inconsciente coletivo. O fato porém é que nos anos 50 ele foi premiado por "Sindicato de Ladrões" e compareceu na cerimônia em traje de gala, tirou fotos entre os premiados, se portando de maneira polida, um exemplo de boa etiqueta. Fez até um agradecimento convencional, tudo bem de acordo com o protocolo da festa. Anos depois afirmou que não sabia onde foi parar a estatueta. Ele apenas se recordava que deu a um amigo mas não sabia direito aonde o Oscar foi parar exatamente. Anos depois o Oscar finalmente ressurgiu numa casa de leilões onde finalmente foi vendido por um preço excelente.
Quem foi o maior amigo de sua vida em sua própria opinião?
Segundo o próprio ator seu melhor amigo foi Wally Cox. Wally era um velho conhecido de Brando desde a sua juventude. Por um desses acasos do destino voltou a se encontrar com ele assim que Marlon foi morar em Nova Iorque. Ambos eram aspirantes a uma carreira no teatro mas exerciam outras profissões para sobreviver. Wally fazia pequenas bijuterias enquanto não encontrava uma chance melhor de atuar. Ele tinha ambições de se tornar um ator cômico. Anos depois quando Brando se tornou um astro de primeira grandeza ele ajudou o velho amigo, inclusive lhe arranjando trabalho em filmes que atuou. Infelizmente mesmo com esse esforço Cox nunca conseguiu despontar para o sucesso. Infeliz pela carreira mal sucedida acabou sucumbindo ao álcool e às drogas, falecendo muito jovem. No livro Brando afirma que sentia bastante a falta do amigo e que nunca o perdoara pela forma como morreu.
Qual foi a causa da morte de Marlon Brando?
Brando há muitos anos sofria de várias doenças. Sua obesidade fora de controle apenas piorou seu quadro. Além de sofrer problemas de pressão arterial o ator também foi diagnosticado com úlcera e diabetes. Em seus últimos anos não saia mais de sua cama. Para sobreviver um verdadeiro sistema de UTI foi colocado em seu quarto na sua mansão em Los Angeles. Depois de várias crises ele finalmente foi levado a um hospital onde veio finalmente a falecer de insuficiência pulmonar aguda. Brando não quis um enterro tradicional e deixou um pedido expresso para que fosse cremado em uma sessão privada em Los Angeles. Alguns jornais divulgaram que o ator também teria pedido que suas cinzas fossem jogadas em Tetiaroa mas isso nunca foi confirmado oficialmente pelo espólio do ator.
Marlon Brando estava falido no final de sua vida?
No meio dos vários boatos após sua morte surgiu a história de que o ator estava falido e morando em um pequeno apartamento de aluguel na cidade de Los Angeles. Depois que seu testamento veio à público todo esse sensacionalismo foi desmentido. Brando deixou cerca de 21 milhões de dólares a seus herdeiros, além de uma mansão localizada em Mulholland Drive avaliada em 10 milhões de dólares. Outro factoide inventado pela imprensa era de que o ator teria vendido seu arquipélago Tetiaroa para pagar advogados para seu filho Christian. O testamento provou que Brando ainda era seu dono tanto que as ilhas entraram na herança deixada pelo ator.
Quantos filhos foram reconhecidos pelo ator?
Em seu testamento Brando reconheceu oficialmente 11 filhos, sendo dois deles ainda crianças que teriam sido frutos do caso amoroso que o ator teve com sua empregada doméstica nos anos finais de sua vida. Mas nem todos tiveram direito à herança deixada pelo ator. Ele desertou pelo menos três deles, por motivos de brigas e desavenças. Além disso deixou de fora o seu neto, filho de Cheyenne, que havia se suicidado após seu irmão Christian ter matado seu marido. Brando reconheceu em seu testamento os seguintes filhos: Christian, filho de Anna Kashfi que também não viveria muito morrendo de pneumonia após cumprir pena por homicidio, Miko Brando e Rebecca (filhos de Castenada), os filhos de Teripaiia, Teihotu e Cheyenne Brando, assim como Nina, Myles e Timothy Brando (filhos de Maria Ruiz). Também mencionou duas outras filhas de nomes Maimiti Brando e Raiatua, sendo que essas quase ninguém conhecia.
Marlon Brando estuprou a atriz Maria Schneider no filme "O Último Tango em Paris"?
Essa revelação chocou o mundo em 2016. Segundo o diretor Bernardo Bertolucci a cena foi feita sem o consentimento da atriz, o que supostamente configuraria o crime de estupro. Nas palavras do diretor: "Queria sua reação como menina, não como atriz. Não queria que Maria interpretasse sua humilhação e sua raiva, queria que sentisse. Os gritos de Não, não, foram reais! Queria que reagisse humilhada. Acredito que odiou Marlon e a mim porque não contamos a ela! Para conseguir algo é preciso ser completamente livre!" - Concluiu.
Pablo Aluísio.
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sexta-feira, 30 de novembro de 2007
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
O Segundo Rosto
Ser galã pode se tornar um fardo. Que o diga Rock Hudson nos anos 60. O ator liderava todas as listas de popularidade e estrelava um sucesso após o outro. Ele estava no auge da popularidade em sua carreira no cinema. Foi então que em 1966 ele topou protagonizar um estranho roteiro de um filme mais estranho ainda dirigido por John Frankenheimer. Na verdade era a velha estória do galã tentando ser reconhecido como bom ator. O resultado foi o filme "O Segundo Rosto", um verdadeiro delírio cinematográfico que causou muita perplexidade na época de seu lançamento nos cinemas. O argumento é até simples: um homem de meia idade se cansa da mediocridade de sua vida e resolve mudar tudo, forjar sua morte, fazer uma cirurgia plástica e começar uma nova vida longe da anterior, tudo com a ajuda de uma estranha corporação.
Rock interpreta o personagem após a mudança de sua identidade. Embora possa soar banal a estrutura dramática do filme o que realmente se sobressai é a maneira que o diretor escolheu para contar essa estória. Imagens distorcidas, sonhos se mesclando à realidade, devaneios e muita metalinguagem psicodélica marcam de forma muito surreal o resultado que assistimos. Na verdade essa película é uma verdadeira ET dentro da filmografia de Hudson, que sempre procurou trilhar o mainstream, evitando correr maiores riscos. Até é claro aceitar fazer esse alucinado roteiro. No meio da esquisitice dois momentos são marcantes: A atuação de Rock numa longa sequência de uma festa (onde ele estava realmente embriagado para parecer mais convincente no filme) e uma celebração onde várias pessoas aparecem nuas num grande tonel de fabricação caseira de vinhos. Essa cena inclusive é muito ousada, principalmente para os padrões morais do cinema americano dos anos 60.
'O Segundo Rosto' foi lançado oficialmente em Cannes. Rock e o diretor esperavam uma grande recepção, uma consagração total na França mas o resultado final não agradou e no final da exibição o filme foi vaiado pelo público. Rock que tinha comparecido na premiere ficou visivelmente constrangido pela reação negativa da plateia. Ele inclusive diria mais tarde que ficou completamente transtornado pois tinha grandes esperanças em seu êxito, falando inclusive em uma potencial palma de ouro. A realidade porém se mostrou implacável. A péssima acolhida em Cannes acabou repercutindo nos Estados Unidos e lá o filme acabou se tornando também um dos maiores fracassos do ano. Talvez o público ainda não estivesse pronto para um filme tão inovador. Anos depois Rock defenderia "O Segundo Rosto", tanto que chegaria tardiamente a receber alguns prêmios por sua atuação. De certo modo ele tinha razão em considerar esse um de seus grandes trabalhos. O tempo lhe deu toda a razão. Hoje o filme tem status de "cult", é debatido em escolas de cinema e tem o reconhecimento (tardio) da crítica especializada. Também é uma boa pedida para quem quiser conhecer o lado mais fora do comum da cinematografia sessentista. Quem assistir verá que o filme pode até não agradar a alguns, nem entusiasmar a outros mas certamente não irá deixar ninguém indiferente a ele.
O Segundo Rosto (Seconds, EUA, 1966) / Direção de John Frankenheimer / Roteiro de Lewis John Carlino e David Ely / Elenco: Rock Hudson, Richard Anderson e John Randolph / Sinopse: Homem de meia idade decide passar por transformação plástica radical para recomeçar sua vida. O que não esperava é tal decisão traria consequências trágicas em sua vida pessoal.
Pablo Aluísio.
Rock interpreta o personagem após a mudança de sua identidade. Embora possa soar banal a estrutura dramática do filme o que realmente se sobressai é a maneira que o diretor escolheu para contar essa estória. Imagens distorcidas, sonhos se mesclando à realidade, devaneios e muita metalinguagem psicodélica marcam de forma muito surreal o resultado que assistimos. Na verdade essa película é uma verdadeira ET dentro da filmografia de Hudson, que sempre procurou trilhar o mainstream, evitando correr maiores riscos. Até é claro aceitar fazer esse alucinado roteiro. No meio da esquisitice dois momentos são marcantes: A atuação de Rock numa longa sequência de uma festa (onde ele estava realmente embriagado para parecer mais convincente no filme) e uma celebração onde várias pessoas aparecem nuas num grande tonel de fabricação caseira de vinhos. Essa cena inclusive é muito ousada, principalmente para os padrões morais do cinema americano dos anos 60.
'O Segundo Rosto' foi lançado oficialmente em Cannes. Rock e o diretor esperavam uma grande recepção, uma consagração total na França mas o resultado final não agradou e no final da exibição o filme foi vaiado pelo público. Rock que tinha comparecido na premiere ficou visivelmente constrangido pela reação negativa da plateia. Ele inclusive diria mais tarde que ficou completamente transtornado pois tinha grandes esperanças em seu êxito, falando inclusive em uma potencial palma de ouro. A realidade porém se mostrou implacável. A péssima acolhida em Cannes acabou repercutindo nos Estados Unidos e lá o filme acabou se tornando também um dos maiores fracassos do ano. Talvez o público ainda não estivesse pronto para um filme tão inovador. Anos depois Rock defenderia "O Segundo Rosto", tanto que chegaria tardiamente a receber alguns prêmios por sua atuação. De certo modo ele tinha razão em considerar esse um de seus grandes trabalhos. O tempo lhe deu toda a razão. Hoje o filme tem status de "cult", é debatido em escolas de cinema e tem o reconhecimento (tardio) da crítica especializada. Também é uma boa pedida para quem quiser conhecer o lado mais fora do comum da cinematografia sessentista. Quem assistir verá que o filme pode até não agradar a alguns, nem entusiasmar a outros mas certamente não irá deixar ninguém indiferente a ele.
O Segundo Rosto (Seconds, EUA, 1966) / Direção de John Frankenheimer / Roteiro de Lewis John Carlino e David Ely / Elenco: Rock Hudson, Richard Anderson e John Randolph / Sinopse: Homem de meia idade decide passar por transformação plástica radical para recomeçar sua vida. O que não esperava é tal decisão traria consequências trágicas em sua vida pessoal.
Pablo Aluísio.
Ana dos Mil Dias
Uma boa dica para quem gosta de temas históricos e da série de sucesso The Tudors é assistir esse filme estrelado por Richard Burton. O tema todos conhecemos: as várias histórias de alcova envolvendo o rei absolutista inglês Henrique VIII. Nesse caso o filme é centrado de forma bem específica sobre o romance do Rei com sua segunda esposa, Ana Bolena. Um caso de amor que envolveu até mesmo questões de Estado que até hoje repercutem na história mundial (O Rei rompeu com a Igreja Católica e fundou a sua própria Igreja, chamada Anglicana, por causa da recusa do papa na época em anular seu primeiro casamento). O filme tem produção requintada, ótimas atuações e um bom roteiro, que procura na medida do possível ser bastante fiel aos fatos históricos. Richard Burton está particularmente bem no papel, fazendo com primor essa figura tão controvertida que era Henrique. A atriz que faz Ana Bolena, Geneviève Bujold, também está bem correta em sua caracterização.
Talvez o único senão do filme seja a pouca exploração de um dos personagens centrais da história de Henrique VIII, o chanceler Sir Thomas Moore, o principal opositor ao rompimento de Henrique com a Igreja Romana. Em detrimento de sua participação o filme enfoca mais a presença do Cardel Wolsey e do maquiavélico Cromwel, o segundo chanceler do Rei. De certa forma é até compreensível que isso tenha acontecido, já que são tantos os personagens a se enfocar que seria praticamente impossível não haver omissões em um longa metragem como esse. Apenas seriados conseguem mostrar todos os detalhes de uma biografia tão rica em intrigas, traições e vilanias como a de Henrique. Fato esse demonstrado por The Tudors.
O Filme merece ser conhecido com absoluta certeza. Além da riqueza de produção a película tem um desenvolvimento bem mais leve e acessível do que "O Homem que não vendeu sua Alma" (esse sim centrado e muito na história de Thomas Moore, mártir da fé católica que acabou sendo canonizado pela Igreja de Roma). O resultado se vê na tela, Burton foi indicado ao Globo de Ouro pela produção e até arranjou uma participação não creditada de sua esposa Elizabeth Taylor no filme, o que é um divertimento a mais, já que tentar encontrá-la no meio de tantos figurantes e atores coadjuvantes não é uma tarefa das mais simples. Enfim, gosta de filmes de época? Quer saber mais sobre o absolutismo que imperou na Europa ou simplesmente quer conhecer mais sobre a biografia desse polêmico Rei? Então assista Ana dos Mil Dias e alie bom divertimento a enriquecimento cultural.
Ana dos Mil Dias (Anne of the Thousand Days, EUA, 1969) Direção: Charles Jarrott / Roteiro: Bridget Boland, John Hale / Elenco: Richard Burton, Geneviève Bujold, Irene Papas / Sinopse: O filme enfoca o romance de Henrique VIII (Richard Burton) e Ana Bolena (Geneviève Bujold). O romance escandalizou a Europa medieval e levou ao rompimento da Inglaterra com a Igreja Católica.
Pablo Aluísio.
Talvez o único senão do filme seja a pouca exploração de um dos personagens centrais da história de Henrique VIII, o chanceler Sir Thomas Moore, o principal opositor ao rompimento de Henrique com a Igreja Romana. Em detrimento de sua participação o filme enfoca mais a presença do Cardel Wolsey e do maquiavélico Cromwel, o segundo chanceler do Rei. De certa forma é até compreensível que isso tenha acontecido, já que são tantos os personagens a se enfocar que seria praticamente impossível não haver omissões em um longa metragem como esse. Apenas seriados conseguem mostrar todos os detalhes de uma biografia tão rica em intrigas, traições e vilanias como a de Henrique. Fato esse demonstrado por The Tudors.
O Filme merece ser conhecido com absoluta certeza. Além da riqueza de produção a película tem um desenvolvimento bem mais leve e acessível do que "O Homem que não vendeu sua Alma" (esse sim centrado e muito na história de Thomas Moore, mártir da fé católica que acabou sendo canonizado pela Igreja de Roma). O resultado se vê na tela, Burton foi indicado ao Globo de Ouro pela produção e até arranjou uma participação não creditada de sua esposa Elizabeth Taylor no filme, o que é um divertimento a mais, já que tentar encontrá-la no meio de tantos figurantes e atores coadjuvantes não é uma tarefa das mais simples. Enfim, gosta de filmes de época? Quer saber mais sobre o absolutismo que imperou na Europa ou simplesmente quer conhecer mais sobre a biografia desse polêmico Rei? Então assista Ana dos Mil Dias e alie bom divertimento a enriquecimento cultural.
Ana dos Mil Dias (Anne of the Thousand Days, EUA, 1969) Direção: Charles Jarrott / Roteiro: Bridget Boland, John Hale / Elenco: Richard Burton, Geneviève Bujold, Irene Papas / Sinopse: O filme enfoca o romance de Henrique VIII (Richard Burton) e Ana Bolena (Geneviève Bujold). O romance escandalizou a Europa medieval e levou ao rompimento da Inglaterra com a Igreja Católica.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Cantores do Passado: Frank Sinatra
Eu sempre tive uma relação de amor e ódio em relação a Frank Sinatra. Sua personalidade não era das mais admiráveis. Ele era arrogante, chato, andava com mafiosos (se era mafioso também não posso afirmar) e para piorar tudo gostava de fazer o tipo cafajeste, tratando mal as mulheres, quando não as explorava de forma vergonhosa (recentemente vários fatos desprezíveis foram revelados sobre seu affair com o mito Marilyn Monroe). Enfim, Frank Sinatra definitivamente não foi um santo em vida. Tinha muitos defeitos, sabia disso e em várias ocasiões não fez a menor cerimônia em escondê-los. Apesar de tudo isso não há como não ficar maravilhado ao ouvir alguns de seus álbuns. Seguramente o apelido que ganhou da imprensa americana, "A Voz", é mais do que merecido. Sinatra cantava demais, cantava lindamente, de forma magistral. Sua voz é tão singular que mesmo após tantos anos nunca ouvi nada parecido. Também é inconfundível, não importa onde você esteja, no momento em que alguma canção com Frank Sinatra é tocada você sabe exatamente de quem se trata mesmo que nunca tenha ouvido a música antes.
Curiosamente minha vivência cultural com Sinatra vem de longe. Ainda muito jovem tive acesso a uma bela coleção de discos do cantor. Esses álbuns que ouvia em minha adolescência acabaram por moldar meu gosto pessoal em relação à obra de Sinatra. A minha fase preferida do "Old Blue Eyes" vai do disco "Songs For Young Lovers" de 1954 até "Come Swing With Me" de 1961, ou seja, trocando em miúdos, tenho muita afinidade pela fase que o cantor passou na gravadora Capitol. Interessante é que essa nem é considerada pela crítica especializada como sua fase mais inspirada ou seu auge artístico. Do ponto de vista comercial sim, foi uma época dourada para Sinatra, mas nem todos os álbuns dessa fase fizeram a cabeça dos críticos americanos. Isso é bem fácil de compreender. Sinatra foi para a Capitol logo quando o Rock começava a dar seus primeiros passos. Até aquele momento ele não tinha enfrentado uma concorrência tão forte como a que estava por vir. Isso mudou totalmente quando o novo estilo musical invadiu as paradas de sucesso. Vários novos artistas tomaram de assalto os primeiros lugares deixando cantores como Sinatra sem muita reação, até porque eles nunca tinham presenciado algo parecido antes.
Para sobreviver então Sinatra e cia tiveram que se adaptar e isso ocorreu justamente em seus anos na Capitol. Os discos do cantor nessa época me chamam atenção porque tentam conciliar o que havia de mais tradicional com os novos ares que a música americana soprava naquele momento histórico. Os discos tentam dialogar com os jovens. As capas são bem produzidas, chamativas, coloridas. São de certa maneira discos conceituais, como por exemplo, "Come Fly With Me" cujo conceito mais parece uma peça publicitária feita em alguma agência como a que vemos no seriado "Mad Men". Ou então o apelo surge bem mais cru, quase descarado como o que ouvimos em "Songs for Swingin' Lovers!", lançado em plena febre do rock onde o artista tenta de todas as formas dialogar com a juventude transviada daqueles anos. Apesar dos esforços e dos bons números de vendas o fato foi que mesmo na Capitol, com todo o seu marketing e tentativa de remodelação para o público jovem, Sinatra foi perdendo espaço nas paradas. Sua música foi muito associado ao "som dos coroas" e assim Frank logo foi rotulado de cafona e velharia, até porque é natural que as gerações mais novas venham a rejeitar os ídolos da geração passada. Isso é próprio do Homo Sapiens embora é claro seja uma tremenda injustiça com todos esses artistas, vamos convir.
Mas como diz o ditado nada melhor do que um dia após o outro. A música de Frank Sinatra só cresceu com o passar das décadas. Hoje Sinatra e sua voz maravilhosa passam por um renascer induvidoso. Suas músicas reconquistaram o brilho dos anos de ouro do cantor. Os jovens da nossa era estão redescobrindo seu legado. Ninguém mais ouve Sinatra hoje em dia e rotula sua obra como cafona ou ultrapassada. Muito longe disso. Pelo contrário, suas canções estão em praticamente todas as comédias românticas de Hollywood, sua música é hoje considerada sofisticada e de bom gosto. Ele é tocado em ambientes finos e de alto nível. Sem o ser humano manchando sua própria reputação como ele fez várias vezes em vida sobrou apenas a boa música, essa seguramente imortal.
Pablo Aluísio.
Curiosamente minha vivência cultural com Sinatra vem de longe. Ainda muito jovem tive acesso a uma bela coleção de discos do cantor. Esses álbuns que ouvia em minha adolescência acabaram por moldar meu gosto pessoal em relação à obra de Sinatra. A minha fase preferida do "Old Blue Eyes" vai do disco "Songs For Young Lovers" de 1954 até "Come Swing With Me" de 1961, ou seja, trocando em miúdos, tenho muita afinidade pela fase que o cantor passou na gravadora Capitol. Interessante é que essa nem é considerada pela crítica especializada como sua fase mais inspirada ou seu auge artístico. Do ponto de vista comercial sim, foi uma época dourada para Sinatra, mas nem todos os álbuns dessa fase fizeram a cabeça dos críticos americanos. Isso é bem fácil de compreender. Sinatra foi para a Capitol logo quando o Rock começava a dar seus primeiros passos. Até aquele momento ele não tinha enfrentado uma concorrência tão forte como a que estava por vir. Isso mudou totalmente quando o novo estilo musical invadiu as paradas de sucesso. Vários novos artistas tomaram de assalto os primeiros lugares deixando cantores como Sinatra sem muita reação, até porque eles nunca tinham presenciado algo parecido antes.
Para sobreviver então Sinatra e cia tiveram que se adaptar e isso ocorreu justamente em seus anos na Capitol. Os discos do cantor nessa época me chamam atenção porque tentam conciliar o que havia de mais tradicional com os novos ares que a música americana soprava naquele momento histórico. Os discos tentam dialogar com os jovens. As capas são bem produzidas, chamativas, coloridas. São de certa maneira discos conceituais, como por exemplo, "Come Fly With Me" cujo conceito mais parece uma peça publicitária feita em alguma agência como a que vemos no seriado "Mad Men". Ou então o apelo surge bem mais cru, quase descarado como o que ouvimos em "Songs for Swingin' Lovers!", lançado em plena febre do rock onde o artista tenta de todas as formas dialogar com a juventude transviada daqueles anos. Apesar dos esforços e dos bons números de vendas o fato foi que mesmo na Capitol, com todo o seu marketing e tentativa de remodelação para o público jovem, Sinatra foi perdendo espaço nas paradas. Sua música foi muito associado ao "som dos coroas" e assim Frank logo foi rotulado de cafona e velharia, até porque é natural que as gerações mais novas venham a rejeitar os ídolos da geração passada. Isso é próprio do Homo Sapiens embora é claro seja uma tremenda injustiça com todos esses artistas, vamos convir.
Mas como diz o ditado nada melhor do que um dia após o outro. A música de Frank Sinatra só cresceu com o passar das décadas. Hoje Sinatra e sua voz maravilhosa passam por um renascer induvidoso. Suas músicas reconquistaram o brilho dos anos de ouro do cantor. Os jovens da nossa era estão redescobrindo seu legado. Ninguém mais ouve Sinatra hoje em dia e rotula sua obra como cafona ou ultrapassada. Muito longe disso. Pelo contrário, suas canções estão em praticamente todas as comédias românticas de Hollywood, sua música é hoje considerada sofisticada e de bom gosto. Ele é tocado em ambientes finos e de alto nível. Sem o ser humano manchando sua própria reputação como ele fez várias vezes em vida sobrou apenas a boa música, essa seguramente imortal.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Cantores do Passado: Vic Damone
Uma das coisa mais marcantes do filme "Tarde Demais Para Esquecer" é a linda canção tema "An Affair to Remember" interpretada pelo cantor Vic Damone. Esse nova iorquino nascido no Brooklin teve uma carreira longa e muito bem sucedida tanto na indústria musical quanto na cinematográfica, chegando até a fazer bem sucedidos programas de tv nas décadas de 50 e 60. A história de Vic Damone lembra bastante a de outros grandes cantores americanos. Assim como Elvis ele começou a cantar em igrejas. Lá aprendeu as primeiras lições sobre entonações e canto. Mas foi com o sucesso de outro cantor ítalo-americano que Damone realmente pensou em levar sua carreira mais à sério. Na década de 40 com a explosão de Sinatra nos shows e nas paradas, Vic resolveu seguir seus passos. Conseguiu conhecer e contar com o apoio de Perry Como, outro cantor famoso da época que lhe abriu muitas portas. Assim em 1947 finalmente gravou seu primeiro disco "I Have But One Heart" na extinta Mercury Records.
Vic Damone não tinha a beleza vocal de Sinatra e nem a doçura do timbre de Dean Martin mas era muito disciplinado e esforçado. Ao longo dos anos sua voz foi ganhando cada vez mais corpo e força. Após algumas gravações finalmente alcançou o tom que procurava e foi assim que conseguiu seu primeiro grande sucesso, a balada "You're Breaking My Heart" que chegou ao topo da Billboard. A partir daí Damone não parou. Conseguiu pontas em filmes musicais e se tornou figurinha fácil nos programas de auditório nos EUA. A TV nascia naquele momento e ele soube muito bem explorar esse novo meio de comunicação. Em pouco tempo ganhou seu próprio programa na grade de uma das emissoras de maior audiência, a CBS, e assinou com a potente Capitol Records (a mesma gravadora de Sinatra na época).
A única coisa que atrapalhou Vic Damone nesse momento foi o surgimento avassalador de uma nova música que nascia nos EUA: O Rock´n´Roll. Como ele fazia a linha seguida por Frank Sinatra e Dean Martin logo quando o Rock estourou nas paradas seu espaço na mídia e no hit parade ficou reduzido. Em meados da década de 60 acabou rompendo com a Capitol e foi para a Warner que naquele momento tentava consolidar seu selo no mercado fonográfico. Aqui ele ainda conseguiu emplacar alguns sucessos discretos mas em termos gerais o jogo estava acabado. Nos anos 70, já com o peso da idade, se refugiou nos cassinos e casas de espetáculos de menor porte. Mesmo assim conseguiu formar um grupo fiel de fãs e admiradores até finalmente se aposentar dos palcos no começo da década de 80. No final o próprio Frank Sinatra elogiou sua voz e poderio vocal, algo aliás bem merecido. Damone foi artista multimídia muito antes desse termo se popularizar. Ele soube antes de muitos que não se devia subestimar nenhum meio de promoção de seus discos. Pensando assim conseguiu seu espaço. Hoje o cantor é reverenciado nos EUA e esporadicamente realiza algumas aparições especiais. Nada mal para o garoto do Brooklin que sonhava um dia ser como seu maior ídolo, Sinatra.
Pablo Aluísio.
Vic Damone não tinha a beleza vocal de Sinatra e nem a doçura do timbre de Dean Martin mas era muito disciplinado e esforçado. Ao longo dos anos sua voz foi ganhando cada vez mais corpo e força. Após algumas gravações finalmente alcançou o tom que procurava e foi assim que conseguiu seu primeiro grande sucesso, a balada "You're Breaking My Heart" que chegou ao topo da Billboard. A partir daí Damone não parou. Conseguiu pontas em filmes musicais e se tornou figurinha fácil nos programas de auditório nos EUA. A TV nascia naquele momento e ele soube muito bem explorar esse novo meio de comunicação. Em pouco tempo ganhou seu próprio programa na grade de uma das emissoras de maior audiência, a CBS, e assinou com a potente Capitol Records (a mesma gravadora de Sinatra na época).
A única coisa que atrapalhou Vic Damone nesse momento foi o surgimento avassalador de uma nova música que nascia nos EUA: O Rock´n´Roll. Como ele fazia a linha seguida por Frank Sinatra e Dean Martin logo quando o Rock estourou nas paradas seu espaço na mídia e no hit parade ficou reduzido. Em meados da década de 60 acabou rompendo com a Capitol e foi para a Warner que naquele momento tentava consolidar seu selo no mercado fonográfico. Aqui ele ainda conseguiu emplacar alguns sucessos discretos mas em termos gerais o jogo estava acabado. Nos anos 70, já com o peso da idade, se refugiou nos cassinos e casas de espetáculos de menor porte. Mesmo assim conseguiu formar um grupo fiel de fãs e admiradores até finalmente se aposentar dos palcos no começo da década de 80. No final o próprio Frank Sinatra elogiou sua voz e poderio vocal, algo aliás bem merecido. Damone foi artista multimídia muito antes desse termo se popularizar. Ele soube antes de muitos que não se devia subestimar nenhum meio de promoção de seus discos. Pensando assim conseguiu seu espaço. Hoje o cantor é reverenciado nos EUA e esporadicamente realiza algumas aparições especiais. Nada mal para o garoto do Brooklin que sonhava um dia ser como seu maior ídolo, Sinatra.
Pablo Aluísio.
Cantores do Passado: Eddie Fisher
Infelizmente vários grandes cantores do passado foram injustamente esquecidos após seu auge de sucesso. Isso aconteceu muito por aqui no Brasil mas também lá fora. Os motivos são muitos, algumas vezes o artista briga com seus empresários ou a gravadora e acabam no ostracismo. Em outros casos escândalos pessoais acabam por afundar a carreira do artista. Um caso assim aconteceu com o bom cantor Eddie Fisher. Hoje pouca gente consegue associar o nome dele a alguma canção. Uma pena. Mesmo nos Estados Unidos seu nome só surge na imprensa por causa de sua atribulada vida pessoal. Para quem não lembra Eddie Fisher foi um dos vários maridos da estrela Elizabeth Taylor. O pior é que seu casamento com Liz foi realizado em clima de grande escândalo pessoal pois na época ele era casado com outra atriz, grande amiga de Liz, Debbie Reynolds. Ela era como a namoradinha da América e todos ficaram chocados com o mal caratismo de Fisher ao trocar Debbie por Elizabeth Taylor (que naqueles anos já havia ganhado sua fama de colecionar diamantes e... maridos). Eddie Fisher então foi tachado de mal caráter, traidor e outras coisas piores. A imprensa sensacionalista o elegeu como alvo principal e assim não havia semana em que não havia alguma reportagem destruindo sua reputação nas bancas.
O casamento diante de tantas pressões foi um fracasso e acabou levando para o ralo a carreira de Fisher junto, que repito, era um grande cantor, um intérprete de grandes recursos vocais. Seu estilo estava mais próximo do de Pat Boone, pois ambos tinham vozes poderosas, mas ao contrário de Boone, Fisher preferia um repertório de canções românticas com temática mais adulta (Já Boone tentava rivalizar com Elvis Presley pelo gosto do público jovem). Fisher, antes dos problemas pessoais, nunca chegou a ser um estouro de vendas. Era considerado um cantor romântico de sucessos esparsos (geralmente ele conseguia com muito esforço um primeiro lugar em anos alternados nas principais paradas mas tinha público fiel que segurava sempre suas vendas em um patamar aceitável por sua gravadora). Mesmo assim seus hits mais famosos ainda hoje povoam a cultura musical americana (por aqui Eddie Fisher nunca conseguiu maior projeção pois o Brasil tinha seus próprios grandes cantores nesse estilo).
Hoje provavelmente canções como "Oh My Papa" (primeiro lugar de vendas em 1953) vai soar datada e fora de moda entre os jovens, mas mesmo assim vale o registro de sua ótima performance, mesmo numa melodia e letra melosas. Na minha opinião sua melhor interpretação é "Wish You Were Here" (que tem um lindo arranjo de orquestra ao velho estilo). Aqui o cantor deixa o vozeirão em segundo plano para cantar suavemente - o que soava bem melhor, principalmente por seu timbre de voz. Outro destaque é o último grande sucesso de Eddie, a boa "I Need You Now", com refrão pegajoso, o que era adequado a quem tentava levantar a carreira a todo custo. Enfim, depois de colecionar esses sucessos Eddie Fisher ainda tentou um retorno, inclusive na TV, mas era tarde demais. A traição dele para com Debbie Reynolds pegou muito mal e depois de anos de estampa em revistas de fofocas seus discos não conseguiam mais vender bem. Ele trocou de gravadora, foi para uma menor mas essa não conseguiu mais superar a avalanche de péssimas notas na imprensa. Suas canções ainda eram boas - e bem interpretadas, mas o público simplesmente passou a ignorar o que ele produzia. Desiludido deixou a música nos anos 1960. Recentemente sua filha, Carrie Fisher (ela mesma, a Princesa Leia de Guerra nas Estrelas), lançou uma biografa em que comenta seu relacionamento com o pai. Outro produto tipicamente de fofocas. Deixe isso pra lá e procure conhecer apenas o Eddie Fisher cantor. Você terá bons momentos com belas canções, certamente.
Pablo Aluísio.
O casamento diante de tantas pressões foi um fracasso e acabou levando para o ralo a carreira de Fisher junto, que repito, era um grande cantor, um intérprete de grandes recursos vocais. Seu estilo estava mais próximo do de Pat Boone, pois ambos tinham vozes poderosas, mas ao contrário de Boone, Fisher preferia um repertório de canções românticas com temática mais adulta (Já Boone tentava rivalizar com Elvis Presley pelo gosto do público jovem). Fisher, antes dos problemas pessoais, nunca chegou a ser um estouro de vendas. Era considerado um cantor romântico de sucessos esparsos (geralmente ele conseguia com muito esforço um primeiro lugar em anos alternados nas principais paradas mas tinha público fiel que segurava sempre suas vendas em um patamar aceitável por sua gravadora). Mesmo assim seus hits mais famosos ainda hoje povoam a cultura musical americana (por aqui Eddie Fisher nunca conseguiu maior projeção pois o Brasil tinha seus próprios grandes cantores nesse estilo).
Hoje provavelmente canções como "Oh My Papa" (primeiro lugar de vendas em 1953) vai soar datada e fora de moda entre os jovens, mas mesmo assim vale o registro de sua ótima performance, mesmo numa melodia e letra melosas. Na minha opinião sua melhor interpretação é "Wish You Were Here" (que tem um lindo arranjo de orquestra ao velho estilo). Aqui o cantor deixa o vozeirão em segundo plano para cantar suavemente - o que soava bem melhor, principalmente por seu timbre de voz. Outro destaque é o último grande sucesso de Eddie, a boa "I Need You Now", com refrão pegajoso, o que era adequado a quem tentava levantar a carreira a todo custo. Enfim, depois de colecionar esses sucessos Eddie Fisher ainda tentou um retorno, inclusive na TV, mas era tarde demais. A traição dele para com Debbie Reynolds pegou muito mal e depois de anos de estampa em revistas de fofocas seus discos não conseguiam mais vender bem. Ele trocou de gravadora, foi para uma menor mas essa não conseguiu mais superar a avalanche de péssimas notas na imprensa. Suas canções ainda eram boas - e bem interpretadas, mas o público simplesmente passou a ignorar o que ele produzia. Desiludido deixou a música nos anos 1960. Recentemente sua filha, Carrie Fisher (ela mesma, a Princesa Leia de Guerra nas Estrelas), lançou uma biografa em que comenta seu relacionamento com o pai. Outro produto tipicamente de fofocas. Deixe isso pra lá e procure conhecer apenas o Eddie Fisher cantor. Você terá bons momentos com belas canções, certamente.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Elizabeth Taylor e Eddie Fisher
Você sabe quem foi Eddie Fisher? Eddie Fisher foi um cantor popular na década de 50. Hoje pouca gente consegue associar o nome dele a alguma canção. Uma pena. Mesmo nos Estados Unidos seu nome só surge na imprensa por causa de sua atribulada vida pessoal. Para quem não lembra Eddie Fisher foi um dos vários maridos da estrela Elizabeth Taylor. O pior é que seu casamento com Liz foi realizado em clima de grande escândalo pessoal pois na época ele era casado com outra atriz, grande amiga de Liz, Debbie Reynolds. ´
Ela era como a namoradinha da América e todos ficaram chocados com o mau caratismo de Fisher ao trocar Debbie por Elizabeth Taylor (que naqueles anos já havia ganhado sua fama de colecionar diamantes e... maridos). Eddie Fisher então foi tachado de mal caráter, traidor e outras coisas piores. A imprensa sensacionalista o elegeu como alvo principal e assim não havia semana em que não havia alguma reportagem destruindo sua reputação nas bancas.
O casamento diante de tantas pressões foi um fracasso e acabou levando para o ralo a carreira de Fisher junto. Uma pena pois ele era um grande cantor, um intérprete de grandes recursos vocais. Já Elizabeth Taylor seguiu em frente. Quando filmou Disque Butterfield 8 ao lado de Fisher o casamento deles já estava com os dias contados. De fato Liz o colocou no filme para levantar sua popularidade já que estava seriamente abalada pelos jornais sensacionalistas. Aos poucos ela própria foi se desinteressando dele, o achando uma pessoa muito superficial, quase tola. Quando o filme foi lançado houve reações adversas. Alguns acharam tudo de mal gosto, outros louvaram a coragem de Taylor. Durante as votações para a escolha dos melhores da Academia Elizabeth ficou gravemente doente, indo parar na UTI. Para muitos seria o fim da linha para ela.
Apavorados pela possibilidade dela morrer, muitos membros da Academia votaram em Liz - até como um forma de justiça pois ela tinha realizado grandes trabalhos nos anos anteriores sem premiação. Um prêmio de consolação. Quando o Oscar foi anunciado todos já sabiam: Elizabeth Taylor venceu na categoria de melhor atriz por Disque Butterfield 8. Ela chorou, ficou emocionada e agradeceu de forma efusiva pela honra. Curiosamente alguns anos depois a própria atriz renegaria o filme, afirmando não gostar dele e nem de seu papel. Atribuo isso ao fato dela estar vivendo um momento muito conturbado de sua vida pessoal. De qualquer forma antes tarde do que nunca, ela realmente já merecia o Oscar desde "Gata em Teto de Zinco Quente". No final se fez justiça.
Pablo Aluísio.
Ela era como a namoradinha da América e todos ficaram chocados com o mau caratismo de Fisher ao trocar Debbie por Elizabeth Taylor (que naqueles anos já havia ganhado sua fama de colecionar diamantes e... maridos). Eddie Fisher então foi tachado de mal caráter, traidor e outras coisas piores. A imprensa sensacionalista o elegeu como alvo principal e assim não havia semana em que não havia alguma reportagem destruindo sua reputação nas bancas.
O casamento diante de tantas pressões foi um fracasso e acabou levando para o ralo a carreira de Fisher junto. Uma pena pois ele era um grande cantor, um intérprete de grandes recursos vocais. Já Elizabeth Taylor seguiu em frente. Quando filmou Disque Butterfield 8 ao lado de Fisher o casamento deles já estava com os dias contados. De fato Liz o colocou no filme para levantar sua popularidade já que estava seriamente abalada pelos jornais sensacionalistas. Aos poucos ela própria foi se desinteressando dele, o achando uma pessoa muito superficial, quase tola. Quando o filme foi lançado houve reações adversas. Alguns acharam tudo de mal gosto, outros louvaram a coragem de Taylor. Durante as votações para a escolha dos melhores da Academia Elizabeth ficou gravemente doente, indo parar na UTI. Para muitos seria o fim da linha para ela.
Apavorados pela possibilidade dela morrer, muitos membros da Academia votaram em Liz - até como um forma de justiça pois ela tinha realizado grandes trabalhos nos anos anteriores sem premiação. Um prêmio de consolação. Quando o Oscar foi anunciado todos já sabiam: Elizabeth Taylor venceu na categoria de melhor atriz por Disque Butterfield 8. Ela chorou, ficou emocionada e agradeceu de forma efusiva pela honra. Curiosamente alguns anos depois a própria atriz renegaria o filme, afirmando não gostar dele e nem de seu papel. Atribuo isso ao fato dela estar vivendo um momento muito conturbado de sua vida pessoal. De qualquer forma antes tarde do que nunca, ela realmente já merecia o Oscar desde "Gata em Teto de Zinco Quente". No final se fez justiça.
Pablo Aluísio.
domingo, 25 de novembro de 2007
Charles Chaplin - Hollywood Boulevard - Parte 4
Charles Chaplin não gostou muito dos primeiros filmes que fez ao chegar nos Estados Unidos. Ele havia sido contratado pelo produtor Mack Sennett, para atuar numa série de filmes curtos, de meia hora de duração. Eram chamados de filmes de dois rolos, os mais simples da Keystone Film Company, uma produtora especializada em comédias rápidas. Na época o maior sucesso do estúdio eram os filmes estrelados por uma trupe de policiais desastrados, os Keystone Cops.
Chaplin veio para se tornar a estrela mais popular do estúdio, mas isso iria demorar ainda algum tempo. Mack Sennett errou ao colocar Chaplin para atuar numa série de comédias pastelões sem muito capricho, sem maiores cuidados. Também se equivocou ao escalar velhos diretores de teatro burlesco para dirigir Chaplin. Ele conhecia todos os truques desse tipo de comédia e se sentia farto de repetir as mesmas coisas sempre, comédia pastelão após comédia pastelão. Ele queria algo diferente.
Havia uma jovem atriz chamada Mabel Normand, uma graça de pessoa com quem Chaplin havia contracenado algumas vezes. Ele tinha 20 e poucos anos e quase nenhuma experiência a mais no teatro e cinema. Sennett era apaixonado secretamente por ela e por isso a colocou para dirigir Chaplin. O comediante achou a situação absurda, não porque não gostasse dela, mas sim porque ele, Chaplin, era muito mais experiente e teria muito mais a contribuir na direção de seus próprios filmes. Na verdade já nessa fase muito inicial de sua carreira, Chaplin queria ser cineasta, pois ideias não lhe faltavam (e nem talento).
Mesmo assim por ordem do estúdio Chaplin foi lá trabalhar sendo dirigido pela beldade Mabel Normand. Esses primeiros filmes pecam pela ingenuidade extrema e por Chaplin ainda não ter criado totalmente seu mais famoso personagem, o do Vagabundo. Ora Chaplin aparecia como o bêbado que tentava manter a dignidade mesmo estando completamente embriagado (dizem que inspirado no próprio pai), ora como o romântico almofadinha que não conseguia convencer a bela garota a se tornar sua namorada. Apareceu também como policial na trupe dos Keustone Cops, mas sem se destacar muito. Só depois de muita conversa foi que finalmente o produtor Mack Sennett aceitou que Chaplin viesse a dirigir seus primeiros filmes de comédia. Uma gênio estava nascendo na sétima arte.
Pablo Aluísio.
Chaplin veio para se tornar a estrela mais popular do estúdio, mas isso iria demorar ainda algum tempo. Mack Sennett errou ao colocar Chaplin para atuar numa série de comédias pastelões sem muito capricho, sem maiores cuidados. Também se equivocou ao escalar velhos diretores de teatro burlesco para dirigir Chaplin. Ele conhecia todos os truques desse tipo de comédia e se sentia farto de repetir as mesmas coisas sempre, comédia pastelão após comédia pastelão. Ele queria algo diferente.
Havia uma jovem atriz chamada Mabel Normand, uma graça de pessoa com quem Chaplin havia contracenado algumas vezes. Ele tinha 20 e poucos anos e quase nenhuma experiência a mais no teatro e cinema. Sennett era apaixonado secretamente por ela e por isso a colocou para dirigir Chaplin. O comediante achou a situação absurda, não porque não gostasse dela, mas sim porque ele, Chaplin, era muito mais experiente e teria muito mais a contribuir na direção de seus próprios filmes. Na verdade já nessa fase muito inicial de sua carreira, Chaplin queria ser cineasta, pois ideias não lhe faltavam (e nem talento).
Mesmo assim por ordem do estúdio Chaplin foi lá trabalhar sendo dirigido pela beldade Mabel Normand. Esses primeiros filmes pecam pela ingenuidade extrema e por Chaplin ainda não ter criado totalmente seu mais famoso personagem, o do Vagabundo. Ora Chaplin aparecia como o bêbado que tentava manter a dignidade mesmo estando completamente embriagado (dizem que inspirado no próprio pai), ora como o romântico almofadinha que não conseguia convencer a bela garota a se tornar sua namorada. Apareceu também como policial na trupe dos Keustone Cops, mas sem se destacar muito. Só depois de muita conversa foi que finalmente o produtor Mack Sennett aceitou que Chaplin viesse a dirigir seus primeiros filmes de comédia. Uma gênio estava nascendo na sétima arte.
Pablo Aluísio.
sábado, 24 de novembro de 2007
Frank Sinatra - The Voice - Parte 5
O fim da vida de Sinatra não foi feliz. Conforme o tempo foi passando seus problemas mentais foram piorando. Ele não conseguia mais se lembrar de muita coisa. Algumas vezes esquecia até mesmo de seu familiares mais próximos. Era um sinal claro que ele muito provavelmente estava sofrendo do Mal de Alzheimer, só que a família resolveu esconder isso do público. Enquanto Sinatra definhava uma guerra surda explodia ao seu redor.
Sinatra havia se casado com uma mulher chamada Barbara Marx. As filhas de Sinatra, Nancy e Tina, não gostavam dela. A consideravam uma oportunista. Barbara (que faleceu em 2017 aos 90 anos de idade) comprou a briga para si. Ela ficou ao lado do cantor até o fim, aguentando alguns ataques vindos das filhas de Sinatra. Não demorou a revidar as hostilidades, criando muito stress, tensão e conflitos dentro do Clã Sinatra. Claro que pode baixo de tudo havia a disputa pela grande fortuna pessoal de Frank Sinatra. Muitos milhões de dólares estavam sobre a mesa como herança. Quem iria levar o maior quinhão?
Nos últimos meses de vida do marido, Barbara decidiu que iria vender sua amada casa em Los Angeles. Sinatra já não demonstrava sinais de que estava entendendo o mundo ao seu redor, mas no último dia na sua velha casa ele pareceu entender que estava indo embora e chorou na sala de estar. As filhas ficaram possessas quando descobriram isso. Elas queriam manter a mansão, mas Barbara não quis muita conversa. Essa mudança seria apenas mais uma das desavenças envolvendo a esposa de Frank com suas filhas. Nunca a frase "Rei morto, Rei posto" fez tanto sentido, pois no final das contas a pura verdade é que muitas pessoas estavam esperando apenas pela notícia da morte do homem Frank Sinatra.
Pablo Aluísio.
Sinatra havia se casado com uma mulher chamada Barbara Marx. As filhas de Sinatra, Nancy e Tina, não gostavam dela. A consideravam uma oportunista. Barbara (que faleceu em 2017 aos 90 anos de idade) comprou a briga para si. Ela ficou ao lado do cantor até o fim, aguentando alguns ataques vindos das filhas de Sinatra. Não demorou a revidar as hostilidades, criando muito stress, tensão e conflitos dentro do Clã Sinatra. Claro que pode baixo de tudo havia a disputa pela grande fortuna pessoal de Frank Sinatra. Muitos milhões de dólares estavam sobre a mesa como herança. Quem iria levar o maior quinhão?
Nos últimos meses de vida do marido, Barbara decidiu que iria vender sua amada casa em Los Angeles. Sinatra já não demonstrava sinais de que estava entendendo o mundo ao seu redor, mas no último dia na sua velha casa ele pareceu entender que estava indo embora e chorou na sala de estar. As filhas ficaram possessas quando descobriram isso. Elas queriam manter a mansão, mas Barbara não quis muita conversa. Essa mudança seria apenas mais uma das desavenças envolvendo a esposa de Frank com suas filhas. Nunca a frase "Rei morto, Rei posto" fez tanto sentido, pois no final das contas a pura verdade é que muitas pessoas estavam esperando apenas pela notícia da morte do homem Frank Sinatra.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Frank Sinatra - The Voice - Parte 4
Os problemas de memorização foram ficando cada vez piores, mas Frank Sinatra se recusou a deixar os palcos. Ele cumpria longas e pesadas turnês, mesmo sem ter a condição perfeita para isso. O resultado foi que Sinatra entrou em uma montanha russa. Numa noite conseguia se apresentar bem, escondendo seus problemas de memória. Outras vezes fazia concertos tão desastrosos que todos ficavam embaraçados. Em um palco perto de Nova Iorque Sinatra reconheceu o fracasso de sua apresentação. Sem meias palavras olhou para o público e disse no microfone: "Na saída peguem o dinheiro dos ingressos de volta!".
No meio da conturbada carreira nos palcos coisas boas aconteceram nos estúdios. Um produtor teve a brilhante ideia de colocar Sinatra para cantar duetos com outros grandes nomes da música. Sinatra foi informado do projeto e disse que toparia, desde que os outros artistas viessem até ele. O velho cantor não estava disposto a cruzar o mundo de avião para cantar com esses caras. No final nada disso era necessário. Sinatra gravaria sua parte e os demais cantores e cantoras fariam sua parte em cima de suas gravações. E assim foi feito. Sinatra nunca se encontrou com os demais vocalistas. Tudo foi unido pela tecnologia. O resultado foi excelente. O disco "Duets" acabou se tornando o álbum mais vendido de toda a carreira de Sinatra. Em poucos dias vendeu 3 milhões de cópias, algo que ele nunca havia feito. Era um novo sopro de vida em sua vida musical.
Na vida pessoal Sinatra continuou bebendo muito. Ele estava sempre atrás de alguém para sentar com ele à mesa para passar horas e horas bebendo. Seus velhos amigos estavam praticamente todos mortos. Dean Martin havia morrido já há alguns anos. Eles tinham tido problemas e Martin já estava fora da agenda de Sinatra há bastante tempo. Ele também voltou-se a um velho hobby que amava: colecionar trenzinhos de brinquedo. Sinatra tinha uma imensa coleção de trens. Quando soube que havia sido lançada uma nova linha de modernos trenzinhos na Alemanha, em réplicas perfeitas de trens do século XVIII, nem pensou duas vezes. Pegou seu jatinho e foi para a Europa só para comprar esses brinquedos. Sinatra abriu também sua imensa coleção para as crianças. Ele mandava trazer colegiais de escolas perto de sua casa para que também curtissem os trenzinhos. Sua esposa Barbara confessou numa entrevista que Sinatra mandou até mesmo confeccionar um chapéu de maquinista para essas ocasiões. Ele adorava o hobby e ficava encantando com o espanto dos estudantes no meio de todas aquelas peças raras. Sinatra então os incentivava: "Vamos lá, brinquem, fiquem à vontade!" Entre a garotada ele também acabava virando uma criança.
Pablo Aluísio.
No meio da conturbada carreira nos palcos coisas boas aconteceram nos estúdios. Um produtor teve a brilhante ideia de colocar Sinatra para cantar duetos com outros grandes nomes da música. Sinatra foi informado do projeto e disse que toparia, desde que os outros artistas viessem até ele. O velho cantor não estava disposto a cruzar o mundo de avião para cantar com esses caras. No final nada disso era necessário. Sinatra gravaria sua parte e os demais cantores e cantoras fariam sua parte em cima de suas gravações. E assim foi feito. Sinatra nunca se encontrou com os demais vocalistas. Tudo foi unido pela tecnologia. O resultado foi excelente. O disco "Duets" acabou se tornando o álbum mais vendido de toda a carreira de Sinatra. Em poucos dias vendeu 3 milhões de cópias, algo que ele nunca havia feito. Era um novo sopro de vida em sua vida musical.
Na vida pessoal Sinatra continuou bebendo muito. Ele estava sempre atrás de alguém para sentar com ele à mesa para passar horas e horas bebendo. Seus velhos amigos estavam praticamente todos mortos. Dean Martin havia morrido já há alguns anos. Eles tinham tido problemas e Martin já estava fora da agenda de Sinatra há bastante tempo. Ele também voltou-se a um velho hobby que amava: colecionar trenzinhos de brinquedo. Sinatra tinha uma imensa coleção de trens. Quando soube que havia sido lançada uma nova linha de modernos trenzinhos na Alemanha, em réplicas perfeitas de trens do século XVIII, nem pensou duas vezes. Pegou seu jatinho e foi para a Europa só para comprar esses brinquedos. Sinatra abriu também sua imensa coleção para as crianças. Ele mandava trazer colegiais de escolas perto de sua casa para que também curtissem os trenzinhos. Sua esposa Barbara confessou numa entrevista que Sinatra mandou até mesmo confeccionar um chapéu de maquinista para essas ocasiões. Ele adorava o hobby e ficava encantando com o espanto dos estudantes no meio de todas aquelas peças raras. Sinatra então os incentivava: "Vamos lá, brinquem, fiquem à vontade!" Entre a garotada ele também acabava virando uma criança.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Frank Sinatra - The Voice - Parte 3
Conforme os anos foram passando Frank Sinatra começou a apresentar sinais de demência. Isso chocou sua esposa Barbara e suas filhas. Tudo foi escondido da imprensa, porém os que lhe eram próximos sabiam o que estava acontecendo. Sinatra poderia encontrar um maestro com quem havia trabalhado por anos e anos e não se lembrar mais quem ele era. Certa vez encontrou-se com Nelson Ridlle em um hotel de Las Vegas e quando esse o chamou, Sinatra respondeu: "Quem é você?". Ora, os dois trabalharam juntos por décadas, gravaram dezenas de discos juntos e era inconcebível que Sinatra não o reconhecesse.
Esse foi um sinal claro de que algo estava errado. Ao ser levado para o médico foi constatado que Sinatra estava tendo os primeiros sinais de uma demência precoce, algo que colocaria um fim em sua carreira de ator. Afinal decorar textos com as falas era algo vital para um ator. Sem isso Sinatra não tinha mais como atuar em novos filmes. Para evitar maiores boatos seu agente começou a entregar todos os roteiros e scripts que lhes eram enviados. Com a desculpa de que não tinha tempo para filmes ele deixou Hollywood para sempre.
Nos shows ao vivo foi instalado um sistema de teleprompter, algo bem discreto, para que ele pudesse ler as letras das músicas. Por décadas Sinatra havia se orgulhado de sua memória, de nunca esquecer uma letra no palco. Nos últimos tempos porém isso havia se tornado um problema e tanto. Inclusive quando estave no Brasil Sinatra esqueceu a letra de um de seus maiores sucessos. Isso em pleno Maracanã, diante do maior público de sua carreira. Em determinado momento ele ficou ali parado, sem saber o que fazer, até que o público em coro começou a cantar sua música. Sinatra diria para sua filha que aquele momento havia sido um dos mais emocionantes de toda a sua vida como artista.
Procurando esconder suas problemas do grande público, o velho "olhos azuis" teve um grande aborrecimento quando chegou nas lojas uma biografia não autorizada sobre ele. Escrito pela jornalista Kitty Kelly com o título de "His Way: The Unauthorized Biography of Frank Sinatra", o livro trazia pela primeira vez revelações secretas de sua vida. Sinatra ficou furioso com a publicação e declarou para os jornais que iria processar até o inferno a autora. Isso só trouxe mais publicidade ainda para a biografia que rapidamente foi para a lista dos mais vendidos do New York Times. Pela primeira vez o cantor sentia na pele o que era ter a sua vida pessoal exposta ao grande público, sem maquiagem e sem esconder seus segredos pessoais mais íntimos.
Pablo Aluísio.
Esse foi um sinal claro de que algo estava errado. Ao ser levado para o médico foi constatado que Sinatra estava tendo os primeiros sinais de uma demência precoce, algo que colocaria um fim em sua carreira de ator. Afinal decorar textos com as falas era algo vital para um ator. Sem isso Sinatra não tinha mais como atuar em novos filmes. Para evitar maiores boatos seu agente começou a entregar todos os roteiros e scripts que lhes eram enviados. Com a desculpa de que não tinha tempo para filmes ele deixou Hollywood para sempre.
Nos shows ao vivo foi instalado um sistema de teleprompter, algo bem discreto, para que ele pudesse ler as letras das músicas. Por décadas Sinatra havia se orgulhado de sua memória, de nunca esquecer uma letra no palco. Nos últimos tempos porém isso havia se tornado um problema e tanto. Inclusive quando estave no Brasil Sinatra esqueceu a letra de um de seus maiores sucessos. Isso em pleno Maracanã, diante do maior público de sua carreira. Em determinado momento ele ficou ali parado, sem saber o que fazer, até que o público em coro começou a cantar sua música. Sinatra diria para sua filha que aquele momento havia sido um dos mais emocionantes de toda a sua vida como artista.
Procurando esconder suas problemas do grande público, o velho "olhos azuis" teve um grande aborrecimento quando chegou nas lojas uma biografia não autorizada sobre ele. Escrito pela jornalista Kitty Kelly com o título de "His Way: The Unauthorized Biography of Frank Sinatra", o livro trazia pela primeira vez revelações secretas de sua vida. Sinatra ficou furioso com a publicação e declarou para os jornais que iria processar até o inferno a autora. Isso só trouxe mais publicidade ainda para a biografia que rapidamente foi para a lista dos mais vendidos do New York Times. Pela primeira vez o cantor sentia na pele o que era ter a sua vida pessoal exposta ao grande público, sem maquiagem e sem esconder seus segredos pessoais mais íntimos.
Pablo Aluísio.
Charles Chaplin - Hollywood Boulevard - Parte 3
A família Chaplin era pobre. Pessoas honestas, trabalhadores comuns que viviam no limite da sobrevivência. O bisavô e o avô de Charles Chaplin eram sapateiros em um bairro humilde de Londres. A virada na curva veio justamente com seu pai, também chamado Charles Chaplin. Dono de uma bela voz ele decidiu que não iria ser sapateiro, mas sim artista. Claro que isso despertou todos os tipos de comentários maldosos dentro da família, mas Chaplin, o pai, seguiu em frente. E pelos registros históricos encontrados por pesquisadores pode-se perceber que ele era realmente um bom artista que chegou a se apresentar em teatros respeitados de Londres no século XIX. Seu problema era outro. Talento tinha, mas também tinha problemas de alcoolismo. Uma das frustrações de Charlie era que a voz de seu pai nunca fora gravada. Assim o registro de seu grande talento de cantor se perdeu para sempre quando ele morreu.
O mesmo aconteceu com a mãe de Chaplin. Hannah tinha uma excelente percepção das pessoas. Ela passava as manhãs olhando pela janela de seu pequenino apartamento de Londres e ia imitando todos os que passavam pela rua. "Lá vem o senhor Wilson. Apressado, com os sapatos desamarrados. Provavelmente brigou com a esposa" - Ela dizia - e depois disso começava a imitar o jeito de andar do Sr. Wilson. Chaplin, ainda criança, via tudo aquilo e achava maravilhoso. De fato Hannah teria sido uma grande artista se não sofresse de uma grave doença mental que nas crises a deixava inabilitada para cuidar dos dois filhos,
Charles Chaplin (o filho, futuro Carlitos) e Sydney (o sempre esforçado irmão mais velho de Charlie) tiveram que se virar desde sempre por causa dos problemas mentais da mãe e da ausência do pai. Sydney arranjou emprego como marinheiro e o pequeno Charlie começou a ganhar alguns trocados fazendo danças e mímicas em pequenas apresentações pelas feiras e ruas. Os teatros de Londres tiveram um grande momento no começo do século XX e Charlie viu que poderia ganhar fazendo pequenos números. Conseguiu até mesmo um contrato fixo dentro de uma trupe de garotos que se apresentavam dentro de um número cômico. De fato Charles Chaplin foi artista desde muito jovem, ainda criança. Ele se lembraria desses anos com nostalgia e alegria, principalmente pelos palhaços que conheceu ao longo da vida. Os velhos artistas circenses em muito lhe inspiraram quando ele finalmente abraçou a carreira de comediante no cinema alguns anos mais tarde.
Pablo Aluísio.
O mesmo aconteceu com a mãe de Chaplin. Hannah tinha uma excelente percepção das pessoas. Ela passava as manhãs olhando pela janela de seu pequenino apartamento de Londres e ia imitando todos os que passavam pela rua. "Lá vem o senhor Wilson. Apressado, com os sapatos desamarrados. Provavelmente brigou com a esposa" - Ela dizia - e depois disso começava a imitar o jeito de andar do Sr. Wilson. Chaplin, ainda criança, via tudo aquilo e achava maravilhoso. De fato Hannah teria sido uma grande artista se não sofresse de uma grave doença mental que nas crises a deixava inabilitada para cuidar dos dois filhos,
Charles Chaplin (o filho, futuro Carlitos) e Sydney (o sempre esforçado irmão mais velho de Charlie) tiveram que se virar desde sempre por causa dos problemas mentais da mãe e da ausência do pai. Sydney arranjou emprego como marinheiro e o pequeno Charlie começou a ganhar alguns trocados fazendo danças e mímicas em pequenas apresentações pelas feiras e ruas. Os teatros de Londres tiveram um grande momento no começo do século XX e Charlie viu que poderia ganhar fazendo pequenos números. Conseguiu até mesmo um contrato fixo dentro de uma trupe de garotos que se apresentavam dentro de um número cômico. De fato Charles Chaplin foi artista desde muito jovem, ainda criança. Ele se lembraria desses anos com nostalgia e alegria, principalmente pelos palhaços que conheceu ao longo da vida. Os velhos artistas circenses em muito lhe inspiraram quando ele finalmente abraçou a carreira de comediante no cinema alguns anos mais tarde.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Frank Sinatra - The Voice - Parte 2
Uma das paixões de Frank Sinatra foi a atriz e dançarina Juliet Prowse. O casal se conheceu em um estúdio de cinema, enquanto ambos trabalhavam no mesmo filme, o musical Can-Can de 1960. Sinatra ainda tentava se recuperar do fim de seu romance com Ava Gardner. Aliás ele passaria anos e anos tentando superar a fossa de ter sido abandonado por Ava. Sua obsessão por ela virou quase algo patológico. E foi justamente nesse período que Sinatra começou a namorar Juliet.
O namoro que para alguns ia terminar em casamento, não foi em frente porque Juliet não queria abrir mão de sua carreira de atriz e bailarina. Frank Sinatra lhe dizia que a partir do momento em que se casasse com ela, Prowse deveria abandonar tudo. Para um italiano da velha escola como Sinatra não pegava bem ter uma mulher trabalhando fora enquanto o marido ficava em casa esperando ela voltar. Era claro uma mentalidade da idade da pedra, mas logo Juliet percebeu que isso não iria mudar. Como ela não tinha a menor intenção de virar uma dona de casa italiana os dois acabaram rompendo. Shirley MacLaine que estava no mesmo filme chegou a comentar que sabia que o romance nunca iria dar certo, justamente porque Juliet era muito independente e Sinatra tinha ideias muito antigas sobre o casamento. Uma coisa não iria combinar com a outra.
Depois de Juliet Prowse, que acabou sendo o romance mais duradouro de sua vida naquela época, o ator e cantor não parecia se acertar com mais nenhuma mulher. Ele tentou se reaproximar de Ava Gardner, na centésima tentativa de voltar a ser o seu homem, mas tudo foi por água abaixo. Ava havia entrado em um ciclo de auto destruição, bebendo muito, perdendo com isso a lendária beleza que um dia encantou Hollywood. Sinatra tentava tirar ela dessa vida, mas isso só fazia com que as brigas aumentassem e se tornassem cada vez mais violentas. O fim definitivo aconteceu quando Ava tentou seduzir uns garotões de praia bem na frente de Sinatra. Aquilo foi uma ofensa a ele, que por mais apaixonado que estivesse, não iria tolerar ser humilhado.
Assim Sinatra parou de tentar de encontrar a mulher de seus sonhos. Ao invés de se relacionar com outra atriz, de investir em relacionamentos mais sérios, ele passou a ser vista com loiras que eram dançarinas em Las Vegas. Garotas que trabalhavam como coristas (segundo alguns biógrafos, como prostitutas também). O Frank Sinatra romântico, que passava semanas chorando por Ava Gardner, parecia ter desaparecido. Ao invés de sofrer Frank Sinatra a partir daquele momento apenas pegava o telefone e contratava uma garota para passar o fim de semana com ele. Sem dramas, stress e brigas sem fim.
Pablo Aluísio.
O namoro que para alguns ia terminar em casamento, não foi em frente porque Juliet não queria abrir mão de sua carreira de atriz e bailarina. Frank Sinatra lhe dizia que a partir do momento em que se casasse com ela, Prowse deveria abandonar tudo. Para um italiano da velha escola como Sinatra não pegava bem ter uma mulher trabalhando fora enquanto o marido ficava em casa esperando ela voltar. Era claro uma mentalidade da idade da pedra, mas logo Juliet percebeu que isso não iria mudar. Como ela não tinha a menor intenção de virar uma dona de casa italiana os dois acabaram rompendo. Shirley MacLaine que estava no mesmo filme chegou a comentar que sabia que o romance nunca iria dar certo, justamente porque Juliet era muito independente e Sinatra tinha ideias muito antigas sobre o casamento. Uma coisa não iria combinar com a outra.
Depois de Juliet Prowse, que acabou sendo o romance mais duradouro de sua vida naquela época, o ator e cantor não parecia se acertar com mais nenhuma mulher. Ele tentou se reaproximar de Ava Gardner, na centésima tentativa de voltar a ser o seu homem, mas tudo foi por água abaixo. Ava havia entrado em um ciclo de auto destruição, bebendo muito, perdendo com isso a lendária beleza que um dia encantou Hollywood. Sinatra tentava tirar ela dessa vida, mas isso só fazia com que as brigas aumentassem e se tornassem cada vez mais violentas. O fim definitivo aconteceu quando Ava tentou seduzir uns garotões de praia bem na frente de Sinatra. Aquilo foi uma ofensa a ele, que por mais apaixonado que estivesse, não iria tolerar ser humilhado.
Assim Sinatra parou de tentar de encontrar a mulher de seus sonhos. Ao invés de se relacionar com outra atriz, de investir em relacionamentos mais sérios, ele passou a ser vista com loiras que eram dançarinas em Las Vegas. Garotas que trabalhavam como coristas (segundo alguns biógrafos, como prostitutas também). O Frank Sinatra romântico, que passava semanas chorando por Ava Gardner, parecia ter desaparecido. Ao invés de sofrer Frank Sinatra a partir daquele momento apenas pegava o telefone e contratava uma garota para passar o fim de semana com ele. Sem dramas, stress e brigas sem fim.
Pablo Aluísio.
Frank Sinatra - The Voice
Em 1965 Frank Sinatra completou 50 anos de idade. Não foi um tempo muito feliz para ele. Seu último disco havia conseguido chegar no máximo na décima posição entre os mais vendidos. Para Sinatra essa era uma posição indigna de seu talento. A questão é que havia novos concorrentes de peso nas paradas. Eles eram ingleses, conhecidos como Beatles. Frank Sinatra já havia enfrentado um cantor de rock extremamente popular no passado, um tal de Elvis Presley, mas agora os Beatles vinham com fúria total nas paradas. Cinco de seus discos ocupavam as cinco primeiras posições na Billboard. Era algo inédito e incrível!
Frank não gostava dos Beatles. Quando um amigo lhe trouxe o novo álbum do grupo chamado "Help!", Sinatra detestou. Ele odiou a primeira música cantada por John Lennon que na sua opinião não sabia cantar, mas sim gritar. Sinatra não conseguia encontrar nada de agradável naqueles ingleses. Ele implicava com seus cabelos longos, dizendo que aquilo era uma afronta contra a tradição de artistas elegantes da música americana. Sinatra também acreditava que o conjunto não tinha harmonia, que era pura moda passageira. Temos que entender que era especialmente complicado para ele, afinal como iria concorrer com quatro jovens de vinte e poucos anos, enquanto ele já estava chegando nos 50? Frank Sinatra sentia-se velho e fora de moda. Não que ele precisasse ainda vender discos naquela altura de sua vida pois estava milionário, dono de diversas empresas que o deixaram muito rico. Era mais uma questão de orgulho pessoal.
Frank Sinatra porém não era apenas ranzinza com colegas de profissão, ele também poderia ser muito generoso com outros artistas quando era preciso. Quando ele soube que a grande diva do jazz Billie Holiday estava levando uma vida miserável em um quarto imundo de um hospício de Nova Iorque providenciou para que seus homens fossem até lá, a tirassem do lugar e a levassem para uma dos melhores centros de repouso para idosos, com tudo pago por ele. Segundo um amigo próximo "Sinatra era um homem muito italiano, muito emocional". E não foi apenas Holiday que contou com a generosidade do "The Voice" (a voz), ao longo dos anos. Ele ajudou muitos cantores e atores fracassados, que tinham caído na pobreza, após suas carreiras acabarem. Certa vez Sinatra soube que um velho ídolo da música italiana do passado trabalhava como porteiro em um bar de Nova Iorque. Mandou dar a ele algo em torno de dez mil dólares para ajudar. Esse tipo de ato ia ficando cada vez mais comum em seus últimos anos.
Sinatra também teve sorte como homem de negócios. Ele fundou seu próprio selo musical chamado Reprise e ficou muito rico com ele. O nome Reprise vinha do próprio Sinatra. Ele queria que os fãs sempre ouvissem seus discos, uma vez atrás da outra, como reprises eternas. A Warner se interessou pelo selo e ofereceu uma fortuna para Sinatra. Ele então propôs parceria e acabou mais rico do que nunca! Os mais próximos porém perceberam que Sinatra foi ficando cada vez mais sozinho. Estava milionário, mas também solitário. De vez em quando Sinatra saía de sua reclusão para defender boas causas, como quando fez uma série de shows para crianças doentes com câncer. Sobre isso ele diria nos bastidores: "Se sou tão afortunado nessa vida preciso ajudar as pessoas desafortunadas! É uma obrigação pessoal".
Pablo Aluísio.
Frank não gostava dos Beatles. Quando um amigo lhe trouxe o novo álbum do grupo chamado "Help!", Sinatra detestou. Ele odiou a primeira música cantada por John Lennon que na sua opinião não sabia cantar, mas sim gritar. Sinatra não conseguia encontrar nada de agradável naqueles ingleses. Ele implicava com seus cabelos longos, dizendo que aquilo era uma afronta contra a tradição de artistas elegantes da música americana. Sinatra também acreditava que o conjunto não tinha harmonia, que era pura moda passageira. Temos que entender que era especialmente complicado para ele, afinal como iria concorrer com quatro jovens de vinte e poucos anos, enquanto ele já estava chegando nos 50? Frank Sinatra sentia-se velho e fora de moda. Não que ele precisasse ainda vender discos naquela altura de sua vida pois estava milionário, dono de diversas empresas que o deixaram muito rico. Era mais uma questão de orgulho pessoal.
Frank Sinatra porém não era apenas ranzinza com colegas de profissão, ele também poderia ser muito generoso com outros artistas quando era preciso. Quando ele soube que a grande diva do jazz Billie Holiday estava levando uma vida miserável em um quarto imundo de um hospício de Nova Iorque providenciou para que seus homens fossem até lá, a tirassem do lugar e a levassem para uma dos melhores centros de repouso para idosos, com tudo pago por ele. Segundo um amigo próximo "Sinatra era um homem muito italiano, muito emocional". E não foi apenas Holiday que contou com a generosidade do "The Voice" (a voz), ao longo dos anos. Ele ajudou muitos cantores e atores fracassados, que tinham caído na pobreza, após suas carreiras acabarem. Certa vez Sinatra soube que um velho ídolo da música italiana do passado trabalhava como porteiro em um bar de Nova Iorque. Mandou dar a ele algo em torno de dez mil dólares para ajudar. Esse tipo de ato ia ficando cada vez mais comum em seus últimos anos.
Sinatra também teve sorte como homem de negócios. Ele fundou seu próprio selo musical chamado Reprise e ficou muito rico com ele. O nome Reprise vinha do próprio Sinatra. Ele queria que os fãs sempre ouvissem seus discos, uma vez atrás da outra, como reprises eternas. A Warner se interessou pelo selo e ofereceu uma fortuna para Sinatra. Ele então propôs parceria e acabou mais rico do que nunca! Os mais próximos porém perceberam que Sinatra foi ficando cada vez mais sozinho. Estava milionário, mas também solitário. De vez em quando Sinatra saía de sua reclusão para defender boas causas, como quando fez uma série de shows para crianças doentes com câncer. Sobre isso ele diria nos bastidores: "Se sou tão afortunado nessa vida preciso ajudar as pessoas desafortunadas! É uma obrigação pessoal".
Pablo Aluísio.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
domingo, 18 de novembro de 2007
Os Filmes de Vivien Leigh - Parte 2
O filme que fez Hollywood se interessar por Vivien Leigh foi o drama histórico "Fogo Por Sobre a Inglaterra", que se passava nos tempos do reinado da Rainha Elizabeth I. Vivien ficou extremamente bem no filme, com roupas de época. Ela ainda era bem jovem e sua imagem chamou a atenção dos grandes estúdios americanos. O fato desse filme inglês ser exibido nos cinemas dos Estados Unidos serviu como um cartão de visitas da atriz no outro lado do Atlântico.
Esse filme também foi um marco na vida pessoal da atriz pois ela conheceu o ator Laurence Olivier com quem iria se casar futuramente. O fato de ambos serem atores, lutando pela carreira em Londres na pequena indústria cinematográfica local, acabou servindo de atração entre eles. O romance não demorou muito a acontecer, até porque Vivien se sentia bem solitária nos primeiros dias na capital britânica. Seus familiares e amigos ficaram no interior e em Londres ela precisou formar um novo círculo de amigo. Era uma nova vida que começava para ela.
O filme seguinte na carreira de Vivien Leigh foi um filme de espionagem, passado durante a primeira guerra mundial, chamado "Jornada Sinistra". A atriz interpretava uma personagem chamada Madeleine Goddard. Ela era uma espiã francesa em Londres que acabava se apaixonando por um espião alemão, seu inimigo no conflito. O Barão Karl Von Marwitz era interpretado pelo ator Conrad Veidt. Esse filme foi lançado em 1937, dois anos antes da eclosão da II Guerra Mundial. Hitler já estava no poder na Alemanha, mas poucos ainda sabiam que uma nova guerra, pior ainda do que a anterior, estava prestes a varrer a Europa mais uma vez. Para Vivien foi algo até perturbador fazer esse filme, principalmente pelas coisas que estavam prestes a acontecer, com bombardeios alemães diários em Londres, algo que ela própria iria vivenciar.
Nesse mesmo ano Vivien ainda iria atuar em uma comédia romântica bem leve chamada "Tempestade Num Copo D'Água". Ela interpretava uma jornalista investigativa de nome Victoria Gow. Quando o filme começa ela parte em busca de histórias indiscretas envolvendo um figurão da política, mas de forma irônica acabava se apaixonando por ele. O curioso sobre esses três últimos filmes de Leigh é que os três foram lançados no Brasil também, demonstrando que ela já era uma artista conhecida em nosso país, antes mesmo da explosão de "E O Vento Levou...". Vivien ainda não era uma grande estrela, algo que só iria acontecer mesmo com o lançamento desse épico americano, considerado por muitos como um dos maiores filmes de todos os tempos.
Pablo Aluísio.
Esse filme também foi um marco na vida pessoal da atriz pois ela conheceu o ator Laurence Olivier com quem iria se casar futuramente. O fato de ambos serem atores, lutando pela carreira em Londres na pequena indústria cinematográfica local, acabou servindo de atração entre eles. O romance não demorou muito a acontecer, até porque Vivien se sentia bem solitária nos primeiros dias na capital britânica. Seus familiares e amigos ficaram no interior e em Londres ela precisou formar um novo círculo de amigo. Era uma nova vida que começava para ela.
O filme seguinte na carreira de Vivien Leigh foi um filme de espionagem, passado durante a primeira guerra mundial, chamado "Jornada Sinistra". A atriz interpretava uma personagem chamada Madeleine Goddard. Ela era uma espiã francesa em Londres que acabava se apaixonando por um espião alemão, seu inimigo no conflito. O Barão Karl Von Marwitz era interpretado pelo ator Conrad Veidt. Esse filme foi lançado em 1937, dois anos antes da eclosão da II Guerra Mundial. Hitler já estava no poder na Alemanha, mas poucos ainda sabiam que uma nova guerra, pior ainda do que a anterior, estava prestes a varrer a Europa mais uma vez. Para Vivien foi algo até perturbador fazer esse filme, principalmente pelas coisas que estavam prestes a acontecer, com bombardeios alemães diários em Londres, algo que ela própria iria vivenciar.
Nesse mesmo ano Vivien ainda iria atuar em uma comédia romântica bem leve chamada "Tempestade Num Copo D'Água". Ela interpretava uma jornalista investigativa de nome Victoria Gow. Quando o filme começa ela parte em busca de histórias indiscretas envolvendo um figurão da política, mas de forma irônica acabava se apaixonando por ele. O curioso sobre esses três últimos filmes de Leigh é que os três foram lançados no Brasil também, demonstrando que ela já era uma artista conhecida em nosso país, antes mesmo da explosão de "E O Vento Levou...". Vivien ainda não era uma grande estrela, algo que só iria acontecer mesmo com o lançamento desse épico americano, considerado por muitos como um dos maiores filmes de todos os tempos.
Pablo Aluísio.
Frank Sinatra - Belas Músicas
Você pode até não gostar muito de Frank Sinatra. O que não pode negar é que ele foi realmente um gênio na sua área. Sua presença é obrigatória nas listas dos melhores cantores do século XX. Mais do que merecido. Em se tratando de sua discografia eu gosto bastante dos álbuns do cantor que ele lançou nos anos 50.
Em 1954 Sinatra lançou pela Capitol o álbum "Swing Easy!". Com um ótimo repertório o disco segue sendo um dos meus preferidos do cantor. Aliás recomendo todos os álbuns de Sinatra na Capitol. Sua passagem pela gravadora foi marcada por atritos e problemas, mas é inegável que lá ele contou com o melhor que havia dentro da indústria fonográfica da época. Os melhores produtores, músicos e compositores. Só o melhor!
Desse disco eu destaco algumas canções. Uma delas é "Wrap Your Troubles in Dreams". Essa canção foi composta nos anos 30 e inicialmente não fazia parte do repertório de Sinatra. Na verdade ele a pegou da discografia de outro ícone, Bing Crosby, também considerado por muitas listas como um dos maiores cantores de todos os tempos. Sinatra adorava a versão de Crosby e por essa razão resolveu gravar sua própria versão. Ficou maravilhosa, diria inclusive que é bem superior à gravação original, não apenas por questões tecnológicas (que eram bem mais sofisticadas na época que Sinatra a gravou), mas também por causa da performance absurdamente perfeita por parte de Sinatra. Outra versão dessa música que recomendo é a de Doris Day. A atriz, que também era uma cantora acima da média, fez uma das melhores gravações de sua carreira justamente com essa melodia.
Bom, uma coisa que não pode faltar em nenhum grande disco de Frank Sinatra é a presença de alguma composição de Cole Porter. Na voz de Sinatra a obra de Porter, um dos maiores compositores americanos de todos os tempos, ganha outra dimensão. Aliás é bom frisar esse aspecto. Os primeiros intérpretes de Cole Porter, ainda na década de 1930, não estavam à altura de suas composições. Foi necessário passar alguns anos para que Sinatra criasse essas verdadeiras obras primas. "Just One of Those Things" foi criada por Porter para um musical da Broadway chamado Jubilee. Embora fora do contexto da peça em si, ela funciona perfeitamente assim, solo, na voz do grande Sinatra. Um primor sonoro. É, em poucas palavras, outro momento que vale pelo álbum inteiro.
Pablo Aluísio.
Em 1954 Sinatra lançou pela Capitol o álbum "Swing Easy!". Com um ótimo repertório o disco segue sendo um dos meus preferidos do cantor. Aliás recomendo todos os álbuns de Sinatra na Capitol. Sua passagem pela gravadora foi marcada por atritos e problemas, mas é inegável que lá ele contou com o melhor que havia dentro da indústria fonográfica da época. Os melhores produtores, músicos e compositores. Só o melhor!
Desse disco eu destaco algumas canções. Uma delas é "Wrap Your Troubles in Dreams". Essa canção foi composta nos anos 30 e inicialmente não fazia parte do repertório de Sinatra. Na verdade ele a pegou da discografia de outro ícone, Bing Crosby, também considerado por muitas listas como um dos maiores cantores de todos os tempos. Sinatra adorava a versão de Crosby e por essa razão resolveu gravar sua própria versão. Ficou maravilhosa, diria inclusive que é bem superior à gravação original, não apenas por questões tecnológicas (que eram bem mais sofisticadas na época que Sinatra a gravou), mas também por causa da performance absurdamente perfeita por parte de Sinatra. Outra versão dessa música que recomendo é a de Doris Day. A atriz, que também era uma cantora acima da média, fez uma das melhores gravações de sua carreira justamente com essa melodia.
Bom, uma coisa que não pode faltar em nenhum grande disco de Frank Sinatra é a presença de alguma composição de Cole Porter. Na voz de Sinatra a obra de Porter, um dos maiores compositores americanos de todos os tempos, ganha outra dimensão. Aliás é bom frisar esse aspecto. Os primeiros intérpretes de Cole Porter, ainda na década de 1930, não estavam à altura de suas composições. Foi necessário passar alguns anos para que Sinatra criasse essas verdadeiras obras primas. "Just One of Those Things" foi criada por Porter para um musical da Broadway chamado Jubilee. Embora fora do contexto da peça em si, ela funciona perfeitamente assim, solo, na voz do grande Sinatra. Um primor sonoro. É, em poucas palavras, outro momento que vale pelo álbum inteiro.
Pablo Aluísio.
sábado, 17 de novembro de 2007
Charlton Heston
O primeiro filme da carreira de Charlton Heston foi realizado quando ele era apenas um adolescente. O filme se chamava "Peer Gynt" e contava a história do rebelde protagonista (interpretado por Heston), um jovem indomável que era praticamente banido de seu vilarejo por causa de seu temperamento fora do comum. Assim ele acabava indo para a floresta, viver no meio da natureza. Duas coisas chamavam bastante a atenção nesse primeiro filme do ator: sua juventude (ele era praticamente um menino alto e magricela) e a direção de David Bradley, que na época tinha apenas 21 anos de idade. É uma produção praticamente amadora, muito rara de se encontrar hoje em dia para se assistir.
Embora Heston sempre lembrasse desse primeiro filme com carinho, ele considerava que seu primeiro trabalho de verdade como ator havia sido "Julius Caesar" de 1950. O filme era uma versão para o cinema da famosa peça teatral escrita por William Shakespeare. Heston só ganhou o papel de Marco Antônio porque a direção foi entregue ao seu amigo David Bradley com quem havia trabalhado em "Peer Gynt". Produzido pelo estúdio Avon, esse filme não foi uma grande produção em termos técnicos, pois não contava com um orçamento generoso. Pelo contrário, foi algo bem mais modesto, onde o elenco se esforçou ao dobro para compensar a falta de maiores recursos. Embora fosse ainda inexperiente, Charlton Heston se saiu muito bem, ganhando os primeiros elogios na carreira. Foi um prenúncio de sua vitoriosa carreira em filmes épicos, principalmente passados no mundo antigo, da Roma clássica dos tempos de Júlio César. Ele sempre fotografava muito bem em trajes do império romano.
Nesse mesmo ano de 1950 o ator fez uma rara participação em uma série de TV. Chamada "The Clock", era um programa semanal que adaptava histórias de terror e suspense da rádio ABC, agora adaptadas para a televisão. Tudo filmado em Nova Iorque, fez com que Heston ganhasse ainda mais experiência, principalmente pelo fato dos episódios muitas vezes serem encenados ao vivo, onde não havia espaço para o erro. Muitos dos episódios dessa série em que Heston atuou se perderam, por causa da precariedade técnica da época. Mesmo assim alguns resistiram ao tempo e foram lançados em uma coleção especial em DVD nos Estados Unidos. Uma peça de colecionador.
Embora tenha sido algo interessante trabalhar na televisão, o ator queria despontar mesmo no cinema. Assim voltou para Hollywood para atuar no filme noir "Cidade Negra". Esse filme foi produzido por Hal Wallis para a Paramount Pictures. Esse produtor foi muito importante na carreira de Charlton Heston pois iria produzir alguns dos maiores filmes de sua carreira nos anos seguintes. "Dark City" era um típico noir da época, com detetives, jogadores desonestos de poker e mulheres fatais. Todo filmado usado técnicas de luz e sombras, ainda hoje chama a atenção por sua fotografia que é muito bem realizada. Dirigido por William Dieterle e tendo no elenco ótimos profissionais como Lizabeth Scott e Viveca Lindfors, foi sem dúvida o primeiro filme de Heston considerado muito bom pelos críticos. Ajudou ainda mais a abrir os caminhos para ele em Hollywood.
Pablo Aluísio.
Embora Heston sempre lembrasse desse primeiro filme com carinho, ele considerava que seu primeiro trabalho de verdade como ator havia sido "Julius Caesar" de 1950. O filme era uma versão para o cinema da famosa peça teatral escrita por William Shakespeare. Heston só ganhou o papel de Marco Antônio porque a direção foi entregue ao seu amigo David Bradley com quem havia trabalhado em "Peer Gynt". Produzido pelo estúdio Avon, esse filme não foi uma grande produção em termos técnicos, pois não contava com um orçamento generoso. Pelo contrário, foi algo bem mais modesto, onde o elenco se esforçou ao dobro para compensar a falta de maiores recursos. Embora fosse ainda inexperiente, Charlton Heston se saiu muito bem, ganhando os primeiros elogios na carreira. Foi um prenúncio de sua vitoriosa carreira em filmes épicos, principalmente passados no mundo antigo, da Roma clássica dos tempos de Júlio César. Ele sempre fotografava muito bem em trajes do império romano.
Nesse mesmo ano de 1950 o ator fez uma rara participação em uma série de TV. Chamada "The Clock", era um programa semanal que adaptava histórias de terror e suspense da rádio ABC, agora adaptadas para a televisão. Tudo filmado em Nova Iorque, fez com que Heston ganhasse ainda mais experiência, principalmente pelo fato dos episódios muitas vezes serem encenados ao vivo, onde não havia espaço para o erro. Muitos dos episódios dessa série em que Heston atuou se perderam, por causa da precariedade técnica da época. Mesmo assim alguns resistiram ao tempo e foram lançados em uma coleção especial em DVD nos Estados Unidos. Uma peça de colecionador.
Embora tenha sido algo interessante trabalhar na televisão, o ator queria despontar mesmo no cinema. Assim voltou para Hollywood para atuar no filme noir "Cidade Negra". Esse filme foi produzido por Hal Wallis para a Paramount Pictures. Esse produtor foi muito importante na carreira de Charlton Heston pois iria produzir alguns dos maiores filmes de sua carreira nos anos seguintes. "Dark City" era um típico noir da época, com detetives, jogadores desonestos de poker e mulheres fatais. Todo filmado usado técnicas de luz e sombras, ainda hoje chama a atenção por sua fotografia que é muito bem realizada. Dirigido por William Dieterle e tendo no elenco ótimos profissionais como Lizabeth Scott e Viveca Lindfors, foi sem dúvida o primeiro filme de Heston considerado muito bom pelos críticos. Ajudou ainda mais a abrir os caminhos para ele em Hollywood.
Pablo Aluísio.
Jerry Lewis
Jerry Lewis foi um adorável palhaço. Ontem tivemos a triste notícia de sua morte, aos 91 anos de idade. Viveu bastante e viveu bem. Além de sua obra cinematográfica maravilhosa, Jerry também se dedicou às causas humanitárias, comandando durante anos um programa de TV, o Teleton, onde angariava verbas para ajudar pessoas com necessidades especiais. Foi justamente em um desses programas ao vivo que ele reencontrou pela última vez seu parceiro Dean Martin. O encontro foi arranjado por Frank Sinatra, amigo de ambos, que tinha esse velho sonho de reunir novamente a dupla de tantos filmes inesquecíveis do passado.
Além de grande comediante, Jerry Lewis foi também um grande ator. Ontem o diretor Martin Scorsese reforçou justamente esse aspecto. Humoristas em geral nem sempre são reconhecidos por serem grandes atores, tanto que a Academia muito raramente premia esses profissionais por suas atuações. Assim como aconteceu com outro gênio da comédia, Charles Chaplin, Jerry nunca levantou o Oscar por seu trabalho em algum de seus filmes, nunca foi premiado por seu genial trabalho no cinema. O máximo que conseguiu em termos de premiações foi ser indicado ao Globo de Ouro por sua atuação em "Boeing, Boeing" de 1966, onde ele interpretava um sujeito mais normal, nada parecido com o seu mais famoso personagem, a do adulto com personalidade de criança que utilizou em tantos filmes ao longo de sua carreira.
Também foi um diretor cheio de criatividade e originalidade. No começo da carreira, principalmente quando ainda formava dupla com Dean Martin, Jerry Lewis teve que atuar sob direção de cineastas como Norman Taurog e Frank Tashlin (com quem realizou seus melhores filmes nos anos 1950 e 1960). Depois quando percebeu que tinha status suficiente para comandar suas produções, o próprio Jerry assumiu o controle. Começou a dirigir seus filmes, a escrever os roteiros, fazendo aquilo que sempre quis, dando asas para sua imaginação fértil. No total dirigiu 23 de seus filmes, começando com "O Mensageiro Trapalhão" e indo até "As Loucuras de Jerry Lewis", já na década de 1980. Um de seus filmes mais interessantes foi "The Day the Clown Cried" sobre um palhaço de circo que era usado para enganar as crianças enquanto elas eram levadas para os campos de concentração do horror nazista. Pelo tema forte demais para a época, Jerry resolveu arquivar a produção para só ser lançada, quem sabe algum dia, após sua morte.
Por fim e não menos importante, Jerry Lewis sempre será lembrado por ter levado o sorriso a milhões de espectadores mundo afora com suas comédias. No Brasil ele virou uma espécie de rei da Sessão da Tarde pois seus filmes eram constantemente reprisados, principalmente nas décadas de 70 e 80. Com isso formou-se toda uma nova geração de admiradores de seu trabalho. Filmes como "Artistas e Modelos", "Ou vai ou Racha", "Bancando a Ama-Seca", "O Rei do Laço", "O Terror das Mulheres", "Errado pra Cachorror" e "O Professor Aloprado", entre tantos outros, sempre serão lembrados por todos que viveram essa época. Ontem a reação ao seu falecimento nas redes sociais foi enorme. Muitos lembrando como ele havia sido o ídolo da infância de tanta gente. Um admirador escreveu: "Com a morte de Jerry se vai parte também da minha infância". Nada poderia definir melhor a sua obra do que essa singela frase. Descanse em paz Jerry Lewis e muito obrigado por seus filmes!
Pablo Aluísio.
Além de grande comediante, Jerry Lewis foi também um grande ator. Ontem o diretor Martin Scorsese reforçou justamente esse aspecto. Humoristas em geral nem sempre são reconhecidos por serem grandes atores, tanto que a Academia muito raramente premia esses profissionais por suas atuações. Assim como aconteceu com outro gênio da comédia, Charles Chaplin, Jerry nunca levantou o Oscar por seu trabalho em algum de seus filmes, nunca foi premiado por seu genial trabalho no cinema. O máximo que conseguiu em termos de premiações foi ser indicado ao Globo de Ouro por sua atuação em "Boeing, Boeing" de 1966, onde ele interpretava um sujeito mais normal, nada parecido com o seu mais famoso personagem, a do adulto com personalidade de criança que utilizou em tantos filmes ao longo de sua carreira.
Também foi um diretor cheio de criatividade e originalidade. No começo da carreira, principalmente quando ainda formava dupla com Dean Martin, Jerry Lewis teve que atuar sob direção de cineastas como Norman Taurog e Frank Tashlin (com quem realizou seus melhores filmes nos anos 1950 e 1960). Depois quando percebeu que tinha status suficiente para comandar suas produções, o próprio Jerry assumiu o controle. Começou a dirigir seus filmes, a escrever os roteiros, fazendo aquilo que sempre quis, dando asas para sua imaginação fértil. No total dirigiu 23 de seus filmes, começando com "O Mensageiro Trapalhão" e indo até "As Loucuras de Jerry Lewis", já na década de 1980. Um de seus filmes mais interessantes foi "The Day the Clown Cried" sobre um palhaço de circo que era usado para enganar as crianças enquanto elas eram levadas para os campos de concentração do horror nazista. Pelo tema forte demais para a época, Jerry resolveu arquivar a produção para só ser lançada, quem sabe algum dia, após sua morte.
Por fim e não menos importante, Jerry Lewis sempre será lembrado por ter levado o sorriso a milhões de espectadores mundo afora com suas comédias. No Brasil ele virou uma espécie de rei da Sessão da Tarde pois seus filmes eram constantemente reprisados, principalmente nas décadas de 70 e 80. Com isso formou-se toda uma nova geração de admiradores de seu trabalho. Filmes como "Artistas e Modelos", "Ou vai ou Racha", "Bancando a Ama-Seca", "O Rei do Laço", "O Terror das Mulheres", "Errado pra Cachorror" e "O Professor Aloprado", entre tantos outros, sempre serão lembrados por todos que viveram essa época. Ontem a reação ao seu falecimento nas redes sociais foi enorme. Muitos lembrando como ele havia sido o ídolo da infância de tanta gente. Um admirador escreveu: "Com a morte de Jerry se vai parte também da minha infância". Nada poderia definir melhor a sua obra do que essa singela frase. Descanse em paz Jerry Lewis e muito obrigado por seus filmes!
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Ingrid Bergman e o Oscar
A atriz sueca Ingrid Bergman (1915 -1982) foi uma recordista de indicações e premiações no Oscar. Ela foi uma das atrizes estrangeiras mais bem sucedidas da história de Hollywood. Além de ter se tornado uma das estrelas mais populares, também foi uma das mais prestigiadas pela Academia, tendo sido premiada por três vezes. Em 1944 foi premiada pela primeira vez por sua atuação no filme "À Meia Luz". Dirigida por George Cukor e atuando ao lado de Charles Boyer e Joseph Cotten, ela arrancou elogios da crítica. Com apenas 29 anos de idade ela conseguia chegar no auge de sua carreira como atriz. Um feito e tanto, bastante comentado na época.
As premiações porém não terminaram por aí. Em 1956 ela foi novamente premiada por sua atuação em "Anastácia, A Princesa Esquecida". Nessa produção elegante dirigida pelo cineasta Anatole Litvak, ela interpretava Anna Koreff, uma mulher que aparecia na imprensa mundial, muitos anos após a morte da família Romanov, o clã imperial russo, alegando ser a princesa Anastácia, cujo paradeiro desconhecido levantava inúmeras dúvidas e lendas se ainda estava viva ou não. O filme contava no elenco com o excelente Yul Brynner, interpretando o general Sergei Pavlovich Bounine. Afinal, ela era ou não a princesa desaparecida? Com classe e elegância, dignas de uma verdadeira aristocrata de sangue azul, ela realmente deixava todos em dúvida. Curiosamente Ingrid não pôde comparecer na noite de premiação. Quando seu nome foi anunciado quem subiu ao palco para receber a estatueta foi seu colega e amigo Cary Grant.
O terceiro e último Oscar dado a Ingrid Bergman veio por sua atuação em "Assassinato no Expresso Oriente" de 1974. Exatamente 30 anos depois de vencer pela primeira vez ela era novamente ovacionada pela Academia de Hollywood. O filme era uma adaptação tardia do famoso livro de suspense escrito pela aclamada escritora Agatha Christie. O elenco era todo formado por grandes nomes de Hollywood em sua era de ouro, contando ainda com Lauren Bacall, Anthony Perkins e Richard Widmark, entre outros. Ingrid dessa vez foi premiada na categoria Melhor Atriz Coadjuvante. Ela interpretou a personagem Greta Ohlsson. Uma dama estrangeira, uma caracterização aliás bem adequada para ela, uma sueca nascida no norte frio do continente europeu.
Fora as três premiações, Ingrid também foi indicada por excelentes atuações em outros clássicos do cinema. Em "Por Quem os Sinos Dobram", o grande clássico baseado na obra de Ernest Hemingway, que trazia ainda o mito Gary Cooper como seu par romântico, ela deu vida a uma mulher corajosa que sobrevivia no meio do inferno da guerra civil espanhola. Igualmente foi indicada pela inspirada atuação no épico "Joana D'Arc" (1948) onde interpretava a famosa guerreira medieval francesa que se tornaria santa ao morrer na fogueira da inquisição. Ingrid era bem mais velha que a Joana da história, porém ninguém pareceu se importar muito com esse detalhe.
Também por "Os Sinos de Santa Maria" (1945) recebeu nova indicação. Essa era outra produção com tema religioso. Por fim em 1978 a atriz ainda conseguiria uma sétima indicação ao Oscar pelo filme "Sonata de Outono", um drama sensível dirigido pelo mestre (e seu conterrâneo sueco) Ingmar Bergman. Foi uma grata surpresa ser indicada já no final de sua carreira, quando ela começava a se preparar para uma merecida aposentadoria. De fato esse foi seu último trabalho no cinema, embora não tenha sido seu último trabalho como atriz. Ela voltaria para uma despedida final no telefilme "Golda" onde ela interpretava a famosa personagem da história de Israel Golda Meir. Nesse mesmo ano ela faleceria, sem ter ido embora para a Suécia, onde queria passar seus últimos dias, mas feliz por ainda ter a chance de desenvolver mais um belíssimo trabalho de atuação.
Pablo Aluísio.
As premiações porém não terminaram por aí. Em 1956 ela foi novamente premiada por sua atuação em "Anastácia, A Princesa Esquecida". Nessa produção elegante dirigida pelo cineasta Anatole Litvak, ela interpretava Anna Koreff, uma mulher que aparecia na imprensa mundial, muitos anos após a morte da família Romanov, o clã imperial russo, alegando ser a princesa Anastácia, cujo paradeiro desconhecido levantava inúmeras dúvidas e lendas se ainda estava viva ou não. O filme contava no elenco com o excelente Yul Brynner, interpretando o general Sergei Pavlovich Bounine. Afinal, ela era ou não a princesa desaparecida? Com classe e elegância, dignas de uma verdadeira aristocrata de sangue azul, ela realmente deixava todos em dúvida. Curiosamente Ingrid não pôde comparecer na noite de premiação. Quando seu nome foi anunciado quem subiu ao palco para receber a estatueta foi seu colega e amigo Cary Grant.
O terceiro e último Oscar dado a Ingrid Bergman veio por sua atuação em "Assassinato no Expresso Oriente" de 1974. Exatamente 30 anos depois de vencer pela primeira vez ela era novamente ovacionada pela Academia de Hollywood. O filme era uma adaptação tardia do famoso livro de suspense escrito pela aclamada escritora Agatha Christie. O elenco era todo formado por grandes nomes de Hollywood em sua era de ouro, contando ainda com Lauren Bacall, Anthony Perkins e Richard Widmark, entre outros. Ingrid dessa vez foi premiada na categoria Melhor Atriz Coadjuvante. Ela interpretou a personagem Greta Ohlsson. Uma dama estrangeira, uma caracterização aliás bem adequada para ela, uma sueca nascida no norte frio do continente europeu.
Fora as três premiações, Ingrid também foi indicada por excelentes atuações em outros clássicos do cinema. Em "Por Quem os Sinos Dobram", o grande clássico baseado na obra de Ernest Hemingway, que trazia ainda o mito Gary Cooper como seu par romântico, ela deu vida a uma mulher corajosa que sobrevivia no meio do inferno da guerra civil espanhola. Igualmente foi indicada pela inspirada atuação no épico "Joana D'Arc" (1948) onde interpretava a famosa guerreira medieval francesa que se tornaria santa ao morrer na fogueira da inquisição. Ingrid era bem mais velha que a Joana da história, porém ninguém pareceu se importar muito com esse detalhe.
Também por "Os Sinos de Santa Maria" (1945) recebeu nova indicação. Essa era outra produção com tema religioso. Por fim em 1978 a atriz ainda conseguiria uma sétima indicação ao Oscar pelo filme "Sonata de Outono", um drama sensível dirigido pelo mestre (e seu conterrâneo sueco) Ingmar Bergman. Foi uma grata surpresa ser indicada já no final de sua carreira, quando ela começava a se preparar para uma merecida aposentadoria. De fato esse foi seu último trabalho no cinema, embora não tenha sido seu último trabalho como atriz. Ela voltaria para uma despedida final no telefilme "Golda" onde ela interpretava a famosa personagem da história de Israel Golda Meir. Nesse mesmo ano ela faleceria, sem ter ido embora para a Suécia, onde queria passar seus últimos dias, mas feliz por ainda ter a chance de desenvolver mais um belíssimo trabalho de atuação.
Pablo Aluísio.
O Expresso de Von Ryan
Frank Sinatra nunca foi um excepcional ator mas sabia escolher bem os filmes em que atuava. Ao contrário de Elvis Presley, que muitas vezes aceitou passivamente participar de filmes francamente ruins, Sinatra sabia se impor aos produtores e diretores e sempre exigia apenas o que de melhor havia em termos de roteiros, diretores e equipe técnica. Claro que muitas vezes se utilizava de métodos questionáveis para alcançar seus objetivos mas de qualquer forma acabava chegando lá. Não é novidade para ninguém, por exemplo, o fato amplamente conhecido de que nos anos 50 teria contado com a força da máfia para estrelar no clássico A um passo da Eternidade. Esse filme acabou dando a Sinatra o único Oscar de sua vida e de quebra salvou sua carreira do ostracismo em que se encontrava.
Depois desse episódio Sinatra nunca mais largou o cinema, conciliando sua carreira musical com os filmes que ia protagonizando ao longo dos anos. Ao se analisar a lista dos títulos em que Sinatra atuou percebemos bem que suas escolhas eram bem ecléticas, pois ele praticamente passeou por todos os gêneros conhecidos, não se limitando ao musical, caminho óbvio que poderia tomar em razão de seu grande talento como cantor. Ao invés disso Sinatra apareceu em dramas, faroestes, policiais e até filmes políticos. Como se não bastasse procurou enriquecer seus poucos dotes dramáticos atuando ao lado de grandes atores e diretores. Foi esperto e sagaz e no saldo final de sua passagem por Hollywood podemos notar que a despeito de seu limitado talento de ator não fez feio e nem passou vexame nas telas.
Quando atuava sozinho, estrelando e levando um filme praticamente nas costas, Sinatra optava por se apoiar em um bom roteiro para que a plateia não desgrudasse os olhos da telona. Um exemplo é o filme "O Expresso de Von Ryan". O roteiro do filme é simples mas muito bem bolado. Sinatra faz o papel de um major, abatido durante um vôo sobre a Itália, que é capturado pelos Nazistas e levado a um campo de prisioneiros. Até aí temos um argumento bastante comum. A reviravolta acontece justamente quando Ryan, com o apoio de seu grupo, consegue tomar o controle do trem que os levava prisioneiros. Após assumir o controle da situação os americanos e ingleses se vestem com os uniformes nazistas para tentar atravessar a Itália até chegar na neutra Suíça.
O filme é extremamente interessante. Sinatra aqui pouco atua, já que o roteiro é todo centrado nas boas cenas de ação e no argumento envolvente. No desenrolar da trama conseguimos notar nitidamente como o cantor era perspicaz em suas escolhas. Cercado de um elenco bastante entusiasmado, com destaque para o ótimo Trevor Howard, muita ação e momentos de suspense, o filme se desenvolve extremamente bem e o velho Blue Eyes acaba nos presenteando com um belíssimo filme de guerra, do tipo que nos dias atuais é cada vez mais raro de encontrarmos. As quase duas horas de projeção passam rapidamente e nem há tempo para percebermos se a atuação de Sinatra é boa, ruim ou mediana. Ele cumpre bem seu papel e no final isso é definitivamente tudo o que importa. O desfecho, que vai soar bastante inesperado aos fãs de Sinatra, serve também para coroar mais um belo trabalho do ator no cinema. O filme "O Expresso de Von Ryan" é indicado para quem gosta de Sinatra, bons filmes de guerra e muita ação, não necessariamente nessa ordem. Assista e aproveite.
Pablo Aluísio.
Depois desse episódio Sinatra nunca mais largou o cinema, conciliando sua carreira musical com os filmes que ia protagonizando ao longo dos anos. Ao se analisar a lista dos títulos em que Sinatra atuou percebemos bem que suas escolhas eram bem ecléticas, pois ele praticamente passeou por todos os gêneros conhecidos, não se limitando ao musical, caminho óbvio que poderia tomar em razão de seu grande talento como cantor. Ao invés disso Sinatra apareceu em dramas, faroestes, policiais e até filmes políticos. Como se não bastasse procurou enriquecer seus poucos dotes dramáticos atuando ao lado de grandes atores e diretores. Foi esperto e sagaz e no saldo final de sua passagem por Hollywood podemos notar que a despeito de seu limitado talento de ator não fez feio e nem passou vexame nas telas.
Quando atuava sozinho, estrelando e levando um filme praticamente nas costas, Sinatra optava por se apoiar em um bom roteiro para que a plateia não desgrudasse os olhos da telona. Um exemplo é o filme "O Expresso de Von Ryan". O roteiro do filme é simples mas muito bem bolado. Sinatra faz o papel de um major, abatido durante um vôo sobre a Itália, que é capturado pelos Nazistas e levado a um campo de prisioneiros. Até aí temos um argumento bastante comum. A reviravolta acontece justamente quando Ryan, com o apoio de seu grupo, consegue tomar o controle do trem que os levava prisioneiros. Após assumir o controle da situação os americanos e ingleses se vestem com os uniformes nazistas para tentar atravessar a Itália até chegar na neutra Suíça.
O filme é extremamente interessante. Sinatra aqui pouco atua, já que o roteiro é todo centrado nas boas cenas de ação e no argumento envolvente. No desenrolar da trama conseguimos notar nitidamente como o cantor era perspicaz em suas escolhas. Cercado de um elenco bastante entusiasmado, com destaque para o ótimo Trevor Howard, muita ação e momentos de suspense, o filme se desenvolve extremamente bem e o velho Blue Eyes acaba nos presenteando com um belíssimo filme de guerra, do tipo que nos dias atuais é cada vez mais raro de encontrarmos. As quase duas horas de projeção passam rapidamente e nem há tempo para percebermos se a atuação de Sinatra é boa, ruim ou mediana. Ele cumpre bem seu papel e no final isso é definitivamente tudo o que importa. O desfecho, que vai soar bastante inesperado aos fãs de Sinatra, serve também para coroar mais um belo trabalho do ator no cinema. O filme "O Expresso de Von Ryan" é indicado para quem gosta de Sinatra, bons filmes de guerra e muita ação, não necessariamente nessa ordem. Assista e aproveite.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Trapézio
Em 1956 Tony Curtis era apenas mais um galã de segunda linha que não conseguia emplacar em bons papéis. Geralmente estrelava os chamados filmes B das mil e uma noites dos estúdios Universal - filmes de capa e espada que eram feitos especialmente para as matinês dos cinemas. Já estava com oito anos de carreira nas costas quando a primeira oportunidade real bateu à sua porta. O ator Burt Lancaster estava procurando um partner para filmar ao seu lado uma adaptação da novela Trapézio. O filme contaria a estória de dois trapezistas em Paris que tentam executar o maior de todos os números dessa arte: o saldo triplo mortal. Também procurava uma atriz europeia que funcionasse como pivô do triângulo amoroso que iria ser mostrado nas telas.
O interesse de Lancaster sobre esse filme era fácil de entender. Ele começou sua carreira no circo (a sua primeira esposa era trapezista) e apesar de ter alcançado o sucesso como ator jamais esqueceu o período em que viveu no mundo circense. Após alguns testes Burt sugeriu ao diretor Carol Reed que contratasse Tony Curtis. Ele tinha os atributos certos para o papel. Além de ser jovem tinha também habilidades atléticas que iram ajudar muito nas filmagens. Como estrelava vários filmes de capa e espada Tony foi logo considerado ágil o suficiente para se sair bem nas cenas de picadeiro. Já a escolhida para o principal papel feminino foi a atriz italiana Gina Lollobrigida. Embora tivesse uma extensa filmografia em seu país estrelaria pela primeira vez uma produção norte-americana.
O filme Trapézio acabou se tornando um grande sucesso de bilheteria. Também pudera, tinha todos os ingredientes para se tornar um êxito nos anos 50: um cenário exótico, uma beldade estrangeira, um romance à flor da pele, um astro de primeira linha e um coadjuvante que despontava para o estrelado. Pela primeira vez em sua carreira Curtis finalmente era levado à sério. Seu papel nem era tão destacado mas ele fez o suficiente para não fazer feio. O argumento do filme também ajudava já que não se tratava de um dramalhão onde fosse exigido muito dos atores, no fundo era um passatempo leve, com boas cenas coreografadas de trapézio, filmadas com profissionais do ramo (muito embora os atores também tenham filmado cenas menos perigosas). A parceria com Burt Lancaster ainda renderia mais um bom filme a Tony Curtis no ano seguinte: A Embriaguez do Sucesso, onde seria extremamente bem elogiado pela crítica. Com tudo isso hoje Tony pode dizer que esse filme foi na realidade o verdadeiro trampolim para os seus melhores anos, que iriam atravessar o restante da década de 50 e 60, graças especialmente ao grande astro e estrela de primeira grandeza na constelação de Hollywood, Burt Lancaster.
Trapézio (Trapeze, Estados Unidos, 1956) Direção: Carol Reed / Roteiro: Liam O'Brien, baseado no romance escrito por Max Catto / Elenco: Burt Lancaster, Tony Curtis, Gina Lollobrigida, Katy Jurado, Thomas Gomez / Sinopse: Trapezistas em Paris tentam criar um número inovador que mudará a história do circo.
Pablo Aluísio.
O interesse de Lancaster sobre esse filme era fácil de entender. Ele começou sua carreira no circo (a sua primeira esposa era trapezista) e apesar de ter alcançado o sucesso como ator jamais esqueceu o período em que viveu no mundo circense. Após alguns testes Burt sugeriu ao diretor Carol Reed que contratasse Tony Curtis. Ele tinha os atributos certos para o papel. Além de ser jovem tinha também habilidades atléticas que iram ajudar muito nas filmagens. Como estrelava vários filmes de capa e espada Tony foi logo considerado ágil o suficiente para se sair bem nas cenas de picadeiro. Já a escolhida para o principal papel feminino foi a atriz italiana Gina Lollobrigida. Embora tivesse uma extensa filmografia em seu país estrelaria pela primeira vez uma produção norte-americana.
O filme Trapézio acabou se tornando um grande sucesso de bilheteria. Também pudera, tinha todos os ingredientes para se tornar um êxito nos anos 50: um cenário exótico, uma beldade estrangeira, um romance à flor da pele, um astro de primeira linha e um coadjuvante que despontava para o estrelado. Pela primeira vez em sua carreira Curtis finalmente era levado à sério. Seu papel nem era tão destacado mas ele fez o suficiente para não fazer feio. O argumento do filme também ajudava já que não se tratava de um dramalhão onde fosse exigido muito dos atores, no fundo era um passatempo leve, com boas cenas coreografadas de trapézio, filmadas com profissionais do ramo (muito embora os atores também tenham filmado cenas menos perigosas). A parceria com Burt Lancaster ainda renderia mais um bom filme a Tony Curtis no ano seguinte: A Embriaguez do Sucesso, onde seria extremamente bem elogiado pela crítica. Com tudo isso hoje Tony pode dizer que esse filme foi na realidade o verdadeiro trampolim para os seus melhores anos, que iriam atravessar o restante da década de 50 e 60, graças especialmente ao grande astro e estrela de primeira grandeza na constelação de Hollywood, Burt Lancaster.
Trapézio (Trapeze, Estados Unidos, 1956) Direção: Carol Reed / Roteiro: Liam O'Brien, baseado no romance escrito por Max Catto / Elenco: Burt Lancaster, Tony Curtis, Gina Lollobrigida, Katy Jurado, Thomas Gomez / Sinopse: Trapezistas em Paris tentam criar um número inovador que mudará a história do circo.
Pablo Aluísio.
Os Filmes de Vivien Leigh - Parte 1
Vivien Leigh nasceu em Darjeeling, na época uma província do império britânico na distante e exótica Índia. Seus pais estavam a trabalho por lá. Depois de algum tempo retornaram finalmente a Londres, onde Vivien desde cedo mostrou muita vocação para as artes, especialmente para a arte dramática. Assim ela estudou por vários anos para ser atriz, frequentando alguns dos melhores cursos de teatro de Londres.
Durante muitos anos o teatro foi o centro de sua carreira de atriz e só aos 22 anos ela fez seu primeiro filme chamado "The Village Squire", uma pequena produção inglesa dirigida pelo cineasta Reginald Denham. O roteiro do filme era baseado numa peça teatral escrita pelo dramaturgo Arthur Jarvis Black e contava a singela história de uma pequena vila no interior da Inglaterra que via sua rotina mudar completamente com a chegada de uma grande estrela de cinema.
Como era de se esperar os primeiros filmes de Vivien Leigh foram todos rodados na Inglaterra, sua terra natal. Hollywood ainda parecia uma realidade distante nesses seus primeiros trabalhos no cinema. Em 1935, ano em que estreou nas telas, ela atuou em quatro produções distintas, todas produções modestas de estúdios locais. "Look Up and Laugh", seu segundo filme, foi uma comédia. Era uma experiência bem nova para Leigh que sempre havia direcionado seus estudos para o drama, não para o humor. Esse filme aliás é um caso raro dentro da sua filmografia pois a atriz não tinha muita vocação para esse tipo de roteiro. Anos depois lembrando de sua participação nesse filme ela confessou: "Eu não nasci para as comédias, definitivamente não!"
Essa percepção iria ficar ainda mais forte em seu filme seguinte, intitulado "Things Are Looking Up". Leigh interpretava uma colegial nesse filme muito leve, simples, de conteúdo familiar. Serviu para ganhar alguma experiência, porém não foi algo muito importante. No quarto filme em que participou "Gentlemen's Agreement" de George Pearson, ela ouviu um conselho desse diretor dizendo a ela que deveria ir para os Estados Unidos, onde haveria certamente maiores oportunidades para sua carreira de atriz. Ficar na Inglaterra iria limitar seus objetivos. Ela ouviu atentamente o que Pearson lhe aconselhou e começou então a planejar sua viagem para Hollywood. Quem sabe poderia dar certo por lá.
Pablo Aluísio.
Durante muitos anos o teatro foi o centro de sua carreira de atriz e só aos 22 anos ela fez seu primeiro filme chamado "The Village Squire", uma pequena produção inglesa dirigida pelo cineasta Reginald Denham. O roteiro do filme era baseado numa peça teatral escrita pelo dramaturgo Arthur Jarvis Black e contava a singela história de uma pequena vila no interior da Inglaterra que via sua rotina mudar completamente com a chegada de uma grande estrela de cinema.
Como era de se esperar os primeiros filmes de Vivien Leigh foram todos rodados na Inglaterra, sua terra natal. Hollywood ainda parecia uma realidade distante nesses seus primeiros trabalhos no cinema. Em 1935, ano em que estreou nas telas, ela atuou em quatro produções distintas, todas produções modestas de estúdios locais. "Look Up and Laugh", seu segundo filme, foi uma comédia. Era uma experiência bem nova para Leigh que sempre havia direcionado seus estudos para o drama, não para o humor. Esse filme aliás é um caso raro dentro da sua filmografia pois a atriz não tinha muita vocação para esse tipo de roteiro. Anos depois lembrando de sua participação nesse filme ela confessou: "Eu não nasci para as comédias, definitivamente não!"
Essa percepção iria ficar ainda mais forte em seu filme seguinte, intitulado "Things Are Looking Up". Leigh interpretava uma colegial nesse filme muito leve, simples, de conteúdo familiar. Serviu para ganhar alguma experiência, porém não foi algo muito importante. No quarto filme em que participou "Gentlemen's Agreement" de George Pearson, ela ouviu um conselho desse diretor dizendo a ela que deveria ir para os Estados Unidos, onde haveria certamente maiores oportunidades para sua carreira de atriz. Ficar na Inglaterra iria limitar seus objetivos. Ela ouviu atentamente o que Pearson lhe aconselhou e começou então a planejar sua viagem para Hollywood. Quem sabe poderia dar certo por lá.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Exodus
O filme Exodus, lançado em 1960, trata da delicada questão da criação do Estado de Israel. É uma obra cinematográfica de fôlego com três horas e trinta minutos de duração, dividida em três atos distintos que tentam no fundo dar um rosto (ou rostos) ao povo judeu no momento de nascimento de sua nação. No primeiro ato somos apresentados a um campo de refugiados (na realidade prisioneiros) administrado pelos britânicos na ilha de Chipre. O local era utilizado pelos ingleses para abrigar temporariamente grupos de judeus que tentavam chegar até a Palestina de navio.
Nesse primeiro ato logo somos apresentados ao personagem Ari Ben Canaan (interpretado por Paul Newman), cuja principal função na ilha é retirar uma parcela desses judeus em cativeiro para levá-los até a Palestina, para que com isso crie pressão sobre a ONU na aprovação da criação de Israel. O segundo ato já se desenvolve nos assentamentos judeus na Palestina e tenta mostrar o cotidiano dessas famílias empenhadas em ficar no país e assim começar uma nova nação. Finalmente no terceiro ato temos a criação de Israel e as reações (algumas vezes violentas) que esse fato gerou, principalmente por parte da população palestina, que naquela altura sentiu que simplesmente estavam tomando sua nação e seu país e a entregando aos recém chegados judeus. O tema é melindroso e até hoje repercute. O filme, é claro, toma partido ao lado do povo judeu e sua causa, até porque não seria diferente haja visto que os grandes estúdios de Hollywood são administrados e comandados por judeus.
E justamente por isso talvez Exodus não seja uma obra completa. O ponto de vista é unilateral, focado apenas na visão judia da questão. Tirando um único personagem (um palestino que nutre amizade e simpatia por um personagem judeu) nada mais nos é mostrado sobre o outro lado da questão, sobre a forma de agir e pensar do povo palestino naquele momento. O roteiro não esconde e nem tenta disfarçar de que lado realmente está. Como a questão Israel - Palestina é muito mais complexa do que isso ficamos com a sensação pouco confortável de estarmos assistindo na realidade um grande e pomposo manifesto político em prol de Israel.
Já sobre o filme em si, tecnicamente falando, a produção apresenta alguns problemas. O maior deles talvez seja a duração excessiva. O filme em alguns momentos se arrasta, cenas sem grande importância ganham um destaque desproporcional. O filme poderia sem problemas ter duas horas de duração sem perda de conteúdo. A direção de Otto Preminger por sua vez comete alguns erros primários (em certos momentos podemos perceber a sombra da câmera e do cameraman se projetando sobre os atores). São coisas menores mas que em certos momentos incomodam. Já a trilha sonora, ainda hoje lembrada, é um destaque. O compositor Ernest Gold foi inclusive premiado com o Oscar por seu trabalho. Enfim, Exodus é um bom filme e só peca pela tentativa de fazer propaganda política sem dar chance à outra parte de se manifestar, fora isso é um bom passatempo, isso claro se você tiver disposição de assistir uma película com uma duração tão excessiva como essa.
Exodus (Exodus, Estados Unidos, 1960) / Direção: Otto Preminger / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Paul Newman, Eva Marie Saint, Ralph Richardson, Peter Lawford, Lee J. Cobb / Sinopse: O filme mostra diversos eventos que deram origem à criação do Estado de Israel ao mesmo tempo em que o mesmo luta para sobreviver diante da hostilidade das nações vizinhas.
Pablo Aluísio.
Nesse primeiro ato logo somos apresentados ao personagem Ari Ben Canaan (interpretado por Paul Newman), cuja principal função na ilha é retirar uma parcela desses judeus em cativeiro para levá-los até a Palestina, para que com isso crie pressão sobre a ONU na aprovação da criação de Israel. O segundo ato já se desenvolve nos assentamentos judeus na Palestina e tenta mostrar o cotidiano dessas famílias empenhadas em ficar no país e assim começar uma nova nação. Finalmente no terceiro ato temos a criação de Israel e as reações (algumas vezes violentas) que esse fato gerou, principalmente por parte da população palestina, que naquela altura sentiu que simplesmente estavam tomando sua nação e seu país e a entregando aos recém chegados judeus. O tema é melindroso e até hoje repercute. O filme, é claro, toma partido ao lado do povo judeu e sua causa, até porque não seria diferente haja visto que os grandes estúdios de Hollywood são administrados e comandados por judeus.
E justamente por isso talvez Exodus não seja uma obra completa. O ponto de vista é unilateral, focado apenas na visão judia da questão. Tirando um único personagem (um palestino que nutre amizade e simpatia por um personagem judeu) nada mais nos é mostrado sobre o outro lado da questão, sobre a forma de agir e pensar do povo palestino naquele momento. O roteiro não esconde e nem tenta disfarçar de que lado realmente está. Como a questão Israel - Palestina é muito mais complexa do que isso ficamos com a sensação pouco confortável de estarmos assistindo na realidade um grande e pomposo manifesto político em prol de Israel.
Já sobre o filme em si, tecnicamente falando, a produção apresenta alguns problemas. O maior deles talvez seja a duração excessiva. O filme em alguns momentos se arrasta, cenas sem grande importância ganham um destaque desproporcional. O filme poderia sem problemas ter duas horas de duração sem perda de conteúdo. A direção de Otto Preminger por sua vez comete alguns erros primários (em certos momentos podemos perceber a sombra da câmera e do cameraman se projetando sobre os atores). São coisas menores mas que em certos momentos incomodam. Já a trilha sonora, ainda hoje lembrada, é um destaque. O compositor Ernest Gold foi inclusive premiado com o Oscar por seu trabalho. Enfim, Exodus é um bom filme e só peca pela tentativa de fazer propaganda política sem dar chance à outra parte de se manifestar, fora isso é um bom passatempo, isso claro se você tiver disposição de assistir uma película com uma duração tão excessiva como essa.
Exodus (Exodus, Estados Unidos, 1960) / Direção: Otto Preminger / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Paul Newman, Eva Marie Saint, Ralph Richardson, Peter Lawford, Lee J. Cobb / Sinopse: O filme mostra diversos eventos que deram origem à criação do Estado de Israel ao mesmo tempo em que o mesmo luta para sobreviver diante da hostilidade das nações vizinhas.
Pablo Aluísio.