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terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 12

Tudo parecia promissor para mais outra sessão de gravação bem sucedida mas a verdade é que Elvis ainda não se sente pronto para as gravações. Ele pede para que Jarvis rode para ele alguns demos, para assim escolher as canções que lhe agradassem. Com uma folha de papel na mão, que traz as letras na íntegra, Elvis vai acompanhando as canções, em tom inaudível - seus lábios se movem, porém nenhum som é emitido, pois o Rei quer poupar sua voz para as gravações definitivas.

Conforme as execuções são feitas, Elvis vai elegendo suas preferidas e circulando-as com um pequeno traço de aprovação. As que não passam pelo seu crivo pessoal logo são descartadas. Esse método de gravação vinha acompanhando Elvis desde seus primeiros anos na RCA Victor. Ele foi utilizado pela primeira vez em Nova Iorque por Steve Sholes, velho produtor da gigante fonográfica, que logo percebeu em Elvis uma grande capacidade de memorização. Sem dúvida, Elvis podia facilmente ouvir uma demo pela primeira vez no estúdio e em poucos minutos gravar as masters definitivas. Em seus primeiros dias, na principal gravadora norte americana, havia uma grande quantidade de canções à sua disposição e tudo era decidido ali mesmo no estúdio ao lado de seu produtor. Foi assim que Elvis gravou praticamente todos os seus discos, com exceção das trilhas sonoras, pois estas já chegavam prontas e compostas e não poderiam ser desmembradas. De Hollywood o material já chegava coeso e fechado e Elvis tinha que gravar as músicas em bloco. Talvez por essa razão ele tenha se sentido tão frustrado em seus anos como ator de cinema. Sua liberdade na hora de escolher o material era totalmente cerceada. Mas isso eram águas passadas e como dizia o velho ditado: “Águas passadas não movem moinhos”.

Certamente olhar para trás era a única coisa que Elvis não queria naquele momento. Aliás esse talvez fosse um dos grandes problemas de Elvis Presley em seus últimos anos: ele estava de saco cheio de tudo! Nada mais o empolgava. Elvis já havia gravado tantos discos, feito tantos shows, que tudo agora lhe parecia repetitivo, tedioso e monótono. Tudo agora o deixava mortalmente entediado. Por isso ele mostrava tanta má vontade em gravar material novo em estúdio. Por isso havia quase sempre um certo desinteresse de sua parte na escolha das músicas que iriam estar em seu novo disco. Elvis não demonstrava mais paciência em conhecer a musicalidade dos anos 70 ou enfrentar novos desafios. Para ele tudo se resumia numa questão muito simples: cumprir seus contratos com a RCA Victor e se livrar logo de mais uma obrigação contratual. Infelizmente era isso aí. Elvis estava muito mais interessado em outros aspectos de sua vida particular do que em sua carreira musical. Se estava ali, era simplesmente por livre e espontânea pressão, tal como um burocrata que cumpre sua jornada de trabalho rotineiramente, da maneira mais maçante possível. Elvis estava ali para marcar o ponto e dar no pé o quando antes, o mais rápido possível.

De certa forma ele até mesmo tinha razão. Seu empresário nunca o deixou alcançar maiores vôos em sua trajetória. Nunca deixou Elvis correr maiores riscos. Todos os seus passos foram milimetricamente calculados. Nada mais de inovações. Com isso veio o inevitável: a estagnação artística. Até suas ambições mais simples, como um velho sonho de gravar um disco com músicas de quartetos gospel, que ele tanto gostava desde a infância, eram barrados por Parker. Preso em sua gaiola de ouro, Elvis foi ficando cada vez mais desiludido e estagnado. Não é de se espantar que tudo agora lhe parecia chato, cansado e rotineiro. Esse disco que Elvis iria gravar praticamente já tinha sido gravado várias e várias vezes nos anos anteriores. Era justamente isso que pensava. Não havia novidade nenhuma nas canções escolhidas, nos arranjos produzidos, nada. Como era bastante intuitivo Elvis sabia de tudo isso. Para ele aquilo tudo era só um filme que ele teria que assistir pela milionésima vez! Que chato, que tédio! Não condeno Elvis nesse ponto. O tempo passou e ele ficou tristemente estacionado em um só ponto. Seu potencial e seu talento, de certa forma, estavam novamente sendo desperdiçados, como inclusive já havia acontecido tantas vezes antes em sua carreira. Agora ele sentia que, por causa de sua idade, não teria mais forças para enfrentar Tom Parker e sua máquina. O jogo estava perto do fim.

Pablo Aluísio.

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