A trilha sonora de Kid Galahad (Talhado para Campeão) me despertou um pensamento após ouvi-la. Na primeira metade dos anos 60 o som de Elvis passou por um processo de suavização e abrandamento cirurgicamente determinado pelo Coronel Parker e pelos produtores de Hollywood como bem podemos perceber nessa trilha sonora de "Kid Galahad". A ideia básica era começar uma brilhante carreira no cinema e se para atingir esse objetivo fosse preciso "limpar" a imagem e o som de Elvis para a classe média americana então que fosse. Elvis foi literalmente pasteurizado e embalado para o gosto padrão médio americano. Tudo estaria muito bom para Elvis se ele e sua música recém convertida ao American Way of Life não fosse atropelada pelas maiores mudanças sociais e comportamentais do século XX que viriam nos anos a seguir.
Se os EUA e o mundo continuassem com todos os valores que foram tão sagrados nos anos 50 certamente Elvis e o Coronel seriam bem sucedidos. Mas depois que Kennedy foi assassinado, Luther King e Malcom X começaram a luta pelos direitos sociais, a revolução sexual se alastrou e os filhos da América começaram a morrer nas florestas do Vietnã o mundo perdeu a inocência. Com isso a música de Elvis, feita para se conectar com uma sociedade similar à que existia nos anos 50, ficou totalmente ultrapassada e fora de contexto.
Curioso: nos anos 50 Elvis era um ameaça a uma sociedade ainda impregnada de caretice e moralismo, era considerado um artista revolucionário e renovador e nos anos 60 tudo se inverteu, Elvis virou a própria caretice e falso moralismo da América enquanto a própria sociedade americana virava de cabeça para baixo. Elvis estava fora do compasso da dança das mudanças que aconteciam à sua volta.
Se isso era positivo nos anos 50, virou um problema nos anos 60, porque nessa década era ele quem estava do lado errado. Todas as suas trilhas sonoras dos anos 60, sem exceção, sofrem dessa verdadeira esquizofrenia histórica e social. Em poucas palavras: todos esses discos transformaram Elvis Presley em um artista completamente fora de contexto, fora de moda, descompassado com seu tempo, um anacronismo cultural. Só em 1968 mesmo foi que Elvis finalmente acertou o passo de sua dança com o som que estava rolando ao seu redor. Em outras palavras, só no final dos anos 60 Elvis começou a seguir a maré e a corrente das mudanças que estavam mudando todo o mundo à sua volta. Com isso ele voltou a ser novamente um artista relevante e importante para o cenário musical de sua época. Só desse momento em diante Elvis, que sempre foi um grande dançarino, acertou seu passo e dançou a melodia certa de seu tempo.
Pablo Aluísio.
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