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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Flaming Star (1960)

Muita gente se decepcionou com a trilha sonora desse filme. Os fãs queriam uma trilha sonora completa, aos moldes de "Saudades de um Pracinha", um álbum completo, com dez ou doze faixas para colecionar. Só que ao invés disso a RCA apresentou um minguado compacto duplo com poucas canções. Foi decepcionante. Esse tipo de coisa iria levantar a atenção do Coronel Tom Parker que a partir daí iria sempre pressionar a RCA Victor a lançar discos inteiros de trilhas de seus filmes. Acontece que a trilha sonora de "Estrela de Fogo" só contava com apenas 5 músicas, sendo que uma delas nada mais era uma versão diferente, com outra letra, pouco modificada da música tema. Assim, se formos pensar bem, só havia mesmo 4 canções gravadas em estúdio para esse filme. Não havia material nem mesmo para completar um dos lados do LP, caso ele fosse programado realmente.

Depois de "G.I. Blues" Elvis colocou na cabeça que queria ser um grande ator de cinema, ao estilo Marlon Brando e James Dean, seus grandes ídolos. E músicas não faziam parte desse menu. Elvis só esqueceu que seu grande talento pessoal era para a música e não para a arte de atuar, algo que exigia dele outros talentos, completamente diferentes de ter uma bela voz e saber cantar bem. Como o tempo iria provar ele estava errado nesse tipo de pensamento. "Estrela de Fogo" certamente foi um dos bons filmes de sua carreira, mas não fez muito sucesso. Nada comparado com o hit de "Saudades de um Pracinha", esse sim um projeto que valorizava seu lado superstar, de cantor de sucesso. De qualquer maneira uma coisa era certa, essa trilha sonora de "Flaming Star" era apenas uma trilha sonora incidental, praticamente. O que foi uma tremenda decepção para quem queria comprar os discos de Elvis naquela época.

Uma enorme bagunça. Assim poderia definir tudo o que fizeram com a trilha sonora do filme “Flaming Star”. Para inicio de conversa mais da metade das canções do filme não foi lançada na época. Apenas “Flaming Star” e “Summer Kisses, Winter Tears” saíram regularmente em um compacto duplo chamado “Elvis by Request”, o resto das músicas foram esquecidas, arquivadas e ficaram inéditas por anos a fio. E afinal qual teria sido a melhor decisão? Ora, não é preciso ir muito longe para perceber que a RCA deveria ter lançado um EP (compacto duplo) com as cinco canções – algo que faria depois em trilhas sonoras com “Kid Galahad” e “Follow That Dream”. Isso seria em um mundo perfeito mas nada disso aconteceu. Elvis gravou as canções do filme (ele não queria pois em seu entender precisava apenas atuar bem no filme) e a RCA praticamente nada fez com elas no mercado. Provavelmente “Flaming Star” tenha sido a trilha sonora de Elvis Presley mais negligenciada de sua carreira. As músicas que chegaram ao mercado não fizeram sucesso e as que foram arquivadas ficaram no limbo por anos, esquecidas completamente.
   
Fazendo uma rápida retrospectiva: “Britches” só chegou ao mercado fonográfico muitos anos depois no álbum “A Legendary Performer, Volume 3”. “A Cane and a High Starched Collar”não teve melhor sorte. Apesar de aparecer no filme e ter um bom embalo também nunca foi lançada na época, só sendo colocada timidamente no disco “A Legendary Performer, Volume 2”. Por fim a estranha e desnecessária "Black Star" arranjou um espaço no LP “Collectors Gold”. Pra falar a verdade a trilha sonora só foi reunida de fato pela RCA na série Double Features, que nos anos 90 conseguiu trazer alguma organização para a extremamente bagunçada discografia de Elvis nos anos 60. Nessa edição além da trilha completa de “Flaming Star”, o fã de Elvis ainda teria acesso às trilhas de “Wild In The Country” e “Follow That Dream”. Gosto muito dos CDs Double Features, pois além do bom gosto (com excelentes encartes e direção de arte bonita), o fã ainda tinha acesso a todas as informações como datas de gravação, autores, etc. Já para quem esteja a fim de realmente radicalizar em termos de “Flaming Star” eu recomendo o bootleg “Master and session - Flaming Star” que traz as canções oficiais e muito mais como takes e versões alternativas. Demorou décadas mas “Flaming Star” finalmente chegou ao fã de Elvis como era esperado.

As sessões de gravação da trilha sonora do filme "Estrela de Fogo" (Flaming Star, em seu título original) se deram nos estúdios Radio Recorders, em Hollywood, na Califórnia. A sessão foi coordenada e produzida pelo produtor Urban Thielmann, acompanhado do engenheiro de som Thorne Nogar. Tudo foi praticamente gravado em poucas horas em agosto de 1960. Elvis já entrava no estúdio com as músicas decoradas, uma vez que a RCA enviava para ele fitas demos com as canções gravadas por cantores da própria gravadora. Curiosamente a primeira música gravada foi "Black Star". Aliás o filme de faroeste iria ter esse título, mas depois os executivos e produtores da 20th Century Fox pensaram melhor e entenderam que o uso do termo "Black" poderia causar alguma polêmica. Não podemos nos esquecer que a questão racial estava na ordem no dia naqueles tempos. A luta pelos direitos civis da população negra dos Estados Unidos ocupavam todas as manchetes de jornais. E para potencializar ainda mais algum tipo de problema nessa questão o personagem de Elvis no filme era um mestiço. Então para não criar problemas a Fox resolveu mudar o nome do filme para "Flaming Star".

E com essa decisão Elvis precisou voltar ao estúdio para gravar outra faixa título "Flaming Star" que tinha praticamente o mesmo arranjo, a mesma letra, só mudando os termos. Saiu o "Black" e entrou o "Flaming". A versão "Black Star" ficou anos arquivada pela RCA e todo o trabalho que Elvis teve para gravá-la (foram providenciadas até três versões dela) ficaram perdidos. Outra música que foi gravada para fazer parte dos trabalhos desse filme foi "Summer Kisses, Winter Tears". A grande maioria dos fãs de Elvis, principalmente aqui no Brasil, só veio a conhecer essa gravação quando ela foi lançada no álbum "Elvis for Everyone" de 1965. Sou da opinião de que a RCA Victor deveria ter produzido um álbum desse filme. Uma trilha sonora em LP. Bastava gravar mais cinco músicas para o lado B, o que não seria nada complicado para Elvis na época e pronto, havia um disco de verdade para acomodar todas as faixas desse filme. Infelizmente não foi isso que decidiram e a maioria das músicas de "Flaming Star" simplesmente se perderam e foram desperdiçadas dentro de sua discografia.

Apesar dos esforços de Elvis, que não queria aparecer cantando de jeito nenhum nesse filme "Estrela de Fogo", o estúdio Fox conseguiu convencer ele a cantar pelo menos uma canção. A escolhida foi a baladinha country "A Cane and a High Starched Collar". Eu gosto dessa música, apesar de ser das mais simples. Basicamente apenas um arranjo acústico, para que soasse verdadeira na cena do filme, pois era um faroeste, onde o personagem contava apenas com um violão. "Britches" era igualmente simples. Também foi cogitada para ser usada no filme, em outra cena, mas Elvis se recusou com firmeza. Ele queria que esse filme fosse apenas de atuação, não de cantoria. O resultado foi outra faixa gravada e completamente desperdiçada. Ficou anos e anos arquivada, se tornando muito rara. Se nos Estados Unidos passou em brancas nuvens, imagine no Brasil. Os fãs brasileiros nem sabiam que essa canção existia.

"Flaming Star" contou com um grupo musical bem diferente do que Elvis estava acostumado a trabalhar em estúdio. Nada de Scotty Moore e seus músicos da banda usual e tradicional que Elvis usava regularmente em seus discos e singles. Como era um western da Fox, o próprio estúdio cinematográfico escolheu a banda que iria tocar com Elvis na trilha sonora. Só músico contratado da própria companhia. E a banda era formada pelos seguintes músicos: Howard Roberts no violão, Hilmer J. "Tiny" Timbrell na guitarra (esse iria trabalhar em outras ocasiões com Elvis), Michael "Meyer" Rubin no baixo, Bernie Mattinson na bateria e no acordeão James Haskell pois eram músicas de faroeste. Da turma de Elvis mesmo só compareceu na sessão o pianista Dudley Brooks e o grupo vocal The Jordanaires, contando com os vocalistas Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker. A formação clássica dos Jordanaires, como se pode perceber.

Pablo Aluísio.

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